O brincar e a ludicidade como saberes da profissionalidade docente na educação infantil

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referidos por Tardif (2011), são validados na prática, em face de estratégias, decisões, proposições que a professora pode recorrer para dar conta das situações que se apresentam no decorrer de sua atuação docente, como um espaço que pode ser cerceador ou mobilizador de um sentido de profissionalidade docente. O registro de vivências lúdicas, envolvendo várias formas de brincar na escola e em sala de aula, podem, inclusive, ser reveladores de saberes retraduzidos de maneira crítica ou mais conservadora na mediação junto às crianças, seus pares e também a família. Remetendo-nos às professoras de nossa pesquisa, reiteramos, face à maneira como lhes é proposta a realização dos registros de suas vivências, que a finalidade que assumem na escola e na formação continuada não nos pareceu favorecer

o desenvolvimento de

competências reflexivas e metarreflexivas em sua prática docente,

considerando o

reconhecimento dos saberes experienciais em sua relação com os saberes disciplinares, curriculares e da formação profissional, que estas buscam no seu dia-a-dia na docência. Recorrendo ao pensamento dialético em Giroux (1983), Freire (2005a,b), dentre outros, reiteramos que o direcionamento/controle no registro das paisagens culturais, em cada seção, cumpre o objetivo de a escola gerar material para o projeto, e, dessa maneira, o portfólio constitui-se em

instrumento

avaliativo na e da trajetória do projeto, porém

destacamos que essa avaliação ocorre em uma direção unilateral, pois, ao que parece, não retorna à escola nem à Secretaria de Educação do município, mas ao Instituto C&A, responsável pelo projeto. Ao mesmo tempo também refletimos que a continuidade de estudos na escola pode gerar habitus de diálogo no grupo, segundo Tardif, 2011, o que pode suscitar um movimento oposto em sua organização cotidiana, tal como nos disse Freire (2005b), e passar a confrontar o que é proposto nos encaminhamentos do projeto. Acreditamos que o processo de registro e seleção do material do caderno pode se constituir, em um momento de reflexão quanto a seus limites e possibilidades. Em Freire (2005a, b) aprendemos a acreditar que mudanças podem acontecer pela superação e/ou reconhecimento de práticas cerceadoras. Freire (2006) ressalta a superação de contradições, envolvendo relações de dependência a partir da discussão e vivência de uma educação para a liberdade, como possibilidade de favorecer a autonomia, no reconhecimento de práticas pulverizadoras, como um antídoto aos elementos condicionantes que propugnam a alienação, ou o ocultamento da realidade, em uma perspectiva de domesticação do ser humano. Outrossim, estudiosos de práticas progressistas na educação infantil, como Gandini (1999),

apontam a documentação

como um instrumento indispensável

para que

os


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