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Edival A V Zauza e Edmilson B Loureiro, Suzano
plantas daninhas presente e futuro
do manejo integrado de plantas daninhas
Na eucaliptocultura, o controle de plantas daninhas representa entre 25% a 35% do custo de formação florestal. Como fator agravante, quaisquer métodos de controle de plantas daninhas adotado, se não realizados de maneira técnica e no momento adequado, além do alto custo, podem causar impactos negativos sobre a produtividade florestal. Em função disso, é fundamental desenvolver a capacitação técnica e aplicar o conceito de Manejo Integrado de Plantas Daninhas, com base nas etapas de identificação, monitoramento e controle.
Os componentes do manejo integrado de plantas daninhas florestais são essencialmente os mesmos do setor agrícola. Todavia o sistema florestal é ecologicamente mais diverso e complexo, pois ocorrem mudanças nos estádios fenológicos da cultura e da composição da cobertura vegetal nativa ao longo do ciclo, com ou sem intervenção do homem.
As estratégias e medidas de controle irão variar com a espécie da planta daninha envolvida, o ambiente (condições edafoclimáticas), o estádio fenológico do plantio e a interação desses fatores por intermédio da ação humana.
O manejo de plantas daninhas se caracteriza por alta demanda de recursos e acompanhamento específico para garantir a produtividade florestal e a otimização dos recursos. Assim, monitorar periodicamente a infestação de ervas daninhas durante as idades iniciais dos plantios florestais permite adotar uma recomendação específica, no que se refere ao tipo de planta daninha a ser controlada e ao momento ideal da intervenção.
Nesse sentido, e com o objetivo de reduzir a subjetividade da decisão, é fundamental adotar um monitoramento eficiente de plantas daninhas, com o objetivo principal de identificar eventuais riscos de matocompetição e registrar as informações sobre a presença da planta daninha para tomada de decisão. No modelo convencional, após a coleta de dados em campo e seu processamento, as informações são utilizadas para gerar as recomendações de controle sempre que necessário.
Floresta digital: tem mato no radar? A tecnologia ajuda a identificar rapidamente as plantas “intrusas” nas florestas plantadas e agiliza a tomada de decisão com rastreabilidade e governança de todo o processo.
O trabalho de campo está cada vez mais familiarizado com a utilização das novas tecnologias. Somente como exemplo, na Suzano, desde 2017, aplicamos, de forma pioneira, geotecnologias para o monitoramento de plantas daninhas, a partir do processamento de imagens de satélite. Com a nova tecnologia, toda a área plantada é monitorada, e o avanço de biomassa das plantas daninhas é analisado. Dependendo da idade do eucalipto, pode-se identificar claramente o aparecimento de ervas, e um alerta é disparado.


Edival A. Valverde Zauza e Edmilson Bitti Loureiro Gerente de Sanidade e Proteção Florestal e Gerente de Desenvolvimento e Extensão Tecnológica da Suzano
Com a identificação de locais com diferentes intensidades de matocompetição, temos oportunidade de direcionar o monitoramento de forma assertiva, visitando preferencialmente áreas de maior risco. Assim, o mapeamento e alertas gerados sobre as possíveis áreas com risco de matocompetição se mostrou uma ferramenta valiosa para complementar o trabalho das equipes de silvicultura, priorizando a realização do monitoramento de campo para as condições de infestação com maior risco, pois amplia significativamente a visão da base florestal, reduzindo a subjetividade das ações das equipes e maior rastreabilidade da análise e da tomada de decisão sobre a necessidade da intervenção.
Para facilitar todo esse trabalho, é importante adotar ferramentas para padronizar a coleta de dados e gerar indicadores de acompanhamento e governança do manejo integrado de plantas daninhas. Além disso, a utilização de uma matriz de decisão com premissas técnicas de posicionamento e doses de herbicidas, em função do ambiente e do tipo de planta daninha, torna esse processo ainda mais robusto e confiável. Para garantir o sucesso dessa estratégia, as equipes devem estar treinadas e capacitadas para realizarem adequadamente os registros das informações. Além do conhecimento, é fundamental o comprometimento das pessoas, pois todos precisam estar "de olho na floresta" para otimizar os recursos e reduzir as perdas de produtividade, em função da matocompetição. O controle digital agiliza a ação e direciona recursos aos locais mais críticos, bem como permite avaliar a qualidade do serviço de controle de plantas daninhas, evitando retrabalho, em função de falhas na execução das atividades.
Olhando para o futuro e com o objetivo de reduzir custo da formação florestal, é importante definir, para cada ambiente de produção, os momentos e os períodos de interferência e de convivência durante todo o ciclo da cultura, a fim de realizar ajustes nas matrizes de decisão. Ademais, é importante investir continuamente na capacitação técnica de todos os envolvidos no assunto, para tornar ágil a adoção das recomendações técnicas. Para que as empresas estejam sempre atualizadas em relação às estratégias de monitoramento e ao controle de plantas daninhas, é fundamental manter parcerias com empresas e instituições de pesquisa. Nessa parceria, são desenvolvidas pesquisas contemplando o aperfeiçoamento das estratégias de monitoramento e controle a serem incorporadas no manejo integrado.
Progredimos bastante no manejo integrado de plantas daninhas nos últimos anos, contudo existem oportunidades para avançar, como adotar aplicações de herbicidas em dose variada e com produto direcionado ao alvo, liberar e implantar o eucalipto resistente a herbicidas e incorporar métodos alternativos ao controle químico com redução da participação do Glyphosate na matriz de decisão. Dessa forma, a adoção de diferentes estratégias no manejo de plantas daninhas amplia as opções de controle e dificulta o estabelecimento da matointerferência, potencializando a produtividade planejada para cada ambiente. n

pragas e doenças - perdas & danos as estimativas de perdas e oportunidades no manejo integrado de pragas e doenças
O Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) é uma importante estratégia constituída de ações que visam ao acompanhamento da flutuação populacional de agentes causadores de danos, bem como a definição de medidas de contingência, quando a população desses agentes atingirem o Nível de Controle (NC). Para melhor entendimento do MIPD, alguns conceitos são importantes: • Nível de Dano Econômico (NDE): o agente causador de danos apresenta nível populacional suficiente para causar perdas produtivas superiores aos custos de controle; • Nível de Controle (NC): o nível populacional do agente causador de dano está na iminência de atingir o NDE; sendo assim, medidas de controle são recomendadas; • Nível de Equilíbrio (NE): o agente causador de danos está presente no ambiente, porém a sua população ainda não é suficiente para causar perdas produtivas;
Atualmente, o Brasil possui 9 milhões de hectares (ha) de árvores plantadas, das quais 95,5% são formadas por eucalipto (6,97 milhões ha) e pínus (1,64 milhões ha). Considerando a relevância do setor, os desafios relacionados ao MIPD são grandes.



A principal etapa do MIPD é o monitoramento das áreas produtivas que, em alguns casos, deve ser realizada mesmo antes do estabelecimento da cultura. A quantidade de área amostrada e de frequência de monitoramento é primordial para o diagnóstico precoce e pode variar de acordo com material genético plantado, seu estágio de desenvolvimento, ambiente e praga/doença-alvo.
Um importante passo para qualquer programa de MIPD é o reconhecimento oficial das principais espécies de pragas e doenças existentes. Sem esse reconhecimento, não é possível a realização de registros de produtos químicos, nem biológicos para o seu manejo. Atualmente, o Ministério da Agricultura é o órgão responsável por esse depositório e disponibiliza essas informações através do Agr0fit – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários
De acordo com a plataforma, atualmente, existem 12 doenças e 19 insetos registrados como pragas da cultura do
Sharlles Christian Moreira Dias e Luciano Flávio Neves Ramos Coordenador de Nutrição, Manejo, Ecofisiologia e Proteção Florestal e Especialista em Proteção Florestal da Eldorado
eucalipto e 3 doenças e 6 insetos-praga registrados para a cultura do pínus. Para a cultura do eucalipto, ainda não constam registros para importantes pragas e doenças florestais relevantes, em campo e/ou viveiro, das quais podemos citar: nenhum registro para besouros-desfolhadores, os quais são responsáveis por severos danos em fases iniciais da cultura, entre eles o besouro-amarelo (Costalimaita ferruginea) e o besouro cai-cai (Lampetis spp.); também não temos registro para importantes doenças como Erwinia psidii; murcha-de-ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) e Quambalaria spp. Resultado prático: quando ocorrem, os produtores não dispõem de ferramentas suficientes para o controle e manejo.
Além das ameaças já conhecidas, também existem pragas e doenças exóticas já presentes em outros países e com elevado potencial de causarem danos, se introduzidas no Brasil. Em 2018, o Ibá em conjunto com o Protef/Ipef e renomados pesquisadores realizaram um importante trabalho de mapeamento e planos de contingências para as possíveis ameaças fitossanitárias ao setor.
De acordo com o material publicado, foram identificadas cerca de 30 potenciais pragas, 5 patógenos vinculados à madeira e, pelo menos, 12 potenciais doenças vinculadas a material vegetativo. Apesar de ainda não serem pragas e nem doenças-chave no País, seria uma estratégia importante já registrá-las no MAPA para que pesquisas e estudos possam avançar, permitindo o registro e/ou extensão de uso de produtos biológicos e/ou químicos, facilitando a importação e pesquisas dos potenciais inimigos naturais, além da elaboração de protocolos de manejo, de forma a nos anteciparmos aos problemas.
Prosseguindo com o MIPD, após a detecção e a quantificação da praga/doença, o controle é realizado com base no atingimento do NC, que, por sua vez, é específico a cada alvo. A definição de NC é um desafio, principalmente para culturas perenes de ciclos longos, como no caso da eucaliptocultura.
Nesse período, há uma infinidade de variáveis a serem consideradas, como material genético, condições edafoclimáticas, severidade de ataque, idade da floresta no momento da ocorrência, manejo da floresta (adubações, controle de matocompetição), tempo de interação entre praga/patógeno e o hospedeiro e quantidade de ciclos de ataque.
Atualmente, as informações sobre NDE são escassas ou ausentes, principalmente quando consideramos as variadas condições edafoclimáticas na qual a cultura está submetida.
Sendo assim, o setor precisa se organizar e priorizar estudos referentes aos NDEs, a fim de melhorar a alocação de recursos para o manejo das pragas/doenças.
Após definição de necessidade de controle, os métodos de menor impacto são priorizados, como o controle varietal, o controle biológico, o controle comportamental e, por fim, o controle químico.
Na eucaliptocultura, devido a grandes extensões de área, geralmente é necessária a intervenção de forma aérea. Isso se faz necessário para eliminar, em menor prazo, os agentes causadores de danos, evitar a sua dispersão e, em alguns casos, atuar nas fases biológicas em que o produto definido apresenta maior eficiência de controle.
Atualmente, os trabalhos de aplicação aérea no setor são regulamentados pela Instrução Normativa nº 2, de 2008, a qual define os critérios para realização da atividade e restringe as aplicações de defensivos em algumas situações de bordas e/ou limítrofes.
A repercussão disso é que as áreas não tratadas perdem produtividade, além de manterem a dispersão das pragas para novas áreas, necessitando, assim, de novas intervenções.
Acreditamos que a regulamentação é necessária e importante para a proteção de mananciais e áreas restritivas, porém, em alguns casos, essas restrições podem chegar a mais de 250 metros, mesmo para produtos biológicos específicos.
Um exemplo disso é o recente avanço e publicação da Instrução Normativa nº 13, de 2020, que dispõe sobre a aplicação de fungicidas e óleo mineral com uso de aeronaves agrícolas na cultura da banana.
Nessa regulamentação, as restrições de bordadura foram aprimoradas e, em casos específicos, reduzidas para até 15 (quinze) metros de mananciais de água, desde que protegidos por faixa marginal de cobertura vegetal nativa, reflorestada ou em regeneração. Isso mostra oportunidades para um debate setorial, principalmente para produtos biológicos, já que as pulverizações são menos intensas que a cultura citada.
Os temas propostos são apenas alguns dos vários desafios e oportunidades que gostaríamos de expor e convidar o setor a um amplo debate, para que possamos avançar e aprimorar o nosso Manejo Integrado de Pragas e Doenças, de forma a obter um manejo economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto.
Esse é um papel de todos nós. n