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compartilhado

Consideramos essa não somente uma forma de ampliação de percepção, mas uma ferramenta potente através da utilização de mídia tática e de tecnologias digitais desenvolvidas com baixo custo. DA UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE CÓDIGO ABERTO E CONHECIMENTO COMPARTILHADO

Todo o projeto, desde sua conceitualização até sua realização, teve sua estrutura, espaços e materiais escolhidos especialmente tal que pudesse ser o mais aberto e compartilhável possível.

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Desde o início, palestrantes, parceiros e participantes foram parte do mesmo grupo de e-mail para uma comunicação transparente e para que pudéssemos todos conversar de forma horizontal, podendo compartilhar dúvidas e referências.

O termo open source se refere às praticas de produção e desenvolvimento de forma colaborativa, que mantêm uma documentação detalhada, acessível e sem custo a qualquer um que tenha interesse. Esta prática, mantida por indivíduos, tomou tamanha proporção depois do advento da internet, que percebemos hoje uma mudança considerável de mercado e de linguagem fora e dentro do cenário artístico. Os diversos sistemas

Linux ganham um percentual cada vez mais alto de usuários, bem como a utilização de softwares, como Processing e Arduino, e o crescente número de hacklabs27 no Brasil e no mundo.

Podemos também utilizar a definição do The Trapese Collective (2007), que diz que a Cultura Faça Você Mesmo, ou DIY Do It Yourself, se refere a “um termo amplo referindo-se a uma gama de ativismo político com o comprometimento com uma economia de ajuda mútua, cooperação, não-mercantilização da arte, apropriação das tecnologias digitais e de comunicação, e tecnologias alternativas”.

27 Hacklabs são espaços que promovem práticas de laboratório, hackeamento (subversão de sistemas) e experimentos eletronico-digitais, promovendo o uso criativo de tecnologias. Um dos dados que apontam sua crescente importância no Brasil é o número de debates dentro de listas de discussões de arte contemporânea e dos eventos de arte e tecnologia e cultura digital (como Festival Cultura Digital BR e arte.mov) sobre a importância, montagem e gerenciamento de Hacklabs em todo o Brasil, bem como a criação de espaços similares nos principais pólos universitários nos últimos anos, como o Hacklab em Cachoeira, na Bahia; o Hacklab da Udesc em Santa Catarina, entre outros. O site do projeto, mantido pelos servidores da USP, é a principal forma de comunicação externa do projeto, mantendo registros, conceitos, convocatórias, referências teóricas e de projetos, além de blogs dos projetos. Com o apoio do Garoa Hacker Clube, pudemos também criar uma wiki, para que cada projeto possa ser desenvolvido de forma constante e com qualquer interessado que tenha acesso à internet.

A wiki é uma plataforma que revolucionou a cultura de compartilhamento, porque é totalmente aberta e editável por qualquer pessoa que criar um usuário. Crida em 1993, a partir do trabalho de Ward Cunningham, é um software colaborativo que permite a criação coletiva de documentos hipertextuais.

Diferente de um blog, a wiki garante que os trabalhos sejam um processo de desenvolvimento constante, porque qualquer interessado pode atualizar as informações diante de seus próprios experimentos, sem prazo de validade.

Por este motivo, a contrapartida solicitada pelo projeto a todos os participantes foi manter a wiki atualizada e clara , além de que os projetos pudessem ser reproduzidos. A metodologia de documentação ficou a cargo de cada participante que, dependendo de sua formação, optou por fazer uma espécie de “diário de bordo”, ou inserir apenas questões técnicas.

Além da documentação, foram privilegiados materiais de hardware aberto para serem utilizados nos laboratórios de experimentação eletrônica. Os equipamentos foram cedidos por mim, Jaime, Mateus e pelos participantes, e basicamente eram compostos por microprocessadores como Arduino e BeagleBone, sensores de biofeedback como PulseSensor e a plataforma e-Health, todos com tecnologias abertas. No México, a esses materiais se somaram os materiais de hardware fechados e patenteados que são de propriedade do laboratório, o que acabou sendo muito interessante até para que tivéssemos a oportunidade de utilizá-los e comparar o funcionamento e praticidade de utilização entre um e outro. A experiência de poder trabalhar simultaneamente com softwares e hardwares abertos e proprietários, alguns de valor acessível e outros acessíveis apenas a instituições de pesquisa por seu alto custo, nos fez compreender a importância de trabalhar em parceria e em paralelo com instituições.

Tanto para nós quanto para a instituição, ficou claro que essa parceria pode ser empoderadora, revigorante e potente, uma vez que manter o “empoderamento cidadão” de criação de seus próprios dispositivos de acordo com suas possibilidades financeiras, de conhecimento e tempo é manter ativa a inovação tecnológica no país.

O que quero dizer com “empoderamento cidadão” é um posicionamento político que acredita em uma mudança da realidade através do compartilhamento de conhecimento, e com isso podermos ser responsáveis por ações no cotidiano que supram necessidades que hoje são direcionadas a órgãos governamentais, instituições e empresas, tirando nosso poder de escolha. Essa é uma

consciência que vem desde a década de 90 sendo reforçada pela cultura DIY. Nossas preocupações estão em “fazermos nós mesmos ‘. Trata-se de uma revolução que se faz no dia-a-dia, entre todos nós, ao invés de algum grande evento liderado por uma pequena vanguarda em um tão esperado futuro. Sem esperar por chefes, políticos ou especialistas tomarem a iniciativa, mas criando as raízes - empoderando a nós mesmos e melhorando nossas próprias realidades - não para nos tornarmos empreendedores individuais ou praticantes do livre mercado, mas para trabalharmos em conjunto para tornar as sociedades abertas, sustentáveis e igualitárias.(Minha tradução).28 BRYAN; CHATTERTON; CUTLER: 2007, p.4

28 Original “Our focus concerns ‘doing it ourselves’. It is about a revolution that takes place everyday amongst all of us rather than some huge event led by a small vanguard in a hoped-for future. Not waiting for bosses, politicians or experts to take the initiative but building at the grassroots – empowering ourselves and improving our own realities – not to become individual entrepreneurs or free-marketeers, but to work together to make open, sustainable and equal societies.” O que a experiência com o Híbrida nos mostrou é que essa mudança pode vir em conjunto entre sociedade e instituições. Enquanto o “desenvolvimento de garagem” pode ter limitações para suas criações por falta de verba e acesso a materiais, ou mesmo falta de acesso a pesquisas, quando a criatividade e visão do desenvolvedor independente se une as condições da indústria e instituições, sem se voltarem a uma lógica de mercado, é possível criarmos soluções em conjunto que ampliem o acesso da sociedade, mas que continuem a serem financiadas e exploradas com maior tempo, espaço e verba.

Por outro lado, as necessidades de lucro do mercado e a lentidão referente a burocracia de instituições governamentais e acadêmicas podem levá-las a estagnação, o que pode acarretar em produtos que não representam as necessidades da sociedade e em pesquisas datadas ou ultrapassadas.

Caminhar em paralelo através da liberdade de criação e autonomia social tem a potência não apenas de empoderar a sociedade, mas também de gerar outras formas de economia, educação, inovação e plasticidade.