Kant crítica da razão pura

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espécie dada. Quando digo que 13 thalers repre sentam certa quantidade de dinheiro, sirvo-me de uma expressão exata se com isso entendo um marco de prata fina. Esse marco de prata é seguramente uma quantidade contínua na qual não há parte alguma que seja a menor possível, e onde cada parte podia formar uma moeda que por sua vez conteria sempre matéria para outras menores. Mas se entendo por aquela expressão 13 thalers redondos, quer dizer, 13 moedas (qualquer que seja o seu valor), será impróprio que a isso denomine eu uma quantidade de thalers; é mister chamá-lo um agregado, quer dizer, um número de moedas. E como em todo número é necessária uma unidade que sirva de fundamento ao fenômeno, como unidade, é um “quantum”, e como tal sempre um contínuo. Como todos os fenômenos, considerados bem como extensivos ou como intensivos, são quantidades contínuas, a proposição de que toda mudança (passagem do estado de uma coisa para outra) é contínua, poder-se-ia demonstrar aqui facilmente e com evidência matemática se a causalidade de uma mudança em geral não estivesse por completo fora dos limites da Filosofia transcendental e não supusesse princípio s empíricos. Por que possa existir uma causa que mude o estado das coisas, quer dizer, que as determine em um sentido contrário a certo estado dado, sobre isso o entendimento nada nos diz “a priori”, e não só porque não veja a possibilidade (o que nos falta na maior parte dos conhecimentos “a priori”), mas também porque a mutabilidade atinge tão-só a certas determinações dos fenômenos que só a experiência pode demonstrar-nos, enquanto que a causa permanece no imutável. Mas, como aqui só dispomos dos conceitos puros, fundamentais de toda experiência possível, e nos quais nada de empírico deve haver, não podemos, sem quebrar a unidade do sistema, antecipar nada da Física geral, fundados sobre certos princípios da experiência. Não carecemos, não obstante, de provas que demonstrem a grande influência de nosso princípio na antecipação das percepções, e até suprindo-as também, de sorte que evita as falsas consequências que poderiam tirar-se. Se toda realidade na percepção tem um grau, entre esse grau e a negação há uma série infinita de graus sempre menores, e, não obstante, cada sentido deve ter um grau determinado de receptividade para as sensações. Não existe, pois, percepção, e por conseguinte experiência, que prove, quer imediata, quer mediatamente (qualquer caminho que se escolha para chegar a essa conclu são), a ausência absoluta de toda realidade no fenômeno; que da experiência não se pode tirar a prova de um espaço ou de um tempo vazios. Primeiramente, a ausência absoluta de realidade na intuição sensível não pode nem ser percebida; depois, tampouco, pode deduzir-se a de ne nhum fenômeno particular, nem da diferença de seus graus de realidade, e não se pode admitir nunca para explicar esta realidade. Efetivamente, ainda que toda intuição de um espaço e de um tempo determinado seja inteiramente real, quer dizer, que nenhuma parte desse espaço ou tempo esteja vazio, não obstante, como toda realidade possui o seu grau, que pode decrescer segundo uma infinidade de graus inferiores até o nada, sem que a grandeza extensiva do fenômeno cesse de ser a mesma, deve haver uma infinidade de graus diferentes enchendo o espaço e o tempo, e a grandeza intensiva nos diversos fenômenos deve poder ser menor ou maior, ainda que a grandeza extensiva da intuição permaneça a mesma. Daremos um exemplo. Os fisicos, ao notarem uma grande diferença na quantidade de matéria contida em um mesmo volume em corpos de diversas espécies (pelo peso ou pela resistência oposta a outras matérias em movimento), pensaram que esse volume (quantidade extensiva do fenômeno)


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