TCC arqurbuvv A Relação da arquitetura com o comportamento de crianças com TEA

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A RELAÇÃO DA ARQUITETURA COM O COMPORTAMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO

DO ESPECTRO AUTISTA Estudo Preliminar de Projeto no Âmbito Escolar

UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

A RELAÇÃO DA ARQUITETURA COM O COMPORTAMENTO DE CRIANÇAS

COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Estudo Preliminar de Projeto no Âmbito Escolar

MARCELE COSTA PASSOS

Vila Velha 2022

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UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

A RELAÇÃO DA ARQUITETURA COM O COMPORTAMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Estudo Preliminar de Projeto no Âmbito Escolar

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Arquitetura e Cidade da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista, sob a orientação da Prof.ª Dr. Cynthia Marcosini Loureriro Santos

Vila Velha 2022

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“De repente, as informações sensoriais do ambiente onde você vive invadem sua mente, sem filtro de qualidade e em quantidade esmagadora.” (Naoki Higashida)

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RESUMO

O trabalho visa entender a relação do ambiente construído com o comportamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa conceitualiza a criança neuroatípica, suas sensibilidades sensoriais, características e diagnósticos do transtorno em crianças com TEA. Apresenta também a relação da arquitetura com o autismo, definindo as abordagens e os estudos já realizados nessa área e busca a compreensão de como o espaço físico pode influenciar no desenvolvimento e no bem -estar dessas crianças partindo de análise de obras de referências que são voltadas para as crianças neuroatípicas. A partir de então, o trabalho busca adequar um ambiente escolar, adaptando as salas de aulas do ensino infantil para uma criança com TEA . Busca se estabelecer diretrizes projetuais e estratégias para que se aplique a proposta a fim de se obter um ambiente capaz de promover estímulos que beneficiem e auxiliem a criança neuroatípica em seu desenvolvimento, comunicação, processamento sensorial e capacidade cognitiva contribuindo assim para sua qualidade de vida.

Palavras chave: crianças neuroatípica; ambiente escolar; sensibilidade sensorial; desenvolvimento

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ABSTRACT

The paper aims to understand the relationship of the built environment with the behavior of children with Autistic Spectrum Disorder (ASD). The research conceptualizes the neuroatypical child, their sensory sensitivities, characteristics and diagnoses of the disorder in children with ASD. It also presents the relationship of architecture with autism, defining the approaches and studies already done in this area and seeks to understand how the physical space can influence the development and well being of these children by analyzing reference works that are aimed at neuroatypical children. From then on, the work seeks to adapt a school e nvironment, adjusting the kindergarten classrooms for a child with ASD. It seeks to establish design guidelines and strategies to apply the proposal in order to obtain an environment capable of promoting stimuli that benefit and assist the neuro -typical child in his development, communication, sensory processing and cognitive ability, thus contributing to his quality of life.

Keywords: neuroatypical children; school environment; sensory sensitivity; development

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Níveis de gravidade para o TEA de acordo com o DSM 5 16

Tabela 2: Diretrizes de Projeto Arquitetônico geradas pela Matriz de Projeto Sensorial ................................................................................................................... 22

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1:Centro De Excelência Glickman Lauder Em Autismo E Distúrbios Do Desenvolvimento 27

Figura 2: Desenvolvimento CADD .................................................................... 28

Figura 3:Sala de pré escola 29

Figura 4:: Sala para atendimento odontológico para Adultos do CADD ........... 30

Figura 5:: Sala de Fisioterapia e estímulos Sensoriais 30

Figura 6: Sala “relax” ........................................................................................ 31

Figura 7:Corredor acesso às salas ................................................................... 31

Figura 8:Sala Sensorial 32

Figura 9: Sala para desenvolvimento físico ...................................................... 32

Figura 10: Localização área de estudo 33

Figura 11: Setorização ...................................................................................... 34

Figura 12: Planta de reforma 36

Figura 14: Sala de aula Maternal 37

Figura 15: Jardim II ........................................................................................... 38

Figura 16: Jardim I 38

Figura 17: planta baixa layout ........................................................................... 39

Figura 18: planta baixa layout sala de fuga 40

Figura 19: caixilho acústico PVC 41

Figura 20: Imagem interna sala de fuga ........................................................... 41

Figura 21: sala de aula jardim I 42

Figura 22: Sala de aula - jardim II ..................................................................... 42

Figura 23: sala de aula maternal 43

Figura 24: Jardim II 43

Figura 25: Jardim I ............................................................................................ 44

Figura 26: Maternal 44

Figura 27: Jardim II ........................................................................................... 45

Figura 28: Jardim I 45

Figura 29: Maternal ........................................................................................... 46

Figura 30: Jaridm I 46

Figura 31: Maternal 47

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Figura 32: Especificação manta térmica e acústica .......................................... 49

Figura 33: Jardim II 50

Figura 34: Sala sensorial 51

Figura 35: Sala sensorial .................................................................................. 52

Figura 36: Sala sensorial 52

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DMS 5- Manual de Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição

OMS- Organização Mundial da Saúde

OPAS- Organização Pan-Americana de Saúde

ONU- Organização das Nações Unidas

TEA- Transtorno do Espectro Autista

AMA- Associação de Amigos de Autista

CADD- Centro para Autismo e Transtorno de Desenvolvimento

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12 1.1 Justificativa e Contextualização do tema

12 1.2 Objetivos gerais 13 1.3 Objetivos específicos

15 2.1 A criança neuroatípica

15 2.2 A abordagem neuroatípica sobre o TEA no campo da arquitetura 18 2.3 A arquitetura como elemento influenciador no comportamento de crianças com transtorno do espectro autista

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..................................................................................................
..............................................
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..........................................................................................
4 PROPOSTA PROJETUAL ...............................................................................
5 CONSIDERAÇÕES
..............................................................................
6 REFERENCIAS ................................................................................................
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO
14 1.4 Metodologia 14 2 PRESSUPOSTOS TEORICOS
........................................................... 21 3 ESTUDO DE CASO
26 3.1 Maine Behavioral Healthcare Center Of Autism And Development Disorders 26
33
FINAIS
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54

INTRODUÇÃO

As características auditivas, visuais, táteis e de ventilação e qualidade do ar do espaço resultam em um ambiente sensorial, que busca transmitir conforto e significado aos usuários a fim de se facilitar as atividades e funções que serão desenvolvidas dentro do espaço (MOSTAFA, 2014)

Objeções e bloqueios no processamento sensorial causam alterações comportamentais que podem ser notadas em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) (MATTOS, 2014)

Em geral, ambientes construídos viabilizam estímulos diversos que são respondidos a maneira como o usuário os percebe m, organizam e articulam as sensações recebidas. Desta forma, o indivíduo que não compreende de forma plausível e precisa o ambiente físico, ou até mesmo não interage sobre o ambiente, não consegue organizar de maneira mais complexa seu comportamento perante o espaço disposto. (MOSTADEIRO, 2019)

Apesar de sua incidência esmagadora, no âmbito da comunidade arquitetônico, em diversos casos o autismo é ignorado e excluído dos códigos e diretrizes projetuais (MOSTAFA, 2008)

Com a finalidade de entender a relação do comportamento de crianças com Transtorno do Espectro autista sobre o ambiente construído, o presente trabalho busca assimilar a notoriedade de se ter espaços projetados que buscam atender as demandas destas crianças, promovendo bem-estar e auxílio no seu desenvolvimento motor, social e sensorial.

1.1

Justificativa e Contextualização do tema

Mostardeiro (2019) pontua com base em dados disponibilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2015) que cerca de 70 milhões de pessoas, equivalente a 1% da população mundial possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo que uma a cada 160 crianças em todo o mundo são neuroatípicas (OMS, 2017)

Neuraotípicas são pessoas que possuem alterações diversas relacionadas ao seu desenvolvimento neurológico. Pessoas do espectro autista fazem parte do grupo atípico ou neurotípico. (MORAL, 2020)

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Pessoas com TEA possuem uma carência no mecanismo responsável pelo processamento de suas ações e devido a este fato a sua interação, seja com pessoas ou com o ambiente em que se está inserido, é comprometida limitando essas interatividades em comparação ao indivíduo neurotípico (ALOCHIO E QUEIROZ, 2020)

Devido aos sintomas de processamento sensorial se mostrarem insatisfatórios em crianças autistas, as interações que estas apresentam em relação ao ambiente construído são muitas vezes insuficientes. Dessa forma, características que permeiam o espaço físico são fundamentos para desempenharem uma melhor percepção individual correlacionada ao comportamento destas crianças quando deparadas com estímulos sensoriais. (MOSTARDEIRO, 2019)

A fim de se obter estímulos no desenvolvimento das crianças autistas sobre o espaço físico, visto que estas possuem uma perspectiva atípica sobre o ambiente e suas características quando comparadas as pessoas neurotípicas, busca se através da arquitetura e seus componentes promover o bem estar e a qualidade de vida de crianças com TEA (MOREIRA, 2022)

Dada importância do tema, o presente trabalho tem como questão norteadora para a pesquisa a seguinte problemática: como a arquitetura pode influenciar no comportamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista e devido a isso proporcionar soluções projetuais que buscam a adequação de ambientes residenciais para o desenvolvimento e bem estar dessas crianças.

1.2 Objetivos gerais

O objetivo geral desse trabalho é propor um projeto a nível preliminar de reforma em uma escola de ensino infantil que atendam as demandas de crianças neuroatípicas partindo de um estudo prévio a fim de se obter salas de aula que proporcionam autonomia e desenvolvimento motor e sensorial a fim de dispor uma melhoria na qualidade de vida e bem estar destas crianças e de seus familiares.

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1.3

Objetivos específicos

Realizar um projeto de arquitetura de interiores a nível preliminar de uma escola existente com foco nas salas de aulas de ensino infantil (ciclo 1) buscando o bem estar de crianças com Transtorno do Espectro Autista

Entender o comportamento de crianças neuroatípicas e a relação comportamental destas com o meio físico em que estão inseridas

Compreender como a arquitetura afeta as sensibilidades sensoriais das crianças com TEA

Qualificar o ambiente construído para proporcionar uma melhoria na qualidade de vida e desenvolvimento das crianças autistas

1.4 Metodologia

O estudo inicia se com uma revisão de literatura de pesquisas anteriormente feitas a fim de compreender a criança autista, suas necessidades, anseios e comportamentos correlacionando os com o ambiente construindo partindo de diretrizes projeturas tomadas. Posteriormente o trabalho abordara a parte pratica projetual que visa aplicar a teoria estudada em um projeto residencial proposto.

O trabalho é dividido em três etapas sendo elas:

Etapa 01- levantamento bibliográfico e pesquisas teóricas por meio de artigos livros, sites e teses.

Etapa 02- Estudo de caso de um projeto selecionado para base de execução do projeto a ser desenvolvido

Etapa 03- Realização de um projeto de inte rvenção de uma escola existente a nível preliminar adaptado para criança s portadoras do Transtorno do Espectro Autista.

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2.1

TEORICOS

A criança neuroatípica

A Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) juntamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017) estima que em todo o mundo, uma a cada 160 crianças são neuroatípicas. Ainda que algumas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) vivem de forma independente, outras possuem uma incapacidade agravada decorrente do transtorno ser mais severo e desta forma vivem com necessidades de cuidados especiais e apoio ao longo de sua vida (OPAS/OMS, 2017)

O transtorno do espectro autista caracteriza se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. (DMS 5, 2014, p. 52)

As normas norte americanas presentes no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS-5, 2014), indicam os critérios de diagnostico para reconhecimento do transtorno partindo de 5 diretrizes bases, sendo elas:

A. Déficits persistentes na comunicação social e na interaçã o social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto):

B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto)

C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar p lenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida).

D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em ou tras áreas importantes da vida do indivíduo no presente.

E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da

15 2 PRESSUPOSTOS

comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento.

A manifestação do Transtorno do Espectro Autista ocorre de forma dissimilar, pois as deficiências comunicativas e comportamentais podem ocorrer em diferentes áreas e de diferentes formas, nem sempre manifestando -se em conjunto (MATTOS, 2014)

Para Mostardeiro (2019) a criança que possui a incorporação sensorial limitada não se acomoda em muitos ambientes de forma satisfatória, pois o seu cérebro não desenvolveu os processos para integrar as sensações desses ambientes. Desta forma, o ambiente precisa ser pensado de maneira que a criança desenvolva suas percepções sensoriais relacionadas ao meio em se está inserida, para um melhor desenvolvimento motor e social.

As normas norte americanas presentes no quinto Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS 5, 2014) define os níveis de gravidade do TEA (quadro 1) em três níveis, sendo eles: exigindo apoio (nível 1); exigindo apoio substancial (nível 2) e exigindo apoio muito substancial (nível 3).

Tabela 1: Níveis de gravidade para o TEA de acordo com o DSM-5

Nível de gravidade Comunicação Social

NIVEL 3

“exigindo apoio muito substancial”

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interação sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satisfazer as necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas

Comportamentos restritos e repetitivos

Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/ repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações

NÍVEL 2

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal. prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio. Limitação em dar início a interações sociais e

Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/

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“exigindo apoio substancial”

NIVEL 1 “exigindo apoio”

respostas reduzidas ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por e xemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apr4esenta comunicação não verbal acentuadamente estranha

Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e evolver -se na comunicação, embora apr4esente falhas na conversão com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas

Fonte: American Psychiatric

repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou dificuldade de mudar o toco ou as ações.

Inflexibilidade de comportamento causa interfe rência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência.

Segundo a Associação de Amigos de Autista (AMA, 2017), nas interações sociais destas crianças se fazem presente o déficit no uso de formas não verbais de comunicação e interação social. Em alguns casos há ausência de relacionamento com colegas e falta de reciprocidade social e emocional.

No que se diz respeito a comunicação social, a AMA (2017) pontua que este inclui atrasos no desenvolvimento da linguagem verbal e não possuem outras tentativas de compreensão por meio de outros modos alternativos de comunicaçã o, como gestos não verbais. Faz-se presente também nas crianças autistas a ausência de brincadeiras lúdicas (como faz de conta) ou imitação social que é algo corriqueiro em crianças neurotípicas

De acordo com a OPAS (2017), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não possui cura. É imprescindível que após o diagnostico a criança neuroatípica e seus familiares e cuidadores recebam as devidas informações referentes aos cuidados e apoio prático de acordo com as necessidades individuais que a criança necessitará Mesmo que o TEA não possua cura, permanecendo assim, presente ao longo de todo

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Association, 2014

o desenvolvimento da criança neuroatípica, intervenções psicossociais aplicadas aos pais e cuidadores como o treinamento de habilidade, podem reduzir as dificuldades de comunicação e comportamento social com impacto positivo no bem estar e na qualidade de vida da pessoa .

2.2 A abordagem neuroatípica sobre o TEA no campo da arquitetura

A arquitetura pode gerar diversas sensações e percepções na mente humana. Cada indivíduo possui gostos e particularidades, e quando interligado ao espaço físico, o comportamento pode ser afetado por decisões projetuais que foram aplicadas ao ambiente construído. Desta forma, ao projetar um ambiente é imprescindível a compreensão do usuário, suas necessidades, limitações e anseios. Algumas características que compõe o ambiente podem ser extremamente desconfortáveis e angustiantes para pessoas portadoras do TEA, enquanto estes mesmos fatores podem passar despercebidos por pessoas neurotípicas, como é o caso de ruído, luzes cintilantes e cores muito vivas. Ambientes inclusivos aos autistas inclui a previsão da relação do ambiente com o usuário portador do TEA, a fim de se obter um controle das cargas sensórias presentes nestes meios. (Apparecido e Zanatto, 2022, p. 150)

Quando investigamos arquitetura como um elemento influenciador no comportamento das crianças com TEA , faz-se necessário analisarmos o comportamento da criança e como ela reage a vários estímulos presentes no seu dia a dia. Leis como a 12.764/12 (2012) intitulada como Lei Berenice Piana, institui a Política Nacional de Proteção dos direitos de pessoas com TEA assegurando os de tratamentos, acesso a medicamentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), direito à proteção social entre outros fatores que permitem que a pessoa com autismo se desenvolva na sociedade com dignidade respeito e acessibilidade. No campo da arquitetura, o que assegura acess ibilidade a pessoas que possuem necessidades especiais é a NBR 9050 (2015) destinada a Acessibilidade a edificação, mobiliário, espaços e equipamentos.

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A norma brasileira define acessibilidade como:

Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. ( NBR 9050 2015, p.17)

No entanto, a NBR 9050 (2015) não engloba em suas normas pessoas que possuam transtornos mentais como é o caso dos portadores do TEA, mesmo que estas necessitem de adaptações e necessidades especiais. Quando trazemos este fator para o campo da arquitetura, é notório que ambientes públicos nem sempre são pensados para incluir estes usuários. O fato de não termos normas que exijam que decisões projetuais acessíveis aos autistas sejam tomadas em projetos arquitetônicos, faz com que questões como a percepção sensorial advinda dos atributos da arquitetura sejam ignoradas, podendo causar reações negativa s aos usuários com Transtorno do Espectro Autista.

Cabe aqui ressaltar que a ausência de projetos arquitetônicos que viabilizam o uso e trazem conforto sensorial a crianças autistas, faz com que seu desenvolvimento social e motor possa ser prejudicado pela falta ou até mesmo a ausência de estímulos provenientes de ambientes físicos. O Instituto NeuroSaber (2022) pontua que é de fundamental importância a interação da criança autista em ambientes que aflorarão as habilidades sociais e a inserção em atividades que podem auxiliar no seu desenvolvimento, como a noção de segurança e até mesmo o seu despertar no interesse acadêmico e profissional.

Até existem pessoas talentosas e competentes se esforçando para apoiar os autistas, mas, com uma regularidade deprimen te, as políticas governamentais parecem muito mais interessadas em oferecer água com açúcar e jogar o problema para baixo do tapete que em compreender o potencial de crianças com necessidades especiais e ajudá las a se tornar membros produtivos da sociedade a longo prazo. (HIGASHIDA, 2007, p.09)

Para Gabriel Moser (1998), a psicologia ambiental estuda a pessoa em seu contexto, tendo não somente as relações de forma geral como tema central, mas também, estudando as inter-relações (entre a pessoa e o meio ambiente físico e social). Deste modo, a psicologia ambiental faz uma análise do meio físico em que estamos inseridos e obtém se a percepção da interação do indivíduo para com o ambiente. Vale ressaltar que a inter -relação que há entre o indivíduo e o ambien te

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(tantos os naturais quanto nos construídos) se dá por dinâmica, pois o ser humano age sobre o ambiente, como é o caso da arquitetura (Moser, 1998, pg. 122). Moser ressalta ainda que “Esse ambiente, por ser turno, modifica e influencia as condutas humana s”. Desta forma fica perceptível que sim, o ambiente construído possui uma influência no comportamento do ser que habita.

Quando se trata de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista as sensações sobre o ambiente construído ocorrem de maneira mais intensa, visto que crianças autistas possuem um distúrbio sensorial que faz com que a percepção acerca do ambiente físico seja singular e muitas vezes ocorre de forma angustiante e caótica. Essa percepção ocasiona muitas vezes reações extremas e comportamentos agressivos e estereotipados. (Moreira Luiza, 2022, p. 25)

Para Martina Mostardeiro (2019) alguns aspectos presentes no ambiente físico podem interferir na compreensão das crianças acerca do ambiente em que estão inseridas, e sendo assim, desencadeiam comportamentos como ansiedade, frustração, agressividade e em alguns casos, gestos e sons como forma de reação ao ambiente ou a atributos ali presentes, além de que em alguns casos, essa percepção pode gerar também condutas problemáticas que resultam em comportamentos estereotipados.

Existem certos ruídos que vocês não percebem, mas que nos incomodam bastante. O problema é que vocês não entendem como esses sons nos afetam. Não é bem pelo fato de que o barulho nos dá nos nervos. Tem mais a ver com o medo de que, se continuarmos a ouvir, perderemos toda a noção de onde estamos. Nesses momentos, sentimos como se o chão estivesse tremendo, como se tudo ao redor de nós estivesse vindo em nossa direção, e isso é muito apavorante. (HIGASHIDA2007, p.51)

O processamento sensorial segundo a Teoria da Integração Sensorial desenvolvida por Anne Jean Aryes (1920, 1989) ocorre por meio de experiencias sensoriais e motoras nas quais o indivíduo recebe esses estímulos e informações oriundos do ambiente e essas informações serão processadas e integradas ao Sistema Nervoso Central para que posteriormente possamos utilizá las. Segundo esta teoria, nota-se uma relação entre o esforço para percepção e a interpretação das informações provenientes do ambiente em que este individuo está inserido resultando em uma dificuldade de aprendizagem e desempenho. (Mattos, 2014, p.19)

20

Entender o usuário e tornar o ambiente construído agradável e desejá vel é uma das maiores missões que o arquiteto projetista enfrenta quando se trata de crianças autistas, pois o autismo não possui um padrão, o transtorno ocorre de forma heterogênea podendo se manifestar de formas distintas de criança para criança e podendo variar ao longo de seu desenvolvimento. Algumas crianças com TEA podem, por exemplo, serem hipersensíveis a sons, mas podem tolerar toque físico, enquanto outras podem não percebem ou não se importar com determinados barulhos e repudiarem um abraço ou u m carinho. Além disso, as reações podem ser de diversos graus, desde um gesto inofensivo a uma reação explosiva e exagerada. As crianças que possuem dificuldades à estímulos sensoriais possuem dificuldades em filtrar informações pois seus sistemas nervosos não distinguem o que deve ser bloqueado e o que deve ser amplificado, causando em alguns casos reações apáticas e incapacidade de demonstrar e detectar emoções. (Instituto NeuroSabaer, 2021)

Os ruídos que incomodam os autistas variam de acordo com a pess oa. Não sei como lidaríamos com isso se não pudéssemos tampar as orelhas. Eu mesmo faço isso de vez em quando, embora tenha aprendido a me acostumar com o barulho pressionando as mãos nos ouvidos com cada vez menos força. Acho que alguns podem superar o problema se acostumando aos poucos com esses ruídos. O que importa mesmo é que precisamos nos sentir seguros quando somos atacados por esses sons. (Naoki Higashida, o que me fez pular, 2007, p.51)

2.3

A arquitetura como elemento influenciador no comportamento de crianças com transtorno do espectro autista

O fato de que crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista não conseguem filtrar ou diferenciar determinados estímulos gerados por um espaço físico, faz com que um ambiente complexo afete diretamen te o estado emocional destas crianças. Quando deparadas com excessos de estímulos, seu comportamento pode ser de confusão mental. Desta forma, decisões projetuais devem ser aplicadas a fim de gerar conforto e segurança a estas crianças, além de auxiliar no seu desenvolvimento motor e social. (MOREIRA, 2022)

21

A arquiteta e professora do Departamento de Engenharia Arquitetônica da Universidade do Cairo, Magda Mostafa, desenvolveu em 2008 um trabalho de pesquisa (An Architecture for Autism: Concepts of Design Intervention for the Autistic User) envolvendo um grupo de autistas em que foi avaliado o impacto no desenvolvimento e no comportamento de pessoas no espectro perante o ambiente construído.

Após o desenvolvimento de sua pesquisa, Mostafa produziu uma matriz de design sensorial ela relaciona os problemas de processamento sensórias dos portadores de TEA com as características dos ambientes (MOREIRA, 2022)

Tabela 2: Diretrizes de Projeto Arquitetônico geradas pela Matriz de P rojeto Sensorial

# Diretrizes de design Objetivo e usuário sugeridos

1) para reduzir a distração visual e acústica externa para os hiperauditivos e hipervisuais

1.

Alta vedação e contenção de ruído

Baixo fechamento e abertura

2.

3.

Tetos baixos e proporções moderadas

2) para fornecer estimulação tátil através de espaços apertados e contenção para o hipotátil 3) para criar foco visual em casos de interferência visual 4) para reduzir a intrusão olfativa via ventilação para o hiper olfativo

1) para aumentar as oportunidades de estimulação acústica para o hipoauditivo 2) para fornecer estimulação visual para o hipo visual 3) para reduzir a sensação de contenção para o hipertátil

1) para reduzir os ecos para o hiper auditivo 2) para reduzir a distorção visual e ilusões de espaço para o hipervisual 3) promover o equilíbrio para a hipo e interferência proprioceptiva 4) para criar um ambiente mais controlável acusticamente para a interferência

4.

Tetos altos e proporções exageradas

5.

Uso de escala íntima

1) para aumentar os ecos e estimulação auditiva para o hipo auditivo 2) criar estimulação visual ilusória para o hipo visual 3) estimular a sensação proprioceptiva de espaço para a audição hiperproprioceptiva

1) para reduzir os ecos para o hiper auditivo 2) criar um ambiente auditivo controlável para a interferência auditivo 3) criar um espaço controlável e gerenciável para o hiper e interferência visual 4) para aumentar a estimulação tátil da proximidade do limite para o hipotátil 5) para aumentar a estimulação proprioceptiva da proximidade do limite para o hipoproprioceptivo 6) para criar um controle

6.

Uso de escala aberta

7. Orientação para vistas externas e elementos de interesse

8.

Uso do foco de atividade para organizar o espaço

1) criar estimulação auditiva através de ecos para o hipo auditivo 2) criar estimulação visual através de expansão espacial para o hipovisual 3) para aliviar a estimulação excessiva dos limites espaciais para o hipertátil e hiper proprioceptivo

1) criar foco e atração para o hipo visual 2) para incutir equilíbrio e direção para o hipo proprioceptivo

1) aumentar a capacidade de atenção e reduzir a distração para o hiperauditivo e visual 2) criar um ponto de referência comportamental e geométrico para a hipo e interferência proprioceptiva

22

9.

10.

11.

12.

13.

14.

Organização simétrica

Organização assimétrica

1) cria previsibilidade para o hiper visual 2) cria equilíbrio acústico para o hiper auditivo 3) aumenta a sensação de centro e equilíbrio para o hipo e interferência proprioceptiva 4) cria um ambiente controlável para a interferência visual

1) cria estimulação auditiva e visual para o hipo auditivo e visual 2) cria estimulação proprioceptiva para as tabelas hipoproprioceptivas

Uso de ritmo visual ou espacial 1) criar estimulação visual e oportunidades de rastreamento para o hipo visual 2) criar previsibilidade e coerência ao ambiente espacial para a hipo e interferência

Espaço visualmente harmonioso sem contraste ou discórdia

Espaço visualmente desarmônico usando acentos e contrastes

1) criar um espaço visualmente neutro para o hiper visual 2) criar um espaço tátil neutro para o hipertátil

1) para criar estimulação visual para hipo e interferência visual 2) criar estimulação proprioceptiva para a interferência e hipoproprioceptivo

Uso de espaços dinâmicos e estaticamente equilibrados 1) criar orientação e estabilidade para o hiper proprioceptivo e visual, bem como a interferência proprioceptiva e visual

Uso de espaços desequilibrados 1) para criar estimulação visual para o hipo visual 16.

15.

Uso de cores brilhantes 1) para criar estimulação visual para o hipo visual 17.

Uso de cores neutras 1) criar serenidade para o hipervisual 18.

Uso de cores quentes 1) para criar calor psicológico para o hipotátil 19.

Iluminação natural indireta 1) minimizar o brilho e as vistas que distraem para o hiper visual 2) menos perturbador do que a luz artificial zumbida para o hiper auditivo 20. Iluminação natural direta e vistas 1) cria estimulação visual para o hipovisual 21. À prova de ruído e eco

1) cria um ambiente propício para o hiper auditivo 2) remove a oportunidade de distração de auto estimulação através de ecos para o hipo auditivo 3) cria um fundo auditivo neutro para a interferência auditiva 22.

Uso de texturas suaves 1) acalma o hipotátil 2) cria estimulação de eco e reverberação para o hipo auditivo 23. Uso de texturas ásperas 1) estimula o hipotátil 24.

Ventilação cruzada 1) reduz cheiros e odores para o hiper olfativo 25.

Ventilação fechada 1) pode ajudar a conter aromas durante a aromaterapia para o hipoolfatório 26.

Compartimentação organizada usando dicas visuais 1) ajuda a orientar e ajustar o hiper visual 2) ajuda a estimular a ação do hipo visual 3) ajuda a organizar a interferência visual 4) cria limites necessários para o hipotátil 5) ajuda a orientar a hipo e a interferência proprioceptiva 27.

Organização espacial de acordo com características sensoriais

1) ajuda a orientar e ajustar o hiper visual 2) ajuda a organizar a interferência visual 3) ajuda a orientar a hipo e a interferência proprioceptiva 28.

Uso de padrões de circulação de mão única para capitalizar a rotina

1) ajuda a orientar e ajustar o hiper visual 2) ajuda a organizar a interferência visual 3) ajuda a orientar a hipo e a interferência proprioceptiva 4) ajuda a criar previsibilidade em geral em todo o espectro, particularmente o hiper auditivo

Fonte: MOSTAFA, 2008. Traduzido pela autora.

23

Em uma das fases de pesquisa, Mostafa aponta que de acordo com dados coletados, a acústica é o fator arquitetônico que possui maior influência no comportamento de autistas, seguido do sequenciamento espacial. Fatores como iluminação, cores, padrões, texturas e questões olfativas foram dadas como menos influentes. (MOSTAFA, 2008)

Após se aprofundar ainda mais na relação da arquitetura com usuários portadores do Transtorno do Espectro Autista, Magda Mostafa dese nvolveu uma ferramenta que visa facilitar o desenvolvimento de projetos para indivíduos com TEA, denominado “Autism ASPECTSS ™ Design Index”. (MOSTAFA, 2014)

A acústica, sequenciamento espacial, espaço de fuga, compartimentação, zonas de transição, zoneamento sensorial e segurança foram os critérios utilizados por Mostafa em seu estudo:

A. ACUSTICA

A acústica foi considerada de acordo com as pesquisas como o elemento arquitetônico mais influente quando se trata do comportamento do autista perante o ambiente sensorial. Reduzindo os níveis de ruídos e eco nos espaços projetados para crianças com TEA, sua atenção, tempo de resposta e temperamento comportamental são melhorados consideravelmente (MOSTAFA, 2008).

O critério “Acústica” propõe que este fator seja con trolado em um ambiente projetado para o desenvolvimento de crianças do espectro. O nível desde controle pode variar de acordo com as atividades desenvolvidas no local e no nível de foco exigido. Deve se considerar também a gravidade do autismo de seus usuá rios. (MOSTAFA, 2014)

B. SEQUENCIAMENTO ESPACIAL

Este critério propõe que as áreas sejam organizadas baseando -se em uma ordem lógica, a partir de um uso típico programado para um determinado espaço. Os espaços devem seguir o sequenciamento espacial a fim de fluir suas atividades o mais perfeitamente possível com o mínimo de interrupções e distrações, usando zonas de transição que serão discutidas abaixo. (MOSTAFA, 2014)

24

C. ESPAÇO DE FUGA

Estes espaços são pensados a fim de proporcionar alívio as crianças com TEA quando se deparam com ambientes super-estimulados. São espaços silenciosos, isolados ou não que devem garantir um ambiente sensorial neutro com estimulação mínima. (MOSTAFA, 2014)

D. COMPARTIMENTAÇÃO

Este critério visa definir e limitar o ambiente sensorial de cada atividade organizando as em compartimentos. Cada compartimento deve possuir uma atividade única e bem definida consequente da qualidade sensorial. Para distinguir os compartimentos pode se utilizar da diferença de revestimentos, disposição dos móveis, diferença de níveis ou variação na iluminação. Estes espaços devem visar a qualidade sensorial para definir suas funções e diferenciá las dos demais compartimentos. Isso ajuda no entendimento da criança autista para sobre o que deve ser desempenhado naquele local, com ambiguidade mínima (MOSTAFA, 2014)

E. ZONAS DE TRANSIÇÃO

As zonas de transição são espaços criados para facilitar o sequenciamento espacial e o zoneamento sensorial. Essas zonas auxiliam o usuário a controlar seus sentidos à medida que se move de um nível de estímulo para outro, ou para diferentes ambientes com atividades distintas. Essas zonas podem aparecer de formas distintas, podendo ser um elemento que apenas indique mudança na circulação até uma sala sensorial completa. (MOSTAFA, 2014)

F. ZONEAMENTO SENSORIAL

Este critério visa a organização do ambiente projetado para crianças autistas tendo como princípio sua qualidade sensorial e não a abordagem convencional arquitetônica visando o zoneamento funcional. A partir de então, os espaços projetados são organizados por zonas de “alto estímulo” e “baixo estímulo”. (MOSTAFA, 2014)

25

As zonas de alto estímulo propõe incluir áreas que desenvolvam atividades físicas, como fisioterapia e estimulações de habilidades motoras.

As zonas de baixo estímulo sugere incluir espaços para o desenvolvimento cerebral, tais como fonoaudiologia, informática e bibliotecas. (MOSTAFA, 2014)

G. SEGURANÇA

Um fator determinante em qualquer projeto de arquitetura é a segurança de seus usuários. Este aspecto é uma grande preocupação quando se trata de crianças com Transtorno do Espectro Autista, pois estas, muitas vezes possuem uma percepção alterada de seu ambiente. Acessórios de segurança para proteção contra queda, queimaduras, arestas vivas são exemplos de algumas considerações que devem ser tomadas.

3 ESTUDO DE CASO

Para entender a relação da arquitetura e seus elementos com comportamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi selecionado o Centro de Excelência Glickman Lauder em Autismo e Distúrbios do Desenvolvimento.

Se faz necessário pontuar que o projeto escolhido para análise possui uma finalidade distinta da arquitetura residenci al, mas apresenta características que subsidiam a produção do espaço para indivíduos no espectro autista , colaborando assim, para as diretrizes projetuais definidas no capítulo seguinte.

3.1 Maine Behavioral Healthcare Center Of Autism And Development Disord ers

Localizado em South Portland, ME, região da nova Inglaterra, o Centro para autismo e transtorno de desenvolvimento conhecido como Programa CADD, para MBH foi desenvolvido pela Environments for Halth Architecture (E4H) juntamente com o Dr.

26

O Maine possui cerca de 1.341.000 milhões de habitantes segundo dados do Departamento de Censo dos Estados Unidos (2020) sendo mais de 40.000 mil crianças e adultos diagnosticadas com autismo ou transtorno do desenvolvimento. (E4H ARCHITECTURE, 2019). A necessidade de um centro especializado no desenvolvimento destas crianças se tornou realidade perante o grande número de habitantes portadores do TEA na cidade do Maine. A figura 2 mostra a trajetória de desenvolvimento do CADD

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Mathew Siegel, diretor do programa de transtornos do desenvolvimento do Maine Behavioral Healthcare (MBH) em Portland e a Maine Behavioral Healthcare (MBH). Figura 1:Centro De Excelência Glickman Lauder Em Autismo E Distúrbios Do Desenvolvimento Fonte: Maine Health Org (2021). Disponivel em: https://www.mainehealth.org/Maine Behavioral Healthcare/Services/Autism Developmental Disorders/About Us

Fonte: adaptado de maine health org

O novo centro mudou a perspectiva dos serviços da organização em um centro de pesquisa e tratamento integrado que auxilia e atende durante toda a vida útil de seus pacientes. Além de gerar suporte aos portadores do espectro e outros distúrbios, o centro atende também as famílias gerando novos modelos de tratamento e pesquisa além de treinar as próximas gerações de profissionais. (E4H, 2021)

O programa reuniu o programa de tratamento diurno da MBH, os serviços ambulatoriais e a pesquisa para o autismo em um local em um ambiente projetado para atender às necessidades dos pacientes, familiares e funcionários. O Programa CADD floresceu e rapidamente superou seu prédio de 706,00 metros quadrados (MAINE HEALT, 2021)

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O Centro de Excelência em Autismo e Transtornos do Desenvolvimento inclui três programas:

A- Programa de Primeira infância:

Possui 04 salas de aula para crianças do jardim de infância até o 12º ano

Possui 04 salas de pré escola (a primeira no estado do Maine) conforme figura 3

Possui 01 “Sala de Aula do Futuro de Autismo” totalmente equipada que apresenta biossensores vestíveis, computação no local e exibir recursos para apoiar os estudos de fisiolog ia, emoção e comportamento do MBH. (Está sala de aula servirá como um laboratório vivo, com base no trabalho piloto que já realizaram em sua escola especializada e ambientes de internação)

Figura 3:Sala de pré escola

B- Programa de Adultos

Trará a abordagem exclusivamente multidisciplinar da Maine Behavioral Healthcare para atender às necessidades da população de transtornos do desenvolvimento de adultos no Maine um grupo lamentavelmente carente Este programa incluirá uma Clínica de Adultos (figura 4), IOP Adulto (Programa Intensivo Ambulatorial) e serviço s de IOP Infantil.

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Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

Figura 4:: Sala para atendimento odontológico para Adultos do CADD

C- O Programa de Pesquisa e Treinamento

Ampliará a sólida posição do MBH na pesquisa do autismo para se tornar um centro de pesquisa do autismo reconhecido nacionalmente, com vários pesquisadores competindo com sucesso por prêmios federais de pesquisa e abrindo novos caminhos em áreas divergentes de investigação.

Figura 5:: Sala de Fisioterapia e estímulos Sensoriais

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Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/ Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

Com base nos pressupostos teóricos presentes no subcapitulo 2.3, fica evidente que o Maine Behavioral Healthcare Center Of Autism And Development Disorders possui em sua arquitetura alguns critérios desenvolvidos pela arquiteta Magda Mostafa, como é o exemplo dos espaços de fuga, ambiente isolado e silencioso com estímulo sensorial neutro, que neste caso foram denominados de “relax” conforme figura 6.

Figura 6: Sala “relax”

Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

A imagem abaixo (Figura 7) mostra um exemplo de Zonas de Transição, que servem para controlar os sentidos da criança autista a medida em que ela se move para diferentes ambientes e atividades . Neste caso, estes espaços devem passar tranquilidade, e direcionar a criança ao seu novo destino com pouco estímulo sensorial.

Figura 7:Corredor acesso às salas

Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

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Os espaços devem seguir um sequenciamento espacial para que as atividades desenvolvidas fluam com o mínimo de interrupções possíveis. Neste caso, os estímulos sensoriais partem de acordo com a necessidade da atividade que será desenvolvida no local, como é o caso da i magem a seguir (Figura 8)

Figura 8:Sala Sensorial

Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

Limitar o ambiente sensorial organizando em espécies de “ compartimentos” é um dos critérios desenvolvidos por Mostafa, o Programa CADD, para MBH tem este critério bem presente em toda sua arquitetura. As salas são setorizadas por atividade desempenhada e com a qualidade sensorial que o ambiente necessita podendo ser de baixo a alto estímulo com está presente no critério “ zoneamento sensorial” por Mostafa. A figura 9 exemplifica um desses “compartimentos”

Figura 9: Sala para desenvolvimento físico

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Fonte: E4H Architecture (2021). Disponivel em: https://e4harchitecture.com/portfolio projects/the center for autism and developmental disorders/

4 PROPOSTA PROJETUAL

Neste capítulo, será apresentada uma proposta projetual para a adaptação das salas de aula de uma escola de ensino infantil, Escola Cecília Meireles, para inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista nessa instituição.

A fim de facilitar a inclusão de crianças com TEA e não propagar a segregação destas no campo educacional e de socialização , este trabalho tem por finalidade a reforma das salas de aula da instituição de ensino do maternal ao fundamental (ciclo I), com foco em elementos da arquitetura de interiores que prezam pelo bem estar e desenvolvimento das crianças neuroatípicas.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

Fundada em 1993, a Escola Cecília Meireles localizada na Avenida Santa Leopoldina, 170, bairro Praia de Itaparica em Vila Velha ES (Figura 10), possui um plano de ensino que visa a educação do maternal ao ensino fundamental (ciclo I e II).

Figura 10: Localização área de estudo

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Fonte: Google Earth (2022)

A figura 11 abaixo mostra a disposição dos ambientes onde a escola contempla atualmente em sua estrutura, dois pátios para recreação sendo um coberto (16) e um descoberto (01); uma quadra poliesportiva para uso das atividades físicas desenvolvidas no período escolar (11); uma quadra poliesportiva para desempenho de atividades extracurriculares (17) como futsal e vôlei; uma sala de recepção (04); uma sala de coordenação/direção (06); uma sala dos professores (07) e quatro salas de aulas no pavimento térreo (08, 09, 10, 12). Além das salas nos pavimentos superiores destinadas ao ensino fundamental de ciclo II.

Figura 11: Setorização

Fonte: Produzido pela autora (2022)

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4.2 DIRETRIZES

O estudo preliminar do projeto de intervenção da Escola Cecilia Meireles visa atender as necessidades das crianças com Transtorno do Espectro Autista de forma mais generalizada, visto que não será possível prede finir um perfil sensorial já que o intuito final do estudo é propor um projeto que atenda as demandas das crianças neurotípicas e neuroatípicas como um todo.

Para isso o projeto visa atender as necessidades abordadas no e studo desenvolvido por Mostafa (2008) dentre eles: 

alta vedação e contenção de ruído (para reduzir a distração visual e acústica externa para os hiper-auditivos e hiper-visuais, para criar foco visual em casos de interferência visual); 

Uso de escala intima (para reduzir os ecos para o hiper-auditivo, criar um ambiente auditivo controlável para a interferência auditivo , criar um espaço controlável e gerenciável para o hiper e interferência visual , para aumentar a estimulação tátil da proximidade do limite para o hipotátil);

Organização simétrica (aumenta a sensação de centro e equilíbrio para o hipo e interferência proprioceptiva e cria um ambiente controlável para a interferência visual);

Espaços visualmente harmoniosos sem contrastes; Uso de texturas para estímulos sensoriais; Uso de padrões de circulação para capitalizar a rotina.

Além disso o estudo final levará em consideração as diretrizes projetuais desenvolvidas por Mostafa (2014):

Sequenciamento espacial

Espaço de fuga

Zonas de transição

35
2
3-
4
5-
6
7
1 Acústica
Compartimentação
Zoneamento sensorial
Segurança

A partir dos estudos realizados visou se estabelecer um projeto que possibilite a integração social, a promoção de estímulos que beneficiem e auxiliem a s crianças neuroatípicas em seu desenvolvimento, a comunicação, o processamento sensorial e o desenvolvimento da capacidade cognitiva.

Após a realização de um levantamento in loco feito pela autora, foi possível examinar a Escola como um todo e observar quais eram os pontos cruciais para aplicação dos conceitos e diretrizes estudados nessa pesquisa. Partindo deste princípio, e analisando a estrutura e disposição dos ambientes da escola, foi proposto uma reforma pontual a fim de tornar as salas de aula (ambientes onde os alunos passam maior parte do tempo em que estão na escola) espaços mais estruturados com base nos estudos desenvolvidos por Mostafa (2008, 2014).

As salas de aula existentes se tornaram o ponto de partida do projeto, nas quais foram feitas maiores alterações. A figura 12 apresenta a planta de reforma, com a localização das paredes a serem removidas e adicionadas.

Figura 12: Planta de reforma

Fonte: Produzido pela autora (2022)

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Notou se que na sala destinada ao maternal localizada na imagem acima (Figura 12) com a numeração 09, possuía a ventilação natural precária sendo feita através de um cobogó na parede da varanda (figura 13). Para solucionar essa questão, foi feito uma alteração na parede da entrada da sala, criando uma espécie de “hall”, sendo aplicada a mesma estratégia projetual na sala ao lado (número 10 da figura 12) que atualmente é uma sala desativada.

A sala (Figura 14) contava com poucos moveis para alocar os objetos utilizados nas atividades escolares e não contava com elementos lúdicos que incentivem o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças.

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Fonte: Fotografado pela autora (2022) Fonte: Fotografado pela autora (2022) Figura 13: Varanda Maternal Figura 13: Sala de aula Maternal

As salas de aula do Jardim I (Figura 15) e Jardim II (Figura 16) possuem entrada para ventilação natural, banheiros próprios e um amplo espaço para desenvolvimento das atividades escolares. Com isso, para o projeto destas salas não foi proposto reforma estrutural, apenas a inserção de elementos da arquitetura de interiores somadas as diretrizes projetuais voltadas para as crianças neuroatípicas a fim de se obter uma sala mais equipada e que atenda não só as demandas das crianças com Transtorno do Espectro Autista, mas que promova uma educação inclusiva possibilitando a interação, mas respeitando os limites de cada criança no meio social e escolar.

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Fonte: Fotografado pela autora (2022) Fonte: Fotografado pela autora (2022) Figura 15: Jardim I Figura 16: Jardim II

Com o intuito de promover o desenvolvimento cognitivo e sensorial das crianças, foi proposto para a sala em que está desativada (número 10 da figura 12) utilizá la como uma sala sensorial, onde as crianças trabalharam a desenvoltura d os sentidos motores e possibilitando despertar estímulos sensoriais . E para complementar o projeto que visa a questão sensorial, aplicou se em sua matriz projetual um refeitório integrado com uma cozinha experimental, além da possibilidade de um jardim sensorial próximo ao refeitório (número 01 da figura 12)

Por fim, com foco nas diretrizes desenvolvidas por Mostafa (2014), foi reduzida a área da atual secretaria (número 17 da figura 12), para que a escola pudesse contar com uma sala de fuga (número 04 da figura 12), que são espaços pensados a fim de proporcionar alívio as crianças com Transtorno do Espectro Autista quando se deparam com ambientes super estimulados. São espaços silenciosos, isola dos ou não que devem garantir um ambiente sensorial neutro com estimulação mínima. (MOSTAFA, 2014)

Figura 14: planta baixa layout

fonte: Produzido pela autora (2022)

39

4.3 SALA DE FUGA

A sala de fuga, segundo MOSTAFA (2014), visa ser um espaço onde a criança neuroatípica pode se aliviar da sobrecarga de ambientes sensorialmente super estimulados. Devem ser ambientes silenciosos e com estimulação mínima. O espaço deve ser pensado com a finalidade de proporcionar alívio sensorial.

Figura 15: planta baixa layout sala de fuga

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Para o projeto desta sala (figura 18), foram propostas paredes com cor neutra (foi utilizada a cor cinza de grife da Suvinil) e para adornar a parede a proposta prevê apenas um conjunto de três quadros pequenos.

Como mobiliário foi pensado um puff para descanso e uma cama infantil caso a criança precise descansar devido a algum estímulo sensorial aguçado . Foi proposta também uma mesa infantil para desenhar. Como solução acústica, foi planejado, a fim de garantir a vedação sonora na sala, o uso de janela acústica antirruído (figura 19), compostos por vidros duplos.

40

Figura 16: Janela antirruído com vidro duplo

Fonte: https://portalacustica.info/janela acustica como funciona e sera que vale a pena/

No projeto luminotécnico, a propost a foi planejar uma iluminação simples e aconchegante, utilizando apenas uma arandela ao lado da cama e uma luz central com cor quente.

Figura 17: Imagem interna sala de fuga

Fonte: Produzido pela autora (2022)

41

4.4 SALAS DE AULA

Figura 181: Sala de aula jardim II

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Figura 192: sala de aula jardim I

Fonte: Produzido pela autora (2022)

42

Figura 20: sala de aula maternal

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Nas salas de aula, Jardim Il (figura 21), Jardim I (figura 22) e maternal (figura 23), foram usadas as mesmas estratégias projetuais, alterando apenas o conceito lúdico de cada uma. Nas paredes, foram aplicadas tintas acetinadas de cor neutra , e no lugar do tradicional quadro branco, foi usada na parede de piso a teto a tinta lousa na cor verde colegial Suvinil, a fim de possibilitar a interação entre professor aluno nas atividades educacionais desenvolvidas na sala de aula.

Figura 21: Sala de Aula Jardim II

Fonte: Produzido pela autora (2022)

43

Figura 22: Sala de Aula Jardim I

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Figura 23: Sala de Aula Maternal

Fonte: Produzido pela autora (2022)

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Na definição do mobiliário, a proposta visa a utilização de mesas infantis modulares, que podem facilmente ser retiradas para a utilização da sala de forma mais livre, a proposta conta também com móveis feitos sob medida para armazenar os itens utilizados nas diádicas das aulas. Todas as salas contam com mobiliários para alocar os livros infantis, a fim de incentivar de forma lúdica a leitura e desenvolvimento cognitivo das crianças.

Figura 24: Sala de Aula Jardim II

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Figura 25: Sala de Aula Jardim I

Fonte: Produzido pela autora (2022)

45

Figura 26: Sala de Aula Maternal

Fonte: Produzido pela autora (2022)

O tapete de EVA foi uma solução para garantir o conforto em atividades que serão realizadas diretamente no chão, além de proporcionar estímulo sensorial para a criança.

Figura 27: Sala de Aula Jardim I

Fonte: Produzido pela autora (2022)

46

A sala destinada ao Maternal contava em sua estrutura com uma varanda que na proposta projetual atual foi transformada em um solário com t elhado retrátil AeroMax ZetaFlex Stereo, pois o modelo desliza sua cobertura permitindo o máximo de aproveitamento da área, e dessa forma, é possível ter um teto -solar.

(Figura 31)

Figura 28: Maternal

Fonte: Produzido pela autora (2022)

47

A proposta luminotécnica conta com o uso da iluminação dimerizável que possibilite o controle da intensidade de luz nas salas de acordo com a sensibilidade das crianças e das tarefas a serem executadas. No projeto de solução acústica, com o intuito de garantir o isolamento termoacústico foi proposto a manta de poliéster EcoFiber Wall termo fixada que pode ser utilizada nos sistemas construtivos Dry Wall, Steel Frame, Wood Frame entre outros. Esta manta é ecologicamente correta e totalmente reciclável ( podendo conferir pontuação para certificação LEED e Green Building). De fácil manuseio, não alérgica, inerte e autoextinguível, apresenta altíssimo grau de resiliência (não deforma).

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Figura 29: Especificação manta térmica e acústica

Fonte: https://ecofiber.ind.br/produtos/9/mantas para isolamento termico e acustico#:~:text=Utilizada%20como%20isolamento%20t%C3%A9rmico%20e,com%20a%20pres erva%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza

Para potencializar a vedação sonora nas salas de aula, foi adotada a mesma estratégica acústica utilizada na sala de fuga: o uso de janelas acústicas antirruído (figura 19), compostos por vidros duplos. As janelas foram projetadas para o campo de visão da criança, permitindo maior liberdade e interação destas com o meio externo, evitando o que o ambiente construído promova um enclausuramento resultante em educação engessada

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Figura 30: Jardim II

Fonte: Produzido pela autora (2022)

Figura 31: Sala de Aula Jardim I

Fonte: Produzido pela autora (2022)

50

SALA SENSORIAL

Figura 32: Sala sensorial

Fonte: Produzido pela autora (2022)

A criança que possui seu desenvolvimento sensorial limitado não corresponde de forma satisfatória em diversos ambientes, devido ao fato de que seu cérebro não desenvolveu os processos para integrar as sensações desses ambientes. E devido a este fato, o ambiente construído deve ser pensado a fim de promover o desenvolvimento das percepções sensoriais relac ionadas ao meio em que estas crianças estão inseridas para um melhor desempenho motor e social. (MOSTADEIRO, 2019)

Com base nos estudos realizados por Mostadeiro (2019) e Mostafa (2008,2014), a sala sensorial (Figura 32) foi desenvolvida a fim de proporcionar estímulos sensoriais que permitam o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças além de incentivar a criatividade e autonomia destas.

51 4.5

Figura 33: Sala sensorial

fonte: Produzido pela autora (2022)

O projeto desta sala conta com elementos lúdicos e brinquedos que permitem a desenvoltura motor e criativa das crianças além de incentivar a socialização e comunicação entre elas.

O uso de uma parede sensorial foi aplicado no projeto e tem como principal objetivo a educação através dos sentidos da criança, visando o desenvolvimento da coordenação motora, atenção, equilíbrio, memoria, criatividade entre outros.

Figura 34: Sala sensorial

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Fonte: Produzido pela autora (2022)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou entender as características das crianças neuroatípicas incluindo as dificuldades destas em relação a comunicação e seu processamento sensorial e cognitivo quando inseridas em ambientes construídos e partindo deste ponto como os elementos da arquitetura podem influenciar em seu comportamento perante a estímulos advindos do espaço físico.

A ida até a instituição escolar permitiu uma visão mais ampla para o estudo após uma análise da escola como um todo e um contato direto com os profissionais de ensino, onde após esta troca, foi possível analisar as necessidades não só dos alunos, mas da escola propriamente dita. Partindo deste princípio, o projeto considerou tanto as carências dos alunos neurotípicos como as da instituição atrelando a proposta final que visa a inclusão das crianças autistas.

Com análise das obras de referência e nos estudos de base já realizados nessa área, foi possível conceituar a criança neuroatípica e suas sensibilidades sensoriais, podendo entender a correlação do ambiente construído e seus elementos com a criança autista, buscando a compreensão de como o espaço físico pode influenciar no desenvolvimento e bem estar destas crianças

Os fatos pontuados permitiram analisar que não é possível predefinir critérios projetuais padronizados que buscam atender todo o espectro do autismo , mas que existem diretrizes gerais que amenizam o impacto sensorial que o ambiente construído causa nas crianças neuroatípicas, como é o caso da acústica, iluminaçã o e elementos que permitam o desenvolvimento motor e cognitivo da criança.

Com isso, o trabalho optou por criar espaços com as diretrizes projetuais baseadas nos estudos de referência que consigam ser aplicados à escola, atendendo de forma mais generalizad a as crianças como um todo, mas focando nos limites e características das crianças com Transtorno do Espectro Autista.

53 5

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