Implementação de uma proposta temática na educação física escolar no ensino fundamental - um r

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sobre a importância cultural da capoeira enquanto expressão da cultura popular brasileira; debater os seus aspectos históricos e suas implicações na busca da liberdade dos escravos; e problematizar as questões relacionadas aos preconceitos circulantes sobre a capoeira e os seus praticantes. Ao abordarmos a capoeira através de aulas menos diretivas, com métodos de ensino voltados para a participação efetiva dos alunos, tais como a solução de problemas e a descoberta orientada, com vistas à cooperação, inclusão e co-educação, em detrimento da competição, exclusão e do sexismo, possibilitamos aos alunos a gênese e o debate de situações de conflito que tendem a surgir durante as aulas. Entre algumas das ocasiões de aula, as que mais chamaram nossa atenção e buscamos problematizar foram: a prática da capoeira enquanto luta usada com fins destrutivos (violentos) e não enquanto expressão cultural e prática corporal voltada para o prazer; a discriminação desta atividade por motivos religiosos, raciais, sociais e sexuais; o resgate histórico da capoeira como forma de protesto e busca de libertação pelos negros escravizados; e a dos materiais necessários para o ritmo das rodas (berimbau e pandeiro). O preconceito religioso foi notado nas aulas através dos comentários dos alunos/as, como “capoeira é coisa de macumbeiro”. Interpretamos que isto posa se dar em função do ritmo, do batuque durante a roda de capoeira, e da vestimenta do capoeira. Outra crença é de que seus praticantes utilizam drogas. Alguns alunos comentavam que “quem faz capoeira é maconheiro”. Também constatamos um preconceito racial por parte de alguns alunos/as que se negavam a participar das aulas de capoeira por considerarem que “a capoeira é coisa de negro”. O sexismo também foi constatado por parte das meninas, que justificavam a não adesão nas aulas práticas por acharem que a capoeira pode ser praticada pelos meninos com maior liberdade em função das diferenças anatômicas, como os seios que, segundo elas dizem, atrapalham a realização dos diferentes movimentos. Em relação à apresentação da capoeira enquanto conteúdo, nas primeiras aulas discutimos com os alunos o seu aspecto histórico: o cenário do seu surgimento, os motivos e conseqüências do seu uso, o seu significado histórico, a criação da capoeira enquanto luta usada como auto-defesa pelos escravos contra os maltratos, a maneira que eles enganaram os donos das fazendas e os capatazes, escamoteando a capoeira enquanto dança, falseando a possibilidade de seu uso como luta utilizada nas eventuais fugas. Durante as aulas subseqüentes, surgiram temas trazidos pelos alunos através de reportagens sobre os inúmeros grupos de capoeira e as brigas entre estes grupos, que implicam na perda do caráter lúdico e do prazer de "jogar" a capoeira. Visando a cooperação e a otimização das relações interpessoais do grupo, o trabalho com os alunos foi, na maior parte das aulas, desenvolvido sob a forma de duplas, que se revezavam no aprendizado dos movimentos da capoeira (ginga, cocorinha, benção). Além do trabalho de toda a turma para montagem dos instrumentos básicos (berimbau - com bambu, naylon e cabaça; e o pandeiro - com madeira e couro de boi), com material alternativo, os alunos também pesquisaram músicas nos grupos de capoeira nos quais alguns deles participavam, inclusive recriando as letras de algumas destas músicas. Ao final de cada aula do bimestre, reunimos as turmas para discussão das situações-problema, além das descritas acima, que apareciam nas aulas, como: a impossibilidade de jogar capoeira no bairro; a admiração pelos alunos que se mostravam mais aptos para os saltos na turma; e a crescente adesão das meninas nas aulas práticas. Elas justificavam a adesão pelo fato de trabalharmos com a música nas aulas e por considerarem que na capoeira, a competição era minimizada, pois não se tinha uma equipe vencedora, uma vez que a ênfase da turma era pela participação e cooperação entre os alunos em cada aula. Quanto à avaliação, nas aulas e ao final do bimestre, nos remetemos à diferentes formas de avaliação. Em relação aos aspectos históricos, formamos grupos para apresentação da história da capoeira desde a sua criação, passando por sua marginalização após a abolição da escravatura, e a crescente divulgação de sua prática pela mídia nos dias de hoje.


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