O balão vai subindo...

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[O BALÃO VAI SUBINDO...] Autoria: Geisa Andrade Função: Assessora do Paralapracá Município: Maceió - AL

A assessora do projeto Paralapracá em Maceió, Geisa de Andrade, fez um relato sobre as visitas realizadas às instituições de Educação Infantil da Rede Municipal, inseridas na formação continuada do projeto durante o mês de junho. O clima de São João regado a Copa do Mundo predominou e encantou a assessora, além de mostrar um retrato da força de São João no Nordeste e dar boas pistas de como isto pode e deve ser valorizado nas instituições de Educação Infantil com o intuito de promover o desenvolvimento nas crianças e a valorização da cultura local. Vale conferir. Tive o prazer de participar de algumas festas juninas nos espaços de Educação Infantil que integram o projeto Paralapracá em Maceió. Neste ano, uma singularidade: São João se vestiu de verde e amarelo e por pouco não tinha uma bola nos pés. Bandeirolas em verde e amarelo se confundiam o tempo todo com a bandeira do Brasil. Fitas de diversas cores, lindas chitas e cetins verde e amarelo concorreram para criar o clima de muita cor e vivacidade nos espaços. Alguns mais ricos e outros mais modestos, a depender do bolso das diretoras, professoras e da comunidade, que ajuda muito nesses momentos. Tudo feito com trabalho de todos. Demonstrações de torcidas à parte, ainda foi possível sentir as crianças de creche e préescola brincando o São João ao som de uma diversidade incrível de expressões musicais. Presenciei festas com trio de forró ao vivo, onde a sanfona, a zabumba e o triângulo davam o recado direitinho, invocando quase sempre Luiz Gonzaga, esse patrimônio cultural brasileiro. Um luxo ver o conjunto ao vivo tocando Gonzaga para as crianças fazerem a quadrilha – neste caso, opção da instituição que mantém uma boa articulação com a comunidade e procura dar o devido valor à produção cultural local. Em outros espaços, músicas tocadas e cantadas por conjuntos de forró mais modernos e que também são do gosto da população, pois apresentam um visual diferente e um toque mais sensual, como disse minha ajudante Linda, jovem que mantém preferência pelo trio de forró, sem descartar a atração pelo forró estilizado. Voltando aos espaços, pude perceber propostas claras e algumas vezes diferentes umas das outras. Presenciei crianças repetindo os gestos bem ensaiados com suas professoras e auxiliares durante um bom tempo. Alguns pequenininhos pareciam esquecer tudo e trocavam a coreografia pelo choro quando avistavam a mãe, avó ou mesmo o pai ali


presentes. A família, sempre atenta, registrava nos seus celulares os melhores momentos dos seus filhos, mesmo no choro. Meninos e meninas se comportam de maneira diferente nas apresentações. A maioria das meninas compareceu com seus vestidos de chita e cetim, fitas, laços e babados verdes e amarelos. Nos rostinhos, pintinhas nas bochechas, batom vermelho, sombras nos olhos, cabelos presos com adereços também verdes e amarelos. Nos pés, a depender das possibilidades, sandálias de dedo, tênis ou sapatinhos coloridos. Todas graciosíssimas rodopiavam pra lá e pra cá mostrando o franzido e os babados das saias. Os meninos, com suas calças jeans e camisas quadriculadas, chapéus de palha, bigodes e barbas feitos com lápis, também transitavam livremente pelo espaço, menos afoitos que as meninas. Hora da dança, de mostrar o ensaiado por longo tempo. Meninas mais soltas, requebrando ao som da música, e meninos mais duros, sem requebrar. Meninos não requebram na dança, parece estar enraizado. Vergonha dos pais ali presentes? Dá pra pensar sobre isso... Entretanto, alguns meninos se arriscaram e foram fantásticos. Pulavam, requebravam, davam passos às vezes não ensaiados, cantavam quando sabiam a letra, atraindo os olhares de todos os presentes. E as professoras? Bem diferentes por escola... Algumas produzidíssimas, tipicamente vestidas, com acessórios coloridos, prontas para o forró. Outras com camisas verdes e amarelas bordadas, todas com muito entusiasmo em mostrar o que tinham produzido. Nas apresentações percebi diferentes formas de participação das crianças. Foi bom presenciar um grupo em que as crianças cantavam a música com energia e vontade, além da coreografia. Ficou claro que a intenção foi esta e a professora nem precisou ajudar muito, elas tomaram conta do palco, protagonizaram a cena e foram aplaudidas com entusiasmo. Incrível como a comunidade percebe que suas crianças são capazes de cantar uma música junina inteira, com alegria, sentindo o poema da música e demonstrando total afinidade com o que estavam fazendo. Aplausos, professora! Depois a quadrilha, esta dança em que todos se dão as mãos e é muito bom quando é um improviso só. Alguns meninos escapolem, é preciso adaptar os pares. Também é preciso estar afinado, um passo errado, e lá vai a coreografia do grupo por água abaixo! Passar no túnel é mágico, alavantour e anarrier, as crianças já dominam. Na hora da dança elas se juntam, cruzam as mãos com seus pares e os bracinhos sobem e descem ao ritmo da música. O olha a chuva! provoca uma algazarra, assim como o olha a cobra! Ao final, todas felizes e coradas, fizeram bonito! Então, os comes e bebes. Canjica, munguzá, pipoca, algodão-doce e, em alguns lugares, o milho cozido para todos. Farra gastronômica! Sem dúvida, é prazeroso degustar um milho fresco, macio, dentro da palha verdinha. De onde vem, como se planta, como se desenvolve, como se colhe e limpa, como se prepara aprendendo a fazer a canjica, o munguzá, bem que poderia ser um bom projeto a ser desenvolvido com as crianças. Afinal, em alguns espaços há boas áreas de terra crescendo mato...


Senti falta das belas canções do ciclo junino que permearam as nossas infâncias. Conversando com um vendedor de CDs de rua, que, segundo ele, é “perito em forró, conhecedor de tudo”, ouvi que isso hoje é difícil, ninguém gosta mais, só se vende o forró moderno. Quem não se lembra do “olha pro céu meu amor”... ou do “o balão vai subindo, vai caindo a garoa”... ou mesmo do “ eu pedi numa oração, ao querido São João”...? Saudosismo? Pode ser, mas especificamente saudade da qualidade musical do ciclo junino, que talvez nem as nossas professoras recém-envolvidas com a Educação Infantil conheçam... A literatura infantil nos presenteia também com pérolas que precisam ser incluídas nos acervos das creches e pré-escolas. O impecável Bandeira de São João, de Ronaldo Brito (segundo ele, são musicas brasileiras e não só juninas) e Assis Lima, com orientação musical do competente e conhecido Antônio Madureira, é uma excelente referência para as crianças (*). Poder cantar com elas: Balão ão Subiu iu No céu azul de anil Piscou ou Brilhou ou Na noite do Brasil Balão ão Caiu não Subiu, subiu, subiu... São João ão Nem viu iu Dormiu, dormiu, dormiu... É um momento de puro prazer, em que elas soltam as vozes e fingem dormir ao final como São João Menino, o do Carneirinho. De qualquer forma, incentivar a produzir e brincar o São João, com Copa ou sem, é fundamental na Educação Infantil, pois produzir cultura vem do berço... À noite, na Praça de Eventos da Pajuçara, pude ver jovens dançando uma quadrilha mais moderna, num festival de movimento verde e amarelo, bonito de se ver, produzindo a cultura junina que atrai multidões. Quem sabe não começaram na Educação Infantil?


O bom mesmo é poder brincar o São João e se entregar a esta festa que é a Copa. Afinal, isso é Brasil, bem verde e amarelo! VIVA! (*) Trilogia O Baile do Menino Deus, ciclo natalino. Arlequim, ciclo carnavalesco e Bandeira de São João, ciclo junino.


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