Sabrina nº 639
Amor Imperfeito
Leigh Michaels
em geral abraçam carreiras promissoras. Querem ser; advogadas, não secretárias. — Não disse que era contra o casamento. Acho que teria me saído bem. — Notou, desapontada, o tremor em sua voz. Então tentou brincar: — Sempre gostei de cozinhar. Justin calou-se, pensativo. Rompeu o silêncio com um comentário inusitado. — O verdadeiro amor raramente tem um final feliz. E a procura dele causa estragos irreparáveis na vida das pessoas. — Concordo. E uma vez que o amor não dura, qual o sentido dessa busca? Isto é um fato consumado e deve ser aceito como tal. Foi o que fiz. — As coisas podem mudar — retrucou-o, distraído. — O tal rapaz pode... Ela negou com a cabeça. — Não há a menor chance. Acha que vou aceitar um homem que deixou a esposa por minha causa? Já presenciei casos desse tipo, que nunca acabam bem. E tenho mais amor-próprio do que pode imaginar. "Nem tanto", dizia a si mesma, lembrando que Clay nem mesmo lhe contara sobre seu casamento. — Por outro lado — admitiu —, gostaria de ter filhos... Muitos filhos, cuidar deles enquanto fossem pequenos. É preciso sacrificar alguma coisa por uma família... Por exemplo, deixar o emprego por um tempo, pelo bem das crianças. Lembra-se dos Abbot? Ele acenou positivamente. — Não culpo a Sra. Abbot pelo que aconteceu, mas estava tão ocupada como executiva de sucesso... Que o marido se apaixonou pela babá. — Cuidado, Laura, o movimento feminista pode querer queimá-la na fogueira. — Não sei por quê. Lutam pela liberdade de escolha das mulheres, não é? Para mim, ficar em casa e educar os filhos são uma escolha válida. — Quando vai pedir demissão para colocar esse plano em prática? — Não vou pedir demissão — afirmou convicta. — Esse plano é o que gostaria de ter feito... Não o que estou planejando fazer. — E o que planeja então? — Bem, também não pretendo cursar a faculdade de Direito. — Sorriu, — E pode dizer a Jeff que estou muito feliz aqui. — Diga você mesma. Não acho que acreditaria em mim. — Claro que sim! Sendo tão amigos, Jeff sabe que você descobre qualquer coisa... Mesmo que tenha de apelar para meios de tortura. Justin riu. — Sempre fui muito persistente — admitiu. — Más é bom saber que não está pensando em ir embora. — Apanhou a conta que a garçonete deixara sobre a mesa. — E nem precisei prometer-lhe um aumento de salário para convencê-la — zombou ele. — Estou orgulhoso de mim. Lá fora, tomou-lhe as chaves da mão e abriu o carro para ela, observando tudo por dentro com atenção. Laura se irritou, até perceber que ele apenas checava se realmente estava vazio antes de deixá-la entrar. Uma atitude gentil, tendo em vista o lugar onde estavam. — Até segunda — disse ele, saindo em direção ao conversível vermelho. Já dentro do carro, Laura baixou o vidro e gritou: — Ia me esquecendo. Feliz aniversário! Justin sorriu e voltou para junto dela. — Nem me fale nisso. A propósito, já que vai escrever para tia Louise, devolva-lhe aquele maldito cheque e diga-lhe que o melhor presente para o ano que vem seria não me dar nada. Nada de cartão, de dinheiro... E nada de me lembrar que estou ficando mais velho e ainda não atendi as expectativas dela: — Não acho que ela vai concordar com isso. Afinal, trinta e cinco, anos são tão pouco comparados aos... Quantos anos ela tem? Oitenta? — Deve ter cem anos desde que a conheço. 12