As sinergias do sistema florestal - OpCP63

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Opiniões

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 18 • número 63 • Divisão F • mar-mai 2021

as sinergias do sistema florestal


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instruções IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG • First of all, before any action, please touch in the flag of your language. • Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue. • Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma. • Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache. • Para que obtenha o melhor aproveitamento dos recursos que a Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões pode lhe oferecer, solicitamos que assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao chegar no final, o video das instruções será iniciado novamente.

Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões



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EDITORIAL DE ABERTURA: 08. José Otávio Brito Diretor Executivo do IPEF

PRODUTORES: 02. Douglas Seibert Lazaretti, Suzano 03. José Ricardo Paraiso Ferraz, Duratex 04. Germano Aguiar Vieira, Eldorado 05. César Augusto Valencise Bonine, Suzano 06. Edimar de Melo Cardoso, Aperam BioEnergia 07. Moacyr Fantini Junior, Veracel ENTIDADES: 08. Paulo Hartung , Ibá 09. Adriana Maugeri, AMIF CENTROS DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO: 10. Eduardo José de Mello, FuturaGene 11. Erich Schaitza, Embrapa Florestas CIENTISTAS E ESPECIALISTAS: 12. Nairam Félix de Barros, UF-Viçosa 13. Moacir José Sales Medrado, Medrado & Associados 14. Joésio Deoclécio Pierin Siqueira, STCP 15. Teotônio Francisco de Assis, Assistech 16. Jefferson Bueno Mendes, BM2C 17. João Comério, Innovatech 18. Fábio Nogueira de Avelar Marques, Plantar Carbon ACADEMIA: 19. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Esalq-USP 20. Marcelo Moreira da Costa, LCP do DEF da UF-Viçosa 21. Dagoberto Stein de Quadros, FURB 22. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, Esalq-USP

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Sua próxima viagem de carro Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista. Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, em espanhol, em francês e em alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições. É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir. ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO: 01. José Otávio Brito, IPEF 02. Douglas Seibert Lazaretti, Suzano 03. José Ricardo Paraiso Ferraz, Duratex 04. Germano Aguiar Vieira, Eldorado 05. César Augusto Valencise Bonine, Suzano 06. Edimar de Melo Cardoso, Aperam BioEnergia 07. Moacyr Fantini Junior, Veracel 08. Paulo Hartung , Ibá 09. Adriana Maugeri, AMIF 10. Eduardo José de Mello, FuturaGene 11. Erich Schaitza, Embrapa Florestas 12. Nairam Félix de Barros, UF-Viçosa 13. Moacir José Sales Medrado, Medrado & Associados 14. Joésio Deoclécio Pierin Siqueira, STCP 15. Teotônio Francisco de Assis, Assistech 16. Jefferson Bueno Mendes, BM2C 17. João Comério, Innovatech 18. Fábio Nogueira de Avelar Marques, Plantar Carbon 19. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Esalq-USP 20. Marcelo Moreira da Costa, LCP do DEF da UF-Viçosa 21. Dagoberto Stein de Quadros, FURB 22. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, Esalq-USP

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Índice

editorial de abertura

sinergia:

sucesso para a pesquisa

A história nos mostra que os estudos e pesquisas sobre plantios florestais de rápido crescimento, para a produção de madeira para usos específico, se iniciaram nos primeiros anos do século XX. Foram os trabalhos conduzidos por Navarro de Andrade, no interior do estado de São Paulo, focando, principalmente, a obtenção de madeira para uso energético. Considera-se, no entanto, os anos de 1960 como marco do início da pesquisa com florestas plantadas orientadas para a obtenção de matéria-prima de uso industrial. Isso ocorreu graças à política governamental estabelecida para o setor, rapidamente respondida por ações empresariais, fazendo com que o Brasil saísse de uma insignificante posição, para se tornar uma das mais importantes referências mundiais nesse campo da atividade econômica. Um aspecto importante e muito peculiar que, desde o início, identificou o setor foi a introdução do conceito da condução de pesquisas no modelo cooperativo, proporcionando sinergia entre empresas e universidades. Isso se estabeleceu mediante a criação de instituições, como o Ipef, que foi o pioneiro, para atuarem como agentes de facilitação e gestão de recursos e a indução dos estudos, de modo que os resultados atendessem, objetivamente, às demandas do setor. Esse modelo foi altamente relevante para a rápida geração e difusão tecnológica. A sinergia entre técnicos das empresas e o quadro acadêmico teve um papel fundamental, conduzindo o setor de florestas plantadas para um patamar superior de referência quanto à aplicação de boas práticas, no que, ainda hoje, ele é destaque no campo da produção agrícola. Hoje, o setor de florestas plantadas para obtenção de madeira para fins industriais se encontra totalmente consolidado, num nível de reconhecimento internacional. Ele tem oferecido uma importantíssima contribuição econômica, ambiental e social para o País, e sua atividade se encontra em franca expansão. No entanto é evidente que os desafios não cessaram. Não é por acaso que tenha ocorrido a agregação de novos aspectos a serem tratados,

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comparativamente aos que existiam nos estágios iniciais dos plantios florestais em nosso País. Atualmente, é difícil imaginar a produção de madeira para abastecimento industrial sem que a ela estejam incorporados temas como alta especificidade de clones, manipulação genética, precisão e eficácia da nutrição, do manejo e da proteção, microbiota e produtividade por site específico, especificidades na relação matéria prima x processo x produto final, desempenho e impacto de máquinas, tecnologia da informação, modelagem, drones, satélites, sustentabilidade, recursos hídricos, efeitos climáticos, certificação e ESG etc. São assuntos altamente relevantes, que estão a exigir um novo esforço de estudos, para os quais a manutenção da sinergia entre atores será fundamental para as respostas rápidas e otimizadas que deles resultarão. Sabemos que, para a evolução da pesquisa, faz-se necessária a disponibilização de recursos, tanto financeiros como humanos. Em geral, hoje, os recursos aplicados em pesquisa no setor de florestas plantadas têm suas origens de pleitos realizados pelos interessados, junto às chamadas “valas comuns”, de apoio oriundo dos órgãos oficiais de fomento. Têm sido escassos ou mesmo inexistentes programas de estímulos específicos para o setor. Seria muito oportuno que eles existissem, o que, mediante a sinergia da participação do governo, ampliaria o potencial de respostas no campo da pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. O setor tem se mostrado bastante capaz de a isso responder, mediante resultados eficazes e altamente significativos de desempenho e de contribuição para o País, em seus componentes econômicos, sociais e ambientais. Em se considerando as empresas, elas sempre estiveram atentas à pesquisa, mediante a manutenção de equipes e estruturas próprias. Além disso, foram estrategicamente capazes de participarem da implantação e, ainda hoje, mantém estruturas de apoio externo, visando ao desenvolvimento de ações cooperativas, como é o caso do Ipef, com seus mais de 50 anos de existência, onde a sinergia é total e amplamente praticada.


Opiniões No contexto do capital humano, principalmente considerando a pós-graduação, o setor encontra-se bem contemplado, pelo menos no aspecto quantitativo. Existem cerca de 20 programas de pós-graduação na área florestal, bem distribuídos, considerando as regiões onde se concentram as atividades vinculadas ao setor de florestas plantadas. Mais da metade dos programas oferecem formação em nível de mestrado e doutorado, a maioria deles desenvolvendo ações de pesquisa na área de florestas plantadas, em suas mais variadas vertentes. No aspecto qualitativo, no entanto, melhorias poderiam ser incrementadas, sobretudo no sentido da definição de uma matriz central bem estruturada de temas de interesse para o desenvolvimento das dissertações e teses. A sinergia de trabalhos entre as instituições de ensino também precisa ser mais estimulada. Não há dúvidas de que ainda existem desafios importantes a serem enfrentados pela pesquisa florestal em florestas plantadas. Certamente, a lista seria grande e mereceria um capítulo à parte. Há, no entanto, alguns aspectos estratégicos que a encabeçariam. O setor desenvolveu e ainda mantém um modelo próprio e bem estruturado para condução de pesquisas no formato cooperativo. Conforme já mencionado, isso tem oportunizado o diálogo, a integração e a sinergia de atores, tanto das empresas como das universidades e instituições de pesquisa. Tal situação tem permitido o estabelecimento de um senso comum de necessidade e demandas de estudos, fazendo surgir uma espécie de Plano Diretor de P&D. Esse modelo, no qual o Ipef se insere, representa uma importante parcela do setor de florestas plantadas no País. Pode-se afirmar, contudo, que isso não tem sido suficiente para englobar todo o rol de demandas dos demais participantes na produção do setor.

Há uma parcela significativa de produtores, que, não integrados a esse modelo, não têm sido contemplados com a definição de um claro direcionamento de ações de P&D que possam responder às suas necessidades. Na mesma proporção, não se desenvolveu nenhum modelo de sinergia entre seus componentes, considerando espaços para colocação de demandas e respectivas respostas. Nesse contexto, encontram-se os pequenos e médios produtores florestais, os quais, por exemplo, poderiam ser alvo de atenção das instituições governamentais de pesquisa na área de florestas plantadas. É fato que, no Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas, estabelecido em 2018, pelo MAPA, é uma importante iniciativa de orientação para o setor. Contudo ele mereceria ser revisitado e aperfeiçoado, em relação ao pequeno capítulo dedicado à pesquisa, particularmente, no sentido da maior clareza e complemento das propostas e, nesse contexto, ações específicas que induzissem à sinergia de ações.n

Isso ocorreu graças à política governamental estabelecida para o setor, rapidamente respondida por ações empresariais, fazendo o Brasil sair de uma insignificante posição, para uma das mais importantes referências mundiais nesse campo da atividade econômica. "

José Otávio Brito Diretor Executivo do IPEF

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Índice

produtores

ecossistemas de inovação e

empreendedorismo

O mundo vem observando um movimento de aceleração na curva de adoção de novas tecnologias nos mais variados setores da economia. Um exemplo disso são as tecnologias digitais, que vêm transformando setores inteiros, colocando a experiencia do cliente no centro do modelo de negócios com o objetivo de resolver problemas do cotidiano e tornar, assim, a nossa vida mais fácil. Com isso, abrimos espaço em nosso tão concorrido tempo para nos dedicar às tarefas que somente nós, seres humanos, somos capazes de fazer.

Um bom exemplo é o recente anúncio de uma joint venture com a startup Spinnova, da Finlândia, para a produção de tecido a partir de fibra de eucalipto naquele país. " Douglas Seibert Lazaretti Diretor de Operações Florestais da Suzano

Já do lado da ciência, descobertas recentes foram fundamentais para a criação em tempo recorde da primeira vacina contra a Covid-19, aprovada e distribuída no Reino Unido, que utiliza a tecnologia inovadora de RNA mensageiro. Isso só foi possível pela coragem de uma cientista chamada Katalin Karikó, húngara radicada nos Estados Unidos, que desenvolveu a tecnologia para vacinas hoje utilizada nos imunizantes Pfizer/BioNTech e que poderá ser um ponto de partida para revolucionar outras imunizações no futuro. Foram 30 anos de pesquisa, enfrentando uma sequência de rejeições do governo e de investidores privados para o financiamento de suas investigações desde que ela ingressou na Universidade da Pensilvânia, em 1990.

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Nem mesmo um câncer que enfrentou em 2005 tirou a sua perseverança: ela continuou escrevendo e melhorando a sua abordagem, para que conseguisse financiar a pesquisa baseada no trabalho de cientistas da Universidade de Wisconsin e da empresa de biotecnologia Vical Incorporated, os quais descobriram como fabricar o RNA mensageiro, molécula que dá o pontapé inicial para instruir as células vivas a produzir proteínas específicas. Esse é um belo exemplo da ciência aplicada à solução de problemas reais da sociedade e da perseverança que cientistas e empreendedores precisam ter para enfrentar essa longa e desafiadora jornada.


Opiniões Mas, afinal, o que é preciso para que pesquisas como essa se transformem em novas tecnologias, produtos e modelos de negócio? É possível que instituições de pesquisa, startups, governos e/ou grandes empresas façam investimentos de forma individual em pesquisa e desenvolvimento para contribuir para o cenário de transformação de novas descobertas em tecnologia e inovação? Talvez sim. No entanto há forte probabilidade que esse tipo de jornada, quando percorrida de forma isolada, seja mais longa e onerosa. Neste artigo, vou abordar a via colaborativa que conecta diversos stakeholders na busca por soluções dos mais variados desafios que enfrentamos como sociedade. Já parou para pensar no que torna ecossistemas de inovação, como o de Kendall Square/Grande Boston, Israel, Londres, Singapura ou Vale do Silício, lugares especiais e únicos para a criação e crescimento de novas empresas que impulsionam a prosperidade econômica dessas regiões ou países? Os professores Phill Budden e Fiona Murray, do MIT Sloan School of Business, escola de gestão do renomado Massachusetts Institute of Technology, vêm estudando, há alguns anos, os mais diversos ambientes de inovação ao redor do mundo. O objetivo é entender o que é preciso para criar esse tipo de ecossistema e torná-lo único por meio de suas capacidades e características específicas. Segundo os mesmos professores, um ecossistema de inovação também pode ser lido como um grupo de pessoas e recursos interconectados que promovem um ambiente para que empresas orientadas por inovação possam iniciar, crescer e escalar. De forma resumida, duas competências principais são os motores desse sistema, de acordo com o modelo sistemático criado no MIT para avaliar o empreendedorismo voltado à inovação em ecossistemas: Capacidade de Inovação (ICap): capacidade de um lugar, uma cidade, região ou nação de desenvolver ideias novas para o mundo, movendo-as da fase embrionária para algo de impacto (social, econômico e/ou ambiental). Em outras palavras, a capacidade de inovação abrange não apenas o desenvolvimento de ciência básica e pesquisa, mas também a tradução de suas "soluções" em produtos úteis, tecnologias ou serviços que realmente resolvam problemas. Capacidade de empreendedorismo (E-Cap): enfatiza um subconjunto de capacidades mais gerais e condições da região para a constituição de novas empresas e negócios. Para facilitar o entendimento dessa capacidade,

faço um paralelo com o índice Doing Business, do Banco Mundial, que aborda a facilidade de fazer negócios de um determinado país – nesse ranking, o Brasil está posicionado na 124ª posição entre 190 países avaliados, conforme relatório de 2020. Contudo os aspectos do E-cap que mais interessam à inovação são aqueles relacionados ao apoio da cidade, região ou país para suportar o crescimento das IDEs (innovation-driven enterprises), em tradução livre, empresas orientadas à inovação. Existem cinco componentes considerados principais por esse modelo ao analisar o ICap e o E-Cap de uma região: Capital Humano: talentos da região ou atraídos para a região com alto nível de educação, capacitação e experiência, tanto para inovação quanto para empreendedorismo; Financiamento: dos mais diversos tipos de capital, do setor público ao privado, que suportem a inovação e o empreendedorismo na longa jornada que começa em uma ideia e vai até a criação e o crescimento de uma startup. Infraestrutura: estrutura física necessária para suportar a inovação e o empreendedorismo nos seus diferentes estágios, incluindo espaço, equipamentos para pesquisa, produção e cadeia de suprimentos. Demanda: o nível e a natureza da demanda especializada para os produtos da inovação e empreendedorismo, fornecidos por diferentes organizações em sistema. Cultura e Incentivos: a natureza dos modelos e indivíduos que são reconhecidos, as normas sociais (cultura) que moldam as escolhas de carreira aceitáveis e os incentivos que moldam os comportamentos individuais e de equipe. Em complemento aos fatores citados acima, um estudo recente da Endeavor, em parceria com a ENAP no Brasil (Índice de Cidades Empreendedoras – ICE 2020)*, aponta ainda o fator Ambiente Regulatório, que aborda os desafios do cumprimento de obrigações regulatórias que demandam tempo e recurso, como tributos e contratação de mão de obra específica. Retomando a metodologia MIT, o modelo de stakeholders de um ecossistema de inovação é formado basicamente por cinco elementos: empreendedores, capital de risco (ex: empresas de venture capital, que investem em negócios de alto risco - alto retorno), empresas, governo e universidades (que particularmente abordaria como as mais diver; sas instituições de pesquisa e ensino).

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Índice Índice

produtores

Empreendedor

Universidade

Governo

Capital de risco

Empresa

Modelo de partes interessadas do ecossistema de inovação

No caso da Suzano, líder global na produção de celulose de eucalipto, o trabalho começou “dentro de casa”: a companhia implementou um robusto sistema interno de transformação digital – que englobou desde a formação de um time interno de designers, agilistas, cientistas e engenheiros de dados até o contínuo esforço de envolvimento de todas as áreas da companhia à temática, descentralizando a responsabilidade de apenas um núcleo para literalmente permear toda a organização. A companhia implementou a utilização de advanced analytics e machine learning para otimizar os processos de alocação clonal, planejamento florestal e abastecimento de madeira nas fábricas. Indo além, a companhia fez do compromisso de ser referência global no uso sustentável de recursos naturais uma importante oportunidade de dar asas à inovação aberta e estabelecer parcerias estratégicas com startups para diversas frentes de produtividade e de novos negócios, ou até mesmo de substituição de negócios já existentes como alternativa sustentável à sociedade. Temos, no agronegócio brasileiro, um bom exemplo de ecossistema que vem crescendo ano após ano: o Vale do Piracicaba (ou AgTech Valley), na mesma região que abriga a renomada Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Nesse contexto, a Suzano encontrou uma oportunidade de protagonizar, como innovation partner, a primeira parceria do setor florestal com a AgTech Garage, mais relevante hub de inovação do agronegócio da América Latina. Atualmente, trabalhamos um desafio de inovação aberta voltado à geração de valor para a restauração florestal por meio do programa Intensive Connection LATAM: o

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programa conta com startups de toda a América Latina, e a companhia vai possibilitar que empreendedores apresentem tecnologias que contribuam para a ampliação da eficiência operacional e a geração de inteligência sobre monitoramento florestal. Estabelecemos, ainda, iniciativas conjuntas com outros hubs, como o Plug and Play, Endeavor Brasil, Beta-i e Ibi-Tech – Israel Brazil Innovations etc. E o investimento se estende também à academia, por meio de importantes parcerias com universidades e institutos de pesquisa por todo o mundo. Já são mais de 500 conexões e 28 projetos de inovação aberta em andamento, que visam fortalecer os direcionadores da companhia, os quais passam por inovar para avançar e por investir somente no que também for bom para o mundo. Ao assumir publicamente o propósito de renovar a vida a partir da árvore, a companhia já traz à tona a sua audácia e firme crença em iniciativas disruptivas. Um exemplo disso é o recente anúncio de uma joint venture com a startup Spinnova, da Finlândia, para a produção de tecido a partir de fibra de eucalipto naquele país. Os estudos para a utilização de celulose microfibrilada (MFC) pela companhia já vinham sendo realizados há mais de 4 anos para esse fim, e a aposta de produzir um tecido mais sustentável conversa diretamente com a demanda do mercado por produtos que preservam o meio ambiente, além de colocar em prática uma das metas de longo prazo da companhia, que envolve a redução do uso de água. A produção do novo tecido não englobará químicos nocivos ao ambiente no processo de fabricação e traz uma significativa redução do volume de água necessário à sua produção, em comparação com outras alternativas atualmente disponíveis. Além disso, o material possui potencial circular – de reaproveitamento – e não resulta em microplásticos. Trata-se de um importante movimento não só para a empresa, mas para todo o setor de base florestal, que também precisa estar mais conectado com polos como o Vale do Piracicaba e trabalhar de forma colaborativa com os diversos stakeholders que compõem esses ecossistemas para promover ambientes de inovação e empreendedorismo no Brasil. Assim, podemos criar, atuando juntos e pelo todo, soluções para os principais desafios do setor de florestas plantadas, o qual vem tomando cada vez mais um papel protagonista na busca de soluções mais sustentáveis para o planeta.n


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vivendo uma jornada de colaboração Sim! Tenho orgulho dos meus 37 anos na jornada florestal. Formado engenheiro florestal e agrônomo pela Esalq-USP em 1982 e 1983, respectivamente, estou tendo o privilégio e a oportunidade de, até os dias de hoje, trabalhar na atividade florestal e, sobretudo, na empresa em que idealizei estar desde meus tempos de colégio. Já nos tempos de Faculdade, aliava conhecimento e prática, e, com o desenrolar do curso de graduação, uma atitude no ambiente da faculdade me chamou muito minha atenção: o modelo colaborativo praticado pelas empresas florestais, de compartilhar seus desafios, em prol do desenvolvimento do setor. Sempre com visão do todo, vivenciei e aprendi que modelos cooperativos e colaborativos, com foco na busca de melhores soluções para o melhor viver das pessoas, comunidades, sociedade e o nosso planeta, são os mais efetivos.

aulas práticas no campo, onde aprendíamos, de fato, a execução de atividades operacionais florestais, de pesquisa e de planejamento. Saudades das aulas de colheita florestal, de melhoramento genético e de planejamento dos saudosos João Walter Simões, Natal Gonçalves, Mario Ferreira; dignas de nota as aulas de solos nas redondezas de Piracicaba; embarcávamos no velho e cansado Mercedão azul e branco, preparados para colocar a “mão na massa”, entrando nas trincheiras preparadas e “sentindo” os diversos tipos de solos: que bom “sujarmos nossas mãos” e voltarmos para nossas repúblicas, cheios de poeira e lama. Bons tempos de estudante raiz (rsrsrs). Também não foram poucas as aulas de laboratório com os professores Luiz Ernesto Barrichello, Walter de Paula Lima, Luiz Otávio Brito. E, em nome do também saudoso Prof. Fabio Poggiani, aqui homenageio todos que não citei, tão relevantes para a formação de nossa geração. E o que falar dos estágios nas empresas? Aqui prefiro não citar os estágios feitos na Duratex; lembro-me do meu estágio na antiga Ripasa, brilhantemente dirigida, na ocasião, por Nelson Barbosa Leite e sua fantástica equipe; que privilégio ter um estágio de férias coordenado pelo Balloni, instalando ensaios com ; profissionais que exigiam o rigor máximo.

embarcávamos no velho e cansado Mercedão azul e branco, preparados para colocar a “mão na massa”, entrando nas trincheiras preparadas e “sentindo” os diversos tipos de solos: que bom “sujarmos nossas mãos” e voltarmos para nossas repúblicas, cheios de poeira e lama. "

José Ricardo Paraiso Ferraz Diretor Florestal da Duratex

Na linha do conhecido provérbio africano “Sozinhos somos rápidos, mas, juntos, vamos longe”, acompanhei de perto os trabalhos do Ipef na ocasião, uma entidade ligada à Esalq-USP e idealizada por um grupo de dirigentes e acadêmicos à frente do seu tempo. Naqueles tempos, nós alunos vivenciávamos não somente a transmissão de conhecimento pelas aulas teóricas de renomados acadêmicos, como também as esperadas

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Índice

produtores Sou muito grato por isso. Enganam-se os que pensam a Duratex foi meu primeiro emprego: até tentei. Mas, conversando à época com Dr. Rensi, eterno mentor, não havia vagas disponíveis, e ele me propôs ficar mais tempo na escola, talvez com uma bolsa. Era atrativo, mas estava decidido a trabalhar em empresas do ramo florestal. Engenheiro florestal formado, participei com sucesso, em 1984, da seleção do primeiro programa de trainee da Suzano; uma empresa que, naquele tempo, dava seus passos para se transformar no gigante florestal de hoje. Aproveitei cada minuto daquela experiência, riquíssima para meu propósito de trilha de carreira; conheci cada palmo das fazendas chamadas de “Glebas 15”, propriedades da região de Botucatu. Fiz amigos na Suzano, o que propicia ter portas abertas para troca de experiências. Assim foi com Klabin, International Paper, Veracel, Cenibra, a antiga Fibria, e tantas outras... Fica aqui mais uma reflexão: os programas de trainee nas empresas estão efetivamente selecionando formandos com foco na formação de “gestores florestais”? Nossas escolas de graduação estão preparando seus formandos para esse desafio? Mas seguindo nossa conversa ... um telefonema de Alceu Bertolli, a quem muito respeito

e admiro, me trouxe à Duratex. Meu propósito, aqui nesta reflexão, a pedido dos editores da Revista Opiniões, foi contar um pouco de nossa experiência com a enorme sinergia dos trabalhos colaborativos e sua contribuição para o nosso setor e nossa sociedade. Fica até difícil citar tantos bons exemplos de trabalhos colaborativos executados ao longo dessas quase 4 décadas de desenvolvimento florestal pujante envolvendo inúmeras faculdades, institutos de pesquisa e empresas: não haveria espaço aqui nestas poucas linhas. Assim, trocando algumas ideias com meu colega Raul Chaves, resolvemos destacar um projeto que entendemos representar muito bem esse espírito cooperativo. Um projeto iniciado em 2006, que continua até hoje, já no seu 3º ciclo florestal, o qual pudemos acompanhar de perto, haja vista, após criterioso processo de seleção de áreas, o grupo de empresas envolvido ter escolhido uma das nossas instalações na Duratex à época, a Fazenda Americana, em São Paulo, hoje propriedade pertencente à Bracell. Trata-se do Projeto Eucflux (Torre de Fluxo), com seu objetivo de entender os ciclos de carbono e nutrientes da água ao longo do ciclo de desenvolvimento florestal. E sua escolha se deveu ao modus operandi de se buscar o

Pesquisadores EUCFLUX e representantes Duratex, visita realizada em 20/02/2014 - Otávio Campoe, Anderson Lins, José Ricardo Ferraz, João Fernando Souza, Álvaro Souza, Yann Nouvellon, Renato Coelho, Raul Chaves e José Luis Maia

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Opiniões entendimento conjunto multidisciplinar com competências de diferentes universidades, institutos de pesquisa e empresas através de uma abordagem não empírica (como era, até então, a maioria dos testes e experimentos na área florestal), focada no entendimento dos processos. Uma curiosidade nesse projeto foi que ele começou a tomar forma ao final da reunião das turmas quinquenais da Esalq, em outubro/2005, onde o Prof. José Luiz Stape trouxe ao Raul a ideia de uma metodologia de estudo de processos que o Cirad, entidade de pesquisa sediada na França, vinha utilizando no Congo e que via como muito potencial para aplicarmos nas florestas de eucalipto no Brasil. O Prof. Stape objetivava justamente entender qual seria a reação de nós, como empresa, entrarmos num projeto não baseado em ensaios empíricos, mas sim numa pesquisa muito profunda de processo, apoiada num instrumental muito especializado e caro e que somente seria possível, naquela ocasião, através da cooperação intensa entre empresas, universidades e institutos de pesquisa. E isso se encaixou muito bem no nosso DNA empresarial. Vejam leitores, não seria esse modelo, os primórdios dos modelos colaborativos atuais, superssofisticados, identificados por palavras em inglês (como: startups, crowdsourcing, coworking, co-creation, etc.)? Pois bem, hoje, 37 anos depois, como alguns colegas florestais, tento liderar e inspirar uma equipe fantástica de colaboradores florestais e, para minha surpresa, colaboradores industriais. Quase 4 anos atrás, fiquei me questionando o que levaria nossa empresa escolher a mim, um engenheiro florestal, para liderar também todo o processo industrial. A resposta: a forma de extrair o máximo das pessoas no que diz respeito à sua capacidade intelectual, à criatividade, à vontade de fazer diferença e, sobretudo, à forma de colaborar e contribuir. Desculpe-me se entediei alguns com este relato, mas vejo como uma forma de resgatar o passado e motivar pessoas no futuro! Concluindo, Não há limites para quem quer aprender! Não há limites para quem admite o risco! Não há limites para quem tenta! Não há limites para quem erra e aprende com o erro! Não há limites para quem tem vontade! Por fim, volto a provocar: Estamos formando, em nossas academias, profissionais gestores com esse espírito e criando essa cultura? Vale a reflexão, leitores. Reforço aquilo em que acredito: “Sozinhos podemos ir rápido, mas, juntos, iremos muito mais longe”. n Projeto Torre de Fluxo EUCFLUX

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produtores

parcerias entre empresas florestais e

startups

Trabalho no setor florestal há muitos anos e aprendi muito, nesse período, a ser silvicultor testando ideias e conhecimentos acadêmicos para encontrar o melhor manejo florestal para pínus e eucaliptos. No início dos anos 1980, não tínhamos muitas ferramentas tecnológicas que nos apoiasse em nossas análises. Somente a troca de conhecimento entre os profissionais da área e muitas visitas às florestas nos davam suporte para seguirmos adiante com novos protocolos de manejo e introdução de novos materiais genéticos.

Mais tarde, as tecnologias foram chegando cada vez mais rápido e cada vez mais sofisticadas, mostrando um outro ângulo de visão para problemas novos e antigos. Todo esse conhecimento aumentou significativamente o nosso entendimento sobre a árvore e sua interação com o ambiente. Há pouco tempo, fui a um seminário em São Paulo-SP chamado “Agrônomo digital”, que ocorreu no prédio da InovaBra, um centro de encontro de startups do Grupo Bradesco. Lá conheci um novo mundo que ainda não tinha visto tão de perto, um monte de pessoas com pensamento livre, inteligentes, inovadoras e corajosas que se reuniam para desenvolver programas digitais que poderiam ajudar todos os sistemas produtivos do Brasil. Logo ao subir pelo elevador, que parava a cada andar, pude ver um layout em cada um, montado propositalmente

Toda essa tecnologia abriu enormes oportunidades para melhoria do nosso trabalho, mas também mostrou que estávamos certos em preparar antecipadamente nosso time para que fosse incluído nesse futuro que apenas estava começando.

Germano Aguiar Vieira Diretor Florestal da Eldorado

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Opiniões para facilitar a liberdade da criatividade, e muitos jovens se acomodavam confortavelmente com seus PCs cobertos de adesivos para desenvolver produtos que poderiam tornar melhor a vida das pessoas. No seminário, me sentindo um peixe fora d’água, porque era o único que estava com caneta e papel na mão, vi muitas coisas interessantes sendo apresentadas, como as possíveis futuras soluções para o agronegócio. Mas também registrei uma preocupação de quase todos os apresentadores com as pessoas que iriam usar essas ferramentas e não somente com a tecnologia e o resultado que ela poderia trazer. Percebi, então, que, junto com esse tsunami de tecnologia, precisava vir também uma carga importante de inclusão das pessoas nesse novo mundo. A pergunta que me fiz na ocasião foi: estamos preparados para isso? Nossas organizações e nossos líderes estavam atentos a essa mudança? Entendi que não estávamos preparados para isso e tivemos que nos organizar, criando programas específicos que preparasse essas pessoas para esse novo normal. Não podíamos entender que nosso trabalhador não seria capaz de absorver esse novo conhecimento, mas tínhamos certeza de que ainda não estava pronto para ele. Dessa forma, fomos em busca de alternativas desenhadas para obter esse engajamento da maneira mais natural possível. Criamos o primeiro programa chamado “Nossa Gente”, que teve o objetivo de dar um propósito a todos os trabalhadores, fosse ele ajudante de silvicultura, operador de harvester, operador de drone, motorista de caminhões pesados ou especialista em Big Data. A dinâmica desse projeto era entender a demanda real de cada um, se aproximando dessas pessoas, criando uma via para que, tratando cada um de forma diferente, permitisse que elas se sentissem apoiadas em sua trajetória dentro empresa e, dessa forma, participarem de qualquer mudança que viesse a ocorrer. Criamos também o programa “Trilha de Carreira”, que, através de um mapeamento detalhado dos cargos e funções da empresa, fornecesse a cada um a possibilidade de crescer ou, pelo menos, se colocar em condições de seguir uma trilha que desejar. Nesse programa, criamos a figura do padrinho,

que era escolhido pelos trabalhadores para dar apoio em sua trajetória, orientando-os sobre os processos de treinamentos necessários para cada função e o passo a passo dentro da trilha. Esse atendimento customizado seria necessário para que não houvesse nenhum problema de comunicação para aqueles que tivessem interesse em se movimentar dentro da organização. Eram oferecidos cursos existentes no canal da empresa ou orientações para cursos fora da empresa. Ampliamos o programa “Renovar”, que fornece treinamentos específicos para que as pessoas pudessem ter os conhecimentos e as habilidades necessários para o próximo passo de sua trajetória dentro da empresa. E, dessa forma, deixamos entrar toda tecnologia que se apresentasse como criadora de valor para nossa atividade. Começamos com a criação de um plano diretor de tecnologia, realização de eventos como Innovation Day, Tech week, montamos o IRIS, centro de inteligência e informações florestais, e criamos uma coordenação de competitividade responsável por essa gestão de entradas de tecnologia, assim como os treinamentos necessários para sua implantação. Tivemos contatos com várias startups e fizemos muitos desenvolvimentos interessantes, provas de conceito, desenvolvimento de ferramentas focadas nos segmentos de imagem hiperespectral, conectividade, telemetria, sensoriamento de máquinas, digitalização de informações, automação de ciclos produtivos, dinâmica operacional, medições de performance em tempo real, conhecimento biológico da planta, climatologia e outras. Toda essa tecnologia abriu enormes oportunidades para melhoria do nosso trabalho, mas também mostrou que estávamos certos em preparar antecipadamente nosso time para que fosse incluído nesse futuro que apenas estava começando. O resultado? O fruto da fusão entre o conhecimento do negócio, as startups que querem destinar todo seu conhecimento e criatividade para gerar um produto em que acreditam mais do que tudo e um ambiente receptor dentro da organização; não tinha como dar errado, e estamos seguindo firmes nesse caminho. n

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Índice

produtores

forests, genolyptus e eucagen: sinergia da genômica florestal A palavra “sinergia”, de origem grega (synergia, syn = "união" e -ergía = "unidade de trabalho"), é muito empregada na biologia para definir processos fisiológicos na associação de dois ou mais órgãos, sistemas ou elementos anatômicos, cujo resultado seja a execução de um movimento ou a realização de uma função orgânica; mas também na farmacologia, em especial na combinação de dois ou mais medicamentos, com resultado esperado superior a cada um dos componentes, separadamente. Também na área de negócios, o emprego desse conceito acontece quando uma equipe une forças e competências para trabalhar em grupo na resolução de uma questão em comum. Assim, podemos dizer que sinergia é o ”esforço coletivo e solidário que busca um melhor resultado do que aqueles obtidos individualmente”, ou ”a busca de objetivos comuns através da união simultânea dos membros de um grupo”. Não por coincidência, trazer esse tema para a discussão neste momento, em que vemos um esforço do mundo em buscar soluções para a pandemia do SARS-CoV-2, com união de esforços entre concorrentes no setor de fármacos, por exemplo, é reforçado pela comemoração, no segundo semestre, dos 20 anos de uma das mais inovadoras e sinérgicas iniciativas científicas do setor florestal brasileiro até então, que foi a

O estudo analisou o genoma de 640 milhões de pares de bases de nucleotídeos do eucalipto e contou com a participação de mais de 80 cientistas de 30 instituições espalhadas pelo mundo "

César Augusto Valencise Bonine Gerente Executivo de P&D da Suzano

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inserção definitiva do eucalipto na era genômica. Em novembro de 2001, era lançado pela Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo −, com a participação de quatro empresas florestais paulistas – Duratex, Ripasa, Suzano Papel e Celulose e Votorantim Celulose e Papel –, em conjunto com três das principais universidades públicas paulistas, Universidade de São Paulo (Esalq), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp-Botucatu), o projeto FORESTs: Eucalyptus Genome Sequencing Project Consortium. A proposta de sequenciamento de parte do genoma do eucalipto ia na carona de três bem-sucedidas iniciativas lideradas pela Rede Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos – ONSA (da sigla em inglês), instituto virtual de genômica que reuniu, inicialmente, 30 laboratórios de instituições de pesquisa do estado de São Paulo, financiados pela mesma Fapesp.


Opiniões O mundo, naquela época, estava na fase final da corrida para o sequenciamento completo do genoma humano, e a Rede ONSA já tinha entregue os genomas da Xylella fastidiosa (bactéria causadora do amarelinho dos citros), o genoma da cana-de-açúcar e o genoma humano do câncer. Assim, as quatro empresas privadas participavam desse projeto com o objetivo de melhorar a matéria-prima utilizada na produção de papel, celulose e chapas de madeira. Muito mais que apenas o aporte financeiro, o que se viu nas discussões entre os pesquisadores das universidades e das empresas privadas foi um enorme esforço para a construção de um projeto em que fossem aportadas informações sobre os melhores materiais genéticos de cada empresa, as melhores técnicas de coleta de informações genômicas, as melhores técnicas de sequenciamento e, principalmente, de bioinformática, para montagem das informações produzidas. Foi um trabalho exaustivo e que não teria êxito se não fosse o esforço conjunto e sinérgico de todos os envolvidos. Em paralelo, aproveitando o momento oportuno da Era Genômica, outra iniciativa, complementar ao Projeto FORESTs e de âmbito nacional, surgiu no início do ano seguinte, em 2002. Novamente, num esforço sinérgico incrível, nascia o Projeto Genolyptus. Vinte e três instituições, entre universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas, lideradas pela brilhante mente do Dr. Dario Grattapaglia, se uniram para desenhar um projeto tão ou mais auspicioso que o FORESTs. Além da proposta de sequenciar partes do genoma de espécies de eucaliptos, o Projeto Genolyptus se propôs a gerar novos híbridos, jamais produzidos pelo homem, montando o que foi, à época, o “maior experimento florestal do mundo”, segundo o Jornal da Unicamp, em novembro de 2002. O projeto Genolyptus recebeu o nome de ”Rede Genolyptus”, dada sua amplitude e complexidade, e contou com a participação de treze empresas florestais - Aracruz, Bahia Sul, Celmar, Cenibra, International Paper, Jari, Klabin/ Riocell, Veracel, Lwarcel, Votorantim Celulose e Papel, Rigesa, Zanini Florestal e Instituto Raiz - Portugal. Da academia, fizeram parte oito das principais instituições de ensino e pesquisa do Brasil - Universidade Católica de Brasília, Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual de Santa Cruz, Universidade Federal de Goiás, Embrapa, Universidade Federal de Lavras, Universidade Federal de Viçosa e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O projeto contou com coordenação de pesquisadores das empresas e das universidades, gerando uma rede de experimentos que foi instalada de Norte a Sul do Brasil e que ainda hoje é referência para a seleção de árvores superiores ou para novos estudos genéticos. Os pesquisadores sequenciaram trechos de genes de eucalipto, organizando um dos maiores bancos de genes de uma árvore. Durante a condução do projeto, os participantes se reuniam periodicamente para discutir os detalhes do andamento do projeto. Eram ricos momentos de compartilhamento de conhecimento, realinhamento de ações, prestação de contas, visitas a laboratórios e experimentos de campo, enfim, momento de todos os participantes ”elevarem a barra” de um novo e promissor conhecimento, literalmente ao nível do DNA. Como complemento das duas iniciativas brasileiras de estudo do genoma do eucalipto, em julho de 2007, o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) anunciou a aprovação da proposta da rede internacional Eucagen (Eucalyptus Genome Network), liderada por três países, entre eles o Brasil, para o sequenciamento completo do genoma do eucalipto. Era a primeira árvore de interesse comercial a ter seu genoma completamente sequenciado. A árvore escolhida para ter seu genoma totalmente conhecido foi um exemplar de Eucalyptus grandis, genuinamente brasileiro até no nome, o BRASUZ1, produzido pela Suzano Papel e Celulose. O estudo analisou o genoma de 640 milhões de pares de bases de nucleotídeos do eucalipto e contou com a participação de mais de 80 cientistas de 30 instituições espalhadas pelo mundo. E os frutos dessas três iniciativas – Projeto FORESTs, Rede Genolyptus e Eucagen – não ficaram restritos a gerar conhecimentos científicos. A grande maioria dos pesquisadores em melhoramento genético das empresas florestais brasileiras atualmente, vários professores das principais universidades do País e alguns executivos das empresas florestais tiveram participação nesses projetos. Um conceito que parecia impossível, de concorrentes compartilharem conhecimentos, recursos financeiros, estruturas de laboratório e campo e, principalmente, materiais genéticos superiores, teve êxito, gerou frutos e só foi possível com lideranças engajadas e espírito de trabalho em equipe. Sinergia colocada em prática. n

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Índice

produtores

a indústria florestal e a relação

com as pessoas

O setor florestal se mantém pujante nos dias atuais, e a indústria de base florestal fechou 2019 com US$ 10,3 bilhões de saldo na balança comercial. O segundo melhor resultado nos últimos 10 anos. As exportações somaram cerca de US$ 11,3 bilhões, o equivalente a 4,3% das exportações brasileiras. O setor de árvores plantadas também é responsável por aproximadamente 3,75 milhões de empregos diretos, indiretos e resultantes do efeito-renda. Mas a pergunta é: o que e quem faz tudo isso acontecer nessa cadeia de geração de valor? A resposta é: são as pessoas que fazem tudo isso acontecer. Fortalecer o capital humano é primordial, mas empoderar o ser humano a construir um mundo melhor é espetacular. Investir nas pessoas é olhar para o hoje e construir um melhor futuro para as novas gerações. O setor florestal e os diversos atores que o compõem, concentram pessoas de diversas particularidades, e a interação entre elas é fundamental para que possamos buscar um objetivo comum: fortalecer ainda mais a indústria de florestas plantadas.

Recentemente, a Aperam foi reconhecida e premiada como um lugar incrível para se trabalhar. Essa conquista foi e está sendo motivo de orgulho e celebração. "

Edimar de Melo Cardoso Diretor de Operações da Aperam BioEnergia

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Acompanhamos e analisamos políticas e estratégias que as empresas e instituições do setor vêm utilizando para empoderar e engajar pessoas a darem o melhor de si em consonância com os valores de cada um e também do “todo”. Assim, podemos falar de alinhamentos de valores: o meu valor está alinhado com o valor da instituição, empresa e/ou do “objetivo comum“? Precisamos refletir também sobre como fortalecer o “setor florestal como um todo“. E aqui precisamos nos provocar sobre o que queremos e como podemos contribuir? Uma boa política de gestão de pessoas poderia ser compartilhada com o “todo“, e o quão a cadeia de construção de valor do setor florestal está nivelada? Como podemos contribuir para que as melhores práticas também se tornem práticas dos atores menos desenvolvidos nas cadeias? Sabemos identificar quais são os centros de excelência na gestão de pessoas? As melhores tecnologias serão capazes de transformar e contribuir para uma prosperidade local e/ou global sem o incentivo direto nas pessoas?


Opiniões Cada vez mais observamos no setor florestal, excelentes exemplos na gestão de recursos humanos. Testemunhamos diversas empresas sendo reconhecidas por prêmios de melhores e/ou lugares incríveis para se trabalhar. Podemos dizer que, por trás das premiações, existem várias políticas e alinhamentos de valores que conduzem as pessoas para um caminho sustentável em todos os ângulos. Fica claro que a igualdade de oportunidades, gênero, crenças, reconhecimento, recompensas são assuntos cada vez mais debatidos e encorajados nas organizações. Se bem utilizadas, as pesquisas de clima são ferramentas de gestão poderosíssimas para diagnóstico e redirecionamento. Com foco em “fazer diferente“, talvez possamos, cada vez mais, evoluir como pessoas, empresas e mundo. A pesquisa teria que ser pensada como consequência e não como essência. A essência precisa ser pensada para direcionar as ações de melhoria de clima, com respeito à diversidade em todo o ambiente de convivência e, consequentemente, nas suas próprias vidas. Recentemente, a Aperam foi reconhecida e premiada como um lugar incrível para se trabalhar. Essa conquista foi e está sendo motivo de orgulho e celebração. Dividir esse reconhecimento com todos do nosso time e com a sociedade é motivo de alegria. Mas a ideia é estruturar grupos de trabalho para entender os pontos de melhoria e fortalecer ainda mais as boas práticas, pois, quando incentivamos as pessoas a se doarem e compartilharem ideias para construir um ambiente ainda melhor, sabemos que o resultado é a consciência de que ainda precisamos trabalhar duro para evoluir em diversos assuntos, como diversidade, igualdade de oportunidades, reconhecimento, relacionamento, valorização e outros tantos. Podemos dizer que estamos no caminho certo e com uma tarefa empolgante e que ainda perdurará por muitos anos. A diversidade traz “lucro“. Podemos citar várias pesquisas que confirmam essa afirmação. Mas, antes de falar em lucro, as empresas precisam encorajar e empoderar as pessoas para que deem o melhor de si. O RH das empresas, os líderes e influenciadores precisam refletir sobre o que podemos fazer melhor e diferente, pois a diversidade traz um desafio robusto para todos. Equipes diversas geram opiniões diversas, inovação e diferentes pontos de vista. Catalisar essa oportunidade para o objetivo comum é o grande papel dos líderes e influenciadores. E não é um papel fácil.

Portanto gerar lucro é uma constatação, porém alcançá-lo é completamente diferente. Nesse contexto, podemos afirmar que a liderança terá que ser cada vez mais aberta, preparada e catalisadora de ideias e ações para desbloquear todo o potencial das equipes diversificadas. Esse desafio é do mundo atual e não é diferente para o setor florestal. Talvez tenhamos que refletir sobre o que precisamos evoluir, considerando as diversas instituições que treinam, ensinam, encaminham, direcionam os futuros e atuais líderes. E fica a pergunta: onde nascem os líderes? Como fazer para educá-los sem se posicionar, apenas mostrando as opções existentes? Esse é um caminho para formar mentes mais abertas para a diversidade. Entretanto e aqueles que já estão formados ou mal informados? Uma empresa que desafia o seu tempo, com metas robustas e foco em resultados, muitas vezes é confundida como uma empresa que não pensa nas pessoas, mas em resultados acima de tudo e no lucro financeiro. Se refletirmos bem, podemos dizer que o resultado é consequência. Então, as empresas precisam estar focadas em pessoas, com comunicação clara e um propósito em comum. Portanto, para chegar lá, não tem como ser por outro caminho a não ser pelas pessoas. O que podemos, por vezes, confundir é o conceito de resultado, pois resultado não é simplesmente um indicador financeiro, trata-se de um propósito e valor tangível e/ou intangível e que traga, no final, algum tipo de prosperidade à humanidade. É importante nos orgulharmos do que fizemos até aqui. Hoje, para mim, encontramos na “diversidade” o caminho para alavancar a nossa indústria florestal. O cerne da questão é: precisamos pensar, cada vez mais, em estímulos, para que as pessoas se sintam empoderadas e engajadas a darem o melhor de si para construir um propósito, que irá gerar o desenvolvimento sustentável, que será o alicerce da prosperidade social. Enfim, precisamos elevar, cada vez mais, a humanidade e a igualdade em nossas empresas, por meio da inclusão e da diversidade. Ou seja, fazer a nossa parte na história e olhar para o “todo“, pois não podemos correr o risco de sermos um destaque solitário. Precisamos treinar para convergir nossa expectativa para o ”propósito comum”. Assim, poderemos construir um mundo melhor hoje e deixar um legado, ou apenas uma contribuição para as futuras gerações. n

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Índice

produtores

as florestas plantadas e o

desenvolvimento socioeconômico dos municípios

Como integrantes do setor de base florestal brasileiro, sabemos que o nosso trabalho e a nossa responsabilidade vão além da produção e das premissas de conservação do meio ambiente e do equilíbrio da biodiversidade. Fazer parte desse setor nos coloca no papel fundamental de também contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do nosso território. Nos últimos anos, essa função do setor de celulose já estava amplamente consolidada, com foco no apoio às comunidades – que, muito mais do que um grupo de vizinhos, constitui-se uma forte rede de parceiros. Como setor, buscamos trabalhar as sinergias do sistema florestal com as pessoas do nosso território, gerando desenvolvimento local e atraindo melhorias de infraestrutura, que culminam em novas oportunidades de negócios para a própria comunidade. Apesar de a base de nosso negócio ser florestal, infraestrutura é algo muito importante para as operações logísticas de qualquer setor industrial e, quando a empresa investe nisso, ela gera desenvolvimento direto para toda a região em que atua.

somente em 2020, a Veracel destinou mais de R$ 4 milhões em apoio para infraestrutura e manutenção de estradas públicas dos 11 municípios onde opera, localidades que, juntas, abrangem uma população de mais de 400 mil pessoas. "

Moacyr Fantini Junior Diretor Florestal da Veracel Celulose

Além disso, muitas vezes, esses investimentos representam um alívio importante para o caixa das prefeituras e abrem margem para que recursos sejam destinados a outros benefícios para a população. Como exemplo da relevância desse tipo de aporte, somente em 2020, a Veracel destinou mais de R$ 4 milhões em apoio

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para infraestrutura e manutenção de estradas públicas dos 11 municípios onde opera, localidades que, juntas, abrangem uma população de mais de 400 mil pessoas. Em paralelo, o setor também vem criando caminhos para fortalecer os produtores locais, com a disseminação de técnicas de aumento de produtividade, apoio para a criação de novas fontes de renda e educação ambiental para a promoção de uma consciência voltada ao uso racional de matéria-prima e recursos naturais. Para se ter uma ideia desse trabalho, o investimento social realizado pela Veracel Celulose, em 2020, foi de R$ 12,2 milhões, com atendimento a mais de 16 mil pessoas. Esse valor contempla projetos de agricultura familiar, entre outras iniciativas de geração de renda, educação e doações de apoio emergencial na prevenção à pandemia da Covid-19.


Opiniões Além disso, viabilizar a participação dos produtores rurais na cadeia produtiva da empresa traz um equilíbrio importante quando tratamos de uma produção que ocupa um espaço grande no território onde está inserida. Na Veracel, por exemplo, há 89.713 hectares de área plantada, mas também há mais 22.958 hectares destinados ao plantio de eucalipto por produtores florestais locais. Desde o ano passado, esse equilibro e responsabilidade social passou a ser mais latente: tudo em que trabalhávamos para o desenvolvimento socioeconômico precisou ser revisitado, uma vez que a necessidade de adoção de protocolos preventivos e protetivos, incluindo o isolamento social, ampliam ainda mais as necessidades da comunidade, que passou a sofrer com a interrupção abrupta de renda e a exposição ao risco de contaminação pelo coronavírus. Isso se soma ao fato de que, de início, as restrições da pandemia impactaram o rendimento das atividades de campo no primeiro semestre de 2020. Novos arranjos institucionais colaborativos passam a ser cada vez mais priorizados e trabalhados como premissa nesse contexto. Nos 11 municípios no sul da Bahia, onde está localizada a Veracel, essa premissa é aplicada ao operarmos uma plataforma multi-institucional de apoio à agricultura familiar, baseada nos conceitos da agroecologia. Desenvolvemos projetos voltados à produção de alimentos, envolvendo centenas de famílias de pequenos agricultores, organizados em associações. São iniciativas realizadas em conjunto com instituições parceiras e também com poder público, empresas privadas, universidades e movimentos populares, uma rede colaborativa que apoia ações de geração de renda em comunidades rurais e indígenas e também em assentamentos de reforma agrária. Apesar do significativo impacto que a pandemia representa para a qualidade de vida das comunidades, observamos que parte desses grupos já se encontra em patamar de desenvolvimento de suas atividades produtivas, com a presença de conceitos da sustentabilidade. Essas comunidades se diferenciam por demonstrarem conhecimentos que se mostraram fundamentais para transformar a agricultura familiar em uma aliada para a melhoria da qualidade de vida, diminuindo a vulnerabilidade em relação à segurança alimentar e nutricional. Tudo isso com a consciência da necessidade de manutenção do isolamento social como forma de proteção à saúde. Nessas comunidades, já percebemos resultados da agricultura familiar sustentável, com base em conceitos de agroecologia, mínima

dependência de insumos químicos, arranjos produtivos adequados à realidade e à vocação das famílias e também com a introdução de culturas agrícolas de diferentes ciclos, de curto, médio e longo prazos de cultivo. Temos observado, na prática e por meio de pesquisas que medem a qualidade das relações da empresa junto à própria comunidade, que as ações realizadas resultam em projetos de agricultura familiar equilibrados, com arranjos produtivos sustentáveis, produção de alimentos diversificados, saudáveis e com mínima dependência de insumos químicos de alto custo. Esses fatores associados têm permitido que muitas comunidades consigam se manter em isolamento social, preservando seus grupos de risco. Além disso, os grupos que estão em situação de menor vulnerabilidade são os mais bem-sucedidos em ações de fortalecimento de redes cooperativas, tendo como parceiros o poder público, empresas, universidades e instituições locais. O apoio, direto ou indireto, de parceiros externos mostrou-se um fator indispensável, principalmente neste momento, para desenvolvimento de estratégias e mecanismos contínuo de boas práticas; acesso a mercados para seus produtos; e informação sobre prevenção. Esses fatores ampliam a segurança, o autossustento e as oportunidades de renda, mesmo que reduzidos, em função do cenário de crise mundial. As conquistas dessas comunidades estão ligadas diretamente ao fato de estarem em regiões de cultura de floresta plantada. A Costa do Descobrimento abriga um excelente exemplo desse desenho de sinergias e arranjos institucionais em prol de projetos que cooperem para o desenvolvimento sustentável de diferentes comunidades. Por meio de trabalhos em parceria com Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/USP), o projeto Assentamentos Agroecológicos Sustentáveis assiste mais de 1.400 famílias de pequenos agricultores. Os resultados alcançados estão contribuindo para a geração de renda e a mitigação dos efeitos negativos da pandemia e do necessário isolamento social. A pandemia evidenciou esses resultados e comprova que o setor de florestas plantadas vem caminhando no sentido certo para a criação de laços e parcerias com o território, criando sinergias de conhecimento e gerando novas oportunidades para o desenvolvimento. A atuação em rede comprovou seu valor neste momento de crise como fator essencial para o desenvolvimento sustentável. n

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Índice

entidades

o legado de

Erling Lorentzen

Referência para o mundo, o setor brasileiro de árvores cultivadas carrega uma herança que começou com visões inovadoras de homens e mulheres que, no início do século passado, criaram uma base para o setor, como Maurício Klabin, Max Feffer e Erling Lorentzen. Se hoje a bioeconomia se fortalece no País, muito se deve a eles. O DNA de sustentabilidade, atuação social e inovação tem base em pessoas espetaculares como essas. São os fundadores do setor e parte do impulsionamento que fizeram essa agroindústria habilitada a atender às demandas de milhões de pessoas em todo o planeta, em diversos produtos essenciais, renováveis e verdes.

Produtos que estão no dia a dia de todos, como livros, pisos, papéis higiênicos e embalagens móveis. Das árvores cultivadas, também são tecidos de viscose, desinfetantes, colas, aromatizantes, espessantes, solventes, vernizes, etc. E, quando uma dessas pessoas nos deixa, é preciso dividir um pouco dessa história com todos. Portanto, para homenagear e contar um pouco para as novas gerações, precisamos falar sobre o mais brasileiro dos vikings, o Sr. Lorentzen, que nos deixou em março. Nascido em 28 de janeiro de 1923, em Oslo, teve uma história memorável, seja por sua trajetória como herói da Segunda Guerra Mundial; por seu casamento com a princesa Ragnhild da Noruega, com quem teve três filhos, Haakon, Ingeborg e Ragnhild; ou por seu empreendedorismo no Brasil. Chegou ao País por causa dos negócios da família.

Em uma entrevista à Harvard Business School, Erling Lorentzen resumiu sua fala: ‘Há um ditado que diz que nada é impossível. Só que o impossível leva um pouco mais de tempo para ser feito’. "

Paulo Hartung Presidente executivo da Ibá

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Opiniões Foi fundador e presidente da Aracruz Celulose, cujo projeto foi concebido para exportação de cavaco, mas ganhou corpo e evoluiu para uma indústria local de processamento de celulose. Não se intimidou com as desconfianças e incertezas da época, mas insistiu em levantar, no Espírito Santo, a maior fábrica de celulose, com 400 mil toneladas por ano — muito para a época —, tornando-se, ao longo de anos, uma gigante de mais de 3 milhões de toneladas. A influência do Sr. Lorentzen mudou o paradigma de um país exportador de commodities sem valor agregado e sem industrialização, além de ter inovado no entendimento de que o valor precisa ser compartilhado com a comunidade e com o meio ambiente. A Aracruz Celulose foi listada na Bolsa de Valores de Nova York — inicialmente, era a única empresa florestal do mundo a participar do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Em seus pensamentos, rondava a palavra inovação, e muitos do desenvolvimento de novos produtos do segmento foram fomentados por essa fagulha provocadora, como pesquisas com nanocelulose e lignina. O Sr. Lorentzen, junto a Eliezer Batista, criou o Business Council for Sustainable Development (atual WBCSD), que lançou o livro Change Course na Conferência do Rio em 1992. Esse foi o estopim para nascer o estudo Sustainable Paper Cycle, feito de forma independente pelo IIED (International Institute for Enviroment and Development). Na sequência, houve a criação do Forest Solutions Group, que reuniu empresas florestais do mundo, e o Forest Dialogue (TFD), grupo de diálogo entre organizações florestais e ONGs. Para o Brasil, a dupla também foi responsável pela formação do Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), e, apesar de sua participação não ter sido direta, o TFD foi um modelo para a criação do Diálogo Florestal e da Coalizão Brasil Clima Agricultura e Florestas, segundo Carlos Roxo. Carlos Aguiar, que trabalhou de perto com o Sr. Lorentzen, foi presidente da Aracruz e da Fibria e participou da criação da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a visão estratégica que ele tinha chamava a atenção. Ele se voltou à inovação e foi capaz de transpor uma cultura que trouxesse novos mecanismos e tecnologias a partir das árvores cultivadas. Em um comunicado divulgado por seu filho, Haakon Lorentzen, fazer diferença em um Brasil tão carente era um dos objetivos do seu

pai. “Media seu desempenho não por parâmetros meramente financeiros, mas sim pela quantidade de empregos de qualidade criados e pelo impacto no desenvolvimento econômico para a sociedade em geral”. A visão do empreendedor transformou valores e norteou muitas ações conhecidas hoje no setor. Embora não existisse uma legislação ambiental brasileira específica para a atividade à época, o Sr. Lorentzen trouxe o que havia de mais moderno com relação a padrões ambientais utilizados nos Estados Unidos, Canadá, Suécia e Noruega. A realização levou o setor voluntariamente para o caminho das certificações pelos principais sistemas internacionais e, comprovadamente, adota práticas de manejo sustentáveis. O setor florestal nacional abraçou o eucalipto e o tornou um protagonista no cultivo e na produção de matéria-prima a partir da espécie. Essa ação bem-sucedida teve o apoio do Sr. Lorentzen, o qual incentivou que engenheiros brasileiros fossem estudar no exterior, com o objetivo aprofundar conhecimento e voltassem ao Brasil com as melhores práticas para fibras de eucalipto. Não à toa, a nação brasileira é a maior exportadora de celulose do mundo. Rico, velejador, simples, amava a marcenaria e o clichê, “um homem à frente de seu tempo” representava-o muito bem. Sempre morou no mesmo apartamento no Rio de Janeiro e passava muito tempo no interior do Espírito Santo, em sua casa em Pedra Azul. Além de sua contribuição ao estado por ter construído a pioneira em celulose – algo que provou seu amor pelo povo capixaba –, também revelou a moradia em Pedra Azul, seu refúgio favorito. O Sr. Lorentzen faria um bom trabalho, como sempre fez, se estivesse no comando de qualquer companhia hoje. O líder se foi, mas seus aprendizados, exemplos e atitudes permanecem firmes e fortes. Em uma entrevista à Harvard Business School, resumiu sua fala: “Há um ditado que diz que ‘nada é impossível. Só que o impossível leva um pouco mais de tempo para ser feito’. Eu acho que é muito importante se convencer do que você está fazendo e não desistir sob nenhuma circunstância, porque, no meio do caminho, você vai enfrentar centenas de dificuldades. Tanta coisa pode acontecer no meio do caminho… O sucesso é uma questão de persistência”. Uma mente brilhante e inspiradora como exemplo a todos nós. n

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PC350F FELLER BUNCHER

A Komatsu Forest Brasil tem o orgulho de lançar o PC 350F Feller Buncher, uma máquina 100% nacional, com uma tecnologia imbatível e chegando em 1º lugar no mercado florestal de processo Full Tree.


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A nova Feller Buncher possui uma tecnologia diferenciada e preparada para a ICT - Tecnologia da Informação e Comunicação, além de contar com o Sistema por telemetria via satélite, o KOMTRAX® da Komatsu Forest. A KOMATSU FOREST BUSCA SE SUPERAR CADA VEZ MAIS PARA GARANTIR MAIS RESULTADOS E PRODUTIVIDADE A SEUS CLIENTES E PARCEIROS.

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Índice

entidades

sinergia de interesses e união de diferentes No Brasil, embora existam entidades representativas de variados segmentos econômicos há décadas, o associativismo no setor privado ainda não é merecidamente compreendido, de forma a contribuir para a otimização de sua atuação e, consequentemente, de seus resultados. Podemos afirmar, com segurança, que uma significativa parcela dos avanços obtidos e do posicionamento institucional conquistado por cada um desses segmentos é devido ao trabalho, muitas vezes despercebido, que as associações realizaram diante das demandas enfrentadas. A questão que proponho apresentar não é a intensidade ou o volume da atuação das associações, tampouco sua forma de organização, e sim a estratégia, o modelo de governança e os direcionamentos para obter resultados que transformam positivamente a realidade de seus representados, e, nesta oportunidade, farei um breve

recorte sobre a evolução da representação do setor de florestas cultivadas em Minas Gerais. A Associação Mineira da Indústria Florestal - AMIF, é resultante de uma transição do posicionamento e relacionamento institucional setorial que ocorreu ao longo dos últimos cinco anos, catalisada por empresas que são, simultaneamente: concorrentes, parceiras, clientes e fornecedoras no mesmo mercado. Embora com aparentes conflito de interesses, distintas estruturas organizacionais e modelos de governança diversos, essas empresas se alinharam para um mesmo propósito: ressignificar e conduzir a indústria florestal mineira para uma nova forma que resultasse na melhoria da competitividade e no desenvolvimento do setor em Minas Gerais, em bases sustentáveis. Mas, na prática, como é possível alcançar essa sinergia entre os diferentes? Essa, talvez, seja uma das questões que mais ouvimos quando apresentamos a AMIF e, sem dúvida, é o que mais nos motiva a desenvolver e exercer o que acreditamos ser a nova representação setorial. Primeiramente, o que possibilita essa sinergia é o reconhecimento do ponto de equilíbrio de forças. Compreender que, dentro da associação, serão todos reconhecidos, tratados e se comportarão como iguais. Diferenças de porte, segmento de atuação, abrangência territorial ou qualquer outra distinção que exista entre as associadas no mercado, dentro dos muros da associação ou na condição de representados, são realmente zeradas. Inclusive, apesar de diferentes, como condição básica de ingresso, todos devem ter em comum a adoção das melhores e verificáveis práticas ambientais, sociais e econômicas em seus negócios. A paridade de forças é basilar no novo modelo de representação setorial.

A AMIF, é resultante de uma transição do posicionamento e relacionamento institucional setorial que ocorreu ao longo dos últimos cinco anos, catalisada por empresas que são, simultaneamente: concorrentes, parceiras, clientes e fornecedoras no mesmo mercado. " Adriana Maugeri Presidente executiva da AMIF

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Opiniões Uma vez garantido o basilar equilíbrio de forças, é necessário identificar e consolidar a unificação de propósito. É preciso estabelecer um planejamento estratégico eficaz, com objetivos racionais e metas factíveis, de forma a orientar com clareza a estratégia adotada. Esse planejamento é vital, é ele quem evidencia para a sociedade a convergência dos diferentes; deixando evidente quais são os interesses comuns que justificam a sinergia, que justificam a própria existência da associação setorial. Paridade de forças e unificação de propósito garantidos, é hora de montar um time forte, altamente capacitado para conduzir a associação, de forma a se tornar um centro de excelência e referência. A experiência nos mostrou que, diante da contínua busca e investimentos dentro das organizações representadas, a associação, no mínimo, deve apresentar igualdade de condições de seu capital humano e intelectual para ser devidamente respeitada, valorizada e, consequentemente, alcançar os objetivos propostos, que, naturalmente, já garantem alta dose de desafio, técnica e estratégia. Atualmente, ao buscar a associação setorial para auxiliar em uma questão crítica, na maior parte das oportunidades, a empresa já buscou internamente os melhores meios para resolvê-la, até mesmo contou com consultorias externas, de forma que a questão chega, em grande parte, já em nível crítico de complexidade e urgência e que exige condução diferenciada. Diante dessa realidade e da experiência que o exercício executivo nos traz, as questões que sempre surgem para os líderes nas organizações são: 1. Qual a efetividade em levar uma questão desse nível de complexidade a uma associação que não tem excelência técnica, práticas éticas e reais condições de me auxiliar, de forma eficaz, na solução necessária? 2. Quais os diferenciais representativos que essa associação possui e com que poderei contar para alcançar os melhores resultados para esse caso? Para a representação setorial, penso que a resposta deve ser: essa associação é reconhecidamente um centro de excelência contínua, pois evolui e se prepara constantemente diante dos inúmeros desafios e oportunidades que o exercício estratégico da representação setorial proporciona − na dúvida, olhe com atenção nossos resultados. Essa excelência é desenvolvida tendo como critérios os princípios valores compartilhados entre os associados, aliados a uma substancial base técnica com metodologia rastreável,

argumentação focada, evidenciação robusta e relacionamentos assertivos, que certamente resultam na redução ou até mesmo na erradicação das subjetividades. É o claro exercício do advocacy, a defesa dos interesses setoriais de forma equilibrada, ética e democrática, que proporcione a atuação junto aos governos, à sociedade civil organizadas e ao setor privado, de forma a contribuir para resultados positivos esperados e necessários para o desenvolvimento do setor e dos territórios onde ele se relaciona. A nova forma de representar o setor não quer convencer sobre sua importância e relevância, tampouco sobre os benefícios comprovados que carrega em suas múltiplas atividades; na verdade, trabalha árduo para conquistar espaços e apresentar conteúdo, argumentações adaptadas às linguagens e realidades que proporcionam o exercício do pensamento crítico. Assim, utilizando as melhores ferramentas que as organizações possuem, a associação setorial que se propõe ser referência deve ampliar com paridade de forças a participação e a representatividade do setor em seu território, considerando sua rica e complexa diversidade, de forma a alcançar, com autonomia, os interesses comuns identificados pelos diferentes associados. A nova forma de representar o setor florestal certamente é responsável por grande parte dos avanços de que hoje as empresas se beneficiam. Em Minas Gerais, por exemplo, a AMIF conseguiu, junto ao governo estadual, racionalizar e otimizar condições tributárias e ambientais que, até pouco tempo, ameaçavam criticamente a sustentabilidade e a própria permanência do setor. Até mesmo nesse crítico e adverso momento pandêmico que vivemos, a AMIF obteve, junto ao governo, as condições legais necessárias para o pleno exercício das atividades, que resultaram em um expressivo crescimento e expansão de mercado, não visto há décadas. Sem dúvida alguma, a nova representação está, de fato, contribuindo para a ampliação do exercício da democracia, entregando, com transparência e objetividade, contribuições singulares para a construção de um ambiente favorável aos negócios do setor. Dessa forma, juntos, alcançamos um merecido reconhecimento e abertura que não tínhamos ainda vivenciado, mesmo cientes de que ainda há muito a ser feito; estamos trilhando um caminho certeiro para uma colheita produtiva para o presente e o futuro do setor florestal. n

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Índice

centros de desenvolvimento do conhecimento

diversidade e inovação Você aceitaria participar de uma iniciativa inovadora que poderia mudar a história do setor de florestas plantadas? E se essa iniciativa tratasse de um tema considerado polêmico para alguns setores da sociedade? Ainda assim, você aceitaria? Em 2010, a Suzano decidiu desbravar esse caminho. O objetivo era avançar com uma pesquisa já em andamento destinada a viabilizar a aprovação para uso comercial de um eucalipto geneticamente modificado (GM), visando a uma maior produtividade. Mas os desafios iam além. Era preciso aperfeiçoar o protocolo de transformação genética para que outros clones de eucalipto também pudessem ser modificados de forma rápida, eficiente e com baixo custo. Isso habilitaria a Suzano a inserir outros genes de interesse no eucalipto, repetindo, no setor florestal, o sucesso já conhecido na agricultura com o uso intensivo da biotecnologia. Essa é parte da história protagonizada pela Suzano na biotecnologia florestal. Ela teve início em 1998, quando a empresa decidiu investir em um projeto de transformação genética, com equipe e recursos próprios, e acelerou, em 2001, data em que a empresa firmou um acordo bem-sucedido com a então startup israelense CBD Technologies, hoje denominada FuturaGene.

Por meio dessa parceria, entre 2006 e 2007, foram plantados os primeiros experimentos com eucalipto GM no estado de São Paulo. Como resultado, a empresa conseguiu desenvolver o evento de transformação dessa variedade de eucalipto, que, desde a fase juvenil, já demonstrava ganhos significativos de produtividade em relação ao clone original. Em 2010, diante dos resultados promissores e confiante no potencial da biotecnologia, a Suzano adquiriu a FuturaGene, que se tornou, então, parte integral da Suzano e pioneira em biotecnologia florestal no mundo. Em 2015, após intensos estudos de biossegurança, a FuturaGene obteve aprovação, para uso comercial, dessa variedade de eucalipto para aumento de produtividade e de seus derivados. O reconhecimento, pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), de que esse eucalipto geneticamente modificado é seguro para o meio ambiente, para a saúde humana, animal e vegetal é um marco determinante para a eucaliptocultura, demostrando o pioneirismo e a competência brasileira nesse setor. Esse eucalipto foi e continua sendo o primeiro eucalipto GM a ser aprovado para uso comercial no mundo, e a FuturaGene, a primeira empresa brasileira privada a submeter e obter aprovação para uso comercial de uma planta geneticamente modificada.

Em nossos Centros de Pesquisa em Israel e no Brasil, atuam pesquisadores de inúmeras nacionalidades. Essa diversidade cultural e acadêmica gera um ambiente muito fértil para a inovação. "

Eduardo José de Mello Vice-presidente de Melhoramento Genético da FuturaGene

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Opiniões

Centro de Pesquisa da FuturaGene, Rehovot, Israel

O que parecia um sonho transformou-se em realidade! O setor de florestas plantadas brasileiro conseguiu se capacitar para liderar um projeto completo de eucalipto GM, do protocolo de transformação genética aos testes de campo, passando pelos estudos regulatórios, até a conquista da aprovação comercial pelo órgão regulador. E, nessa trajetória, o pipeline da FuturaGene se ampliou e se solidificou. Além dessa e outras tecnologias voltadas ao aumento de produtividade, também nos dedicamos a desenvolver eucaliptos GMs com as características que tanto fazem sucesso na agricultura, ou seja, tolerância a herbicidas e resistência a insetos. Essas tecnologias estão em fase de estudos regulatórios, etapa que antecede a submissão para aprovação comercial. Todas essas tecnologias trazem ganhos de competitividade atrelados a benefícios socioambientais, como, por exemplo, redução da área necessária para plantio, uso mais eficiente dos recursos, entre tantos outros. Embora a área plantada com eucalipto geneticamente modificado seja ainda limitada e restrita à experimentação, no setor agrícola, a realidade é diferente. Segundo a ISAAA (em português, Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia), a área plantada no mundo com soja, milho, algodão e outras culturas GM soma 200 milhões de hectares. A ampla adoção dessa tecnologia pelos agricultores tem colaborado para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável e lucrativa. Ao fazer uma retrospectiva dessa parceria entre Suzano e FuturaGene, uma pergunta vem à tona: como foi possível desenvolver a

biotecnologia do eucalipto sem a participação das grandes empresas transnacionais que dominam esse segmento da agroeconomia mundial? A resposta é o poder da união de diferentes expertises e culturas quando o assunto é inovação. A FuturaGene possui um centro de pesquisa em Israel e outro no interior de São Paulo, onde atuam pesquisadores de inúmeras nacionalidades, além dos israelenses e brasileiros. Essa diversidade cultural e acadêmica gera um ambiente muito fértil para a inovação. Com respeito e espírito de colaboração, os times de pesquisadores atuam em sinergia e transformam as diferenças de idioma, calendário e fuso horário em elementos que enriquecem a convivência e que possibilitam crescer no campo profissional e pessoal. Como exemplo, para lidar com a distância física, adotamos a videoconferência no nosso dia a dia, com extrema eficiência, uma década antes de a pandemia da Covid-19 nos obrigar a trabalhar on-line. Aprendemos a valorizar as diferenças e transformá-las em uma poderosa ferramenta em prol de um propósito único que nos move diariamente: inovar para a sustentabilidade. A inserção da indústria brasileira de base florestal na bioeconomia passa por evoluirmos em conhecimento e expertise biotecnológico. Ao embarcar nessa trajetória, a Suzano, mais uma vez, colocou em prática seu DNA inovador e, como resultado, acelerou o desenvolvimento tecnológico da indústria florestal global. A aquisição da FuturaGene foi fator preponderante para avançar nessa direção, buscando inovação e sustentabilidade nas bases sólidas do conhecimento científico e da cooperação internacional. n Centro de Pesquisa da FuturaGene, Itapetininga, Brasil

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centros de desenvolvimento do conhecimento

cooperação gera sinergia e dá frutos A Embrapa é uma senhora de quase 50 anos e tem uma história muito interessante na forma de atuação ou nas suas diretrizes para atuação. Ao longo do tempo, os problemas de pesquisa mudaram e se complexaram. Nos anos 1980, os desafios de pesquisa estavam baseados em aumentar a produtividade de 8 para 10, dizíamos que a pesquisa começava e acabava no produtor. Nos anos 1990, continuávamos a nos preocupar com produtividade, mas se falava muito de aspectos ligados ao mercado e à qualidade dos produtos. Agora, começava no produtor, mas acabava no mercado. Na segunda metade dos anos 1990, veio muito forte a questão ambiental e, nos anos 2000, a questão social. Era a pesquisa do produtor para a sociedade. Também saímos da porteira e passamos a ver cadeias completas, mercados globais, novos produtos, integrações entre setores nunca dantes imaginados. Com a Covid, fomos buscar soluções baseadas em nanocelulose para filtros, para a saúde. Drone para fazer serviços de gente que está em casa. E, agora, estamos na era da inovação; fala-se em tripla hélice, plataformas de inovação, geração de ativos pré-tecnológicos e tecnológicos, internet das coisas, floresta 4.0 e outros termos. Mas, independente do nosso modelo de pesquisa e de suas complexidades, a questão da cooperação, do trabalho em rede sempre estabeleceu o pano de fundo de nossos trabalhos.

as associações de reflorestadores da região Sul, vieram à Embrapa Florestas e disseram: “temos um problema” e nossa equipe respondeu: “vamos buscar a solução”. " Erich Schaitza Chefe-geral da Embrapa Florestas

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Olhando para trás, está claro que todos os nossos programas de pesquisa de sucesso foram baseados em um trabalho muito integrado com os beneficiários de seus resultados. Olhando para frente, não vejo outra saída, além de continuarmos procurando cooperação e sinergia nos setores governamentais e no setor produtivo. Podia contar uma série de estórias sobre nossa experiência de cooperação, mas faltaria papel e ficaria chato. Então, vou falar de dois trabalhos cooperativos que espelham a sinergia de trabalharmos pesquisa e desenvolvimento em parceria com o setor privado e governo. O primeiro é o caso do Funcema. Um fundo privado, criado para controlar uma praga de pínus, a vespa-da-madeira (a Sirex noctilio). Em 1988, a vespa entrou no Brasil atacando áreas no Rio Grande do Sul. Logo em seguida, começou a migrar para Santa Catarina, em direção ao Paraná. Industriais da região Sul, capitaneados pela diretoria das associações de reflorestadores da região Sul, vieram à Embrapa Florestas e disseram: “temos um problema” e nossa equipe respondeu: “vamos buscar a solução”. As pessoas-chave na criação do programa foram Telmo de Azevedo e José Lauro Quadros, da Ageflor, Marcílio Caron Neto e Carlos Mendes, da ACR, Albino Ramos e Roberto Gava, da Aprex, e Edson Tadeu Iede, Luciano Lisbão e Jarbas Shimizu, pela Embrapa.


Opiniões A turma da indústria florestal não sabia o que fazer. A turma da pesquisa partiu para a identificação da praga e para a busca de soluções. Juntos, buscaram apoio de australianos, que já haviam sofrido com a vespa nos anos 1950 e 1960, e de um cientista notável da Tasmânia, Robin Bedding. Agregaram as Secretarias de Estado de Agricultura, a Epagri de SC, universidades e foram para frente controlar a praga. Juntos, criaram o Funcema, um programa de controle que está com 33 anos de ação e jovem como nunca. As empresas cuidam de suas florestas, monitoram as pragas, distribuem inimigos naturais. A Embrapa pesquisa métodos de controle, amostragem, produz um nematoide chamado Deladenus siricidicola, o inimigo natural da vespa, e capacita equipes de controle e monitoramento em toda a área de plantio de pínus. As secretarias de agricultura criaram barreiras quarentenárias e treinaram seu pessoal para identificar e trabalhar com a praga e assim por diante. Empresas e Embrapa financiaram e financiam o programa até hoje. E perdas milionárias são evitadas anualmente. O Funcema deu tão certo que se internacionalizou. Argentina, Uruguai, Chile, África do Sul e Estados Unidos foram apoiados para criar seus programas. A Austrália, que apoiou o programa em seu início, voltou ao Brasil para buscar cepas eficazes quando a vespa voltou a atacar seus plantios. Dele, nasceram os primeiros trabalhos de sensoriamento remoto da Embrapa, com financiamento do Serviço Florestal Americano. Queriam ver como se via a vespa do céu, de aviões, em programas de mapeamento expedito. Aprenderam aqui, nas nossas florestas, junto com nossa equipe. E o Funcema expandiu seu mandato, passando a ser um fundo para controle de pragas florestais, abrigando programas de controle de formigas, pulgão e clorose. Foi canal para melhorias de manejo florestal e eixo de agregação de equipes técnicas de empresas e da Embrapa. Não fui protagonista no Funcema, mas, desde que entrei na Embrapa, em 1989, minha vida profissional se ligou a ele. Trabalhei na sua internacionalização, no programa de pulgão, em importação de insetos e em mapeamentos aéreos. Como eu, outros pesquisadores se associaram e assumiram a ponta do programa. Todos, com a certeza de que, sem cooperação e sinergia, não estaríamos onde estamos. Meu segundo exemplo é um projeto do governo do estado do Paraná, em que trabalhei por 8 anos, emprestado pela Embrapa. O Paraná Biodiversidade foi criado por técnicos das Secretarias de Planejamento, Agricultura e Meio Ambiente.

Foi financiado por uma doação de 8 milhões de dólares do Fundo Mundial do Meio Ambiente (GEF) e de uma contrapartida do estado de 24 milhões de dólares, provenientes de um empréstimo feito junto ao Banco Mundial. Começou em 2002, mas, se começasse em 2022, seria um projeto inovador e necessário nessa época de mitigação de mudanças climáticas, recuperação ambiental e planejamento da paisagem. Em resumo, o projeto unia a ação de agricultores, órgãos ambientais, de fiscalização e os de agricultura num trabalho de planejamento de conservação da biodiversidade em várias escalas e a integração de atividades agrícolas a conservação da biodiversidade e da conservação a agricultura. Trabalhou numa área de 2 milhões de hectares, com produtores de diferentes situações socioeconômicas. Capacitou 200 mil pessoas. Protegeu 2500 km de margens de rios com cercas e plantou 12 milhões de mudas em 14 mil propriedades rurais. Primeiro, facilitava a adequação ambiental de proprietários, fazendo um escambo por serviços ambientais, algo do tipo “agricultor, você protege a beira do rio e eu te ajudo na melhoria do teu pasto”. Depois, financiava grupos selecionados de agricultores, todos com suas propriedades já adequadas ambientalmente, a montar negócios cooperativos de base ecológica, com uma agricultura mais limpa do que a convencional. Foram 50 grupos com 15 a 100 produtores cada, construindo negócios diferentes do tradicional. Como exemplo, produção de soja limpa, casas de mel coletivas, cooperativa para plantio de reserva legal e comercialização de carbono, produção de carne em iLPF, etc. Todos os investimentos do projeto eram feitos na base do meio a meio, metade projeto, metade agricultor. Na retaguarda das tecnologias, a Emater PR (hoje IDR) e suas parcerias com o Iapar, Embrapa e Universidades. Impossível atingir os resultados do projeto sem participação privada, nesse caso representada por produtores rurais, em sua maioria com áreas de 10 a 50 hectares. Quem tiver interesse em conhecer mais as duas experiências, pode baixar o manual de controle biológico da vespa da madeira pelo link https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1034558/1/Doc.762.ed.pdf e um relatório do Paraná Biodiversidade, intitulado "Produzindo com a Natureza", em https://cupdf.com/document/parana-biodiversidade-produzindo-com-a-natureza.html n

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Índice

cientistas e especialistas

setor florestal:

um sucesso da integração de

fatores e competências

O sucesso e a competitividade do setor florestal brasileiro decorrem da ação combinada de vários segmentos e áreas de conhecimento nas últimas cinco décadas. O marco inicial foi a instituição do programa de incentivos fiscais ao reflorestamento nos meados da década de 1960, que permitiu o estabelecimento de uma base florestal, estimulou a capacitação de recursos humanos e o estabelecimento de indústrias que têm a madeira como matéria-prima e de outras de suprimentos de insumos e maquinaria para o setor. O principal pilar dessa cadeia é, sem dúvida, a competência desenvolvida no cultivo de florestas de elevada produtividade. A produtividade florestal brasileira é consequência do emprego do conhecimento adquirido em várias áreas e disciplinas, o que têm permitido desenhar técnicas de manejo, que, utilizadas de forma judiciosa e racional, contribuem para a elevação da produtividade dos plantios da maioria das essências florestais cultivadas, em especial a do eucalipto.

todas essas combinações e interações envolvendo profissionais, empresas de ramos diversos que se complementam, fatores de crescimento florestal etc, têm contribuído para escrever essa história de sucesso que é o setor florestal brasileiro "

Nairam Félix de Barros Professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa

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A geração desse conhecimento tem se intensificado com o tempo pelo uso de estratégias diversas, mas sempre baseadas na integração de esforços por parte das empresas florestais, das instituições de ensino superior, órgãos governamentais e empresas fornecedoras de insumos e equipamentos. Iniciativas como a criação de elos entre empresas e universidades, por meio


Opiniões de institutos como IPEF-ESALQ e SIF-UFV, por exemplo, vêm de longo tempo, contribuindo para ganhos de produtividade e racionalização de uso de recursos. Vários programas temáticos têm permitido avanços importantes na solução de problemas e geração de tecnologias que redundam em ganhos para o setor florestal e para o País. Essa estratégia associativa permite que rapidamente as técnicas geradas sejam difundidas e utilizadas pelo setor, e é um diferencial entre o setor florestal brasileiro, em particular na produção da matéria-prima, e o de outros países, onde o compartilhamento de conhecimentos não se dá na mesma velocidade. O crescimento das árvores é resultante da ação e da interação de fatores climáticos, edáficos e bióticos. O emprego adequado de técnicas de manejo permite, teoricamente, a obtenção do potencial máximo de produtividade de determinado sítio, por meio da maior disponibilização dos recursos de crescimento e da mitigação dos efeitos de agentes redutores desse crescimento. O conhecimento das características relacionadas àqueles fatores é essencial para que se aproxime ao máximo desse potencial. Posto isso, vou me permitir ressaltar alguns fatos que considero terem contribuído para chegarmos ao ponto em que nos encontramos. Primeiro, vale lembrar que, antes dos incentivos fiscais ao reflorestamento, alguma experiência local ou regional já havia sido acumulada no cultivo do eucalipto no Brasil, como na Cia Paulista de Estrada de Ferro, em São Paulo, e na Cia Belgo-Mineira, em Minas Gerais. Mas, com os incentivos fiscais, os projetos de reflorestamento se espalharam por várias regiões brasileiras sem que fossem disponíveis informações sobre as espécies mais aptas para cada região e técnicas silviculturais a serem adotadas. Por isso exemplos de sucesso e insucesso foram vários.

A primeira iniciativa de trazer alguma luz a essa questão foi levada adiante pelo Prodepef (Programa de Desenvolvimento de Pesquisa Florestal), patrocinado pelo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e em cooperação com empresas e instituições de pesquisa, ao desenvolver o Zoneamento Edafoclimático para pínus e eucalipto, sob a orientação do Dr. Lamberto Golfari. Esse foi um bom exemplo de como a interação clima-solo-melhoramento florestal poderia contribuir para ganhos de produtividade. A partir daí, foi iniciado um grande programa de importação de sementes de eucalipto da Austrália e de pínus das regiões tropicais e subtropicais do hemisfério Norte e instalada no Brasil uma rede experimental localizada de acordo com o zoneamento realizado. Outro fato marcante na eucaliptocultura no Brasil foi o aparecimento de doenças, em especial do cancro do eucalipto, que impulsionou a seleção de clones mais tolerantes à doença. O sucesso da reprodução vegetativa motivou a utilização da clonagem como ferramenta de seleção de materiais genéticos para vários objetivos, constituindo-se, hoje, numa técnica fundamental para a silvicultura. A especificidade clonal quanto a várias características e atributos tem permitido utilizar estratégias das mais diversas para melhoria da qualidade da madeira, para aumentar a eficiência nutricional das árvores, para reduzir a ocorrência de doenças etc. A expansão dos plantios de eucalipto para várias regiões brasileiras, distintas em clima e solo, trouxe a necessidade de adoção de técnicas que visassem mitigar restrições naturais, tais como baixa fertilidade do solo, a ocorrência de períodos prolongados de seca, ocorrência de pragas e doenças etc. Os ganhos obtidos pela aplicação isolada ou combinada de técnicas utilizadas na silvicultura foram mensurados por Du Toit et al. (2010) para as condições da África do Sul. Esse trabalho deixou clara a importância da identificação das restrições presentes em determinada região e a judiciosa seleção e aplicação de técnicas de manejo, o que permite ganhos mais do que aditivos. No Brasil, a disponibilidade dos recursos água e nutrientes minerais determina a produção de madeira. A taxa de aumento da produção com o aumento da pluviosidade é praticamente linear até a precipitação média anual em torno ;

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Índice

cientistas e especialistas

Opiniões

GANHOS RELATIVOS NA PRODUTIVIDADE FLORESTAL PELA ADOÇÃO DE TÉCNICAS DE MANEJO

GENÉTICA, POPULAÇÃO DE PLANTAS, SILVICULTURA POPULAÇÃO DE PLANTAS, SILVICULTURA POPULAÇÃO DE PLANTAS,

SILVICULTURA

GENÉTICA

CONTROLE

0

20

40

60

80

100 120 140 160

(Adaptado de Du Toit et al., 2010)

BIOMASSA DA PARTE AÉREA DE CLONES DE EUCALIPTO, AOS 47 MESES DE IDADE, EM 3 SÍTIOS EM MG, COM DIFERENTES DÉFICITS HÍDRICOS Sitio 1

Sitio 2

Sítio 3

Clone Biomassa Ordem Biomassa Ordem Biomassa Ordem Mg ha-1 Mg ha-1 Mg ha-1 C1

103

1

61

2

125

1

C2

74

5

37

6

90

5

C3

89

4

60

3

106

4

C4

97

3

56

4

122

2

C5

99

2

71

1

121

3

C6

74

6

41

5

80

6

Média

89

54

107

Déficit hídrico: Sítio 1: 346; Sítio 2: 447; Sítio 3: 200 mm ano-1

de 1.500 mm, reduzindo daí para adiante. Para regiões com déficit hídrico mais ou menos acentuado, a escolha de materiais genéticos mais tolerantes à seca é prática comum. Um exemplo dentre outros relatados na literatura brasileira é o apresentado por Oliveira (2017), no qual a ordem de produção de biomassa variou com clone e região, indicando aptidão distinta de acordo com o sítio. A produção de todos os clones caiu com o aumento do déficit hídrico, mas a redução relativa variou de sítio para sítio, indicando a interação clone-sítio.

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Estudos têm demonstrado, dentro de certos limites, o papel do potássio e do boro na mitigação do efeito da restrição hídrica em eucalipto, no primeiro caso, pelo melhor controle hídrico da planta, e, no segundo, pelo aumento da estabilidade da parede celular, reduzindo a seca dos ponteiros das árvores. A adubação mineral é uma técnica indispensável no cultivo do eucalipto na maioria dos solos brasileiros, especialmente os do cerrado, que possuem baixa fertilidade natural. Os ganhos relativos de produção ultrapassam 100% pela adequada adubação fosfatada e potássica. A aplicação de outros nutrientes como nitrogênio, cálcio, magnésio, enxofre, boro etc, em geral, resulta em ganhos menores, mas ainda muito significativos, podendo chegar a 50%, dependendo das condições climáticas, textura e nível de fertilidade do solo. A adequada nutrição do eucalipto pode reduzir a intensidade de ataque de algumas doenças, como a causada por Calonectria, para a qual a aplicação de nitrogênio, fósforo e, em particular, potássio reduziu a área foliar afetada e a queda de folhas. O sucesso do setor florestal brasileiro despertou, nos últimos anos, o interesse de investidores institucionais e impulsionou a constituição de fundos de investimentos florestais, por meio dos quais várias empresas têm satisfeito parte de sua demanda de madeira. Ressalto, aqui, os investimentos de fundo de pensão brasileiros, cujos objetivos de retornos a médio e longo prazos são compatíveis com o ciclo do crescimento florestal. Em suma, todas essas combinações e interações, envolvendo profissionais, empresas de ramos diversos que se complementam, fatores de crescimento florestal etc., têm contribuído para escrever essa história de sucesso que é o setor florestal brasileiro. n



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Índice

cientistas e especialistas

ações sinérgicas no setor de florestas plantadas No ambiente empresarial brasileiro, sinergia quase sempre significa fusão e aquisição de empresas, resultando em diferença positiva entre o valor de mercado de uma nova empresa e o das que lhe deram origem. Assim, os efeitos sinérgicos são, quase sempre, relacionados a aumento de receitas, redução de custos, diminuição de impostos e diminuição dos custos de capital. Por isso grande parte da sociedade tem uma ideia de que as empresas florestais brasileiras são voltadas para dentro delas mesmas. A valorização de cada uma das empresas florestais é importantíssima, mas o território onde elas interagem visando a um resultado “ganha-ganha”, com reflexos intra e intersetorial, deve ser ainda mais valorizado. É nele onde a simples competição

entre empresas cede espaço para projetos sinérgicos de grande impacto para a sociedade. Ressalto, como representantes de tais territórios, organismos como a Universidade Federal de Viçosa (Sociedade de Investigações Florestais - SIF), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” (Instituto de Pesquisa Florestal - IPEF), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A SIF congrega 19 empresas associadas e atua em 37 temas nas áreas de silvicultura, manejo de recursos florestais, ambiência, proteção florestal, tecnologia de produtos florestais. Com o Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), tendo sido credenciado pela EMBRAPII para atuar na área de fibras florestais

No ambiente empresarial brasileiro, sinergia quase sempre significa fusão e aquisição de empresas, resultando em diferença positiva entre o valor de mercado de uma nova empresa e o das que lhe deram origem. " Moacir José Sales Medrado Diretor da MCA – Medrado e Consultores Associados

(produção e qualidade das fibras, conversão das fibras em materiais e produtos e em energia e combustíveis), pode-se esperar um grande crescimento dessa instituição quanto a relacionamento com outros entes públicos e privados. O IPEF congrega 16 associadas e mantém 11 programas cooperativos de grande importância em colaboração com 23 instituições, dentre as quais a ESALQ, a UFV, a EMBRAPA e a Universidade Federal de Lavras, além do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Desenvolve

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Opiniões uma grande lista de projetos cooperativos com elevada sinergia nas áreas de tecnologias LiDAR (PROLiDAR), Melhoramento Florestal (PCMF), Silvicultura e Manejo (PTSM); Proteção Florestal (PROTEF); Mecanização e Automação Florestal (PCMAF); Monitoramento Ambiental em Microbacias Hidrográficas (PROMAB); Fluxos de Carbono e Água em Eucalipto (EUCFLUX); Pesquisa do Pinus no Brasil (PPPIB) e Certificação Florestal (PCCF). É importante ressaltar o Projeto RADAR IPEF de inovação, cujo objetivo é classificar startups e pesquisas com potencial para resolver problemas vividos por empresas do setor produtivo florestal. A EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) tem contrato de gestão com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Ministério da Educação (MEC), atuando cooperativamente com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas. Trabalha focada em demandas empresariais, compartilhando risco na fase pré-competitiva da inovação e apoia temas como biotecnologia, materiais e química, mecânica e manufatura, tecnologia da informação e comunicação e tecnologias aplicadas. Conta com mais de 50 unidades, sendo uma ligada ao Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da UFV e outra ligada à UFLA, através da Agência UFLA de Inovação em Geotecnologias e Sistemas Inteligentes no Agronegócio, a ZETTA, que nasceu de experiências exitosas do Laboratório de Estudos em Projetos em Manejo Florestal (LEMAF). Na Embrapa, além da Rede de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, são vários os programas sinérgicos, com destaque para os seguintes: a) Projeto Biomas, que reuniu o trabalho de 400 pesquisadores de 21 unidades da Embrapa e 50 instituições de pesquisa nacionais; b) Projeto Genolyptus, que une universidades e empresas do setor florestal; c) Projeto Controle da Vespa da Madeira; e d) Projeto Família Sis, com ênfase no SisEucalipto. Vale ressaltar que a avaliação de impacto dos Projetos Controle da Vespa da Madeira (parceria com o Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais – FUNCEMA) e SisEucalipto indicou, em 2019, benefícios econômicos de 215 e 403,7 milhões de reais, respectivamente. Além dos benefícios econômicos, tais projetos têm gerado, anualmente, benefícios sociais (manutenção de emprego) e ambientais por assegurarem produtividades mais elevadas nos sítios de plantio, evitando a abertura de novas áreas para plantios e o aumento da fixação de carbono pelos povoamentos.

Dentre os projetos sinérgicos de caráter intersetorial, destacaremos aquele que deu origem à Estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (E-iLPF) e que une quatro dos maiores componentes do Produto Interno Bruto do setor primário nacional − madeira, carne, grãos e leite. A E-iLPF, inicialmente restrita a uma ideia de projeto silvipastoril, trabalhada entre a Embrapa Florestas e unidades de pesquisa da área animal (gado de corte, pecuária Sul e pecuária Sudeste), foi ampliada pela Diretoria Executiva da Embrapa com a incorporação do esforço agropastoril (integração lavoura-pecuária) já em consolidação na empresa. A partir daí, programou-se um workshop na Embrapa Gado de Leite, em Sete Lagoas, MG, em junho de 2008, reunindo unidades da Embrapa de todos os biomas, o MAPA e algumas instituições parceiras, como Bunge, Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, Emater – PR e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. Nesse workshop, foi estabelecido o conceito da tecnologia: “A ILPF é uma estratégia que visa à produção sustentável, que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.” A partir do workshop, a estratégia iLPF passou a ter apoio do Programa de Agricultura de Baixo Carbono – Programa ABC, a maior linha de crédito para agricultura de baixa emissão de carbono no País. A evolução da E-iLPF fez com que, em 2013, a Presidência da República instituísse a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e que surgisse a Rede iLPF, que tem fortalecido a estratégia junto à iniciativa privada. A partir da ação da Rede, em 2015, foi lançada a marca-conceito carne carbono neutro e, por último, em parceria com a Embrapa, a Nestlé lançará a marca Fazendas Netzero para emissões. Os dois conceitos abrangerão milhares de propriedades rurais e centenas de empresas das cadeias produtivas de carne e leite. Outro desdobramento da Estratégia Nacional de iLPF poderá acontecer com o aço carbono neutro, principalmente, no Norte de Minas, onde a produção florestal está ligada principalmente às indústrias de siderurgia. De acordo com a Plataforma ABC da Embrapa, em 2018, cerca de 17% dos 15 milhões de hectares com sistema produtivo integrado incluíam a árvore como componente de sistemas silvipastoril ou agrossilvipastoril. n

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IFN e Repemir como geradores de sinergias Existe forte relação sinérgica entre uma área florestal e suas respostas ao ambiente e à sociedade como um todo. É incontestável que a floresta proporciona o máximo de resultado e recebe, de maneira geral, o mínimo; a floresta consegue integrar e desenvolver múltiplas ações de sinergia com diversas políticas públicas; e, por sua posição transversal, integra as inúmeras disciplinas ambientais, independentemente de onde estão situadas, respondendo pelos melhores resultados na geração de bens e benefícios à sociedade onde se localizam. Numerosos são os exemplos bem-sucedidos das respostas obtidas pelas comunidades que vivem no entorno e nas formações florestais. Assim, os mais de 750 mil produtores de madeira da Finlândia; as comunidades de ribeirinhos, indígenas e quilombolas que vivem na Amazônia; os planos de manejo florestal em regime de rendimento sustentado adequadamente desenvolvidos nas florestas tropicais; os programas de fomento e extensão florestais praticados por corporações consumidoras de grandes volumes de madeira, e outros comprovam que quanto maior a sinergia, melhor será o resultado para atender ao tripé da sustentabilidade.

Os engenheiros florestais aprendem que é importante identificar nas atividades produtivas ou de proteção ambiental a sinergia entre as funções da floresta e que ela é fundamental para a sustentabilidade. "

Joésio Deoclécio Pierin Siqueira Vice-Presidente da STCP - Engenharia de Projetos

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Os engenheiros florestais aprendem que é importante identificar nas atividades produtivas ou de proteção ambiental a sinergia entre as funções da floresta e que ela é fundamental para a sustentabilidade. Temos que trabalhar os múltiplos interessados, de forma a estabelecer um nível de relacionamento integrado e que permita privilegiar todos os interesses, pois a ausência de um trará sérias consequências negativas ao outro e/ou a todos os envolvidos. Isso posto, no final da década de 70, século passado, fui responsável por desenvolver e implantar a metodologia para o único Inventário Florestal Nacional – IFN (concluído e publicado em 1983), como base à estruturação de políticas públicas adequadas ao uso racional e sustentado dos recursos florestais existentes no Brasil, visando gerar respostas econômicas e sociais aos diversos estados. Esse inventário foi realizado pelo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, e contou para agilizar os processos de execução, com a parceria de oito universidades federais que possuíam cursos de Engenharia Florestal e do auxílio do Projeto RadamBrasil e do Centro Tecnológico de Minas Gerais.


Opiniões Foi idealizado para a estruturação das políticas públicas que efetivassem o adequado uso dos recursos florestais no Brasil e objetivou, estrategicamente, apresentar, de acordo com Mauro Silva Reis, à época presidente do IBDF, “as informações capazes de permitir a avaliação da dinâmica temporal dos recursos florestais e de subsidiar o processo decisório no que se refere às diretrizes nacionais/regionais de utilização e preservação destes recursos”. Os resultados obtidos, após sua execução, ainda no ano de 1983, permitiram que o setor florestal contribuísse de forma significativa para: 1.) Programa de Mobilização Energética, via Comissão Nacional de Energia, ao propor, pela primeira vez no Brasil, a utilização da biomassa para a geração de energia; 2.) a ampliação da produção de celulose e papel, via novas unidades produtivas, e a ampliação das plantas existente; 3.) novos produtos, as chapas de madeira, de OSB, MDF e os engenheirados (pisos, mass timber); 4.) implantação de unidades industriais para madeira sólida (florestas plantadas); 5.) à substituição de lâmina de madeira nativa pela originada das plantações florestais na produção de chapas de compensado; e,

6.) base de sustentação, pelo conhecimento do potencial florestal, aos planos de manejo em regime de rendimento sustentado nas florestas nativas. Desse modo, o Inventário Florestal Nacional foi um exemplo sólido e eficiente de sinergia onde, através da efetiva colaboração de todos os atores envolvidos com o setor florestal, se concretizaram as bases do conhecimento do potencial florestal à sua transformação para geração de respostas adequadas ao desenvolvimento do Brasil. Ainda no início dos anos 1980, reativei um projeto que, até hoje, apresenta as melhores respostas sinérgicas por envolver, de forma direta e objetiva, todos os atores da cadeia produtiva florestal, denominado de Reflorestamento de Pequenos e Médios Imóveis Rurais – Repemir. Essa ação foi proposta quando era Diretor do Departamento de Economia Florestal do IBDF, utilizando recursos oriundos do Conselho Nacional do Petróleo – CNP. O objetivo era produzir madeira nas áreas marginais das pequenas e médias propriedades para suprir as necessidades de lenha ou carvão vegetal como fonte de produção de energia em substituição ao óleo combustível ou derivados de petróleo, e fornecer aos proprietários rurais uma fonte de material lenhoso, para que essas propriedades tivessem ;

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autossustentação com madeira de plantações e praticassem a conservação das florestas nativas. Esse projeto foi uma “cópia” das ações de fomento florestal implementadas pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, para suas necessidades de madeira; depois, abraçada pelo Dr. Asdrúbal Alves, da Champion Celulose, no início da década de 1960, e também adotada pela Duratex, em Jundiaí, pelo Dr. Antônio Sebastião Rensi Coelho. Ambos criadores do fomento florestal no Brasil. Aquele fomento compreendia a doação de mudas, assistência técnica e a promessa, na época da colheita da madeira, de preferência de compra ao doador da muda. O Repemir foi executado via Secretarias de Meio Ambiente ou de Agricultura dos estados e também pelas prefeituras municipais que demonstravam interesse. Para implementar as normas de execução e a liberação dos recursos, foram assinados convênios entre o interessado e o próprio IBDF/Departamento de Economia Florestal. Os resultados obtidos em 4 anos de execução desse projeto são mais de 25 mil propriedades contempladas, com reflorestamento e/ ou restauração de mais de 150 mil hectares.

A melhor resposta foi o da demonstração de que os fomentos florestais realizados pela Cia. Paulista de Estradas de Ferro, pela Champion e pela Duratex eram viáveis e traziam a necessária e suficiente resposta para as empresas, especialmente os grandes consumidores, uma forma de complementar o suprimento de madeira e, ao mesmo tempo, contribuir para uma melhor resposta econômica e social às propriedades do entorno de suas plantas industriais. Esse sistema e suas sinergias falharam quando começaram as exigências de contratos obrigando a venda de madeira aos fomentadores dessa atividade. Além desse aspecto, os valores praticados na compra da madeira produzida eram insuficientes para remunerar o produtor florestal. Esses fatos levaram à perda de credibilidade ao fomento e à quebra da sinergia existente. Assim, apesar da importância do fomento e de sua contribuição ao conteúdo local, o mesmo necessita que haja, sempre, a resposta adequada para todos os atores envolvidos. A insatisfação ou fracasso de um leva necessariamente, à falência do outro. n

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miniestaquia:

uma técnica desenvolvida a muitas mãos

O grande avanço experimentado pelo setor de florestas plantadas no Brasil muito se deve à grande sinergia que sempre existiu entre as empresas e instituições de pesquisa. Nas fases pré-competitivas, a troca de informações e complementaridades de conhecimentos proporcionaram o desenvolvimento e o aprimoramento de muitas técnicas, métodos e processos, os quais alavancaram a produtividade do setor florestal do Brasil. Há, inclusive, programas cooperativos para o desenvolvimento de várias áreas que compõem a atividade florestal como um todo. Em muitos países, essa interação praticamente não existe, pelo menos entre as empresas. Embora haja uma grande quantidade de desenvolvimentos realizados nesse formato, escolhemos o da miniestaquia, por ser um caso típico de interação e sinergia e por ser uma técnica que revolucionou a forma de clonar árvores superiores de espécies florestais. Os primeiros passos em direção ao desenvolvimento dessa técnica foram dados quando trabalhamos na Bioplanta, uma empresa de biotecnologia, que também era voltada à clonagem de espécies agrícolas e frutíferas. Foi lá que as primeiras discussões e os primeiros testes foram realizados. Discussões com pessoas de elevado nível científico, como a Dra. Linda

Muito importante destacar que nunca se procurou obter patentes, ou esconder de quem quer que fosse, o que viria a ser uma verdadeira quebra de paradigma na clonagem de espécies florestais. " Teotônio Francisco de Assis Diretor da Assistech

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Caldas (in memoriam), Dr. Dário Grattapaglia, Dr. Rui Caldas, Dr. Márcio de Assis, Dr. Marcos Paiva e Dr. Marcos Machado, consolidaram a percepção dos conceitos de fisiologia da propagação, que começaram a ser implementados na clonagem do eucalipto. A ideia era tentar desenvolver uma técnica mais eficiente, sobretudo na produção de propágulos em espaços menores do que se utilizava até então. Nessa época, já se iniciava a utilização dos jardins clonais de campo, que era uma evolução em relação às áreas de multiplicação clonal usadas no início da clonagem no Brasil. Foi testada a produção de propágulos diretamente de mudas clonadas por micropropagação, a partir das plantas nos tubetes. As caixas de mudas eram colocadas sobre camalhões de terra bem fertilizada para permitir o acesso das raízes, que saíam das bases dos tubetes, ao solo fertilizado. As mudas eram podadas, e seus rebrotes, utilizados como fontes de propágulos.


Opiniões Os resultados iniciais foram animadores, mas, na iminência da paralisação das atividades da empresa, fomos para o Rio Grande do Sul trabalhar na Riocell. Foi na Riocell que o desenvolvimento da microestaquia ganhou corpo. A Riocell possuía um laboratório de micropropagação, e todas as mudas que eram plantadas nos jardins clonais vinham de mudas micropropagadas. Então, chamou a atenção que o enraizamento das plantas no laboratório era 20 pontos percentuais maior do que das estacas coletadas no jardim clonal de campo, embora viessem dos mesmos clones e de plantas geneticamente idênticas. Daí se concluiu que o simples fato de plantar as mudas no campo e manejá-las para produzirem brotos estava reduzindo o potencial de enraizamento obtido no laboratório. Dessa forma, se imaginou que a alta predisposição ao enraizamento obtida nas mudas micropropagadas estava sendo perdida e que, se as brotações fossem obtidas diretamente das mudas micropropagadas, essa perda poderia ser evitada. Assim, foram realizados vários testes utilizando miniestacas apicais das mudas enraizadas, contendo dois pares de folhas mais o ápice, bem como as brotações que apareciam após a poda. Esses testes começaram a comprovar que o potencial de enraizamento obtido nas mudas do laboratório poderia ser recuperado com esse procedimento. Isso foi a sinalização de que se poderia melhorar significativamente o enraizamento, além de abrir a possibilidade de criar um sistema mais intensivo de produção de brotos para o enraizamento operacional. Com os decisivos apoios, suportes e incentivos do Dr. Celso Foelkel, Eng. Jorge Gonzaga (in memoriam), José Totti e Renato Rostirolla e a ajuda dedicada de Norberto Jardim (in memoriam), Osmar da Rosa e João Bauer, vários trabalhos foram desenvolvidos, no sentido de viabilizar comercialmente o uso da miniestaquia. Inicialmente, a produção de propágulos era feita podando as mudas enraizadas no laboratório e cultivadas em tubetes. O ápice da muda e, posteriormente, suas múltiplas brotações, constituíam a fonte de propágulos para a clonagem operacional. A fertirrigação, para manter a capacidade de produção de novos brotos, era feita a céu aberto. Os próprios tubetes eram os minijardins clonais. Em 1994, na Riocell, foram plantados os primeiros 400 ha utilizando mudas de eucalipto produzidas por essa técnica, o primeiro do mundo. Em 1996, foram produzidas 1.000.000 de plantas por miniestaquia de mudas juvenis de famílias de Pinus taeda,

mostrando que a miniestaquia poderia ser viável em outros tipos de espécies florestais. Muito importante destacar que nunca se procurou obter patentes, ou esconder de quem quer que fosse, o que viria a ser uma verdadeira quebra de paradigma na clonagem de espécies florestais. Sempre foi compartilhada, como em cursos sobre clonagem de eucalipto ministrados em universidades e em encontros técnicos florestais. Esse descobrimento também era compartilhado com todos os visitantes, sem nenhuma omissão dos aspectos positivos e os detalhes envolvidos na concepção daquela nova forma de clonagem. Isso foi fundamental para o desenvolvimento desse sistema robusto, que possui vantagens técnicas, econômicas e ergonômicas em relação ao sistema de macroestaquia, utilizado até então. Na International Paper (Champion, na época), o Dr. Aloisio Xavier, João Comério e Eduardo Campinhos, entre outros, juntamente com a equipe de pesquisa da empresa, desenvolveram os minijardins clonais de subirrigação por inundação temporária, que foram utilizados por algum tempo e adotados por outras empresas do Brasil e do exterior. Desde a consolidação da microestaquia e da miniestaquia, o Ipef por intermédio do Edson Higasi (in memoriam) e do Ronaldo Luiz da Silveira, com orientação do Prof. Antônio Natal Gonçalves, realizava vários estudos sobre diferentes tipos de minijardins clonais. Esses estudos culminaram no estabelecimento dos minijardins clonais em leito de areia, apoiados em hidroponia (canaletões de areia). A melhor condição nutricional das minicepas foi fundamental para se ter maior taxa de multiplicação e de enraizamento. Esse sistema se tornou o mais utilizado pelas empresas e, até hoje, tem sido predominante na clonagem por miniestaquia. Na UFV, o Prof. Aloisio Xavier orientou várias teses, que ajudaram a aperfeiçoar a miniestaquia como método de clonagem. Ivar Wendling também ajudou no seu aprimoramento e expandiu seu uso para outras espécies arbóreas. Atualmente, a miniestaquia é utilizada em quase todos os sistemas de clonagem de eucalipto no mundo. Também tem sido utilizada em várias outras espécies florestais, como teca, acácia negra e mogno africano. Portanto esse é um exemplo de que a sinergia entre pessoas, empresas, instituições de ensino e pesquisa pode ser uma poderosa ferramenta no desenvolvimento técnico em fases pré-competitivas dos negócios florestais. n

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nova aliança para fazer frente ao novo mercado:

uma visão a 50 mil pés

Ao escrever este artigo, resolvi voar a 15 mil metros de altura ao invés dos usuais 3 mil. Ao invés de contar um projeto de sucesso resultante da sinergia do sistema florestal, resolvi falar do sucesso brasileiro em criar uma indústria de base florestal de classe mundial, e os atuais desafios para continuar a crescer. Antes de falar sobre o sucesso da indústria florestal, gostaria de destacar que ele não se deu somente pela cooperação, mas também pela competição. E, em ambos os casos, não devemos creditar o sucesso ao trabalho e às inovações dos últimos anos, mas sim das últimas seis décadas, pelo menos. Mais ainda, devemos creditar parte significativa do sucesso à nossa matéria-prima, a árvore. A maior parte do processo produtivo é realizada por ela. Entramos quase no fim do processo para refinar os produtos. A indústria florestal tem, na árvore, historicamente falando, uma fábrica que elabora três classes de produtos; todos, em menor ou maior grau, com valor reconhecido pelo mercado consumidor. A primeira classe, voltando aos meus tempos de escola, refere-se aos chamados produtos naturais da floresta, como o balanço hídrico, a produção de oxigênio, a proteção da fauna, solos e rios, a produção de alimentos, entre outros.

A “fábrica árvore” está aí, com seus multiprodutos e serviços quase prontos para ir ao mercado. Vamos participar dessa corrida? A que lugar vamos chegar? Mesmo a 15 mil metros, é difícil responder a essas perguntas. Com certeza, devemos participar. Como será nosso desempenho? "

Jefferson Bueno Mendes Diretor da BM2C - Business Management Consulting

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A segunda classe se constitui dos produtos tradicionais, como a lenha, o carvão, a madeira serrada, o compensado, os painéis reconstituídos e a celulose. Em relação a essa classe e seus derivados, é importante destacar a contribuição significativa para a economia brasileira, principalmente para as exportações. Em 2019, contribuímos com US$ 10,3 bilhões (aproximadamente 21%) para o saldo de US$ 48 bilhões da balança comercial. Essa participação relevante tem sido comum nas últimas décadas. Antes de falarmos da terceira classe de produtos, uma pausa para um retrospecto do setor florestal. O sucesso da indústria se deve a uma parceria entre o governo brasileiro e a iniciativa privada a partir da década de 1960. Naquele momento, o governo estabeleceu uma política industrial para o desenvolvimento do País, priorizando as indústrias de celulose e siderurgia; criou um programa florestal para dar suporte a essas indústrias (IBDF), disponibilizou linhas de financiamento e incentivos para o setor (BNDES & RFB) e desenvolveu as tecnologias agroflorestais necessárias (Embrapa & universidades federais). Essas “ferramentas” permitiram à iniciativa privada implementar um parque industrial de base florestal.


Opiniões Em um primeiro momento, no final dos anos 1960, viabilizaram-se os segmentos industriais vinculados ao Eucalyptus (celulose, papel, painéis reconstituídos e carvão/ferro-gusa). E, a partir da década de 1980, com a maturidade dos plantios, os segmentos vinculados ao Pinus (serrados, compensados, MDF/MDP, papel e celulose). Essa parceria público-privada resultou em uma base florestal de aproximadamente 9 milhões de hectares e uma indústria moderna e competitiva em nível global. Apesar de pequena, considerando-se o potencial para o Brasil, nossa indústria está entre as cinco principais do mundo. Com a certeza de não estar nominando todos os grandes atores dessa sinergia governo-setor privado, gostaria de destacar o empreendedorismo de empresas como Aracruz, Fibria, Suzano, Klabin, Duratex, Ripasa, Berneck, Masisa, Arauco e Cenibra. Destacam-se também o conhecimento de milhares de profissionais afins à atividade florestal. Com a aceleração da globalização e os avanços das tecnologias de informação e comunicação a partir da década de 1990, nossa indústria se viu diante de um novo momento, onde oportunidades e desafios se misturam e onde a volatilidade, a incerteza e a complexidade são “a constante”. A partir do início dos anos 2000, o mercado florestal se consolidou como global. A competição e o desenvolvimento de novos serviços e produtos têm crescido a passos largos. E esse processo deve se acelerar nas próximas décadas em função das mudanças climáticas e sociais em curso. Para sobreviver, a nossa indústria terá que continuar a crescer, atualizar-se e inovar. Vamos ter que estar prontos para oferecer a terceira classe de produtos e serviços demandados pelo novo mercado – uma simbiose entre os produtos naturais e tradicionais acrescidos de uma miríada de novos bioprodutos. O mercado, seja nacional ou internacional, vai demandar cada vez mais produtos e serviços renováveis, biodegradáveis, saudáveis, ambientalmente amigáveis e com balanço energético positivo. Antes uma intenção, um mercado de fronteira, agora o mercado dos produtos “Classe III” é emergente e caminha a passos largos para ser dominante. Modelos de negócios ESG estão deixando de ser teoria para serem uma realidade, uma necessidade para competir e sobreviver. A pergunta-chave é: estamos prontos para esse mercado? Diria que, nessa corrida, o segmento de papel e celulose está na frente, mas ainda distantes do ponto de chegada, se é que

há algum. Os demais estão ainda no início da maratona, alguns ainda na fase de aquecimento. E temos novos atletas na pista, as biorrefinarias, em parte já patrocinados pelas empresas de celulose. Como esse novo mercado é intensivo em capital e tecnologia, poucos players estão preparados para avançar. Olhando de 15 mil metros de altitude, o desafio não é individual, é setorial. Para participarmos e termos uma posição de liderança nesse mercado 5.0, vamos ter de estabelecer um novo processo de cooperação, como o das décadas de 1960 e 1970, o mais breve possível. Será necessário envolver as diversas esferas governamentais, todos os segmentos industriais, a comunidade científica e os profissionais do setor. Somente assim poderemos superar as limitações tecnológicas e de investimento do Brasil e fazer frente à Europa, Estados Unidos e China, que estão muitos passos à frente. Como exceção, vale ressaltar novamente, a nossa indústria de celulose, que está a par e passo, em termos de tecnologia e capital, com seus competidores globais. O problema é que criar cooperação/sinergia não é fácil. Não há uma receita pronta para iniciar a catálise. Temos a teoria, mas estamos muito distantes da prática. Capital e tecnologia não são gargalos significativos. O principal desafio é conjugar as lideranças políticas e empresariais. Aí a porca torce o rabo, considerando o contexto brasileiro, a competição intrínseca e natural entre empresas e o grande hiato tecnológico e de gestão entre os segmentos industriais. As inovações tecnológicas necessárias para elaborar os novos produtos para atender ao mercado ESG não irão surgir de um momento para o outro, através da “geração espontânea”. O caminho será longo e demandará a integração do trabalho de centenas de atores para superar os obstáculos, quebrar a inércia. Não será suficiente, como hoje, contarmos com uma base florestal mais competitiva que a dos demais países. Vamos precisar aprimorar e renovar toda a cadeia produtiva, da silvicultura às práticas de mercado, passando pelos processos industriais e de gestão. A “fábrica árvore” está aí, com seus multiprodutos e serviços quase prontos para ir ao mercado. Vamos participar dessa corrida? A que lugar vamos chegar? Mesmo a 15 mil metros, é difícil responder a essas perguntas. Com certeza, devemos participar. Como será nosso desempenho? Com base no que tenho observado, ficará a desejar, a não ser que aprendamos as lições do passado, nossas e as dos competidores. n

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integração e de inovação aberta Quando fui honrosamente convidado para escrever este artigo como articulista da respeitada Revista Opiniões, pensei em inúmeros casos de que participei ao longo dos meus mais de 30 anos no setor florestal e, mais recentemente, no agronegócio, desde que assumi a presidência do Comitê de Inovação da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, e também pela minha atuação nas empresas do grupo que presido. Ambos os cargos têm extrema representatividade em vários segmentos da cadeia de valor desse setor. Em alguns casos, estive diretamente envolvido e, em outros, participei como membro e colaborador das ações ou até assistindo e torcendo pelo sucesso. Muito foi feito pelo setor de florestas plantadas, que é naturalmente vencedor, ESG e que tem, em seu DNA, a integração entre ações de longo prazo, que é a visão estratégica, e as de curto prazo, que são as atitudes táticas.

temos profissionais experientes e uma juventude ansiosa por mudanças. Por isso, vamos tratar floresta como floresta e voltemos à vida. Só assim, seremos 'a potência socioambiental e da biodiversidade' "

João Comério Presidente da Innovatech

Ao refletir sobre o artigo, me veio à mente uma música do Pink Floyd, que é uma verdadeira poesia: “enquanto as sementes da vida e as sementes da mudança eram plantadas”, e mais à frente reflete que “matemos o passado e voltemos à vida” (traduções livres). Para quem tiver curiosidade, a música é a “Coming back to life”.

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Obviamente, a interpretação é livre, mas quis trazer esses trechos para fazer um texto de leitura agradável, pensando especialmente no empreendedorismo e em como o setor de florestas plantadas se construiu de maneira brilhante e vencedora ao longo mais de um século. Nós, latinos, e especialmente os brasileiros, somos bastante críticos, e, em algumas situações, colocamos nossas posições e interesses individuais sobre os da coletividade – vale ressaltar que também temos um olhar pessimista dos fatos e seus desdobramentos. Neste artigo, procuro lembrar e destacar os acertos que tivemos e olharei para frente de forma mais otimista. Aprendi, junto com o amigo Antonio Maciel Neto, que talvez o maior programa de inovação aberta realizado no Brasil tenha sido o “Programa de Águas Profundas”, da Petrobras, liderado pelo brilhante João Paulo Silveira, que levou o Brasil à vanguarda sobre o tema e possibilitou a viabilização do pré-sal. Lembro-me desse programa, pois entendo que fizemos outro espetacular no Brasil, que foi transformar a nossa nação em referência mundial do agronegócio e florestas plantadas.


Opiniões Segundo o MAPA e o MDIC, em 2020, os produtos florestais representaram 13,3% das exportações do agronegócio, atrás apenas do complexo da soja e das carnes. Tempo de “sementes plantadas” (inovação aberta) De acordo com o infográfico abaixo, com dados estruturados em 2009 para um evento interno da Suzano, empresa em que trabalhava, e também utilizado para um planejamento estratégico, o qual foi discutido por quase um ano em reuniões ocorridas em Brasília sobre o setor de florestas plantadas, o setor experimentou um crescimento sustentável e com lastro em muito planejamento de longo prazo, ações governamentais, integração das empresa com a academia, inúmeros programas cooperativos capitaneados pela Embrapa, SIF, Ipef, Fupef, entre outras entidades cooperativas, atuação de entidades no âmbito nacional e estatual (SBS – Sociedade Brasileira de Silvicultura – e Bracelpa, entidades estaduais muito atuantes junto aos produtores independentes, Ibá, entre outros). Obviamente, os resultados alcançados não seriam possíveis sem a perfeita integração que nos levou à vanguarda mundial do setor de forma cooperativa (inovação aberta). Sabemos que vivíamos em ambiente pré-competitivo na maioria dos segmentos, e isso certamente beneficiou essa jornada vencedora.

Como pode ser visto na linha do tempo abaixo, também enfrentamos muitas barreiras e desafios. Toda essa jornada de acontecimentos é inerente a uma sociedade que está em busca de maturidade nas instituições, movimentos sociais, aumento da competitividade global, mudanças climáticas e, especialmente, o entendimento cada vez mais presente da importância da bioeconomia como o melhor caminho para as gerações futuras. Se procurarmos falhas e desacertos, acharemos alguns, mas quem não os comete? Por outro lado, o resultado está expresso na grandeza desse segmento. Somos naturalmente sustentáveis dentro dos conceitos de sustentabilidade ampla, temos muito que melhorar na relação com os produtores independentes e precisamos romper o paradigma de tratá-los como fornecedores de madeira e tratarmos como verdadeiros parceiros em alianças duradouras e de qualidade. O produtor independente é peça fundamental nesse “jogo”. Aí reside um ponto que temos de atuar setorialmente, e verificamos avanços satisfatórios recentes e boas discussões em grupos que se formam em prol do segmento, por meio de mídias sociais, reuniões de classe, lives, entre outros. Ou seja, mais uma vez, as lideranças do setor mostram suas atitudes proativas em busca do melhor para todos ; (novamente falamos de inovação aberta).

EVOLUÇÃO DO SETOR DE FLORESTAS PLANTADAS NO BRASIL

O setor de florestas plantadas experimentou um crescimento significativo nos últimos 40 anos

- Código Florestal - PND - Incentivos Fiscais - Início da industrialização - IBDF - Curva de aprendizado - Baixa produtividade - Região Sul e Sudeste - Introdução do eucalipto 1909; - Introdução do pinus 1922 - Serviço Florestal

- Extrativismo para sustetabilidade - Diversificação de uso - Expansão dos negócios - Consolidação da industrialização - Formação de clusters - Melhoramento genético - Incremento de produtividade - Aumento de competitividade - IBAMA (MMA, PNF) - Redução da produtividade - Bahia/Mato Grosso do Sul

- Desenvolvimento sustentável - Novos produtos e processos - Otimização logística - Biotecnologia - Sivicultura de precisão - Player Global - Acirramento da competição - Novos investidores - Novo código florestal - Fortalecimento/Certificações - Plantio em novas fronteiras (MAPITO) - Redução da produtividade

A partir de 2020: - Tipping point (?) - ESG - Sustentabilidade - Brasil como potência sócioambiental e biodiversidade

Fonte: ESG Tech Consulting - adaptado por João Comério

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Opiniões

Agora, “voltemos à vida” (ambiente competitivo e nova ordem mundial) Se listarmos as megatendências mundiais, olhando nosso papel, podemos citar as mudanças socioeconômicas e espaciais, intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção, mudanças climáticas, riscos, agregação de valor nas cadeias produtivas, convergência tecnológica e de conhecimento e protagonismo do consumidor. Em todos esses pontos, temos soluções para a sociedade. Mais recentemente, chegamos, talvez, ao “tipping point” do setor, com as mudanças do ambiente de negócios, necessidades da sociedade, desafios tecnológicos, entre outros. Aqui, coloco minha opinião sincera, e talvez controversa, mas, no meu entendimento, para o setor de florestas plantadas, deve-se ajustar seu caminho e dar o próximo salto de competitividade. Além disso, é necessário dar um salto de importância humana, que engloba trabalharmos para que o Brasil seja a primeira “potência socioambiental e da biodiversidade”. Porém não conseguiremos isso atuando apenas como “setor de florestas plantadas”, pois

temos de tratar floresta como floresta (como diria Joésio Siqueira: “quem não entende da teoria dos conjuntos, não entende de floresta”). Temos que alinhar o manejo das florestas plantadas, incorporar cada vez mais a agrossilvicultura (prefiro esse termo a iLPF) e os produtores independentes, transferir tecnologia das empresas para seus “fazendeiros florestais” parceiros e estar juntos em ideias, como manejo sustentável de nativas e bioeconomia de florestas em pé. Em 2019, o Brasil formou mais de 20 mil doutores (ficamos atrás apenas dos Estados Unidos e da China). Temos inúmeros casos vencedores no agronegócio e na floresta (nativa e plantada), e, cada vez mais, novos gêneros florestais exóticos e nativos são plantados com fins econômicos sustentáveis, entre outros. Como tentei descrever rapidamente aqui, temos profissionais experientes e uma juventude ansiosa por mudanças. Por isso, vamos tratar floresta como floresta e voltemos à vida. Só assim, seremos “a potência socioambiental e da biodiversidade”. n

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- Custos de MDO e insumos - Legislação - Relação Político-Institucionais - Legislação - Demanda por novos produtos - Imagem do setor florestal -- Custos de MDO e insumos Infraestrutura (logística, social) -- Legislação Novas fronteiras -- Relação Político-Institucionais Manejo econômico -- Legislação Responsabilidade ambiental -- Demanda por novos produtos Primarização -- Imagem do setordeflorestal Política setorial longo prazo Custos de MDO e insumos Custos de MDO e insumos - -Legislação - Custos deMDO MDO e insumos -- Infraestrutura social) Legislação ucionais - Relação Político-Institucionais - Custos de e(logística, insumos -- Novas fronteiras - Legislação Regulatório Legislação -- Manejo econômico Barreiras tarifárias e não tarifárias - Relação Político-Institucionais ão Político-Institucionais Legislação Legislação Responsabilidade ambiental Terceirização Legislação -- Primarização Novos por players/investidores - -Demanda por novos Demanda novos produtosprodutos -- Política setorial dede longo prazo - Legislação Desenvolvimento fornecedores - Imagem dodo setorsetor florestal staldo setor florestal - Imagem florestal - Demanda por novoem -- Legislação Incentivos à inovação - Infraestrutura (logística, social) -- Regulatório Movimentos - Novas fronteirassociais -- Barreiras tarifárias e não Infraestrutura (logística, social) Infraestrutura (logística, social) Disponibilidade e mão detarifárias obra qualificada - Manejo econômico - -Novas fronteiras - Infraestrutura (logística, econômico -- Terceirização Gestão de contrato Responsabilidade ambiental social) - Novas fronteiras -- Novos players/investidores Rentabilidade x Riscos Primarização - Desenvolvimento de fornecedores jo econômico- Manejo - Política setorial de longo prazo- Responsabilidade- ambiental Responsabilidade ambiental Incentivos à inovação - Legislação - -Primarização -- Movimentos sociais Mudanças climáticas Regulatório - Responsabilidade ambiental - Disponibilidade mão de obra qualificada gosetorial prazo de- longo Política setoriale não de tarifárias longo prazo - Barreiras tarifárias - Primarização ca prazo - Gestão de contrato - Legislação - Terceirização Rentabilidade x Riscos Legislação Novos players/investidores Desenvolvimento de fornecedores - Regulatório - Regulatório ão tarifárias tarifárias não tarifárias Tech Consulting -eadaptado por João Comério - Legislação - Incentivos à inovação - Mudançassociais climáticas - Movimentos iras tarifárias- eBarreiras nãoESG tarifárias -Fonte: Disponibilidade e mão de obra -qualificada Terceirização Terceirização - Gestão de contrato - -Novos players/investidores - Terceirização Rentabilidade x Riscos ornecedores de fornecedores - Novos players/invenvolvimento -deDesenvolvimento fornecedores Fonte: ESG Tech Consulting - adaptado por João Comério - Incentivos à inovação Incentivos à inovação Mudanças climáticas - Movimentos sociais - Incentivos à inovação

de obra qualificada - Disponibilidade e mão de obra qualificada - Movimentos sociai nibilidade e mão de obra qualificada - Gestão de contrato Fonte: ESG Tech Consulting - adaptado por João Comério - Gestão de contrato- Gestão de contrato - Rentabilidade x- Riscos Rentabilidade x Ris - Mudanças climáticas - Mudanças climátic-

- adaptado Fonte: por João ESGComério Tech Consulting - adaptado por João Comério Tech Consulting - adaptado por João Comério

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Tecnologia Mirex-S2 e MIPIS

FOCO TOTAL NO RESULTADO Levantamentos e acompanhamentos pré e pós controle. Avaliações de danos. Análises situacionais das infestações.


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a economia de baixo carbono Este artigo tem o objetivo compartilhar uma história de 20 anos sobre um projeto que se consolidou graças a sinergias e esforços de diversos atores dentro e fora do setor florestal. Trata-se do Projeto de créditos de carbono, uma parceria da Plantar com o Banco Mundial, pioneiro do mundo a emitir créditos de carbono florestais pelo sistema ONU. Apesar do DNA florestal, cabe notar que a iniciativa envolvia toda a cadeia produtiva. Ou seja, o projeto contemplou: 1. o sequestro de carbono pela atividade de reflorestamento, 2. reduções de emissões de metano (CH4) na produção de carvão vegetal, e 3. redução de emissões CO2 na produção siderúrgica por meio do uso adicional de carvão vegetal. Gestão interna e parceiro-chave: Um dos fatores cruciais para o sucesso do empreendimento foi o envolvimento direto dos acionistas e a formação de equipe interna com baixa rotatividade. A visão de longo prazo foi determinante. A parceria firmada com o Banco Mundial, gestor dos compradores dos créditos de carbono do projeto (Fundo Protótipo de Carbono e, posteriormente com o Fundo BioCarbono, compostos por 17 multinacionais e 6 governos de países desenvolvidos) foi fundamental para o compartilhamento de riscos inerentes à regulamentação multilateral. O potencial de replicação e a visão do Banco, voltada

para a sinergias entre bens públicos e privados, foi chave para que o projeto fosse escolhido. Tratava-se da oportunidade de aliar o combate à mudança do clima e o desenvolvimento sustentável em setores cujo contexto histórico de imagem não era muito favorável. Interação com novos marcos regulatórios e criação de instrumentos inovadores: Quando o projeto foi iniciado, só estavam prontos os conceitos básicos do MDL, mas toda a regulamentação sobre a geração efetiva dos créditos de carbono estava em construção. Tivemos que criar metodologias que foram aprovadas em nível multilateral, baseadas em forte escrutínio e no consenso de mais de 170 países signatários do Protocolo de Quioto, que passam por características técnicas, por percepções políticas moldadas por dicotomias entre política externa e política doméstica. Criar métodos e técnicas capazes de convencer a comunidade internacional que o reflorestamento, inclusive de eucalipto, poderia gerar créditos de carbono por remover carbono da atmosfera de forma consistente e estocá-lo, mesmo com a dinâmica de colheita, pode parecer algo natural para quem entende do setor. Mas, para os olhos desconfiados de alguns atores internacionais a percepção inicial não foi nada trivial. Foram quase 10 anos de convencimento, por meio da construção de metodologias para as atividades de reflorestamento, produção de carvão vegetal e uso na siderurgia. Foi fundamental a interface com o governo brasileiro, que participava ativamente da negociação e implementação do Protocolo de Quioto, sobretudo as equipes dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, das Relações Exteriores e do Meio Ambiente. Dar conteúdo prático aos conceitos de um tratado internacional era fundamental, mas não suficiente. Era necessário também criar instrumentos econômicos complementares capazes de gerar financiamento adequado para o projeto, cujas receitas auferidas

Como prêmio, fomos considerados como o melhor projeto de MDL implementado no Brasil e mais recentemente a decisão do Banco Mundial de transformar o projeto em case global de sucesso " Fábio Nogueira de Avelar Marques Diretor da Plantar Carbon

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Opiniões com os créditos só viriam após o plantio das florestas, a produção de carvão e o uso na siderurgia. Para tanto, foi necessário criar uma operação financeira pioneira no mundo em parceria com o Rabobank: securitização de recebíveis lastreados em créditos de carbono. Essa operação possibilitou a antecipação das receitas a serem geradas pela venda dos créditos aos fundos do Banco Mundial, aceitando como garantia o próprio contrato de compra e venda com o Banco Mundial. Interface com o mercado e a sociedade civil: A amplitude de atores envolvidos, o tipo e histórico do setor do projeto e o nível de inovação em diversa frentes, entre outros fatores, foram gerando uma necessidade intensa de comunicação e um grande desafio para um grupo empresarial, muito sólido sob o ponto de vista da sustentabilidade, mas cuja cultura de comunicação era voltada majoritariamente para o business to business. Foi na comunicação que cometemos mais equívocos. Há 20 anos, crédito de carbono era algo ainda mais incipiente e a percepção sobre eucalipto e carvão vegetal por atores externos, seja no mercado ou em algumas organizações não governamentais, sobretudo estrangeiras, era muito mais desafiadora do que hoje. Tudo isso gerava necessidade de esclarecimentos a questões de cunho técnico e político. Deve-se lembrar que o crédito de carbono é um produto realmente transparente. Além de diversas auditorias por órgãos certificados pela ONU, os projetos ficam disponíveis para consulta pública em nível global e local, aumentando o nível de accountability. Não era raro ter que explicar que o eucalipto não “secava a terra”. Todas as áreas do projeto foram certificadas pelo FSC, além a aplicação das salvaguardas do Banco Mundial, com uma série de ações de melhoria contínua. Para ajudar a esclarecer questões sob as mais diversas vertentes sociais e políticas, foi fundamental a interface com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, com a AMDA (Associação Mineira de Defesa do Ambiente) e a SOS Mata Atlântica, Instituto Bioatlântica, WWF-Brasil, Amigos da Terra/Amazônia Brasileira, Conservação Internacional, Fundação Biodiversitas, Prima Mata Atlântica e Sustentabilidade, professores da Universidade Federal de Viçosa e da Universidade de São Paulo, prefeituras dos municípios envolvidos, entre outras. Na ausência dessa ampla rede de parcerias, formais ou informais, seria muito pouco provável que o projeto tivesse êxito.

Foram geradas mais de 7 milhões de certificados de reduções de emissões, ou seja, créditos de carbono mensurados em toneladas equivalentes de CO2. Como prêmio, fomos considerados como o melhor projeto de MDL implementado no Brasil e mais recentemente a decisão do Banco Mundial de transformar o projeto em case global de sucesso, em função da geração de bens públicos por meio de uma iniciativa privada. Além da geração das metodologias adotadas pela ONU em nível global e de inovações tecnológicas no processo produtivo, foi possível notar o aproveitamento de diversos parâmetros metodológicos gerados pelo projeto em políticas públicas setoriais, tais como o plano setorial para o carvão vegetal no âmbito da Política Nacional de Mudança do Clima, o Programa Siderurgia Sustentável desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o GEF (Global Environment Facility), entre outros. O crédito de carbono é um instrumento econômico poderoso para precificar a variável clima em decisões de investimento. Porém, é somente um dos pilares da transformação econômica estrutural para frear a mudança do clima. Diversas outras medidas podem consolidar uma nova economia de baixo carbono, como: estratégias nacionais e corporativas de descarbonização, a transversalização do tema em políticas públicas, a vinculação com relatos e instrumentos econômico-financeiros, como green bonds e financiamento verde, arranjos entre parceiros de cadeias produtivas, a transição do MDL para o novo mecanismo de mercado no âmbito do Artigo 6 do Acordo de Paris, entre outros. Nesse contexto ampliado, o desenvolvimento de iniciativas que integrem uma ampla gama de atores se torna ainda mais relevante para a sustentação da espécie humana. Nos tempos atuais, a necessidade de maior engajamento global é patente e diversos países e empresas têm anunciado, voluntariamente, metas para zerar suas emissões líquidas (balanço entre emissões e remoções de carbono da atmosfera) até 2050. Por definição, atividades de reflorestamento e restauração tem papel ainda mais relevante neste processo pois a fotossíntese é um dos meios de se remover carbono da atmosfera. Tivemos a chance de pavimentar parte do caminho, com uma contribuição inicial, que permitiu a caracterização do sequestro de carbono por reflorestamento como créditos de carbono, fortalecendo as sinergias entre o meio rural e o industrial. n

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academia

surfando nas

ondas sinérgicas

Em consulta ao dicionário sobre o significado da palavra sinergia, encontrei que se trata de “união de esforços, trabalho coordenado para realização de uma tarefa grande ou complexa”. Concluo, por consequência, que sinergia do setor florestal ocorre quando há cooperação de vários agentes do setor para desenvolver um grande projeto, que preocupe, afete ou beneficie a todos. Dessa forma, pergunto-me quando o setor florestal trabalhou de forma sinérgica, com objetivo comum e realizou para tal grandes tarefas?

Tenho acompanhado o setor nos últimos 25 anos e, apesar de não ter vivenciado aquele momento histórico, me parece consenso que um projeto articulado entre o governo, instituições de ensino/pesquisa e iniciativa privada teve o grande êxito de impulsionar o setor de florestas plantadas no Brasil com os incentivos fiscais na década de 1960. Foi um momento histórico de sinergia do setor mais ligado às florestas plantadas, que é, inclusive, responsável por sua origem de forma mais estruturada como hoje é conhecido.

A USP está iniciando um planejamento para os próximos 10 anos, por meio do plano de metas “Florestas 20+10”, e contará com o Governo, a iniciativa privada e o terceiro setor para atingir seus objetivos. Fica aqui um convite... "

Silvio Frosini de Barros Ferraz Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

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Opiniões Como reflexo desse primeiro movimento, pude vivenciar, principalmente na década de 1990 e início dos anos 2000, a grande sinergia em torno da pesquisa aplicada na área de florestas plantadas, onde transparecia a pujança dos institutos de pesquisa como o IPEF, servindo de ponte entre o setor florestal e a universidade. São evidentes, até hoje, os investimentos realizados em laboratórios de pesquisa, a origem de grandes projetos de cooperação entre empresas, a instalação de grandes experimentos no campo e, consequentemente, os resultados de avanço tecnológico do setor nas mais diversas áreas. Tudo isso vinha acompanhado de uma ação sinérgica do Governo e da iniciativa privada, de investimento na infraestrutura das universidades, na contratação de docentes, ou no fornecimento de bolsas de estudos, via Capes, CNPq, agências estaduais ou mesmo pelos institutos de pesquisa. Essa segunda onda ainda persiste, de forma mais tímida, direcionada principalmente às demandas do setor, mas responsável pela manutenção de equipes e laboratórios de pesquisa ligados ao setor florestal. Como exemplo, o Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias (Promab) é um sucesso de sinergia do setor florestal, beneficiando empresas, universidade, Governo e a sociedade em geral. Como o Promab, outros grandes projetos tiveram início nesse período, no entanto o crescimento do setor, a independência tecnológica das empresas, aspectos estratégicos ligados à competitividade, à redução de custos, a questões jurídicas, entre outros fatores, contribuíram para um afastamento das empresas de uma interação maior com as universidades, reduzindo essa segunda onda. É claro que existem inúmeras iniciativas setoriais sinérgicas, em que empresas se unem por objetivos comuns, mesmo em pesquisa, mercado, compartilhamento de ativos, certificação, entre muitas outras. Mas, procurando grandes movimentos que envolvam outros agentes além do setor privado, em seguida, eu me pergunto: qual seria uma terceira onda sinérgica que poderia unir governo, universidades, ONGs, empresas em torno de um objetivo comum? Oportunidades não têm faltado na última década; pode-se citar a reforma do Código Florestal, as mudanças climáticas, a crise hídrica, a restauração florestal, a nova Revolução Industrial e até mesmo a pandemia. Mas parece que nenhum desses temas foi capaz de

mobilizar todo o setor para trabalhar em sinergia, e muitos são os fatores que poderiam explicar por que não houve energia suficiente para unir o setor florestal. Mas qual tema pode englobar todos esses assuntos, além de outros? Sim, a educação e a pesquisa, que, historicamente, podem ser consideradas um dos pilares do setor florestal. Dessa forma, cabe aqui uma reflexão sobre uma situação atual das universidades e dos institutos de pesquisa, que poderia explicar, em parte, o marasmo sinérgico em que nos encontramos. Uns dos principais protagonistas das primeiras ondas citadas foram as universidades com seus cursos e pesquisas na área florestal, que, fortalecidas desde a década de 1960, deram suporte a todos os avanços no setor e, principalmente, participaram da formação dos profissionais que estão atuando no mercado brasileiro e mundial. No entanto, principalmente nos últimos 10 anos, nota-se o enfraquecimento desse importante parceiro do setor. A falta de novos investimentos, a redução de seus orçamentos, entre outros fatores, levou a uma situação de currículos desatualizados, à falta de funcionários e docentes, com laboratórios funcionando precariamente, resultando em menor capacidade para ensino e pesquisa. Como é possível enfrentar os desafios atuais em conjunto, projetar um futuro em que as principais questões atuais estejam equacionadas no setor, se um de seus principais parceiros não pode atuar com todo o seu potencial? E o futuro do setor florestal não depende de investimentos agora na área de ensino e pesquisa? O que o setor privado tem a ver com isso? Parece-me consenso que o investimento na área de ensino e pesquisa reverte para toda a sociedade, mas, nesse caso, principalmente para o próprio setor. Cabe agora decidir sobre qual é a responsabilidade de cada um em mudar esse paradigma, aguardando que algo de novo aconteça, ou sendo proativo e agindo nessa direção. A Universidade de São Paulo está iniciando um planejamento para os próximos 10 anos, por meio do plano de metas “Florestas 20+10”, e contará com o Governo, a iniciativa privada e o terceiro setor para atingir seus objetivos. Fica aqui um convite para investir no futuro por meio do ensino e da pesquisa, para capacitar os novos profissionais da engenharia florestal e gerar conhecimento que dê suporte aos muitos desafios que ainda enfrentaremos. Que possamos construir essa nova onda de sinergia para surfarmos nela no futuro! n

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academia

sinergia da área florestal com a indústria de celulose e papel Como professor integrante do corpo técnico científico da UFV/SIF/LCP, no último ano, levantamos e desenvolvemos um portfólio de projetos bastante interessantes para a indústria do setor de celulose e papel, com base nas biomassas florestais. Entre as propostas dos projetos de pesquisa com maior sinergia entre a área florestal com maior impacto nos processos industriais. Bambu como fonte de biomassa: Como o mercado mundial, o brasileiro segue a tendência de crescimento e a produção de embalagens, voltado para as diferentes caixas, vêm ganhado atenção e uma fatia maior de mercado. Naturalmente, fibra longa vinda da madeira de pínus é a matéria-prima essencial para a produção de caixas de papelão para embalagens diversas. No entanto, dos aproximados 9 milhões ha em florestas plantadas, apenas cerca de 1,64 milhão ha são de pínus, o que, provavelmente, pode ocasionar uma restrição

Os principais projetos envolvem a pirólise rápida em processos otimizados. Os mais promissoras são do uso dos resíduos florestais na produção de um bio-óleo, que, após ser refinado, resulta em gasolina verde e diesel." Marcelo Moreira da Costa Professor do Laboratório de Celulose e Papel (LCP) do Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da UF-Viçosa

nos futuros acréscimos de produção de embalagens de alta qualidade. Como resultado, tem ocorrido uma grande demanda por matérias-primas fontes de fibra longa. Uma fonte fibrosa não madeira, de grande potencial, que tem sido avaliada ao longo do tempo e ainda não se concretizou em uma aplicação industrial brasileira é o bambu. Por outro lado, a China tem uma longa tradição de uso de matérias-primas não madeireiras para celulose e papel devido aos seus recursos florestais limitados e grande

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oferta de resíduos agrícolas e plantas não madeireiras, entre elas o bambu. Recentemente, a Unidade Fibras Florestais SIF/EMBRAPII lançou um grupo de trabalho com foco no bambu como fonte de biomassa para diferentes finalidades. Certamente, a cultura chama atenção pela rusticidade, produtividade e ciclo curto de produção florestal, o que reflete em custo específico da biomassa por tonelada bastante interessante e competitivo. É bom mencionar que os resultados preliminares mostram o grande potencial dessa biomassa para produção de papéis para embalagens e mesmo para polpas especiais com alto conteúdo de celulose, tipo polpa para dissolução. Com isso, iniciaram-se vários projetos com grandes empresas voltados para os gargalos tecnológicos da fibra vinda da biomassa do bambu, no estado da arte dos processos industriais, de acordo com a finalidade.


Opiniões Inserção de híbridos de Corymbia: Atualmente, a indústria brasileira produtora de celulose branqueada de mercado, maior exportadora global, exibe uma tendência muito forte do aumento da capacidade de produção. Em outras palavras, existe uma demanda significativa de madeira como fonte fibrosa no Brasil, contudo com custos operacionais da madeira iguais ou menores, bem como qualidade igual ou superior à madeira de Eucalyptus spp. Sem dúvida, as madeiras de várias espécies de Eucalyptus e seus clones têm alta qualidade para diferentes tipos de papéis, e sua produtividade florestal impressiona. Com essa finalidade, o IMACell (tsa.ha-1.ano-1) é um parâmetro muito usado pela indústria para ranquear os clones comerciais e prever o custo fabril e mesmo a qualidade do produto final, além do comparativo. Industrialmente, no setor produtor de celulose e papel, a utilização da madeira dos clones híbridos de Corymbia foi muito pouco explorada, até o momento. Pode-se mencionar que, atualmente, não se tem comercialização e/ou aplicação dessa biomassa de forma significativa como fonte fibrosa para a produção de polpa celulósica. Os resultados desse projeto já demonstraram que as madeiras dos híbridos de Corymbia podem ser um natural substituto, tanto na produtividade quanto na qualidade da fibra, podendo, inclusive, ter vantagens na área florestal, com menor custo da madeira posto fabrica (R$/m³), e na indústria, com menor consumo específico por tonelada de celulose produzida (m³/tsa). Esse trabalho visa desenvolver alternativas tecnológicas para os principais gargalos da utilização da madeira dos híbridos de Corymbia, que são principalmente ; relacionados à alta densidade da madeira.

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academia Em adição ao ranqueamento dos clones comerciais frente aos clones dos híbridos de Corymbia, quanto ao IMACell, evidenciam-se as relações da densidade básica da madeira com o consumo de álcali efetivo e com rendimento depurado, usando protocolo industrial de polpação kraft modificada. Uso dos resíduos florestais e da lignina kraft na produção de produtos químicos: Certamente, reduzir as emissões de CO2 na atmosfera está entre os maiores dilemas do século 21. Essas emissões têm como origem o carvão mineral, o petróleo e o gás natural, utilizados largamente como matérias-primas para a produção de produtos químicos, bem como os diversos combustíveis e na geração de energia, que movimenta os diferentes processos industriais. As preocupações ambientais globais sobre os níveis e as emissões de carbono na atmosfera têm despertado o interesse do setor industrial e das instituições na busca por matérias-primas e processos com menor pegada de carbono, isto é, da geração de CO2. Como um dos maiores países agrícolas do mundo, o Brasil é rico nos recursos da biomassa lignocelulósica agrícola e florestal. Sem dúvida, a biomassa lignocelulósica renovável pode oferecer uma plataforma capaz de produzir produtos químicos, combustíveis e gerar energia a um custo competitivo. É consenso entre os pesquisadores que uma das maneiras promissoras de utilizar certos tipos de biomassa lignocelulósica é por meio da pirólise rápida, com reduzido investimento e de custos operacionais. A pirólise rápida é uma decomposição térmica acelerada da fração orgânica em produtos líquidos, vapor e sólidos em uma atmosfera pobre de oxigênio. Usualmente, e dependendo da finalidade, é estabelecida uma temperatura na faixa de 300 - 600 °C com um tempo de residência em torno de 0,5” a 3”. A fração sólida após a pirólise rápida, chamada de “biochar”, usualmente pode ser queimada juntamente com a fração gasosa não condensável, para gerar energia, resultando em benefício da venda do excedente da mesma. Por outro lado, a fração líquida conhecida como bio-óleo contém os produtos químicos que podem ser purificados, atingindo alto valor agregado.

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Opiniões Vários estudos pesquisaram a conversão de biomassa lignocelulósica em bioprodutos por meio da pirólise rápida, que contém compostos orgânicos que podem ser usados como produtos químicos e/ou mesmo como combustíveis. Os principais projetos envolvem a pirólise rápida em processos otimizados, para diferentes biomassas lignocelulósicas como matéria-prima, desenhado para diferentes bioprodutos. Os mais promissoras são do uso dos resíduos florestais na produção de um bio-óleo, matéria-prima para diferentes plataformas de produtos químicos de alto valor agregado, enquanto a utilização da lignina kraft produz um bio-óleo que, após ser refinado, resulta em gasolina verde e diesel. Adicionalmente, a remoção da lignina kraft tem conexão com estratégia das empresas produtoras de celulose kraft de mercado pelo menos em três pontos, a saber: (a) eficiência: removendo parcialmente a lignina kraft do licor preto concentrado, pode impactar a remoção de um dos principais gargalos da produção de celulose de mercado, isto é, a caldeira de recuperação. Portanto tem sido visto como uma saída para incrementar a produção e a redução dos custos fixos atrelados ao aumento de capacidade; em adição, o ganho da margem de contribuição da celulose de mercado extra produzida com mesmo CAPEX. (b) inovação: os principais aspectos de inovação desse projeto estão voltados para a otimização das condições de processo da pirólise rápida da lignina kraft para a produção de bio-óleo, com o objetivo de substituir o diesel para motor veicular que faz o transporte da madeira do campo para o site industrial. Por outro lado, a fração gasosa gerada no processo será queimada no forno de cal no lugar do combustível fóssil utilizado. A grande vantagem é que a comercialização dos combustíveis pode ser realizada internamente no site produtor de celulose de mercado; e (c) sustentabilidade: removendo a lignina kraft e otimizando o processo da pirólise rápida, nesse caso, para a produção de bio-óleo, em substituição do diesel e do combustível fóssil do forno de cal, o impacto seria “zerar” o consumo específico de combustíveis fosseis, reduzindo drasticamente a pegada de carbono e, portanto, a emissão de CO2. Dessa forma, seria um grande passo na busca do site produtor de celulose, fossil fuel-free, e mesmo na sustentabilidade do próprio negócio. Num segundo momento, acredita-se que, após vencer os desafios de P&D postos aqui de forma simplificada, o site poderia vender para o mercado diesel ou produtos químicos de maior valor agregado do que simplesmente queimar a lignina kraft na caldeira de recuperação. n


Qual é o diâmetro do seu problema?

Detalhe de encaixe para ferramentas de 4 lados

Disco de corte com encaixe para utilização de até 20 ferramentas, conforme possibilidade devido ao O // externo.

Diâmetro externo e encaixe central de acordo com a máquina

P Discos de corte para Feller: P Discos especiais conforme desenho P Usinagem de peças conforme desenho ou amostra: conforme modelo ou amostra

Eixos, acoplamentos, roscas sem-fim transportadoras, roletes e tambores para esteiras transportadoras, tambores para pontes rolantes, cilindros hidráulicos e pneumáticos e outros.

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os caminhos que nossos engenheiros florestais seguiram A história da Universidade Regional de Blumenau – FURB inicia-se nos anos de 1960 com o desejo da comunidade regional ter a sua universidade. Em 1964 é fundada a Faculdade de Ciências Econômicas. Em 1972, é criada a Faculdade de Engenharia de Blumenau, que, no final dos anos 1980, possuía os cursos de engenharia civil, engenharia química, engenharia elétrica e arquitetura e urbanismo. Lembremo-nos de que, no final dos anos de 1980, estávamos passando pelo processo de redemocratização do Brasil. Em 1988, tivemos a promulgação da atual Constituição; em 1989, foi criado o Ibama; na sequência, tivemos a Eco-92 no Brasil e estávamos envoltos em um emaranhado de problemas econômicos. Havia ainda uma acirrada discussão dos temas ambientais. Lembremo-nos ainda de que, em Santa Catarina, estávamos em plena discussão do uso dos recursos da mata atlântica. O manejo florestal e até o desmatamento eram permitidos, com os Decretos 99.547, de 1990, e 750, de 1993. O primeiro vedava o corte e a exploração da vegetação nativa, e o segundo permitia a supressão da vegetação em casos excepcionais − eram a realidade. Nesse caótico turbilhão político, inicia-se, no meio madeireiro do Vale do Itajaí-SC, um movimento pela criação de um curso de tecnólogo em madeira junto à FURB. Preocupados com tal situação, alguns poucos membros da diretoria da Associação Catarinense de Engenheiros Florestais – ACEF integraram-se ao processo de criação do referido curso, e, com muito

Passados 25 anos, considero que agimos de forma correta, pois criamos o curso de engenharia florestal acreditando na formação plena do “indivíduo”; mais do que isso, na formação plena do “engenheiro”. " Dagoberto Stein de Quadros Professor de Economia Florestal da Universidade Regional de Blumenau - FURB

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esforço político externo e junto à comunidade universitária da FURB, conseguiram criar o curso de engenharia florestal. Ele foi aprovado no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE/FURB, lotado junto ao Centro de Ciências Tecnológicas, em 1993. A primeira turma iniciou seus estudos em 20/02/1995. Passados 25 anos, considero que agimos de forma correta, pois criamos o curso de engenharia florestal acreditando na formação plena do “indivíduo”; mais do que isso, na formação plena do “engenheiro”. O atual conceito de engenharia apresentado em 2020 pelo Comitê de Certificação de Engenharia e Tecnologia dos Estados Unidos nos permite essa conclusão; observe-se o conceito: “Engenharia é a profissão na qual o conhecimento das ciências matemáticas e naturais, obtido através do estudo, experiência e prática, é aplicado com julgamento no desenvolvimento de novos meios de utilizar, economicamente, os materiais e forças da natureza para o benefício da humanidade. ” Deve-se agregar ao conceito acima o que o economista Milton Friedman nos ensinou, ou seja, que o desenvolvimento só acontece quando os “indivíduos” conseguem atuar de forma livre na economia, e esta deve ter baixa intervenção do Estado. Observando os “indivíduos” formados no curso nesses 25 anos, fica evidente que eles atuam no mercado como “gestores” e, portanto, é importantíssimo que conheçam a ciência


Opiniões %

Áreas de atuação dos Formados pela FURB

14,1 Funcionário Público 17,1 Funcionário Empresa Privada 1,3 Comerciante Produtos-Máquinas-Equipmtos 10,6 Professor, Pesquisador, Extensionista 5,3 Bolsista 28,6 Profissional Liberal 12,6 Empresário 6,8 Não atua na área 1,0 Aposentado 2,8 Outros

da administração. Ela nos permite aceitar os ensinamentos de Taylor, com a administração científica, de Fayol, de Ford, passando pelos ensinamentos da gestão da produção, dos custos, da matemática financeira, da análise de investimento, do planejamento estratégico, da qualidade, da reengenharia, do marketing, do importante conhecimento das pessoas e das relações humanas, da teoria dos sistemas, da teoria da contingência. Todos esses conceitos integram as grades curriculares dos cursos de engenharia florestal no Brasil. Porém estou convicto de que não basta formarmos gestores, temos que formar “empreendedores”. Segundo Larry Farrel, em seu livro Entrepreneurship, o empreendedor é o indivíduo que: • Tem uma missão a cumprir (ele cria estratégias, cria cultura); • Tem visão produto/cliente (ama o cliente, ama o produto); • Pratica a inovação rápida (instiga e acredita no gênio criativo das pessoas); • Forma pessoas automotivadas (lidera sempre dando exemplo). Todas essas características podem ser ensinadas, fomentadas e praticadas, por esse motivo temos o empreendedorismo como o eixo articulador dos cursos de graduação do Centro de Ciências Tecnológicas da FURB. Ressalto ainda que, além de formarmos gestores e empreendedores, temos a obrigação de formar indivíduos “inovadores”. Já em 1968, Jorge Sábato e Natalio Botana, ao discorrerem sobre o necessário modelo de desenvolvimento econômico para a América Latina, criaram o “Triangulo de Sábato”, que afirma que o desenvolvimento econômico deve se dar pelo aperfeiçoamento de produtos e processos, através dos esforços unificados da ciência, do setor produtivo e dos governos.

Mais tarde, nos anos 1990, Loet Leydesdorff e Henry Etzkowitz, a partir do “Triangulo de Sábato”, criam o modelo da “Hélice Tripla”, que, na essência, são as bases do desenvolvimento científico e tecnológico, evidenciados hoje pelo termo “inovação”. Com essa base conceitual, em 2020, é inaugurado o Centro de Inovação de Blumenau junto ao Campus II da FURB, onde é a sede do curso de engenharia florestal. Essa estrutura é parte integrante da Rede Catarinense de Centros de Inovação do Governo do Estado de Santa Catarina e tem por objetivo tornar os sonhos uma realidade, ou seja, é capaz de tornar os “indivíduos” dinamizadores da economia, através da “Tríplice Hélice da Inovação”. Essa é uma nova realidade; parece-me que estamos no caminho certo, pois renomados autores da administração e da economia mundial nos ensinam que o desenvolvimento se deve aos indivíduos, mais do que isso, se deve à formação desses indivíduos. E foi o que fizemos em Blumenau-SC. Já formamos mais de 500 engenheiros florestais; a Engenheira Florestal Fernanda Wachholz, em seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, em 2020, apresenta um excelente panorama da forma e das áreas de atuação profissional dos egressos do curso, onde se destaca a figura abaixo. Nota-se que 41% dos egressos do curso atuam como “empresários” ou como “profissionais liberais”; seja por necessidade ou por aptidão, essa é a nossa realidade. Em 1966, o Professor Dr. Gerhard Speidel, no prefácio do seu livro “Economia Florestal”, já concordava com nosso posicionamento junto ao curso de engenharia florestal da FURB; vejamos o que ele continua a nos ensinar: “Esperamos que o livro ajude o estudante a treinar o seu pensamento econômico e reconhecer, o quanto possível, as relações com a economia nacional”. Percebe-se que o nobre Professor já conectava o indivíduo (estudante) com a economia nacional. Observando-se os profissionais aqui formados, pode-se afirmar que não basta formarmos engenheiros florestais, temos que formar indivíduos, e eles têm que ter capacidade gestora; mais do que isso, temos que formar empreendedores inovadores, no real sentido das palavras, ou seja, necessitamos formar indivíduos capazes de articular as estruturas governamentais, a ciência e a tecnologia desenvolvida nas nossas instituições, com as necessidades do setor produtivo. Só assim teremos um setor de base florestal propulsor do desenvolvimento econômico. Exemplos nós temos. Essa é a minha opinião. n

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Q

Índice

academia

produção com ciência,

uma sinergia imbatível

O dicionário Michaelis oferece quatro significados para o termo “sinergia”. De forma geral, é o resultado da ação conjunta de forças simultâneas. Fisiologicamente, representa a associação de órgãos para executar um movimento. No sentido fármaco-químico, significa potencializar um efeito pela associação de diferentes substâncias. O mais inspirador, entretanto, é o sociológico, que diz ser a cooperação entre grupos ou pessoas em benefício de um objetivo comum. A rotina diária com colegas de diferentes áreas da ciência me faz associar o tema sinergias do sistema florestal com a cooperação para melhor entender as florestas plantadas e naturais. Vou me ater apenas a sinergias que tornam os plantios florestais brasileiros mais eficientes e competitivos. Uma exemplar sinergia se observa na forma como as pesquisas florestais têm sido conduzidas cooperativamente entre empresas e a academia. No caso brasileiro, isso vem de longa data.

Na década de 1980, quando ingressei na carreira acadêmica, encontrei um ambiente onde vigorava a cooperação entre empresas e a universidade. A pesquisa, no Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP e as atividades desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef) estavam tão entranhadas, que era difícil dizer onde terminava, por exemplo, um estudo de cultura de tecidos conduzido por professores e estudantes e onde começavam os projetos coordenados pelo Ipef na área de clonagem de eucaliptos e pínus. Desde então, a cooperação entre empresas e universidades tem sido modelo de sinergia e base para o acelerado desenvolvimento do setor florestal brasileiro nas últimas décadas.

Em 2019, as indústrias florestais tiveram uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões e investiram apenas R$ 25,5 milhões em P&D florestal. Esse valor é inferior ao que apenas a Fapesp investiu, no mesmo ano, em dois programas, o Biota e Mudanças Climáticas. "

Luiz Carlos Estraviz Rodriguez

Professor de Economia e Planejmto Florestal da Esalq-USP

Na área de melhoramento, por exemplo, essa cooperação buscou domesticar e obter material genético mais produtivo, contando, inclusive, com a participação de outras instituições, como a Embrapa. O maior catalisador, nesse caso, foi a possibilidade de montar uma imensa rede de ensaios em diferentes latitudes e regiões do País.

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Opiniões Essa rede permitiu expandir a base de dados e, claro, unir pessoas em prol de um objetivo comum, o aumento da produtividade. Várias outras iniciativas se multiplicaram igualmente para responder a questões hidrológicas, sanitárias e nutricionais decorrentes da intensificação produtiva. Essa cooperação tem sido uma das chaves do sucesso da indústria brasileira de base florestal. E, por isso, considero a associação da ciência com a produção como base para a evolução do manejo dos plantios florestais industriais, um exemplo imbatível de sinergia. Outra sinergia, decorrente da anterior, se observa na forma como os processos produtivos se beneficiam dos avanços tecnológicos. Exemplo disso é a área de gestão florestal, na qual tenho atuado com razoável protagonismo e que passo a ilustrar com três casos. A disseminação de ferramentas matemáticas de otimização, que ajudamos a difundir para produzir planos ótimos de planejamento estratégico, serve de primeiro caso. Na década de 1970, a programação linear, como técnica de otimização, permitia resolver apenas pequenos problemas em caríssimos mainframes mantidos em congelantes birôs de informática. Hoje, inúmeras alternativas, muitas gratuitas, permitem aos nossos alunos de graduação resolver problemas com dimensões praticamente infinitas. Desse processo, beneficiaram-se todos, e principalmente os nossos estudantes que, ao se aprofundarem nessa área, se tornaram especialistas e líderes de equipes de planejamento, no Brasil e no exterior. Um segundo salto, também fruto da evolução na área de informática, se observa na forma como fomos capazes de absorver e universalizar o acesso a dados. Trinta anos atrás, os apontamentos em fichas de papel eram tabulados e incluídos em extensos relatórios com centenas de páginas. Levávamos meses para preparar um relatório, que, agora, são instantaneamente produzidos por especializados sistemas florestais informatizados. Integrados a sistemas de informação geográfica e a sistemas de sensoriamento remoto, é possível, hoje, identificar anomalias e disparar medidas de remediação em tempo real. Nesse caso, não apenas se beneficiaram os sistemas produtivos, pela precisão e eficiência, mas também a sociedade, que viu o mercado de trabalho se expandir para especializações antes inexistentes. O terceiro salto, numa área que integra telecomunicações, ciência de dados, robotização e novos materiais, é fruto da digitalização do campo. Máquinas autônomas, sensores, redes

de comunicação sem fio, satélites, sistemas de posicionamento e de localização por GPS nos disponibilizam, hoje, formas de operar que seriam impensáveis nas décadas de 1980 e 1990. Essa área está em franca evolução, e temos a sensação de que as possibilidades são infinitas. É no rastro desse terceiro salto que vemos, hoje, por exemplo, universidade, empresas e startups se unirem para transformar ideias em práticas operacionais. Busca-se o monitoramento florestal mais eficiente, preciso, ergonômico, seguro e integrado com as rotinas 4.0 de produção no campo. Mais especificamente, cito a parceria Ipef/ USP, que explora as novas tecnologias de escaneamento a laser (ProLiDAR), embarcadas em plataformas móveis de sensoriamento terrestre. Assim, mochilas e quadriciclos escaneadores multifuncionais digitalizam a paisagem florestal armazenando-a em nuvens de dados 3D. Como verdadeiros laboratórios portáteis, essas iniciativas vêm revolucionando não só o inventário, mas também o monitoramento de pragas, o mapeamento bi e tridimensional dos talhões florestais, a coleta de amostras, a identificação de sinistros etc. Creio que esses exemplos ilustram como a ação concertada entre técnicos e pesquisadores promove o aprimoramento de processos nas empresas, nos produtores florestais, nos provedores de serviços e nas universidades. O fluxo de investimentos, entretanto, precisa se manter constante e, se possível, crescente. Agências públicas de financiamento da pesquisa têm sido fontes regulares, mas ainda é tímida a parcela de investimentos em P&D que compete ao setor privado. Em 2019, segundo dados da Ibá, as indústrias florestais tiveram uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões e investiram apenas R$ 25,5 milhões em P&D florestal. Esse valor é inferior ao que apenas a Fapesp investiu, no mesmo ano, em dois programas, o Biota (R$ 12,9 milhões) e Mudanças Climáticas (R$ 17,8 milhões). Portanto, apesar de o passado e de o presente serem exemplares em termos de sinergias no sistema florestal, o futuro sinaliza para a necessidade de investimentos mais vigorosos em novas sinergias que aproximem os nossos sistemas produtivos da ciência. Maiores serão os desafios, exigindo sinergias mais eficazes para atender às novas demandas sociais e ambientais. E, assim, a cooperação entre empresas, universidades e institutos de pesquisa continuará sendo a mais importante de todas as sinergias no âmbito dos sistemas florestais brasileiros. n

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as sinergias do sistema florestal

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