O avanço da mecanização e da automação florestal - OpCP62

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Opiniões

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www.RevistaOpinioes.com.br ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 18 • número 62 • Divisão F • dez-jan-fev 2021

O avanço da mecanização e da automação florestal


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Ă­ndice

EDITORIAL DE ABERTURA: 12. Ricardo Anselmo Malinovski, CEO da Malinovski Florestal

AUTOMAĂ‡ĂƒO DE VIVEIROS FLORESTAIS: 14. Arthur Dias Cagnani, Suzano O NOVO NORMAL: 18. Ronaldo Neves Ribeiro e Bruno Ricardo Fernandes, Cenibra PLANTIO MECANIZADO: 22. Edson Leonardo Martini, Komatsu 26. Rafael Ribeiro Soler, Bracke Forest AB IRRIGAĂ‡ĂƒO: 30. Saulo Philipe Guerra e Guilherme Oguri, Progama Cooperativo Mecz e Automação – PCMAF/IPEF USO AVANÇADO DE DRONES E VANTS: 34. LĂşcio AndrĂŠ de Castro Jorge, Embrapa Instrumentação ATIVOS FLORESTAIS: 36. FabrĂ­cio Emiliano Santos e Rafael Pereira, Inflor e Aiko 40. Daniel Saavedra Alvarado e Nilton LuĂ­s Venturi, Senografia INTERNET DAS COISAS: 42. Mario Carlos Wanzuita, Caio, Holtz MECANIZAĂ‡ĂƒO FLORESTAL: 46. Angelo Conrado de Arruda Moura, Suzano 50. Rodrigo Fernandes Barbosa, John Deere 52. Mariana de Oliveira, PenzSaur 56. Fernando Campos, Ponsse 60. Lonard Scofield dos Santos, Master LOGĂ?STICA DO SETOR FLORESTAL: 62. Paulo Renato Jotz, Creare PRODUĂ‡ĂƒO DE CARVĂƒO VEGETAL : 64. Celso Dotta Lopes Jr., ArcelorMittal Bioflorestas

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ĂĄudios

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Índice

editorial de abertura

a mecanização e a automação do

sistema florestal

O setor de florestas plantadas está passando por um momento especial de pujança econômica. Apesar das incertezas impostas no início do ano, praticamente todas as áreas ligadas a essa maravilhosa cadeia de árvores plantadas estão comemorando índices e recordes históricos de vendas, seja para o mercado interno ou externo. Além disso, os diversos novos projetos de expansão até 2023 já anunciados vão trazer ainda mais riqueza para o segmento. É de conhecimento de todos que somos um setor altamente profissional, sustentável e que representamos o segundo item da balança comercial do agronegócio nacional. No entanto, por outro lado, é possível identificar rapidamente que as grandes empresas estão ficando cada vez maiores, dentro de um conceito claro dos benefícios da economia de escala para se ter maiores margens e poder de fogo em negociações com fornecedores. Essas grandes empresas – no máximo 10 em todo o território nacional – é que ditam as tendências de mercado. São elas que podem ou não investir no desenvolvimento das tecnologias e inovações.

As grandes empresas – no máximo 10 em todo o território nacional – é que ditam as tendências de mercado. São elas que podem ou não investir no desenvolvimento das tecnologias e inovações.

Ricardo Anselmo Malinovski CEO da Malinovski Florestal

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Os projetos das expansões florestais estão forçando as empresas a buscarem terras cada vez mais distantes das suas unidades fabris. Áreas com menos fertilidade e com declividades às vezes mais acentuadas vão se tornar uma tendência. Mesmo que se tenham práticas melhores de fomento florestal para se estimular a inserção do componente florestal em pequenas propriedades, sem a necessidade de compra de terras, é praticamente impossível se competir com a agricultura em se tradando de terras férteis. A diferença do valor líquido presente (VPL), comparando agricultura versus floresta, faz com que o produtor não pense duas vezes em pelo que optar para se ter um maior ganho. Pensando especificamente da “porteira para dentro”, o cenário torna-se desfavorável no curto e no médio prazo. Hoje, estamos passando por um seríssimo problema de queda de produtividade florestal, principalmente do gênero eucalipto. Várias justificativas são colocadas à mesa, como fatores climáticos, déficit hídrico, má conservação do solo, alto índice de pragas e doenças e materiais genéticos não preparados para essa conjuntura. Isso está causando uma queda do volume médio individual (VMI).


Opiniões Dito isso, falando especificamente sobre esse importante tema de mecanização e automação, temos uma situação de oportunidades, incertezas e muitos desafios. Um dos principais fatores que incentivam e justificam tanto a mecanização quanto a automação é a redução de custos com mão de obra, a qual, ano após ano, tem se tornado escassa e mais onerosa. Uma mudança operacional que traga benefícios de redução de custo e aumento da qualidade, consequentemente, aumenta a competitividade das empresas de base florestal. A grande vantagem da automação é maximizar a eficiência da operação, permitindo maior escalabilidade, uma vez que há vários processos repetitivos, os quais podem ser substituídos por uma máquina autônoma, reduzindo tempo de operação e custos nos processos, implicando, consequentemente, oportunidades de crescimento. Outro benefício do processo de automação é a possibilidade de identificação de falhas rapidamente – diferentemente do que acontece em processos humanos −, o qual gera um impacto positivo na manutenção das máquinas, reduzindo o tempo de máquina parada, por exemplo. Obviamente, existem dois universos completamente diferentes: as operações de silvicultura e as operações de colheita. A mecanização da colheita já está madura nas grandes empresas, há décadas. E, felizmente, está começando a fazer parte do dia a dia do pequeno e médio empresário florestal. Nunca se venderam tantas máquinas, de forma tão pulverizada, no Sul do Brasil. Os grandes fabricantes dos equipamentos de colheita disponibilizam sistemas de controle altamente sofisticados, que permitem aos gestores terem informações on time para a tomada de decisão imediata. O desafio atual é a conectividade do campo para transmissão dessas informações. Já percebemos que algumas empresas estão com o foco em se ter uma floresta iluminada com o máximo de cobertura de internet. Isso proporcionará um verdadeiro acompanhamento de um reality show das operações florestais. Em se tratando da silvicultura, acompanho esse processo de mecanização e automatização há mais de uma década. Evoluímos, sim, principalmente nas operações de preparo de solo, controle a matocompetição, adubação, pragas e doenças e irrigação. Mas a operação de plantio ainda é um grande desafio operacional, pensando em qualidade, rendimento e custos competitivos.

A utilização de drones para várias atividades silviculturais é altamente promissora e já está presente em várias empresas. Estamos em pleno desenvolvimento de várias tecnologias utilizando drones. O céu é o limite. Felizmente, a curva de aprendizado está acelerada, visto que teremos florestas plantadas com mais frequência, em regiões de difícil operacionalização; a adoção dessa tecnologia certamente será intensa para os próximos anos. Um novo conceito chamado Digital Twin, que é cópia digital de um produto físico, serviço ou processo, que já começou a ser utilizado em outros segmentos, pode auxiliar no planejamento das operações de silvicultura e colheita. Pensando no futuro e em um passo adiante dos processos de mecanização, automatização e integração, a possibilidade de enxergar com máxima precisão a realidade do campo, do escritório pode mudar a forma como controlaremos as operações atualmente. Falando ainda em futuro, enquanto o Brasil ainda está se adaptando à era 4.0, no Japão, já surgiu o conceito de Sociedade 5.0, onde o foco de inovação e transformação tecnológica está no ser humano. Partindo-se do pressuposto que tudo está conectado, a era 5.0 trata da convergência de todas as tecnologias para facilitar a vida dos seres humanos, com a intensificação do uso de Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas (IoT) para criar soluções. Tudo isso focado em 3 pilares: qualidade de vida, inclusão e sustentabilidade. O mundo está acelerado, o processo de digitalização está ocorrendo neste exato momento, algumas empresas mais e outras menos maduras nesse processo. O grande segredo estará nas pessoas. Estamos preparados? As novas gerações estarão prontas para esses desafios? Algumas iniciativas das grandes empresas para a cooperação no desenvolvimento de novas tecnologias pensando na mecanização da silvicultura ocorreu em um passado recente. No entanto se percebe que, infelizmente, algumas ações não foram para a frente. Fica claro que o desenvolvimento endêmico de tecnologias ainda é uma tendência e que não deve mudar no curto prazo. Quem perde é o setor florestal. No cenário possível no médio prazo, de diminuição de oferta de madeira, baixa qualidade das florestas e expansões, mais do que nunca, a extração máxima do recurso e o investimento em tecnologias para mecanização e automação serão vitais para o bom andamento do negócio florestal. n

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automação de viveiros florestais

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a era dos dados a favor da silvicultura A busca por matérias-primas de qualidade é uma constante dentro de qualquer processo produtivo. Um insumo de qualidade, com boa rastreabilidade e garantias de cada etapa do processo, proporciona uma grande oportunidade para aprimoramento gradual em todo setor, incluindo o florestal. As mudas florestais são parte importante do processo silvicultural, e melhorias no processo de desenvolvimentos das mesmas podem ser um dos grandes diferenciais para uma melhoria na etapa de plantio. Com o aumento da mecanização, o processo produtivo dos viveiros passa a ter inúmeras oportunidades e aumentará consideravelmente sua capacidade de evolução. Durante o planejamento da construção da segunda fábrica de celulose da Suzano, em Três Lagoas (MS), ampliar a capacidade de produção de mudas com um novo viveiro era uma etapa importante do projeto, pois viabilizaria uma menor dependência de abastecimento de mudas de mercado. O projeto da “Fábrica de Mudas”, como foi chamado o viveiro automatizado de Três Lagoas, teve início em 2009, com as primeiras prospecções e ideia de desenvolvimento e teve seu startup operacional em 31 de março de 2017. A idealização do projeto foi inovadora e buscou resolver um antigo problema operacional do Mato Grosso do Sul: a falta de mão de obra qualificada no estado. Segundo o IBGE, em comparação com os outros estados, o MS é o 19º

não podemos e nem devemos parar por aqui. É necessária uma mudança de postura com relação a investimentos em conectividade e mecanização dos processos "

Arthur Dias Cagnani Gerente de Silvicultura da Unidade Florestal da Suzano em MS

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em densidade demográfica, com uma população de 6,86 hab/km². A inovação contou com a parceria da HortiKey, a partir de um contrato EPC, em que atuou como responsável pela condução do projeto. O processo produtivo na fábrica de mudas tem início com duas máquinas de confecção de Paper Pot, biodegradáveis em solo e que substituem os tubetes plásticos. Esses biodegradáveis são dispostos em bandejas de 160 células, com um leitor de RFID em cada uma delas. As bandejas são transportadas por esteiras até a bancada de estaqueamento e são armazenadas em buffers de espera com sistema automático de pulverizadores para manter a umidade. Ao posicionar a bandeja na bancada para realizar o estaqueamento, o leitor de RFID da bandeja se comunica com a bancada e registra, em sistema, diversas informações, incluindo data e hora, material genético, posição da cepa coletada no minijardim clonal e colaboradora que realizou o estaqueamento. De posse de todas essas informações, as bandejas continuam o trajeto, via esteiras, para serem agrupadas e separadas por material genético em novos buffers, que garantem a umidade das mudas recém; -estaqueadas via aspersores.



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automação de viveiros florestais Ao agrupar 40 bandejas de um mesmo material genético, as bandejas são novamente movimentadas para serem posicionadas em um container único, rastreado por um QR Code. A partir dessa etapa, a movimentação ocorre sempre com o container completo, utilizando pontes rolantes e cabos-guia. Esse container é movimentado para a casa de vegetação, onde permanece por aproximadamente 28 dias, enquanto ocorre o enraizamento. Com o sucesso da etapa anterior, o container é movimentado para a área de sombreamento, e ocorre a primeira seleção. A partir do desenvolvimento das mudas, o container é movimentado para a área de rustificação, e ocorrem as demais seleções, que garantem a qualidade necessária para a expedição e entrega em campo. Todo esse processo de movimentação de cargas é extremamente complexo e minucioso e é gerido por um software logístico interno, desenvolvido exclusivamente para esse fim. Os operadores responsáveis pelas movimentações possuem uma ampla gama de informações à disposição para otimizarem o processo. Com o programa, cada container é movimentado no momento correto de seu ciclo, o que garante que esteja no seu desenvolvimento máximo. Como todo processo disruptivo de inovação, nem tudo sai conforme o planejado, e houve grandes percalços na implementação de diversas tecnologias. Algumas inovações originalmente planejadas não performaram conforme o esperado para garantir a competitividade e sustentabilidade do viveiro, de forma que foram alteradas ou simplesmente substituídas por projetos mais simples. É o caso das máquinas de seleção e de encaixotamento. Em 2018, se iniciou um intenso projeto de retrofit das máquinas de seleção, em parceria com a SPI Integradora, empresa brasileira de automação industrial, cenário em que evoluímos consideravelmente, porém ainda distante do rendimento ideal. Continuamos com as pesquisas e melhorias, enquanto o processo foi substituído por uma etapa manual. Para otimizar o uso de toda a tecnologia embarcada no processo produtivo do viveiro, seria necessário um novo sistema de gestão do abastecimento de mudas, afinal, possuímos uma ampla base de dados à disposição. Dessa forma, desenvolvemos internamente o iWood, um software inteiramente novo para gerenciamento e controle de todas as movimentações de mudas, em viveiros próprios e de parceiros.

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O fluxo de funcionamento do software se inicia com o uso de um aplicativo desenvolvido no PowerApps, em que a equipe da silvicultura em campo pode programar a solicitação das mudas para plantio e replantio de cada talhão. O formulário gerado fica armazenado no celular do solicitante e sobe para a nuvem imediatamente ao entrar em contato com um sinal de internet. Com as informações dentro do software, é possível cruzar a base de recomendação de alocação clonal por talhão com a disponibilidade de mudas em cada viveiro parceiro e, assim, traçar o melhor roteiro logístico de abastecimento, contemplando a localização geográfica do viveiro com o destino da carga. O algoritmo também consegue otimizar a carga de diversos viveiros ao mesmo tempo, garantindo uma redução do tempo de espera das mudas, menor movimentação dos caminhões no ciclo de abastecimento e disponibilidade das mudas em campo no momento correto do plantio. Todo esse planejamento é comunicado ao fornecedor e ao solicitante da entrega, com possibilidade de replanejamento caso ocorra algum imprevisto. Ao final de todo o processo, o software também disponibiliza todas as informações para lançamento da NF-e e pagamento do fornecedor. O uso do iWood trouxe mais segurança e garantia de rastreabilidade de todas as informações geradas no processo, sem que ocorram interferências ou erros humanos no planejamento. Consequentemente, existe muito mais transparência no abastecimento para todos os elos da cadeia, ocasionando maior confiança no processo. O uso de recursos próprios do viveiro e o banco de dados de propriedade da Suzano garantiram um desenvolvimento e uma manutenção do software a custo zero para a companhia. Todas essas inovações proporcionam decisões mais rápidas e assertivas para a gestão e uma maior confiabilidade em todo o processo de abastecimento de mudas. A fábrica de mudas da Suzano trouxe, portanto, um pioneirismo na evolução do processo de produção de mudas no Brasil, com inovações disruptivas para o setor, aliando tecnologias que, originalmente, não foram idealizadas para o meio florestal. Mas não podemos e nem devemos parar por aqui. É necessária uma mudança de postura com relação a investimentos em conectividade e mecanização dos processos, pois, sem movimentos dessa natureza, o setor florestal não irá se desenvolver em sua plenitude e aproveitar essa nova onda tecnológica que estamos vivendo. A era dos dados é agora! n



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o novo normal

o impacto do “novo normal” sobre a

automação florestal

Nos últimos 30 anos, as tecnologias voltadas para o processo florestal passaram por diversas evoluções, do desenvolvimento de caminhões adaptados para o transporte de madeira a equipamentos específicos para a colheita florestal, uso de imagens de satélite de alta resolução, análises via LiDAR (Light Detection And Ranging), softwares específicos para gestão e planejamento florestal, simuladores virtuais de treinamento, VANTs e drones adaptados para atividades florestais, IoT (Internet of Things), bem como a era do Big Data e da IA (Inteligência Artificial). No setor florestal, a colheita foi uma das primeiras atividades a evoluir de maneira acentuada em um passado recente. Máquinas de altíssima tecnologia em automação trouxeram grandes benefícios para o meio operacional, o que permitiu ganhos em produtividade e performance e, por conseguinte, uma evolução tecnológica para as outras áreas do setor. Em seguida, vieram as evoluções das plantadeiras automatizadas e equipamentos que realizam diversas atividades silviculturais de forma simultânea; isso contribuiu para melhoria da ergonomia das atividades,

reduziu o desgaste dos recursos humanos envolvidos e, consequentemente, os custos operacionais. Entretanto, para entender a revolução da floresta 4.0, é importante decifrar a Quarta Revolução Industrial; há vários conceitos envolvidos nessa notória mudança, que foi iniciada em 2011, na feira de Hanover, na Alemanha, onde vários nomes foram dados para esse desenvolvimento, fábrica inteligente, indústria integrada ou indústria 4.0. Nesse evento, foram apresentados diversos exemplos para o futuro das novas linhas de produção, conectadas e flexíveis, com linhas produtivas cada vez mais eficientes, com menores desperdícios, com soluções mais especializadas e setores que comunicam entre si, integrando seus resultados com correções de desvios dos processos, realinhando as métricas para o produto final.

Entretanto a floresta 4.0 não pode ser vista apenas como uma revolução tecnológica. Vivemos, sim, uma revolução tecnológica, mas não somente isso, vivemos uma revolução de modelos de negócios. "

Ronaldo Neves Ribeiro e Bruno Ricardo Fernandes CIO e Coordenador de Colheita Florestal da Cenibra, respectivamente

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Opiniões Contudo não somente as máquinas aprendem a “falar” umas com as outras: a interação homem-máquina fica cada vez mais acentuada com essa nova revolução; as análises são mais precisas, com menor desperdício e maior eficiência; e, de forma mais acentuada, inicia-se a era da conectividade entre processos e pessoas. Milhões de dados transformados em informações correlacionadas, informações antes nunca analisadas tomaram corpo e puderam trazer outra visão para a tomada de decisões, de forma mais assertiva, mais importante e de forma rápida. Segundo Klaus Schwab (2016), é a fusão entre os mundos físico, digital e biológico. Na floresta 4.0, a realidade tecnológica também não é diferente: a informatização operacional já é realidade na maioria das atividades florestais, desde a coleta dos dados de inventário florestal até apontamento de produção dos trabalhadores. Atualmente, já é essencial que todos os dados de produção silvicultural sejam coletados via dispositivos móveis (tablet e smartphones), customizados para atividades florestais, nos quais softwares específicos são utilizados para interfaciar os dados, o que permite, de forma rápida, ter uma

visão dinâmica das operações, o que proporciona a análise da rotina operacional “quase” em tempo real. Essa interface veloz entre operação e gestão permite uma melhor análise pelas lideranças, além de fornecer subsídios para decisões estratégicas das empresas. Nesse contexto tecnológico, podem-se citar também as ferramentas de análise em BI (Business Intelligence) associadas com IA (Inteligência Artificial), que estão ganhando espaço nas empresas do setor e trazem maior dinâmica empresarial, transformando milhares de dados em informações ricas para estudos e gestão da evolução dos processos. Novas carreiras, como o cientista de dados, são requeridas e em caráter emergencial; muitas empresas já estão investindo em capacitação de seus funcionários para obter os benefícios dessas tecnologias. Toda essa evolução tem possibilitado agilidade e maior inteligência estratégica. Dessa forma, essas ferramentas devem ser aplicadas para todos os níveis de gestão das empresas, pois permitem que a alta direção e a liderança operacional analisem os dados dos processos e entendam as oportunidades de melhorias presentes, de acordo com sua realidade de trabalho ou atividade.;

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o novo normal Entretanto a floresta 4.0 não pode ser vista apenas como uma revolução tecnológica. Vivemos, sim, uma revolução tecnológica, mas não somente isso, vivemos uma revolução de modelos de negócios. As tecnologias em desenvolvimento e emergentes são fundamentais, mas não devemos pensar em tecnologia por tecnologia. Na floresta 4.0, a interação homem-máquina é presente em grande escala. Um número expressivo de informações correlacionadas é analisado e disposto para ações cada vez mais rápidas e assertivas no campo; pode-se dizer que essas evoluções trazem um novo modelo operacional, em que supera a “normalidade” até então praticada. Não como uma revolução, mas como um ponto de inflexão da sociedade, das políticas, da economia, dos recursos tecnológicos, ou seja, do mundo, o “novo normal”, utilizado por alguns autores, já ocorre há algum tempo e nos convida a pensar: a situação atual não seria o pós-“novo normal” tecnológico? Atualmente, o controle dos dados e informações, em algumas situações, se faz até mais importante do que a própria automação e o controle das máquinas. Esse ponto de inflexão do “novo normal” alavancou diversos projetos que, com as suas implementações, movimentaram o modelo de negócio para maior agilidade e dinâmica, e deram maior autonomia para ações no campo, bem como retornos expressivos para as empresas. A conectividade entre gestão e equipamentos também tiveram uma alavancagem, as empresas fabricantes de equipamentos florestais perceberam que a gestão a distância das frentes de trabalho é, cada vez mais, uma realidade dos modelos produtivos do Brasil. Na Europa, os fabricantes de equipamentos florestais apresentam diversas soluções para esse tipo de gestão remota, desde análise produtiva, consumo de combustível, faixas de rotação do motor, localização de máquinas, entre outras informações. Contudo os modelos apresentados ainda precisam de ajustes para atendimento pleno dos modais produtivos do Brasil e de interação aos softwares de gestão florestal, de acordo com peculiaridades distintas que cada empresa de base florestal apresenta. Porém é importante lembrar que toda essa tecnologia ligada à análise de dados e transmissão de informações ainda tem algumas barreiras

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Opiniões com a conectividade. A conectividade florestal é um grande desafio: várias empresas apresentam soluções bem práticas para a transmissão de dados, algumas de baixo custo, mas com limitações quanto à velocidade da transferência e ao volume de dados; outras, mais robustas, com banda de dados mais expressiva, mas com custos superiores. A transmissão de dados via GPRS, em algumas circunstâncias, vem demonstrado sucesso, contudo seu alcance ainda não consegue suprir toda a demanda florestal. A transmissão de dados via satélite demonstra maiores recursos de abrangência, atende em qualquer localidade, mas ainda com custos bem expressivos; há uma grande expectativa para a consolidação e a rápida disseminação do 5G, e alternativas ainda estão surgindo como exemplo de rede de longo alcance (LoRA). O “novo normal” forçou as empresas a buscarem alternativas para conectividade tão idealizada. A transmissão de dados ainda pode ser uma barreira que logo se romperá de forma ampla, mas recursos da IoT florestal são uma perspectiva presente. Algumas empresas apresentam estudos avançados para infraestrutura de transmissão de dados e conectividade florestal, integrando os diversos processos, como localização de veículos, máquinas, caminhões, dados de inventário florestal, recursos hídricos, tempo de transporte, integração de modais operacionais, análise climáticas, entre outras. Todos os dados florestais ligados por uma rede própria, que permite correlacionar e analisar as informações em tempo real. Essa exponencialidade das tecnologias do “novo normal” tem requerido um cuidado maior com a preparação do ser humano; para isso, os níveis gerenciais precisam chegar na frente e proporcionar os recursos necessários para que as pessoas se movimentem no ritmo requerido. A floresta 4.0, floresta inteligente, florestal digital, entre outros nomes, vai muito além da automação e conectividade, ela parte da interação e integração de usuário e dispositivos, repostas no tempo certo e com a qualidade necessária, o que permite criar métodos para alcançar resultados efetivos. E, dessa maneira, a motivação é inovar sempre. Mas será que ainda estamos no “novo normal”? Estamos preparados para outro ponto de inflexão do “novo”? Senão, precisamos acelerar, pois o amanhã já chegou e já é bem diferente do “hoje”. n

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plantio mecanizado

a evolução do

plantio mecanizado

Segundo dados mais recentes, o setor de florestas plantadas detém 9 milhões de hectares de florestas cultivadas, gera uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões, representa 1,2% do PIB e emprega direta e indiretamente cerca de 3,75 milhões de brasileiros. Em 2019, o consumo de madeira de florestas plantadas para fins industriais foi de 210,3 milhões de m³. A cadeia de valor da atividade florestal ligada às florestas plantadas é impressionante e irá se tornar ainda mais importante com o desenvolvimento da bioeconomia. A árvore e seus subprodutos podem servir de matéria-prima para a fabricação de cerca de 5 mil produtos. O histórico do setor florestal brasileiro de florestas plantadas é digno de orgulho, pois, em apenas 70 anos, saímos do nada para uma das indústrias mais competitivas do mundo. Com grandes ganhos de produtividade e avanços sociais nos anos 1980 e 1990, começamos a andar de lado a partir de meados da década de 2000-2010. Talvez isso tenha a ver com as indagações do Dr. Nelson Barbosa Leite, “A silvicultura e a encrenca batendo na porta”, publicadas no blog comunidadesilvicultura,

A árvore e seus subprodutos podem servir de matéria-prima para a fabricação de cerca de 5 mil produtos. "

Edson Leonardo Martini Diretor Executivo da Komatsu

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no Facebook, em 03/12/2020, em que questiona a silvicultura das planilhas que não está enxergando o risco de um desastre iminente. Antes de iniciar a escrever este artigo, como sempre, fui dar uma olhada naquilo que está publicado a respeito. E, aí, talvez não para minha surpresa, mas para a confirmação de uma expectativa: quando falamos em mecanização, há um abismo entre colheita e silvicultura. Isso medido em artigos e revistas disponíveis para acesso via web. Isso me intrigou, pois não podemos dizer ou achar que não temos mecanização na silvicultura; na verdade, temos, mas, talvez, num nível de desenvolvimento mais primário do que o da colheita da madeira. Mas a verdade é que não temos quase nada na praça, publicado recentemente, sobre mecanização da silvicultura. Como são as dificuldades que nos movem, provavelmente, o maquinário de colheita tenha evoluído mais porque as condições operacionais dos países escandinavos os levaram a procurarem soluções que tornassem a vida das pessoas um pouco melhor há 50 anos.


Opiniões Algo semelhante aconteceu aqui no Brasil, nos meados de 1980, quando o trabalho de um motosserrista consumia 3 Kcal por dia. Descascamento com machete e carregamento “no braço”. Trabalho extenuante, com alto risco de acidentes. A mecanização foi inevitável. O mesmo deve acontecer com a silvicultura. É só visitar o campo e verificar as condições de trabalho. Por maior conforto que se queira proporcionar, o uso das roupas pesadas e necessárias (EPIs) sob o sol escaldante de 40 oC torna o trabalho extenuante. Ainda pior quando são requeridas vestimentas de plástico para aplicação de produtos químicos. Enfim, temos que encontrar uma solução para isso, pois não é trabalho para se fazer manualmente. Então, quando mergulhamos na análise para as alternativas para a mecanização da silvicultura, nos deparamos com alguns dilemas: dos 9 milhões de hectares plantados de que dispomos, a maior parte se destina a processos industriais destrutivos (cavacos, polpa, carvão), onde a qualidade da tora é secundária. Isso desvaloriza o produto madeira, e, então, começamos a enxergar as restrições de custos, pois, com baixo valor agregado, o custo de produção, necessariamente, deve ser baixo. Nesse caso, as condições de emprego no Brasil têm si-

PLANEJAMENTO DO PLANTIO

do favoráveis, pois, com taxa de desemprego da ordem de 14%, só falta mão de obra em regiões de densidade populacional muito baixa. Mas, ano após ano, o custo de produção de madeira (INCAF-Ibá) vem subindo acima da inflação, o que, para os exportadores, foi compensado pela taxa de câmbio favorável. Mas, em reais, o custo de produção subiu 45% acima da inflação no período 2000-2016 e mais 15% no período 2016-2019. Num prazo mais longo, o crescimento do País irá deslocar a mão de obra da silvicultura para atividades mais leves. Já vimos isso entre 2013 e 2014, quando a taxa de desemprego bateu em 6%. Outro fator intrigante é que, apesar de o nível de desemprego estar alto, o rendimento médio continua subindo, conforme indicam as pesquisas do IBGE sobre salários pagos. Essa tendência é confirmada pelos números apresentados no Relatório Ibá 2020, em que a remuneração per capita dos funcionários com emprego direto cresceu 21,5% no período 20172019. O que podemos deduzir pelos dados do IBGE é que há uma evolução constante do custo de mão de obra desde meados de 2016. Cedo ou tarde, chegará à floresta. Então, todas as tecnologias a serem apresentadas irão competir com o custo atual do plantio manual ou ;

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plantio mecanizado semimecanizado, que, em função do ambiente econômico, ainda é baixo. O mesmo ambiente econômico onera muito os equipamentos importados em virtude da taxa de câmbio. Então, se cria aí uma dicotomia que é a de se apostar ou não em tecnologias que poderão, no futuro próximo, trazer os benefícios esperados de produtividade, qualidade e controle de custos. Mesmo que, no momento, não sejam tão atrativas economicamente, poderão evitar “a encrenca batendo na porta” logo ali adiante. É evidente que há uma evolução tecnológica das máquinas agrícolas, florestais ou de construção, que também são usadas nas atividades florestais. Há um aumento considerável de ICT (Information and Communications Technology) embarcada. Quase todos os fabricantes dispõem de sistemas de telemetria, que enviam informações da máquina e da operação para alguma central de controle do cliente. Assim, a operação pode ser acompanhada diuturnamente, aumentando a eficiência operacional e evitando paradas não planejadas. Com a integração com tecnologias de posicionamento geográfico (GPS) e mapeamento digital, máquinas para o plantio podem operar em um modo automático chamado auto steering, em que o operador somente acompanha o an-

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Opiniões damento do plantio e faz as manobras de retorno, enquanto a máquina segue as linhas do sulco de solo preparado, que foram previamente mapeadas na operação de subsolagem a partir de uma mapa de alinhamento desenhado no planejamento do plantio. Também é necessário dar uma olhada nas questões técnicas que envolvem uma solução para o plantio mecanizado. Dependendo das condições operacionais, os equipamentos disponíveis não poderão ser utilizados para qualquer condição devido a limitações técnicas do design, ou de potência ou dos próprios limites técnicos de operação das máquinas, como a declividade. Essas são as dificuldades que terão que ser superadas e indicam que, talvez, a solução para a mecanização do plantio não seja um único modelo de máquina ou sistema, mas um conjunto que se adapte melhor a cada condição operacional. A exemplo do desenvolvimento dos sistemas de colheita, demos os primeiros passos; agora, é preciso acreditar, e seguirmos adiante, utilizando a sinergia de conhecimento entre fabricantes e clientes para que, juntos, cheguemos ao objetivo de termos um plantio mecanizado confiável e competitivo. n



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plantio mecanizado

a mecanização do

plantio florestal no Brasil A mecanização no setor florestal consiste em um processo mais lento quando comparado ao agrícola, que se destaca pela constante inovação e pelo nível de automação de algumas operações. A área de colheita florestal possui máquinas e equipamentos que podem ser tidos como referências quando o assunto é a mecanização das operações em áreas com culturas florestais: seja em áreas planas, ou em terrenos acidentados, os harvesters, forwarders, fellers e skidders estão estabelecidos há um tempo. Por essa razão, cabe ao setor de inovação buscar novas alternativas para garantir melhores índices de eficiência operacional e, paralelamente, inovar as operações através de sistemas de teleoperação, ou, quem sabe um dia, pela automação de suas atividades.

Em 2013, o uso de plantadoras totalmente mecanizadas teve início em caráter de ensaio, a fim de condicioná-las às realidades da silvicultura do Brasil. (...) O setor florestal deve preparar-se para uma possível escassez de mão de obra. "

Rafael Ribeiro Soler Representante para a América do Sul da Bracke Forest AB

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O setor responsável por garantir o novo ciclo da floresta, a atividade de plantio, se restringe a níveis de baixo grau de mecanização, utilizando-se de ferramentas manuais, como a “matraca” ou o “chucho”, ou, ainda, empregando-as acopladas a tanques de irrigação tracionados por tratores, a fim de agrupar as operações de irrigação e de plantio, em busca de um menor custo de implantação. Com o avanço das áreas plantadas, o ritmo se acelerou, e a inovação fez com que novos equipamentos surgissem no mercado brasileiro para atender a essa demanda. As plantadoras de arraste ou transplantadoras, como também são conhecidas (devido à sua ligação com o setor agrícola), percorrem a área previamente subsolada para executarem o plantio. Elas são compostas por uma cabine, onde um trabalhador aloca muda a muda em um tubo, responsável por inseri-la no solo, podendo, ainda, realizar


Opiniões outras operações, como a irrigação, seja com água ou com o hidrogel. Essas máquinas ainda dependem de dois trabalhadores, sendo um o tratorista, e outro, o responsável direto por inserir a muda no tubo de plantio. Sob esse cenário de trabalho, a de uma jornada que exige percorrer longas distâncias durante o turno sob um sol desgastante, o setor florestal preparar-se, ainda, para uma possível escassez de mão de obra. Atrelados a essa realidade, a presença dos tocos das rotações anteriores e a alta concentração de resíduos nos talhões florestais reforçam a necessidade de alternativas menos restritas. O uso de equipamentos totalmente mecanizados e de atuação intermitente, em que o equipamento não permaneça continuamente em contato com o solo, permitindo desviar de obstáculos como tocos e resíduos oriundos da colheita, apresenta-se, assim, como solução inovadora para o setor florestal brasileiro. Sabe-se que as fabricantes com maior experiência nesse setor estão localizadas em países escandinavos, como Finlândia e Suécia, tendo desenvolvido equipamentos que atendem às necessidades e realidades de suas regiões.

Para utilizar esses equipamentos no Brasil, empresas florestais têm buscado parcerias com institutos de pesquisas, universidades e até mesmo diretamente com as fabricantes, para que houvesse a adaptação dessas máquinas para o uso em condições brasileiras. Em 2013, o uso de um desses equipamentos totalmente mecanizados teve início em caráter de ensaio, a fim de condicioná-lo às realidades presentes na silvicultura do Brasil. O primeiro equipamento utilizado foi o Bracke Planter P11.a, com funções de plantio, irrigação e adubação por coveta lateral, realizando plantios em diversos estados do Brasil para compreender sua atuação em diferentes tipos de solos, manejos e sistemas de preparo de solo. Essa operação contava apenas com o operador da escavadora, responsável por movimentar braço e lança para posicionar o equipamento e pressionar um botão para a realização de todas as operações conjuntas com o plantio. Essa plantadora possuía capacidade de até 88 mudas por ciclo, sendo necessária sua parada para reabastecer manualmente as novas mudas a se; rem plantadas.

1. Equipamento P11a acoplado à escavadora 200D LC realizando o plantio mecanizado de mudas florestais

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plantio mecanizado A partir dessa experiência, uma parceria entre fabricantes de máquinas, de cabeçotes plantadores e sistemas de georreferenciamento foi firmada. Esse trabalho conjunto permitiu o desenvolvimento de uma máquina que pudesse se locomover de acordo com o espaçamento calibrado, realizando o plantio e a irrigação, além de registrar o georreferenciamento das mudas plantadas, sem a necessidade de o operador controlar ou acionar os cabeçotes. A planter D61EM possui três cabeçotes plantadores, com capacidade de 588 mudas por reabastecimento, e performa em caráter automatizado, que consiste em realizar o plantio sem a interferência do operador, que permanece na cabine para dar início à operação e assumir o controle ao fim do talhão, para manobrar e reiniciar o plantio em uma nova área. Essa máquina é a única relatada no mundo a realizar o plantio automatizado de mudas florestais, até o presente momento. A automatização permite uma maior regularidade nas operações, diminuindo a dependência do operador, especialmente nas atividades

Opiniões repetitivas, e deixando em suas mãos atividades mais estratégicas, como a tomada de decisão sobre a área de realização do plantio, como, por exemplo, decidir entre um local com pedras ou sobre tocos. Essa transferência terá consequências benéficas, como a de evitar variações entre os rendimentos operacionais. A automação corresponde ao último estágio em um processo de mecanização, em que a máquina deverá realizar todas as atividades, bem como a tomada de decisão, caso haja eventos inesperados daqueles preestabelecidos do início da operação. Há, ainda, um longo caminho a ser percorrido até alcançar o nível de automação da operação de plantio florestal; porém, através de pesquisas e experiências inovadoras realizadas em nosso país, os primeiros passos já foram dados. Cabe, hoje, ao setor florestal como um todo, acolher as inovações e contribuir com a ampla experiência de décadas plantando florestas, a fim de se obter máquinas e equipamentos autônomos adaptados às necessidades brasileiras. n

2. Máquina de plantio e irrigação automatizados durante o ensaio em áreas florestais brasileiras

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Qual é o diâmetro do seu problema?

Detalhe de encaixe para ferramentas de 4 lados

Disco de corte com encaixe para utilização de até 20 ferramentas, conforme possibilidade devido ao O // externo.

Diâmetro externo e encaixe central de acordo com a máquina

P Discos de corte para Feller: P Discos especiais conforme desenho P Usinagem de peças conforme desenho ou amostra: conforme modelo ou amostra

Eixos, acoplamentos, roscas sem-fim transportadoras, roletes e tambores para esteiras transportadoras, tambores para pontes rolantes, cilindros hidráulicos e pneumáticos e outros.

D’Antonio Equipamentos Mecânicos e Industriais Ltda. Av. Marginal Francisco D’Antônio, 337 - Água Vermelha - Sertãozinho - SP Fone: 16 3942-6855 dantonio@dantonio.com.br - www.dantonio.com.br


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irrigação

a evolução da irrigação Durante os últimos 5 anos, na vanguarda das tecnologias das operações mecanizadas para a silvicultura, o Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal - PCMAF, do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais –, IPEF, tem intensificado seus esforços na avaliação, no desenvolvimento e na prospecção de novos sistemas de detecção de mudas e irrigação em campo, a pedido das empresas florestais filiadas. E é fácil entender os motivos do interesse na mecanização e automação dessa operação. A necessidade de se ter um controle maior da quantidade de água aplicada em cada muda, visando à sustentabilidade do seu uso; a necessidade de formação de novas florestas (reforma e implantação) ao longo de todo o ano, independente da condição climática; a preocupação em reduzir os acidentes pessoais; o baixo rendimento da irrigação manual, variando de 1 a 2,5 ha por hora; e a alta demanda por mão de obra – 4 a 8 operadores – fizeram com que essa operação virasse alvo de melhorias e inovações. Por isso fabricantes nacionais de implementos começaram a investir no desenvolvimento de novos equipamentos, sendo os primeiros a surgir no início dos anos 2000. Eram conjuntos semimecanizados para irrigação de uma linha, sem recursos de automação ou controle manual, constituídos simplesmente por aspersores aplicando água em um filete contínuo na linha de plantio. Entretanto o custo de reabastecimento e toda a operação logística para captação e transporte de água fizeram com que novas tecnologias fossem incorporadas aos irrigadores, evitando o desperdício, inclusive.

no setor florestal

Alguns equipamentos passaram a ter um acionamento manual, controlado pelo operador do trator, que, ao visualizar a muda durante o deslocamento da máquina, disparava a irrigação, ponto a ponto. Uma evolução natural foi a incorporação de dois irrigadores, um de cada lado do trator, aumentando o rendimento operacional. Em contrapartida, eram necessários dois operadores na cabine, acionando manual e individualmente cada irrigador. Mas, com a incorporação de poucos recursos tecnológicos, uma câmera passou a filmar o alinhamento de plantio, apresentando as imagens na cabine, facilitando a visualização e o conforto para os operadores, mas ainda contando com acionamento de irrigação na mão ou no pé do tratorista. Já no início dos anos 2010, os fabricantes de equipamento florestais incorporaram diversas tecnologias, como a adoção de um temporizador de irrigação, que abria e fechava a válvula de irrigação em função do tempo programado. Outro equipamento desenvolvido foi com a utilização de um sistema de posicionamento com DGPS (sistema de posicionamento global diferencial), onde as mudas plantadas eram georreferenciadas, e o irrigador, com o auxílio de um mapa digital, fazia a irrigação semimecanizada automatizada.

60% das empresas florestais filiadas ao PCMAF realizam a irrigação de forma semimecanizada e 25,6% ainda fazem a irrigação de forma manual "

Saulo Philipe Guerra e Guilherme Oguri Líder Científico e Coordenador do Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal – PCMAF/IPEF

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Opiniões Ambas as tecnologias adotadas tinham baixa assertividade e não representaram grandes ganhos operacionais, quando comparados à operação manual. Mais recentemente, com a maior oferta de sensores e sistemas eletrônicos embarcados, alguns fabricantes conseguiram automatizar o controle de irrigação com sensores para detecção das mudas durante o caminhamento do trator com o irrigador. Foram instalados sensores NIR (infravermelho próximo) em irrigadores de uma ou duas linhas, que apresentaram resultados razoáveis de assertividade durante o dia, chegando a 90% nas melhores condições. Com a incorporação dos sistemas embarcados de processamento de imagem captadas por câmeras e computador de bordo com inteligência artificial, foi possível identificar as mudas em tempo real e acionar a irrigação de forma localizada, sem a interferência humana. Ainda, essa tecnologia é capaz de controlar os braços hidráulicos (nas laterais do trator) posicionando o irrigador com precisão em cima da muda, sem que haja mudança de trajetória da rota do trator. Essa inovação tecnológica passou a ser adotada em equipamentos de 1, 2 ou até mesmo 3 linhas, conseguindo alcançar até 98% de assertividade em operações

noturnas e 85% em operações diurnas. Além do ótimo resultado à noite, a adoção dessa tecnologia permite que a irrigação seja realizada em um turno ainda não explorado, sem dimensionar os ganhos na qualidade da aplicação considerando a menor temperatura do solo. Frente a essa situação, existem alguns desafios tecnológicos a serem vencidos para que o processamento de imagem em tempo real seja adotado em larga escala, fazendo com que, mesmo durante o dia, a irrigação tenha a assertividade da operação noturna (que tem iluminação artificial reduzindo das distorções ópticas). De acordo com o Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura – edição 2018/2019 (www.ipef.br/publicacoes) ─, que classificou o nível tecnológico das principais operações numa escala de 1 a 8, mostrou que quase 60% das empresas florestais filiadas ao PCMAF realizam a irrigação de forma semimecanizada (níveis 2 e 3) e 25,6% ainda fazem a irrigação de forma manual (níveis 1 e 2). Ou seja, a realidade da irrigação de florestas plantadas ainda é representada por colaboradores caminhando atrás do conjunto mecânico com baixo nível de automação e que tem fontes de energia exclusivamente de origem humana.n

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O EQUIPAMENTO PONSSE DE COMBATE A INCÊNDIOS une versatilidade e tecnologia de ponta para controle e combate do fogo, onde os equipamentos tradicionais não conseguem chegar.

POTÊNCIA IMPRESSIONANTE NO COMBATE A INCÊNDIOS

A unidade independente consiste em um tanque de 10m³, com bomba própria que permite captar água de um rio, ou do mar, e ainda canhão de água com alcance de 47 metros e giro de 360 graus. Tudo é facilmente acoplado no compartimento de carga dos forwarders modelos PONSSE Buffalo e Elephant e, após conectado ao sistema hidráulico, o equipamento estará pronto para operar.

A logger’s best friend www.ponsse.com



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uso avançado de drones e vants

drones e sensores remotos na floresta Nos últimos anos, surgem novas oportunidades com as inovações tecnológicas para produção agrícola e florestal. Para que o Brasil possa garantir, ou mesmo ampliar, sua capacidade de produção com sustentabilidade, tornam-se necessárias a modernização, a tecnificação e a inovação em toda a cadeia de produção agrícola e florestal, mais especificamente uma grande transformação, a floresta digital, como resultado da transformação digital do setor. Os computadores e os celulares, cada vez mais acessíveis, a internet de baixo custo e a tecnologia wi-fi possibilitam acesso à informação e propiciam avanço da floresta digital, destacando-se como protagonistas nas decisões nos processos produtivos florestais no Brasil. Cada vez mais interligados com seus aparelhos continuamente conectados à rede (web) e com acesso a qualquer tipo de informação em tempo real, o setor florestal tem sido um dos protagonistas e pioneiros na adoção de tecno-

logias digitais, destacando-se o uso de drones como uma das tecnologias mais adotadas, seguido da internet das coisas, da telemetria e do sensoriamento remoto. A floresta digital, por meio de máquinas com sensores embutidos, uso de imagens de satélites, aeronaves remotamente pilotadas, como drones, tem possibilitado a coleta de inúmeros tipos de dados, como informações de solos, clima, características das florestas cultivadas e nativas, entre outras. O grande volume de dados levantados por meio da silvicultura de precisão constitui uma fonte rica de informação do campo. Atualmente, vertentes tecnológicas se consolidam em sistemas de produção limpos, com balanço positivo de carbono, baseados na sustentabilidade, apresentando rupturas tecnológicas, com uso mais eficiente dos recursos naturais e serviços ambientais. No setor florestal, a silvicultura de precisão e a robótica, amparadas por tecnologias como sensoriamento remoto, sistema de informação geográfica e monitoramento do uso da terra, permitem o uso de sensores sem fio, localizados no solo, na planta, na atmosfera ou em máquinas e equipamentos, que, em conjunto com softwares de análise de dados, possibilitam um mapeamento mais preciso. Esse mapeamento propicia o plantio inteligente de sementes e a aplicação otimizada de insumos químicos ou biológicos para o manejo nutricional e sanitário da floresta, hoje, em especial, operações realizadas com drones. Sensores que fornecem imagens de plantas capturadas, seja pelos drones,

Dentre as pragas, as formigas cortadeiras, assim como as ervas daninhas, destacam-se, pela ocorrência generalizada no Brasil e pelo poder de causar desde pequenas perdas de produtividade até a perda total da plantação "

Lúcio André de Castro Jorge Pesquisador da Embrapa Instrumentação

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Opiniões seja por satélites, podem auxiliar na detecção de pragas, levando à aplicação de defensivos específicos e em quantidade adequada; dispositivos podem capturar informações sobre a colheita e mapear a produtividade de cada parte do terreno, visando ao manejo e à melhoria do desempenho da produção. Por meio da floresta digital, sensores dispersos por toda a propriedade e interligados à internet (internet das coisas) gerarão dados em grande volume (Big Data) que necessitarão ser filtrados, armazenados (computação em nuvem) e analisados. Será necessário, cada vez mais, o auxílio de algoritmos mais aprimorados, por técnicas de inteligência artificial, para tomada de decisão na condução da produção florestal. Encontra-se aí um dos desafios do setor, encontrar o Analytics adequado. Em especial, o monitoramento em florestas de eucalipto é fundamental para direcionar as tomadas de decisões, pois podem resultar no aumento da produtividade e na redução de custos. Atualmente, alguns gargalos desse tipo de cultivo estão em identificar, de forma precisa, o surgimento e a intensidade de infestação de pragas e doenças e ervas daninhas. Dentre as pragas, as formigas cortadeiras, assim como as ervas daninhas, destacam-se, pela ocorrência generalizada no Brasil e pelo poder de causar desde pequenas perdas de produtividade até a perda total da plantação, especialmente em plantios mais jovens. Nesse cenário, novos sistemas com base em inteligência artificial estão surgindo na silvicultura, baseados em

deep learning e SLAM (Simultaneous Localization and Mapping), sendo um dos exemplos apresentados no vídeo (a seguir), demonstrando o futuro dos sistemas de visão 3D de baixo custo, onde se pode identificar formigueiros em tempo real com um robô terrestre ou drones com sistemas inteligentes de mapeamento. Esses sistemas são inovadores para o monitoramento da infestação de formigas cortadeiras e, então, na estimativa de volume de madeira. Os sensores visuais RGB são a fonte primária de informação para o mapeamento e a localização, uma vez que eles produzem representações densas e ricas do ambiente, que incluem textura, cor e forma. Um software com inteligência artificial permite o processamento em tempo real, gerando rapidamente o controle eficiente da área, uma das grandes dificuldades atualmente. Esse sistema é uma parceria Embrapa, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e empresas da área florestal. Esses e outros exemplos estão chegando no campo, cada vez mais apresentando a aplicação localizada de insumos com drones, identificação de diferentes espécies nativas em florestas nativas, estudos de biomassa, levantamento de áreas de reflorestamento como crédito de carbono, bem como todo o acompanhamento de rotinas de inventários florestais, com apoio da robótica, inteligência artificial e realidade aumentada. As ferramentas estão chegando, e o negócio florestal poderá se beneficiar, em muito, tanto na lucratividade como na sustentabilidade. n

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ativos florestais

do controle à inteligência de dados Por muitos anos, a realidade da indústria florestal se pautou no envio manual, pouca precisão e dificuldade de controle das informações do setor. Com a popularização da IoT – internet das coisas –, e a tecnologia cada vez mais presente no dia a dia da floresta, ter mais visibilidade para melhorar a tomada de decisão em campo tornou-se uma obrigação para todos os gestores. No entanto, para atingir o real avanço na utilização da tecnologia, é necessário ir além dos atributos básicos disponíveis no mercado e focar em soluções inteligentes que apoiem o crescimento de uma empresa. A base da automação florestal: Para melhor exemplificar o conceito, vamos utilizar uma pirâmide. Em sua base, encontram-se os conhecidos sistemas de gestão e monitoramento. Sua importância é clara, e sua existência já se tornou fundamental para a confiabilidade no acompanhamento diário da operação florestal. Seus benefícios são: 1. dados com mínima interferência manual possível, aumentando sua confiabilidade; 2. visão, em tempo real, do que acontece na operação; 3. mais agilidade na coleta de dados no campo; 4. informatização das orientações de execução de planejamento, como microplanejamento e rotograma; 5. melhor comunicação entre escritório e campo; 6. otimização dos recursos disponíveis, como insumos, equipamentos e pessoas; 7. gestão dos custos da floresta, garantindo execuções orçamentárias dentro do previsto.

Por isso a contratação desse tipo de solução é um dos primeiros passos dados na utilização de tecnologia em uma operação que busca ganhos reais de produtividade e redução de custo. No entanto essa é a base da pirâmide, e, para alcançar resultados realmente transformadores, não se recomenda parar por aí. Sistemas integrados para tomada de decisão: Um erro muito comum das empresas ao investirem em novas tecnologias é a ideia de que sistemas isolados, que resolvem problemas específicos, serão a solução definitiva dos problemas da operação. Por isso o segundo tópico abordado, referente ao meio da pirâmide, fala sobre a importância de possuir múltiplos sistemas, mas que estejam plenamente integrados. Devido à complexidade e ao cenário específico de cada operação florestal, é fundamental que as soluções sejam capazes de se comunicar. Dessa forma, é possível que as informações fluam entre todos os setores da empresa, permitindo que o gestor tome decisões mais assertivas. Uma organização com sistemas integrados tem menos burocracia e maior contribuição entre todas as áreas. Nesse processo de integração, depara-se com a necessidade de centralização das informações, para que seja possível fazer uma análise mais detalhada, com dados oriundos de múltiplas plataformas e sistemas, criando, então, um grande banco de dados com informações do passado, presente e futuro da floresta.

Suponha-se que, em uma operação de logística florestal, existam 50 rotas possíveis para se chegar de um ponto a outro (...) tomar a melhor decisão de forma manual não será uma tarefa fácil. "

Fabrício Emiliano Santos e Rafael Pereira Channel Sales and Customer Business Manager da INFLOR e CEO da AIKO, respectivamente

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Opiniões O futuro da floresta inteligente: Uma vez que o alicerce da pirâmide está implementado, a empresa já possui todos os recursos necessários para um próximo passo na adoção de novas tecnologias. Isso lhe possibilita usufruir de inúmeras inovações que estão sendo utilizadas em escala, por diversos setores da economia, caminhando para o topo da pirâmide. Machine learning para autogestão dos operadores em campo: machine learning, conhecido como o “estudo de reconhecimento de padrões e da teoria do aprendizado computacional em inteligência artificial”, traz novas possibilidades de solucionar problemas na floresta. Um exemplo dessa tecnologia aplicada às operações florestais está na capacidade de ação imediata em situações de desvio de produtividade. Atualmente, se um operador passa por algum problema ao longo de um turno, a informação leva tempo para chegar até uma central de controle e ainda mais tempo para ser analisada. Até que a ação seja executada, muitas vezes, se perde a janela de oportunidade para resolver determinado problema. Com isso, por mais que exista o monitoramento ativo dos equipamentos florestais na operação, ainda ocorrem grandes perdas de produtividade devido ao tempo de resposta humana para análise, verificação e tomada de decisão sobre o fato. Essa inovação pode acontecer a partir de um conjunto de metas e curvas de produtividade das máquinas configuradas em um sistema, para servir como parâmetro de avaliação do operador. Com essas informações definidas, o sistema embarcado na cabine do equipamento começa a processar todas as variáveis que acontecem em tempo real. Assim, é possível que o sistema aprenda como é o padrão de trabalho de cada operador e tenha capacidade de orientá-lo, para melhorar sua produtividade em prol do alcance das metas estabelecidas. Essas orientações podem acontecer por meio de alertas, dentro da própria cabine, no momento exato em que o problema acontece.

Otimização na logística e gestão de pátios: outro ponto a ser destacado é a utilização de algoritmos de otimização para a obtenção de melhores resultados de produtividade. Softwares programados com esses recursos são capazes de analisar o cenário e tomar a melhor decisão em poucos segundos. Suponha-se que, em uma operação de logística florestal, existam 50 rotas possíveis para se chegar de um ponto a outro. Cada caminho possui uma distância, velocidade de tráfego permitida, restrições de horário particular e limite de peso permitido para trafegar. Dados esses parâmetros, tomar a melhor decisão de forma manual não será uma tarefa fácil. Além de levar um tempo considerável, é possível que um ser humano tome uma decisão equivocada. Ao submeter esse desafio a um software, pode-se chegar à melhor decisão em menos de um segundo. Esses algoritmos podem ser utilizados em praticamente todos os processos florestais: 1. na silvicultura e colheita, para a obtenção da melhor sequência de movimentação entre talhões, para as equipes operacionais; 2. na otimização do processo de entrega de insumos no campo, garantindo uma rota com menor esforço e no tempo adequado; 3. na designação do movimento de caminhões para buscarem madeira no campo; 4. para mesclar a chegada de caminhões com a madeira a ser consumida no pátio, de forma a garantir que o material certo está sendo consumido no tempo ideal; 5. na redução do tempo de fila nas gruas de carregamento no campo e no pátio de madeira. Por isso, não basta possuir a informação correta sem a capacidade de tomar a melhor decisão e no menor tempo possível. A tecnologia, utilizada em sua forma plena, possibilita uma escala maior de tomada de decisão e desenvolvimento de um planejamento estratégico baseado em dados. Por essa razão, essas tecnologias são consideradas o topo da pirâmide de automação de ativos florestais. Nesse cenário atual de incertezas, desafios e busca por melhor aproveitamento de recursos, alcançar o topo da pirâmide é o objetivo mais visado pelas empresas que possuem inovação e tecnologia como parte de sua estratégia de crescimento no longo prazo. E, cada vez mais, se torna fundamental a busca por soluções completas, que possuem a capacidade de entregar todas as fases da pirâmide, no tempo certo e conforme a necessidade do planejamento estratégico de uma organização. n

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ativos florestais

gestão georreferenciada de ativos florestais

O geoprocessamento é a técnica computacional que realiza o processamento de informações geográficas ou espaciais transformando-os em resultados, colhidos na forma de mapas digitais, tabelas, relatórios ou gráficos, onde a gestão do território é a essência do negócio. Latitude, longitude e altitude são relacionadas com informações não espaciais, como espécie plantada, temperatura, umidade, pH do solo, etc. O uso do geoprocessamento não é novidade no mercado florestal. O controle dos ativos florestais tem se valido desse recurso com fervor desde os anos 1990. No entanto o emprego se limitava a atividades de campo operacionais, como: • levantamento de perímetros; • escoamento da produção; • questões fundiárias; e • cálculo de áreas de talhões de plantios. A partir dos anos 2000, o uso de geotecnologias volta-se com mais força no planejamento, onde softwares especialistas, utilizando informações georreferenciadas, proporcionaram melhorias nas prognoses de plantios, transporte e colheita. Diversas atividades passaram a melhorar seu desempenho devido à atenção ao planejamento em escritório, a partir de informações previamente coletadas por hardwares acoplados a equipamentos como harvesters, geolocalização do transporte, utilização de drones, além da disponibilização de dados em massa pelas empresas provedoras de geoinformação. Com a popularização da internet e a evolução tecnológica embaladas pelo massivo desenvolvimento

de aplicações de smartphones (Apps) e APIs nos anos 2010, novas tendências e técnicas para análise de gestão dos ativos têm sido empregadas. A seguir, são listadas algumas. 1. Aprendizado de máquina: Com o desenvolvimento de softwares voltados à inteligência artificial, abriu-se um novo horizonte para processos que, até então, só poderiam ser executados com intervenção humana direta. A aprendizagem de máquina baseia-se na análise de dados para que se estabeleçam algoritmos que possam responder às regras do negócio, portando uma concepção inversa à programação tradicional. Como exemplo, podemos citar o reconhecimento de padrões em imagens, onde a máquina aprende a reconhecê-los, delimitá-los e quantificá-los de forma rápida, com altos níveis de precisão. Nos softwares de machine learning, é possível analisar padrões de imagens através de criação de regras intuitivas, de modo a obtermos respostas a perguntas como: identifique nas imagens plantios de eucalipto em uma amostra. Cria-se um subconjunto intuitivo de instruções que auxiliarão a aprendizagem da máquina; em seguida, treina-se a rede neural de aprendizado de detecção de objetos e, por último, utiliza-se do algoritmo de

dados geoespaciais de alta precisão no processo da gestão dos ativos representam, ao fazermos as contas, investimento e economia em várias etapas do processo florestal "

Daniel Humberto Saavedra Alvarado e Nilton Luís Venturi Engenheiros Cartógrafos da Senografia Desenvolvimento e Soluções

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Opiniões treinamento para detecção automática de objetos, identificando plantas em outras imagens. Ainda, a ferramenta calcula o índice de mortalidade e, por consequência, determina se certo talhão deve ser replantado, dependendo dos critérios da reflorestadora. 2. Mapeamento de alta precisão: A base do cadastro florestal, o talhão, carrega variáveis de localização e suas interconexões com as áreas ambientais, declividade do terreno, tipo de solo, face de exposição, microclima, além da dimensão área que é extremamente sensível para todos os sistemas da área florestal. A aquisição de dados planimétricos de alta precisão provenientes da fotogrametria, combinados com alta precisão altimétrica obtida pela varredura com sensor laser, construirá uma base sólida de dados para a gestão dos ativos florestais. 3. Perfilamento laser (LiDAR): A altimetria na área florestal está correlacionada desde a delimitação de áreas aptas para o plantio mecanizado, passando pela colheita, com a identificação de áreas declivosas para utilização de máquinas especialistas, afetando também o baldeio com planejamento de estradas otimizadas para permitir rampas e curvas mais suaves para os modais. A rápida aquisição de um Modelo Digital de Terreno (MDT) de alta precisão, mesmo em áreas de florestas em pé, só é possível através do levantamento laser aerotransportado. Existe a flexibilidade de gerar dados laser em plataformas distintas, como aeronaves tripuladas, helicópteros ou VANTs. A intensidade dos feixes de laser está diretamente correlacionada com o tipo do sensor e altura do voo, enquanto as características do terreno (presença de vegetação, tipo do dossel) afetarão também o número de retornos que atingirão o solo. Algumas atividades florestais beneficiadas ao utilizarem altimetria de precisão: INVENTÁRIO FLORESTAL: • vincular a altura máxima das árvores por talhões, aumentando a confiabilidade do inventário; • estimativas do número total de individuos e auxílio para o planejamento do abastecimento de madeira no longo prazo, com prognoses de crescimento da floresta. SILVICULTURA: • melhoria na prescrição do microplanejamento de plantio; • apoio na definição do percentual de mecanização (preparo manual/mecanizado); • base para aplicação da silvicultura de precisão, levando as recomendações prontas para o computador de bordo e aplicá-lo no campo.

COLHEITA: Melhorias no planejamento das atividades, além de dimensionar melhor equipamentos e tarifas pagas a terceiros, em diversas fases do processo; • apoio no dimensionamento de máquinas de extração e baldeio; • otimização do arraste; • uso de shovel logger – melhor prescrição de uso nas áreas mais declivosas; • dimensionamento correto de arraste com skidders e outros equipamentos; • uso de forwarder e planejamento de pátios temporários de madeira. MANUTENÇÃO E CRIAÇÃO DE ESTRADAS: • criação ou readequação de estradas e aceiros; • melhor trafegabilidade de veículos pesados (rampas menores e raio das curvas mais suaves); • microplanejamento otimizado para armazenamento da colheita na beira das estradas. 4. Cobertura e uso do solo para análise econômica: Uma maneira precisa de planejar a aquisição de novas áreas de plantios ou estabelecer novas parcerias de áreas para produção florestal é o mapeamento da cobertura e do uso do solo. Muitas empresas florestais já adotaram esse procedimento no seu dia a dia, garantindo a discrição das negociações das terras, que levam inevitavelmente a especulações imobiliárias indesejáveis. Outro aspecto é a antecipação dos valores econômicos a serem negociados, partindo-se de quantificativos de áreas mapeadas com boa precisão e determinando-se valores de transação de bens mais justos para ambas as partes. Para a conclusão da negociação, tão importante quanto os valores econômicos envolvidos no negócio é o mapeamento do uso do solo, que consegue analisar variáveis ambientais, logísticas e sociais intrínsecos à transação imobiliária. 5. WebGIS – Sistema de Informação Geográfica pela Web: Por fim, a representação de toda essa informação em um sistema distribuído pela internet. Portanto dados geoespaciais de alta precisão no processo da gestão dos ativos representam, ao fazermos as contas, investimento e economia que estão distribuídos em várias etapas do processo florestal, incluindo a fase de aquisição de imóveis, planejamento, plantio, colheita, transporte, certificação ambiental, enfim, em toda a cadeia de negócios. n

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internet das coisas

a contribuição da

internet das coisas

para o setor florestal

Considerando o quão relativamente recente é o tema “Internet das Coisas”, incluindo o cenário de hiperconectividade com a internet de ultravelocidade, vale uma contextualização conceitual, geral sobre o tema, que é baseado na relação estreita entre componentes, como objetos ou dispositivos inteligentes, a massa de dados gerada por eles (Big Data) e o processamento em nuvem. A “Internet das Coisas” reconhecida pela sigla (IoT – Internet of Things), em um dos conceitos admitidos, pode ser

descrita como a interação contínua entre diversos aparelhos, máquinas e sensores dotados de inteligência artificial e também pessoas, sendo essa interação, possível através de algoritmos, responsável pela tomada de decisões autônomas, pautando avaliações e ações que, antes, eram tomadas exclusivamente por humanos. Muitas pessoas já devem ter se deparado com aquele exemplo da “geladeira do futuro”, que vai detectar quando determinado alimento está chegando próximo ao prazo de validade ou

Internet das Coisas: não se trata mais de uma sensação difusa sobre o avanço tecnológico que estamos vivenciando, mas, sim, de uma certeza de que uma revolução deve acontecer logo à frente. " Mario Carlos Wanzuita Diretor de Projetos da Holtz Engenharia em Negócios

o estoque está acabando e incluí-lo como item em uma lista de compras. Pois bem, esqueçam isso, pois esse é apenas um exemplo simplório das muitas possibilidades que virão com a IoT. A internet das coisas vai muito além do que uma geladeira conectada; essa é uma cultura recente e que, como no restante da sociedade, na área florestal trará impactos que ainda não são inteiramente conhecidos; ademais, toda essa hiperconectividade entre aparelhos,

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Opiniões sensores, máquinas e pessoas deve alterar a forma como agimos e tomamos decisões. A IoT é uma grande promessa para aplicações florestais digitais. Eficientes sistemas de gestão podem ser desenvolvidos para o gerenciamento de recursos e tomada de decisões, como no inventário florestal, sensoriamento remoto e em sistemas de alerta e prevenção a incêndios. Aliás, incêndios florestais são uma ameaça real para o manejo sustentável de florestas nativas e plantadas, e a tecnologia da IoT em ambiente florestal pode ser usada para identificar ou diagnosticar, comunicar, analisar e tomar decisões. Contudo as aplicações dessa tecnologia no manejo florestal carecem de sistemas bem integrados para a detecção em tempo real. Além disso, os eventos climáticos impactam as estradas, os sistemas florestais que também são vulneráveis, por exemplo, a inundações, escorregamento e deslizamentos. Nesses casos, uma previsão precisa desses eventos, por meio do sensoriamento remoto e das comunicações da IoT, torna o monitoramento uma ferramenta útil à sustentabilidade e à otimização das operações, mas, para isso, há a necessidade de soluções com estações conectadas de monitoramento do clima, umidade, pressão atmosférica e outros parâmetros integrados a uma plataforma de nuvem para a tomada de decisão, em tempo real, na gestão de áreas florestais. A gestão de plantios comerciais de florestas plantadas ou o manejo de florestas naturais possuem as melhores possibilidades de apropriação de ganhos e avanços com a utilização de ferramentas que conectem diferentes dispositivos e sensores. Devemos ter, a médio prazo, uma silvicultura digital que ligará todas a facetas de informações florestais por meio de uma rede digital organizada. Existem muitos desafios, incluindo mudanças climáticas, distúrbios causados pelo homem, incêndios, controle de espécies invasoras e controles ligados a gestão operacional de ativos. Um exemplo em que a internet das coisas poderá ser muito útil é auxiliar em desafios que impactam a produtividade dos plantios na gestão das florestas em uma zona de interface chamada de wildland-urban, que pode ser traduzido como as zonas ou regiões em que as florestas estão próximas a centros urbanos e

comunidades. Esta mistura de ambientes ou proximidade é, por exemplo, uma importante fonte de incêndios florestais ou outras formas de degradação. Para superar os desafios de uma gestão que avança em mecanização e automação, serão necessários esforços em diferentes níveis para que a tecnologia possa preencher as lacunas no gerenciamento de dados florestais, fornecendo dados confiáveis que podem ser usados para criar mapas e outros relatórios mais avançados. Objetivamente, alguns exemplos onde a “internet das coisas” poderá ser mais promissora em suas contribuições a médio prazo: • Monitoramento das condições sanitárias de florestas, a partir da detecção de mudanças nos metabólicos celulares vitais, para a identificação de estresse precoce das árvores, o que pode auxiliar a definição de ações e opções de tratamento; • Monitoramento de estoques florestais e aprimoramento das predições; • Gerenciamento de dados climáticos e riscos de incêndios; • Estudos dos padrões fenológicos para a orientação de materiais genéticos apropriados aos locais de plantios, em função das mudanças de produtividade; • Ampliação da capacidade de coleta e processamento de dados das frentes de colheita para a otimização dos processos em logística; • Gestão das propriedades e da terra, com a detecção de atividades ilegais, poderão ser feitas por meio de sensores com microfones que podem detectar sons relacionados a motosserra, circulação de tratores e movimentação de transporte. Essas informações, por exemplo, poderão ser comunicadas em tempo real a um centro de proteção, vigilância e fiscalização; • Sensores nos solos poderão monitorar como as atividades de máquinas estão alterando as propriedades físicas dos solos, (como compactação, tamanho de poros e densidade), pelo estresse mecânico produzido pelas máquinas. Esses são exemplos da contribuição da Internet das Coisas para o setor florestal que tendem a se consolidar com o avanço da transformação digital nas atividades do dia a dia. Não se trata mais de uma sensação difusa sobre o avanço tecnológico que estamos vivenciando, mas, sim, de uma certeza, de que uma revolução deve acontecer logo à frente. n

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mecanização florestal

o futuro da mecanização florestal

A capacidade de prever o futuro é algo que encanta as pessoas e, usualmente, é relacionada apenas a exercícios de futurologia sem muito valor. Mas, por outro lado, facilmente conseguimos relacionar os benefícios de uma visão estratégica assertiva com o mundo dos negócios. No mundo atual, onde o acesso à informação vem se tornando cada mais fácil, o reconhecimento dos melhores caminhos a seguir se torna muito importante, para conseguirmos errar menos e de forma mais barata. Portanto a visão de futuro pode interferir diretamente no sucesso dos negócios e, consequentemente, no modo como pessoas e organizações tomam decisão. No livro Superprevisões, os autores Philip Tetlock e Dan Gardner recomendam formas para reconhecer tendências e probabilidades, como o acompanhamento sistemático de informações e o pensamento do físico Enrico Fermi, através da “quebra” de problemas impossíveis em vários problemas menores. E qual a relação desses conceitos com o nosso tema? Para falar de tendências futuras quanto à mecanização e à automação florestal, podemos fazer um exercício relacionando diferentes informações, das quais podemos destacar: o contexto histórico, refletindo sobre quais foram as demandas e tecnologias disponíveis em cada época; e as novas tecnologias em desenvolvimento, que, pela proximidade, nos passam uma melhor visão sobre a velocidade de avanço e quais soluções poderemos ter no futuro. Iniciando pelos objetivos da mecanização, é de pleno conhecimento que, desde os primórdios da mecanização agrícola, os principais

O tempo de maturação para tecnologias tem sido cada vez menor, portanto outros fatores do processo de inovação se tornam tão importantes ou até mais do que as tecnologias em si. "

Angelo Conrado de Arruda Moura Especialista de Desenvolvimento Operacional da Suzano

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resultados esperados já eram o aumento de produtividade e a redução do esforço humano. Podemos, inclusive, fazer paralelos com períodos marcantes da história, como a criação de máquinas a vapor e a Revolução Industrial, quando, em cada período, a mecanização agrícola foi desenvolvida utilizando as mesmas tecnologias industriais, impactando diretamente a produtividade, evidenciada pela relação de hectares cultivados por uma pessoa. Passando para a mecanização florestal, temos uma história similar, porém com aspectos particulares: por exemplo, além da cultura em si, a condição dos sites dedicados à cultura florestal, mais rústicos do que a agricultura, com terrenos declivosos e presença de obstáculos, como tocos, pedras e resíduos, que impactaram para que o processo de mecanização fosse mais lento do que em outras culturas.


Opiniões Trazendo a reflexão para a mecanização florestal no Brasil, podemos lembrar que iniciamos, algumas décadas atrás, com foco no processo de colheita, com a introdução dos equipamentos purpose built, projetados nos países do hemisfério Norte. Nesse momento, várias adaptações foram realizadas para adequar as máquinas ao nosso clima e às demandas, como o descascamento, processo que popularmente chamamos de “tropicalização”. Vale lembrar que, nesse passado recente, também tivemos iniciativas de fabricação nacional. Esse processo de evolução e adaptação contou com o esforço de diversos “atores” da cadeia florestal, como fabricantes, dealers, instrutores, operadores, gestores, times de manutenção, etc. E, como resultado, alcançamos altos índices de produtividade e eficiência operacional na colheita, sendo, inclusive, benchmark internacional. Além das características florestais, a intensidade de capital para desenvolvimento também foi um desafio, provocando o delay de uso de novas tecnologias na área. Com o avanço da mecanização, não apenas conseguimos reduzir custo operacional, mas também conseguimos garantir a execução da prescrição técnica de manejo. Nesse sentido, a mecanização da silvicultura, mesmo com muitos improvisos e adaptações, contribuiu para que tivéssemos as florestas mais produtivas do planeta, atendendo às recomendações de preparo, adubação, proteção, etc.

Design conceito de máquinas florestais autônomas

Diferentemente da colheita, a silvicultura tem a sua história com mais exemplos de tentativas e erros e, em geral, buscou replicar as soluções da agricultura. Independentemente do processo operacional, seja no viveiro, operações de campo de silvicultura e colheita, carregamento, transporte e descarregamento, e independentemente da época, os fatores de sucesso sempre serão os mesmos. Podemos resumi-los em produtividade efetiva e tempos de ciclo. A produtividade tem uma relação direta com a tecnologia, como consequência do mecanismo de funcionamento, com maior ou menor velocidade de trabalho. Mas tão importante quanto são as paradas operacionais e não operacionais, como reposição de insumos, manobras, etc., que, ao longo da história, vemos que também podem determinar a viabilidade ou não de um equipamento. Como principais pontos de aprendizado, que podemos resgatar do passado, destaco aqui alguns. A necessidade de padronização de equipamentos, em especial na silvicultura, para facilitar treinamento, manutenção e, assim, aumentar as taxas de utilização; a necessidade de estabilização da operação, com o pós-venda e processos bem definidos, pois apenas o desenvolvimento de máquinas e implementos não é suficiente. Entre outros aspectos, também a escala de mercado após desenvolvimento é importante, para minimizar os impac; tos da alta customização.

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mecanização florestal Além das questões técnicas, observamos que o processo de inovação para as operações florestais não difere de outros setores. Ocorrem, geralmente, de forma incremental, e os três pilares, pessoas, processos e tecnologia, são determinantes para o sucesso e devem ser observados continuamente. O momento de rápida transformação digital por que passamos é de pleno conhecimento de toda a sociedade. O tempo de maturação para tecnologias tem sido cada vez menor, portanto outros fatores do processo de inovação se tornam tão importantes ou até mais do que as tecnologias em si. Como diferenciais para sucesso, arrisco resumir, aqui, escolhas assertivas quanto à estratégia e a players, projetos cooperativos (errar rápido e barato), mecanismos de funding, metodologias ágeis para desenvolvimento, metodologias para processos eficientes (Lean), processo de capacitação efetivo e adequado à realidade de cada momento. Com a velocidade e crescente democratização da informação, também são de conhecimento de todo o setor iniciativas e desenvolvimentos que vêm sendo feitos, como plantadeiras, drones, etc. E quanto ao futuro... O que podemos esperar em termos de mecanização e automação? Quais impactos podemos ter no mercado de trabalho florestal? Quais mudanças podem ocorrer na qualidade de vida dos trabalhadores? Quanto à visão de futuro sobre as tecnologias, potencialmente, viveiros com uso de robótica; drones e plataformas autônomas em enxames; atividades automatizadas, como plantio e irrigação; atividades localizadas, como uso de sensores e câmeras para pulverização seletiva; nutrição com taxa variável, com relação à árvore; colheita remota e autônoma (passando primeiro por redução em comandos); carregamento autônomo; transporte autônomo e platooning, em pátios ou rotas específicas; pátios de madeira com veículos e gruas de operação remota/autônomas; manutenção de equipamentos com realidade virtual; imagens e IA substituindo processos de controle de qualidade operacional; avanço da digitalização, com maior disponibilidade de dados integrados (sistemas nativos, CAN, sensores externos, etc.), permitindo feedback real time para operadores, com recursos de gamification, e análises mais complexas e automatizadas de causa e efeito. Todas essas tecnologias são muito interessantes e, apesar da preocupação, no curto prazo, quanto à viabilização econômica, devem chegar cada uma a seu tempo, impreterivelmente. Mas, como dito anteriormente, a tecnologia não avança em saltos, mas como degraus de uma

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Opiniões escada. Então, importante pensarmos: o que estamos fazendo hoje para chegar lá amanhã? A visão unificada do setor é importante para vencermos as barreiras da escala. A criação de um novo equipamento é apenas o ponto inicial; precisamos da cadeia bem estabelecida, com suprimentos de peças, manutenção, que permitam que as novas máquinas se sustentem, tanto nas empresas como produto para os fabricantes. Quanto ao mercado de trabalho e os impactos na geração de empregos, a introdução de tantas mudanças tecnológicas deve igualmente causar grandes mudanças na qualidade e na forma do trabalho operacional. Os principais especialistas no tema prevêem, sim, a descontinuidade de certas funções (Kai-Fu Lee, AI Superpowers). Mas também esperam a criação de novas skills necessárias, como eletroeletrônica, programação, etc. Então, não devemos estar preocupados com fechamento de postos de trabalho, mas sim como preparar as pessoas para que não fiquem fora de um mercado existente e em crescimento (Erik Brynjolfsson, The Second Machine Age). O gap de pessoas especializadas pode restringir o avanço de tecnologias no Brasil, criando uma espécie de “apagão tecnológico”. Mas devemos nos preparar para que, de um risco, possamos criar um “mar” de oportunidades. Após as reflexões de onde viemos e a expectativa de aonde podemos chegar, gostaria de concluir com alguns insights, de como os desafios da mecanização e automação podem ser vistos, não apenas sob a óptica de novos crescimentos de produtividade no setor, mas também como um horizonte de oportunidades, que podem engajar novas gerações e manter o País na vanguarda do setor florestal. Em muitos países, um dos drivers da automação e incremento tecnológico é a preocupação com a escassez de pessoas interessadas em trabalhar em atividades de campo. É fato que as tecnologias têm a capacidade de atrair jovens e empresas de tecnologia para o ambiente rural. Quanto às oportunidades de negócio, atualmente, já observamos muitas startups e hubs de inovação voltados para o agro. Em menor escala, também observamos que o setor florestal pode ser considerado um nicho interessante dentro do agro, podendo ser, neste momento, bem atrativo, em razão da baixa competitividade. Finalmente, a tecnologia pode trazer oportunidades, mas não define o destino, nós definimos o caminho que seguiremos. Portanto as nossas estratégias e ações definirão o ritmo de adoção e quais ferramentas serão parte das operações florestais do futuro. n


Trimble Forestry anuncia nova versão de sua plataforma de Administração de Recursos Florestais “Land Resource Manager -LRM”, que aproveita as novas e poderosas ferramentas de mapeamento da Esri.

As complexas questões atuais de manejo florestal exigem que os gerentes tenham acesso a dados importantes, seja no escritório, em casa, no campo ou entre locais de trabalho, usando seu computador desktop, laptop, tablet ou smartphone. Como parte do compromisso de 'Entregar a Floresta Conectada', a Trimble Forestry reinventou seu popular software Land Resource Manager (LRM) para torná-lo acessível em qualquer lugar, em qualquer dispositivo, com ferramentas atualizadas para acessar dados e mapas, consultar, editar, imprimir e exportar relatórios para funcionários e terceiros.

Email: contatoflorestalbrasil@trimble.com

A nova versão do LRM é construída em uma arquitetura voltada para a nuvem, que permite aos usuários migrar para ambientes de hospedagem privada ou pública. Essa tecnologia pode facilitar o gerenciamento de processos regulatórios complexos, como por exemplo aplicação de herbicidas e pesticidas. A capacidade de acessar o LRM de qualquer dispositivo móvel, especialmente suas funções de mapeamento mais recentes e poderosas, o torna uma solução valiosa para operações florestais em todo o mundo.


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mecanização florestal

o avanço tecnológico

maquinário florestal

Desde o início do processo de mecanização das operações florestais, se busca a redução de custos, o aumento da produtividade e maior segurança, além da melhor eficiência energética (l/m3). Dessa forma, garantir que as máquinas florestais estejam em constante evolução é fundamental para atender às demandas do mercado em todo o ciclo produtivo. Atualmente, temos, entre os fornecedores, vários exemplos que retratam as inovações e os avanços tecnológicos, de maneira especial, nas atividades de colheita e transporte florestal. As tecnologias embarcadas nos harvesters, forwarders e skidders, como cabines giratórias e com nivelamento automático, sistemas inteligentes de controle de movimentos da grua e lança, automação de comandos nos cabeçotes, joysticks mais intuitivos, sistemas mais ergonômicos, com balanceamento e bogie independente, além do uso da telemetria e troca de dados operacionais nas “nuvens”, definem os novos padrões operacionais, trazendo significativos ganhos de produtividade, redução de custos e, principalmente, o incremento na qualidade. Quando falamos de tecnologia, inevitavelmente temos que abordar os temas

O futuro (não muito distante) da silvicultura está na automação, para que seus produtos sejam cada vez mais inteligentes, capazes de se autoajustar e de tomar decisões sozinhos, com base na análise de dados. "

Rodrigo Fernandes Barbosa Gerente de Marketing Florestal da John Deere

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sobre conectividade e automação, ou seja, iniciativas adotadas seguindo o conceito de “menos ferro, mais inteligência”. Acreditamos que o planejamento aliado à alta tecnologia e que temas como machine learning e análise de dados farão total diferença para o futuro das operações florestais. Cada vez mais inteligentes, as máquinas serão capazes de tomar decisões sozinhas a partir da análise de dados. É consenso que o uso das tecnologias já difundidas, principalmente por meio da telemetria, auxilia na tomada de decisão mais assertiva, correta operacionalização dos equipamentos e redução dos custos. Porém ainda é realidade que a falta de informação e confiança das empresas do setor sobre o desempenho e funcionalidade de todo o sistema agrega um desafio aos fornecedores pela busca de inovações, na forma de entregar e garantir máxima utilização de todos as tecnologias disponíveis durante o ciclo de vida do produto.


Opiniões Por outro lado, estão disponíveis no mercado plataformas em real time que integram diversos serviços on-line, que ajudam a planejar, implementar e monitorar as operações, mensurar tudo que foi planejado e executado, receber mapas de produtividade e dados de operação da máquina. Além disso, também se pode agregar dados de ERPs, bem como de parceiros e até mesmo de outros sistemas de mercado. Atualmente, com a análise de dados e o monitoramento e a gestão remotos da frota, o produtor consegue se antecipar ao problema e corrigir erros, aumentando a eficiência operacional das máquinas em diversas atividades. Uma peça-chave para transformar o sistema produtivo florestal está na conectividade, com a qual o produtor não precisará mais esperar até o fim do turno para tomar uma decisão, pois terá os dados em suas mãos para chegar a uma decisão mais assertiva, em tempo real, o que resultará em uma operação mais produtiva e rentável. Dessa forma, cada vez mais, as empresas investem em alta tecnologia e conexão eficiente entre máquinas, desenvolvendo o que há de mais moderno em serviços e soluções integradas aliado a um portfólio inovador e consistente para todos os portes e perfis de clientes. Podemos destacar como um dos grandes benefícios da evolução tecnológica das máquinas

a disponibilidade de realizar serviços preventivos ou corretivos a distância, por meio de conexão remota (escritório–máquina) habilitando a realização de reprogramação de módulos, atualizações, orientações operacionais especializadas e diagnóstico assertivo, garantindo maior disponibilidade de máquina e redução de custos operacionais. O futuro (não muito distante) da silvicultura está na automação, para que seus produtos sejam cada vez mais inteligentes, capazes de se autoajustar e de tomar decisões sozinhos, com base na análise de dados. E isso só acontece se o produtor puder extrair todos os dados dos equipamentos e obter a máxima eficiência de todo o ciclo produtivo. Sabemos que ainda temos um bom caminho a percorrer, mas acreditamos que os novos saltos de eficiência não virão simplesmente na renovação da frota, mas por meio da ampla utilização das tecnologias, principalmente no que diz respeito à atualização de softwares. A tendência está clara, e isso já se reflete na procura por mais informações, consultoria e suporte especializado. Além disso, o conceito de menos “força bruta” e “mais inteligência” transformará, cada vez mais, o tipo de produtos e serviços que devem ser contratados, bem como o perfil de colaboradores dentro das empresas. n

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mecanização florestal

máquinas florestais

para o futuro

O que esperar das máquinas florestais para o futuro, estando nós inseridos na era da tecnologia e informação? O futuro da mecanização não é uma realidade distante e imprevisível, mas, sim, um reflexo das decisões que tomamos hoje. Considerando os desdobramentos das questões ambientais nos últimos anos, podemos perceber que o lucro a qualquer custo não encontra mais respaldo nos padrões que a sociedade vem buscando, assim como o desperdício, seja ele de tempo, recurso ou capital. Com base nessa visão futurista, não podemos esperar nada menos do que máquinas que atendam aos anseios do tripé da sustentabilidade, sendo ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo.

a sustentabilidade é como uma estrada aberta em meio à floresta, ela não é o único caminho para garantir a produção, mas, sem dúvida, é o de maior ganho para todos "

Mariana de Oliveira Engenheira Florestal da Penzsaur

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E, junto a isso, máquinas que satisfaçam aos objetivos do mercado, que busca, com a eliminação de desperdícios, fazer cada vez mais com menos. Para o futuro, serão exigidas máquinas que garantam altos rendimentos, através do aumento da produtividade e da redução dos custos operacionais, e que façam isso de forma sustentável. É possível? A viabilidade pode estar justamente no uso da tecnologia e da informação na mecanização. O início da mecanização do setor florestal no Brasil ocorreu por volta da década de 1970, primeiro através de tratores agrícolas adaptados com pinças e, mais tarde, por máquinas tipicamente florestais, como skidder e feller bunchers.


Opiniões No entanto a mecanização ainda era baixa e restrita às empresas de grande capital. Já na década de 1990, com a abertura do mercado para as importações, o mercado presenciou um expressivo aumento na mecanização. Porém o foco principal era a produção, o lucro. Notadamente, o conceito de sustentabilidade não era difundido e cobrado como acontece hoje. A mecanização não trouxe apenas impactos positivos, junto dela vieram impactos negativos também. Como exemplo, cito a emissão de gases poluentes oriundos da queima de combustíveis fósseis, a poluição do solo e da água pelo derramamento de graxas e óleos, ruído, compactação, erosão, dentre outros. Com base nisso, é fundamental que as máquinas projetadas para o futuro possuam, como pilar de seu desenvolvimento, formas de mitigar ou eliminar os impactos negativos causados pela mecanização. Uma grande aliada das tecnologias que buscam a sustentabilidade é a competitividade entre as fabricantes de máquinas florestais, que garantem uma corrida positiva na busca de inovação e otimização dos processos, ofertando ao mercado maquinários cada vez mais eficientes, além de levar a mecanização aonde antes, devido a condições de terreno ou de capital financeiro, não era possível. Sendo assim, podemos esperar um aumento, cada vez maior, no desenvolvimento de máquinas híbridas, uso de biocombustíveis, painéis solares, recirculação de gases do escape, utilização do Arla, redução de peso dos maquinários, melhor distribuição do peso nos rodados, aproveitamento de energia gerada nas operações (vibrações, peso, movimento mecânico), dentre outros. Com tanta informação disponível, a comunicação precisará ser mais rápida e eficaz, diminuindo as fronteiras entre máquinas, campo, escritório e clientes. Quem sabe os frutos da floresta 4.0 proporcionem equipamentos cada vez mais conectados à rede e utilizando inteligência artificial. Tudo isso para oferecer ao mercado a eliminação e redução das falhas e interrupções nos processos, bem como melhorar o aproveitamento da matéria-prima, seja pelo treinamento dos operadores em simuladores, seja por melhorias na detecção de peças com necessidade de trocar ou reparos. Dessa forma, podemos até ousar imaginar o uso de aplicativos para compra de produtos florestais, como a madeira de reflorestamento. Permitindo, assim, que os clientes possam acompanhar, em tempo real, a quantidade de

madeira disponível para carregar de cada sortimento nas empresas, programando, assim, suas cotas e tomando decisões de logística, tudo com apenas um clique. Com os operadores cada vez mais protegidos em cabines, teremos uma redução, cada vez maior, no número de acidentes de trabalho e exposição a agentes nocivos, além da melhora na ergonomia durante a operação, o que incentiva a mão de obra no setor, que hoje enfrenta uma grande escassez. Razoável concluir que um operador satisfeito tende a trabalhar de forma mais satisfatória e acaba por proporcionar maiores lucros para sua empresa. Outra possibilidade de inovação são as operações a distância, através de controles instalados nos escritórios, que permitam ao operador trabalhar a uma distância considerável da máquina e, ainda assim, perceber o terreno de forma muito real, com a indicação de áreas alagadas, presença elevada de pedras e/ou declividade, para auxiliar na tomada de decisão durante a operação. Outro ganho interessante pode vir através de sistemas de detecção do humor do operador, avaliando sua feição e comportamento, e, com isso a própria máquina regula a temperatura da cabine, luminosidade e repertório musical, visando melhorar o humor dele, garantindo, assim, uma operação mais segura e eficiente. Podemos avançar também na detecção de áreas atacadas por pragas, através de scanners em máquinas de corte, que permitam identificar árvores parasitadas e compartilhem a localização desses focos com o escritório. Mas, para isso, é primordial que haja políticas públicas específicas voltadas para o setor florestal, fomentando o desenvolvimento de pesquisas nas universidades e incentivando a parceria entre essas instituições e as empresas do setor. Outro desafio é levar sinal de internet até os pontos mais remotos das florestas, para que ocorra o fluxo de informação entre máquinas, escritório e clientes. Diante de todo o exposto, é imprescindível que as máquinas pensadas para o futuro cumpram o papel de otimizar os processos, eliminando desperdícios e contribuindo para o fortalecimento dos pilares da sustentabilidade. Assim, é preciso concluir que a sustentabilidade é como uma estrada aberta em meio à floresta, ela não é o único caminho para garantir a produção, mas, sem dúvida, é o de maior ganho para todos. n

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Com pesquisa e tecnologia, estamos trazendo inovação para a nutrição florestal.

Melhor que isso é comprovar os benefícios das nossas tecnologias a campo. Assista ao vídeo da ArcelorMittal Bioflorestas, cliente TIMAC Agro.

Fale com a gente: rone.patricio@timacagro.com.br

Escaneie o QR Code e veja tudo o que rolou no webinar de lançamento do Inrizza, a nova tecnologia da TIMAC Agro para o setor florestal.

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mecanização florestal

serviços digitais para uma

colheita 4.0

Dados, informações, estatísticas, gráficos, relatórios e análises fazem parte da rotina atual de trabalho de qualquer pessoa ligada à colheita florestal. Seja na tomada de decisão gerencial, seja na operação dos equipamentos florestais. Hoje, qualquer movimento na operação se torna um número que aparece na tela do gestor imediatamente. Não consigo mais imaginar esse mundo sem todas essas planilhas e dashboards. Com isso, o desafio à nossa frente é também cada vez maior. O que fazer com tantos dados que chegam à tela do celular ou do computador, como eles podem auxiliar na tomada de decisão? Qual o melhor momento de parar para uma manutenção? Qual peça trocar e como realizar o diag-

nóstico? Questionamentos como esses fazem com que as parcerias fornecedores-clientes estejam cada vez mais fortalecidas e, em uma verdadeira relação de troca, criando soluções que atendam às expectativas do campo e do negócio, com confiabilidade, segurança, disponibilidade e sustentabilidade. Nessa crescente tecnológica, gostaria de discorrer rapidamente sobre as megatendências que impactam diretamente a colheita florestal. Elas normalmente descrevem uma mudança importante por que um setor está passando ou uma direção para a qual se encaminha. Para a colheita, elenco quatro delas: digitalização, sustentabilidade, conectividade e automação. Em resumo, esses quatro pontos nos dão uma gama de equipamentos e uma nova demanda florestal que foge do usual e passa para o campo de serviços digitais. Quem, há 50 anos, poderia imaginar que estaríamos pensando em experiência de usuário, navegabilidade, segurança de dados e transmissão via nuvem em tempo real? Aliás, quem diria que as nossas preocupações também incluiriam a segurança da transmissão de dados? Hoje, a adoção de sistemas de segurança de informação se tornou indispensável, e não estamos falando estritamente das áreas de TI das empresas.

Agora que o processo de fabricar melhores produtos é, relativamente, conhecido, o difícil é definir o que é um produto melhor ou uma operação mais eficiente. "

Fernando Campos Diretor da Ponsse Latin America

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Opiniões Essa compreensão da colheita florestal nos coloca no novo patamar de prestador de serviços digitais. Todos os itens que citei nas primeiras linhas deste artigo fazem parte de uma experiência de usuário, não só do abate de árvores em si, com máquinas robustas e eficientes, mas principalmente na interface direta da operação com a estratégia do negócio, favorecendo o planejamento e a tomada de decisão para maior competitividade. Muito mais que equipamentos mecanicamente adequados, abastecemos o mercado com inteligência artificial para análise eficiente dos dados que chegam do campo a todo o tempo, sejam elas para automação de comandos, acompanhamento de resultados em tempo real, ou o que mais nosso cliente demandar. A chegada da tecnologia 4.0 nas máquinas de colheita florestal nos permite inúmeras possibilidades. Sensores espalhados em diferentes componentes são capazes de informar o volume de madeira processada, quantidade de toras, indicando o diâmetro de cada uma delas e, além dos dados de produção, também nos trazem informações importantes sobre a saúde do equipamento: desde o consumo de combustível, peças que precisam de manutenção até assistência virtual ao operador e ao mecânico.

Gosto de apontar algumas etapas específicas da colheita florestal quando falo em serviços digitais. O primeiro deles é a manutenção preditiva. A capacidade de prever uma parada de máquina, sabemos, reduz custos e aumenta a disponibilidade. Hoje, os dados vindos do campo nos permitem analisar o tempo de uso de cada componente e se está chegando a hora de uma substituição. Em alguns países da Europa, já é possível solicitar uma peça de dentro da máquina, através do catálogo instalado no computador de bordo. Aqui no Brasil, a conectividade em campo ainda é um obstáculo para a transmissão de todos esses dados em tempo real. Porém acredito que estamos muito perto de solucionarmos esse ponto, principalmente com a chegada da tecnologia 5G. Outro ponto que o setor ganha é a rapidez e a qualidade no diagnóstico. Por exemplo, a realidade virtual permite que o mecânico conheça cada componente e simule situações de reparos para maior qualidade de diagnóstico. Se for necessária uma manutenção corretiva em uma máquina, pode simular com realidade virtual as causas e encontrar o defeito, sem precisar desmontar um cabeçote inteiro. Ganhamos tempo, disponibilidade, seguran; ça e eficácia.

57


Q

Índice

mecanização florestal Ainda gosto de citar que, hoje, a tecnologia nos permite diminuir a curva de aprendizagem de operadores e mecânicos, com simuladores, óculos de realidade virtual e assistentes de operação virtual, resultando em uma maior qualidade de operação e de diagnóstico de manutenção. Em quarto lugar, conquistamos mais segurança na operação florestal. Não só máquinas estão, cada vez mais, robustas, como também a tecnologia nos permite ergonomia, que reduz acidentes no campo. E, por último, vejo o ganho de eficiência energética. Atrelado diretamente à sustentabilidade do negócio, esse ponto ainda trará muitas outras evoluções para os equipamentos de colheita florestal. Hoje, o ganho de eficiência energética é significativo se comparado às primeiras máquinas do setor e, tenho certeza, daqui a dois anos, esse número será muito diferente. Eu imagino um futuro próximo da colheita florestal com máquinas eletrificadas, reduzindo ainda mais o impacto ao meio ambiente, e autônomas, que monitoram o terreno e sabem escolher as melhores árvores para o abate. Porém não é possível chegarmos a essa grande evolução sem passarmos pelas cinco etapas que citei anteriormente.

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Opiniões Se começamos a pensar em como os dados florestais podem nos ajudar a fabricar bons produtos e a nos tornar mais produtivos e eficientes, devemos começar com uma perspectiva ampla. Em que partes da cadeia de aquisição de madeira os dados são gerados, onde eles são armazenados e como podem ser extraídos para resultados úteis? Após reconhecer os requisitos de nossos clientes e das partes interessadas, devemos definir os requisitos dos resultados que os dados devem proporcionar. Pode ser um método melhor para controlar o cabeçote harvester com base nos dados do sensor; a localização das pilhas de toras, baseada em informações de coordenadas geográficas; ou os relatórios de produtividade em um serviço baseado na nuvem. Independentemente de qual deve ser o resultado requerido, devemos identificar as demandas, analisar os dados necessários e como processá-los. O resultado final deve ser uma característica melhor ou um produto que atenda às necessidades iniciais. Agora que o processo de fabricar melhores produtos é, relativamente, conhecido, o difícil é definir o que é um produto melhor ou uma operação mais eficiente. Para essa definição, os dados podem ajudar a identificar a eficiência na operação, desde a definição do talhão até a transformação na indústria de valor. n



Q

Índice

mecanização florestal

a mecanização e a automação na

silvicultura

Tive o privilégio de estar envolvido na história da mecanização das atividades de colheita no Brasil desde o final da década de 1980. Naquele momento, houve o firme propósito das empresas florestais em mecanizar todas as atividades de colheita florestal, de forma a reduzir drasticamente os acidentes de trabalho, reduzir a dependência de mão de obra e forçar a capacitação técnica dos trabalhadores para desempenharem outras funções mais nobres e mais técnicas, e não somente o trabalho braçal, e também reduzir os custos de colheita, mesmo que ocorressem no médio prazo.

ainda não existe nada realmente consolidado. Sempre há algo a melhorar, sempre há algo a mudar nos equipamentos e nos processos "

Lonard Scofield dos Santos Diretor da Master Soluções Florestais

60

Com isso, houve um crescimento do nível salarial, o que possibilitou a uma imensa massa de trabalhadores florestais o acesso a uma vida melhor e mais digna. As empresas que lideraram esse processo não tiveram visão imediatista quanto aos resultados a serem obtidos. Investiram e apostaram em máquinas e sistemas, ajustaram continuamente, para nossa realidade, a tecnologia em máquinas existente em outros países até encontrar a melhor relação de custo/m 3. O processo de redução de custos e ganhos em eficiência continuam constantes e, felizmente, o avanço da mecanização da colheita continua firme e forte.


Opiniões O propósito inicial desse processo, iniciado na década de 1980, transformou-se em um case de sucesso, e é possível estimar que, pelo menos, 90% de toda a colheita florestal em áreas de reflorestamento são totalmente mecanizadas. Além das atividades de colheita, houve significativos avanços no transporte de toras, com caminhões mais eficientes e com inteligentes soluções de reboque e semirreboque, nas operações de carregamento e nas operações de descarga e movimentação em pátio. Agora é a vez da silvicultura. Graças à tecnologia da informação e às inúmeras tecnologias em máquinas e equipamentos atualmente disponíveis, estou certo de que a curva de aprendizagem poderá ser mais curta, e não iremos repetir os erros do passado. A grande maioria dos profissionais que atuou no processo de mecanização da colheita continua firme e forte no mercado, podendo contribuir significativamente para o novo desafio que será a mecanização plena da silvicultura. É imperativa a mecanização de todas as atividades da silvicultura a fim de também transformar subemprego em emprego digno e adequadamente remunerado, objetivando a redução de custo por hectare no médio prazo. Tanto na década de 1980 como nos dias de hoje, não cabe o imediatismo no resultado. Por outro lado, também creio que não cabe aguardar pela solução final ideal, que talvez demore muito a chegar. Hoje em dia, existem vários fabricantes que oferecem diferentes tecnologias em desenvolvimento contínuo, porém ainda não existe nada realmente consolidado. Sempre há algo a melhorar, sempre há algo a mudar nos equipamentos e nos processos. É preciso uma união de esforços para reduzir o tempo de maturação do desenvolvimento e realmente permitir o avanço da mecanização e a implementação da automação em todas as atividades de silvicultura. Cada área é única. Dentro da mesma empresa, com mesma topografia, dentro do mesmo estado, porém, com tipo de solo diferente, é necessária uma tecnologia específica. Nenhum equipamento é 100% aderente a todas as situações. Há que desenvolver, e desenvolver em conjunto. Tecnologias já existem. Precisam ser adaptadas à nossa realidade. Essa adaptação pode levar muito tempo, ou pouco tempo, dependendo do real interesse e da disposição das empresas florestais em efetivamente participar e atuar como agente transformador.

O desenvolvimento, assim como os resultados iniciais que irão animar ou não a empresa florestal a continuar, não pode ser de responsabilidade exclusiva dos fabricantes de máquinas e implementos e nem dos prestadores de serviço. Deve haver também interesse das empresas florestais em ousar para baixar custos. Podemos ver exemplos em países vizinhos onde o grau de mecanização da silvicultura é maior que o nosso, devido a usuários e fabricantes estarem caminhando lado a lado com o mesmo objetivo. As principais atividades da silvicultura, conforme dados apresentados por grandes empresas florestais, são irrigação, preparo de solo (limpa-trilhos/subsolagem/adubação) e plantio. Já existem inúmeras soluções de máquinas e equipamentos com maior ou menor grau de automação para cada uma dessas atividades. Mas a indústria não decola. Por quê? O investimento em máquinas florestais para colheita é na casa dos milhões, o investimento em equipamentos de silvicultura é na casa de milhares, e, mesmo assim, o setor hesita e mantém a busca pelas adaptações caseiras, ou deixam a cargo de cada prestador de serviço criar suas próprias soluções, com o trinômio baixa tecnologia, baixo valor, baixo rendimento. Tecnologias de GPS aplicadas ao preparo de solo e ao plantio estão quase prontas, drones estão disponíveis para inúmeras atividades, entretanto acredito que falta fazer o básico na escala da mecanização. Para o adequado avanço da mecanização e da implementação da automação nas atividades, é necessário planejar as etapas da mecanização, considerando quais equipamentos já estão disponíveis com nível tecnológico adequado a esse momento e aguardar o desenvolvimento tecnológico futuro. O perfeito e o ideal ainda estão distantes. Na comparação da realidade atual das atividades manuais e o avanço da mecanização, o básico e simples é o ideal. Um passo de cada vez, um salto de cada vez é necessário para não desestimular a mecanização. Já existem, atualmente, soluções técnicas muito viáveis, as quais estão vários passos à frente das atividades manuais; cabe ao setor florestal, como um todo, no qual eu me incluo, cancelar a espera pela chegada da solução ultra high tech e partir para o simples e para o básico, para permitir o real avanço da mecanização e ajustar a automação desejada aos níveis necessários. n

61


Q

Índice

logística do setor florestal

tecnologia:

um fator decisivo para a automação da

logística

A Quarta Revolução Industrial, que nos trouxe o conceito de indústria 4.0 e cujas tecnologias têm permitido melhorias significativas nos diversos processos industriais, tem, de forma similar, promovido profundas transformações no setor florestal em um curto espaço de tempo. Dentre elas, destaca-se a obtenção de dados decorrentes da digitalização de processos e que proporcionam informações valiosas para um aprimoramento da gestão das operações florestais. Dados obtidos em campo com o apoio da tecnologia, ao serem disponibilizados em tempo real à equipe de gestão, permitem a tomada de ações imediatas, que visam corrigir os típicos problemas de campo, ou mesmo minimizar efeitos ocasionados por imprevistos que ocorrem nos processos de colheita e movimentação de madeira.

Podemos citar, como exemplo, um gestor operacional que, ao saber de uma pane de uma grua de carregamento, poderá imediatamente acionar o socorro mecânico ao mesmo tempo em que irá realocar os caminhões que estavam se dirigindo àquela grua para uma outra frente de trabalho. A redução dos impactos negativos que decorrem dessas falhas e imprevistos de campo é gritante. A captura e a combinação adequada desses dados transformam-nos em informações úteis para a criação de indicadores, o que permite aos gestores analisar, ao longo do tempo, a melhoria de desempenho e produtividade dos diversos ativos e recursos humanos envolvidos nas operações. Essa tecnologia que possibilita a coleta e a transmissão dos dados de campo, centralizando-os em um local único de

As empresas que conseguem incorporar, com eficiência, as novas tecnologias em prazos razoavelmente curtos são as que obtêm maior produtividade e lucratividade, liderando e definindo os indicadores de desempenho e tornando-se benchmarking do segmento."

Paulo Renato Jotz Diretor de Marketing da Creare Sistemas/GoAwak

62


Opiniões comando e controle; oferece também uma otimização dos recursos envolvidos no gerenciamento; agiliza a tomada de decisões e o envio delas para os diversos atores, como líderes de frentes de trabalho, operadores de máquinas, motoristas, encarregados de manutenções, entre outros. Dentre os diversos equipamentos que compõem esse avanço tecnológico, destacam-se computadores de bordo para monitoramento e telemetria de máquinas e veículos, receptores GPS e tablets automotivos, que são bem aproveitados como uma interface homem-máquina intuitiva e amigável. A comunicação de dados entre veículos e centro de controle ocorre através da rede celular, wi-fi, bluetooth, LoRA e também via satélite. As empresas, ao mesmo tempo em que investem em tecnologias para maior produtividade, também direcionam seus esforços para garantir a segurança das operações. Para isso, utilizam sistemas de videomonitoramento embarcado, que, além de câmeras convencionais, possuem módulo para monitoramento da fadiga e distração ao volante e câmera ADAS para alertas de colisão frontal, desvio de pista e detecção de pedestres nas proximidades. Na colheita, as máquinas podem ter seus computadores integrados com as novas tecnologias, permitindo a leitura dos dados típicos de produção, como quantidade de árvores cortadas, número de toras formadas, etc. Tais dados são integrados com a identificação da máquina e do operador, com a sua localização (fazenda/talhão), o tempo de operação, data/hora de início e fim de trabalho, informações do motor, etc., e transmitidos via satélite a cada x minutos para a plataforma na nuvem. Já nos processos de carregamento e transporte de madeira, as tecnologias permitem registrar eventos de chegada na fazenda, tempos em fila, em fábrica, no carregamento, na chegada e saída do campo, tempo de deslocamento, motivos de parada, refeição e outros. Dentro das fábricas, na balança, há a necessidade de integrar, de forma automática, o peso da composição com os dados da carga de madeira. E, para isso, as empresas fazem uso intensivo da tecnologia de RFID (identificação por rádio frequência), com tags instaladas nos veículos e carretas e unidades de leitura posicionadas em locais de passagem de veículos.

Displays e painéis de mensagens indicam aos motoristas os próximos locais de destino dentro do site industrial. Tais soluções tecnológicas requerem uma quantidade significativa de softwares com aplicações em nuvem, bancos de dados, aplicativos em dispositivos móveis, APIs, web services, interfaces para integração com softwares legados, dashboards/painéis de controle, relatórios tipo BIs (Business Intelligence) com diversas possibilidades de filtros (por período, por máquina, por operador, por fazenda/talhão), entre outros. O centro de controle, acessando a plataforma, visualiza, através de dashboards, relatórios e mapas digitais, as localizações das máquinas, informações do estoque de madeira no chão, comparativo do planejado x realizado, quantidade de pilhas produzidas, relatórios com desempenho dos operadores e máquinas, consumo de combustível, infração de operação (RPM, velocidade, saída da área de trabalho, tempo ocioso, etc). O tablet permite que o operador insira as atividades que estão sendo realizadas e viabiliza a exibição de vídeos instrutivos sobre a operação do equipamento e vídeos de segurança, bem como a execução de checklists digitais nos inícios e fins de cada turno. O avanço tecnológico da indústria 4.0 e seus desdobramentos para a criação de uma logística florestal de nova geração já é uma realidade. Ainda assim, há um grande gap entre as tecnologias já disponíveis e o que de fato está sendo implementado e com uso consolidado na prática. Esse gap se dá por um conjunto de fatores relacionados ao trinômio tecnologia-pessoas-processos, onde processos e tecnologias precisam adaptar-se entre si para que funcionem de maneira eficiente, respeitando suas características e limitações, e as pessoas precisam ser capacitadas para entender e utilizar essas tecnologias e os novos processos. Isso requer planejamento, esforço, investimento e disciplina. E leva tempo. As empresas que conseguem incorporar, com eficiência, as novas tecnologias em prazos razoavelmente curtos são as que obtêm maior produtividade e lucratividade, liderando e definindo os indicadores de desempenho e tornando-se benchmarking do segmento. n

63


Q

Índice

produção de carvão vegetal

Opiniões

automação de processos de produção A produção de carvão vegetal no Brasil ainda é feita de forma empírica e, em sua maior parte, através de observações qualitativas, como o fluxo, a coloração e o odor dos gases liberados no processo e o tato de temperaturas, através das paredes dos fornos. Sendo a temperatura a principal variável no controle da carbonização da madeira, o processo começou a avançar, nesse sentido, no início dos anos 2000, com a instalação de termopares e tubulações metálicas para a medição de temperaturas através de termômetros digitais ou pirômetros. Simultaneamente, passaram a ser estudadas curvas de carbonização e resfriamento que possibilitaram ganho na conversão de madeira em carvão, aumentando o rendimento gravimétrico médio de 25%-30% para 30%-33%. Estudos protocolados na ONU, assim como a metodologia ACM0021, demostraram uma correlação direta e significativa entre o rendimento gravimétrico dos fornos e a emissão de metano. Nesse caso, o aumento de rendimento gravimétrico, que passou de 27% para 33%, possibilita uma redução na emissão de metano de 0,0775 tCH4/tCV para 0,0534 tCH4/tCV (-31%). A automação no controle de temperatura do processo de carbonização já é uma realidade para muitas empresas do setor.

A última década foi marcada por um grande avanço nesse processo, com o auxílio de profissionais criativos e resilientes que conseguiram transpor a barreira de um ambiente desafiador para o uso de sensores, PLC (Programmable Logic Controller) e todo o campo do hardware que envolve a instrumentação dos fornos. O êxito dessas pesquisas, para médios e grandes produtores, foi uma tecnologia viável, robusta e confiável, capaz de monitorar a temperatura dos fornos em tempo real e criar um grande banco de dados com informações valiosas, que estão contribuindo para uma melhor compreensão das causas da variabilidade do processo, o aumento da produtividade, a qualidade do carvão vegetal e a vida útil de fornos. Entretanto, mesmo com os avanços alcançados na fase da pirometria, ainda era necessário solucionar a alta demanda e a necessidade de mão de obra especializada para a coleta de temperaturas, assim como o elevado tempo de resposta nesse cenário. Entre uma coleta de temperatura e outra, muito carvão era perdido e muito tempo era desperdiçado na análise de fornos em perfeito funcionamento, que, portanto, não demandavam nenhuma ação. Foi justamente essa necessidade que alavancou o desenvolvimento da instrumentação existente atualmente nas grandes empresas do setor. O sistema supervisório e seu funcionamento: O sistema supervisório para a produção de carvão vegetal é composto por termopares instalados em posições estratégicas, que levam sinal de temperatura para um painel localizado em cada forno. Posteriormente, esse sinal é retransmitido para uma cabine central, ;

as carvoeiras se tornarão unidades de produção de carvão vegetal, mais instrumentadas e produtivas, ainda mais limpas, seguras e sustentáveis. "

Celso Dotta Lopes Jr. Especialista em Desenvolvimento e Tecnologia da ArcelorMittal Bioflorestas

64


ALTA PERFORMANCE EM CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS EXIGE SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS QUE GARANTAM A EFICÁCIA DA OPERAÇÃO E DIMINUAM OS CUSTOS. ESSA SOLUÇÃO EXISTE:

RESULT

Tecnologia Mirex-S2 e MIPIS

 Levantamento e acompanhamentos pré e pós controle.  Tecnologia exclusiva para máximo controle.  Análises situacionais das infestações.  Avaliação de danos


Q

Índice

produção de carvão vegetal

Opiniões

que agrupa as informações de cada região do forno, atualizadas em milissegundos. Através desse sistema, o carbonizador não precisa mais focar seus esforços em coletar temperaturas, mas, sim, em tomar ações para manter os fornos dentro de uma faixa de temperatura ideal durante todo o processo de carbonização e resfriamento. Com a redução de tempo para a tomada de ação, consegue-se evitar queimas de madeira que resultariam em baixa produtividade, qualidade inferior do carvão e, ainda, maior degradação dos fornos. Essa fase da automação possibilitou rendimentos gravimétricos na ordem de 34%-36% e redução de gases de efeito estufa na ordem de 46%, quando comparados a processos sem controle de temperatura. Além disso, as empresas que detêm essa tecnologia alcançaram maior controle de faixa de carbono fixo, resistência mecânica, umidade, produção de finos e produção de atiços – características importantes para uma cadeia do aço, que usa o carvão vegetal como insumo. Mesmo com coleta de dados de forma automática, ainda era desafio para as grandes empresas o gerenciamento da carbonização de centenas de fornos distribuídos em unidades de produção de carvão localizadas em diferentes municípios, muitas vezes a centenas de quilômetros de distância uns dos outros. Essa tarefa vem se tornando mais simples com a integração da base de dados do supervisório ao programa Power BI e com o desenvolvimento de algoritmos e KPIs que atualizam, em tempo real, o número de fornos que estão dentro da faixa ótima ou fora dela, bem como ajudam no gerenciamento histórico do nível de performance de cada unidade de produção, com desdobramentos de operadores, tipos de fornos, tipos de materiais genéticos, entre outros. A era da indústria 4.0 já chegou também para a produção de carvão vegetal! A evolução não para por aí: algumas empresas já estão bastante avançadas no que concerne ao desenvolvimento de diferentes modelos de válvulas adaptadas a cada tipo de forno, garantindo a automação do controle 12/12/2020

Gerenciamento - Processo Produção de Carvão - FQ - Power BI

Gerenciamento de Carbonização 4.0 Integração Supervisório e PowerBI Status do Ciclo

Tipo

 Ciclo Finalizado  Ciclo em Andamento

AM700 - C/H

TDF Carb

Forno 

Ciclo, Data Descarga

96

31

Carbonizando

Resfriando

LI

LS

27/11/20 00:00 Última Leitura

TDF Resf

Variação Entre Curva Real e Ideal

100%

100%

IBT

40

40%

20

20%

0 0%

-20 -40

15 de nov

Data

22 de nov

Curva Carbonização

Resfriamento

-20%

437,38 Vol.m³

Teste de Sondagem

Dados da Madeira

14,00 Vol.Tiço. m³

18,73 Umidade

12,91 Diâmetro

564,71 Dens Base Seca

334,00 Tempo de Secagem

Dados do Processo

134,00 Temp.Carb

0,00 Temp.Máx.Copa

288,00 Temp.Resfri

186,00 Tempo/atingir 50°C

0,00 Temp.Desc.Copa

Curva Ideal

300

Dados do Carvão

200

390,00

100

6,10

40,58

63,80

70,35

0

66

Vol.m³

Umidade 15 de nov

Data

22 de nov

de entradas de ar, através de PIDS (Controlador Proporcional Integral Derivativo), que visam manter a curva de carbonização e resfriamento próximas à parametrização previamente estabelecida. Com o uso das válvulas, o tempo de resposta do processo se torna imediato, otimizando os ganhos e permitindo que carbonizadores mais qualificados tenham a possibilidade de controlar um maior número de fornos. A automação do controle de entradas de ar está chegando também aos queimadores de gases existentes em algumas das plantas de produção de carvão vegetal, e, com isso, se mostra possível uma eficiência total de queima superior a 95% de todos os gases combustíveis gerados na carbonização. Com a soma de todas essas tecnologias, é possível reduzir as emissões de metano da carbonização em mais de 85%, tornando essa cadeia ainda mais limpa e sustentável. As características do carvão vegetal são produto da interação dos tipos de madeira utilizadas com suas variações de diâmetro, umidade, densidade, relação cerne/ alburno, teor de lignina, dentro outros parâmetros físico-químicos, como fornos de diferentes geometrias, materiais construtivos e, por último, das próprias taxas de aquecimento e temperaturas limites utilizados no processo. Nos próximos anos, os grandes bancos de dados armazenados até aqui auxiliarão no entendimento dos motivos da variação de processos e do carvão vegetal. Algoritmos poderosos e machine learning irão detectar as melhores receitas e o potencial produtivo de cada tipo de madeira, detectar fornos com problemas de aeração e estanqueidade, trazendo mais foco também para a manutenção de fornos. À medida que as tecnologias de automação para produção de carvão vegetal se tornam cada vez mais acessíveis, chegando também a médios produtores, perceberemos que não se trata do fim, mas, sim, de um meio de trazer mais competividade ao setor, mudando o perfil da mão de obra e tornando-a mais técnica e diversa. Assim, as carvoeiras se tornarão unidades de produção de carvão vegetal, mais instrumentadas e produtivas, ainda mais limpas, seguras e sustentáveis. n

Resistência.m³ 7,94

Finos

15,00

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Tamanho Médio Carbono Fixo


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ISSN: 2177-6504

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SUCROENERGÉTICO: cana, milho, sisal, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade

ano 17 • número 66 • Divisão C • Nov-Jan 2021

Ferramentas de inteligência para a área agrícola sucroenergética

a iv at or em m Co

18

os an

www.RevistaOpinioes.com.br ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira

ano 18 • número 62 • Divisão F • dez-jan-fev 2021

O avanço da mecanização e da automação florestal

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