PanoramaCritico #00

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PanoramaCrítico #00 – Dez. 2008

instigantes e pontuais, como constrangedoras falácias, verdadeiros “sambas do crioulo doido”, sem contar os atentados visuais e intelectuais.

Uma vez mais, esse livre trânsito de personagens e funções não traria grandes conseqüências se houvesse, efetivamente, crítica. Todavia, como os atores são reduzidos, há não somente uma sobreposição de atuações, como uma espécie de protecionismo entre os pares. O resultado é que não se diz, não se escreve e não se comenta nada, até para preservar o colega e, também, porque nunca se sabe que novo papel ele poderá assumir no campo! E os interesses pessoais, nesse sentido, podem falar mais alto. Esse aspecto nebuloso por trás da falta de crítica nos jornais e revistas indica que tal dificuldade não decorre, apenas, de uma falta de interesse do publico ou das empresas de comunicação. Pior: ela é endêmica.

Essa mesma linha de pensamento nos leva a refletir sobre o texto crítico produzido para livros ou catálogos de exposições. Aliás, seria lícito chamá-lo de crítico? A dúvida se justifica quando pensamos que, ao ser convidado e pago a escrever, o profissional provavelmente não fará um artigo ou ensaio de caráter realmente crítico, mas sim de apresentação, de contextualização e que debata determinados aspectos da obra do artista, os que ele julgar mais apropriados. Como, nos últimos tempos – inclusive devido aos investimentos em cultura, decorrentes das leis de incentivo fiscal –, tem havido uma expressiva produção editorial voltada a esse segmento, somos convidados a acreditar que a crítica de arte não desvaneceu e que, pelo contrário, está até mais fortalecida!!! O que não faz esse incrível mundo de aparências!!!

As híbridas e polêmicas relações entre curadoria, crítica, artistas, instituições, mercado e, sim, público, têm fomentado profícuos debates, sobretudo no meio acadêmico. Entre tantos, porque muitas coisas mudaram, a começar pelo próprio conceito de arte... Nesse cenário em constante ebulição e

PanoramaCrítico | ISSN 1984-624X | Edição #00 Dezembro 2008


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