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Raul de Souza era o cara

Por Pedro Costa

No último 13 de junho completou um ano da morte do músico brasileiro Raul de Souza, em Paris, considerado um dos maiores trombonistas de jazz do mundo, aos 86 anos. Nasceu no Rio de Janeiro em 1937. Sua primeira gravação em 1957 com o violonista Baden Powell. Nos anos 70 mudou para Boston, depois Los Angeles e excursionou pelos Estados Unidos e Europa. Apresentou-se em grandes festivais de jazz, gravou discos com George Duke, Stanley Clarke, Sarah Vaughan. No Brasil gravou com Pixinguinha, Tom Jobim, João Donato, Altamiro Carrilho, Milton Nascimento, João Bosco e tantos outros. O nome artístico de Raul, registrado no cartório como João José Pereira de Souza, foi uma sugestão de Ary Barroso. Criou o “Souzabone” um modelo de trombone elétrico com quatro varas, desenvolvido a partir do tradicional de três varas. Gostava de contar que depois de muitos shows tocando na banda de Roberto Carlos, pediu ao rei uma tevê a cores, recém-lançada, e ganhou.

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Início dos anos 90 fui morar numa casinha de um quarto na Rua Turi, aqui na Vila Madalena. Raul morou um tempo na Delfina, na casa do Javan. Ficamos amigos.

Gostava de ir às tardes em casa e ficávamos conversando ao lado de um fogão de lenha. Determinada hora pegava seu trombone e aí não parava mais. Dizia que aquela cozinha de casa tinha uma acústica fantástica e dá-lhe cerveja e risadas. Dizia que não tocava nem “Parabéns a Você” sem improvisar. Contava com um orgulho danado, que tinha nascido em Bangu. Queria que eu fizesse um livro sobre ele; “De Bangu a Hollywood”.

Partiu Raul, o cara que rodou o mundo tocando seu trombone com os maiores músicos do planeta, gostava mesmo de tocar nas tardes frias daquele inverno, na cozinha de casa ao lado do fogão de lenha. Quando algum amigo sabia, avisava os demais amigos e a casinha pequena enchia a cozinha de casa. Certo dia, perturbado com a moçada presente pediu: Pedrão vou entrar no banheiro e você me anuncia: ladies and gentlemen, Raul de Souza! Daí ele saia de trás de um lençol feito de cortina de palco, rindo muito sentava na cozinha e aí madrugadas adentro deixávamos muitas casas ao redor de luzes acesas. Saudades meu amigo! Acredito que os anjos por aí já devem ter trocado suas trombetas por trombones.

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