Experimentações Ético-Estéticas em Pesquisa na Educação

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tistas e delimita fronteiras de acesso às suas linguagens. A estética do graffiti também está no museu, por certo, desde Jean Michel Basquiat e com cada vez maior frequência. Também está nas grandes mostras de arte: na 27ª edição da Bienal de São Paulo, em 2008, sua manifestação correlata na forma de pichação ganhou as páginas policiais dos grandes jornais e provocou intenso debate sobre o que vem a ser arte ou a suposta crise nas artes. Em 2009, esteve presente em uma das obras que integrou a Bienal do Mercosul, e em 2010 novamente se faz ver na 29ª edição da Bienal de São Paulo, desta vez não mais pelas vias da transgressão, mas entrando pela porta da frente, juntamente com artistas nacionais e estrangeiros consagrados internacionalmente9. A diferença entre os graffitis apresentados nas fotos 3 e 4 é assinalada por Ramos (1994). Esta autora demarca a distinção entre graffiti (foto 3) e pichação (foto 4) destacando o processo criador que conota o primeiro e a estética que o singulariza. No entanto, em pesquisas já realizadas (cf. Furtado; Zanella, 2009a; 2009b) e nas conversas com grafiteiros que vimos tecendo no desenvolvimento de pesquisa em curso10, as diferenças estéticas entre uma e outra expressão, embora reconhecidas, não são apresentadas por eles como contraposição. As crews criam suas marcas e com estas marcam os territórios urbanos em que circulam, num processo de intenso labor que tem na pichação uma de suas ferramentas. Riscam e arriscam-se incessantemente. Experimentações com o spray em locais de difícil acesso, para muitas dessas crews, predominam e ocupam lugar central em suas inscrições urbanas. Outras optam por figuras mais detalhadas que demandam o trabalho meticuloso com as cores e formas e requerem, por mais ágil que seja o artista, um tempo maior para sua tessitura. Mas uma é condição de possibilidade da outra, pichações e graffitis se reinventam na contraposição dialógica em que se entretecem. Muitos grafiteiros também picham e mesmo os que não o fazem reconhecem nas inscrições de seus pares a manifestação legítima que requer alguma escuta. A presença dessas artes profanas em galerias e museus, por sua

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