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Sobre o Projeto Híbrida

É da fusão deste corpo potente com acoplamentos que expandem suas possibilidades naturais e da não inocência sobre suas implicações políticas de que se trata o Projeto Híbrida. SOBRE O PROJETO HÍBRIDA

A última apresentação da performance La Grand Pelea, criada com Jaime Lobato, foi desenvolvida com sensores biofísicos e passou por um processo de oficina-laboratório, onde investigamos de forma aberta e educacional esses sensores.

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O processo todo acabou sendo muito curto, mas ficou a vontade de continuar tanto o processo laboratorial colaborativo, quanto a pesquisa sobre esses sensores biofísicos, ou de biofeedback, que nos fornecem uma leitura de dados do corpo humano, tal como batimento cardíaco.

A vontade era tanto de explorar esses sensores como possíveis ampliadores de percepção, quando de testar suas possibilidades como ferramentas artísticas.

O segundo passo foi definir a dinâmica de trabalho e o escopo necessário para alcançar os objetivos de pesquisa dentro de cada contexto: o brasileiro e o mexicano.

Com auxílio dos grupos de pesquisa interdisciplinares, MedHackers, Realidades e Synbio Brasil14, e de pessoas que há tempos são responsáveis pela formação de hacklabs no Brasil, como Radamés Ajna e Nuvem Hacklab Rural, em consonância com o tempo e verba disponíveis, elaboramos um cronograma para México e Brasil, em que as atividades pudessem reverberar uma na outra.

Sabíamos que queríamos investigar ampliadores de percepção e que corpo e tecnologia eram conceitoschave, mas, com base em discussões com nossos apoiadores, recortamos o escopo para trabalhar com projetos que fossem ampliadores estruturais e dos sentidos da visão e audição.

Para o projeto, era importante que o conhecimento se desse de forma empírica, através do manuseio e desenvolvimento técnico de dispositivos ampliadores de percepção. Mas que a esse conhecimento

14 Sites dos grupos <http://www.unifesp.br/ligas/ medhacker/>, <http://www2.eca.usp.br/realidades/>, <http:// synbiobrasil.org/>. técnico, elaborado por todos os envolvidos, fosse adicionada uma reflexão teórica. Também era importante que toda a forma de conhecimento, técnica e teórica, fosse compartilhada com licença aberta.

Para auxiliar no compartilhamento de informação, tivemos o apoio do Garoa Hacker Clube15 , atualmente o principal hackerspace do Brasil, que nos cedeu espaço em sua wiki para que pudéssemos compartilhar detalhes de desenvolvimento dos trabalhos desenvolvidos. Luciano Ramalho, um dos fundadores do Garoa, foi um dos principais impulsionadores para a utilização da wiki, nos ajudando também a estruturar o laboratório de forma colaborativa, não apenas cedendo equipamentos, mas impulsionando que cada participante contribuísse com seus próprios equipamentos, trazendo uma lógica de funcionamento distinta do que ocorre em laboratórios institucionais, onde a instituição deve ser a grande e única mantenedora de espaços e estruturas.

15 Wiki do projeto dentro da wiki do Garoa <https://garoa. net.br/wiki/Hibrida>.

Tanto no Brasil quanto no México, definimos que a ação principal do projeto seria o laboratório, mas que seria suportado por uma série de palestras, formando um escopo teórico que complementaria as ações em laboratório de eletrônica experimental. No entanto, cada país teve sua definição curatorial definida de acordo com os aspectos locais.

Resumidamente, o projeto foi formado por uma soma de ações no Brasil, no México e na web. No Brasil, tivemos um laboratório de desenvolvimento de eletrônica experimental por dois meses no inovaLab@Poli onde cinco grupos desenvolveram sete dispositivos-obras; uma série de oito palestras no Paço das Artes; uma oficina de Corpo, Movimento e Acoplamentos, com Alejandro Ahmed no Paço das Artes; três oficinas sobre eletrônica, programação e eletroencefalogramo (EEG) no inovaLab@Poli e uma noite de exposição e performance dos dispositivos desenvolvidos no inovaLab@Poli dentro da exposição Zonas de Compensação, organizada anualmente pelo grupo GIIP16 Grupo Internacional e Interinstitucional de Pesquisa em Convergências entre Arte Ciência e Tecnologia, do Instituto de Artes da UNESP.

No México, Mateus Knelsen e eu, e Jaime Lobato desenvolvemos duas obras no PDI-UNAM17 Laboratório de Posgradro en Diseño Industrial de la Universidad Nacional Autonoma de Mexico; fizemos um estudo coletivo com outras 18 pessoas sobre a utilização de sensores de biofeedback e a visualização de seus dados em formas esculturais impressas em impressoras 3D no PDI; demos três oficinas de eletrônica, computação e visualização de dados no PDI; promovemos cinco palestras no IIMAS-UNAM18 Instituto de Investigaciones en Matemáticas Aplicadas y en Sistemas da UNAM; promovemos uma palestra, de encerramento do projeto, no Laboratório Arte Alameda19, museu de arte contemporânea localizado centro da Cidade

16 Mais sobre o GIIP < http://www.giip.ia.unesp.br/ > 17 Sobre o PDI < http://www.posgrado.unam.mx/pdi/ web/site/home.php > 18 Mais sobre o IIMAS < http://www.iimas.unam.mx/ > 19 Sobre o LAA < http://www.artealameda.bellasartes. gob.mx/ >

do México; e ministramos uma oficina de eletrônica e programação com base na engenharia reversa dos projetos desenvolvidos no Brasil, também no Laboratório Arte Alameda. Buscamos encerrar os processos no México com outra exposição abrangendo as obras desenvolvidas no Brasil e no México, mas não conseguimos o financiamento necessário para a exposição, que aconteceria no Museu de La Luz20, museu de arte e ciências da cidade do México.

É possível ter informações e registros de todos os processos no site do projeto21, na wiki, no Facebook e no YouTube. O site se encarrega das informações gerais como conceito sobre o projeto e sobre cada trabalho; matérias publicadas pela imprensa e conexões com as outras mídias. A wiki mantém em processo o desenvolvimento de todos os projetos, incluindo os códigos e tutoriais para

20 Sobre o Museo de La Luz < http://www. museodelaluz.unam.mx/ > 21 Disponível em <http://www2.eca.usp.br/hibrida/index. php/calendario-2/calendario/palestras-e-oficina/palestrasvideos/>. sua reprodução. A página do facebook mantém as novidades atualizadas, é uma forma de conectar os participantes do Brasil e do México e guarda os registros fotográficos de todos os laboratórios, palestras e encontros. O YouTube mantém o videoregistro de todas as palestras que aconteceram no Brasil e no México.

O escopo final acabou sendo definido por algumas linhas que resumem o projeto: a expansão da percepção humana, tais como visão, audição e tato, e a exploração de técnicas para gerar conexões entre corpo e tecnologia adquirem um nível de experimentação tecnológica e reflexão artística em “Híbrida: prototipagem experimental de ampliadores de percepção”.

Este projeto fomenta a produção e inovação tecnológica com os recursos que temos disponíveis hoje em dia. É um projeto de encontros, conexões entre: criação de protótipos em laboratório de eletrônica experimental; conversas sobre arte, ciências e (bio)tecnologia; e prática de percepção corporal com os dispositivos ampliadores

de percepção construídos no laboratório de prototipagem.

O projeto começou no Brasil (USP Universidade de São Paulo entre 17 de março e 30 de abril de 2014) e encerrou no México (UNAM Universidad Nacional Autónoma de México entre 12 de maio e 28 de junho).

Criar conexões, aumentar a potência das ideias propostas, discutir o papel do corpo em meio às inovações (bio)tecnológicas são pontos fundamentais para o projeto.

A parte teórica do projeto é composta por palestras abertas e as atividades de laboratório e oficinas serão limitadas (por uma questão de espaço) aos participantes que se inscreverem em convocatória pública. Pode-se acompanhar o desenvolvimento dos projetos na wiki e no blog dos projetos.

As atividades teóricas são apoio para o laboratório e um lugar para que estes encontros possam se aprofundar de forma técnica e poética. É um desafio juntar profissionais tão distintos em um mesmo projeto; é ousado, porque nos tira de nossas zonas de conforto, impulsionando-nos para ir além de nossas expectativas.

A experiência do mundo sofre contínuas intervenções da ciência, dos meios de comunicação e informação, e da própria arte, em diversas dimensões. Toda intervenção, independente de seus motivos, tem implícita questões éticas e políticas, já que tem o potencial de modificar a forma como o sujeito se relaciona com seu contexto e com seu próprio corpo. Desde algum tempo, a velocidade destes processos de “tecnificação” supera, em muitas vezes, a capacidade de se refletir sobre sua existência, analisar efeitos colaterais, trazer a luz ideologias e interesses outros muitas vezes embutidos em uma “tecnocracia” movida a euforia do “progresso” e do consumo.

Certas capacidades desveladas pela ciência, como a instrumentalização da genética, conferem a humanidade um poder imenso sobre a natureza, e tem sido profundamente debatidas dentro do campo da arte. Nestes questionamentos faz-se importante