Entre imagens e palavras: práticas e pesquisas na EJA

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Entre imagens e palavras: práticas e pesquisas na EJA

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não ler, vai ficar aqui depois da hora. Eu vou mandar chamar a mãe, vou chamar o pai.” É possível notar que, para além de uma brincadeira, a “volta à condição infantil” parece ser necessária a fim de configurar o processo de escolarização para jovens e adultos. Confirmando esta suposição, o texto lido por uma das educandas idosas, na mesa professora, intitulava-se “A Fada”: A Fada Mafalda/ com sua varinha mágica/ solta pela janela/ o seu pó plim-plim/ e por ordem dela/ pedra vira quindim. Sala de aula cheia, em exposição na TV, facilmente leva a considerar que esta seria uma prática-modelo. Porém, este breve exemplo nos leva a pensar novamente com Álvaro Vieira Pinto (2010). Para ele, tais procedimentos têm relação com um modo de conceber o sujeito jovem e adulto na escola. Para este autor, estas práticas traduzem um olhar de que o adulto é “atrasado” e que precisa retomar a infância ou uma postura infantil para poder aprender. Por outro lado, isto também pode significar uma compreensão de que é só na infância que se aprende ou que a etapa “certa” para se adquirir determinados conhecimentos é a infantil. Portanto, para aprender, homens e mulheres, jovens e adultos, precisam “regredir” à infância, em um ambiente pensado para crianças, a fim de que sua aprendizagem tenha sucesso. Ao buscar elementos para analisar esta questão, o referido autor salienta que “esta concepção, além de falsa e ingênua, é inadequada porque: deixa de encarar o adulto como um sabedor” (p.91), ignorando que os homens e as mulheres se constituem pelo seu trabalho e que estas vivências do dia-a-dia geram conhecimentos e isto independe do processo de escolarização. Também, tratando-o como “criança”, os educadores e educadoras, passam a desconsiderar que este sujeito jovem e adulto, que está na escola, é membro atuante e pensante de sua comunidade, por sua participação ativa nos espaços sociais nos quais convive. Outra questão a se considerar é que tais visões sobre a Educação de Jovens e Adultos cerceiam os estudantes da oportunidade de manifestarem seus conhecimentos prévios e suas visões de mundo, já que os espaços destinados ao conhecimento na escola restringem-se às práticas infantilizadas que, sendo assim, não promovem debates mais aprofundados sobre temas cotidianos. Porém, talvez fosse


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