Falando de Histórias II

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Tecnologia

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optaram por viver em regiões distantes da terra natal e, ao seu modo, passam a construir outras histórias, vidas e relações sociais. Isso porque, fora de seu território originário, as pessoas tendem a buscar e preservar traços culturais que podem mantê-las mais próximas, garantindo um pouco das lembranças que alimentam a vida construída até aquele momento. A legitimação da memória também depende da ação de intelectuais que apostaram no projeto da colonização. Este é o caso de Keimpe van der Meer, formado em Pedagogia, e veio para Carambeí motivado por anúncio de jornal (que circulou na província holandesa da Frísia, em 1936), divulgando uma vaga para professor no Brasil. Voltou à Holanda durante a II Guerra e retornou ao Paraná em outubro de 1945. Durante cerca de 30 anos, foi redator de um jornal (Centraal Maandblad) mensal que circulava entre associadas das cooperativas existentes na região. Foi, ainda, autor do primeiro livro sobre a história de Carambeí, que marcou os 50 anos da colônia, em 1961.7 O fortalecimento da colônia também dependia dos relatos de imigrantes que já estavam no Brasil. Leendert de Geus chegou a Carambeí em 1911 e integrou, junto com o irmão Arie, a leva dos primeiros a virem diretamente da Holanda. Mais tarde, pelos relatos familiares, convenceu o próprio pai a vir ao Brasil, em 1913, formando uma das primeiras famílias que fundaram a cooperativa de laticínios da cidade. Leendert faleceu aos 70 anos, em 1960.8 As memórias – individuais, que se estruturam coletivamente – se tornam, assim, referências para registro e, ao mesmo tempo, incentivo às novas gerações que passam a entender a história, respeitar as tradições e desenvolver outras formas de valorização das expressões culturais. Desta maneira, as memórias passam a fazer parte das marcas de identidade cultural de qualquer grupo de migrantes. É o que aconteceu – e acontece – na antiga colônia holandesa, hoje município de Carambeí, nos Campos Gerais do Paraná.


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