Legítima Defesa - 01

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sim, em qualquer lugar pra fazer valer nossos direitos, mas o lugar das artes tem sido para nós o campo da experimentação estética desse pesar, sintonizado com a arte contemporânea, da ligação do que se diz ao como se diz, da fúria da palavra à beleza do gesto. Por isso não temos receio de dialogar como artistas livres que somos, com as marcas emblemáticas da cultura contemporânea, em busca de nossas tábuas estéticas que assegurem à arte negra brasileira uma singularidade em seu pensar e fazer, antenados que estamos com o que ocorre no Brasil e no mundo. Dialogamos sempre com profissionais capazes, diversos experientes, experimentados e, sobretudo, generosos.

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Quais os papéis do encenador e do ator no teatro contemporâneo? O que é teatro contemporâneo? Esse teatro absorve as nossas inquietudes de artistas? Como aliar a nossa herança africana às experiências estéticas do teatro negro brasileiro? Existe um teatro e uma dança especificamente negros? Se sim, quais suas especificidades éticas e estéticas? Como enrodilhar a cena ao tambor da ancestralidade com o calor da modernidade? Estas são questões que vamos procurando responder ao mesmo tempo em que deixamos nossas inquietações no ar, por isso mesmo é que podemos afirmar que ainda não sabemos o que diferiria um teatro negro. E pergunto: Teríamos de saber para fazer? Só o saberemos fazendo e pensando, pensando e fazendo, abrindo-nos aos múltiplos

caminhos de pesquisa que colocam nossas opções artísticas ao lado das grandes conquistas da contemporaneidade. Estamos cientes de que não basta dizer, embora dizer seja um fazer de alto valor. Mas ser artista negro e livre exige de nós um comprometimento, uma pesquisa estética contínua. O artista ao entrar em cena tem que ser total, apoderar-se do discurso e da forma estética, ser uma pessoa, um artista, um ator, um bailarino ou uma bailarina absolutamente inteiros. Nós estamos chegando de leve, às vezes arrombando portas, porque para se inserir no protagonismo fechado da cultura brasileira muitas vezes tem que ser no berro. “Os rios não respeitam fronteiras”, disse Monica Lima. “As árvores dão frutos porque têm raízes”, ensinou Mãe Yata de Iemanjá. Trabalhos de grupos como a Cia. dos Comuns, o Bando de Teatro Olodum, Cia. Black Preto, Cia. Étnica de Arte e Dança, Cia. Dois em Cena, Cia. Rubens Barbot, Cabeça Feita, Os Crespos, Capulanas, Cia. Será Que, e tantas outras extraordinárias, é que fazem manter acesa a chama do desejo de transgredir e romper as barreiras que hierarquizam e empobrecem o mundo. Isso podemos ver nos momentos transbordantes de dança, teatro, música, brasilidade, negritude, africanidade, humanidade, que nos empoderam e nos enriquecem.


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