A formação do profissional florestal

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Opiniões

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www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 18 • número 64 • Divisão F • jun-ago 2021

a formação do

profissional florestal


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instruções IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG • First of all, before any action, please touch in the flag of your language. • Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue. • Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma. • Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache. • Para que obtenha o melhor aproveitamento dos recursos que a Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões pode lhe oferecer, solicitamos que assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao chegar no final, o video das instruções será iniciado novamente.

Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões



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Acervo: Suzano

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EDITORIAL DE ABERTURA: 08. Felipe Schroeder Vieira Presidente da Komatsu Forest PRODUTORES DE FLORESTA: 12. Germano Aguiar Vieira, Eldorado 16. Douglas Seibert Lazaretti e Danielle Costa de Paula Macedo, Suzano 18. Heuzer Saraiva Guimarães, WestRock 22. Guilherme Zaghi Borges Batistuzzo, Bracell

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PRODUTORES DE FLORESTA e CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: 24. Sinval Barbosa Teixeira e Samantha Nazaré de Paiva, Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola de Ortigueira ACADEMIA: 28. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez e Silvio Frosini Ferraz, Esalq/USP 30. José Roberto Scolforo, UFLA 34. Eric Bastos Gorgens, UFVJM 38. Sílvio Nolasco de Oliveira Neto, UFV 42. Maristela Machado Araujo, UFSM 46. Eduardo da Silva Lopes, Unicentro 48. Rodrigo Eiji Hakamada e Rute Berger, UFRPE 52. Nelson Yoshihiro Nakajima, UFPR FORNECEDORES DO SISTEMA FLORESTAL: 54. Fernando Campos e Petri Nousiainen, Ponsse Brasil 58. Ricardo Eugênio Cassamassimo, Bayer CENTROS DE PESQUISA E ENTIDADES: 60. Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas mais Mayara Elita Carneiro e Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori, ambos da UFPR 62. Rodrigo Nascimento de Paula e Wilton Ribeiro de Almeida F ilho, SIF 64. Pedro de Almeida Salles, SBEF


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áudios

Sua próxima viagem de carro Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista. Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, em espanhol, em francês e em alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições. É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir. ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO: 01. Felipe Schroeder Vieira, Komatsu Forest 02. Germano Aguiar Vieira, Eldorado 03. Douglas Seibert Lazaretti, Suzano 04. Heuzer Saraiva Guimarães, WestRock 05. Guilherme Zaghi Borges Batistuzzo, Bracell 06. Sinval Barbosa Teixeira e Samantha Nazaré de Paiva, Ortigueira 07. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez e Silvio Frosini Ferraz, Esalq/USP 08. José Roberto Scolforo, UFLA 09. Eric Bastos Gorgens, UFVJM 10. Sílvio Nolasco de Oliveira Neto, UFV 11. Maristela Machado Araujo, UFSM 12. Eduardo da Silva Lopes, Unicentro 13. Rodrigo Eiji Hakamada e Rute Berger, UFRPE 14. Nelson Yoshihiro Nakajima, UFPR 15. Fernando Campos e Petri Nousiainen, Ponsse no Brasil 16. Ricardo Eugênio Cassamassimo, Bayer 17. Washington Luiz Esteves Magalhães, Florestas 18. Rodrigo Nascimento de Paula e Wilton Ribeiro de Almeida F º, SIF 19. Pedro de Almeida Salles, SBEF

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Índice

editorial de abertura

caminhos e desafios da formação do

homo-florestal São inúmeros os setores em que o Brasil e o brasileiro podem buscar exemplos de boas práticas em outras nações. Não obstante, em uma outra época pré-Covid, era absolutamente normal profissionais de diversas áreas, como tecnologia e indústria, buscarem aprimorar suas práticas e processos em outros países. Até mesmo no setor agrícola, onde somos grande destaque mundial, não são tão incomuns assim as caravanas de agricultores e pecuaristas brasileiros em viagens ao exterior na busca por aprimorarem conhecimentos. Aliás, diga-se de passagem, o aprendizado contínuo faz parte da formação de qualquer profissional. E, para nosso setor florestal, não é diferente. Tendo a oportunidade profissional de atuar em outras áreas de aplicação de máquinas, como agrícola e de construção, pude ver, na prática, esse movimento. Porém a verdade é que, para o setor florestal, nossa pátria amada Brasil é benchmark. É a referência. Já ouvi, diversas vezes, colegas de outros ramos da economia me perguntarem: “Para onde vão os profissionais da sua área, para buscar se aprimorar?”. E a resposta é: “De Norte a Sul deste nosso País”. Porém, sob minha óptica, esse sucesso e vanguarda se destaca por um fator, um ingrediente especial, que vai além dos hectares, pesquisas, clones, técnicas, manejo, ciência, máquinas, logística, etc. Esse sucesso se dá pela capacidade que nós, como Homo sapiens, temos de cooperar. O setor florestal brasileiro é o que é pela cooperação e pelo desenvolvimento do “Homo florestal” e pela capacidade de criarmos coisas em conjunto (por favor, não levem a sério o trocadilho – não se trata, de fato, de nenhuma nova espécie ou processo evolutivo darwiniano). Assim como tantos colegas de setor e profissão, aos 18 anos, escolhi esse mundo. Até me atrevo a usar a palavra “mundo”, pois, de fato, acredito que somos um somatório de peculiaridades que nos fazem organizar um setor único. Único no sentido de especificidades.

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Uma mistura delicada e balanceada de características que formam as pessoas do setor florestal. Um balanço entre amor à ciência, à tecnologia, ao campo e à simplicidade. Talvez, também como tantos outros colegas, não sei exatamente todos os motivos que me levaram até a engenharia florestal. Ou até os motivos que me levaram até lá não tenham sido exatamente os mesmos que despertaram meu interesse nessa profissão posteriormente. Mas o fato é que cá estamos! Nosso setor cresce com passos firmes e sólidos. Somos exemplo de produção florestal com responsabilidade ambiental de forma inquestionável por qualquer país. As áreas de atuação e oportunidades para desenvolvimento são inúmeras, e todas importantes na nossa ciência. Nem todo profissional do setor florestal tem a oportunidade de ter uma graduação acadêmica. Porém a formação técnica é igualmente importante e deve ser sempre contínua. As técnicas para isso vêm se adaptando e mudando conforme as tecnologias que vão se criando para tal. A pandemia causada pela Covid-19 nos mostrou e acelerou ainda mais as plataformas digitais, que serão um caminho sem volta e importante para a formação e a transmissão de conhecimentos. Já para os que buscaram a academia, há graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Ciências de solo, nutrição, fisiologia, ecologia, ciências matemáticas, programação, computação, silvicultura, manejo, colheita, transporte, logística. Enfim, uma variedade infindável. Mas não precisei ir mais longe do que os meus quase 15 anos de profissão para aprender que, salvo algumas áreas e perfis a que se chega longe e ao sucesso sozinho, o “ingrediente mágico” está na nossa capacidade de cooperar e nos conhecimentos adquiridos na prática. Planejar e executar com maestria é trabalho para um time. Exige liderança. E isso não se ensinava na academia, tampouco se constrói do dia para a noite.


Opiniões Pela natureza do nosso segmento, a formação do profissional dessa área passa por lugares diferentes em geografia e ambiente. O banco da escola é tão importante quanto as horas no campo. Os ensinamentos do mestre do planejamento são tão importantes quanto as conversas e trocas de experiências com as pessoas da ponta, da execução. E, por fim, as horas de escritório e as linhas das planilhas são tão importantes quanto os quilômetros rodados por debaixo da sola de nossas botinas. Na formação do “Homo florestal”, pela natureza e especificidade do seu trabalho, muito do sucesso de um profissional vem da habilidade de lidar com pessoas de diversas origens e estilos e de lidar com diversos ambientes de trabalho. Essas habilidades e competências são as habilidades comportamentais, ou soft skills. E, para o desenvolvimento dessas soft skills, o banco escolar e os livros até ajudam, mas não resolvem. A arte de se relacionar e interagir com os demais se adquire na prática, com horas de voo e exercício. Um profissional pode certamente aprender coisas maravilhosas na academia, e ela é o motor fundamental da criação de ciência. Mas o sucesso desse profissional na vida terá pouco a ver com a sua excelência acadêmica. Em contrapartida, o sucesso estará na capacidade de tomar iniciativas, na persistência, na sua habilidade de contribuir positivamente para a vida de outras pessoas; na sua habilidade de apresentar boas ideias e passá-las adiante de maneira eficiente; na sua habilidade de navegar de forma suave e positiva nas redes de trabalho, de negócios e sociais. Investir em formação acadêmica é tão importante quanto investir tempo em formar seu capital de network e conexões (e não apenas com outros “Homo florestal”. É valioso interagir, diversificar e ampliar nossos pontos de vista).

Pela natureza do nosso segmento, a formação do profissional dessa área passa por lugares diferentes em geografia e ambiente. O banco da escola é tão importante quanto as horas no campo. " Felipe Schroeder Vieira Presidente da Komatsu Forest

Nessas duas frentes de atuação de formação do “Homo florestal”, a acadêmica formal e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, há um denominador comum. Não dá para pular etapas. O fator tempo é importante para sedimentar e consolidar o aprendizado. Mas devemos ficar atentos, pois o mesmo fator tempo não se recupera se for desperdiçado. Por fim, já ouvi em diversas rodas de conversas de outros espécimes como nós que o setor florestal é desorganizado e desunido. Não discuto que sempre podemos nos organizar melhor para batalhar por melhorias para o nosso setor. Porém, sob meu ponto de vista, o que faz do Brasil o benchmark mundial na produção de florestas plantadas e seus produtos é justamente a nossa capacidade de interagir e trabalhar em conjunto. E que assim seja por muitos anos. n




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produtores de floresta

o homem no campo:

como formar e reter esses profissionais? O setor florestal emprega muita gente, segundo informações coletadas no site da IBÁ - Indústria Brasileira de Árvores. Atualmente, esse setor gera cerca de 1,3 milhão de empregos diretos e 3,75 milhões quando incluímos os indiretos e o efeito renda, pessoas que atuam em 1.000 municípios, numa área plantada com florestas de aproximadamente 9 milhões de ha. Mas como garantir as melhores práticas florestais sem um esforço grande de capacitação e retenção dessa mão de obra que se espalha nas centenas de municípios pelo interior do País? A característica do emprego na área urbana é bem diferente do emprego na área rural, onde o trabalho começa bem cedo e longe de casa, às vezes enfrentando grandes deslocamentos em estradas de chão e intempéries. Essa característica cria desafios ainda maiores para as empresas florestais que enfrentam alta rotatividade em seus quadros de profissionais, fazendo

não basta selecionar bem, treinar bem e não conseguir reter esse profissional, no qual investimos tanta energia e recurso "

Germano Aguiar Vieira Diretor Florestal da Eldorado

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com que o setor invista muito na capacitação e retenção desses trabalhadores. Acrescente-se a isso a sempre crescente demanda por conhecimentos cada vez mais específicos, necessários para executar as atividades típicas de silvicultura, colheita e logística, que passam a ser mais mecanizadas, automatizadas e digitalizadas. O ingresso de soluções digitais, telemetria, uso de drones, interpretação de imagens de satélites, planejamento com uso de programação inteligente através de algoritmos sofisticados, genética molecular, metagenômica e biotecnologia são temas que passaram a ser relevantes para o saber plantar e colher florestas. Atualmente, um operador de máquina florestal não se parece, nem um pouco, com o nosso antigo tratorista, nem o motorista atual de carga pesada precisa necessariamente das mesmas


Opiniões Áreas de Trabalho

Posições Analista

Administrativas

Assistente administrativo Controlador Especialista em silvicultura Especialista em manutenção mecânica Especialista em pragas e doenças Especialista em solos e nutrição Especialista em climatologia Especialista em melhoramento genético

Técnicas

Especialista em biotecnologia Especialista em geoprocessamento Especialista em topografia Especialista em meteorologia Especialista em planejamento logístico Especialista em qualidade da madeira Especialista em dendrometria Especialista em inteligência florestal Ajudante florestal

Operacionais

Operador de máquina Mecânico Motorista Líder de campo

Liderança

Supervisor Coordenador Gerente

Função Ajudante florestal

habilidades que seu antecessor motorista de caminhão. Isso mudou bastante o perfil de cada colaborador do campo, que necessita agregar, cada vez mais, novos conhecimentos para realizar as suas tarefas de forma eficiente. Ressalto que os cargos de especialistas aumentaram muito no escopo das equipes florestais para uma boa condução de grandes projetos e, independentemente de ser um recurso internalizado ou não na empresa, aparecem como vitais para alcançar os melhores resultados. Vejam o quadro em destaque. Para cada função, temos um perfil do cargo com suas missões e demandas específicas e nem sempre as universidades e escolas técnicas preparam esses profissionais adequadamente para a área florestal, e as empresas necessitam cobrir essa lacuna, investindo forte em treinamento. De forma bastante resumida, podemos avaliar o tempo e o custo aproximado para capacitação de cada função do setor florestal necessários para que esse profissional alcance a maturidade técnica e comportamental. São conhecimentos variados que começam nos treinamentos legais obrigatórios, as NRs - Norma Regulamentadora de Segurança no Trabalho, NR 11, 12, 17, 18, 20, 31, 35, PCR, PCA e outros específicos de cada estado ; ou região.

Horas de Treinamento Legais Comportamentais Técnicos/ Total Operacionais

Dias em Treinamento

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Tratorista

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702

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Operador de máquina pesada

268

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744

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Motorista

145

156

292

593

74

Mecânico

171

156

292

619

77

Eletricista

171

156

242

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Líder florestal

100

250

100

450

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Supervisor florestal

140

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produtores de floresta Treinamentos comportamentais e de liderança, meio ambiente, certificação, compliance e os treinamentos técnicos específicos, teóricos e práticos, de acordo com cada área operacional. Isso tudo se resume a muitas horas de treinamento e, consequentemente, um investimento contínuo pelas empresas na capacitação de suas equipes. Em resumo, uma empresa florestal deve aplicar, em média, cerca de 40 horas de treinamento para cada profissional por ano. No segundo quadro da página anterior, mostramos um resumo do tempo para formação teórica de diversos cargos dentro de uma equipe florestal. Além desse treinamento, ainda devemos monitorar os treinamentos práticos que ocorrem durante o decorrer do trabalho em campo e poderão ser prolongados por até dois anos. O agronegócio em geral convive com uma rotatividade muito alta, e, nos dias atuais, isso se torna cada vez mais difícil de conviver para uma organização que quer manter um alto nível de performance em suas atividades, e, para isso, é necessário contar com equipes bem preparadas e capacitadas para atingir esse objetivo estratégico. Nesse sentido, entra um outro desafio, que é reter essa mão de obra, em cuja preparação se investe muito. Muitas empresas buscam programas de retenções financeiras, porém a nova geração de trabalhadores está muito mais conectada e tem exigido algo diferente e alinhado com seu propósito de vida para permanecer no trabalho do campo. Algumas iniciativas podem ser citadas como boas práticas: trilha de carreira, uma forma de permitir que cada trabalhador possa escalar cargos superiores ao seu, criando um ânimo especial para sua permanência dentro da organização; programa de engajamento e propósito, onde cada um pode estabelecer seu propósito de vida e, através de um processo dinâmico, conseguir espaço para expor seus anseios pessoais para seus líderes, que passam a ser responsáveis pela condução de uma ajuda individualizada; programas de liderança onde cada líder é preparado para atendimento de suas metas,

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Opiniões respeitando os limites de cada um de seus comandados. Não há como garantir que todos permanecerão dentro da empresa por longo tempo, mas, com certeza, esses cuidados ajudarão, em muito, a redução do turnover na área florestal. Em resumo, podemos dizer que um profissional bem capacitado é um dos itens mais relevantes para o sucesso de um grande projeto de base florestal, e precisamos atuar com precisão em cada etapa desse processo, ou seja: 1. Recrutamento e seleção: Adequação ao perfil da função e a aderência à cultura regional e da organização. Contratar errado é um desperdício de dinheiro e energia, podendo atrasar metas estabelecidas e comprometer o projeto. Cada líder deve escolher pessoalmente sua equipe, e é nesse momento que se estabelece um compromisso entre eles. 2. Capacitação: a melhor escolha é investir em educação e treinamento de cada profissional do que conviver com sua baixa performance por longo tempo. A cada dia, se investe muito dinheiro para plantar e cuidar de uma floresta até que ela esteja pronta para colheita e transporte dessa madeira para o consumidor. São investimentos em insumos, salários, máquinas, equipamentos, peças, combustíveis, alimentação e outras despesas, e, a cada dia, devemos cuidar para que esses recursos sejam usados de forma correta e gerem produtos de qualidade. Se não temos profissionais bem treinados em cada atividade e bem liderados, não conseguimos avaliar os vazamentos de produção e energia e, no final do processo, não há o que fazer. Precisamos de profissionais determinados, qualificados e satisfeitos com o que estão fazendo. 3. Retenção: Estruturar programas efetivos para garantir maior durabilidade de cada profissional dentro da organização; alta rotatividade custa muito para a empresa. Cada profissional, para atingir alta performance, precisa de todos os treinamentos necessários; não se faz isso pela metade e isso não é barato. Portanto não basta selecionar bem, treinar bem e não conseguir reter esse profissional, no qual investimos tanta energia e recurso. n



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produtores de floresta

formação do(a) profissional florestal Atratividade do setor, ampliação da presença feminina e esforços voltados à diversidade, olhares atentos à temática ESG, combinação de propósitos pessoais e ampliação de skills para a atuação no trabalho: o perfil do(a) profissional florestal vem ganhando novos traços a partir do reposicionamento do segmento, da implementação de processos de transformação digital e de tantas interfaces que foram aceleradas a partir do cenário global de pandemia. O mercado global tem debatido constantemente as “profissões do futuro”. E é nesse cenário que concorremos, no bom sentido da palavra, com empresas de altíssima tecnologia e reconhecimento mundial. Isso nos desafia a refletir, na linha de employer branding e de EVP (Employee Value Proposition, em tradução livre, “Proposta de Valor ao Empregado”), quais atributos um segmento de base florestal possui para atrair e reter talentos. Além de programas de mentoria e de desenvolvimento profissional, um importante diferencial se configura ao vivenciarmos uma era em que a sociedade, felizmente, tem valorizado, de forma exponencial, iniciativas voltadas à sustentabilidade e às boas práticas ESG (Environmental, social and corporate governance, ou, em tradução livre, “governança corporativa social e ambiental”). Trata-se de um movimento de crescente preocupação com questões de preservação ambiental e desenvolvimento

social que abordam o potencial de contribuição para a transformação da sociedade a partir de temáticas que englobam a capacidade de, literalmente por natureza, contribuir para reduzir as nocivas mudanças climáticas; de atuar, de tabela, na redução de pobreza nas áreas do entorno de florestas e fábricas; de reforçar modelos de gestão de recursos naturais continuamente aprimorados e, por fim, de ofertar produtos renováveis como alternativa para um consumo mais sustentável. Pensar em uma sociedade mais justa e equânime passa também pelo incentivo à diversidade. O ambiente de trabalho florestal, historicamente marcado por relevante predominância masculina, passa a se empenhar também para ampliar a presença de mulheres em posições de liderança e frentes operacionais – inclusive no comando de máquinas cujas cadeiras, em um passado não muito distante, eram, quase em sua totalidade, ocupadas por homens. É de extrema relevância que atuemos para romper estereótipos. Um exemplo disso é que não existe razão para que elas não estejam à frente de atividades dessa natureza. Experimentar a diversidade – não só de gênero, como também de gerações, raça/etnia, orientação e pessoas com deficiência – reconfigura a forma de vivenciar o negócio e amplia leques para oportunidades que eventualmente vinham sendo represadas ao longo dos anos.

O mercado global tem debatido constantemente as 'profissões do futuro'. E é nesse cenário que concorremos, no bom sentido da palavra, com empresas de altíssima tecnologia e reconhecimento mundial. "

Douglas Seibert Lazaretti Diretor de Operações Florestais da Suzano Coautoria: Danielle Costa de Paula Macedo, Coordenadora de Comunicação e Marca da Suzano

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Opiniões A partir desses movimentos disruptivos e do novo momento vivenciado globalmente de atenções voltadas às temáticas emocionais e à humanização de líderes, é notável a importante necessidade de aprimoramento das chamadas soft skills, as habilidades comportamentais que compõem a forma como agimos conosco e com as pessoas ao nosso redor. O setor florestal possui excelentes universidades, centros de pesquisa, laboratórios e iniciativas científicas. No entanto o processo de formação do(a) profissional florestal ainda apresenta importantes oportunidades de abarcar disciplinas mais voltadas à área de humanas, agregando ao domínio essencialmente técnico e operacional a oportunidade de abarcar outras características que, notadamente, contribuem para tornar mais produtivo o dia a dia de gestão de processos, relacionamentos interpessoais, de forma mais específica, no desenvolvimento de pessoas e equipes de alta performance. Na Suzano, referência global no desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras de origem renovável, além das iniciativas de mentoria tradicional e reversa e de ações de porta de entrada que já consideram o trabalho de soft skills, as habilidades relacionais se desdobraram – para posições de gestão – no que chamamos de “os seis atributos do(a) líder Suzano”: comunicar, conectar, transformar, entregar, formar gente e inspirar. Trata-se de uma iniciativa que tangibiliza as frentes comportamentais com desdobramentos que passam por uma atuação e, sobretudo, por uma

gestão mais próxima, mais empática, transparente e, de fato, humanizada. Trata-se de um momento propício para voltarmos a repensar as formas de aproximação entre empresas e academia, a fim de ampliar as oportunidades de inserção desses futuros(as) profissionais no mercado de trabalho. A busca por perfis mais completos se estende também a pessoas que, além de dominarem conhecimentos específicos técnicos, buscam ampliar conhecimentos gerais que englobam política, cidadania, entre outros. Agentes transformadores que, por meio de uma visão ampliada, contribuem para a geração de um ecossistema muito mais favorável a um setor em constante transformação. Dessa forma, o afunilamento em Y que antes predominava na formação florestal – ou um caminho para atuação ambiental ou para operações – pode se transformar em soma e agregar ainda mais para o setor. É notável que o sucesso do passado não garante o futuro. O modelo como formávamos profissionais no passado foi satisfatório, mas o cenário hoje é muito mais dinâmico. Estamos falando de culturas mais abertas ao novo, de uma abordagem mais intensa na necessidade de combinar propósitos empresariais com crenças e experiências. Basta olhar ao nosso redor para perceber o quanto o(a) profissional florestal, incluindo aqueles(as) que já se formaram há mais tempo e contaram com a experiência do mercado, vem se transformando. E para muito melhor. n

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produtores de floresta

formação continuada:

reconhecimento, troca, provocação e desconstrução

O verdadeiro prazer, a maior fonte de reconhecimento está em construir, não em ter. Ao longo das últimas décadas, o “profissional florestal brasileiro” (onde incluo homens e mulheres) construiu uma base florestal de árvores cultivadas que detém a maior produtividade mundial do agronegócio e totaliza 9 milhões de hectares. Conta com outros 5,9 milhões de hectares destinados para Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reserva Legal (RL) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). São mais de 1.000 municípios nessa área de atuação e uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões em 2019. Essa base florestal vem se capacitando para atender à sociedade moderna e ao futuro. Além de papel, embalagens, painéis de madeira, móveis, entre outras tradicionais cadeias, já se consolida como efetiva fornecedora de produtos e matérias-primas nos setores de alimentos, automobilístico, cosméticos, têxtil e medicamentos.

Cabe potencializar qualificação e requalificação com foco no saber ouvir para se desenvolver e, sobretudo, consolidar a capacidade de identificar oportunidades de cuidar das pessoas e permitir-se ser cuidado. " Heuzer Saraiva Guimarães Diretor de Negócios Florestais da WestRock

Adicionalmente, essa fabulosa construção está alicerçada numa cultura de absoluto comprometimento com o desenvolvimento humano e a busca de diversidade, equidade e oportunidades. Tornar o ambiente florestal um setor de trabalho de forte atuação para todas as pessoas é um trabalho desenvolvido na WestRock, por exemplo.

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No último ano, aumentamos a participação feminina no nosso negócio, incluindo os cargos de liderança, e registramos as primeiras mulheres em nossas operações. Assumir o compromisso real pela equidade de gênero certamente fortalecerá ainda mais o setor com a diversidade de profissionais. Mais iniciativas ganham destaque. O anuário 2020 da Indústria Brasileira de Árvores, IBÁ, reporta que suas associadas investiram milhões de reais em ações socioambientais nas áreas de educação, saúde, treinamento e capacitação profissional, e, ainda, nas boas práticas de manejo florestal, na certificação dos plantios florestais e de seus produtos. Foram mais de 6,9 milhões de pessoas beneficiadas pelos diversos programas, sendo 41% relacionadas aos projetos de fomento e de desenvolvimento econômico, permitindo melhoria da qualidade de vida e prosperidade para as comunidades − movimentos que podem transformar a realidade das pessoas, envolvendo todos os setores da sociedade.


Opiniões Toda a estrutura construída ao longo das últimas décadas, conforme exposto, evidencia que os processos de evolução do sistema florestal brasileiro, produto de formação técnica e social, buscaram se alicerçar nos pilares social, ambiental e econômico. Portanto podemos afirmar que, dentre as mais reconhecidas e valorizadas realizações de nosso sistema florestal, está justamente a efetividade de formação do homem (e da mulher) florestal. Contudo, considerando tão intensa afirmação, exatamente pela excelência desse complexo de formação do profissional florestal, nos cabe ampliar nosso compromisso de melhoria contínua, sendo capaz de reconhecer, expor e mitigar vulnerabilidades que ainda geram percepções que colocam o setor florestal em posição aquém de sua real relevância social, ambiental e econômica. Nesse trabalho, é preciso se considerar a devida renovação dos profissionais do setor florestal no que tange ao posicionamento da sociedade acerca da ampliação das dimensões que compõem a equação da sustentabilidade. Paralelamente à formação já consolidada, que reconhece o profissional florestal como exemplo de desenvolvedor de tecnologias de

gestão remota, inteligência artificial, genética molecular, realidade aumentada, entre outras inovações em curso, o novo ciclo de formação continuada precisa capacitar nosso profissional para também desconstruir preconceitos e desenvolver soluções que agilizem diversidade e amplie massa crítica. A agilidade demandada nesse novo contexto de formação contínua é dependente da combinação de conteúdos com experiências; a proximidade do “professor” torna-se ainda mais relevante justamente porque o timing de aprendizagem e o mestre, além dos ordinários, precisam ser identificados e explorados nas experiências do cotidiano. A formação continuada deve desenvolver talento para aquilo que seja novidade, ampliar curiosidade, desenvolver perspectivas, se responsabilizar por diversidade, garantir autenticidade e o segredo e o maior desafio: transformar pelo poder do engajamento. Cabe potencializar qualificação e requalificação com foco no saber ouvir para se desenvolver e, sobretudo, consolidar a capacidade de identificar oportunidades de cuidar das pessoas e permitir-se ser cuidado. A parte mais rica da formação é justamente a troca, a provocação e a experiência. n

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produtores de florestas

capacitação profissional e corporações florestais Profissionais capacitados são a base de uma operação qualificada em qualquer que seja a organização e o processo. Uma vez nas empresas, a formação desses profissionais é altamente influenciada pelas políticas, visão e valores da empresa, que, aplicados pelos gestores, irão conduzir as ações dos profissionais e, consequentemente, sua base de capacitação técnica e comportamental. Com um maior acesso à informação, a globalização trouxe uma demanda maior de qualidade em produtos e serviços, a competição aumentou, a necessidade por profissionais capacitados, também. A conjuntura econômica atual do agronegócio impulsiona a demanda por mão de obra qualificada, e a oferta, no que diz respeito a profissionais, precisa desenvolver-se e buscar a adaptação a esse ambiente novo e dinâmico. Além disso, a pressão do modelo de produção nas empresas por uma gestão mais eficiente intensifica a necessidade dessa capacitação, sendo cada vez mais fomentados, dentro das empresas e nos institutos de pesquisa, os programas de formação

complementar aos profissionais da área florestal. São diversas as ações elaboradas pela empresa envolvendo a área de capacitação. Abordaremos algumas das principais. Um dos mais relevantes foi idealizado e criado em 2020, o Programa de Capacitação Técnica de Silvicultura (PCTS), com o objetivo de aprimorar a formação técnica para garantir a qualidade de processos operacionais, além de permitir a interação com outras áreas, pessoas e ferramentas de gestão. Na primeira edição, o programa capacitou 60 profissionais e, em 2021, em sua segunda edição, irá contar com um módulo básico e também um avançado, com dias de campo e temas aprofundados dentro da atuação específica de cada grupo de colaboradores. O programa é voltado para técnicos, supervisores e coordenadores de silvicultura, tendo como temas principais: P&D; segurança; custos; manejo de solo; matocompetição; pragas e doenças; planejamento e geoprocessamento; meio ambiente; relações com a comunidade; gestão de pessoas e atividades de terceiros, sendo lecionado principalmente por profissionais da própria empresa, além de consultores especializados e professores universitários.

Novas tecnologias de automação e controle estão sendo cada vez mais frequentes nas atividades de silvicultura (...) Porém todo esse pacote tecnológico incorporado no jargão da 'Silvicultura 3, 4, 5.0' não trará o resultado esperado apenas por estar instalado nas máquinas e equipamentos. " Guilherme Zaghi Borges Batistuzzo Coordenador de Desenvolvimento Operacional, Capacitação Profissional e Corporações Florestais da Bracell

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Opiniões Além disso, há o programa de excelência de atividades cruciais, como pulverização e combate à formiga, no qual são realizados os acompanhamentos em campo seguidos de reuniões técnicas para discussão dos resultados e criação de planos de ação. Rotineiramente, as áreas são visitadas com antecedência da ocorrência das operações, no momento da operação e após, com os monitoramentos. O ciclo PDCA é rotina para os acompanhamentos. Há também o Programa de Liderança e Atuação de Combate a Incêndio, no qual os colaboradores são treinados conforme seu escopo de trabalho de atuação nessa atividade. Outra linha de trabalho desenvolvida é o aperfeiçoamento das atividades através do Programa de Padronização Florestal, no qual as principais atividades, equipamentos e pessoas envolvidas são analisadas. Padronizam-se as operações com procedimentos específicos, lições ponto a ponto, escopo de equipamentos e treinamento da equipe e gestão. O corpo de profissionais que move a operação também precisa de um acompanhamento próximo, dessa forma é necessária a figura do instrutor de operações ou algum colaborador especializado para essa função. O acompanhamento diário das atividades está sendo facilitado em função das tecnologias que vêm surgindo, dessa forma o instrutor de campo está ganhando um auxílio do acompanhamento assistido de uma central de monitoramento de operações. Novas tecnologias de automação e controle estão sendo cada vez mais frequentes nas atividades de silvicultura, piloto automático, controladores de aplicação, computadores de bordo e monitoramento de frota, além da utilização de drones para diversos fins que se estão tornando operacionais na silvicultura. Porém todo esse pacote tecnológico incorporado no jargão da “Silvicultura 3, 4, 5.0” não trará o resultado esperado apenas por estar instalado nas máquinas e equipamentos. Para tanto, é necessária uma gestão eficiente e pessoas capacitadas para utilizá-las. A tecnologia, associada a uma boa gestão, permite não apenas o controle de insumos, operações e logística, mas também fornece dados individualizados dos operadores – contemplando toda a jornada de trabalho. Dessa forma, gestão e treinamentos são dirigidos com base nos dados e resultados fornecidos pelos computadores de bordo. As tecnologias trazem novas ocupações às atividades, ao passo que promovem a obsolescência de algumas funções.

O desenvolvimento das qualificações deve ser compatível com o tecnológico, os processos que estão sendo fomentados pela transformação tecnológica aceleram a mudanças, deixando as operações mais fluidas, e cada vez mais haverá atualizações de procedimentos e necessidades constantes de treinamentos operacionais. Para que haja a concatenação tecnológica e o engajamento técnico, é necessária a presença dos profissionais em campo acompanhando as atividades com ferramentas dinâmicas, auxiliando a tomada de decisão. A proximidade de todos com a operação facilita a clareza do processo e o engajamento da equipe. Visando a uma estrutura mais enxuta, com uma gestão mais eficiente e especializada, uma opção que vem se intensificando dentro das corporações é a terceirização de alguns processos de capacitação. Essa terceirização é, muitas vezes, realizada por parceiros de negócio, instituições especializadas, fornecedores de produtos ou serviços, e, nesse ponto, há uma grande oportunidade para aumentar a parceria entre o setor público e o privado, promovendo a extensão universitária e dos institutos de pesquisa. No caso citado, a capacitação colaborou com a expressiva melhoria dos indicadores de qualidade das operações dentro de cada programa. O desafio, de maneira geral, para as empresas, é mensurar o “fator capacitação” isolado dos demais eventos no impacto quantitativo de indicadores de produtividade. Qual a taxa de retorno de cada treinamento realizado? Frequentemente, é notado que, após um período de treinamento, os indicadores da atividade melhoram. Esses indicadores são mais perceptíveis quanto mais técnico e específico é o tema, e o desafio é mostrar os ganhos em esferas globais, principalmente os que envolvem gestão e processos mais complexos. Para a perpetuação do conhecimento e uma profunda mudança de processos, é necessário aprimorar a qualidade dos treinamentos. Vimos que os investimentos precisam ser intensificados pelos seus retornos. A terceirização e parcerias com fornecedores e universidades contribuem para a redução da estrutura e a especialização dos capacitores. Toda a capacitação não pode ser vista como a chuva de informações e soluções imediatistas e vagas, como um clique no mundo atual. Deve ser encarada como um programa de crescimento sólido, contínuo e seguro, de modo a influir diretamente na relação do sistema de produção, recursos humanos e meio ambiente, sendo um grande condicionador para a busca de um desenvolvimento sustentável. n

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produtores de florestas/academia

os desafios

na formação dos profissionais do futuro

O setor florestal é responsável por grande parte do incremento de empregos no Brasil. Entretanto a expansão desse setor deve estar em consonância com a capacitação de pessoas para que possam ocupar os novos postos de trabalho. Sabemos que é inerente ao setor florestal a presença em locais afastados, o que não implica a ausência de tecnologia, tampouco a facilidade de mão de obra. Muito pelo contrário, equipamentos cada vez mais modernos, associados a inovações tecnológicas, enriquecem outros importantes elementos presentes nas regiões onde estão instalados e até coloca na berlinda o estereótipo do “homem do campo” sobre o qual tanto já ouvimos falar. Claro que estamos vivendo um momento de desafio para estudantes e professores, que, em função da pandemia, tiveram que se adaptar rapidamente. Um novo contexto foi traçado, e as atividades presenciais foram substituídas por aulas remotas, com a utilização de novas metodologias de ensino e necessidade de apoio de tecnologias que permitam ao aluno continuar seu processo de aprendizado. Essas mudanças proporcionaram uma série de desafios e também oportunidades. As parcerias com empresas apresentam-se otimizadas, em busca da didática que a sala de aula restringiu. Dessa forma, a prática de professores-instrutores com bagagem é um fator essencial para a formação do “profissional da floresta”. Esses professores devem ser capazes de estimular a busca contínua pela atualização e inovação de tecnologias, além de desmitificar requisitos como ambiente de trabalho

restrito, rotina, insegurança e insalubridade. Mesmo no contexto remoto, é possível identificar profissionais competentes e com vasto repertório para contribuir para a qualificação dos estudantes. Um profissional que se destaca é aquele que tem capacidade de trabalhar em equipe, manter-se atualizado e alinhado com a cultura organizacional. Nem sempre é necessário ir muito longe para se realizar profissionalmente. Quando é possível aliar vontade de se desenvolver e desenvolver o seu entorno estando próximo da sua região de origem e se identificando com ela, melhor ainda. Estudar perto de casa também permite que o conhecimento seja ampliado e permaneça vivo na comunidade e, principalmente, possibilite que a comunidade veja, na prática, os multibenefícios vindos do manejo florestal, sempre tão citado em processos de certificação. Diferentes estratégias são adaptadas para cada cultura, entretanto o objetivo deve ser o mesmo – conciliar questões sociais a questões econômicas, mantendo um ambiente saudável para todos. E isso também inclui a participação e a presença de pequenas e médias empresas florestais. Realmente aquele “homem” do campo, hoje não se traduz em gênero, mas, sim, em oportunidade de aprendizado para o indivíduo que tenha, como visão, a possibilidade de acreditar que a qualificação, o senso de pertencimento e o entusiasmo são as chaves para uma carreira promissora. É a possibilidade de quebrar preconceitos e maximizar os benefícios dessa escolha, além, é claro, de se diferenciar no mercado.

Os cursos são oferecidos em duas modalidades: integral, concomitante com o ensino médio, ou de formação técnica. Cerca de 300 vagas são disponibilizadas em regime de internato e semi-internato.

Samantha Nazaré de Paiva e Sinval Barbosa Teixeira Coordenadora do curso de Agronegócio e Diretor do Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola de Ortigueira, respectivamente

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Opiniões A maioria das empresas florestais utilizam máquinas modernas e de elevada tecnologia na execução de suas operações, durante todo o manejo florestal. Assim, é necessária a seleção de profissionais com um perfil adequado ao cargo e também que reconheça suas capacidades e talentos individuais para, então, se autoidentificarem como um profissional pronto para o desafio. O Centro Estadual de Educação Profissional e Agrícola de Ortigueira A Escola Técnica de Ortigueira é o resultado da realização de sonhos. Inaugurada em 2020, o centro de educação profissionalizante foi constituído com base em uma parceria entre a Klabin, o Governo do Estado do Paraná e a Prefeitura Municipal de Ortigueira, para implementar uma instituição nos moldes de ensino europeu, principalmente dos países escandinavos, que são destaques mundiais da indústria de base florestal. A escola tem o objetivo de tornar-se referência de ensino em todo o setor agroflorestal e de mecânica de máquinas pesadas. É uma aspiração que contamina toda a equipe e os alunos que já estão nessa trilha de aprendizado – e que serão exemplos para os demais. Toda realização começa com um sonho, uma ideia, uma conversa. E, como diria o saudoso, irreverente e criativo Raul Seixas, "sonho que se sonha junto é realidade". E é exatamente assim que se inicia esse projeto, que, ao longo do tempo, ganhou robustez, muito planejamento e mais ação. Afinal de contas, a concretização desses sonhos depende de planos e objetivos bem estruturados. E foi assim que Ortigueira e a região reforçaram ainda mais sua projeção no âmbito estadual e nacional de educação, reforçando sua vocação florestal e agrícola e agradecendo aos idealizadores, parceiros e todos aqueles que investiram tempo e acreditaram na mudança positiva que vem sendo construída a cada dia. A escola tem capacidade para atender até 800 alunos. Mas, como é comum dizer na ambiência dos treinamentos, a “curva de aprendizado” é essencial para o sucesso, e, por isso, iniciamos com três cursos profissionalizantes:

Os cursos destacados acima são oferecidos em duas modalidades: integral, concomitante com o ensino médio, e subsequente, ou seja, quando o aluno já tem o ensino médio e faz a formação técnica. Cerca de 300 vagas podem ser disponibilizadas em regime de internato e semi-internato, possibilitando o ingresso de estudantes de diferentes regiões do País. Os cursos técnicos de operadores florestais e mecânico de máquinas pesadas terão como foco a formação de profissionais diferenciados para atuarem no mercado de trabalho de todo o País. O objetivo é muito maior que a formação de operadores de máquinas e mecânicos. Vamos formar profissionais técnicos na área de atuação, com visão ampla de todas as atividades florestais e de mecânica, ou seja, aquele profissional que planeja, organiza, antecipa e previne os desvios que podem comprometer a operação e a manutenção dos equipamentos florestais. Já o curso técnico em agronegócio tem como objetivo incentivar os jovens a fortalecerem a aptidão da região, através de ações de transformação. Afinal de contas, esse é um profissional que tem como foco aplicar técnicas de gestão e comercialização para o controle das atividades do negócio rural. Inovação, criatividade e consciência ambiental para garantir produção com qualidade e sustentabilidade. O aprendizado proposto consiste na utilização de diferentes ferramentas didáticas, abusando da criatividade e de um dinâmico ambiente escolar. E quem diria que iria ser colocado em prática já logo no início? Se tivéssemos planejado aulas a distância, provavelmente não teríamos iniciado, mas, como foi afirmado no início, desafios e inovação são essenciais para o trabalho na área florestal – e os profissionais do futuro estão aprendendo, na prática, com experientes professores, que o aprendizado é e deve ser, sim, contínuo. n

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“Sapiens” florestal A sabedoria ou sapiência florestal consiste em reconhecer as florestas como provedoras de alimento, água, proteção e todos os seus serviços ambientais, mas também entender os seus limites, a importância da sua perenidade, de seu equilíbrio, sua diversidade e de como compartilhar seus recursos e serviços com demais organismos e ecossistemas do planeta. Nesta reflexão, daremos destaque ao papel que as universidades têm na formação de recursos humanos, capazes de propor soluções tecnológicas e científicas para o convívio sadio da raça humana com as florestas. A formação universitária vai além da graduação de profissionais silvicultores especialistas no cultivo de espécies florestais e menos ainda de exploradores de recursos naturais. Espera-se que as universidades formem profissionais conscientes de que o bem-estar humano depende da existência de florestas para que os serviços ecossistêmicos possam ser continuamente ofertados pelas florestas. Para atender à crescente demanda por alimentos, água potável, madeira, fibras e combustíveis, temos levado os sistemas naturais ao limite da sua capacidade de resiliência. Nos últimos 50 anos, como seres humanos, impactamos os ecossistemas do nosso planeta com velocidade e extensão bem maiores do que em qualquer outro período da história, colocando em risco a capacidade de o planeta se recuperar.

A formação universitária, para reverter essa situação e atender com adequada competência às futuras demandas, precisará capacitar profissionais que saibam promover a transição para sistemas de produção multisserviços, mais biodiversos, e de base energética descarbonificada. Isso se justifica por acordos e compromissos multilaterais que o Brasil vinha assumindo até 2018, e pela evidente necessidade de gerar empregos que o mantenha num ritmo adequado de desenvolvimento econômico interno, sem perder competitividade no cenário internacional. No cenário internacional, o Brasil é signatário, com mais 193 países-membros das Nações Unidas, da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ratificada na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas de 2015) e tem sido protagonista, desde 1992, na Convenção sobre Diversidade Biológica. Internamente, esses compromissos levaram, por exemplo, à elaboração de uma Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade (EPANB), que

A formação universitária vai além da graduação de profissionais silvicultores especialistas no cultivo de espécies florestais e menos ainda de exploradores de recursos naturais. "

Silvio Frosini de Barros Ferraz e Luiz Carlos Estraviz Rodriguez Professores do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP

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Opiniões estabelece como um dos seus objetivos estratégicos a disseminação e fomento de “práticas de manejo sustentáveis na agricultura, pecuária, aquicultura, silvicultura, extrativismo, manejo florestal e de fauna” que assegurem o desenvolvimento de sistemas de produção pautados pela biodiversidade. Estarmos preparados nas universidades significa, portanto, formarmos profissionais que ajudem o Brasil a atender a esses compromissos e que sejamos capazes de atender também a expectativas da nossa própria sociedade. Como as que surgem da organização da sociedade civil e que podem ser ilustradas pelo exemplo da Coalizão Brasil para o Clima, Florestas e Agricultura. Em sua visão para 2030 e 2050, esse grupo de líderes do agronegócio brasileiro estabelece como prioridade “produzir mais e melhor por meio da agropecuária e da silvicultura, criar valor e gerar benefícios a partir da floresta nativa, acabar com o desmatamento, viabilizar políticas públicas de Estado e construir instrumentos econômicos alinhados com a economia de baixo carbono, com as metas de Paris e com a promoção da biodiversidade”. Temos refletido sobre isso na Universidade de São Paulo e estamos dando início a um ambicioso programa de ações que visam à revitalização da área de silvicultura com espécies nativas e de pesquisas inovadoras em recursos florestais. Voltadas para a produção biodiversa, a economia circular, a conservação e restauração de ecossistemas naturais, a produção de biocombustíveis, produtos madeireiros e demais serviços ecossistêmicos, essas ações têm como objetivo criar um ambiente de formação que estimule a relação docente-discente, que induza a atualização constante e que capte os desafios das novas demandas. É nosso entendimento que a adequada formação universitária, na área das ciências florestais, começa com um bom nivelamento em ciências básicas, principalmente nas bases do que vêm sendo chamadas de STEM (acrônimo dos termos em inglês: sciences, technology, engineering and mathematics). Seguida de uma formação específica que contemple o aprofundamento em quatro grandes temas: base genética e técnicas de propagação, métodos silviculturais sustentáveis, gestão da oferta de serviços ecossistêmicos e habilitação técnico-industrial. O domínio da base genética florestal permite a atuação profissional em estratégias de domesticação de espécies ainda não totalmente

adaptadas aos sistemas de produção. Envolve o mapeamento e identificação de material genético superior, o desenho de bancos de dados de recursos genéticos florestais e de conservação in situ e ex situ de material genético a partir da criação de bancos ativos de germoplasma (BAGs). A complementar compreensão de técnicas de propagação envolve o aprofundamento no estudo da fisiologia da reprodução e da propagação de espécies de alto valor, a conservação de sementes e de sistemas de produção de mudas, seminais ou clonadas, a partir de material selecionado apto para o plantio em larga escala. A habilitação em métodos silviculturais sustentáveis significa formar profissionais que conheçam com profundidade os sistemas de plantio de arranjos mono e multiespecíficos, a demanda nutricional e as estratégias de proteção contra pragas e doenças desses plantios, os recursos existentes de mecanização das operações de manejo e colheita e o manejo voltado para o maior equilíbrio entre oferta de serviços ecossistêmicos e a produção para processamento industrial ou consumo humano direto. A capacitação em gestão contempla o treinamento no uso e desenvolvimento de protocolos de monitoramento da biomassa, biodiversidade e água, a capacidade de planejar a paisagem em diferentes escalas e arranjos de cultivo e a promoção de competências suficientes para avaliar a sustentabilidade social, ambiental e econômica das cadeias de produção florestais. Finalmente, a habilitação técnico-industrial envolve a imersão em conhecimento que promova o desenvolvimento de tecnologias de processamento de produtos que podem ser extraídos das florestas naturais e dos plantios florestais. Isso envolve o aprofundamento em questões químicas e físicas para compreensão, por exemplo, do funcionamento de biorrefinarias e do uso da madeira e frutos como fontes de biocombustíveis. Muitas das questões citadas requerem significativos avanços científicos, e, para isso, os docentes nas universidades precisam seguir atuando como cientistas. Nesse sentido, temos seguido aqui na Esalq o lema da Universidade de São Paulo, que estabelece como razão da nossa existência o fazer ciência para ensinar bem (Scientia Vinces). Acreditamos que fazer ciência nos ajuda a ensinar e a fazer com que o Homo evolua de forma realmente sapiens na área florestal. n

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atuações, contribuições e fatores da carreira A crescente demanda por produtos florestais, a busca cada vez mais intensa da sociedade moderna por produtos certificados, a maior conscientização das pessoas pela necessidade do uso sustentável do ambiente, além do maior conhecimento dos impactos das atividades produtivas neste, tem propiciado, atualmente, uma ampliação natural de áreas de atuação dos Engenheiros Florestais. No Brasil, atualmente, existem aproximadamente 70 cursos, conforme localização na imagem em destaque. Apesar da juventude da engenharia florestal no Brasil, já fazemos a melhor e mais avançada silvicultura tropical de espécies de fibra curta do planeta. Também não há dúvida sobre os avanços extraordinários na área de colheita e transporte florestal. Há estudos avançados sobre produtos não madeireiros, como a lignina para produção de painéis para veículos automotores e outros acessórios, o alfabizabolol da candeia – Eremanthus erythropappus, o óleo da Copaifera langsdorffii, além de outros subprodutos das árvores nativas na geração de cosméticos, fármacos, frutos e produtos adicionais. Na área ambiental, também atingimos um padrão de qualidade elevado nos processos de recuperação de áreas degradadas, mineradas e outras, na quantificação de estoque e captura de carbono, além de atingirmos o mesmo padrão na elaboração e desenvolvimento de projetos de manejo ambiental para preservação e conservação. Um fato que nos orgulha são os grandes e espetaculares empreendimentos de celulose, energia e processamento de madeira, que demandam altíssimos investimentos e geram muitos empregos e renda. Porém há questões que ainda necessitam de maior análise crítica.

Um fato que nos orgulha são os grandes e espetaculares empreendimentos de celulose, energia e processamento de madeira, que demandam altíssimos investimentos e geram muitos empregos e renda. Porém há questões que ainda necessitam de maior análise crítica. "

José Roberto Scolforo Professor do Dpto. de Ciências Florestais da UFLA

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Ainda não obtivemos o devido êxito em popularizar a silvicultura e o manejo florestal de várias espécies arbóreas nativas de alto valor comercial, e nem mesmo as exóticas já com tecnologia amplamente dominada no País, junto aos pequenos e médios produtores. Esse insucesso é decorrência da falta de uma política florestal que forme polos de produção e industrialização de madeira para usos mais nobres, como movelaria, painéis e mesmo para construção civil na apropriação de portas, janelas, engradamentos e outros. Se não há ecossistemas consolidados, por sua vez, não tem como comercializar com valores rentáveis esses produtos. Quando observamos o leque de áreas de atuação tão amplas na engenharia florestal, ou visualizamos o sucesso e a pujança especialmente do setor de celulose, torna-se incompreensível como o País não se preocupa com a estruturação de uma Política Florestal, que aumentará ainda mais a participação de produtos florestais no PIB brasileiro sem competir com áreas para produção de alimentos ou áreas com vegetação nativa. Há pontos que devem ser mais bem avaliados, como a falta de programas para popularizar a atividade florestal e o excesso de burocracia para atender às demandas ambientais, tão necessárias, que nos leva a fazer uma série de questionamentos de como a academia pode influenciar o maior incremento da atividade no País, de forma a gerar ainda mais renda e emprego.


Opiniões Especificamente quando avaliados os conteúdos ofertados aos estudantes de engenharia florestal, há pontos a serem avaliados. A academia está treinando nossos discentes a absorverem os pontos mais relevantes, para que eles contribuam efetivamente para o desenvolvimento da atividade florestal no Brasil? Estamos estimulando-lhes a capacidade de análise crítica, tão essencial para responder aos porquês das questões técnico-científicas a serem respondidas e propor soluções embasadas na ciência? Estamos estimulando-os a solucionar problemas, ou mesmo manejar as populações, sejam plantações ou nativas, para delas se extrair o ótimo em consonância com a conservação do ambiente? Estamos estimulando a formação do estudante empreendedor? Estamos propiciando que eles tenham conceitos claros de produção com preceitos de sustentabilidade que devem ser atendidos? Estamos tornando mais objetivos o conhecimento sobre a vegetação nativa e como manejá-la para preservá-la ou conservá-la? Estamos aplicando conhecimentos de engenharia para a transformação dos produtos e subprodutos florestais em produtos de maior valor agregado, que gerem mais renda e empregos? Estamos mostrando que a atividade florestal produz resultados no médio e longo prazo e, para que ela seja competitiva, tornam-se necessárias muito mais estratégias de conscientização da sociedade e políticas de desenvolvimento? CURSOS DE ENGENHARIA FLORESTAL - (2021)

E o pagamento por serviços ambientais ou o estoque de carbono capturado pelas árvores, por que ainda são tão tímidos? Essas são algumas das questões que necessitam de maiores discussões dentre os engenheiros florestais. É preciso que a academia interaja com os seus egressos, para buscar sempre formas de melhor estruturar os currículos dos cursos de engenharia florestal. Não temos dúvida de que a academia contribui muito para o desenvolvimento do País. Basta observar quantos profissionais oriundos dos cursos de engenharia florestal ocupam altos cargos em empresas e na administração pública, ou ainda se tornaram grandes empreendedores. Quantos conhecimentos e resultados pragmáticos não saíram da parceria Universidade– Empresa? Porém não temos dúvida de que, em gerações cada vez mais digitais, é crucial buscar métodos que estimulem os discentes a buscarem conhecimentos complementares, ao invés de tentar ensinar-lhes tudo. Não temos dúvida de que o fortalecimento no conhecimento em cálculo, química, física, solos e fisiologia é crucial para que, nas disciplinas aplicadas, haja maior aproveitamento por parte dos discentes, assim como não temos dúvidas de que a forma tradicional de ensinar as disciplinas duras e aplicadas deve mudar radicalmente, partindo de uma maior integração entre elas. Há um vício de origem no Brasil em que, para cada problema que surge, deseja-se criar uma nova disciplina para formar melhor o estudante naquele tema. Certamente, essa é uma forma inadequada de compor uma matriz curricular. E o que o País pode fazer para que haja a modernização das estruturas curriculares? Não temos dúvida de que a estruturação de política florestal, com ações de curto, médio e longo prazo, com pressupostos e metas claras, mudará, de forma muito positiva, a atuação do engenheiro florestal e sua contribuição para o desenvolvimento do País. A falta dessa política reduz a atratividade da atividade florestal, não só como atividade de produção, mas também como atividade que possibilite conjugar renda com conservação. A representatividade da área florestal na federação e nos estados é difusa. Por outro lado, será que um programa arrojado de mudanças curriculares também não pode estimular a estruturação de uma política florestal que atenda às demandas da sociedade? Acreditamos que as duas, ocorrendo concomitantemente, gerem um grande boom na atividade florestal de nosso País, que está entre aqueles que têm as melhores condições do mundo para ser uma potência florestal. n

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nossas origens, nossos dilemas Em 1713, na cidade alemã de Leipzig, foi publicado o tratado sobre silvicultura econômica pelo então administrador de minas Hans Carl von Carlowitz, marcando, assim, o início do profissional da floresta. A publicação era uma resposta a um momento tenso. As minas da Saxônia estavam a todo vapor, e muita madeira era necessária para sustentar a atividade de mineração, especialmente na fundição do minério. O problema é que, para regiões que, em boa parte do ano, se

A certificação nos ajuda a comunicar o esforço de um setor que se equilibra entre o conservacionismo e o produtivismo. Essa é a navalha sobre a qual se equilibra, até hoje, o profissional florestal. " Eric Bastos Gorgens Professor de Manejo de Nativas e Otimização Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

encontram em temperaturas negativas, a madeira também era fundamental para a sobrevivência da população, sendo frequentemente comparada ao “pão do dia a dia”. A madeira tinha importância central na vida das pessoas, seja para a construção civil, seja para o aquecimento das casas e da comida. De forma inovadora para a época, o tratado de silvicultura econômica estabeleceu, pela primeira vez, de maneira formal, a regra fundamental que norteia o profissional das florestas: para garantir a

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continuidade e perpetuidade dos recursos florestais, é necessário balancear o plantio, o crescimento e o corte de árvores. O profissional florestal nasce na Alemanha, mas rapidamente começa a se espalhar pela Europa. Já no século XVIII, os florestais franceses deram um grande impulso à ciência florestal. A Inglaterra, o principal país industrializado da época, exporta a profissão para a Ásia e transforma grande parte das florestas da Índia britânica em propriedade da coroa. As florestas eram vistas como estratégicas para os planos industriais da coroa britânica e passaram a ser manejadas por “profissionais”, em detrimento das populações locais.


Opiniões A visão industrialista, focada na maximização produtiva e econômica, muda a forma de enxergar as florestas. Na Europa, a multiplicidade de espécies que coexistem numa aparente desorganização começaram a dar lugar a florestas cada vez mais e mais homogêneas, aproximando o manejo florestal da percepção agrícola do cultivo. Como veremos mais adiante, esse conceito seria logo exportado para outros países, como, por exemplo, o Brasil. Apesar de a origem do Brasil estar intimamente ligada à exploração dos recursos florestais, o profissional das florestas demorou a aportar por essas terras. Algumas espécies foram notoriamente lastro para o desenvolvimento do País, com destaque para as reconhecidas: pau-brasil (Paubrasilia echinata), araucária (Araucaria angustifolia), jacarandá (Dalbergia nigra), cedro (Cedrela fissilis), mogno (Swietenia macrophylla) e de menos reconhecidas, como aroeira (Astronium urundeuva) e braúna (Schinopsis brasiliensis). Digo menos reconhecidas, pois foram espécies que sustentaram a intensa urbanização e colonização das terras do ouro e do diamante. Até aqui, no Brasil, nada ou muito pouco se falava da necessidade de se desenvolver uma ciência florestal nacional.

Uma motosserra primitiva exposta no Museu da Floresta Finlandesa, em Lusto, Finlândia

A percepção predominante na época era inequivocamente extrativista. A natureza era pródiga, o Estado brasileiro era imenso. A percepção da escassez não estava presente, a não ser em alguns poucos intelectuais e estudiosos. É importante reconhecer o quanto tardia foi a criação da primeira escola de florestas. A temática florestal ora ou outra surgia em nosso país, como, por exemplo, com os regulamentos sobre as madeiras de “lei”, em 1698, com a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1808, com a criação do Serviço Florestal do Brasil, em 1921 (não confunda com o atual Serviço Florestal Brasileiro), com a criação do Conselho Florestal Federal e do primeiro código florestal, em 1934, e com a criação do Instituto Nacional do Pinho, em 1941. Somente em 1960, ocorreu a criação da primeira Escola Nacional de Floresta em Viçosa-MG, que, logo depois, migraria para Curitiba-PR. A visão industrialista marcava a época, tendo seu auge em 1956, com a eleição do mineiro Juscelino Kubitschek para a presidência da república, com um slogan de ”Cinquenta anos em cinco”. O Brasil pautou seu crescimento e desenvolvimento em direção ao Centro e Norte do País, abrindo estradas e ocupando o interior do País. Fábricas foram abertas aos montes, trazendo a percepção de que o País ia logo fazer parte do seleto grupo de países desenvolvidos. De fato, a visão produtivista não era exclusividade do Brasil. Essa visão foi amplamente difundida principalmente no esteio do argumento de que projetos florestais teriam um efeito multiplicador na economia, proporcionando um intenso desenvolvimento social. As ciências florestais se aproximavam, cada vez mais, da percepção de cultivar das ciências agronômicas e se distanciavam da noção original de manejar. Esse contexto irá pautar o constante conflito vivido e vivenciado pelos profissionais florestais: o produtivismo enraizado na formação do florestal (florestas de produção e silvicultura industrial) com o conservacionismo, enraizado na percepção social. Esse dualismo vai se refletir dentro da própria formação do florestal no Brasil, onde persistem divisões quase antagônicas, como ”plantadas” versus ”nativas”. Se olharmos pelo viés político, o setor florestal fica eternamente na queda de braço entre o Meio Ambiente e a Agricultura. É curioso como grande parte dos alunos chega ao curso de engenharia florestal pelo viés da conservação. Não é rara a confusão entre engenharia florestal, engenharia ambiental, biologia e outras formações voltadas para o meio ambiente. O profissional da floresta, embora tenha nascido ;

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academia do desafio da busca pela sustentabilidade, ainda não reconheceu que o grande valor da sua profissão está justamente na sustentabilidade, seja qual for a área de atuação escolhida. Da década de 1960 para cá, o setor florestal associado à silvicultura industrial decola. Uma grande quantidade de empresas florestais despontam em setores que vão da celulose à energia. Esse setor se consolida não só do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista político e econômico. Logo os profissionais da floresta se descolam da agronomia, que, durante os primeiros anos, sustentaram e emprestaram ao setor florestal grande parte da credibilidade de seus pesquisadores e estruturas. O setor florestal passa a colecionar características singulares que vão cada vez mais se distanciando da agronomia, como o alto capital imobilizado, a longevidade dos projetos, a percepção ambiental das florestas, o uso de terras marginais, a tecnificação, entre outras. Chega o momento em que até a representatividade de classe passa a ser questionada, materializando-se na proposta de separação no âmbito do Confea do grupo da agronomia, que historicamente é dominada pela agronomia.

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Opiniões Socialmente, a associação ambiental com florestas é muito forte. A certificação surge como um reflexo da Eco-92 para tentar ajudar nesse diálogo entre setor florestal e sociedade. Inicialmente voltado para florestas nativas, logo o setor de plantadas embarca nessa iniciativa e passa a ser um grande demandante por tais selos de boas práticas sociais, ambientais e econômicas. Novas preocupações começam a rondar o florestal, como uso múltiplo da floresta, a agrossilvicultura, a integração lavoura-floresta-pecuária, o plantio direto, a conservação da água, a adubação verde e a conservação do solo. Se a sustentabilidade estivesse, de fato, enraizada no setor florestal, a certificação seria desnecessária. A certificação nos ajuda a comunicar o esforço de um setor que se equilibra entre o conservacionismo e o produtivismo. Essa é a navalha sobre a qual se equilibra, até hoje, o profissional florestal. O século XXI traz a quarta onda, que atinge com força um setor florestal maduro e tradicional. Acordamos com um novo linguajar: floresta 4.0, internet das coisas, startup, dashboard, BI (Business inteligence), inteligência artificial e programação. As escolas florestais de bacharelado, que hoje chegam a 75, começam a se deparar com um novo e interessante dilema: como incluir todas as habilidades e competências necessárias ao futuro profissional na formação do florestal? Em meio a disputas por nichos da atuação profissional (ex.: engenharia florestal vs biologia), discutem-se mudanças nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Engenharia Florestal. Discutem-se quais disciplinas devem integrar a grade básica da formação dos futuros profissionais. Discutem-se quais as habilidades e competências necessárias ao profissional da floresta. Nos defrontamos com muitas questões interessantes, que certamente nos fazem refletir sobre o futuro do profissional da floresta. Não é o momento de fingirmos que tudo está bem. É hora do diálogo entre os setores. É hora de entendermos nossa história e enfrentarmos nossos dilemas. Na academia, é hora de repensarmos a sala de aula e os métodos de ensino; na empresa, é hora de repensarmos os estágios e os processos seletivos. É hora de repensarmos como deve ser a relação entre academia e empresa. É hora de repensarmos como as florestas plantadas se relacionam com as florestas nativas. O fato é que temos uma profissão atual e relevante. Uma profissão que nos ensina que é possível conciliar produção com conservação, por meio de uma palavra simples, mas que carrega o peso da nossa história: manejar! n Incorporação de novas tecnologias na formação dos profissionais florestais.



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atualidades como desafios para a formação A formação do homem florestal se confunde com a história da humanidade, diante de sua eterna relação com as florestas. A evolução da humanidade sustentará essa relação, porém impondo a necessidade de enorme habilidade às futuras gerações no que se refere ao discernimento e, principalmente, ao conhecimento capaz de promover conservação e produção florestal para suas demandas e bem-estar. Nos remete a pensar no quão desafiador é zelar pela preservação dos ecossistemas florestais, concomitantemente à nossa crescente necessidade por matérias-primas de origem florestal. Essa relação com as florestas impôs a necessidade de uma ciência dedicada a gerar conhecimentos sobre as florestas, em suas mais diferentes condições e regiões do mundo, e, assim, a formação de um novo homem florestal, mais capaz, para estreitar as relações intensificadas com o aumento da população e a crescente demanda por produtos e serviços provenientes das florestas. A gênese dessa ciência ocorreu na Alemanha, nos primórdios do século XIX, se expandindo pelo continente europeu.

No Brasil, um século depois, na década de 1920, germinava a ciência florestal, inicialmente compreendida na silvicultura nos cursos de agronomia, com relatos de ensino na UREMG – Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Viçosa) e na ENA – Escola Nacional de Agronomia (atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Em consonância com as atividades de ensino, já havia no País ações florestais desenvolvidas por instituições como o Serviço Florestal Federal, criado em 1921, e o Instituto Federal do Pinho, com origem em 1941. A crescente e desordenada exploração das florestas nativas, aliada à necessidade de suprimento de madeira para determinados setores, inclusive industriais, despertou em dirigentes do governo e de empresas o entendimento sobre a necessidade de profissionais mais habilitados para conduzirem ações para soluções dos problemas florestais, incluindo, inclusive, domínios em tecnologias relacionadas ao processamento de matérias-primas substrato para a produção de bens. Para a criação dessa desconhecida profissão no Brasil, iniciam-se, assim, providências do Serviço Florestal, com apoio da FAO – Food Agriculture Organization, para a criação da ENF – Escola Nacional de Florestas, em maio de 1960, decretando: “A Escola Nacional de Florestas tem por fim ministrar a instrução superior, profissional e técnica, referente às ciências florestais, para o exercício da profissão de Engenheiro Florestal em todo país”. Ainda na década de 1960, surgem mais duas escolas de florestas e o IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.

O fato é que inovações e mercado seguem ágeis por caminhos convergentes, sinalizando para a necessidade de constante revisão e atualização na formação do homem florestal. " Sílvio Nolasco de Oliveira Neto

Professor do Dpto. de Engenharia Florestal da UF-Viçosa

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academia O ensino florestal no Brasil continuou evoluindo nos anos seguintes com a criação de mais sete escolas na década de 1970, cinco na de 1980 e mais cinco na de 1990, perfazendo um total de 20 escolas até 2000. Nas últimas duas décadas, observa-se forte expansão, totalizando 74 cursos. Criadas as escolas para formação profissional, cria-se a carreira de Engenheiro Florestal, regulamentada através do Decreto-lei Nº 289, de 28/02/1967, posteriormente regulamentada através do Art. 10 da Resolução 218 de 29/06/1973, do CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Estabelecem-se, assim, relações entre as Instituições de Ensino Superior, subordinadas ao Ministério da Educação, e o sistema CONFEA/CREA, para fins das diretrizes da Engenharia Florestal. Passadas seis décadas, as atribuições profissionais do engenheiro florestal foram alteradas no que diz respeito à legislação e ao ensino. Mas, em meio à expressiva expansão e evolução de setores produtivos, envolta às crescentes questões ambientais de um Brasil florestal, conhecimentos e habilidades profissionais continuam demandando atualizações capazes de sustentar a profissão na vanguarda do tema florestal. Em tempos recentes, domínios de conhecimento relacionados à geotecnologia, pesquisa operacional, automação, biotecnologia, nanotecnologia, serviços ecossistêmicos e inovabilidade, associados a perfis profissionais com habilidades na área de gestão de pessoas e de projetos, liderança, empreendedorismo e startups, compõem o cotidiano do profissional florestal, indicando necessidade de constante aprimoramento à sua formação. Mas quais caminhos seguir no sentido de contemplar atualidades na formação do homem florestal? A priori, contemplar eventuais abordagens às especificidades definidas à engenharia florestal pelo Sistema CONFEA/ CREA, assim como as diretrizes curriculares estabelecidas na Resolução Nº 3, de 02/02/2006, pelo Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação. Em conjunto, e talvez de forma mais urgente, restabelecer os elos de discussão entre as Instituições de Ensino Superior, Sistema CONFEA/CREA e os setores da economia atuantes na área florestal. Nesse contexto, entendo que o segundo setor (privado) seja alicerce balizador para o aprimoramento da formação do profissional florestal. Isso ocorrendo, poderíamos realinhar as discussões a respeito dos avanços da ciência e as demandas do mercado florestal

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Opiniões e, assim, redefinir estratégias capazes de adequar a formação. Sob esse aspecto, é oportuno destacar a importância que os fóruns florestais nacionais, frequentes no passado e raros no presente, apresentam diante de promoção de constantes diálogos entre profissionais florestais atuantes em instituições de ensino/pesquisa, mercado e órgãos representativos de classe. No aspecto do ensino florestal, desafios passam pela habilidade em contemplar eventuais temas referentes a novos domínios do conhecimento à matriz curricular, emoldurada em núcleos de conteúdos básicos e profissionais essenciais, determinados por normas vigentes, mas também enrijecida por discussões referentes a reservas de mercado entre modalidades profissionais às vezes convergentes. Não obstante as necessidades de parte dessas discussões, o aprimoramento da formação do homem florestal deve ser imperativo, visando manter adequadas suas habilidades aos avanços das tecnologias e especificidades organizacionais no presente e num futuro próximo. Assim, a discussão provavelmente transitaria pela reestruturação curricular da engenharia florestal e, entendo, com foco principal em disciplinas optativas, que poderiam apresentar módulos menores, porém mais diversificados em abordagens. Outra perspectiva poderia seguir pelas “atividades complementares” (por exemplo, módulos temáticos e seminários, entre outras), já contempladas nas normativas do MEC e, assim, de mais fácil implementação, porém pouco exploradas pelas instituições do ensino florestal no sentido de ampliar o foco em inovações associadas ao mercado de trabalho. Intensificando-se essas abordagens, favorecer-se-iam, também, oportunidades para graduandos flexibilizarem sua formação direcionando conhecimento e domínio em áreas de maior afinidade. Poder-se-ia, também, considerar outras oportunidades para contemplar conhecimento e habilidades complementares à essencial, através da formação continuada (pós-graduação latu senso). Nesse contexto, necessário seria ampliar parcerias entre instituições de ensino e pesquisa com setores interessados para definição e criação de cursos/módulos, considerando inclusive as perspectivas que a educação à distância apresenta. O fato é que inovações e mercado seguem ágeis por caminhos convergentes, sinalizando para a necessidade de constante revisão e atualização na formação do homem florestal. n


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engenharia florestal, filha de grandes universidades Celebramos 61 anos de engenharia florestal no Brasil. Mudanças evidentes e avanços expressivos marcam essa história incrível, partindo de grandes mestres desbravadores, que contaram com apoio e conhecimento vindo da Europa. Essa base foi determinante para a engenharia florestal no Brasil, país com importância mundial no contexto de produção florestal e serviços ambientais. O surgimento do curso partiu da preocupação relacionada ao uso e mudanças dos ecossistemas florestais, paralelamente à perspicácia de alguns silvicultores da época, que prognosticaram a escassez de madeira em um futuro próximo. Assim, em 1960, foi criada a Escola Nacional de Floresta, um pouco de Universidade Federal do Paraná – UFPR e Universidade Federal de Viçosa – UFV. Ambas, ainda referência em nossa área, serviram de base à formação dos primeiros cursos de engenharia florestal, estrategicamente distribuídos no Brasil.

Pergunto, alguma profissão tem mais competência e habilidade para conduzir florestas do que a nossa? Desconheço! "

Maristela Machado Araujo

Coordenadora do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria

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Na região central do Rio Grande do Sul, em dezembro de 1970, dez anos após a fundação da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, tem-se o início o curso de engenharia florestal com a primeira turma ingressando em janeiro de 1971. Os professores, na época, eram egressos da UFPR, UFV e da Áustria e, posteriormente, foram alguns dos primeiros egressos da UFSM (Professores Paulo Schneider, Solon Longhi, Doádi Brena, Franklin Galvão, Maria Mezzomo, Sonia Bitencourt e Juarez Hoppe). Qual era a situação dos docentes e egressos na fase inicial? No meu ponto de vista, formado com base em leituras, observações e conversas, existiam muitos desafios:


Opiniões a) o desmatamento intensivo e a conversão de áreas para uso agropecuário; b) o crescimento lento das espécies nativas e os poucos estudos sobre as mesmas; e c) a silvicultura de espécies como Eucalyptus spp., Pinus spp., Acacia mearnsii (no RS), que demandava maior aprimoramento. Diante dessas circunstâncias, como proceder? Com os incentivos fiscais (Lei 5.106/1966) para florestamento e reflorestamento, era necessário apoio técnico para tais investimentos, em uma área de atuação nova e com pouco conhecimento sobre as espécies plantadas. Assim, surgem muitos engenheiros florestais pesquisadores, pois a assistência técnica dependia de observações e aprendizado. Sabe-se que muitos desses empreendimentos não tiveram êxito, pois as pesquisas florestais demandam maior tempo para gerar resultados e conclusões, além da dificuldade no compartilhamento das experiências. Entretanto, paralelamente a algumas frustrações, havia maior direcionamento sobre

quais espécies apresentavam maior potencial de adaptação nas diferentes regiões, que apresentavam potencial para uso em propriedades rurais, siderurgia e celulose (ênfase ao Eucalyptus e Pinus), além do fato de estar mais evidente a importância do reflorestamento para o suprimento de madeira. Naquele momento, suponho que existiam muitas incertezas. Em um Brasil diverso, então, qual seria o caminho mais viável? Aproveitar os estudos e as experiências obtidas em países com realidades distintas ou, então, no Brasil, e intensificar os esforços. Em 1992, quando ingressei no curso de engenharia florestal da UFSM, lembro-me de que fui incentivada pela frase “Engenharia florestal é a profissão do futuro”. O sonho de salvar o mundo já nos primeiros anos corria nas veias, do mesmo modo que na de muitos outros jovens da época. Surge, então, o mundo universitário, capaz de mostrar as diferentes visões, viabilizando o aprofunda; mento teórico e prático.

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academia Havia o reconhecimento da importância de intensificar as técnicas com pesquisas visando ao avanço, dando cada vez mais suporte à engenharia florestal, que nos seus primórdios enfatizava a silvicultura, o manejo florestal e a tecnologia da madeira, além de uma abordagem inicial sobre a geotecnologia. Paralelamente, parte dos esforços eram dedicados à conservação e à sustentabilidade. Assim, ensino e pesquisa continuavam sendo o foco das universidades, mas ainda faltava maior interdisciplinaridade e interação com empresas e comunidades. Lembro-me também de que havia certa polarização dos pensamentos produção versus meio ambiente, como se um excluísse o outro. Entre colegas, discutíamos a necessidade de ambos evoluir juntos. Naquela época, tive muita curiosidade de conhecer outras regiões, foi quando segui para intercâmbios, pois precisava entender um pouco mais da engenharia florestal no contexto das espécies nativas, ainda que, a formação de povoamentos florestais me parecesse mais lógico “plantar para colher”. Nessas oportunidades, foi mais fácil entender que nem sempre o que é divulgado está correto, pois as realidades regionais diferem. A partir disso, entendi que era necessário vivenciar, analisar e, então, gerar uma nova interpretação, que não pode ser estática, mas deve estar apta à mudança quando diante de novas evidências. Atualmente, percebo os desafios da formação do engenheiro florestal do mesmo modo que na maioria das profissões, bem como a importância de perseverar. Isso fica evidente a partir da análise do setor de base florestal, o qual representa 1,2% do PIB nacional e possibilita a geração empregos diretos e indiretos a cerca de 1,8% da população. Esses resultados, inquestionavelmente, representam esforço conjunto, impulsionados pela capacitação de pessoas, geração de novas tecnologias, aumento da produtividade e da inovação. Assim, a engenharia florestal evoluiu junto com seus profissionais, agregando conhecimento no que se refere à silvicultura e ao manejo, visando disponibilizar matéria-prima para a tecnologia de produtos florestais.

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Opiniões A geotecnologia se torna forte aliada no planejamento e na tomada de decisões, amparada pela gestão ambiental. As grandes empresas não buscam somente novas áreas, mas também melhoram seus materiais genéticos, aperfeiçoam as técnicas, otimizando a produtividade e gerando novos produtos. Paralelamente, intensificam sua responsabilidade social e ambiental. No contexto da universidade, o que antes ficava no ensino e pesquisa, passou a incluir a extensão universitária. Atividades são planejadas para serem realizadas fora dos limites da instituição, oportunizando a interação com comunidades e empresas e a construção conjunta de novas ideias e ações. Posteriormente, o aprendizado é compartilhado com o grupo de trabalho e, obviamente, com os acadêmicos. Essa experiência é fundamental, possibilitando aos professores e acadêmicos o entendimento das demandas da sociedade. No retorno da atividade de extensão, orientamos o discente a identificar lacunas na formação e, em seguida, complementá-las, pois, afinal, as universidades que acolhem os cursos de engenharia florestal dispõem de múltiplas oportunidades. O curso chegou ao seu patamar ideal? Claro que não. Somos engenheiros florestais, assim, precisamos continuar projetando, realizando e inovando de modo contínuo, utilizando os recursos naturais para produção e conservação de florestas, qualificando a geração de serviços ecossistêmicos inerentes às florestas, preservando áreas com função de estabilização geológica e recuperando áreas que não cumprem sua função. Então, pergunto, alguma profissão tem mais competência e habilidade para conduzir florestas do que a nossa? Desconheço! Entretanto, àqueles interessados em realizar o curso e aos discentes em formação, destaco a necessidade de: a) entendimento preliminar da função do engenheiro florestal, capaz de produzir conservando o meio ambiente; b) determinação e curiosidade para o entendimento amplo e, então, específico da sua área, possibilitando inovações; c) estar disposto a atuar com ética profissional, o que inclui a responsabilidade. n


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universidade-empresa: uma parceria de sucesso Discutir acerca da temática proposta “Formação do Homem Florestal” e as contribuições para o desenvolvimento do sistema florestal brasileiro não é uma tarefa fácil, pois não restam dúvidas da necessidade de superarmos alguns paradigmas e desafios, apesar do expressivo número de universidades, centros de pesquisas e pessoal humano altamente capacitado que temos à nossa disposição. Tenho atuado há anos nas áreas do ensino e da pesquisa na área florestal por meio da formação de profissionais e pesquisadores, em duas frentes. A primeira voltada à formação de operadores de máquinas florestais, onde, há exatamente 17 anos, em parceria com o setor privado, criamos o Centro de Formação de Operadores de Máquinas (CENFOR), projeto então inédito, que vem sendo executado no ambiente da universidade. Nessa trajetória de sucesso, foram mais de 4.000 operadores capacitados, principalmente atendendo às pequenas e médias empresas florestais que não tinham acesso à formação de operadores. A segunda frente, como coordenador de programa de pós-graduação, tendo a missão de contribuir para a formação de profissionais e pesquisadores qualificados para atuarem na docência, na pesquisa ou como profissionais para o mercado de trabalho, além de fomentar a produção e disseminação dos conhecimentos científico e tecnológico para o desenvolvimento do País. Neste artigo, vamos discutir acerca da segunda frente, que é extremante complexa e desafiadora, pois formar recursos humanos e fazer ciência em nosso País não é uma tarefa fácil, devido às enormes dificuldades de diversas naturezas. Importante iniciar destacando que possuímos um setor florestal bem organizado, que teve um enorme crescimento nas

últimas décadas e que tem contribuído para o desenvolvimento sócio-econômico-ambiental do País. Tais resultados expressivos somente foram possíveis pelo desenvolvimento de novas tecnologias a partir das pesquisas e competências de nossos profissionais, destacando-se a participação do fator humano cuja base de formação foi e sempre será a universidade. Dentro do ambiente da universidade, importante mencionar que temos um sistema brasileiro de pós-graduação consolidado, sendo destaque na produção científica e na formação de recursos humanos de alta competência para atuar em todas as áreas do conhecimento científico-tecnológico, com número suficiente voltado à engenharia florestal, e que tem contribuído consideravelmente para o setor empresarial. Em relação à pós-graduação (stricto sensu), temos 28 programas nas áreas de Recursos Florestais e Engenharia Florestal distribuídos em todas as regiões do país, sendo 11 programas com curso de mestrado acadêmico, dois com mestrado profissional e 15 com mestrado e doutorado acadêmicos, voltados à formação de mestres e doutores qualificados, com visão científica e tecnológica responsáveis pela produção do conhecimento. No entanto toda essa estrutura disponível nas universidades, principalmente em relação aos recursos humanos, ainda é pouco

É evidente a necessidade de superarmos alguns paradigmas e desafios, rompendo o distanciamento existente entre a universidade e a empresa. "

Eduardo da Silva Lopes

Professor de Colheita e Transporte Florestal e Coordenador de Pós-graduação em Ciências Florestais do Unicentro

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Opiniões aproveitada, existindo, em geral, um certo distanciamento entre a universidade e a empresa quando se trata do desenvolvimento de pesquisas científicas, muitas das quais poderiam solucionar parte dos problemas enfrentados pelas empresas florestais. É notório que as universidades, por meio da pós-graduação, têm capacitado profissionais com excelente base de conhecimentos científicos especializados, entretanto, com uma visão mais acadêmica e com produtos mensurados apenas pela publicação de artigos em revistas indexadas, e que, muitas vezes, não têm uma aplicação prática imediata, ou não são aplicados em todo seu potencial. Outro ponto é a necessidade de avançarmos nas pesquisas tecnológicas inovadoras, com aplicabilidade prática nas empresas florestais. Devemos também destacar que muitos atores que integram as universidades brasileiras ainda possuem uma mentalidade politizada, contrária ao contexto do mercado de trabalho e com fortes resistências de aproximação com o setor produtivo, alegando o seu compromisso público, o que entendo não ocorrer com frequência na área florestal. Finalmente, sabemos das diversas dificuldades enfrentadas pelas universidades públicas com a falta de recursos financeiros para o financiamento das pesquisas em termos de investimentos de capital, custeio e bolsas de estudos, dificultando, assim, o aproveitamento das potencialidades de nossos recursos humanos. Por outro lado, temos um setor empresarial que tem buscado por profissionais com capacidade de liderança e gestão de pessoas, com visão ampla nas diversas áreas do conhecimento, com foco em inovação e que busca por resultados de aplicação imediata para agregar valor às empresas. Inclusive, esses imediatismos de resultados acabam levando muitas empresas a aplicar recursos financeiros significativos com

consultorias especializadas, quando muitos dos problemas poderiam ser solucionados pelas pesquisas em parceria contínua com a universidade. No caso florestal, é inegável que muitas empresas, principalmente aquelas de maior porte, mantêm um modelo estruturado e organizado para a execução de pesquisas e consequente solução de seus problemas. Nesse contexto, existem várias parcerias de sucesso com a universidade, mas poderiam ser bem mais efetivas com uma aproximação maior entre as partes. Portanto fica evidente a necessidade de superarmos alguns paradigmas e desafios, rompendo o distanciamento existente entre a universidade e a empresa. Nesse sentido, o estabelecimento de um modelo de parceria público-privada é o caminho para o sucesso, devendo haver um trabalho integrado entre as partes para alcançar os seguintes resultados: a) formação de recursos humanos voltados ao exercício profissional e ao mercado de trabalho, com pesquisas aplicadas para a resolução de problemas no ambiente das empresas; b) execução de pesquisas tecnológicas inovadoras com incentivo ao desenvolvimento de produtos, processos e serviços em atendimento às necessidades das empresas; c) apoio do setor empresarial por meio de investimentos para o desenvolvimento de pesquisas, não somente com cessão de áreas de estudos, mas também no custeio e bolsas de estudos aos pesquisadores; d) oferta de programas de treinamento aos pesquisadores durante a pós-graduação; e principalmente, e) absorção dos mestres e doutores em seus quadros de colaboradores, após finalizadas as pesquisas e visando dar continuidade a novos projetos. Obviamente que tal aproximação e resultados exigem uma profunda mudança de mentalidade dos atores (universidade e setor empresarial), devendo todos entender a sua cota de responsabilidade. Devemos destacar que todos os ganhos alcançados até hoje se devem ao fator humano e que a quase totalidade dos atuais gestores e profissionais florestais passaram pelos bancos das universidades, onde receberam conhecimentos básicos e especializados. Portanto a parceria universidade-empresa, com maiores apoios e investimentos nas pesquisas e na formação de recursos humanos reverterá em ganhos para a nossa sociedade, mas, sobretudo, para as empresas do setor florestal, sendo a chave do sucesso para um futuro melhor. n

UNICENTRO, Campus de Irati-PR

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a engenharia florestal precisa se modernizar A profissão de engenheiro florestal teve o seu primeiro curso estabelecido no Brasil na Universidade Federal de Viçosa, em 1960, devido à crescente demanda pelo manejo de recursos florestais. A cada ano, novos cursos são implementados, e, entre 2000 e 2019, o número passou de 21 para 76, e a quantidade de engenheiros florestais formados anualmente explodiu: de cerca de 300 para 1.500 profissionais. Esse crescimento foi similar ao crescimento de graduados em todas as áreas nas últimas duas décadas, que passou de 325 mil para 1,25 milhão de profissionais, um aumento de 385%. Apesar da larga abrangência de atuação do profissional florestal e da sua importância socioambiental e econômica para o País, esse rápido crescimento, ao mesmo tempo em que preenche uma lacuna, gera maiores salários trazidos pelo aumento no grau de escolarização, mas pode resultar no aumento de profissionais não atuando na área de formação ou em empregos que demandam uma menor qualificação. Nos últimos 20 anos, a quantidade de formados em biologia cresceu 371%. A agronomia formava cerca de 3 mil e hoje são mais de 12 mil anualmente. A engenharia ambiental formou apenas 17 profissionais em 2000, enquanto, hoje, graduam-se 6 mil profissionais por ano. Cenário similar ocorre com o curso de gestão ambiental, que não existia em 2000, e, atualmente, formam 6 mil gestores ambientais. Todas as profissões buscam desenhar o seu projeto pedagógico de acordo com as demandas da sociedade, e é altamente enriquecedora a inserção da diversidade de profissões ocupando o mesmo ambiente de trabalho florestal.

Outro fator que pode pesar na inserção do jovem profissional no mercado de trabalho é a atualização dos currículos acadêmicos da engenharia florestal. O mundo passou por inúmeras mudanças desde a criação do primeiro curso de engenharia florestal no Brasil, mas o currículo – de maneira geral – não acompanhou essa transformação. A população triplicou, passando de 72 para 210 milhões. O percentual de pessoas morando no meio rural passou de 55% para 15%. A demanda por produtos florestais é crescente, basta ver o exemplo da produção mundial de papel tissue (papel higiênico, papel toalha), que foi de 3 milhões para 35 milhões de toneladas por ano. O açaí, como um dos principais produtos florestais não madeireiros, passou de uma produção “caseira” concentrada no Norte do País para mais de 1,3 milhão de toneladas ao ano. Não se cogitava, há seis décadas, a existência de um mercado de carbono, e, atualmente, empresas, ONGs e profissionais se especializam na quantificação e na gestão desse mercado. Os atuais sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ou sistemas agroflorestais) já ocupam cerca de 3 milhões de hectares, segundo a Rede iLPF. Por fim, a restauração sempre foi tema desde a criação do curso, mas a chamada Década da Restauração, a ser lançada pela Organização das Nações Unidas em junho de 2021, impulsionará a temática junto à sociedade. Destacamos que o currículo acadêmico que nos trouxe até aqui foi excepcional e pensado por grandes mestres. Ele serviu para tornar-nos líderes mundiais em muitas áreas das ciências florestais.

A cada ano, novos cursos de engenharia florestal são implementados, e, entre 2000 e 2019, o número passou de 21 para 76, e a quantidade de formados anualmente explodiu: de cerca de 300 para 1.500 profissionais. " Rute Berger e Rodrigo Eiji Hakamada Professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco

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Opiniões Somos respeitados em qualquer canto no “mundo florestal”. Porém precisamos repensar a formação do profissional florestal dentro das universidades, e uma das formas de modernizar a formação é por meio da revisão do currículo dos cursos. As mudanças nas últimas décadas não foram refletidas nos currículos. Para isso, basta observar a matriz curricular do primeiro curso em 1960. O primeiro semestre possuía as disciplinas básicas, como matemática, química, física, botânica e desenho, além da introdução à engenharia florestal. No meio do curso, havia disciplinas como dendrometria, dendrologia, anatomia e tecnologia da madeira. Já o último semestre, com inventário, política e legislação, ordenamento florestal, economia, fitopatologia e proteção de áreas naturais. Notam-se hoje mais de 80% de semelhança com a primeira grade curricular. Certamente, houve atualização nas ementas e conteúdos, porém a estrutura e os métodos de ensino permanecem quase inalterados, o que tende a manter os estudantes com uma atuação passiva em seu próprio processo de aprendizagem. Há necessidade de modernização e alinhamento dos métodos e das abordagens pedagógicas, estimulando o pensamento crítico e a aprendizagem autônoma, pois acesso ao conteúdo e materiais não são mais problema. Fizemos um levantamento de vagas oferecidas para engenheiros florestais no País entre 2018-2020. Avaliamos mais de 200 vagas oferecidas a profissionais recém-formados por empresas, consultorias e ONGs nos últimos 3 anos. VAGAS OFERECIDAS PARA ENGENHEIROS FLORESTAIS Posições

Tipo

%

Conhecimento técnico/prático

73

Excel

48

Inglês avançado

43

Análise de dados

39

Carteira de motorista

29

Experiência de campo

25

SIG

23

Disponibilidade para mudança

23

Trabalho em equipe

21

Habilidades de comunicação

21

Orientação para resultados

13

Habilidades técnicas Qualificações pessoais Habilidades interpessoais

Observa-se que TODAS as habilidades exigidas pelas organizações nos processos seletivos não são obtidas em sala de aula. Baseados nessa realidade, desejamos lançar algumas ideias para discussão de reformulação do curso. 1) Aumentar a vivência prática fora da sala de aula, para além dos muros da universidade, para que os futuros profissionais possam vivenciar a profissão in loco. Com o processo de urbanização, é crescente a falta de conexão do jovem com o meio rural, e apenas a vivência poderá aproximar o estudante da “realidade florestal”. Além do aumento do tempo e do incentivo à realização de estágios, uma das maneiras de fomentar a prática é introduzir na matriz curricular os chamados “cursos de verão”, como ocorre na América do Norte e na Europa, nos quais os estudantes passam entre 1 e 3 meses em campo praticando atividades florestais diversas, fomentando a interdisciplinaridade e o desenvolvimento do pensamento crítico. 2) A pandemia acelerou a importância de trabalhos em rede. A colaboração virtual possibilitou ao estudante “vivenciar” outra rotina, mesmo que há milhares de km de distância. Por que não termos mais disciplinas “interbiomas”, conectando graduandos de todas as regiões do País ou até mesmo do mundo? 3) Focar em análise de dados, gestão de banco de dados e linguagens de programação, como SQL, R e Phyton, em substituição à tradicional informática, uma vez que 48% das vagas exigiam Excel avançado (ou linguagem de programação) e 39% demandavam conhecimento em análise de dados. Técnicas de sensoriamento remoto e SIG são cada vez mais requisitadas (incríveis 23% das vagas) e devem ter um espaço maior nas matrizes curriculares. 4) Fomentar o uso da língua inglesa, como, por exemplo, através de disciplinas realizadas de maneira virtual para diversos países, em que há a interação de estudantes de várias partes do mundo para debaterem grandes problemáticas atuais. O inglês deve ser, de fato, incorporado às bibliografias obrigatórias para motivar os estudantes a buscarem mais pelo idioma e por informações em outros materiais de qualidade, principalmente em periódicos científicos de alto impacto. No nosso levantamento, 43% das vagas exigiam inglês avançado. 5) Reduzir disciplinas básicas como física, química, matemática e biologia celular, incorporando parte de seus conteúdos em disciplinas florestais. As disciplinas básicas são importantes e essenciais, mas poderiam ser tratadas fora de uma matriz oficial, muito mais como um reforço do ensino médio e do conhecimento mais ;

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academia aprofundado, fomentando inclusive a aprendizagem autônoma. Além disso, os dois primeiros anos devem servir para motivar os estudantes a encontrarem alguma área de interesse e vislumbrar as infinitas possibilidades de atuação profissional, principalmente pelo fato de este ser o momento em que há a maior desistência do curso (80% da evasão ocorre nos dois primeiros anos, dados UFRPE). 6) Assuntos como sistemas agroflorestais, empreendedorismo, produtos florestais não madeireiros, bioeconomia, energia florestal, mercado de carbono, manejo da paisagem devem fazer parte dos conteúdos devido à atualidade dos temas, bem como para atrair os futuros universitários. A incorporação de atividades extraclasse voltadas ao aprimoramento de habilidades interpessoais e técnicas de gestão também necessitam de atenção especial. O CREA tem se movimentado para realizar a discussão do currículo, bem como individualmente os cursos precisam aprimorar o seu projeto pedagógico. Na UFRPE, estamos fazendo um esforço coletivo a fim de aumentar as horas práticas dos estudantes e de revisar o currículo buscando a sua modernização. Por iniciativa de um grupo de alunos do primeiro período, foi criado o Grupo de Práticas Florestais, que possui o objetivo de dar aos alunos os seus próprios projetos, em lugar de seguirem

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Opiniões um pós-graduando em seu projeto de pesquisa. Também estamos criando a disciplina chamada “Global Forestry”, com o intuito de abranger a terceira sugestão comentada. O esforço conjunto dos estudantes e docentes da instituição permitiu elevar a taxa de atuação na área florestal de 33% para 74%, quando comparamos o biênio 2019-2020 com o período entre 2008 e 2017, chegando a um nível similar ao obtido pela escola de referência desse levantamento, a Esalq-USP, onde, no mesmo período, cerca de 80% dos formados atuavam na área. Sabemos que os currículos devem seguir algumas diretrizes das engenharias e da engenharia florestal regidas pelo Ministério da Educação. Porém, como próximo passo, lançamos aqui o desafio de a academia reunir a todos os setores envolvidos (estudantes, CREA, empresas privadas, consultorias, startups, ONGs, setor público) para fomentar a intensificação da participação dos estudantes em estágios extracurriculares, a criação de programas que ajudem os recém-formados a ingressarem no mercado de trabalho, como é o caso do PPGF/IPEF, além da realização de uma ampla discussão e consolidação de um currículo mais aderente ao momento atual da sociedade, flexível o suficiente para acompanhar as mudanças, mas sem perder os lastros no passado glorioso que nos trouxeram até aqui. n



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academia

a formação acadêmica do homem florestal A “formação do homem florestal” como ensino superior iniciou-se na Alemanha, na Academia Florestal de Tharandt, criada em 1811. Após, foram também implementados em outros países na Europa. Em Portugal, o ensino superior em floresta iniciou-se em 1864, com a criação do curso de Silvicultura no Instituto Geral de Agricultura em Lisboa e, em 1911, foi criado o Instituto Superior de Agronomia, com o curso de engenheiro silvicultor. Atualmente, existem, no mundo, cerca de 500 cursos florestais de nível superior. O curso de nível superior para “formação do homem florestal” no Brasil é a Engenharia Florestal, que tem por meta a sólida formação ética, moral e profissional que busque solucionar, de forma criativa e racional, os problemas, levando em consideração os aspectos econômico, social, ambiental, tecnológico, político e de gestão, em atendimento às demandas da sociedade e ao desenvolvimento sustentável.

O advento de novas tecnologias e sistemas inteligentes está transformando a forma de trabalhar e produzir (...) com o objetivo de reduzir a exposição e a influência humana. "

Nelson Yoshihiro Nakajima Coordenador do Curso de Engenharia Florestal da UFPR Coautoria: Allan Libanio Pelissari, Vice-coordenador do Curso de Engenharia Florestal da UFPR

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais, o curso de engenharia florestal deve estabelecer ações pedagógicas com base nos princípios do respeito à flora e à fauna; da conservação e recuperação da qualidade do solo, do ar e da água; do uso racional de tecnologia de forma integrada e ambientalmente

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sustentável; do emprego de raciocínio reflexivo, crítico e criativo; e do atendimento às expectativas humanas e sociais no exercício das atividades profissionais. As competências e habilidades do engenheiro florestal são: atuação no planejamento e na coordenação de projetos voltados ao manejo e à conservação dos recursos florestais, bem como na elaboração de pareceres técnicos, como em perícia e licenciamentos ambientais. Destaca-se também o exercício da docência em cursos de nível técnico e superior, tal qual a participação na pesquisa e no desenvolvimento de inovações tecnológicas em ambientes de florestas e indústrias de base. Compete também conhecer e atuar em mercados do complexo agroindustrial e de agronegócio; compreender e atuar na organização e gerenciamento empresarial e comunitário; atuar com espírito empreendedor; dentre outras.


Opiniões Início da engenharia florestal no Brasil: Com base na obra A engenharia florestal da Universidade Federal do Paraná: história e evolução da primeira do Brasil, de 2003, redigida pelos professores José Henrique Pedrosa Macedo e Sebastião do Amaral Machado, a primeira Escola Nacional de Florestas (ENF) foi criada em 30 de maio de 1960, por meio do Decreto-lei n° 48.247; inicialmente, alocada na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG), no município de Viçosa, em novembro de 1963, foi transferida à Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Decreto nº 52.828. Em março de 1964, o Governo do Estado de Minas Gerais criou a segunda Escola de Florestas, denominada Escola Superior de Florestas, incorporando-a à UREMG. Nesse mesmo ano, a primeira turma de engenheiros florestais do Brasil graduou-se na UFPR. A Escola Nacional de Florestas da UFPR solidificou-se como uma das instituições de ensino e pesquisa mais conceituadas do Brasil. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, sua denominação passou para Escola de Florestas, em 1967, Faculdade de Florestas, em 1971, e Curso de Engenharia Florestal, em 1973. Ademais, a Escola de Florestas estabeleceu relevantes convênios com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Universidade de Freiburg, da Alemanha, o British Council, a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, as Universidades de Santiago del Estero e de Misiones, da Argentina, dentre diversas outras parcerias que possibilitaram o pioneirismo na criação do primeiro curso de pós-graduação, em nível de mestrado em 1972, de doutorado em 1982, bem como o primeiro programa de pós-doutorado em 1998. Atual estágio profissional do homem florestal: O Brasil é considerado referência global em florestas plantadas (silvicultura), apesar de a profissão de engenheiro florestal ser ainda relativamente recente. Nas décadas de 1970 e 1980, existiam no País apenas quatro cursos de engenharia florestal. Também na década de 1970, o Governo Federal implementou os incentivos fiscais (FISET), iniciando, assim, a expansão dos reflorestamentos. O profissional florestal, nessa época, atuava mais na área de produção, principalmente no setor de plantios florestais. Com o advento dos movimentos ambientalistas a partir da década de 1980, ampliaram-se as vertentes de atuação também para a área

da conservação e da preservação ambiental. Hoje, no Brasil, existem cerca de 64 cursos de engenharia florestal, nas universidades públicas e privadas. Esses engenheiros egressos atuam tanto na área da produção quanto na área da conservação, tais como silvicultura; melhoramento genético; fitossanidade; inventário e manejo de florestas plantadas e nativas; colheita, exploração e transporte de madeira; máquinas e equipamentos; insumos florestais; manejo de unidades de conservação; automação e tecnologia da madeira; sensoriamento remoto e processamento de imagem; mapeamentos/SIG; mecanização e automação florestal; implementação de infraestrutura; programas de certificação florestal; recuperação de áreas degradadas; bioenergia, etc. Demanda futura da formação profissional do homem florestal: Em um momento no qual a humanidade vislumbra o princípio da Quinta Revolução Industrial, especialmente com o desenvolvimento de novos meios de comunicação, processos industriais automatizados, emprego de inteligência artificial e aprendizado de máquina para tomada de decisão em curto espaço de tempo, internet das coisas (IoT), Big Data, diversas demandas recairão sob as atribuições do profissional florestal. Nesse sentido, destaca-se o sólido conhecimento em estatística e linguagem de programação, visando à elaboração de cenários otimizados para decisão em diferentes níveis estratégicos, desde a floresta até o consumidor. Também o domínio das inovações no campo das geotecnologias, como o planejamento e a execução de coleta de dados por meio de veículos aéreos não tripulados (VANTs), e posterior processamento e interpretação, far-se-á cada vez mais necessário. Por outro, questões ambientais terão mais espaço no ambiente profissional, como a compreensão e a aplicação dos preceitos da sustentabilidade para o manejo dos recursos naturais, especialmente em ambientes de florestas tropicais. Considerações finais: O ensino superior para a formação profissional do “homem florestal” tem acompanhado e ajustado às demandas da sociedade e do setor florestal. O advento de novas tecnologias e sistemas inteligentes está transformando a forma de trabalhar e produzir, nas diversas atividades humanas, por meio da mecanização e automação cada vez maior, com o objetivo de reduzir a exposição e a influência humana. n

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os fornecedores do sistema florestal

treinar se tornou imprescindível

Seja para formação, atualização, treinamento de habilidades ou para conhecimento técnico, a capacitação acompanha o profissional florestal. Ao mesmo tempo, a evolução tecnológica traz também a necessidade de se manter atualizado aos novos comandos e às novas funcionalidades das máquinas florestais, que exigem cada vez mais conhecimentos “em tecnologia". Ao unir as duas premissas – capacitação e evolução tecnológica –, surgem os modelos de treinamentos fornecidos pelos próprios fabricantes de máquinas, envolvendo do nível operacional ao gerencial, desenvolvendo não só as habilidades técnicas, mas também análises, tomada de decisão e gestão. Instrutores, operadores, mecânicos, equipe de vendas ou de peças, aqueles que prestam suporte ao campo, todos eles devem estar em constante treinamento e atualização, na mesma velocidade em que as máquinas também recebem novos componentes e novas funcionalidades. Capacitar é importante não só para se ter sempre uma equipe capaz de desenvolver suas atividades, mas também para extrair o potencial máximo que uma máquina, ferramenta, ou software têm a oferecer. Contudo essa evolução tecnológica acelerada traz consigo um grande desafio: a capacidade de acompanhar esses avanços quando se fala da mesma pessoa. Nossa realidade nos mostra que muitos operadores, por exemplo, realizam

esses serviços nos últimos 20 ou 30 anos. Durante esse período, a transformação dos equipamentos exigiu que o profissional desenvolvesse, além da habilidade de operar, a capacidade de aprender coisas novas a todo momento. Com o advento da tão falada floresta 4.0, entendemos que a habilidade de aprender de forma contínua (life long learning) será o diferencial de cada profissional, por isso a importância e a relevância de soluções voltadas à capacitação de mão de obra. Os 3 pilares para uma colheita florestal de excelência Para uma colheita florestal de excelência, todas as áreas devem estar integradas e com um certo nivelamento de conhecimento. Acreditamos haver três pilares fundamentais a serem capacitados para o sucesso dessa operação: operacional, técnico e gerencial. O primeiro se destina a treinamentos para os operadores de máquinas. Não só se ensina como colher, ou como manusear a máquina, mas também a tomada de decisão, a gestão do equipamento e a visão em resultados. O treinamento técnico, desenvolvido para os mecânicos, é aplicado para intervenções mecânicas corretivas e preventivas necessárias e também para aprimorar a capacidade de análise e diagnóstico de falha, visando, principalmente, ao menor tempo de manutenção e, consequentemente, à maior disponibilidade mecânica (DM).

Devido à ausência de colégios técnicos, as empresas tomaram para si o papel de ensinar desde o básico aos seus operadores, mecânicos e gestores. "

Fernando Campos e Petri Nousiainen Diretor e Gerente de Treinamentos da Ponsse no Brasil, respectivamente

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Opiniões Ao mesmo tempo em que as máquinas agregam cada vez mais tecnologia embarcada, os treinamentos seguem a mesma direção. Podemos citar como exemplo os simuladores de operação e manutenção, que se utilizam de tecnologias como realidade virtual para criar uma atmosfera de aprendizado significativo. Esses elementos estão cada vez mais próximos daquilo que o operador, ou mecânico, vai encontrar no campo. E isso permite que ele consiga estabelecer mais rapidamente o raciocínio e a tomada de decisão, reduzindo a curva de ; aprendizagem.

Com operação e manutenção “afiadas”, é a vez da equipe gerencial. Líderes de campo, supervisores e gestores também devem estar atualizados a cada nova tecnologia correlacionada, pois, atualmente, muito além de cortar e processar as árvores, as máquinas geram dados e informações valiosas para planejamento, gestão e análise da operação, auxiliando na tomada de decisão. Essa equipe está focada no desenvolvimento operacional contínuo, portanto a constante atualização sobre novas ferramentas de gestão, técnicas de planejamento operacional e desenvolvimento operacional é essencial. Formatando um treinamento Um plano de treinamento sempre tem como foco a pessoa e a ampliação de seu conhecimento. Contudo, antes de se entrar em sala de aula com o conteúdo já definido, precisamos ter o conhecimento do ponto de partida, isto é, a real necessidade dos tópicos a serem abordados no treinamento. Com base nas avaliações, informações prévias e observações, é possível, então, identificar qual o nível de conhecimento de cada um sobre determinada ação e, assim, traçar um panorama para formatar o treinamento. Somente após a preparação do conteúdo é que o treinamento é efetivamente realizado e, logo ao final, é aplicada uma avaliação para identificação da evolução do aluno. A metodologia e as ferramentas para o treinamento são elementos-chave na execução dos planos de aula. Tendo estabelecida a necessidade, o ponto de partida do treinamento, o instrutor pode, então, definir a melhor metodologia e aliar as melhores práticas e ferramentas para obter o máximo de aproveitamento e aprendizado.

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os fornecedores do sistema florestal Outro ponto importante é o treinamento a ser realizado in loco, ou seja, no site de colheita, quando possível, nessa situação, faz-se necessária a solução de uma estrutura de treinamento móvel. A cultura florestal, o principal desafio brasileiro Com uma cultura florestal que ainda é um desafio no Brasil, as empresas do setor enfrentam uma lacuna na formação de mão de obra. Devido à ausência de colégios técnicos dedicados ao universo das árvores plantadas, as empresas tomaram para si o papel de ensinar desde o básico aos seus operadores, mecânicos e gestores. Desafio esse que deve se intensificar face ao alto nível de investimento previsto pelo setor nos próximos anos. Mesmo nos cursos de graduação, a importância dos dados operacionais, seu tratamento e posterior análise são, muitas vezes, neglicenciados, e, para suprir a necessidade desse conhecimento, clientes e fornecedores se unem no esforço de capacitar os diferentes níveis de profissionais dedicados à operação florestal. Se compararmos com os países do norte da Europa, onde há uma cultura forte de trabalho na floresta, o Brasil ainda precisa desenvolver alternativas de capacitação de mão de obra para a floresta plantada, sejam operadores, mecânicos, gestores, analistas... Por lá, as escolas para profissionais do setor são públicas e dão todo o embasamento para o aluno, enquanto as empresas os abastecem com os dados e as

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Opiniões

novas tecnologias. Talvez essa seja a maior demanda no Brasil hoje. No Brasil, por carência dessa cultura florestal, as indústrias de base florestal e os fabricantes de máquinas dominam a área de treinamento profissional para a floresta. Até mesmo a primeira escola pública de operação foi criada por uma companhia que demanda por profissionais voltados ao trabalho florestal. Os serviços sociais da indústria também aderiram ao movimento e oferecem cada vez mais soluções de treinamentos para a força de trabalho. No cenário brasileiro, a educação corporativa se faz cada vez mais necessária e estratégica. A formação interna do profissional é o principal diferencial. Com esse hiato de formação técnica, cabe ao próprio mercado capacitar seus profissionais, e, para isso, muito mais do que habilidades de colheita, se busca a capacidade de aprender e se manter em constante aprendizagem, de acordo com a velocidade e as demandas pujantes do mercado florestal. O advento dos novos investimentos na indústria de base florestal, previstos em 35,5 bilhões até 2023, segundo a Ibá – Indústria Brasileira de Árvores, mostra um futuro próximo com maior demanda por árvores plantadas. Mais uma vez, o foco será em quem está nas máquinas, nas oficinas, no campo ou no escritório: o homem e a mulher florestal. E, com isso, a oportunidade de reconhecimento e de entrar em um mercado que cresce cada vez mais. n


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os fornecedores do sistema florestal

a formação do homem florestal Mas, afinal, quem faz a floresta? Os diferentes profissionais que passam pelo processo do manejo florestal (do plantio à colheita), ou, antes disso, do planejamento das fábricas que irão consumir essa madeira até as imensas áreas de conservação de florestas naturais, todos passaram por processos de formação: cursos técnicos, de graduação, pós-graduação, treinamentos internos e por aí vai... Encontramos uma série de formatos que colocam a informação na frente desses profissionais, que vou chamar aqui de “silvicultores” ou “homem florestal”. Poderíamos dizer que o papel das faculdades e escolas técnicas pelo Brasil é o mais importante, pois forma profissionais para produzir e cuidar de florestas (plantadas ou naturais), porém sabemos que esse processo vai muito além das instituições de ensino.

Eu acredito que a formação do homem florestal deve ser feita pelos diferentes players do setor, unidos para um processo de aprendizado contínuo, que atualiza os envolvidos na operação florestal, ajudando a formar e aprimorar, cada vez mais, silvicultores que estão preocupados com as suas ações e que possam entender quais consequências essas ações têm para com “o todo”. Formação do homem florestal e o processo de inovação A necessidade, então, passa a ser formar pessoas que estejam prontas para aprender de forma contínua, em razão de inúmeros processos de inovação, cocriação, intraempreendedorismo e startups, que aceleram ainda mais a forma como ideias são geradas, testadas e compartilhadas. Esses processos de inovação estão muito acelerados e já mostram resultados fantásticos, levando a melhores práticas, novos produtos, diferentes serviços e chegam ao mercado a qualquer momento e em toda cadeia florestal. Entendemos que as melhores soluções são aquelas que partem das dores/problemas que o silvicultor sente/tenha no seu dia a dia; para entender e vivenciar isso, precisamos estar presentes, colocar recursos e energia no lugar certo, no campo, ao lado do silvicultor. Para que essa fórmula tenha sucesso, é necessário que os players desse mercado tenham um propósito alinhado, que mova a todos para o sucesso do setor florestal brasileiro.

O distanciamento necessário para conter a propagação do vírus da Covid-19 mudou radicalmente a forma como o conhecimento tem sido propagado no mundo e no setor florestal; os grandes treinamentos em campo e as salas de aulas abriram espaço para a 'formação digital' "

Ricardo Eugênio Cassamassimo Gerente Florestal Brasil da Bayer

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Opiniões Então, podemos dizer que uma solução desenvolvida e direcionada para resolver uma dor/ problema do silvicultor poderá realmente ser chamada de inovação. Mas, então, como fazemos para que essa inovação vá a campo e traga o sucesso planejado? A resposta é simples, mas demanda muito cuidado, esforço e planejamento: a formação contínua do homem florestal. Precisamos treinar, ensinar e ter certeza de que o processo esteja ocorrendo de forma sistêmica e operacional. Depois disso, precisamos monitorar, corrigir, treinar mais e mais, para garantir que o processo esteja ocorrendo nos padrões esperados. Todo esse esforço é muito compensatório quando vivenciamos a melhora na sanidade da floresta, a redução de custos responsável e, finalmente, o aumento da produtividade florestal. Formação do homem florestal e a sustentabilidade A consciência dos silvicultores para a sustentabilidade talvez seja a maior entre as profissões. As florestas a serem manejadas, plantadas ou naturais, para que tenham ciclos sustentáveis, precisam respeitar aspectos ambientais, sociais e econômicos. E, para encontrar esse equilíbrio, a formação do homem florestal passou por muitas mudanças e algumas resistências até chegarmos aos processos atuais. As certificações trouxeram o caminho para o desenvolvimento econômico e socioambiental para as empresas e para as regiões em que atuam. Além das licenças ambientais, os empreendimentos florestais entenderam que também precisavam de licenças sociais: estas, diferentes das ambientais, que se conseguem seguindo as regras da legislação com os órgãos competentes, deveriam ser conquistadas com o comprometimento, respeito e comunicação aberta com as comunidades que poderiam ser impactadas pelo manejo das florestas. Para atender a esses requisitos sustentáveis, a formação do homem florestal precisou (e ainda precisa) ser adequada, muitas faculdades pelo Brasil incluíram disciplinas que preparam os alunos para o desafio de produzir de forma sustentável. Formação do homem florestal: desafios desse setor As empresas fornecedoras de insumo são grandes players do setor florestal e estão empenhadas em levar o que há de mais moderno e mais rentável para a silvicultura brasileira. Para isso, têm investido, anualmente, milhares de dólares em pesquisas, produtos e proces-

sos de inovação, e toda essa tecnologia vai ser, no final das contas, colocada em prática pelos times de campo (trabalhadores florestais, operadores de máquina, encarregados, etc.). A formação dessa força de trabalho no campo passa a ter uma importância ainda maior, e o trabalho conjunto entre o fornecedor de insumos e a empresa florestal tem mostrado excelentes resultados – como Programas de Excelência em Pulverização – PEP, que têm, na última década, elevado o nível das operações no campo, com treinamentos direcionados para cada operação e função. Outro desafio desse setor é a saída de trabalhadores que já foram capacitados e a entrada de novos, que precisam ser (turnover); para nivelar os times de campo, uma série de treinamentos foram disponibilizados em plataformas on-line e processos de monitoramento da qualidade das operações foram aprimorados em aplicativos que permitem agilidade e gestão do processo. A formação do homem florestal e a pandemia da Covid-19 O distanciamento necessário para conter a propagação do vírus da Covid-19 mudou radicalmente a forma como o conhecimento tem sido propagado no mundo e no setor florestal; os grandes treinamentos em campo e as salas de aulas abriram espaço para a “formação digital”, que já existia de forma mais contida e menos popular. Hoje, o conteúdo disponível em diversas áreas do setor é acessível para muitos trabalhadores florestais através de plataformas que foram desenvolvidas com treinamentos completos sobre produtos, serviços e excelência em aplicação, que ganharam popularidade e muitos adeptos, possibilitando que a reciclagem periódica e as inovações sejam levadas com a velocidade necessária para a força de trabalho florestal. Esse parece ser um caminho sem volta! Por fim, gostaria de destacar o importante trabalho que o IPEF realiza, em conjunto com empresas parceiras, como a Bayer, em seu Programa de Preparação de Gestores Florestais (PPGF), para engenheiros florestais recém-formados, com o objetivo de aprofundar conceitos administrativos e financeiros, desenvolvê-los para o trabalho em equipe e capacitá-los para a realidade das empresas do setor florestal. Em 2021, será realizada a 10ª edição do PPGF, e, até então, 181 engenheiros(as) florestais se capacitaram. Acredito que esse é um dos meios para ajudar na formação dos futuros “homens da floresta”. n

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centros de pesquisa e entidades

os profissionais que atuam no setor de

base florestal A cadeia produtiva do setor de base florestal é uma atividade econômica complexa e diversificada de produtos e aplicações. O País tem grande disponibilidade de recursos florestais, possui extensas áreas de florestas aliadas a umas das melhores produtividades florestais. Concomitantemente ao crescimento dos plantios de florestas de rápido crescimento, surgiu uma complexa estrutura produtiva no setor. A cadeia permeia desde grandes commodities produtoras de celulose e papel até produtores de equipamentos, insumos, painéis de madeiras, móveis, energia, construção civil, projetos de engenharia e outros produtos tecnológicos oriundos da floresta, sejam eles desenvolvidos a partir de matérias-primas madeiráveis ou não madeiráveis.

Diante da complexidade das atividades florestais, da heterogeneidade da matéria-prima da floresta e dos diversos processos e tecnologias de conversão, qual é o profissional que atua no segmento de base florestal? A formação desses profissionais é diversificada, a contar o tipo de especialização demandada pelo setor de atuação. Levando em consideração o desenvolvimento exponencial do setor florestal em termos de novas tecnologias e oportunidades, especialmente fundamentadas nos conceitos de bioeconomia, diversos outros perfis são requeridos para dar sustentação a esse desenvolvimento tecnológico. Assim, para atender a esses desafios, necessita-se da aplicação dos conceitos de interdisciplinaridade e multidisciplinaridade em prol de um setor florestal com participação ainda maior na economia brasileira, além de uma representatividade internacional ainda mais eloquente.

deveríamos diminuir o número de disciplinas ao básico e inserir disciplinas das novas ciências, como nanotecnologia, biotecnologia, biologia sintética, negócios, entre tantas outras possibilidades. "

Washington Luiz Esteves Magalhães Pesquisador da Embrapa Florestas

Coautores: Prof. Dra. Mayara Elita Carneiro e Prof. Dr. Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori, ambos da UFPR

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Opiniões Um setor historicamente marcado por indústrias familiares, tradicionais e de predominância masculina, timidamente, nos últimos anos, observa-se a atuação mais diversificada, especialmente com a participação feminina. Já contamos com gestoras nas indústrias, nas florestas, nas universidades e institutos de pesquisas. É preciso cessar, de uma vez por todas, a distinção que, muitas vezes, é feita na contratação de homens e mulheres. Os profissionais com a formação em engenharia desempenham um papel muito importante no desenvolvimento tecnológico desse setor. A atuação desses profissionais, em geral, está associada aos processos, à melhoria contínua dos produtos e da produção, à gestão industrial e às atividades de inovação e pesquisa e desenvolvimento. Para o crescimento desse setor, aliando maior produtividade com sustentabilidade e promovendo melhoria da renda, aumento de empregos qualificados e do seu perfil distributivo, precisamos de um planejamento mais ativo do setor público, em consonância com a sociedade e o setor privado, acerca da formação de recursos humanos qualificados no Brasil. O cenário mundial demanda o uso intensivo da ciência e tecnologia e exige profissionais altamente qualificados. Em tempos pandêmicos, essas relações mostram-se ainda mais fortes e evidentes para toda a sociedade. Dessa maneira, estratégias que prevaleceram no Brasil no século XX, baseadas em investimentos de subsidiárias estrangeiras, não manterão o progresso. Precisamos investir em ciência e tecnologia, qualificar a mão de obra nacional e, assim, aprimorar processos e produtividade do setor florestal. Portanto o perfil do novo engenheiro deve ser capaz de propor soluções que sejam não apenas tecnicamente corretas, porém deve ter a pretensão e considerar os problemas em sua totalidade, prevendo os aprimoramentos em toda a cadeia florestal. Pensando na formação desses nossos engenheiros, químicos, biólogos e afins, devemos pensar em cursos de graduação com estruturas flexíveis, buscando o fortalecimento de disciplinas básicas, além da articulação permanente com a área de atuação. Precisamos de profissionais com visões multidisciplinares, com articulação direta com a pós-graduação, forte vinculação entre teoria e prática, preocupados com a sustentabilidade e com a integração social e política. Atividades complementares devem ser estimuladas, pois procuram desenvolver posturas de cooperação,

comunicação e liderança, como a participação em trabalhos de iniciação científica, projetos de extensão, visitas técnicas, programas de educação tutorial, trabalhos em equipe, desenvolvimento de projetos, monitorias, participação em empresas juniores, entre outras. De um modo geral, os cursos de engenharia em todo o Brasil e em qualquer área, não apenas a florestal, demandam de seus estudantes um número elevado de disciplinas. Com frequência, semestres com 12 ou 13 ou até mais disciplinas são necessárias. Provavelmente, esse número crescente de disciplinas foi sendo adicionado aos currículos na tentativa de atender ao setor produtivo. Todavia essa estratégia é muito diversa da praticada em países desenvolvidos, mesmo para o caso florestal, como Finlândia, Suécia, Canadá e Estados Unidos, para citar apenas alguns. Para o futuro de nosso setor florestal ser longevo, deveríamos diminuir o número de disciplinas ao básico, assuntos a que hoje não se dá muita importância, como matemática, física, química, físico-química, biologia e termodinâmica. Além disso, ter disciplinas das novas ciências disponíveis, mas não obrigatórias, para os interessados, como nanotecnologia, biotecnologia, biologia sintética, negócios, entre tantas outras possibilidades. Concomitantemente, possibilitar aos estudantes uma maior interação prática com empresas, laboratórios e institutos de pesquisa do setor florestal ao longo do seu período de formação na graduação, não se restringindo aos períodos finais devido à alta carga horária imposta pelos cursos. Por exemplo, temos uma empresa de produção de lápis de madeira que existe desde o século XVII, e, com certeza, pode ensinar a qualquer um como ser produtiva e lucrativa, não precisando receber egressos da universidade para lhes ensinar como produzir lápis. Contudo, se o egresso da academia tiver os conhecimentos básicos necessários, poderá aprender a produzir lápis quando for contratado por tal empresa em menos de uma semana, para ser conservador. O profissional florestal deverá ter os conhecimentos básicos para resolver problemas muito além da aplicação de normas e procedimentos repetitivos, pois estes as empresas já o sabem. Consequentemente, esses profissionais altamente qualificados serão rapidamente absorvidos pelo mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento do setor florestal. Em tempos pandêmicos, os desafios para a construção da economia não serão nada fáceis, porém o setor de base florestal está contribuindo fortemente. n

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centros de pesquisa e entidades

novos desafios demandam

novos profissionais

O LiDAR está no iPhone! Com essa afirmação inicial, podemos começar uma reflexão sobre velocidade, a velocidade com que a tecnologia consegue mudar as nossas vidas. De tempos em tempos, somos convidados a desaprender e a reaprender, e o intervalo de tempo no qual estamos confortáveis com o conhecimento (que temos) está cada vez mais curto. O rápido desenvolvimento em tecnologia da informação transformou o mundo de forma determinística. Se imaginarmos algo similar a um gráfico de som, seria como se estivéssemos num campo com sons da natureza e como se, num passe de mágica, o som ambiente passasse a ser a música eletrônica de uma rave. Esse é o tal do mundo V.U.C.A. (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity). Essa volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade foi mapeada na década de 1990 e foi invadindo o mundo corporativo. Volátil, pois perdemos a estabilidade, o mercado consumidor muda a todo momento. Surgem empresas em uma garagem, ou em uma nuvem digital, que podem transformar o modo com que o mundo se comporta em um pequeno espaço de tempo; surge o Pix, e você pode transferir dinheiro

a qualquer momento, para qualquer conta, de qualquer banco; tudo muda a toda hora. Zygmunt Bauman é um sociólogo reconhecido pelo conceito de “modernidade líquida” e, para ele, a “crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza, a única certeza” é a base dessa volatilidade. Assim, a incerteza passa a ser uma companheira presente. Sim, no próximo mês, um grupo de estagiários pode lançar um aplicativo que muda a forma com que o mundo se relaciona com a floresta, por exemplo. E, claro, é complexo, porque não é linear, e tudo isso junto caracteriza a ambiguidade. É o mundo dos trade-offs. E, quando pensamos que já estamos entendendo como esse novo mundo funciona, percebemos que, de novo, ele não tem nada e que já existe uma nova corrente de mundo, o mundo BANI - Brittle (Frágil); Anxious (Ansioso); Nonlinear (Não linearidade); Incomprehensible (Incompreensível). Talvez a grande sacada desse novo modelo seja assumir a incompreensibilidade, pois já era hora

De tempos em tempos, somos convidados a desaprender e a reaprender, e o intervalo de tempo no qual estamos confortáveis com o conhecimento (que temos) está cada vez mais curto. "

Wilton Ribeiro de Almeida Filho e Rodrigo Nascimento de Paula Coordenador de Comunicação e Inovação e Gerente Executivo da SIF, respectivamente

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Opiniões de assumirmos nossa incapacidade diante da grandeza das transformações. Mas como fica a ciência florestal? Começamos o nosso texto falando que a tecnologia LiDAR, que pode ser largamente usada pelo setor florestal, está disponível num smartphone. Os novos engenheiros florestais estão preparados para esse novo mundo de possibilidades? Os professores estão preparados para adotar novos métodos de ensino? Estamos dispostos a conviver com o desconforto do novo? O ensino formal de engenharia florestal no mundo teve início no século XIX, na América Latina. As primeiras iniciativas datam do início do século XX (no México e na Venezuela). O primeiro curso na Alemanha se preocupava em formar profissionais capazes de entender as nuances da floresta e a extrair dela matérias-primas para alguns bens de consumo, como papéis, carvão e bens imóveis, como madeira para construção de casas e galpões. No Brasil, a gênese não foi diferente. O curso teve início na década de 1960, com a Escola Nacional de Florestas em Viçosa-MG, e formava profissionais com foco em silvicultura. Até aí, tudo certo. O problema começa quando surge um descolamento entre a evolução do mundo e a evolução dos processos de formação profissional. Lembra quando mencionamos um gráfico de som? Pois bem, o epicentro dessa rave deve ser a universidade. Com o avanço assustador da tecnologia da informação, que já discutimos, tudo entrou em estado de aceleração inconstante, imprevisível e regulada por um tripé de valores: sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica e justiça social. Então, surge uma pergunta: ainda cabe formar profissionais, hoje, da mesma forma que formamos ontem? Aqui, o ontem e o hoje estão em sentido denotativo, não existe figura de linguagem, tudo muda tão depressa que a reflexão é diária. Glasser, em sua Pirâmide de Aprendizagem, nos dá uma dica de como planejar atividades de ensino. Segundo o psiquiatra, aprendemos: 10% quando lemos; 20% quando escutamos; 30% quando vemos; 50% quando vemos e ouvimos; 70% quando discutimos com outras pessoas; 80% quando fazemos e 95% quando ensinamos aos outros. Não é necessário descartar nenhuma forma de aprender, mas, por óbvio, as formas com maior eficiência devem ser priorizadas. Diante disso, temos uma ótima notícia. O setor florestal brasileiro tem oportunidades incríveis de formação para profissionais e futuros profissionais que adotam a disrupção como essência.

O UFV Forest Insight, por exemplo, é uma chamada de inovação aberta de abrangência nacional na qual grandes players apresentam desafios da floresta e da indústria, e equipes com capacidade de inovar apresentam possíveis soluções. Geralmente, essas equipes são multidisciplinares e multiníveis, formadas por professores, alunos de graduação e pós-graduação, profissionais de mercado, entre outros, com formação na engenharia florestal ou em outras áreas de conhecimento. Durante a chamada, as equipes que são selecionadas para a etapa de aceleração têm a oportunidade de receber treinamentos em formação de custo; maturidade tecnológica; propriedade intelectual, gestão de negócios e outros temas. Além disso, as equipes discutem com as empresas desafiantes para construir um protótipo da solução que seja de fato assertivo, procuram profissionais da academia que possam ajudar no processo, constroem um bussines plan e se prepararam para apresentar um pitch para grandes tomadores de decisão das empresas florestais participantes. Ainda como oportunidade de formação no setor, a EmbrapII, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, tem uma unidade na área florestal, a Unidade EmbrapII Fibras Florestais do Departamento de Engenharia Florestal da UFV. Os projetos de desenvolvimento tecnológico em parceria com a EmbrapII, obrigatoriamente, contam com a participação de empresas e a participação de alunos, que ficam imersos em processos de capacitação que privilegiam práticas do tipo hands-on e abordagens Project Based Learning ou Problem Based Learning (PBL). É o ápice do modelo Triple Helix de Inovação (Universidade, Empresa e Governo). Esses foram dois exemplos de formação disruptiva e que estão alinhados com a velocidade de transformação do mundo VUCA ou BANI. Mas, sem dúvidas, existem inúmeros outros. A realidade virtual que nos permite errar sem produzir efeitos reais; as empresas juniores que já entenderam que sua missão é gerar valor para o mercado e para as pessoas; as ligas acadêmicas que também permitem a solução de desafios reais são outros exemplos que podemos citar. O que fica clara é a necessidade constante de sermos flexíveis e desapegarmos de verdades absolutas que nos impedem de aceitar o novo, de testar novas possibilidades. Todos nós, profissionais florestais, precisamos nos apaixonar. Sim, nos apaixonar pelo desafio de hoje e nunca pela solução de ontem. n

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Q

Índice

centros de pesquisa e entidades

a formação do

profissional florestal

Discorrer sobre a formação do engenheiro florestal perpassa pela análise das realizações de interesse social e humano que contemplam a conservação e a utilização sustentável das florestas, dos seus recursos e dos desafios inerentes à realização desses empreendimentos, conforme objetivos estratégicos do País. A legislação que disciplina a exploração e o uso das florestas no Brasil evoluiu e se aperfeiçoou ao longo da história. Nosso primeiro Código Florestal é de 1934. A partir de 1965, o “novo” Código Florestal proibiu a exploração empírica das florestas, passando a exigir obrigatória observância a planos técnicos de condução e manejo, definidos por ato do poder público. A revisão do Código Florestal realizada em 2012 reforçou o protagonismo do manejo florestal, como instrumento estratégico do desenvolvimento sustentável, alicerce para utilização racional das florestas públicas e das áreas de reserva legal de imóveis rurais privados, garantindo sua função social e ambiental.

O ciclo virtuoso de evolução do Código Florestal impôs enormes desafios sobre a administração pública e sobre os detentores de florestas e usuários de produtos florestais, como as empresas exploradoras, as siderúrgicas e, em última instância, a sociedade. "

Pedro de Almeida Salles Presidente da SBEF Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais

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A exploração de florestas nativas e formações sucessoras, de domínio público ou privado, depende de licenciamento pelo órgão ambiental competente, mediante aprovação prévia de Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS, que contemple técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura arbórea forme. O ciclo virtuoso de evolução do Código Florestal impôs enormes desafios sobre a administração pública e sobre os detentores de florestas e usuários de produtos florestais, como as empresas exploradoras, as siderúrgicas e, em última instância, a sociedade. As ações ou omissões contrárias às disposições legais na utilização e exploração das florestas são consideradas uso irregular da propriedade, passíveis de sanção nas esferas civil, criminal e administrativa, com base na Lei de Crimes Ambientais, de 1998, e regulamento. A exploração florestal conduzida sem que sejam observados os requisitos técnicos esta-


Opiniões belecidos em PMFS, ou a exploração florestal conduzida em desacordo com a autorização concedida pela autoridade ambiental, são condutas irregulares, sujeitas a sanções equivalentes à exploração predatória ilegal e ao desmatamento ilegal, sem autorização prévia do órgão ambiental competente, punidas com multas de R$ 1.000,00 (mil reais) por hectare. Estudo do IPEA (2010) sobre o PPCDAm – Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia aponta que a efetividade dos planos e das estratégias de governo tem se pautado fortemente nas ações de fiscalização ambiental, enquanto as ações que deveriam promover a transição para um modelo sustentável de desenvolvimento apresentam um baixo grau de sucesso. A análise dos dados de desempenho pode nos levar à inferência de que resultados positivos advindos da redução do desmatamento na Amazônia derivam de um ambiente desfavorável ao setor florestal de espécies nativas, com impactos negativos sobre seu desenvolvimento e aperfeiçoamento tecnológico, bem como sobre o desenvolvimento econômico e social dos estados e dos municípios envolvidos. Tanto o conceito de sustentabilidade florestal como a criação da engenharia florestal nasceram na Alemanha fora do contexto agrícola, em situações para resolver problemas de escassez de madeira vivenciados à época, com uma visão de uso múltiplo das florestas. A criação dos primeiros cursos de engenharia florestal no Brasil se inicia a partir de 1960, seguida da regulamentação da profissão em 1965, em um contexto de inflexão nas políticas de uso e exploração das florestas nacionais, no qual a abordagem empírica, sem compromisso com a sustentabilidade, era substituída por outra, científica e tecnicamente especializada, e pautada na sustentabilidade. A criação da Escola Nacional de Florestas, em Viçosa-MG, no ano de 1960, teve por finalidade “ministrar a instrução superior, profissional e técnica, referente às ciências florestais, para o exercício da profissão de Engenheiro Florestal em todo o País”, abordando os seguintes assuntos: “1 - Silvicultura; 2 - Dendrologia; 3 - Genética aplicada às florestas; 4 - Ecologia e fitogeografia; 5 - Aerofotogrametria, inventários florestais e construções; 6 - Proteção florestal; 7 - Tecnologia de produtos florestais; 8 - Matérias optativas”. Os assuntos ministrados nos primeiros cursos de Engenharia Florestal estiveram ancorados na ciência e na tecnologia florestal, desenvolvidos com sucesso em países como a

Alemanha e os Estados Unidos, e serviram de referência para a consolidação dos projetos pedagógicos e das grades curriculares dos cerca de 75 (setenta e cinco) cursos em nível superior ministrados no País atualmente. São aproximadamente 17.000 (dezessete mil) profissionais registrados no sistema Confea/Crea. As atribuições dos engenheiros florestais definidas pela Resolução CONFEA, de 1973, contemplam: a engenharia rural; construções para fins florestais e suas instalações complementares, silvimetria e inventário florestal; melhoramento florestal; recursos naturais renováveis; ecologia, climatologia, defesa sanitária florestal; produtos florestais, sua tecnologia e sua industrialização; edafologia; processos de utilização de solo e de floresta; ordenamento e manejo florestal; mecanização na floresta; implementos florestais; economia e crédito rural para fins florestais; seus serviços afins e correlatos. Analisando-se essas atribuições e as grades curriculares dos cursos de graduação em engenharia florestal, verifica-se que a formação dos engenheiros florestais está em sintonia e atende integralmente aos fundamentos técnicos e científicos que balizam a elaboração e a execução dos planos de manejo florestal sustentável, nos termos do Código Florestal. Esses fundamentos incluem: 1. caracterização dos meios físico e biológico; 2. determinação do estoque existente; 3. intensidade de exploração compatível com a capacidade de suporte ambiental da floresta; 4. ciclo de corte compatível com o tempo de restabelecimento do volume de produto extraído da floresta; 5. promoção da regeneração natural da floresta; 6. adoção de sistema silvicultural adequado; 7. adoção de sistema de exploração adequado; 8. monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente; 9. adoção de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e sociais. Os atuais desafios para a formação dos engenheiros florestais incluem a necessidade de revisão e atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação, de modo a aperfeiçoar as orientações para revisão e elaboração dos projetos pedagógicos. Verifica-se necessidade de incrementar a formação empreendedora desses profissionais, assim como impulsionar o desenvolvimento e a utilização de tecnologias inovadoras. Além disso, faz-se necessário que as instituições de ensino promovam a revisão e o aperfeiçoamento de seus projetos pedagógicos e cursos e invistam na qualificação da formação de seus egressos, pautada na extensão e experiência prática. n

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Articles inside

Rodrigo Nascimento de Paula e Wilton Ribeiro de Almeida Filho, SIF

5min
pages 62-63

Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas mais Mayara Elita Carneiro e Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori, ambos da UFPR

5min
pages 60-61

Ricardo Eugênio Cassamassimo, Bayer

5min
pages 58-59

Fernando Campos e Petri Nousiainen, Ponsse Brasil

6min
pages 54-57

Nelson Yoshihiro Nakajima, UFPR

5min
pages 52-53

Rodrigo Eiji Hakamada e Rute Berger, UFRPE

8min
pages 48-51

Eduardo da Silva Lopes, Unicentro

5min
pages 46-47

Sílvio Nolasco de Oliveira Neto, UFV

6min
pages 38-41

Maristela Machado Araujo, UFSM

5min
pages 42-45

Eric Bastos Gorgens, UFVJM

7min
pages 34-37

Luiz Carlos Estraviz Rodriguez e Silvio Frosini Ferraz, Esalq/USP

5min
pages 28-29

Guilherme Zaghi Borges Batistuzzo, Bracell

5min
pages 22-23

Heuzer Saraiva Guimarães, WestRock

3min
pages 18-21

Sinval Barbosa Teixeira e Samantha Nazaré de Paiva, Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola de Ortigueira

5min
pages 24-27

Douglas Seibert Lazaretti e Danielle Costa de Paula Macedo, Suzano

4min
pages 16-17

José Roberto Scolforo, UFLA

6min
pages 30-33

Germano Aguiar Vieira, Eldorado

6min
pages 12-15

Felipe Schroeder Vieira Presidente da Komatsu Forest

5min
pages 8-11
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