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Diário de bordo a beira de um balcão

Por Pedro Costa

“Ao meu eterno amigo e irmão Zé Eduardo que nos deixou agora dia 15 de Julho de 2023, aos 73 anos”

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Na ponta do balcão havia um senhor bem vestido, terno de linho branco, gravata cor de palha combinando com o chapéu. Foi uma das primeiras pessoas, com aquela estica que vi entrar no bar do Militão, na Fradique Coutinho. Na TV, todos atentos vendo os boletins a todo instante sobre o Tancredo Neves no hospital sem poder assumir a presidência. Saindo do bar, depois de muito tempo ali em pé no balcão, esse desconhecido senhor segue com passos lentos e parecendo cercar um frango, o distinto cavalheiro esperando se localizar e olhando para os dois lados da rua. Parecia forçar o foco. Fui até ele e sugeri:

- O senhor quer tomar um taxi? O educado senhor responde: - É melhor não. Convém não misturar! Com cara de tacho voltei ao bar. Aquela noite prometia.

Noite fria de inverno, rua já deserta, apenas duas mesinhas ainda no bar e poucos encostados no balcão. De repente entram rápidos dois sujeitos com meia oito dentro daquele cubículo apertado. Como de costume na época, os assaltados eram trancados no banheiro. Piriri, o mais baixinho, num empurra-empurra e com muito esforço subiu na tampa da privada e de lá mesmo gritou para os assaltantes que vasculhavam as prateleiras do caixa, num frenético pedido de desespero soltou:

- Levem as penduras, estão todas debaixo da gaveta!

Este filme já era reprise. Todos pra delegacia junto com o Militão fazer o boletim de ocorrência. Piriri passaria o resto da noite por lá, desta vez reclamando em bom tom que como artista e cidadão, era inaceitável e inconcebível a falta de policiamento decente na Vila e coisa e tal. Há muito, freguês da décima quarta, de lá mesmo nosso bardo roqueiro veria o sol nascer quadrado por desacato. O dia surgia impiedoso e cruel, o tal Sarney já aparecia com a faixa presidencial.

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