Yume no Tamashii - O Espírito do Sonho - Rafael Akira

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Barros, Rafael Akira Yoshika Yume no Tamashi : o espírito do sonho / Rafael Akira Yoshika Barros. – São Paulo, 2011. 136 f.: il. Color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Apresentado ao Instituto de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2011. Área de Concentração: Fotografia “Orientação : Prof.ª Su Stathopoulos” “Coorientação : Prof.º Gabriel Hashimoto Agueiros” 1. Fotografia. 2. Japão. 3. Música. I. Título.



Dedicat贸ria


Joy e Danielle Nunes, pessoas essenciais na orientação deste projeto, dando- me diretrizes á seguir em direção á elucidação de meu conhecimento, que contribuíram demais para o projeto com suas orientações. Eduardo Pina e Paulo Dariva, membros essenciais na concepção do projeto gráfico do trabalho, idealizadores de um projeto ambiciosos sem os quais a idéia não sairia do papel e o projeto não teria nada especial. A contribuição deles tornou não só a idéia possível, mas também, tornou-a uma idéia fantástica. Á minha família por ser parte essencial em minha formação enquanto indivíduo, transmitindo-me valores éticos e morais, pertinentes não só a formação de um jornalista, como também na formação de qualquer cidadão. Este projeto não teria chegado ao ponto que está sem o apoio de uma grande amiga, Melissa de Marchi Martinez, que me apoiou quando precisei, ouvindo meus prantos e impe-

dindo que eu desistisse, em momentos em que pensei jogar a toalha. Amanda Rinhel, uma amiga da época de escola, sem a qual o sonho de me tornar jornalista não teria ganhado uma proporção tão grande, uma pessoa que sempre me apoiou quando necessitei, e me incentivou nos momentos que não tinha motivação. Á professora Gabriela Hashimoto, por todo o apoio teórico e argüições e pelo apoio motivacional prestado ao trabalho, uma pessoa fantástica, que usa de seu dom de ensinar para não só motivar os alunos a aprender, e sim para fazer seus alunos buscarem além do que é transmitido em sala. Me fez enxergar o quão fantástico pode ser o pensamento humano, dando-me bases para que eu aprimorasse minha forma de pensar, vendo o mundo através de um prisma diferente, mais lúcido, contribuindo de uma maneira muito importante para que num futuro próximo, minhas palavras possam mudar o mundo e torná-lo menos cruel, de alguma forma.

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Jessica “Pandy”, campeã do World Cosplay Summit 2008, com a personagem Jo, de Bakuretsu Tenshi.


Agradecimentos


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À Thales de Andrade, Á Su Statophoulos, á Paula e Elaine Medeiros, Á Thamiris Alves, Á Jéssica Pires, À Graciele Nunes.Á Isabella Neirouz, À Tabita Said, À Miriam Castro.À Marcela Ferreira,.À Juliana Mel, Á Su Statophoulos, pois foi peça fundamental para que se despertasse o interesse sobre o tema central deste trabalho.

mente palpáveis, e que devemos lutar por eles, não importa o tamanho das barreiras que surjam. Graças á elas o que antes era o meu grande sonho, hoje transformasse em realidade.

À Ana Moitinho, uma grande amiga que sempre me apoiou, e me despertou para a verdadeira essência do que é transpor em imagens o coração, Ana me mostrou o que é por a alma naquilo que realmente se gosta, uma garota muito especial, com a qual tive a oportunidade de partilhar momentos muito felizes de minha vida.

Á Jéssica Pires, uma grande amiga, que construiu uma amizade muito forte comigo, á qual devo agradecer sempre.

Á Roberta Jaciane, uma grande amiga, companheira de projetos anteriores, por todo o incentivo prestado, e por todo o companheirismo, uma pessoa sem dúvida importante para a composição do projeto. Á Paula e Elaine Medeiros, amigas muito importantes, que me fizeram perceber que sonhos são coisas total-

Á Thamiris Alves, pelo companheirismo e pelas opiniões prestadas durante a elaboração textual do projeto.

À Graciele Nunes, peça chave na revisão do projeto, pois sem ela, a porta que agora se abre para um mundo totalmente novo diante dos olhos da grande massa, ainda estaria fechada, e eu responsável por abri-la, não teria a oportunidade de abrir a fechadura e mostrar para a mídia, o quão fascinante é este universo que vou demonstrar através deste livro. Á Isabella Neirouz, uma grande e valiosa amiga, companheira de lentes, seu olhar único sobre as coisas me mostrou que existe beleza até


onde não achamos que exista, sua amizade é muito especial para mim. À Tabita Said, uma mucisista de talento incrível e que me inspirou desde o início a escrever sobre o tema, uma amiga de muito talento e uma jornalista dona de exímia competência com as palavras, fez com que eu me apaixonasse pela profissão, e conseguisse enxergar no jornalismo a possibilidade que sempre vislumbrei em meus sonhos, de transformar a vida das pessoas que me cercam, pelas imagens e palavras. Uma amiga a quem tenho profunda admiração,que é muito importante em minha vida, mesmo sem saber. À Miriam Castro, uma jornalista de talento inigualável com as palavras, fazendo-me acreditar no potencial do projeto,e na qual sempre tive confiança plena de seu sucesso, companheira de profissão,mais que uma grande amiga, e que sei que algum dia poderá mudar o mundo com seu jeito sutil e ao mesmo tempo muito bem articulado de escrever, tenho profundo orgulho por ter escolhido a mesma

profissão que ela. À Marcela Ferreira, uma pessoa pela qual tenho enorme carinho, uma jovem sonhadora, assim como eu, e que acredita sempre na forca de suas palavras, e que amo muito,com um potencial brilhante, companheira de parcerias anteriores, e que em breve sei que poderei chamar de amiga de profissão, pois é uma pessoa extremamente cativante e cheia de talento. À Juliana Mel, uma antiga companheira, pela qual tenho enorme carinho, que me ajudou muito em momentos difíceis de minha vida, e que serviu como mola encorajadora de meu trabalho.

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L창mpadas tradicionais japonesas.


PelĂşcia de Majin Boo, personagem de Dragon Ball Z.


Epígrafe “É preciso esquecer-se, esquecer a máquina... estar vivo e olhar. É o único meio de expressão do instante. E para mim só o instante importa... e é por isto que adoro, não diria a fotografia....mas a reportagem fotográfica, ou seja, estar presente, participar, testemunhar, com a alegria da composição e evitar a anedota. Ao mesmo tempo, não podemos ficar esperando pela grande fotografia. Há muito o que descascar. É um presente que lhe é oferecido, mas é uma ação do acaso e é preciso tirar proveito dele... ele existe. É a vida, e ao mesmo tempo, a morte... porque desaparece, acaba. Há algo de mórbido na fotografia. Não é raro uma foto que possamos olhar por mais de um instante que passe uma emoção.’’ (Henri Cartier Bresson)

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Sumário

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As Canções Brasileiras - Burajiru No Uta

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As Músicas Próprias - Dokuji No Ongaku

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O Documentário - Daan Daan

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A Canção Da Força - Tsuyosa No Uta

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Canção Da Coragem - Yuuki No Uta

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Cantores Amadores

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Festival Do Bairro Da Liberdade - Jiyú No Kinjo No Matsuri

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Parte do Caminho do Imperador, onde o Imperador japonês passou em sua visita ao Brasil em 2008, centenário da imigração japonesa.



Cantores amadores competindo no Animeke Show 2011, e membros de bandas tocando no Anime Friends 2011.


Lucas Chimura, Cosplayer de Blood Dupre, personagem de Heart no Kuni no Alice.


Prefรกcio


A

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nimes e mangás. Estes dois tipos de entretenimento e, por que não, arte, são talvez a mais forte influência da cultura pop japonesa em nosso país. Apesar de existir no Brasil há muito tempo, os animes tiverem seu auge na metade dos anos 90, com o advento da animação Cavaleiros do Zodíaco em nossa televisão.

dos anos 2000 - houve, obviamente, mudanças de comportamentos dos jovens. Tudo aliado ao surgimento da internet e barateamento tecnológico. Mas, todas as mudanças ocorreram já com a inclusão da cultura japonesa a nossa. Muitos jovens incorporaram hábitos, falas e costumes das tribos nipônicas. Vide em nossa moda jovem o estilo “visual kei”.

Naquele momento, este anime fez surgir - ou melhor - manifestar-se, um grupo que até então era renegado pelos meios de comunicação: os nerds, jovens que gostam de produtos ou situações fora da grande massa.

Outro item incorporado foi a música. J-rock e j-pop são os dois estilos do Japão mais comuns ouvidos por nossos jovens. Sua influência alcançou níveis interessantes, ao ponto de haver bandas brasileiras a tocar e cantar músicas dos artistas de lá, fazendo o que se chama de cover.

Na metade dos anos 90, além do anime na TV havia a revista Herói, que abarcava tudo aquilo que os nerds curtiam: quadrinhos, games, cinema, animação, etc. Já naquele período começaram os primeiros eventos de animes, todos ainda muito tímidos. E, por serem iniciais, com poucas pessoas. Ouvia-se música japonesa e esboçava-se cantar em karaokês. Com o passar do tempo – início

O tempo mostrou-nos também que estas mesmas bandas passariam de covers a fazer suas próprias músicas. E as apresentações ocorrem em locais com seu nicho: os eventos de animes. Ali, tanto há espaço para estas bandas, quando público para ouvi-las. E é justamente este nicho que Ra-

fael Akira nos apresenta por meio de um livro fotográfico. Todas as peculiaridades destes grupos em seu ambiente de atuação. Para isto, Rafael fez um trabalho de campo, tanto a tiras as fotografias como em entrevistas o público. Acreditamos que é importante haver um trabalho acadêmico sobre bandas nacionais, suas influências e a cultura pop japonesa no Brasil. Assim, podemos compreender quem são, onde estão, como atuam e seus os motivos para apreciarem a cultura nipônica, deste público tão específico e ainda tão pouco estudado no Brasil, o público otaku. Sandra Monte Jornalista, autora do livro “A Presença do Animê na TV Brasileira”. Atualmente aluna do curso “Mídia, Informação e Cultura” do CELACC da Escola de Comunicações e Artes da USP.


Julia, adepta do estilo Gothic Lolita.



Grupo de Taiko, instrumento tradicional japonês usado como motivação à soldados, no Parque do Carmo.


Introdução


O

que é e quem são otakus? Estes jovens admiram uma cultura que sofre um certo preconceito no Brasil, a japonesa, e que é relacionada a “loucura”. Este trabalho visa clarear os mitos criados sobre esta tribo, enquanto passeia pelo cenário musical que estes jovens freqüentam. Durante os anos 80, o rock ocidental começou a influenciar fortemente o mundo inteiro, e nesta mesma época, a indústria de animação japonesa continuaria a fervilhar. Nesta época, nasceria Saint Seiya, de Masami Kurumada, um mangá que recebeu tanto sucesso que logo foi adaptado para anime (nome que é dado às animações japonesas), onde recebeu a lendária Pegasus Fantasy, música assinada por Nobuo Yamada e sua banda MAKE-UP.

Lâmpada no Restaurante McDonalds, no Bairro da Liberdade.

Mais de 25 anos após o lançamento de Saint Seiya – e de Pegasus Fantasy, Saint Seiya criou um marco no Brasil como um dos animes mais importantes já transmitidos. E o estilo de música de Pegasus Fantasy acabou criando uma grande base de fãs, que por várias vezes, apaixonados pela música como são, decidem interpretá-la por si. Normalmente, as bandas deste estilo se iniciam como uma reunião de amigos, como qualquer outra, porém a busca do sonho de se tornarem bandas influentes neste micro-cenário musical leva estes amigos a se dedicarem de uma forma tão extrema, que faz com que o sonho se aproxime cada vez mais de se tornar realidade. E então, depois de vinte e cinco anos...

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Rodrigo Rossi, intĂŠrprete de Saint Seiya e Dragon Ball Kai, no Anime Teen 2010.



VinĂ­cius Lessa, guitarrista da Banda Ryokan, no Anime Friends 2011.


I As Canções Brasileiras

Burajiru no Uta


N

o Brasil, em 1994, no dia 1º de Setembro, através da extinta Rede Manchete, começa a ser exibido o anime “Os Cavaleiros do Zodíaco”, nome dado a Saint Seiya no Brasil. Este é considerado o estopim para o início da “cultura Otaku” no Brasil.

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Saint Seiya é um mangá para jovens garotos onde a história gira em torno de um grupo de jovens que moram em um orfanato e foram enviados á diferentes lugares do globo para se tornarem cavaleiros. A narrativa é

recheada de referencias á diferentes mitologias, contando lendas de todas as partes do mundo, o que atraiu a curiosidade de muitos e rapidamente transformou a história em quadrinhos em animação. Um ponto muito cultuado e até certo ponto criticado pelo público brasileiro é a questão das animesongs cantadas em português. É uma área de extremos, onde existem coisas extremamente bem feitas, e outras que parecem ter sido feitas ao mais puro desleixo.

Guitarrista Evandro Zeva e baixista Zé Luís, da banda Ryokan, no Anime Friends 2011.

Rafael Azevedo, vocalista da Banda Ryokan, no Anime Friends 2011.


Rodrigo Takei, vocalista da banda Animadness.

O marco inicial das animesongs em português é Pegasus Fantasy, unanimidade entre o público otaku brasileiro, por sua letra muito bem adaptada, por Fernando Jason, e cantada por um dos ícones do cenário heavy metal do Brasil, Eduardo Falaschi, vocalista da banda Angra, que em todos os seus shows, é ovacionado por um coro de milhares de fãs que pedem para que Edu cante a música que virou uma espécie de “hino nacional” otaku. A trilha de Saint Seiya, recheada de músicas, que vão de um extremo Takayoshi Tanimoto, intérprete de Dragon Ball Kai, no Super Friends Spirits 2011.

ao outro, do mais puro heavy metal ao romantismo de uma balada de piano, foram muito bem adaptadas e em sua maioria cantadas por Edu Falaschi, que ganhou uma repercussão muito boa por parte dos fãs, e os trouxe para a Angra, sua banda principal. Em 1994, a Sony Music, estava selecionando novos integrantes para a nova formação do Trem da Alegria, e entre as meninas que participavam de uma seleção pesada, que envolvia cerca de 250 crianças, estava Larissa Tassi, uma menina loira e muito carismática, que encantava a todos com

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Vocalistas Rodrigo Takei e Bruna Higashi da banda Animadness, no Anime Friends 2011.



seu timbre muito suave e ao mesmo tempo potente. A Sony decidiu, então, separar Larissa da seleção do Trem da Alegria, e colocá-la para encabeçar um projeto que até então não significava muito para a gravadora, a Trilha Sonora em português do anime “Os Cavaleiros do Zodíaco”.

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Ao lado do hoje sumido William, Larissa cantou letras inspiradas em cada personagem principal da história, porém letras que eram muito infantis, tendo em vista que era a trilha sonora de uma animação. O sucesso do CD foi tão estrondoso, que surpreendeu muito a gravadora, que investia cada vez mais na divulgação do CD, fazendo Larissa cantar em programas de TV de grande audiência na época, como o Raul Gil e o Faustão, e estabeleceu um recorde do qual ela se orgulha muito, que foi conseguir ganhar um Disco de Platina Duplo, em homenagem ás mais de 250 mil cópias vendidas. Hoje, Larissa é considerada a cantora oficial da trilha no Brasil, ganhando grandiosos shows em sua homenagem e em homenagem á trilha.

Hoje ela trabalha com um segmento musical totalmente distinto. Ao lado de seu namorado, Rafael, forma uma dupla de sertanejo universitário, gênero atualmente em alta. Larissa se sente muito honrada em ser lembrada por fãs como Rafael Akira, que em um show realizado como atração principal do evento Anime Teen, ocorrido em abril de 2010, foi ás lágrimas ao assistir um belíssimo tributo ao anime, feito por ela, Alexandre Toma e Rodrigo Rossi, cantor da nova geração das anime songs brasileiras, acompanhados pela grandiosa banda Tatsu. O Anime Teen, ocorrido em Abril de 2010, reuniu o “velho e o novo” de Cavaleiros do Zodíaco, Larissa Tassi, responsável pela trilha da série clássica, lançada sob o selo da gravadora Sony/BMG, e que bateu recordes de venda na época de seu lançamento, e o mais novo integrante deste universo musical, Rodrigo Rossi, responsável pela trilha da nova animação da série, que conta uma fase antes da fase clássica, chamada “Saint Seiya Lost Canvas”. Rafael Ryuji, vocalista da Banda Hero Heart, no Anime Friends 2011.


Rodrigo sempre foi fã da série, pois cresceu assistindo-a, como qualquer fã comum, porém, começou a estudar música muito cedo, e logo iniciou sua carreira como cantor profissional, cantando em casas de shows do cenário do rock underground carioca, junto com a banda “Thorn”. Certa vez, brincando com a trilha da fase Hades da série, sua gravação foi parar na Internet, e logo começou a correr atrás de uma oportunidade de ingressar neste micro-universo, que tanto crescia e lhe despertava curiosidade. Foi quando o site oficial da série no Brasil, cavzodiaco.com. br, desmentiu uma notícia que dizia que no Japão, a trilha de abertura da série, intitulada “The Realm of Athena”, cantada originalmente em inglês pela banda EUROX, teria sido exibida em português, fato este que não fazia sentido algum, pois sequer havia na época um contato para que a série fosse exibida no Brasil. Ao ver esta notícia, Rodrigo entrou em contato com o estúdio responsável pela dublagem da série, o estúdio Dubrasil, que conseguiu licenciar a música Thatah, vocalista da banda Hero Heart, no Anime Friends 2011.

para ser executada em português, e, em parceria com o site, Rodrigo criou a letra, que para muitos fãs supera muito a original, e desde então ele é convidado para fazer apresentações nos eventos. A banda responsável pelo acompanhamento do show do Anime Teen foi a Tatsu. Um fato curioso foi o tempo hábil que a banda teve para se preparar para o show, pois até uma semana antes, a banda de apoio seria outra, a banda “Trash”, que ficou conhecida durante sua trajetória liderada por Rafael “Frouxo” por tocar músicas denominadas Trash, como Mamonas Assassinas, e saudosistas, como “He-man” do grupo Trem Da Alegria. Com a negativa da banda Trash, a banda que iria substituí-la, a banda Tatsu teve cerca de uma semana para se preparar, coisa que deixou os fãs meio apreensivos, porém de certa forma tranqüilos, pois sabiam que a Tatsu faria seu trabalho de maneira impecável. Dito e feito.

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Alisson Martinho, guitarrista da banda Onigattai, no Anime Friends 2011.


Rodrigo Takei, vocalista da banda Animadness, no Anime Friends 2011.


Akemi, vocalista da banda NouHaw e seguidora do estilo Gothic Lolita.


II As M煤sicas Pr贸prias

Dokuji no Ongaku


Larissa Tassi, intérprete das versões brasileiras de Saint Seiya, no Anime Teen 2010.

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O

cenário já está num ponto onde já não se basta tocar os maiores sucessos dos animes da época para se destacar e sim, mostrar um trabalho de composição autoral, uma forma de destacar o talento dos músicos das bandas, e de destacar a criatividade dos vocalistas, em sua maioria letristas das composições. A banda que tomou a iniciativa de arriscar e compor as primeiras músicas foi a banda Animadness, com o single Labyrinth, de 2005. A música veio carregada de influencia do me-

tal progressivo ocidental, linha que caracteriza o gênero de trabalho da banda, com um arranjo pesado de guitarra e uma bateria muito técnica. Já o lado B do single, “Nocturnal Sorrow”, tem um arranjo muito característico do metal japonês, cheia de teclado e charme mostrando todo o talento dos músicos. Essas duas músicas sintetizam o talento de uma das primeiras bandas e responsável pelo crescimento de um micro-cenário musical. Caminhando quase que simultaneamente com a Animadness, está a Diógenes Lima, tecladista da banda Tatsu, no Anime Storm.


banda precursora do cenário do J-rock no litoral brasileiro, Gaijin Sentai, que também começou a investir em músicas próprias, das quais a primeira foi o tema do tokusatsu de produção independente nacional, “Defender-Unidade Zero”, e em seguida veio o EP, do álbum totalmente autoral, e que rendeu um grande prestígio para a banda, levando-a alcançar a possibilidade de fazer shows até em outros países, como Portugal e Argentina, inclusive rendendo uma merecida homenagem da banda para os fãs portugueses, cantando a abertura de um desenho muito cultuado, Dragon Ball, com a letra do país. O litoral paulista é a morada de grandes nomes do cenário, e ao contrario do que muitos otakus pensam, é uma parte muito intensa e influente perante as outras regiões do país A banda J no Kami foi a primeira banda de J-Music das cidades do litoral paulista,sediada em Santos, marcando o início de um cenário muito promissor, e no ano de 2010, depois de grandes ajustes na formaNando Nespoli, guitarrista da banda Gaijin Sentai, no Tanabata Matsuri 2010.

ção, finalmente conseguiu lançar seu primeiro single, Yume to Yami, numa tradução livre, Sonhos e Trevas, liderada por Strider, o vocalista. Em 2008, Eizo Sakamoto iria se apresentar num evento chamado “Playbands Music Festival”, e pensando nisso a J no Kami começou a trabalhar pesado nos ensaios, ensaiando uma versão mais curta do repertório de Eizo, para fazer uma homenagem a ele, porém em um ensaio rotineiro, a canção “Juppongattana” foi executada em sua versão completa, algo que nunca os integrantes da banda haviam conseguido fazer, isso surpreendeu a todos, e no momento de sua execução no show, até a esposa de Eizo se surpreendeu, tamanha foi a qualidade da execução. A banda que mais tem se destacado no litoral paulista, é com certeza a banda Tatsu, que foi a primeira banda a gravar um CD de maneira profissional. Este álbum conseguiu através da impressionante habilidade e criatividade de Cláudio Passamani, guitarrista, auxiliado por Diógenes Lima, tecladista e produtor,de sintetizar as

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Grupo de Taiko no Bairro da Liberdade.


Eduardo Martinez, guitarrista convidado da Gaijin Sentai no Tanabata Matsuri.


principais vertentes da música japonesa, do metal pesado, passando pelo pop, até chegar ao tradicional, como poucas bandas conseguiriam. Santa Catarina é a sede de outra banda grandiosa da região sul, Ryokan, liderada por Thiago Chevallier. É uma banda que mescla em seu repertório clássicos das animesongs e músicas que nem todo mundo conhece, fazendo com que seu repertório ficasse bastante completo, e através dele seu espaço foi se consolidando, até que em 2010, fosse convidada para o Anime Friends, e em 2011 fosse a banda de apoio de Rodrigo Rossi em sua passagem pelos eventos da região.

Cláudio Passamini, guitarrista da banda Tatsu, no Anime Teen 2010.


A banda J-Squad, de músicos renomados como Eduardo Costa e Verônica Huang, tocou com o já lendário Akira Kushida, sendo por vezes, a banda que ele pedia para que o acompanhasse em sua estadia no Brasil, e lançou em 2009 os singles, Beyond e Scarlet Fades. Em 2007 começou a ser filmado um documentário sobre cultura pop japonesa, no Brasil, intitulado “Daan Daan”, de autoria de Laura Faerman, que aborda a paixão dos jovens brasileiros pela cultura do país asiático.

Josimar, vocalista da banda Urusai, no Anime Fantasy 2011.


Vocalista Rodrigo Takei e baixista Paulo Wirth, da banda Animadness, no Anime Friends 2011.



Cosplayer interpretando Inu Yasha, de anime hom么nimo.


III O Documentรกrio

Daan Daan


E

ste documentário foi um dos 13 vídeos selecionados pelo Governo do Estado em um edital, via Secretaria do Estado da Cultura, em parceria com o SESCTV e a Fundação Padre Anchieta, como parte de um projeto chamado Janela Brasil.

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entre os anos 70 e 80, ao contrário do que muitos pensam, nos Estados Unidos, em eventos de séries como Star Trek e Star Wars, altamente aclamadas por lá.

Exibido em um horário legal por se tratar de um documentário, ás 22h10min na TV Cultura o documentário mostra que nem só de diversão vivem os admiradores da cultura nipônica no Brasil, há quem dê muito duro para estar no patamar de status que está.

O Cosplay consiste, basicamente, em criar uma roupa ou fantasia similar a de um personagem de diferentes tipos de séries, como Tokusatsus, Mangás, Filmes e principalmente de animes, porém, o Cosplay evoluiu, e se tornou agora uma competição que envolve não só a demonstração da técnica e perfeição na confecção da fantasia, mas também altos níveis de interpretação do personagem, onde os competidores são em grande parte atores. Essas competições existem em cada simples evento de anime, sendo certas vezes mais esperados que as próprias bandas. E o evento mais importante é o “World Cosplay Summit”, campeonato mundial realizado anualmente no Japão.

Um dos principais segmentos da cultura japonesa, se não o mais famoso, é o Cosplay. A contração das palavras “Costume” e “Play”, nasceu

O Brasil é uma das forças importantes no Cosplay mundial, pois nosso país já faturou o título duas vezes, com os irmãos Mônica e Maurício

O vídeo de 45 minutos, desvenda o mistério e os preconceitos que envolvem a cultura japonesa no Brasil, mas com um detalhe, a trilha sonora dele, foi toda produzida por bandas nacionais, com suas músicas autorais.

Julia, adepta do estilo Gothic Lolita.


Somenzari, interpretando Alexiel e Rosiel, de Angel Sanctuary, que são peças chaves do documentário exibido pela TV Cultura. O Brasil ganhou o WCS uma terceira por Jéssica “Pandy”, interpretando ao lado de Gabriel Niemitz personagens do anime Burst Angel (originalmente, Bakuretsu Tenshi). O documentário aborda de maneira extremamente clara, e de maneira muito atraente, diversos aspectos da cultura deste universo, ajudando a desmistificá-lo, pois muitos leigos no assunto, acreditavam numa matéria exibida pela revista dominical da TV Globo, o Fantástico, que associava pessoas deste universo à pessoas alienadas, tentando ligar o otaku brasileiro ao conceito de otaku japonês, já ultrapassado e obsoleto no Brasil.

foram veiculadas matérias que denegriam a imagem destas pessoas, que nada mais são do que fãs apaixonados por seus artistas e por este universo tão peculiar. No Fantástico, foi veiculada uma matéria que dizia que jovens otakus fugiam de casa única e exclusivamente por serem membros do universo otaku. Thales Alves de Andrade, estudante de 17 anos e membro deste universo, acha que o caso foi apenas um erro isolado por parte da emissora, pois na mesma época foram exibidas matérias em outros telejornais com uma conotação mais positiva.

Com uma fotografia muito dinâmica e uma linguagem muito próxima da cinematográfica, busca-se de uma maneira que nunca antes havia se tentado, desmistificar este universo tão inexplorado, e por vezes até injustiçado, pois em programas de TV, já Julia e Saii, como Gothic Lolitas.

Criança como Sakura Haruno, de Naruto.

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Cosplayer de Tohru Honda, do anime Fruits Basket


Cosplayer de Agnimon, de Digimon Frontier.


Dupla de cosplayers como Romeo e Julieta.


IV A Canção da Força

Tsuyosa No Uta


M

udando da água pro vinho, o Japão também é um cenário que absorve muitas influências. E destas influências nascia um estilo novo, diferente de tudo o que havia no cenário mundial. Um estilo embora semelhante a outros, ímpar em sua essência.

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O Heavy Metal japonês começava a dar seus primeiros passos na década de 80, e influenciado pelo Glam Rock que tomava conta do mundo, nascia o Visual Kei, uma espécie de Glam Rock japonês. Mas como tudo na terra do sol nascente ganha proporções absurdas e exageradas, com o rock não poderia ser diferente: o visual das bandas ficou carregado de maquiagem e seus riffs ganharam um peso muito próprio e característico. Uma banda muito emblemática no Japão é a Animetal, criada pelo ex-integrante do JAM Project, Eizo Sakamoto, que visava dar mais peso às músicas, e tocar num ritmo muito próximo do ocidental. Para incrementar a proposta, decidiram tocar apenas

versões das músicas em tamanho TV, isto é, um trecho de no máximo um minuto e meio, e de maneira seqüencial, sem intervalos, ou bate papo com o público, os chamados MC (mestre de cerimônias), dando uma dinâmica incomparável ao show, transformando-os, literalmente em Maratonas, com mais de 40 músicas por show. Este formato dá nome aos álbuns da banda, intitulados Marathons, e numerados de um a sete, porém um álbum de despedida da banda, antes de seu fim foi lançado apenas como presente para o fã-clube oficial, em comemoração também ao aniversário de dez anos da banda, o CD Decade Of Bravehearts, que continha algumas das animesongs de maior sucesso, em versão completa (full). Existem diversas bandas que fazem parte do cenário brasileiro, e que merecem destaque, inclusive em partes do Brasil que culturalmente não tem tradição neste tipo de música, como Natal, capital do Rio Grande do Norte, lar da banda Pandora No Hako Nordan Manz, vocalista da banda Gaijin Sentai, no Tanabata Matsuri.


(Caixa de Pandora). A banda tem uma característica única, de tocar canções já consagradas, mas com um peso característico do metal melódico tradicional. A origem da banda já a torna peculiar: oriunda de Natal, capital do Rio Grande do Norte, local do país com quase nenhuma tradição neste tipo de música; fato este que já a torna um marco no cenário, mostrando que a J-Music não envolveu apenas centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, e sim se espalhou pelo país inteiro. A Pandora é a banda mais antiga neste segmento musical do país, tendo sido criada em maio de 1999, e se lançado à estrada desde então, é a primeira banda deste estilo, em todo o nordeste, influenciando diversas bandas que vieram depois, o que é motivo de orgulho para a banda. Na época em que a Pandora foi criada, o público otaku do nordeste estava carente: não haviam bandas que tocassem musicas japonesas no nordeste, e a Pandora veio justamente para revolucionar, e dar ao público Nando Nespoli, guitarrista da Gaijin Sentai, no Tanabata Matsuri.

o que eles estavam querendo, uma banda de j-music. O Metal sempre foi um estilo presente na vida da Pandora, pois seus integrantes tocavam em bandas covers da banda Angra, um forte nome mundial, antes de ingressarem na Pandora. A j-music executada no nordeste sempre foi muito pautada pelo som pesado, a grande maioria das bandas oriundas do nordeste sempre se rotulavam como bandas de j-metal, inspiradas em bandas como Sex MachineGuns, X-Japan, Make-UP, entre outras. Mas não é só o nordeste que vive sob os acordes de uma grande banda de metal, o sudeste também está muito bem servido. Em Caraguatatuba nasceu a Gaijin Sentai, uma referencia no estilo, não só no sudeste, mas como em todo o Brasil. Composta por músicos extremamente técnicos, a Gaijin é uma das pioneiras do cenário j-metal no Brasil, e logo se tornou uma banda que pode ser considerada Major, pois alcançou feitos grandiosos para uma banda deste estilo,

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Anza, vocalista da banda Head Phones President, no Anime Teen 2010.


Paulo Wirth baixista da banda Animadness.


como, por exemplo, tocar na Europa, mais especificamente em Portugal, inclusive gravando uma homenagem para os fãs portugueses, uma versão heavy metal da aberturada da fase GT do desenho Dragon Ball, em seu idioma. Foi a primeira banda de animesongs brasileira a ir tocar na Argentina, sendo banda de apoio de um dos mais emblemáticos nomes do cenário heavy metal do Japão, Eizo Sakamoto, chegando até a contar com uma participação especial dele, em um EP intitulado Jaguatimen VS Sunrider, uma música que conta em japonês, a história de um herói brasileiro que é embalado pelo tradicional ritmo do Maracatu Pernambucano e um herói japonês, através de sons característicos de cada país, como o Maracatu e o Taiko, sem deixar de lado a essência de ambos, o heavy metal, com riffs muito dinâmicos e técnicos, e ritmo acelerado. A Gaijin é uma banda que se apresenta em muitos eventos realizados pela comunidade japonesa, do bairro Nobuo Yamada, intérprete da abertura de Saint Seiya, Pegasus Fantasy.

da Liberdade, um deles, é o Tanabata Matsuri (Festival das Estrelas), um festival para homenagear uma lenda japonesa que diz que um casal de príncipes, foi separado e só pode se reencontrar, numa determinada passagem do sistema solar, que ocorre sempre no mês de julho. Em virtude dessas apresentações, onde quem assiste ao show, não é somente o público das animesongs, mas sim, freqüentadores e moradores do bairro, que é a morada da maior colônia japonesa fora do Japão, a Gaijin começou a pensar em tocar músicas tradicionais, que fazem parte da vasta gama de influência dos integrantes, em especial, do vocalista, Nordan Manz. O estilo Enka, executado pela Gaijin, é um estilo muito peculiar, de características únicas, trazidas por um instrumento característico do estilo, a Fue, flauta de bambu. Tocar esse estilo trouxe as pessoas mais saudosas para mais perto da banda, dando a esta uma característica ímpar dentro do cenário.


Arranjos com flautas também são uma característica que marcam e tornam único o som da Gaijin Sentai, em seu primeiro trabalho próprio, intitulado Defender-Unidade Zero, criado para ser a abertura de um tokusatsu nacional homônimo, existe um trabalho de flauta muito marcante executado por Felipe Manz. A Gaijin foi a primeira banda no cenário a fazer um show só com músicas próprias, em um cenário onde os shows são baseados em covers de músicas famosas, o que garantiu um grande reconhecimento por parte dos fãs. Outro ponto interessante sobre a Gaijin foi em 2007, quando houve uma grande perda para a música japonesa, morria aos 60 anos, Ai Takano, cantor de renomada história das séries adaptadas, responsável pela trilha sonora de um dos mais cultuados seriados no Brasil, Jaspion. Em sua homenagem, a banda, já consolidada, preparou para o Anime Dreams 07, outro evento de grande porte da Yamato, um repertório somente com músicas da série, das

quais a mais cultuada é o tema do robô do personagem principal, o “Gigante Guerreiro Daileon”, que ganhou uma característica ainda mais atraente ao ser executada pela banda, com pesados arranjos do estilo heavy metal tradicional. A J-Music é um estilo de som que ganha cada vez mais fãs em todo o país, e no sul não poderia ser diferente. Em Porto Alegre, existem muitos fãs carentes para ouvir este tipo de som, e para suprir esta carência, um jovem músico chamdo Matheus Lynar, cria junto com alunos e amigos dele, a banda “The Kira Justice”, uma banda que investe em arranjos muito pesados e guitarras virtuosas e linha melódica muito agressiva, com um teclado muito incisivo, e um contra baixo que não só marca o tempo das musicas, mas dá uma linha melódica muito própria da banda, de maneira muito criativa. Um fato curioso sobre a banda é justamente o fato de terem duas musicistas na nela, no baixo e no vocal. A The Kira Justice está conquistanNobuo Yamada, no Super Friends Spirits 2011.


Takayoshi Tanimoto, intĂŠrprete em Dragon Ball Kai se apresentando no Super Friends Spirits 2011.


Nobuo Yamada se apresentando no Super Friends Spirits 2011.


do fãs em todo o Brasil, prova disso é sua participação nas Redes Sociais. Sua comunidade no Orkut conta com mais de quatro mil membros, a primeira em todo o cenário a alcançar tal margem de fãs, e, atualmente, a maior. Outro feito da The Kira Justice foi se tornar o assunto mais comentado do Twitter do Brasil na madrugada de 28 de dezembro de 2010, e manter-se lá por aproximadamente sete horas.

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Em 2005 surge na cidade de São Paulo uma banda com características semelhantes às da Gaijin Sentai, chamada Animadness, mais voltada a um segmento de heavy metal mais melódico, enquanto a Gaijin se volta à agressividade dos arranjos. A Animadness surgiu em 2005, e logo de cara lançou seu primeiro single, intitulado Labyrinth, com uma letra em japonês, que fala sobre o labirinto que é a vida dos jovens. O single foi muito baixado na internet, o que causou um crescimento até então espantoso para a banda. Tanto Labyrinth, quanto o lado B do mesmo, Noc-

turnal Sorrow, fizeram muito sucesso, reunindo uma carga melódica muito peculiar, e recheada de influências muito presentes na banda, como Iron Maiden e Ozzy Osbourne. A banda passou por diversas mudanças na formação, tendo um dos maiores tecladistas que já passou pelo cenário, Felipe Kamakura, com influências da banda Sonata Arctica, que vão desde o posicionamento de seu instrumento, que é totalmente deitado, inclinado em relação ao chão, até a virtuosidade nas composições, arranjos de teclados extremamente técnicos e precisos, que são sua marca registrada, que por motivos profissionais deixou a banda e após um longo período, foi substituído por Felipe Muler, que em suas primeiras aparições ao vivo, já demonstrou que é do mesmo nível técnico de seu antecessor, com muita virtuosidade ao tocar Os vocais da banda eram feitos por Diogo Miyahara, um grande vocalista, com um timbre grave, conferia ás músicas uma levada muito inte-

ressante, mas que em 2006 teve de sair para ir para o Japão trabalhar, e em seu lugar, um músico de peculiar talento e carisma entrou na banda, Rodrigo Takei, que condensa todas as características de um músico completo e trouxe para a banda arranjos de bongô, o que davam para a banda um novo leque de possibilidades de arranjos a serem explorados nas canções próprias e nos covers, além de tocar baixo e guitarra. Em especial a guitarra, que trazia um peso a mais para a banda que ao executarem músicas inseridas no jogo Guitar Hero, se aproximavam mais dos arranjos originais, como músicas do Iron Maiden, que são executadas com três guitarras. O vocal feminino, característica quase que obrigatória para bandas deste estilo, era feito por uma musicista muito carismática, Terumi Kurata, que cantava de uma maneira muito parecida com as de vocalistas de bandas propriamente japonesas, como KuroNeko, a vocalista do grupo Onmyouza, porém ela deixou a banda após alguns problemas pessoais


e em seu lugar ingressa a banda a musicista Bruna Higashi, uma jovem animekeira, e que tem um talento extremamente raro, e vencedora do animeke show 2009, o que lhe rendeu uma viagem ao Japão. O mainstream do cenário metal japonês é muito denso e difícil de ser igualado a qualquer outro no mundo, é um estilo único, onde as bandas Gaijin Sentai, Animadness e Kira Justice buscaram sua influência em nomes como Onmyouza, X-Japan, Galneryus, entre outras. Em particular, a banda X-Japan tem uma história curiosa, pois uma das figuras mais emblemáticas do cenário, Hide, o guitarrista da banda foi encontrado morto em sua casa, com o pescoço enrolado em uma toalha, sob indícios de suicídio, apesar de todas as evidências apontarem para acidente, pois Hide estava bêbado no dia em que foi encontrado, e ele praticava uma técnica de massagem um tanto quanto perigosa, e que necessitava de alguém que a aplicasse. Numa tentativa de massagear a si Akira Kushida, intérprete de diversas músicas de Tokusatsu, no Super Friends Spirits 2011.

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Nobuo Yamada, no SFS 2011.


próprio, Hide morre, e até hoje este é um caso que intriga a policia japonesa, pois ela não consegue explicar a morte do guitarrista, que estava no auge de sua carreira, com riffs marcantes, extremamente criativos e que aparentemente não tinha nenhum motivo que motivasse o suicídio. Hide se tornou uma grandiosa lenda no cenário japonês, e até hoje é lembrado pela própria banda X-Japan em shows, pois sua imagem é mostrada em telões gigantescos, através de hologramas, e seus solos são tocados através de playbacks durante a música, dando a entender que embora seu corpo físico não esteja mais vivo, sua música e seu espírito ainda estão bem presentes no coração e na mente de todos os fãs e membros da banda. Os guitarristas japoneses são tidos pela crítica mundial como guitarristas com um nível técnico absurdo, e extremamente criativos, com solos emblemáticos e marcantes. O rock no Japão tem influência dos mais diversos estilos, incluindo a música clássica,

Takayoshi Tanimoto, no SFS 2011.

escola de onde muitos músicos do cenário atual, são oriundos, dentre os quais Sugizo,da banda Luna Sea, atual guitarrista do X-Japan, que entrou na banda para “tapar o buraco” deixado por Hide, na volta da banda à ativa. A cozinha das bandas japonesas, isto é, o contra baixo e a bateria, compõe um dos setores mais dinâmicos das bandas, dando a cada uma delas um som peculiar e característico, tornando-as únicas e incomparáveis, além de dar suporte á linha melódica executadas por guitarras muito tra-

balhadas e peculiares. O teclado, na estética japonesa de se fazer Rock ‘n’ Roll, é um instrumento fundamental, pois é ele que traz o charme da música. Os efeitos que o teclado transmite, transformam a melodia em uma cadeia de sons muto particular e cativante, e sem ele, o repertório das bandas fica muito restrito, pois 90% das músicas têm vários efeitos e muitas vezes mais de um teclado. A técnica apurada de seus músicos serve como espelho para os músicos do Brasil, que almejam se tornam músicos tão habilidosos quanto.


Di贸genes Lima, tecladista da banda Onigattai, no Anime Friends 2011.


Fah, vocalista da banda Hero Heart, junto a cosplayer de Change Dragon de Dengeki Sentai Changeman, no Anime Friends 2011.


Rafael Ryuji, campe達o do Animeke Show 2011.


V Canção da Coragem

Yuuki no Uta


U

ma marca registrada desde os primórdios das animações é um vídeo com uma música cantada que falasse sobre o anime. Esse é um “costume” que vem desde antes do início da década de 70, com Tetsuwan Atom (Astro Boy), série que é considerada a precursora das animações, criada por Osamu Tezuka, que é o desenhista reconhecido como o “pai dos animes”. Este tipo de música não estava limitado somente a animes: Tokusatsus também eram marcados por tais canções. E assim grandes ícones respeitadíssimos desse gênero, chamado “animesong”, decolaram e ganharam respeito por todo Japão, respeito este que mais tarde se estenderia pelo mundo inteiro. Alguns exemplos desses artistas são Ichiro Mizuki, conhecido como Rei das Animesongs, por ter cantado a abertura de séries que posteriormente alcançariam um profundo sucesso, como Mazinger Z e Jikuu Senshi Spielvan, e também por ter entrado no Guiness Book (Livro dos

YOFFY, vocalista da dupla Psychic Lover.

Recordes) por ter feito um show com mais de 24 horas, de maneira quase ininterrupta. Outro exemplo de artista influente é Isao Sasaki, ator e cantor, responsável pela abertura da série Uchuu Senkan Yamato (no Brasil, Patrulha Estelar Yamato) e Himitsu Sentai Goranger, primeira série da grandiosa franquia anual Super Sentai, que hoje já passa das 30 séries e é adaptada no ocidente para Power Rangers, pela empresa Saban/Disney, e que anualmente adapta a série do ano anterior para o universo ocidental. Mais um nome importante é o da outra intérprete de Goranger, Mitsuko Horie, esposa de Ichiro Mizuki (ou Aniki, um jogo de palavras que significa “grande irmão” e uma contração para Animesong King, como é chamado pelos fãs), é, por ser esposa do “rei”, considerada a Rainha das Animesongs. O exemplo mais conhecido para os brasileiros é Hironobu Kageyama, autor de clássicos como Dengeki Sentai Changeman (no Brasil, Esquadrão Relâmpago Changeman), abertura da série de mesmo nome e Cha-la Head


Cha-la, abertura de um dos animes mais queridos no Brasil, Dragon Ball Z. Um fato notório é sua participação na trilha deste anime: São mais de 60 canções com sua participação. Estes são alguns dos motivos que fazem Kageyama ser reconhecido como o Príncipe das Animesongs, “fechando” a chamada “Tríade Real” com Mizuki e Horie. Até meados dos anos 90, as animesongs “dominavam” o mercado de “músicas que vieram de séries”. Porém este espaço acabou sendo “invadido” por produtores que buscavam apenas alavancar a carreira de artistas de outros gêneros musicais no Japão, deixando de lado o espírito que as músicas tinham antes, pensando apenas no lado comercial das músicas. Como forma de protesto contra essa “invasão”, Hironobu Kageyama e Ichiro Mizuki, junto com o influente ícone do cenário Heavy Metal japonês, Eizo Sakamoto e as recentes estrelas Rica Matsumoto, famosa dubladora e intérprete da abertura de Pokémon (Mezase! Pokémon Master!) e Masa-

aki Endoh, antigo backingvocal e amigo de Kageyama, responsável pela abertura do anime Cybuster (Senshi yo, Tachiagare!) formam a primeira formação do JAM Project, que buscava reviver o espírito que as músicas tinham antes. Esse espírito é visto nas primeiras músicas do grupo, ainda muito cultuadas: Kaze ni Nare! Soultaker, e Hagane no Messiah. Nascido como uma “unity” (junção de artistas) simples, sem pretensões muito altas, o JAM Project conseguiu reunir o que por muitos fãs é considerado uma espécie de Dream-Team da música japonesa. Os primeiros DVDs da banda mostram como as apresentações eram um tanto modestas e singelas, contrastando com as grandes produções atuais. Mas o projeto cresceu de tal modo, que por não poderem mais manter o trabalho tanto na banda quanto na Carreira Solo, Mizuki e Sakamoto tiveram que deixar o grupo em 2002 e 2003, respectivamente para se dedicarem às elas.

IMAJO, guitarrista da dupla Psychic Lover.


YOFFY cantando no SFS 2011.


A dupla Psychic Lover, intĂŠrprete em diferentes Tokusatsus e Trading Card Games, no SFS 2011.


época ele assinava sob o pseudônimo “Fire Bomber”. O Single de estréia de Okui e Fukuyama na banda, SKILL, é considerado o mais importante de toda história do JAM até hoje, sendo um dos principais símbolos da trajetória do grupo e um dos momentos mais esperados do show, a canção é interpretada desde o primeiro DVD, Return to the Chaos, em 2003.

Rafael Azevedo, vocalista da banda Ryokan, no Anime Friends 2011.

Após a saída de Ichiro Mizuki, porém antes da de Eizo Sakamoto, a banda recebeu o acréscimo de Hiroshi Kitadani, vocalista da banda Lapis Lazulli, artista em alta por ter gravado a importante abertura de One Piece, que é sucesso absoluto no mundo inteiro. Após a saída de Eizo, a banda acolheu a promissora Masami Okui e o potente timbre de Yoshiki Fukuyama, que se assemelha ao de Eizo, e que a partir daquele momento faria

as partes que anteriormente eram executadas por ele. A primeira é responsável pela segunda abertura de Yu-Gi-Oh! Duel Monsters (no Brasil, conhecido apenas como Yu-Gi-Oh!), Shuffle, e pela abertura de Kakumei Shoujo Utena (No ocidente, Revolutionary Girl Utena, ou simplesmente Utena). Fukuyama, dublador assim como Rica, é responsável pela abertura de Macross Seven, Planet Dance e o também pelo tema do filme, My Soul for You, além de ser a voz do personagem principal, Basara Nekki. Na

Em meados de 2004, na segunda edição do Anime Friends, Kageyama, Masaaki Endoh e Masami Okui (estes dois já integrantes do JAM Project) foram convidados a se apresentarem em palcos brasileiros pela primeira vez, porém, uma doença impediu Okui ensaiar e cantar no evento. O curioso, é que o jornalista e cantor Ricardo Cruz substituiu Okui nos ensaios, e Kageyama gostou tanto da voz de Ricardo que acabou pedindo uma fita demo para ele. Sem que Ricardo soubesse, Kageyama usou sua fita para inscrevê-lo num concurso que definiria o novo integrante do


JAM Project. E Ricardo ganhou, participando pela primeira vez com a banda no single GONG, lançado no início de 2005, que se tornou um dos maiores sucessos da banda. GONG, junto com SKILL, é uma das músicas mais famosas do grupo, e é uma das poucas canções em que o público japonês, que é, ao contrário do brasileiro, normalmente comportado e que pouco se manifesta, acompanhando a letra junto com a banda.

Rica Matsumoto, cada vez mais ocupada pela dublagem de Ash Ketchum (no Japão, Satoshi), em Pokémon, assim como a entrada de uma nova banda de apoio, totalmente reformulada. Em 2010, a banda comemorou dez anos. E para isso, foi gravado o CD Maximizer, que continha apenas músicas novas originais; à exceção da reedição da música KI.ZU.NA, lado B do Single de Soultaker e renomea-

da para KI.ZU.NA ~10th anniversary edition~. Apesar da grande festa do sobre esse novo CD, os fãs se decepcionaram por três motivos: O disco não continha nenhuma faixa com a participação dos antigos membros; a turnê, que recebeu o nome de MAXIMIZER ~ Decade of Evolution~ não saiu do Japão; e, por último, Rica não pôde participar do último show da turnê, Reunion, que teve as participações de Eizo Sakamoto e Ichiro Mizuki.

2008 foi um dos anos mais importantes para o JAM. A banda lançou o single No Border, que deu nome a turnê mundial, passando inclusive no Brasil, num show que possuiu o segundo maior público da turnê, perdendo apenas para o próprio Japão. A música é um grito de protesto contra o período de guerras da época, e foi levada pelo mundo inteiro pelos shows e por uma adaptação para o inglês disponível para download pago, junto com Hero, lado B do Single. O DVD foi importantíssimo, pois marcou a emocionante despedida de Vinícius Lessa, guitarrista da banda Ryokan, no Anime Friends 2011.


Como um último presente para os fãs, a gravadora preparou uma grande Box contendo todos os sete álbuns “Greatest Hits” gravados até então, quatro DVDs contendo todos os vídeos promocionais feitos pela banda e vídeos de suas apresentações, um livro de 200 páginas contando toda a história do grupo e um CD extra que continha as músicas que não tinham sido lançadas em mídia física, sendo elas as versões em inglês de No Border e Hero, lançadas antes como especiais de natal na rede iTunes, Only One em chinês e a nova Hero em português, anunciada em meados de 2009 porém lançada apenas nesta ocasião. Esta versão teve a letra escrita por Ricardo, que interpretou as partes que correspondiam às de Rica, e a tornou uma grandíssima e emocionante homenagem aos seriados de Tokusatsu. Um dos lemas do JAM Project, assim como um dos sonhos de Ka-

Nobuo Yamada, no Super Friends Spirits 2011.


geyama é um mundo sem fronteiras. Este é um sonho que parece estar se aproximando. No início de 2011, a cantora Utada Hikaru prestou solidariedade às vítimas de uma trágica enchente que atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro, deixando centenas de mortos e desabrigados. E o próprio JAM parece avançar nesse ideal: as fãs Sarah Rangel, criadora do grupo JAM-Freaks e sua amiga Bruna tiveram a oportunidade de dar uma breve entrevista para um documentário acerca da história da banda, que foi levado ao ar no fim de 2010. Esta mesma Bruna já havia quebrado barreiras antes, por ter encontrado IMAJO e YOFFY, da dupla Psychic Lover, caminhando normalmente pelas ruas do Bairro da Liberdade, em São Paulo, onde fariam uma apresentação, com quem teve a chance de se fotografar.

Cantora popular Utada Hikaru presta solidariedade à vítimas de enchente no Rio de Janeiro no início de 2011.


Ricardo Lima, guitarrista da banda Hero Heart, no Anime Friends 2011.


Rafael Azevedo, vocalista da banda Ryokan, no Anime Friends 2011.


Mynna Obara, vocalista da banda Acid Shot, no Anime Friends 2011.


VI Cantores

Amadores


C

ultuado de uma forma grandiosa no Japão, o karaokê também é uma forma de aproximar a música dos animes dos seus fãs, e no Brasil não poderia ser diferente. Aqui, porém, ganhou outro nome, o animekê.

O animekê tem o mesmo conceito que o karaokê comum. Porém, no animekê, só se cantam músicas relacionadas ao universo otaku, como aberturas e encerramentos de desenhos, além de músicas de vídeo games. 84

Os animekeiros, como gostam de ser chamados, são um grupo muito unido, amigos dentro e fora dos palcos, combinando passeios e até ajudando entidades sociais, como os Correios e a campanha de fim de ano relacionada às cartas do Papai Noel, presenteando de forma anônima crianças carentes, algo que os trás muito orgulho e que alegra também a empresa que organiza os principais eventos de anime no Brasil, como o próprio Anime Friends: a Yamato Corp.

Formado por um grupo crescente de jovens e pessoas não tão jovens, na faixa dos 30 anos de idade, o animekê é a menina dos olhos da empresa que organiza o maior evento de animes na América latina, o Anime Friends. Cantores talentosos formam o grupo dos participantes do Anime Friends, que é dividido em três categorias: Iniciante, A e Star-Special, onde para avançar de uma categoria para outra, é preciso ser premiado com o primeiro lugar. Bruna Higashi, vocalista da banda Animadness, no Anime Friends 2011.

O animekê é um ramo que ganha cada vez mais popularidade. Através de campeonatos realizados pelo Brasil pode se conquistar uma viagem para o Japão, ou para a Argentina. Por isso, pelo país inteiro, cantores talentosos e fãs de animes batalham pelo direito de estar no mais grandioso palco dos eventos, o do Anime Friends, e fazer sua voz ecoar aos quatro ventos, para milhares de pessoas, numa apresentação que chega a ser minuciosamente ensaiada e tra-


esta música no mercado. Dois anos após a composição da letra, a mãe de Joe adoeceu e veio a falecer, mas isso não foi um obstáculo para Joe, que após 10 anos, conseguiu lançar a música, intitulada Lembranças, e assim cumprir a promessa que havia feito para sua mãe, que é sempre homenageada em seus shows. Bruna Higashi, vocalista da banda Animadness, no Anime Friends 2011.

balhada, com coreografias, e efeitos gráficos. O Anime Friends, como já citado, maior evento da América Latina, foi criado pela Yamato Corp. com a proposta de se tornar um ponto para que todos os fãs de animes, e mais tarde, cultura oriental no geral, pudessem se encontrar. E para isso apostou tudo nos cosplays, ramo ainda em crescimento, e nas músicas, abrindo espaços para animekeiros e importantes cantores japoneses.

Joe Hirata, um decasségui, isto é, um descendente oriental que saiu do Brasil para trabalhar no Japão, trabalhou no arquipélago durante seis anos, mas nunca deixou de buscar a realização de sonho, ser um cantor, sempre incentivado pela família e por seus amigos. Durante este período, enquanto trabalhava na linha de produção, escreveu uma letra para a música tradicional “Saigo no Iiwake”, e prometeu para sua mãe, que um dia lançaria

A maior conquista de Joe foi, sem dúvida, o título do concurso amador de karaoke “NHK Nodojiman”, organizado pela rede de TV estatal NHK, concorrendo com mais de oitenta mil pessoas. Joe se tornou o primeiro estrangeiro a vencer o concurso na história do Japão, cantando a música “Shining On Kimi ga Kanashii”, este mesmo concurso foi vencido em 2010, pelo brasileiro Robertinho Casanova, o primeiro afro-descendente a ser premiado. Em seu retorno ao Brasil em 2003, Joe participou da 48ª Festa de Peão de Barretos, o maior palco sertanejo do Brasil, onde cantou ao lado dos

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maiores nomes do estilo do país, no CD “As melhores de Barretos- Em ritmo de sucesso” e desde então vem fazendo turnês pelo Brasil e pelo Japão cantando o estilo sertanejo. Outro nome que merece destaque é sem dúvida Karen Ito, uma cantora com uma carreira já consolidada, porém de muita garra. Karen é uma nikkei (descendente) nascida no Brasil, mas como ela própria costuma dizer, de coração totalmente japonês, desde cedo sonhava em ser cantora, e lutou por isso. O estilo que Karen adotou, o Enka, é caracterizado no Japão, como um estilo muito patriótico e de cantores com timbres muito graves e potentes, de melodia muito peculiar e intimista. 1986 foi um ano muito especial para Karen, segundo ela, o ano onde atingiu o auge de sua carreira, quando se sagrou campeã nacional de música japonesa e ganhou um concurso em um programa de TV chamado “Imagens do Japão”, sendo premiada Rodrigo Takei, vocalista da banda Animadness, no Anime Friends 2011.

com um carro e o direito de representar o Brasil em um concurso no Japão. A imigração sempre teve lugar especial no coração de Karen, pois quando foram comemorados os 80 anos, ela foi convidada a cantar no estádio do Pacaembú, e em 1990 ela se sagrou cantora profissional no Japão. A inspiração de Karen, a cantora Misora Hibari, é para o Japão, o que Elis Regina é para o Brasil, e influencia não só Karen, mas muitos cantores do animeke, como Thata, uma cantora de técnica muito peculiar, e que dentre sua vasta coleção de títulos no animeke, está a categoria Enka do maior concurso de karaokê da América, o Anime Friends, edição de 2008, cantando uma música de Hibari,”Kawa no nagare no You ni” Josimar Conceição, um afro-descendente, que caiu no animekê simplesmente por amor à música, foi o protagonista de um momento extremamente marcante e único na história do animeke.


Em 2010, Josimar cantou como poucos um encerramento de Saint Seiya, Blue Dream, e emocionou toda a platéia, levando todos aos prantos. Durante a convocação dos cantores que seriam premiados, a torcida por Josimar foi algo que nunca antes havia se visto no animekê, em coro o público pedia incessantemente por sua presença entre os campeões, mas o melhor ainda estava por vir. Vendo a empolgação do público, o apresentador Bruno Kenji, que já sabia que Josimar estaria presente entre os premiados, aguardou até o ultimo instante para anunciar o nome dele, o fazendo por último, deixando toda a platéia e até o próprio Josimar, com uma certa decepção, seguida de euforia extrema. Ao anunciar dos classificados, a tensão foi aumentando cada vez mais, pois o nome de Josimar não saía, e então a platéia começou em coro a cantar seu nome, e quando a decisão estava entre primeiro e segundo lugar, o coro tomou uma forma

nunca antes vista, competidores estavam em prantos, torcendo por seu amigo e um clima misto de tensão e alegria tomava conta do ambiente, quando... O nome de Josimar foi anunciado como o primeiro colocado, e quase que instantaneamente uma multidão de amigos subiu ao palco para abraçá-lo, como recompensa pela belíssima apresentação de sua música, num momento muito especial e que nunca antes havia acontecido no animekê. O animekê do Anime Friends também é um espaço para romantismo. Um dos participantes, durante sua apresentação da música Forever Love da banda X-Japan, aproveitou o espaço instrumental da música e deixou de cantar. Após uma longa declaração, ele pede à mão de sua então namorada, que conhecera naquele mesmo palco meses antes, em casamento.

Mariana Amendola, no Animeke Show 2011.


Thatah, no Animeke Show 2011.


Thays Misato, no Animeke Show 2011.


Jefferson Amorim, tecladista da Gaijin Sentai, no Tanabata Matsuri.


Festival do Bairro da Liberdade

JiyĂş no Kinjo no Matsuri


O

s festivais da liberdade são um importante traço da ligação cultural existente entre o povo brasileiro e japonês. Recentemente, após as tragédias naturais no Japão, o bairro sempre se mobilizou para ajudar as vítimas, mobilizando ainda mais os moradores do bairro, numa forte corrente espiritual em prol das vítimas.

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O calendário do bairro é sem dúvida, um dos mais festivos da cidade, periodicamente acontecem festivais que celebram datas comemorativas e emblemáticas do Japão. A força dos admiradores da cultura pop japonesa e das anisongs, pode ser assim resumida: São um dos maiores traços da corrente que une o povo japonês e o brasileiro. “São culturas diferentes, mas de muitas tradições, de virtudes evidentes. São 100 anos de história,do oriente ao ocidente, dois povos unidos num só coração

Festival

Hanamatsuri

Campeonato de Sumô da Liberdade

Datas

Descrição

Abril

Festival das Flores, em conjunto com a Federação das Seitas Budistas. O desfile do grande elefante branco carregando o pequeno Buda acontece no sábado.

Junho

Tanabata Matsuri

Julho

Toyo Matsuri

Dezembro

Grande campeonato com atletas de todo o país. Realiza-se aqui a seleção dos atletas juvenis que representarão o Brasil no Campeonato Mundial de Sumô. A arena (dohyo) e as arquibancadas são montadas em plena praça da Liberdade. Festival das Estrelas, em conjunto com a Associação Miyagui Kenjinkai. As principais ruas do bairro são enfeitadas com bambu e grandes enfeites de papel simbolizando as estrelas. Os visitantes colocam um pedaço de papel com pedidos. Festival Oriental. Apresentação de várias manifestações culturais do oriente. O bairro recebe o Nobori, coloridas bandeiras verticais.


R

afael Akira Yoshioka, de 23 anos, é estudante de jornalismo e fotógrafo. Fã de cultura e música popular japonesa, é o responsável pelo livro “Yume no Tamashii ~ Espírito dos sonhos”, que mostra o Cenário Fonográfico japonês e sua influência no Brasil. Atualmente trabalha como fotógrafo em eventos de anime.


Cantores amadores se reunindo no Animeke Show 2011.




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