A energia da biomassa - OpCP38

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 12 • número 38 • Divisão F • dez-fev 2015

a energia da biomassa


Economia Praticidade Comodidade

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índice

a energia da biomassa da floresta plantada

Visão de produtores:

Editorial:

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Douglas Seibert Lazaretti

Gerente Geral Florestal em MG da Gerdau

Ensaio especial:

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Mônica Caramez Triches Damaso

Manoel Teixeira Souza Júnior Chefe Geral da Embrapa Agroenergia

Flávio Simioni e José Mauro Moreira

Professor Udesc e Pesquisador Embrapa Florestas

Visão de consultores: Eduardo de Souza Martins

Diretor da E.labore Assessoria em Meio Ambiente

Gerente Técnico da ArcelorMittal BioFlorestas

Alexandre Valadares Mello

Assessor de Sustentabilidade da Vallourec

Visão de universidades:

Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

Visão de Centros de P&D:

Fabrício Amaral Poloni

16 20 22 24 28

Visão de fornecedores:

30 34 36

Carlos Rogério Andrade Professor da UF de Goiás/Jataí

Carlos Roberto de Lima

Professor da UF de Campina Grande

Barsanulfo Jacinto Xavier Filho Doutorando na UF do Tocantins

CEO da Simosol Oy

Björn Rasmusson

Diretor da CBI do Brasil

Flávio de Oliveira Leite Gerente Geral da Vermeer

Visão de entidades:

José Otávio Brito

Professor da Esalq-USP

Jussi Rasinmäki

40 44 42

Jayme Buarque de Hollanda Diretor geral do INEE

Dorival Pinheiro Garcia Presidente da Abipel

Laércio Couto

Membro da WBA - World Bioenergy Association

Javier Farago Escobar

Doutorando no Instituto de Energia e Ambiente da USP

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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano

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editorial

Opiniões

a energia da

floresta

a oferta mundial de aço é bastante superior à demanda, gerando um excedente anual de mais de 500 milhões de toneladas de aço; o “custo Brasil” favorece a importação de aço, afetando ainda mais a siderurgia brasileira. "

Douglas Seibert Lazaretti Gerente-geral Florestal da Gerdau em MG

A indústria do aço brasileira, não diferente dos demais segmentos industriais do País, tem enfrentado um momento de grandes desafios, perdendo participação significativa na composição do PIB nacional. O processo de desindustrialização da matriz produtiva brasileira, somado à perda de competitividade sistêmica, criou um cenário de alta competição no mercado. Um dos fatores geradores dessa perda de competitividade é o chamado “custo Brasil”, que expõe os entraves impactantes na indústria nacional, como a elevada carga tributária e taxa de juros, os altos custos logísticos e de energia elétrica, questões amplamente conhecidas e discutidas pelo setor industrial.

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editorial Em um cenário onde a oferta mundial de aço é bastante superior à demanda, gerando um excedente de produção anual de mais de 500 milhões de toneladas de aço, o “custo Brasil” favorece a importação de aço, afetando ainda mais a siderurgia brasileira. Nesse cenário desafiador e que pouco mudará no curto e no médio prazo, a inovação, que, para muitos, ainda é vista com certo receio, torna-se, agora, o maior diferencial na busca da superação da perda de competitividade. Pensar e atuar de forma inovadora tornou-se premissa para que as empresas se mantenham no mercado. A busca pela inovação é necessária em todos os aspectos, desde a inovação tecnológica, na qual se busca o desenvolvimento de novas tecnologias, passando pela inovação incremental, na qual se buscam novas formas de produzir com mais eficiência, até a inovação radical, na qual são criados novos modelos de negócio e de geração de valor aos acionistas e stakeholders. A transformação energética da biomassa florestal está alicerçada nos processos químicos, termoquímicos e biológicos. As principais rotas de conversão da madeira são para obtenção de energia calorífica, energia mecânica e energia para transporte. Já no campo da eletricidade, as tecnologias de produção a partir da biomassa florestal podem ser divididas em dois grupos: 1. aquelas que fazem uso da biomassa como recurso energético primário, a partir da combustão direta, e 2. aquelas que fazem uso de combustíveis através de processos termoquímicos. Uma peculiaridade da siderurgia brasileira, apresentada como diferencial de custo e sustentabilidade, é a produção de ferro gusa utilizando biorredutor, carvão vegetal de florestas energéticas. Por ser de origem vegetal, ou seja, sua matéria-prima é a madeira de florestas plantadas, o biorredutor é caracterizado como uma fonte renovável de redutor do minério de ferro e de grande interesse para a indústria. A produção de biorredutor possui um grande potencial de inovação, ao possibilitar um novo modelo de negócio combinado à sua produção: a geração de energia térmica e elétrica. Um novo modelo tem sido estudado e testado no setor florestal: o aproveitamento de gases da carbonização para aumentar a eficiência energética do sistema. No processo de carbonização, que é a transformação química da madeira em biorredutor, ocorre a liberação de gases em alta temperatura, os quais podem ser empregados na secagem da madeira ou na cogeração de energia elétrica. Além da otimização energética, o modelo também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, uma vez que eles serão parcialmente consumidos no processo.

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Opiniões Atualmente, existem diversas iniciativas para aumentar a eficiência energética do processo de transformação da madeira em biorredutor, lideradas por renomadas instituições de ensino e empresas do setor. Entretanto há inúmeras dificuldades enfrentadas e a serem superadas. Primeiramente, a tecnologia de queima ainda não está totalmente dominada. Por se tratar de um processo de produção em bateladas, modelo predominante no setor, o processo de carbonização não gera continuamente gases ricos para queima. A solução passa por diferentes etapas, que vão desde estudos e simulações de balanço de gases e mecânica de fluidos, até projetos que buscam reduzir essa instabilidade da composição dos gases que chegam à central, através da sincronização de vários fornos ligados a ela. Em paralelo à otimização do sistema em batelada, tecnologias inovadoras para a produção de biorredutor têm surgido no mercado e possibilitam maior eficiência energética, como processos contínuos de produção. A maior parte dessas tecnologias encontra-se em fase de consolidação no mercado e merece maiores incentivos para que a técnica seja mais conhecida e dominada, gerando maior segurança ao investidor quanto à sua viabilidade econômica, antes da implantação em escala industrial. Sem dúvida, a utilização da biomassa florestal como fonte de energia é uma alternativa que contempla a vocação natural do Brasil. Entretanto ainda são muito incipientes os incentivos governamentais em pesquisas, desenvolvimento de tecnologias e fontes de financiamento para levar essas inovações à escala industrial. O setor de florestas plantadas cumpre um importante papel ambiental na indústria nacional, reduzindo a pressão sobre as florestas nativas e a dependência de combustíveis fósseis mais poluentes, permitindo a diversificação da matriz energética com fontes renováveis. Também contribui de forma expressiva para o PIB brasileiro (5,5 % do PIB industrial), gerando 4,5 milhões de empregos e investindo mais de R$ 150 milhões ao ano em projetos de responsabilidade social. Por essas significativas contribuições, o setor merece maior atenção dos governos estaduais e Federal, através de ações que visem reduzir a burocracia excessiva presente no segmento, considerada um dos principais entraves ao crescimento desse setor. Em tempos em que a competitividade deve estar em contínua evolução e intimamente relacionada à sustentabilidade do negócio, o setor de base florestal, em especial o de florestas energéticas, pode se tornar um dos maiores diferenciais competitivos da indústria do aço ao inovar no seu processo. A inovação deverá trazer um novo modelo de negócio, combinando produção de biorredutor e geração de energia elétrica, através de um processo de alta produtividade, automatizado, traduzido em maior eficiência energética e menor geração de gases de efeito estufa.



visão de centros de P&D

resíduos orgânicos:

uma biomassa de oportunidades

É público e notório que o Brasil se tornou, no decorrer das últimas quatro décadas, uma superpotência agrícola. Também é de amplo conhecimento quais foram as principais razões que levaram o País a conquistar essa posição de destaque no cenário mundial. Além de priorizar a diversificação de produtos, elegemos a busca incessante pelo aumento da produtividade como uma das principais forças motoras da mudança. Vale lembrar que, se ainda estivéssemos experimentando as produtividades do início da década de 1970, necessitaríamos quase quadruplicar a área plantada dessa última safra de grãos (2013/2014) para alcançar a produção atual. Hoje, não somos mais um país só do café ou só da cana-de-açúcar; somos protagonistas na produção e na exportação de uma gama considerável de produtos agropecuários. Em outras palavras, diversificar nos fortaleceu, e a eficiência conquistada nos tornou mais competitivos.

No entanto reduzir perdas e desperdício de alimentos não é algo trivial e nem é o foco deste artigo. O link deste texto com esse assunto diz respeito ao estabelecimento de políticas públicas para um melhor aproveitamento dos resíduos. Os resíduos a que me refiro são os orgânicos, gerados nas cadeias agrícolas, da pecuária, da aquicultura, da silvicultura, da agroindústria e em suas combinações. Resíduos sólidos, líquidos e gasosos, gerados tanto no campo, como nos centros urbanos. No Brasil, esses resíduos ainda são descartados de uma maneira muito longe do que poderíamos chamar de cenário ideal, que seria o de um descarte adequado e o mais próximo de zero possível. Esse descarte, da forma que é feito hoje, pode gerar passivos ambientais que acabam contribuindo para uma redução do componente ambiental da sustentabilidade do agronegócio.

abram alas para o estrume de gado, a gordura animal, o bagaço de cana, a vinhaça, o pome, o licor negro, a casca de arroz, a palha de milho, a casca de coco verde, os galhos e as folhas da poda de árvores, a casca de laranja e tantos outros resíduos orgânicos "

Manoel Teixeira Souza Júnior Chefe-geral da Embrapa Agroenergia

Continuar diversificando e buscando recordes de produtividade é apenas um dos caminhos para continuar aumentando a competitividade. Um outro, também de grande importância, tem a ver com a redução das perdas e desperdício e, sem dúvida, um melhor aproveitamento dos resíduos. Estima-se que, aproximadamente, 30% de todo alimento produzido no mundo se perde, ou é desperdiçado, antes ou depois de chegar ao consumidor. Na Europa, um dos locais onde os dados são mais precisos, 66% das perdas e desperdício ocorrem durante a produção, colheita, processamento e comercialização; o restante é perdido e/ou desperdiçado pelo consumidor. Estudos indicam que a redução em 50% dessas perdas e desperdício é uma meta factível de ser alcançada até 2050. A redução, pela metade, do total de alimentos perdidos e/ou desperdiçados atualmente seria suficiente para deduzir o equivalente a 25% da produção atual de alimentos da quantidade de alimentos que será necessário produzir em 2050.

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O melhor uso desses resíduos pode estar ligado, por exemplo, à produção de bioenergia; em uma linha de trabalho que chamamos waste to bioenergy, ou W2B2. No Brasil, os resíduos já constituem uma parte considerável da biomassa, hoje utilizada para a produção de bioenergia (seja biocombustível ou bioeletricidade); porém podemos dizer que somente utilizamos a ponta desse imenso iceberg de oportunidades. Para avançar iceberg abaixo, precisamos melhor qualificar, quantificar, precificar e mapear esses resíduos. Os dados de quantidade disponíveis estão longe de mostrar a real dimensão da oferta dessa biomassa no Brasil. Sua distribuição no território nacional não é homogênea e nem uniforme. Observa-se uma grande variedade de tipos de resíduos nacionalmente, além de oportunidades distintas de exploração dessa biomassa de uma região para outra, de um município para outro. Portanto políticas públicas de estímulo às pesquisas de levantamento de


Opiniões dados mais precisos sobre o tamanho e as características desse iceberg precisam ser priorizadas. E o tempo urge. Afinal de contas, o passivo ambiental decorrente do descarte inapropriado não para de crescer; vide chorume em lixões e aterros sanitários, só para citar um exemplo. Outra área de pesquisa de grande importância para montar esse quebra-cabeça de melhor aproveitamento dos resíduos é a da transformação deles em produtos que agreguem valor às cadeias produtivas de onde eles se originam. Em alguns casos, o valor agregado pode ser baixo, mas, se compensado pela quantidade produzida, o impacto na cadeia produtiva pode ser grande. Essa é a expectativa que todos temos para o etanol lignocelulósico a ser produzido, inicialmente, a partir de bagaço e da palha de cana. Outro exemplo de bioenergia que tem baixo valor agregado, mas tem alta quantidade produzida, é a bioeletricidade. Buscar a redução no custo da transformação e o aumento do output/input desse processo precisa também estar entre as prioridades das políticas públicas de estímulo à pesquisa. Só assim será possível viabilizar a popularização das estratégias de melhor aproveitamento de resíduos. Pode a diversificação de produtos advindos do melhor aproveitamento de resíduos também fortalecer o Brasil, como fez durante o período no qual nos transformamos em superpotência agrícola? A resposta a essa pergunta é positiva. Porém uma ressalva precisa ser feita: a diversificação AnuncioBelaVista-WDS-140611-12h00.ai 1 11/06/2014 precisa estar cada vez mais casada com uma 12:21:28 estratégia que vise produzir blocos construtores, capazes de serem empregados na geração de produtos de alto ou altíssimo valor

agregado, como biomateriais e químicos renováveis, e não somente em commodities (como o etanol ou o biodiesel). Produtos de alto ou altíssimo valor agregado podem ser a oportunidade que algumas regiões, com baixa quantidade ou tipo específico de resíduos, terão para garantir a sua inclusão e sobrevivência nessa seara de oportunidades que o melhor aproveitamento de resíduos oferece. Melhor qualificar, quantificar, precificar e mapear resíduos orgânicos; buscar a redução do custo e o aumento do output/input da transformação; e promover a diversificação dos produtos gerados a partir da transformação de resíduos orgânicos, promovendo, de uma forma equilibrada, a produção de biomateriais e químicos renováveis, além de biocombustíveis. Esses devem ser os componentes principais de uma política de Estado para um melhor aproveitamento dos resíduos, garantindo a esse tipo de biomassa um papel importante na construção de uma indústria de base biológica capaz de aumentar consideravelmente a competitividade do agronegócio brasileiro, contribuindo, definitivamente, para o fortalecimento da sustentabilidade ambiental desse setor. Isso sem falar das oportunidades de inclusão social e regional que essa política ofereceria ao Brasil. Portanto abram alas para o estrume de gado, a gordura animal, o bagaço de cana, a vinhaça, o pome, o licor negro, a casca de arroz, a palha de milho, a casca de coco verde, os galhos e as folhas da poda de árvores, a casca de laranja e tantos outros resíduos orgânicos espalhados pelo Brasil. Que todos sejam muito bem-vindos ao setor produtivo e que se transformem em riqueza para o Brasil e para os brasileiros.

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visão de centros de P&D

a competitividade da biomassa florestal

a viabilidade de uma determinada atividade pode não estar ligada apenas à sua operacionalização, mas à viabilidade de outros elos da cadeia produtiva onde ela se insere "

Flávio José Simioni e José Mauro M. Ávila Paz Moreira Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina e Pesquisador da Embrapa Florestas, respectivamente

O aumento populacional e o crescimento da economia mundial aumentarão a demanda por energia para suprir as necessidades da humanidade. Entretanto, em tempos de mudanças climáticas e necessidade de redução das emissões globais de gases de efeito estufa para a atmosfera, tal demanda deve ser suprida a partir de fontes renováveis de energia. A energia de biomassa, notadamente a florestal, apresenta-se como uma alternativa para a geração de energia, sendo que sua utilização depende não só do desempenho competitivo da produção florestal, como também da organização e do desenvolvimento de toda a cadeia produtiva que integra um polo madeireiro onde a mesma está inserida. A competitividade da biomassa florestal como fonte energética está relacionada, além dos aspectos técnicos e específicos da produção silvicultural (custos de produção, IMA, qualidade da madeira, etc.), a diversos outros fatores sistêmicos relacionados a todo o complexo produtivo local (ambiente organizacional, aspectos legais e regulatórios, mercado, logística de distribuição, custos de transação, nível tecnológico, etc.). A sua viabilidade econômica, social e ambiental depende do seu potencial de agregar valor para os diversos segmentos da cadeia, desde os fornecedores de insumos, produtores florestais, prestadores de serviço até o consumidor final da madeira, que, em última análise, deve utilizá-la em seu processo produ-

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tivo de modo a possibilitar a oferta de produtos e serviços ao consumidor final (seja energia, cerâmica ou grãos secos) a preços competitivos. Dentre os aspectos citados que podem afetar de maneira significativa a competitividade dos plantios florestais que se destinam ao uso energético, finalidade que obtém o menor preço da produção florestal madeireira, são: os custos de produção, a logística de distribuição até o mercado consumidor, e o planejamento (ou estratégia de produção), visando ao uso múltiplo do recurso florestal. No que se refere aos custos, todos os fatores de produção utilizados e as operações realizadas impactam no custo final. Contudo abordaremos, aqui, as economias de escala que resultam na redução dos custos médios de produção. A escala tem influência mais significativa nas operações de administração e proteção florestal, bem como no sistema de colheita florestal utilizado. Pequenos produtores, geralmente, não obtêm receita suficiente para arcar com o custo de brigadas de combate a incêndios florestais e equipes de planejamento e inventário florestal, não realizando a medição e o acompanhamento do


Opiniões crescimento de suas florestas, de maneira a otimizar a idade de corte para obtenção do máximo retorno, seja físico ou econômico. Em contrapartida, na ausência de uma brigada de combate a incêndios, o monitoramento de uma pequena propriedade é mais fácil que em grandes propriedades, reduzindo a possibilidade da ocorrência de incêndios florestais. A forma de comercialização geralmente adotada por pequenos ou médios produtores é a venda da madeira em pé. Dessa maneira, o preço máximo que o comprador de madeira estará disposto a pagar pela madeira em pé é o preço da madeira colocada no pátio do consumidor final, descontados os custos de colheita, transporte e as margens de lucro dos prestadores de serviço envolvidos nessas operações. Como um sistema de colheita mecanizada exige uma área mínima contígua (escala) a ser colhida para viabilizar a sua utilização, pequenas áreas acabam sendo colhidas por operações semimecanizadas, realizando corte com motosserra e baldeio em tratores com reboque ou tratores autocarregáveis. Tais sistemas apresentam eficiência operacional inferior aos sistemas mecanizados, com maior custo unitário de colheita quando calculado para a área ótima de operação. Outra variável a ser considerada é o custo de oportunidade da terra utilizada para produção florestal. Terras com elevado potencial produtivo, relevo que permita a mecanização e mais próximas às boas vias para o escoamento da produção são mais caras para arrendamento, devendo tais custos (arrendamento, operações de plantio, colheita e transporte) serem analisados em conjunto para avaliar o impacto dos mesmos na rentabilidade da atividade. Quanto à logística, a distância do mercado consumidor é outra variável que afeta, de maneira significativa, a rentabilidade da atividade. Quanto maior a distância do agente consumidor, maior o custo de frete a ser pago. Esse custo corrói a margem de comercialização e reduz o valor máximo que o comprador pode pagar ao produtor, impactando a rentabilidade da atividade e a competividade da cadeia produtiva como um todo. Empreendimentos que exigem grande quantidade de madeira para energia, seja para a geração de calor, seja para a fabricação de carvão vegetal, devem ser instalados a uma distância relativamente próxima dos polos de produção, de maneira a minimizar o impacto do custo de transporte na cadeia produtiva. A seu favor, pequenos produtores contam com a possibilidade de realização de contratos de fomento florestal, o que daria uma garantia de compra da sua produção, além do fornecimento de insumos e assistência técnica pela fomentadora. Uma estratégia de produção que pode potencializar a competitividade da produção de madeira para energia é a produção florestal objetivando o uso múltiplo. Ao se manejar um plantio florestal para obtenção de produtos de maior valor agregado (madeira para desdobro em serrarias ou laminação), reduz-se o volume de madeira por hectare destinado para energia.

Entretanto possibilita a oferta de lenha a um prazo um pouco menor que o corte raso, com a realização dos desbastes necessários à produção de madeira de maior diâmetro e uma pequena oferta no corte raso pelo aproveitamento das ponteiras das árvores. A principal vantagem, nesse caso, se origina no maior valor agregado da madeira para desdobro, o que viabiliza distâncias econômicas de transporte superiores à da madeira para energia. Nesse caso, dinamiza-se a indústria de transformação da madeira, constituindo um complexo produtivo, onde os subprodutos (como as cascas) e os resíduos da produção de serrados (costaneiras, destopos, refilos) são transformados em cavacos que, juntamente com a serragem e a maravalha, podem ser utilizados para a produção de energia, inclusive viabilizando a instalação de plantas de cogeração (energia térmica e elétrica). Existe também a possibilidade da destinação da produção florestal em pequena escala para consumo interno da propriedade, na utilização de fornos para a secagem da produção vegetal, aquecimento de aviários, torrefação da farinha de mandioca, cocção de alimentos, aquecimento das residências ou na produção de outros produtos de madeira, como caibros, escoras e vigas para construções rurais e moirões para construção e reparos de cercas. Viabilizar essa estratégia não é simples. Seria preciso identificar tais polos de produção de madeira serrada ou fomentar a sua criação em um local de interesse. Além disso, criar mecanismos de incentivo aos produtores para trabalhar com madeira para múltiplo uso, o que requer maiores prazos para obtenção do retorno desejado e a adoção de regimes de manejo florestal mais elaborados, com a análise do impacto de diferentes intervenções (desbastes) no crescimento da floresta. Em resumo, a viabilidade de uma determinada atividade pode não estar ligada apenas à sua operacionalização, mas à viabilidade de outros elos da cadeia produtiva onde ela se insere, devendo a sua competividade ser analisada, considerando as suas inter-relações e identificando os gargalos ao longo de toda a cadeia, e não apenas um elo de particular interesse.

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visão de produtores

Opiniões

cogeração a partir da carbonização O Brasil tem vivido um momento delicado no que tange à energia elétrica, especialmente porque nosso sistema de geração está alicerçado em uma matriz de base hídrica. Como nos últimos anos o regime hidrológico tem se mostrado desregulado, a redução dos volumes de água nos reservatórios tem trazido uma preocupação em torno da sustentabilidade, tanto em torno do abastecimento das populações quanto para o custo de produção da energia complementar. A partir desse contexto, surgem oportunidades para abertura de “novas frentes” de produção de energia elétrica. Uma delas é a biomassa, que tem como característica a estocagem da energia por meio de florestas até o momento da demanda. A madeira já é utilizada com contribuição significativa na matriz energética brasileira, considerando o consumo de indústrias siderúrgicas e outras de segmentos que necessitam de energia térmica em seus processos. Para aplicação no processo siderúrgico, a madeira é transformada em carvão vegetal, no qual somente 33% da biomassa empregada é convertida em redutor. A outra parte, dispensada na forma de fumaça, guarda um potencial energético ainda pouco aproveitado. Essa fumaça gerada a partir da pirólise da madeira é essencialmente composta por vapor de água e compostos orgânicos com poder calorífico significativo, a ponto de constituir uma oportunidade de cogeração de energia elétrica. O potencial desse processo fica em torno de 1 Megawatt-hora (MWh) a cada 10 mil toneladas de carvão vegetal produzidos anualmente, que pode variar em função da eficiência do sistema utilizado e do percentual de aproveitamento dos resíduos da matéria-prima incorporados no processo (folhas, casca, galhos, finos de carvão, etc.). O setor siderúrgico brasileiro consome, anualmente, cerca de 6 milhões de toneladas de carvão vegetal, o que representa um potencial de produção de energia elétrica pelas produtoras na ordem de 600 MWh. Com o objetivo de estudar esse aproveitamento energético, surgiu, em 2010, um projeto de cooperação técnica entre ArcelorMittal BioFlorestas e Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG. Essa parceria contou com a participação das Universidades Federais de Itajubá e de Viçosa no desenvolvimento científico, e empresas de projetos que simularam o

O Brasil tem vivido um momento delicado no que tange à energia elétrica ... a partir desse contexto, surgem oportunidades para abertura de “novas frentes” de produção de energia elétrica. "

Fabrício Amaral Poloni

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Gerente Técnico da ArcelorMittal BioFlorestas

funcionamento do sistema a partir de protótipo montado em escala reduzida. Foram investidos R$ 8,5 milhões durante os 48 meses de projeto. O projeto foi concebido com propósito de produzir energia elétrica utilizando trocador de calor acoplado a uma turbina de queima externa – EFGT (Externally Fired Gas Turbine), que não utiliza água em seu funcionamento. Outros gargalos tecnológicos foram trabalhados nesse projeto: o uso de tubulação metálico-aérea para transporte dos gases da carbonização e integração de sistema de aproveitamento de biomassa residual. As tecnologias integradas para produção de energia a partir dos gases da carbonização consideraram: 1. Sistema de transporte de gases: utilizando a modelagem matemática, foi dimensionada uma rede dupla de dutos com 416 metros de comprimento. O grande desafio desse tipo de transporte é a condensação dos gases. Essa barreira foi rompida com uma solução aplicada para manter a tubulação dos gases de carbonização em temperatura elevada, através de uma luva térmica em contrafluxo. 2. Sistema de aproveitamento de biomassa residual: para esse aproveitamento, foi desenvolvido um sistema de cavaqueamento, transporte (correias transportadoras), armazenagem (silos) e queimador auxiliar acoplado ao queimador principal. No inventário realizado, chegou-se ao valor de 19 ton/ha, que poderiam ser aproveitadas nesse processo. 3. Sistema queimador/trocador/turbina: o sistema acoplado à rede de dutos conta com exaustor que lança os gases no interior do queimador que opera em temperatura entre 900°C e 1.000°C, que utiliza o calor no trocador de calor para expandir a massa de ar comprimida injetada e acionar a turbina EFGT, que funciona interligada a um gerador. Embora a turbina instalada possua baixa capacidade (100 Kwh), o sistema de queima possui potência térmica em torno de 50 MW. A usina de cogeração foi implantada em Unidade de Produção de Energia - UPE Buritis, interligando 12 dos 38 fornos de alvenaria existentes. Essa UPE está localizada no município de Martinho Campos-MG e opera fornos de alvenaria com capacidade unitária para 240 m³ de madeira, o que resulta em 200 m³ de carvão vegetal por corrida. O aproveitamento pleno dos gases gerados na carbonização dessa unidade tem potencial para geração de 4 MW por hora, o que é suficiente para a demanda de 20.000 habitantes. O projeto está sendo concluído com sucesso, considerando a complexidade envolvida nesse tipo de tecnologia e a demonstração da possibilidade de aproveitamento da fumaça gerada no processo de carbonização. Foram levantados alguns pontos que carecem de ajuste que precisarão ser trabalhados. Além disso, a viabilidade econômica desse processo dependerá da ampliação da escala operacional, maximizando a eficiência de conversão de potencial térmico em potencial energético.


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visão de produtores

siderurgia e biomassa: uma solução mais sustentável A energia de biomassa vem ganhando cada vez mais força no Brasil, tornando-se foco de avançadas pesquisas na busca por tecnologias mais eficientes e sustentáveis. O recurso renovável, proveniente de matéria orgânica – de origem vegetal ou animal –, já representa quase 10% de toda a matriz energética do País. De acordo com a Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, essa fonte de energia é a que concentra maior potencial de crescimento nos próximos anos. Tendo em vista a iminente crise no setor elétrico e seus impactos, o aumento do uso da biomassa como combustível representa um salto na percepção do mercado interno, oferecendo grandes diferenciais competitivos e ambientais. Quanto às estimativas para o futuro, se considerarmos a crescente demanda por energia, principalmente por países em desenvolvimento, como o Brasil, a biomassa corresponde à alternativa bastante atrativa para a diversificação da matriz energética.

Em 2013, houve queda de 4,93% no consumo de energia elétrica (na Vallourec, BH). Essa redução é suficiente para abastecer 7,2 mil casas durante 12 meses. "

Alexandre Valadares Mello

Assessor de Sustentabilidade, Comunicação e Assuntos Corporativos da Vallourec

Na siderurgia brasileira, cerca de 11% do aço doméstico é produzido a partir do carvão vegetal, segundo os últimos dados do Instituto Aço Brasil, contribuindo, e muito, para a redução das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. Para se ter uma ideia, o setor é responsável por 16% dessas emissões, segundo a Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas (do inglês United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC). Em outros países e grande parte do mercado interno, ainda há o emprego do carvão mineral, combustível fóssil não renovável. E ainda: as reservas de carvão mineral de alta qualidade não são suficientes para atender a toda a necessidade da indústria doméstica, o que pode representar um risco de competitividade.

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Mesmo observando o aumento do uso da biomassa no setor siderúrgico, a cadeia produtiva enfrenta novos desafios, como a necessidade de investimentos e estímulo para continuar produzindo o melhor aço, de forma ambientalmente responsável. Isso sempre visando à melhoria dos sistemas por meio de inovações tecnológicas alinhadas às políticas de redução do consumo energético. Segundo a Cogen - Associação da Indústria de Cogeração de Energia, uma tendência que vem despontando é a autoprodução de eletricidade dentro das usinas. A prática vem ganhando força na siderurgia em virtude dos preços crescentes da energia elétrica no mercado, uma vez que o setor demanda o abastecimento contínuo e ininterrupto. A solução de engenharia aplica uma tecnologia de cogeração de energia, que consiste na utilização do Gás de Alto-Forno (GAF), residual do processo de produção de ferro gusa proveniente do aquecimento do carvão vegetal, para a geração de energia elétrica. Ele é coletado e canalizado em um duto para a central termoelétrica, combinando calor e eletricidade.


Opiniões A principal vantagem é viabilizar economicamente a autoprodução e o aproveitamento máximo do conteúdo energético, o que acarreta a queda de sobrecarga do fornecimento do distribuidor e uma maior independência da qualidade da energia gerada pelas companhias, refletindo diretamente na redução dos impactos ambientais. Essa tecnologia de racionalização de GAF vem sendo aplicada, com êxito, dentro da usina da Vallourec localizada em Belo Horizonte, MG. Um terço de toda a energia consumida pela siderúrgica é proveniente do reaproveitamento desse resíduo, com capacidade para gerar 11.446 kWh. Em 2013, houve queda de 4,93% no consumo específico de energia elétrica em relação ao ano anterior. Essa redução equivale a 12.938 mWh, o suficiente para abastecer, aproximadamente, 7,2 mil casas durante 12 meses. A diminuição do consumo específico de gás natural foi de 2,6%, o equivalente a 13.641 mWh, número que corresponde a cerca de 78 mil botijões de gás de 13 quilos. As medidas também evitaram a emissão de cerca de 3,8 mil toneladas de CO2 na atmosfera. Os benefícios do desempenho energético positivo incluem a diminuição de custos de produção e do uso de recursos naturais e a possibilidade de produção de aço mais barato e competitivo no mercado. Já existem projetos de pesquisa com o objetivo de associar a cogeração à produção de carvão vegetal dentro da unidade Florestal da Vallourec, em MG. Outro avanço que podemos observar no setor é a aplicação de técnicas especializadas da engenharia nas florestas energéticas de eucalipto, que permitem a retirada planejada de árvores adultas e respectiva reposi-

ção de mudas, aumentando a capacidade do sequestro de CO2. Com relação à neutralização dos impactos do GAF da Vallourec, as árvores das 22 fazendas da unidade Florestal absorveram aproximadamente 2,25 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera durante sete anos de crescimento. É válido destacar que toda a política energética da empresa, incluindo a tecnologia de cogeração aplicada na usina, está alinhada aos projetos de redução de GEE, classificados no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Válido desde 2004, já gerou duas safras de créditos de carbono. Em 2013, ele foi renovado pela UNFCCC por mais sete anos. Devemos considerar que, apesar de não existirem metas formais para redução das emissões de GEE, o Brasil assumiu voluntariamente o compromisso, junto à UNFCCC sobre Mudança do Clima, de reduzir, até 2020, de 36,1% a 38,9% das emissões de GEE projetadas. No contexto de racionalização de recursos naturais, em que a elevação da temperatura global já é realidade, um dos grandes desafios das siderúrgicas brasileiras é continuar mantendo investimentos em novas políticas de diversificação da matriz energética, mesmo com a recente desaceleração do desempenho produtivo do setor siderúrgico mundial. Enfim, é imprescindível estreitarmos os laços entre a gestão sustentável e a competitividade, com a aquisição de novos sistemas de aprimoramento da geração de biomassa para práticas de eficiência energética e a consequente redução das emissões de CO2, grandes responsáveis pelas Mudanças Climáticas. E expandir o uso do GAF para a cogeração de energia dentro das unidades industriais é uma solução que acarreta ganhos econômicos, tecnológicos e ambientais.

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Opiniões

madeira para energia: “invisível”, mas

fundamental Na Alemanha, na Noruega e na Espanha, mais de 10% de toda a madeira usada têm destino energético. Na Rússia e na Suíça, esse valor é superior a 20%, na Dinamarca, na Itália e na Hungria, superam-se os 50%. "

José Otávio Brito

Professor Especialista em Bioenergia e Bioprodutos de Base Florestal da Esalq-USP

A dependência humana frente aos recursos florestais encontra-se fortemente atrelada à obtenção de madeira. No simples e pequeno objeto artesanal ou no mais sofisticado produto industrial fibroso, a madeira se faz constantemente presente. Sua grande disponibilidade, frente à ampla existência de fontes de fornecimento, às tradições culturais, às tecnologias de transformação e à competitividade econômica, coloca-a no rol dos produtos básicos mais consumidos no mundo. Considerando-se as populações dos países julgados histórica e tradicionalmente mais desenvolvidos, o que se apresenta mais visível, em relação ao uso da madeira, é o conjunto dos chamados produtos fibrosos, principalmente ligados aos componentes da construção civil, da habitação, do mobiliário e do papel em seus mais variados tipos. No entanto isso não representa, quantitativamente, a maior parcela de produtos que demandam a madeira como fonte primária de aplicação. Existe uma utilização da madeira, à qual se pode atribuir uma certa “invisibilidade de demanda”, que se sobressai perante todas as demais formas. Trata-se da sua aplicação como fonte de energia.

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A considerada “invisibilidade de demanda” do uso da madeira para energia existe devido a diversos aspectos. O primeiro deles é ligado ao fato de que, com pequenas exceções, as principais áreas florestais supridoras de madeira encontram-se em regiões fora do quadro dos países considerados economicamente mais desenvolvidos. Dentre outras razões, forçados pela ausência de fontes de suprimento, o uso da madeira para energia em tais regiões não progrediu, e suas demandas se basearam, fundamentalmente, nos derivados do petróleo, carvão mineral e energia nuclear e, em alguns casos específicos, na hidroeletricidade. Ocorre que, tradicionalmente, por razões histórico-culturais, é no exemplo de tais países que os considerados menos desenvolvidos têm adotado seus modelos e padrões de evoluções econômicas e sociais. Em tais modelos, até recentemente, a madeira não tinha representatividade. Isso é, sobretudo, verdadeiro, em se considerando as tecnologias, a infraestrutura de geração e uso e as definições políticas dos governos em torno das opções de atendimento das demandas energético. Em suma, o “modelo de fora” sempre foi mais valorizado e visto como sendo o melhor. Não é, portanto, sem justificativa que, em tempos não muito distantes, era muito comum se deparar com expressões do tipo “usar lenha é coisa de país atrasado”. Tudo isso, mais modernamente, parece estar caminhando numa nova direção, quando técnicos, empresários e



visão de universidades membros de decisão de governo de várias nações consideram na madeira valores estratégicos significativos, visando ao atendimento da demanda por energia, de forma sustentável e ambientalmente limpa. Outro aspecto importante é o de que, no próprio setor florestal, sempre houve um forte conceito de que o uso da madeira para energia seria, comparativamente, menos relevante do que destiná-la a outras aplicações. E ainda mais, que a política para o desenvolvimento do setor deveria ser dirigida para os valores atrelados aos grandes complexos industriais para seu processamento, na visão voltada para empreendimentos com intensa demanda de capital e de retorno de investimento. Vale a pena lembrar que, até pouco tempo, junto ao setor florestal e madeireiro, eram usadas as expressões do tipo “não se deve usar madeira para lenha, e sim para usos mais nobres”. Felizmente, esse jargão é “coisa do passado”, pois seria difícil acreditar na existência de alguém que afirme que, modernamente, “gerar energia não seja algo nobre”. A “invisibilidade da demanda” ainda se deve ao fato de que, globalmente, uma grande parcela da madeira que é usada para energia tem sido obtida e aplicada, de maneira informal, sem nenhum controle quanto à origem, modelo de obtenção, processamento e uso. Com isso, as informações e estatísticas relacionadas ao setor são poucas e, muitas vezes, inseguras. Cria-se um círculo vicioso, em que, por falta de informações, não se considera a situação e, sem tal informação, não se valoriza a aplicação. Nesse contexto, há ainda uma forte ausência, principalmente, dos órgãos de pesquisa e de planejamento, no sentido de se lançarem mais consistentemente em estudos junto ao setor. O fato é que, em vários locais do mundo, o uso da madeira para energia é considerado fator crucial para a própria subsistência das populações. Na sua forma direta, como lenha, ou na forma do seu principal derivado energético, o carvão vegetal, a madeira é um combustível vital para o aquecimento e o preparo de alimento para bilhões de pessoas, em diversas regiões do planeta. Estima-se que, a cada seis pessoas, duas utilizam a madeira como a principal fonte de energia, particularmente para famílias de países em desenvolvimento, sustentando processos de secagens, cozimentos, fermentações, produções de eletricidade, etc.

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Opiniões Isso é mais evidente nas regiões que congregam os países com os menores níveis de desenvolvimento econômico. É importante destacar que, mesmo nos países mais desenvolvidos, em que pese a menor dependência comparativa às outras fontes energéticas, os volumes de madeira destinados a essa finalidade são bastante expressivos. Na Alemanha, na Noruega e na Espanha, mais de 10% de toda a madeira usada têm destino energético. Na Rússia e na Suíça, esse valor é superior a 20%, enquanto na Dinamarca, na Itália e na Hungria, superam-se os 50%, segundo a FAO. É importante mencionar que a produção de madeira para energia na Europa tem exibido um significativo aumento nos últimos anos. É notória mais uma fase em que se busca na madeira uma alternativa ou complemento para os combustíveis fósseis. A grande motivação está atrelada à questão ambiental. A possibilidade da reciclagem de CO2, a menor emissão de produtos químicos nocivos ao ambiente e, sobretudo, a sustentabilidade da produção são elementos básicos que têm despertado um interesse adicional frente a tal uso. Além do mais, desde que haja um planejamento adequado, isso pode significar a diminuição da dependência energética externa e uma maior segurança quanto ao suprimento da demanda, algo que muitos dos combustíveis hoje empregados não proporcionam. Além disso, graças ao seu alto potencial renovável e produtivo, a madeira pode expressar uma matriz energética ambientalmente mais saudável e socialmente mais justa, pois é uma fonte de energia que possibilita uma importante taxa de geração de emprego. É ainda importante destacar o enorme potencial de mercado que essa aplicação pode resultar e que ainda não foi devidamente analisado e explorado em toda a sua essência. Acima de tudo, o mercado energético possui uma característica de estabilidade de demanda e de preços muito mais estáveis que os mercados dos produtos tradicionais da madeira. É diante de tal situação que se torna cada vez mais necessário se considerar os seguintes aspectos: a valorização do conceito do uso da madeira para energia como uma atividade compatível com as demais formas de utilização desse produto; o incremento na eficiência de aproveitamento dos atuais recursos mediante, por exemplo, uma maior intensidade de uso energético de resíduos provenientes dos diferentes processos de produção florestal e madeireira; tornar mais eficientes as técnicas e os processos de conversões energéticas da madeira. Sem sombra de dúvidas, contudo, o maior desafio encontra-se na necessidade da intensificação das práticas para o correto manejo das florestas nativas e, sobretudo, no plantio de florestas com espécies de rápido crescimento. Somente isso poderá, no mínimo, garantir a manutenção dos estoques florestais em várias regiões do mundo, de forma a contribuir para a continuidade de oferta de madeira destinada ao uso energético.


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a bola da vez surgem desafios que requerem atenção, como a ... vontade do poder público e da sociedade em ... contribuir para um crescimento que permita melhores condições de vida às gerações atuais e futuras. "

Carlos Rogério Andrade

Professor de Produtos Energéticos da Madeira na Universidade Federal de Goiás – UFG/Jataí

O crescente aumento da população mundial, acompanhado pelo aumento do poder aquisitivo e a consequente ascensão das classes sociais, especialmente no Brasil, tem propiciado, sobremaneira, a melhoria da qualidade de vida das pessoas, que, a partir disso, podem satisfazer, a curto e médio prazo, suas necessidades materiais básicas. Esse movimento traz consigo alguns pontos que podem ser considerados como um dos principais problemas da sociedade moderna, que é o grande volume de resíduos gerados e descartados diariamente pelos diversos setores que a representam. Nesse contexto, dentre os diversos tipos de rejeitos gerados, estão aqueles conhecidos como resíduos sólidos urbanos (RSU), que são representados, entre outros, por papéis, plásticos, vidros, alumínio, matéria orgânica e madeira. Do ponto de vista do aproveitamento energético desses materiais, cabe destaque ao componente “madeira”, devido, principalmente, ao seu caráter renovável e à sua reconhecida qualidade para geração de energia. Nos municípios, os maiores geradores desses resíduos de madeira, em termos volumétricos, são os setores residencial, industrial e as prefeituras.

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O setor residencial responde, dentre outros, pelo descarte de móveis velhos, aparas de reformas em casas, edifícios e podas de árvores em jardins. O setor industrial, representado por todos os estabelecimentos comerciais e industriais em operação na área urbana do município, gera, em suas atividades, grandes volumes de madeira, como caixotes e paletes utilizados em embalagens e transporte de mercadorias e também uma parcela significativa de rejeitos de madeira da construção civil, que, muitas vezes, pode estar associada a contaminantes externos, como argamassa, cimento, gesso, tintas, vernizes, pregos, parafusos, etc. As prefeituras, por sua vez, descartam grandes volumes de madeira provenientes de podas e limpeza urbanas e de restos de obras de infraestruturas em geral. Dentre os principais destinos comumente observados para a fração reciclável desses resíduos, estão os chamados


Opiniões Ecopontos, que, geralmente, são instalados pelas prefeituras – as Empresas de Reciclagem –, ou, ainda, podem ser reinseridos no próprio ciclo produtivo que o gerou, a depender do avanço na gestão dos resíduos sólidos no município/empreendimento. Do ponto de vista jurídico, a legislação que trata da questão da gestão e do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil está devidamente regulamentada pela Lei Federal 12.305, de 2 de agosto de 2010, que reúne o conjunto de diretrizes e ações a serem adotadas com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento adequado dos resíduos sólidos. Tal marco regulatório, conforme apresentado pelo Presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, deve ser entendido como instrumento indutor do desenvolvimento social, econômico e ambiental para a sociedade. Contudo, embora de grande importância para o País, os impactos positivos advindos da sua aplicação ainda são pontuais e de reduzida abrangência, carecendo de maior empenho de dirigentes políticos e dos diversos setores envolvidos, no sentido de se colocar em prática as diretrizes estabelecidas nessa Lei, uma vez que, em maior ou menor grau, todos cooperam para com a geração destes no ambiente urbano. Nessa linha, diversos pesquisadores têm procurado contribuir com estudos relacionados ao uso energético desses resíduos de madeira que, no que tange à matéria-prima, apresenta como principais oportunidades de progresso aquelas ligadas à sua heterogeneidade, umidade e, especialmente, aos diferentes níveis de contaminação a que ela pode estar associada. Em relação ao uso energético desses rejeitos, podemos, inadvertidamente, pensar se que trata de uma biomassa como outra qualquer, que poderia ser aproveitada diretamente em sistemas de gaseificação e/ou incineração, comuns no tratamento de resíduos sólidos urbanos. No entanto, pelo viés da sustentabilidade ambiental, há que se conhecer, de forma ampla e irrestrita, todas as características dessa madeira, sobretudo aquelas ligadas à possível presença de agentes contaminantes que, por sua vez, podem estar associados à presença de metais pesados, a componentes nocivos nos gases da combustão e ao alto teor de cinzas resultantes do processo, além, é claro, da sua densidade energética. No que tange à presença de metais pesados, eles podem estar associados aos componentes químicos constituintes de tintas, resinas, vernizes, retardantes de fogo, coberturas de painéis de madeira e químicos preservantes da degradação biológica e poderão aparecer nos gases e nas cinzas resultantes da pirólise do material. Nesse contexto, faz-se necessário observar, de forma preliminar ao uso, as legislações estaduais e federais em vigor, de forma a oferecer o correto manejo e destino desses rejeitos. Em relação aos gases da combustão, a maior preocupação deve ser em relação aos gases de efeito estufa (GEE), aos gases causadores de chuva ácida e às dioxinas e furanos. Para tanto, torna-se necessária uma ampla investigação nos diferentes tipos de gases que podem ser liberados a partir da queima dessa madeira, atentando-se, de igual modo, aos parâmetros arrolados na legislação ambiental em vigor. Do ponto de vista tecnológico, talvez um dos grandes desafios seja aquele relacionado ao alto teor de cinzas provenientes da queima desses resíduos. Essas cinzas podem ter origem a partir dos minerais que permanecem aderidos à superfície da madeira, quando do seu uso em serviço, de maneira especial no setor da construção civil. Uma alta porcentagem de cinzas leva à redução no valor do poder calorífico e a problemas relativos ao processo industrial, pois, quando em altas temperaturas, as cinzas se fundem e, uma vez associadas aos gases da combustão, podem ocasionar danos em caldeiras e em frequentes intervenções no processo, para fins de manutenção e limpeza de equipamentos.

Nesse sentido, o maior esforço está na busca por soluções que possibilitem a descontaminação do material, de forma precedente ao seu uso energético. De igual importância, cita-se a densidade energética do material, que pode ser otimizada a partir da redução da heterogeneidade física, química e energética desses resíduos. A busca por uma matéria-prima mais homogênea pode ser alcançada, por exemplo, por meio da aplicação de tratamentos térmicos, como a torrefação e a carbonização. Esses tratamentos proporcionam aumentos nos valores de poder calorífico, reduzem a densidade a granel, reduzem a afinidade da biomassa com a umidade, aumentam a resistência à degradação biológica e, no caso particular da carbonização, possibilita o uso do carvão vegetal em formato pó, em sistemas de pulverização, típicos de alto fornos siderúrgicos. O potencial energético dos resíduos urbanos de madeira é, portanto, evidente, e, a cada dia, ganha mais espaço no cenário nacional e internacional, notadamente em relação à facilidade de aquisição e ao baixo custo da matéria-prima, à instabilidade na oferta de fontes convencionais de energia elétrica e à tendência mundial de redução das emissões gasosas a partir do uso de derivados de petróleo. Por essa razão, surgem inúmeros desafios que requerem atenção especial, como a descontaminação da matéria-prima; estudos da participação dessa biomassa na composição dos RSU (porcentagem e sazonalidade); estudo dos impactos ambientais originados a partir da queima do combustível; treinamento e capacitação de pessoal; política de incentivos fiscais ao setor, tal como ocorre com os combustíveis fosseis; maior aproximação dos agentes envolvidos; ampla disseminação do conhecimento adquirido; revisão e readequação dos processos e máquinas que irão receber essa “nova” matéria-prima; e, por fim, uma desmedida vontade do poder público e da sociedade em não apenas minimizar um passivo ambiental, mas também em contribuir para um crescimento que permita melhores condições de vida às gerações atuais e futuras.

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visão de universidades

quais

investidores

se habilitam?

estamos formando engenheiros florestais “sacis”. Eles conhecem a produção de madeira para matéria-prima industrial, mas desconhecem as suas utilizações como insumo energético. "

Carlos Roberto de Lima

Professor de Tecnologias de Produção Florestais da UFCG - Universidade Federal de Campina Grande

A produção e utilização de energia (calor) a partir da biomassa florestal (madeira, lenha) acompanha a humanidade desde os seus primórdios. Portanto é um ente cultural e econômico de grande importância histórica e presente na atualidade. Hoje, quer no Brasil ou no mundo, podemos afirmar que, “de cada duas árvores colhidas, pelo menos uma seguramente será destinada para alguma finalidade energética”. No Brasil, a lenha tinha uma participação majoritária em nossa matriz energética até meados da década de 1970, quando foi suplantada pelo petróDib leo e pela energia hidroelétrica. Uma análise mais edetalhada do dea de nossa matriz energética nos permite observar que houve muito mais crescimento da participação dessas duas fontes (petróleo e hidroeletricidade) que decréscimo na participação da lenha. Isso são reflexos de uma política e de um planejamento energético que têm priorizado, há mais de seis décadas, essas duas fontes e relegado a lenha ao último plano. Como resultado dessa política, tem-se, ao longo desse horizonte temporal, a queda continuada da participação relativa da lenha, embora, por méritos próprios e por obra do mercado, a sua participação quantitativa tenha variado entre 25 e 32 milhões de toneladas equivalentes em petróleo (tep). Possuímos enormes vantagens comparativas para uma maior participação da biomassa florestal em nossa matriz energética; vejamos algumas: temos amplo território, grande parte com terras ociosas e/ou degradadas passíveis de alguma recuperação, sendo os plantios florestais uma ótima opção; muito sol e água em grande parte desse território;

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tecnologias de produção florestal e mão de obra, especializada ou não, à vontade; com tais plantios, poderemos, ainda, reduzir erosões de solos, melhorar o regime hidrológico das bacias hidrográficas e realizar sequestros de carbono (CO2). Falta-nos a definição de uma política e de um planejamento para a produção florestal para fins energéticos, tal como a que ocorreu dos anos 1960 a 1980 com a base florestal para fins industriais (matéria-prima). Se tivermos isso, podemos almejar que a biomassa florestal (lenha) volte a ter uma participação em nossa produção e oferta de energia primária da ordem de 20 a 25%. Outra questão muito importante tem a ver com o ensino sobre usos energéticos da biomassa florestal nos cursos de engenharia florestal existentes no País. Cabe uma análise um pouco mais aprofundada dessa questão, quem sabe por meio de um fórum de discussão entre os professores dessas disciplinas nas instituições de ensino superior. Mas a leitura que faço da atualidade é esta: não existem disciplinas obrigatórias na área de energia em todos os cursos; nos cursos onde existe como disciplina optativa, não é dada uma maior orientação aos discentes sobre a importância desse tema na atuação do profissional, mesmo porque, se tal importância existe mesmo, a disciplina deveria ser obrigatória. Diante de tal panorama, costumo dizer que estamos formando engenheiros florestais “sacis”, porque eles conhecem, e muito bem, toda a produção de madeira para matéria-prima industrial, mas desconhecem quase totalmente as suas utilizações como insumo energético, ou seja, a produção de energia a partir da biomassa florestal (lenha), que possui uma versatilidade de formas e de processos de conversão e de utilizações. Se, de cada duas árvores colhidas, pelo menos uma terá destinação para energia, e os nossos formandos pouco conhecem sobre essa possibilidade de utilização, portanto conhecem uma perna (matéria-prima industrial) e não a outra (usos energéticos), então se confirma a teoria da formação dos engenheiros florestais “sacis”.


Opiniões Reforçamos a necessidade de melhor formação e de mais conhecimentos sobre a utilização de biomassa florestal como insumo energético, inclusive para a inserção do profissional da engenharia florestal na área de política e de planejamento energético no Brasil e no mundo. Existe a questão da sustentabilidade ligada às questões energéticas e a utilização da lenha para fins energéticos. Técnicos ligados ao petróleo e/ou à hidroeletricidade e ambientalistas menos esclarecidos costumam afirmar que a utilização da lenha causa desmatamentos. Cabe colocarmos as seguintes informações: a) desmatamentos são causados, em sua grande maioria, por projetos de usos alternativos do solo (área) para as mais diferentes finalidades; b) a utilização da biomassa florestal resultante de tais desmatamentos só irá ocorrer, principalmente para fins energéticos, se estivermos dentro de um raio econômico de transporte, caso contrário, ela será toda queimada a céu aberto e sem nenhum aproveitamento econômico. Devemos sempre promover a produção sustentada da biomassa florestal (lenha), por meio de planos de manejos florestais sustentados – PMFS, quando da existência de remanescentes florestais nativos ou de reflorestamentos com finalidades produtivas em áreas degradadas, sempre casando tais possibilidades de produção de biomassa com a sua utilização em equipamentos e processos energéticos que nos propiciem uma maior eficiência energética, isto é, que demandem um menor consumo de lenha para produzir a mesma quantidade de energia útil ou serviço.

Nesse sentido, devemos sempre utilizar a lenha em sistemas de cogeração de energia, ou seja, em sistemas em que podemos produzir mais de um vetor energético de uso final a partir de uma única fonte. Exemplos disso são as usinas termelétricas (UTEs) à biomassa, que geram energia elétrica e ainda permitem a utilização da energia térmica residual do processo de geração em processos industriais que demandam calor de processo. Em Lajes-SC e em Itacoatiara-AM, há exemplos dessas unidades funcionando comercialmente a partir dos resíduos de serrarias, produzindo energia elétrica para as empresas e excedentes para comercialização, bem como o vapor residual (calor) é utilizado no processo de secagem das madeiras processadas nas serrarias. Nesses arranjos produtivos, podemos aumentar a eficiência da UTE em cerca de 30 a 35%, quando da geração simples de energia elétrica, para cerca de 80 a 85%, quando em processo de cogeração de energia. Isso corresponde a dizer que, se apenas gerando energia elétrica, aproveitamos somente cerca de 350 kg de cada tonelada de lenha colocada na caldeira, quando passamos para a cogeração, significa dizer que aproveitamos, agora, cerca de 850 kg daquela mesma tonelada de lenha. Finalizando, podemos afirmar que, para o semiárido do Nordeste brasileiro, temos, hoje, a possibilidade concreta para a instalação de unidades dessas UTEs em regime de cogeração, nas quais o calor residual será destinado para o processo de extração de taninos vegetais, utilizando duas espécies florestais nativas aqui do semiárido. Quais investidores se habilitam?


visão de universidades

a dendroenergia

é solução para agora

A dendroenergia é a principal fonte de energia para mais de dois bilhões de pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento. O termo “dendroenergia” se associa com a biomassa energética lignocelulósica em geral e seus subprodutos, sobretudo em bases renováveis, sendo considerados sistemas dendroenergéticos o pré-processamento dos recursos florestais, sua eventual conversão em outras formas de energia final e, por último, sua utilização.

Especial atenção deve ser atribuída às florestas energéticas, que, dentro de um conjunto de ações, podem minimizar a escassez energética atual e futura. "

Barsanulfo Jacinto Xavier Filho Doutorando na Universidade Federal do Tocantins

A exigência da sociedade para o uso de novas fontes de geração de energia em substituição aos combustíveis fósseis tem direcionado pesquisadores a analisar a biomassa, sob o aspecto do aproveitamento ótimo e do uso eficiente dos resíduos, para a geração de energia. Este artigo propõe discutir a importância dos sistemas da dendroenergia para geração de energia a partir de resíduos florestais e demonstrar que competem vantajosamente com os energéticos primários de origem fóssil utilizados em termelétricas, especialmente para sistemas isolados e em sistemas de cogeração.

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Opiniões A energia gerada empregando-se a madeira e/ou seus resíduos é denominada dendroenergia, podendo a madeira ser utilizada como combustível, ser proveniente de florestas energéticas ou processos industriais. Os biocombustíveis, em particular a lenha e o carvão vegetal, atualmente somam mais de 14% da energia primária total do planeta. Os cenários sociais e econômicos apresentam um crescimento contínuo da demanda de dendrocombustíveis que prosseguirá ainda por várias décadas. São consideradas biomassas modernas a madeira de reflorestamento, o bagaço de cana-de-açúcar e outras fontes, desde que utilizadas de maneira sustentável, utilizadas em processos tecnológicos avançados e eficientes. A madeira aproveitada para a geração de energia deriva das cascas e das aparas das árvores processadas. Ainda pode ser considerado, nesse segmento, outro tipo de biomassa, denominado lixívia ou licor negro, obtido através do processo de cozimento da madeira para produção de celulose, denominado processo sulfato ou kraft. A geração de energia elétrica, usando resíduos de madeira, é mais acentuada nas indústrias de celulose e em suas integradas, pois, nesses grupos, ocorre o processamento da madeira. Para essas unidades, a autoprodução de energia atende de 50% a 80% da demanda interna; já as unidades que fabricam apenas papel geram apenas 10% da energia consumida no processo, comprando o restante das indústrias. Os resíduos gerados na floresta podem chegar a valores de 30 a 35% do volume de madeira para fins industriais e em torno de 5% do volume destinado para fins energéticos. Muito embora a biomassa residual proveniente das atividades de colheita seja de bom uso para a geração de energia, é necessário ressaltar que resíduos como galhos finos, folhas e cascas podem ser muito importantes para a reciclagem de nutrientes no solo florestal, assegurando a manutenção das suas propriedades físicas e químicas. A importância da geração de energia a partir de resíduos concentra-se na utilização eficaz dos sistemas dendroenergéticos, nas rotas tecnológicas aplicadas e no impacto de suas mudanças no contexto energético brasileiro. Os sistemas dendroenergéticos são apresentados como um conjunto inter-relacionado de agentes que atuam para levar a energia vegetal para atender às mais diversas necessidades humanas, com amplas possibilidades de aperfeiçoamento e expansão. A bioenergia é a que apresenta maior diversidade e complexidade, cobrindo uma ampla gama de aplicações, desde a utilização da lenha em cozinhas domésticas, para preparar alimentos, até a combustão do licor negro em caldeiras. Os dendrocombustíveis incluem biocombustíveis sólidos, líquidos ou gasosos, subprodutos da exploração florestal e resultantes de processamento industrial da madeira para fins energéticos; os processos básicos de conversão dendroenergética são a Combustão Direta de biomassa; a Pirólise da biomassa e a Gaseificação da biomassa. A gaseificação é considerada a rota tecnológica mais eficiente e moderna, que faz a conversão de qualquer combustível líquido ou sólido, como a biomassa, em gás energético, por meio da oxidação parcial em temperatura elevada. Essa conversão, realizada em gaseificadores, produz um gás combustível que pode ser utilizado em usinas térmicas movidas a gás para a produção de energia elétrica.

O sistema BIG/GTCC – Biomass Integrated Gasification Gas Turbine Combined Cycle é a opção tecnológica mais adequada às condições do País; embora ela seja uma tecnologia em desenvolvimento, é merecedora de uma atenção detalhada sob aspectos técnicos e econômicos, comumente denominada Ciclo Combinado com cogeração de energia, que contempla os ciclos Rankine (vapor) com eficiência de 28% e, em conjunto com o ciclo Brayton (gás), pode atingir 68%, determinando uma margem de 32% na eficiência global. Conforme dados da Aneel (2014), a geração de energia a partir de biomassa representa 9,52% do total das fontes de energia, com 13.099 MW (Megawatts) de potência instalada. Nas centrais de geração termelétrica que compõe o parque gerador, utiliza-se, tradicionalmente, o ciclo Rankine de contrapressão; nesse sistema, a biomassa é queimada diretamente em caldeiras, e a energia térmica resultante é utilizada na produção do vapor. Esse vapor acionará uma turbina para geração de energia elétrica e, ao sair da turbina, após a realização do trabalho, será encaminhado para atender às necessidades térmicas do processo produtivo. As principais características dos sistemas convencionais de produção de energia elétrica a partir da biomassa, baseados em ciclos simples a vapor, a partir da combustão direta do insumo primário, são o reduzido desempenho energético e a baixa capacidade. Com a mudança da rota tecnológica aplicada aos sistemas dendroenergéticos, obtemos um incremento de 3,81% na matriz de energia elétrica brasileira, perfazendo um total de 5.239 MW (Megawatts). Segundo dados do ONS – Operador Nacional do Sistema (2014), esse crescimento na geração de energia pode abastecer toda a carga própria de demanda do subsistema Norte do Sistema Interligado Nacional, sem a necessidade de implantar novos empreendimentos. Os dendrocombustíveis, em diversas situações, competem vantajosamente com os energéticos primários de origem fóssil utilizados em termelétricas, especialmente para sistemas isolados e em sistemas de cogeração. Especial atenção deve ser atribuída às florestas energéticas, que, dentro de um conjunto de ações, podem minimizar a escassez energética atual e futura.

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perspectivas energéticas da É inegável que a madeira ainda ocupa um importante papel estratégico para a produção e o uso de energia no País. Entretanto, a produção e a utilização dessa biomassa moderna ainda é incipiente e apresenta algumas características específicas. O Brasil é um país que reúne inúmeras vantagens comparativas que o situam como líder mundial no mercado de produtos agrícolas e silviculturais. Em particular, apresenta enorme potencial de aproveitamento da madeira, tanto para transformação em energia térmica como elétrica, mas ainda são necessárias políticas adequadas para atingir esse potencial. A madeira energética (lenha, carvão vegetal e lixívia) foi responsável, em 2013, pela produção de 30,4 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), quantidade da mesma ordem de grandeza que a hidráulica, com 39,2 (tep). Entretanto é importante observar que 62% do total de 82,8 milhões de toneladas de madeira consumidos para fins energéticos ainda é proveniente de florestas nativas, contribuindo para o desmatamento, particularmente do cerrado e da caatinga. O setor que utiliza a maior quantidade de energia proveniente da madeira é o siderúrgico, que emprega o carvão vegetal como termorredutor no processo industrial, com as vantagens ambientais conhecidas. Esse setor é responsável por mais de 1/3 de todo o consumo nacional de madeira – 30 milhões de toneladas de madeira, das quais 37% ainda são provenientes de florestas nativas, o que, certamente, requer políticas adequadas para aumentar o uso das florestas plantadas. Por outro lado, a demanda da madeira para geração de energia térmica e elétrica tende a continuar crescendo nos diversos setores energointensivos.

madeira

O desafio encontra-se em aplicar tecnologias mais eficientes, como a peletização, buscando melhorar o aproveitamento energético da madeira. Há duas opções para alcançar grandes produções de pellets: aproveitamento de resíduos de biomassa lignocelulósica e a partir de plantações destinadas a uso energético. As características de produção e acesso de cada uma dessas possibilidades são muito variáveis. As estimativas da disponibilidade de resíduos de madeira e de resíduos florestais são incertas e dependem das circunstâncias locais. No entanto a situação promissora do potencial de plantações energéticas de curta rotação para impulsionar o mercado dos pellets no Brasil merece especial atenção. As chamadas “florestas energéticas” para o cultivo do Eucalyptus e Pinus, espécies com longa tradição no País, poderiam ser destinadas à produção dessas florestas de crescimento rápido, que estão atingindo valores próximos a 120 m³/ha (45 toneladas por hectare, massa seca), em ciclos de apenas um ano. Nesse contexto, as florestas plantadas para fins energéticos apresentam um cenário bastante positivo. O desenvolvimento de uma produção em escala de Eucalyptus e Pinus que aperfeiçoe a obtenção de energia a partir da biomassa florestal é fundamental para o aproveitamento desse potencial. O País conta com 105 milhões de hectares de áreas degradadas disponíveis para diferentes usos. A perspectiva é utilizar parte dessas áreas para garantir uma futura demanda de madeira de alto valor agregado, parte da qual poderia servir para atender ao mercado interno, podendo, assim, diminuir o atual déficit de madeira nativa utilizada para energia. Uma vez garantida essa oferta, pode-se vislumbrar, no curto/médio prazo, a possibilidade de produção e de exportação de pellets para a crescente demanda do mercado mundial de 40 milhões de toneladas desse biocombustível, que pode ser dividido em dois grandes segmentos, o uso residencial e o uso industrial, aqui incluído o uso em termoelétricas (principalmente nos países da União Europeia, que necessitam reduzir suas emissões de carbono nas termoelétricas a carvão). Vale ressaltar que as elevadas taxas de cloro no eucalipto aqui produzido parecem inviabilizar o possível mercado europeu de pellets no setor residencial, tendo, então, como perspectiva, o uso dos pellets brasileiros exclusivamente para termoelétricas, expectativas que demandarão produções em grande escala – acima de um milhão de toneladas por ano.

A madeira energética (lenha, carvão vegetal e lixívia) foi responsável, em 2013, pela produção de 30,4 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, quantidade da mesma ordem de grandeza que a hidráulica, com 39,2 (tep). "

Javier Farago Escobar

Doutorando em Energia no Instituto de Energia e Ambiente da USP

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Coautora: Suani Teixeira Coelho, Coordenadora Técnica do Cenbio


Opiniões Em ambos os segmentos, os pellets concorrem com combustíveis tradicionais, geralmente derivados de fontes fósseis, como o óleo combustível, o gás natural, o carvão mineral e, no caso da calefação, também a energia elétrica. O maior uso desse bicombustível está sendo em sistemas cofiring (onde se adicionam pellets para queima em conjunto com o carvão). É nesse cenário que o mercado europeu de pellets tem crescido, e tende a crescer ainda mais, tanto na geração de eletricidade quanto no setor residencial, especialmente em países da União Europeia. Como a Inglaterra e a Alemanha – entre outros – não conseguiram, até então, atingir as metas de redução nas emissões de carbono segundo o Protocolo de Quioto, estão importando pellets de madeira do Canadá e de outros países para geração de energia (substituindo o carvão) em suas termoelétricas (em média 16,4 milhões de toneladas pellets de madeira por ano, com perspectivas de crescimento, desde que haja oferta). Somente a Drax, a maior geradora de energia a carvão do Reino Unido, com 4000 MW, já transformou sua primeira unidade para usar pellets de madeira, que consumirá 2,3 milhões de toneladas/ano, com expectativas de ampliação das demais usinas até 2020. Uma grande oportunidade para o mercado mundial de pellets. O Brasil situa-se como um potencial exportador da demanda de pellets para a Europa; no entanto o setor nacional ainda se desenvolve lentamente. Existe pouca informação, e, em geral, sua produção é em pequena escala, destinada, principalmente, ao mercado térmico ou doméstico. Atualmente, existem apenas 14 fábricas, que, juntas, apresentam uma produção de 59.980 t/ano, o que representa 25% do total da capacidade instalada de 237.375 t/ano.

Esse fato é decorrente de diversos fatores, como a descentralização dos resíduos agrícolas, a falta de incentivos fiscais específicos para a produção de biomassa para fins energéticos e a carência de informação dos potenciais usos dos pellets como biomassa moderna. Contudo o Brasil pode se tornar capaz de produzir madeira sustentável e economicamente competitiva para uso interno e para exportação, devido ao custo favorável de matérias-primas e da ausência de barreiras tecnológicas significativas para a sua produção. É necessário eliminar as dificuldades existentes e criar políticas de incentivo para os investimentos nesse setor, visando a uma participação maior no mercado internacional. É necessário que, numa primeira etapa, o uso de florestas nativas para uso energético de madeira seja substituído pelo de florestas plantadas; somente após resolver essa questão de insustentabilidade, poder-se-á pensar em produção para exportação. Além desse aspecto, em termos mais globais, é importante notar que, apesar das vantagens ambientais inegáveis da substituição de carvão nas termoelétricas dos países desenvolvidos por biomassa plantada, não se pode deixar de lado a questão fundamental do acesso à energia de muitos países em desenvolvimento, que são candidatos potenciais a serem fornecedores de madeira – como já ocorre em Madagascar e na Libéria. Como já vem sendo discutido em várias ocasiões, é fundamental que os investimentos para a produção de madeira para fins energéticos nesses países (por parte de investidores dos países em desenvolvimento) não deixem de contemplar também – e principalmente – a geração de energia local para reduzir o imenso déficit existente, com todas as consequências sociais tão bem conhecidas.

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aprimoramento de

estudos de

viabilidade A análise baseada em modelos de simulação tem o potencial de criar um entendimento mais aprofundado dos diversos aspectos que afetam o investimento e dos riscos associados a ele, especialmente no que envolve a cadeia de fornecimento de matéria-prima. "

Jussi Rasinmäki CEO da Simosol Oy

Usinas de energia baseadas em biomassa apresentam uma importante oportunidade de investimento não só para as empresas que fornecem bens e serviços diretamente relacionados à construção e ao funcionamento de tais plantas, mas também para investidores, comunidades locais e organizações que gerenciam ativos de matérias-primas. Para essas últimas, as usinas de energia baseadas em biomassa podem se tornar clientes valiosos ou importantes oportunidades de investimento. Por exemplo, se os ativos florestais estiverem em locais remotos, como é frequentemente o caso, usinas de biomassa podem fornecer soluções de energia para comunidades locais, oportunidades de investimento para empresas de serviços públicos, como água e luz, e vias de negócio complementares para as empresas do segmento florestal. Em todos esses casos, deve-se avaliar a construção e a operação de usinas de biomassa, de forma confiável e precisa, com o uso de estudos de viabilidade abrangentes.

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Tais estudos são baseados em simulações que consideram, entre outras, as seguintes variáveis: 1. o estoque de biomassa disponível agora e no futuro; 2. a logística (por exemplo, as redes viárias); 3. as opções tecnológicas para a planta (por exemplo, tipo de caldeira); 4. os custos operacionais; e 5. as avaliações financeiras, incluindo as opções de financiamento. Além disso, e principalmente, a análise deve considerar a interação entre esses cinco aspectos, uma vez que alterações em qualquer um deles podem apresentar importantes efeitos interdependentes. A precisão e a confiabilidade desse tipo de análise podem impactar diretamente o sucesso do projeto, a minimização dos riscos operacionais, a confiabilidade das projeções financeiras e, essencialmente, a capacidade de obtenção de financiamento. Dentre os muitos fatores levados em consideração em estudos de viabilidade para usinas de biomassa, dois são os aspectos principais: a usina em si e a cadeia de suprimentos de matéria-prima que fornecerá insumos para ela. Como a usina é, de longe, o principal custo do investimento, ela tende a ser o ponto chave dos estudos de viabilidade – e com razão. A análise de suprimento de biomassa é, geralmente, feita através do levantamento da disponibilidade regional de diferentes matérias-primas, o seu poder calorífico e sua


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compatibilidade com a tecnologia de geração de energia considerada para a usina, de forma a obter uma compreensão geral da adequação dos recursos de biomassa para geração de energia. Essa compreensão geral e simplificada pode, no entanto, se tornar uma armadilha no futuro, quando o investimento já tiver sido feito. Recentemente, no Brasil, foram realizados esforços em nível nacional para aumentar a capacidade de geração de energia com base em biomassa, e já são evidentes os primeiros sinais de problemas no fornecimento de matéria-prima para as usinas estabelecidas. Com a crescente necessidade de aumento da capacidade de geração de energia, visando evitar esse tipo de problema, os gerentes de projeto devem empregar análises mais abrangentes e completas da cadeia de fornecimento de matéria-prima, como detalhado a seguir. Análise Aprimorada da Cadeia de Suprimentos de Matéria-prima: Para construir um modelo de simulação para investimento e operação desse tipo de usina, o primeiro passo é mapear os recursos de matéria-prima existentes na região: quais são as fontes de biomassa disponíveis, os seus níveis de produtividade e sua localização exata. Caso esses dados espaciais ainda não estejam disponíveis, eles podem ser mapeados usando métodos de sensoriamento remoto, como imagens de satélite ou Lidar (do inglês, Light Detection And Ranging), combinados com levantamentos de campo. É essencial compreender e mapear a infraestrutura existente, a fim de obter uma visão ampla da situação. Um abrangente mapa regional precisa ser criado envolvendo as áreas vizinhas com o potencial de fornecer biomassa, tais como terras agrícolas e florestais e toda a rede viária existente. Para estabelecer o verdadeiro potencial de matéria-prima, é necessário considerar também os usos já existentes dessa biomassa e determinar quanto dela estaria disponível como insumo para a usina, assim como os preços de mercado para os diferentes tipos de biomassa. Dessa maneira, para estimar a produção de energia, é preciso avaliar: os níveis de estoque de cada unidade produtora de biomassa no entorno, os níveis de colheita em cada local, os tipos de matéria-prima disponíveis para a usina, a sequência de eventos de processamento de biomassa desde a colheita até a entrega e, finalmente, o nível de estoque de matéria-prima na usina de energia. Assim, é essencial analisar a disponibilidade dos insumos e o seu custo de abastecimento à usina, que compõem a interface para a simulação da cadeia de suprimentos de matéria-prima. A análise também deve considerar as diversas possibilidades de utilização da biomassa em questão – qual é o melhor ou o mais lucrativo uso desse tipo de matéria-prima? É possível que a usina de biomassa e outras indústrias compartilhem a demanda por um mesmo tipo de matéria-prima, por exemplo. Se assim for, há um risco potencial de escassez de oferta? Supondo que os possíveis locais para a instalação da usina já tenham sido decididos, o próximo passo

no processo é relacionar as fontes de matéria-prima à usina em si. Os custos logísticos são, geralmente, importantes na composição dos custos operacionais dessas usinas, portanto a precisão da análise dependerá da inclusão de um detalhado modelo de transportes para o fornecimento de matéria-prima. Isso é importante não só do ponto de vista dos custos, mas também do ponto de vista operacional. A disponibilidade de biomassa pode ser altamente sazonal, tanto do ponto de vista da colheita quanto do transporte; no entanto a planta deve ser capaz de operar continuamente durante todo o ano. O terceiro e último passo na construção do modelo de análise de fluxo de caixa é o modelo operacional da planta. Ele deve incluir fatores como o investimento inicial, a estrutura de financiamento da carteira, os outros custos de funcionamento para a usina de energia que não o de abastecimento de matéria-prima e os fatores que afetam a receita de vendas, ou seja, quanto da energia contida nos insumos pode ser convertido em um formato comercial, como eletricidade, calor e frio. Cabe inteiramente aos tomadores de decisão escolher como o financiamento de um projeto como esse deve ser feito. Como em outros projetos semelhantes, é importante definir e controlar os parâmetros associados ao investimento inicial e os custos operacionais para a planta, bem como fornecer garantias às organizações financiadoras e outras partes relevantes ao processo decisório. Por exemplo, investidores podem estar interessados em entender quais são as quantidades, os tipos e os custos das matérias-primas disponíveis para a planta, a qualquer momento, ao longo do período de investimento. Esse tipo de modelo de análise avançada, naturalmente, apenas será útil se puder ser efetivamente usado pelas partes interessadas no projeto. Uma maneira de facilitar essa participação é tornar o modelo acessível através de interfaces especializadas capazes de incluir os aspectos espaciais da análise e todos os parâmetros do modelo. Dessa forma, por exemplo, a análise de sensibilidade se transforma em um esforço colaborativo, com os resultados facilmente disponíveis para qualquer análise adicional. Esse tipo de abordagem de modelagem espacial para avaliação do potencial de produção de energia a partir de biomassa vem ganhando atenção no cenário internacional, e grandes organizações patrocinam a ideia. Por exemplo, um caso piloto de demonstração foi realizado, recentemente, na Indonésia, e uma análise mapeando toda a produção nacional de energia a partir de biomassa acaba de ser lançada no Paquistão como parte do Programa de Apoio à Gestão do Setor Energético (Esmap), administrado pelo Banco Mundial. Investimentos de grande escala, tais como o desenvolvimento de usinas de biomassa, requerem grande quantidade de preparação para garantir a viabilidade desse esforço, tanto em termos econômicos quanto operacionais. Para que o projeto seja executado sem imprevistos, é importante compreender todos os aspectos relacionados à infraestrutura local, à produção de biomassa, à competição pelos insumos, à localização da planta, às possíveis opções de financiamento e às opções tecnológicas para o projeto. A análise baseada em modelos de simulação tem o potencial de criar um entendimento mais aprofundado dos diversos aspectos que afetam o investimento e dos riscos associados a ele, especialmente no que envolve a cadeia de fornecimento de matéria-prima. Simular o funcionamento da usina permite que se enxerguem os possíveis problemas e falhas do potencial investimento, sem vivê-los na vida real. Por fim, eu diria que o modelo de simulação explícito que descreve o fluxo de matérias-primas das fontes de biomassa conhecidas para a usina consumidora é uma ferramenta indispensável para qualquer análise de viabilidade detalhada.

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o custo

Brasil

O Brasil tem problema com o seu crescimento econômico. Dilma Rousseff foi reeleita como presidente graças a uma política populista praticada nos últimos 12 anos. Os problemas estão se acumulando – desvalorização da moeda, aumento exorbitante da dívida interna e externa, inflação e um crescimento quase inexistente. Os gastos públicos estão fora de controle, enquanto faltam investimentos necessários em infraestrutura e energia. O desemprego vai, provavelmente, aumentar, enquanto as empresas estão reduzindo os custos. O ano de 2015 pode ser um ano muito difícil para Brasil. A questão é até que ponto as reformas necessárias serão implementadas. O governo não vai fazer mais do que ele acha absolutamente necessário. A presidente Dilma vive na crença de que tudo está bem, ela foi reeleita e vê isso como prova da confiança da população em sua política.

Eu tenho o prazer de estar acompanhando o desenvolvimento do setor florestal brasileiro desde 1978. A produção de celulose do Brasil era de 2 milhões de toneladas, o trabalho na floresta era duro e perigoso, tudo era manual e nem sempre com motosserra. Hoje, a produção é de 16 milhões por ano, a colheita é feita com máquinas modernas, produtivas e ergonômicas. Isso tem sido possível graças a um clima favorável, com sol e chuva, custos baixos e empresários visionários. No começo, a política era proteger fabricantes de maquinário brasileiro. Isso dificultou acesso para uma tecnologia moderna. Com os baixos custos de matéria-prima e salários, o uso de tecnologia não era tão importante. O governo Collor abriu o mercado para máquinas importadas, que, hoje, vêm, principalmente, da Escandinávia, dos EUA e do Canadá. Esse desenvolvimento tem contribuído para a competividade, que coloca o Brasil entre os grandes produtores florestais.

A presidente Dilma vive na crença de que tudo está bem, ela foi reeleita e vê isso como prova da confiança da população em sua política. "

Björn Rasmusson

Diretor da CBI do Brasil

O que significa tudo isso para o setor florestal? Embora não pareça brilhante para a economia brasileira, a indústria florestal pode continuar a gerar lucro, mas é necessário aumentar produtividade e baixar custos operativos e administrativos. A indústria florestal está bem posicionada, incluindo seu potencial de produzir biomassa. A desvalorização da moeda faz a indústria mais competitiva no mercador externo. A falta de energia e de investimentos nessa área traz oportunidades para projetos termoelétrico e cogeração. A incerteza sobre medidas políticas nesse setor, como novos impostos ou regulamentos populistas, pode gerar medo de investir, mas, no outro lado, empresários estão acostumados a isso, e a lucratividade é promissora. Novos empreendimentos na área de agronegócio, papel e celulose envolvem estratégicas de serem autossuficientes em energia – ou seja, energia baseada em biomassa.

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O foco durante esse período sempre foi baixar os custos por tonelada, seguir condutas ambientais e eliminar riscos de acidentes. Mas nem tudo é perfeito. O crescimento dos salários e uma moeda mais forte fizeram com que os custos subissem no Brasil. Acrescente a isso uma carga tributária abusiva, uma infraestrutura negligenciada e uma burocracia complexa. É cada vez mais difícil achar mão de obra qualificada. Os portos são caros e ineficientes, a rede rodoviária é, muitas vezes, precária e até mesmo perigosa; apesar de longas distâncias, a rede ferroviária é quase inexistente. O Brasil, simplesmente, tem que se tornar mais eficiente. Com a situação econômica atual, ele tornou-se mais exposto para a concorrência. As empresas enfrentam juros elevados, burocracia, falta de mão de obra qualificada, custo de energia, infraestrutura precária e distâncias longas. Em resumo, este famoso "Custo Brasil" tem que ser reduzido.


Opiniões O Brasil precisa focar no custo por tonelada, sem "jeitinhos" e soluções baratas que trazem problemas depois. O trabalho florestal é duro, pesado e bruto. A produção do cavaco da madeira segue a mesma linha e exige equipamentos confiáveis, de sólida performance, de fácil operação e manutenção. As empresas devem praticar manutenção preventiva e investir em bons operadores. Treinar os operadores e deixá-los tomar parte ativa na manutenção diária. Eles conhecem as máquinas e sabem o que significa uma manutenção negligenciada. Uma máquina florestal é um investimento que só deve parar para manutenções programadas. Obviamente, os operadores e mecânicos devem ser motivados, treinados e ter ferramentas certas. Não é muito diferente da Fórmula 1. Nós não podemos, simplesmente, culpar o governo por tudo. Muitas empresas têm criado uma burocracia interna que afeta seriamente o resultado e a eficiência. Não é suficiente que a floresta cresça rápido, os custos administrativos têm que ser controlados. Talvez tenha sido mais fácil ignorar esses custos quando salários e matéria-prima eram baratos; hoje, as empresas têm que procurar eficiência interna na administração e não só na produção. No outro lado, isso é um grande potencial, empresas que agarram seus procedimentos administrativos vão ganhar muito dinheiro. Os administradores das empresas devem sempre perguntar: "quais benefícios traz essa função para o meu cliente?" Adaptando isso, o Brasil tem excelentes condições de continuar crescendo na área florestal e em energia de biomassa. A prática de desmatamento de florestas nativas para produzir carvão vegetal e lenha está sendo substituída por florestas plantadas, conduzidas

da mesma forma que para celulose, o que traz capital, pessoas competentes e tecnologia moderna. Financiamento através do Finame é uma forma subsidiada para promover máquinas fabricadas no Brasil. Para o País ser competitivo, o Finame deve ajudar os empresários a investir em tecnologia, e não necessariamente made in Brazil. Eu tenho grande respeito pelas máquinas fabricadas no Brasil em geral, mas com taxas de juros subsidiadas e prazos de amortização favoráveis, o Finame conduz, muitas vezes, empresários a comprar máquinas erradas. O risco com Finame é que ele conserva uma tecnologia ultrapassada e dificulta a competitividade. Costuma-se dizer que não é através de um único passo gigante que se cria o sucesso, são muitos passos pequenos. Durante meus 36 anos no Brasil, eu já vi dois passos gigantes: o primeiro foi a motosserra com o sistema Nordfor na década de 1970, o segundo foi o harvester no final da década de 1980. Agora, eu estou vendo o terceiro, o sistema "cavaco no campo". Corretamente adaptado, ele reduz custos, aproveita toda a árvore, incluindo para biomassa; reduz investimento, número de máquinas e operadores. O sistema é simples, com quatro máquinas, feller, skidder, flail e picador, os cavacos são produzidos e carregados no campo. A indústria elimina o pátio e todos seus custos escondidos de descarregar, manusear, lavar, transportar, carregar, descascar e picar madeira. Em pouco anos, a competividade vai fazer as empresas brasileiras adotarem essa tecnologia. Para fortalecer a competividade, o Brasil tem que superar o "Custo Brasil" adotando a melhor tecnologia disponível e continuar navegando entre as dificuldades, o que sempre fez bem.


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do lixo ao luxo Apesar da produção ainda ser modesta, o segmento de pellets amplia as oportunidades de negócios. O Brasil tem grande potencial de aproveitamento da biomassa florestal na produção de pellets para atender às demandas nacional e internacional. "

Flávio de Oliveira Leite Gerente-geral da Vermeer

O agravamento da crise hídrica está instigando o mercado a buscar novas fontes para geração de energia, e os olhares voltam-se, cada vez mais, para os resíduos de madeira. A expectativa de que, em abril de 2015, o leilão de fontes alternativas de energia negocie contratos de energia eólica e biomassa chama a atenção para a diversificação da matriz energética, com aproveitamento de insumos que, anteriormente, eram descartados. Para se ter uma ideia do potencial dessa biomassa, lembre-se de que o Brasil registra mais de 7 milhões de hectares de florestas plantadas de eucalipto e pinus, além de outras culturas florestais, como acácia e mogno africano. O Panorama do Potencial de Biomassa no Brasil, produzido pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), aponta São Paulo e Paraná como os estados com maior potencial de aproveitamento de resíduos de madeira, provenientes da silvicultura, na geração de energia elétrica, Bahia e Minas Gerais aparecem na sequência. De acordo com o estudo, na conjuntura atual, inclusive a remoção dos tocos tem se tornado lucrativa para a queima em usinas térmicas. O avanço da legislação também tem favorecido o aproveitamento dos resíduos de madeira, que, até recentemente, eram descartados indevidamente. Com a atual Política Nacional de Resíduos Sólidos, é proibido descartar os resíduos de árvores junto com o lixo domiciliar. A mudança afeta diretamente os resíduos de podas urbanas. O material, que era deixado no campo ou descartado indevidamente nos aterros sanitários, está se consolidando como alternativa para queima em caldeira e substrato para compostagem. A estimativa do Panorama é de que a biomassa tenha mais peso na geração mundial de eletricidade, produzindo cerca de 27 TWh até 2020. A eficiência do processo está melhorando com novas tecnologias de conversão. Ainda que a combustão em fornos e caldeiras seja predominante, processos como gaseificação e pirólise despontam como alternativas mais eficientes. Segundo o Balanço Energético Nacional, a participação da biomassa na matriz energética brasileira é de 27%, a partir da utilização de lenha de carvão vegetal (11,9%), bagaço de cana-de-açúcar (12,6%) e outros (2,5%). O potencial autorizado para empreendimentos de geração de energia

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elétrica, de acordo com a Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, é de 1.376,5 MW, quando se consideram apenas centrais geradoras que utilizam bagaço de cana-de-açúcar (1.198,2 MW), resíduos de madeira (41,2 MW), biogás ou gás de aterro (20 MW) e licor negro (117,1 MW). Além da conjuntura, outro fator que tem favorecido o aproveitamento dessa biomassa é o desenvolvimento de tecnologias específicas para o manejo desse material. Fabricantes globais disponibilizam ao mercado brasileiro soluções já consagradas nos Estados Unidos e Europa, auxiliando o mercado local na superação das barreiras tecnológicas. O mercado é favorecido com tecnologias que viabilizam cavacos, microcavacos e pellets em granulometrias precisas. O leque de soluções disponíveis por esses fornecedores é amplo. Os trituradores, por exemplo, disponibilizam equipamentos horizontais e verticais, operando com gravidade. Alguns deles possuem modelos com até 16 cortadores, de rápida substituição. Estes trituradores podem lidar com materiais volumosos como tocos, fardos e paletes. Alternativa entre os modelos de trituradores horizontais são os autopropelidos. Opções móveis para as operações de reciclagem de resíduos de madeiras, seja durante a limpeza de campo, ou para o processamento de compostagem, de desbastes florestais e para o processamento de resíduos da arborização urbana. Diferente dos modelos rebocáveis, que necessitam de equipamentos auxiliares, como tratores, para serem movimentados, essa alternativa permite ao operador autonomia no deslocamento ao redor do campo de trabalho, otimizando a produção. Outra solução bastante difundida no mercado são os picadores florestais. Há modelos aptos a processar material de até 58 cm de diâmetro com sistemas de alimentação automáticos e rotores de corte de alta velocidade e embreagem a disco.


Opiniões Quando da escolha do equipamento e do fornecedor, é preciso atenção ao design das máquinas para avaliar, por exemplo, se a abertura de alimentação também minimiza gargalos de material. Há modelos em que o operador do equipamento pode acionar um botão manual, para alcançar força de esmagamento maior que 2 toneladas. As linhas de picadores de galhos também estão ampliando suas fatias de mercado, tornando as operações mais seguras e produtivas. Entre as opções do mercado, tem-se as equipadas com sistemas de controle, que monitoram o desempenho do motor e reverte automaticamente o rolo de alimentação quando necessário, evitando sobrecarga do sistema. Modelos com uma boca de alimentação de 30 cm de altura são capazes de picar galhos retorcidos e copas de árvores inteiras, sem a necessidade de pré-cortá-los com motosserras. Recursos para desligamento da alimentação e a distância da mesa ao rolo são outros fatores importantes na escolha dos equipamentos. O operador não deve ficar próximo ao rolo, o que também reduz os riscos de acidentes. Com as oportunidades para aproveitamento dos tocos, os destocadores começam a se tornar mais conhecidos no mercado. Nas áreas urbanas, quando as prefeituras combinam o uso do destocador em conjunto com o picador de galhos, a mão de obra intensiva, de até sete pessoas envolvidas no processo, cai para duas. A redução é ainda mais expressiva em

termos de tempo: ao invés de dez viagens e caminhões para uma operação média de poda e destocamento, uma equipe que adota um picador e um destocador, por exemplo, pode executar a operação completa em até uma hora e demandar apenas uma viagem de caminhão para o descarte do material. Se deixados nas florestas, os tocos oferecem riscos aos equipamentos que transitam na área, além de prejudicar as rotações e os plantios de cultura. A combinação dessas tecnologias, considerando peneiras rotativas, trituradores horizontais e verticais, picadores florestais, picadores de galhos e destocadores, é capaz de garantir altos níveis de produtividade na produção de cavaco, microcavaco e pellets de madeira. Esses equipamentos têm sido aplicados com sucesso em diversas operações de geração e cogeração de energia. No Nordeste, por exemplo, os trituradores picam os resíduos de podas de cajueiros. No Centro-Oeste, Sudeste e Sul, operam na limpeza de laranjais, em florestas de eucalipto, palha de cana-de-açúcar, entre outras. Com exceção do Sul, nessas regiões, os produtores de grãos estão queimando os resíduos florestais para cogeração de energia e geração de calor nos silos. Apesar da produção ainda ser modesta, o segmento de pellets amplia as oportunidades de negócios. O Brasil tem grande potencial de aproveitamento da biomassa florestal na produção de pellets para atender às demandas nacional e internacional. A Europa concentra 52% das plantas industriais, e os EUA, 41%, segundo o European Pellet Centre, e, mesmo assim, eles têm potencial para importar pellets de outros mercados. Oportunidade para o Brasil, oportunidade para os fornecedores de equipamentos desse tão promissor mercado.


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entre árvores e desafios se torna um desestímulo para quem quer atuar de forma correta, e, para os desonestos, um estímulo para a corrupção, quando o custo do “jeitinho” sai mais barato que atender a todas as exigências. "

Eduardo de Souza Martins

Diretor da E.labore Assessoria em Meio Ambiente

Surpreendente os caminhos que uma potencialidade percorre para se expressar no Brasil. A baixa institucionalidade, a falta de consistência na definição do que é relevante e as assimetrias entre importância econômica e peso político transformam muitas das nossas vantagens comparativas em performances muito abaixo das possibilidades. Depois de atuar no setor público, na área privada como consultor de grandes empreendimentos, e, agora, como produtor florestal, ficam claras as nossas debilidades para dar às florestas a dimensão merecida. Acredito que, somado às nossas fragilidades, está o requerimento temporal de longo prazo, que amplifica os desafios do setor. Num país que recém alcançou uma estabilidade econômica, ainda frágil, tratar de negócios que requerem ciclos longos de produção envolve muita determinação e coragem. A despeito das dificuldades, podemos identificar avanços e, principalmente, sinalizar oportunidades. De forma genérica, podemos afirmar que, para a indústria de base florestal, quanto maior a intensidade de capital, maior é o grau da autossuficiência de florestas plantadas, fruto, de um lado, da lógica burocrática das exigências normativas e, de outro, do sentimento de segurança gerado pelo controle da floresta. A lógica burocrática avançou pouco para dar mais fluidez para a atividade florestal de rendimento. Na maioria dos estados, o resultado é um emaranhado de normas fundamentadas no comando e no controle e reativa a segmentos do setor que recorreram a todas as possibilidades para postergar a implantação de florestas para garantir seu suprimento sustentável. Não tenho a convicção de que o avanço do controle pressionou para o aumento da autossuficiência mais que a equação econômica do custo do transporte de biomassa de fontes duvidosas, mas passíveis de serem “legalizadas”.

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De qualquer forma, as normas florestais deixaram uma herança que desencoraja a eficiência e, infelizmente, muitas vezes, cria as condições para alimentar novos desvios. Por exemplo, se sua floresta tiver um bom rendimento que ultrapasse a média regional, existem estados que só liberam a papelada depois de solicitar uma cubagem amostral, isto é, derrubar uma parcela, empilhar a madeira e medir os estéreos. Sem falar das exigências de licenciamento ambiental que desestimula qualquer produtor fazer crescer seu plantio além de 1.000 hectares. Nesse ponto, é relevante considerar quais os custos para a sociedade envolvidos no comando e no controle, além de verificar que se torna um desestímulo para quem quer atuar de forma correta, e, ainda, para os desonestos, um estímulo para a corrupção, quando o custo do “jeitinho” sai mais barato que atender a todas as exigências. “Melhor adotar modelos declaratórios para regulamentação, utilizando tecnologias modernas de monitoramento e orientando os técnicos para realizar verificações reais, no lugar da análise de uma montanha de papel.” Na realidade, a nova versão do Código Florestal, no seu Capítulo VIII – Do Controle da Origem dos Produtos Florestais, deveria inspirar uma ampla revisão das normas florestais estaduais. Se os custos de transação ainda desestimulam que a produção florestal se amplie para a paisagem rural brasileira, a dinâmica dos setores mais tradicionais pode oferecer oportunidades. O setor de papel e celulose, de forma lenta, mas com avanços sistemáticos, tem suprido suas necessidades de florestas com outras fontes, além dos seus latifúndios. As oportunidades do mercado e as restrições de expansão têm levado algumas plantas a buscar florestas de terceiros a distâncias de mais de 400 km. Mesmo que essas demandas sejam circunstanciais, o exercício da busca por outras fontes florestais é de enorme didatismo para esse segmento, pois permite reconhecer e estudar alternativas de produção. Tal aprendizado ganha relevância para o setor de papel e celulose, se os custos e riscos socioambientais dos plantios próprios crescerem muito, e o suprimento de terceiros for competitivo. Outra novidade, pelo menos no Brasil, é o surgimento de fundos baseados em ativos florestais. Organizam os meios de produção, garantem a destinação e oferecem rendimentos atrativos


Procure seu novo

para os investidores, melhores que a maioria das aplicações de previdência privada. Os fundos estão ancorados na destinação para o setor de papel e celulose, mas o modelo pode prosperar também para outros segmentos florestais. Também merecem atenção as florestas formadas para atender ao cluster siderúrgico, caso as alternativas energéticas provenientes do gás de xisto restrinjam a competitividade do gusa brasileiro. Confirmada a hipótese, teríamos um razoável estoque de madeira em busca de alternativas de destinação. Tenho grande esperança de estarmos iniciando uma nova fase do tratamento das questões florestais em nosso país. Acredito que é possível vencermos o tempo onde o crescimento da agricultura era equivalente a florestas derrubadas e queimadas. Somos uma pátria privilegiada e devemos, em benefício de todos os brasileiros, escolher o desenvolvimento com floresta. Durante décadas, foi acumulado um passivo em relação ao Código Florestal, e as tentativas de reversão se mostraram infrutíferas: das fiscalizações, sequer as multas foram efetivamente recebidas, e as previsões de recuperação, raramente implementadas com sucesso. O resultado com o Novo Código foi a criação de condições para superar o passado, usando do bom senso e do compromisso com o País. O que ganharíamos criminalizando a maioria do campo ou sinalizando que o produtor rural não tem nenhum compromisso de recuperar o que foi destruído? Nada, além de alimentar a polarização de um debate que não serve à sociedade brasileira. De uma forma simples, podemos dizer que a construção política do Novo Código trata do futuro das florestas brasileiras com equilíbrio, promovendo sua proteção e incentivando seu papel de bem comum. Não existe, na nova lei, nenhum incentivo a novos desmatamentos; foram mantidos os percentuais obrigatórios para a Reserva Legal; e mais: a localização da Reserva Legal deverá atender a critérios de gestão da bacia e proteção da biodiversidade. Como resultado, o tratamento do passivo gera uma tremenda oportunidade de recuperar a funcionalidade florestal das Reservas Legais das áreas rurais, com a possibilidade de exploração econômica, conforme previsto no Código Florestal. Das recuperações previstas, estimo que cerca de 15 milhões de hectares possam se transformar em florestas produtivas, talvez a maior chance já construída para conjugar desenvolvimento agrícola e florestas. De novo, os maiores e melhores esforços, até o momento, se orientaram para o comando e o controle na figura do Cadastro Ambiental Rural; muito pouco se trabalhou no Capítulo X do Código Florestal, que trata do apoio e incentivo para mobilizar meios para as novas florestas. Também carecemos de bases silviculturais para oferecer modelos de recuperação que garantam a feição florestal e ofereçam alternativas econômicas para as Reservas Legais nas diversas regiões do País. Tenho grande esperança de que o início do século XXI seja reconhecido como o período em que o Brasil foi capaz de iniciar uma grande transição florestal, com a conservação dos nossos remanescentes, com a recuperação florestal produtiva de nossa paisagem rural, e, principalmente, quando superamos o atraso e a miopia política do falso dilema entre o desenvolvimento e a floresta.

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cadeia energética da

madeira O Brasil é o único país do mundo a produzir gusa com carvão vegetal em larga escala. Pela ausência de enxofre e contaminantes no carvão vegetal, esse gusa tem elevada qualidade. "

Jayme Buarque de Hollanda Diretor-geral do INEE

A madeira é uma importante fonte de energia no Brasil, origem de mais de 10% da sua oferta de energia primária. Apesar de sua importância relativa, é a forma de energia menos compreendida e que apresenta um potencial de grandes ganhos no futuro próximo. O uso dessa fonte se baseia em duas famílias de consumidores. Na primeira, encontram-se empresas que verticalizam a produção do combustível, com plantio e manejo de florestas energéticas. Na segunda, há os usos descentralizados em que a demanda é obtida, sobretudo, de forma extrativa. No primeiro grupo, estão as indústrias de papel e celulose e (no futuro próximo) geradoras de energia elétrica, cujas atividades têm elevada eficiência energética. Nesse grupo, encontram-se, também, fábricas de gusa que verticalizam a produção de carvão vegetal, mas raramente aproveitam os gases e voláteis coproduzidos no carvoejamento, pela falta de um mercado organizado para esses biocombustíveis. No segundo grupo, estão os usos rurais extrativos. O dos consumidores domésticos não chega a ser um problema, pois há uma renovação natural. Preocupa, porém, o uso de madeira ou de carvão vegetal nas indústrias de gusa, cerâmicas e gesseiras. Esses biocombustíveis são as únicas formas de energia produzidas, transportadas e comercializadas no Brasil à margem de qualquer regulamentação energética. No mundo energético, essa função é primordial. Como seria projetado um motor a gasolina ou um motor elétrico se a gasolina não fosse especificada ou a frequência e a voltagem da rede não fossem padronizadas?

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Uma organização mínima e a existência de uma política energética para a cadeia energética da madeira aumentariam a eficiência, gerando mais receita para o mesmo insumo, reduzindo preços, melhorando a qualidade dos combustíveis e asfixiando economicamente a informalidade e o recurso ao desmatamento. Em 2005, um passo importante foi dado quando o escopo da ANP - Agência Nacional do Petróleo, foi ampliado pela Política Energética Nacional - PEN, para que, além do petróleo e do gás natural, regulasse também “a produção, importação, exportação, transferência, transporte, armazenagem, comercialização, distribuição, avaliação de conformidade e certificação de qualidade de biocombustíveis”. O que parecia um avanço frustrou-se em setembro de 2011, quando o conceito de biocombustível, universalmente entendido como “combustível derivado de biomassa renovável”, foi definido (XXIV, Art. 2 da PEN na versão atual) da seguinte forma: “(...) substância derivada de biomassa renovável, tal como biodiesel, etanol e outras substâncias estabelecidas em regulamento da ANP, que pode ser empregada diretamente ou mediante alterações em motores a combustão interna ou para outro tipo de geração de energia, podendo substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil”. O texto, muito confuso, exclui, na prática, os bicombustíveis da cadeia da madeira, normalmente sólidos. Isso reflete um preconceito dos que associam o uso intensivo da madeira a subdesenvolvimento, pois, sendo de fácil obtenção e uso com tecnologias simples, atende às necessidades de populações pobres.


a qualquer

Assim, os únicos biocombustíveis admissíveis seriam o etanol e o biodiesel, por se assemelharem à gasolina e ao diesel. Note-se, a propósito, que a estatística oficial chama a madeira energética de “lenha”. Explica também por que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para essa fonte renovável são mínimos quando se considera a sua importância na matriz energética do País e os aumentos da produtividade das biomassas de um modo geral. O preconceito não tem mais razão de ser. Na Europa, a busca de alternativa aos combustíveis fósseis tem dado ênfase ao uso de densificados, resíduos de madeira industrial e florestal comprimidos sob a forma de pequenos cilindros (pellets), com queima limpa, fácil de manusear e preço competitivo, sobretudo quando se considera a grande vantagem ambiental sobre os combustíveis fósseis que pode substituir. Apesar de ter metade da densidade energética do óleo combustível, o pellet é usado para substituí-lo nos usos urbanos e, ultimamente, ajuda a reduzir a emissão de CO2 em termelétricas, onde substitui até 30% do carvão mineral (cofiring). O consumo de pellets na Europa pulou de meio para treze milhões de toneladas na primeira década deste século, um crescimento anual explosivo de 38%. Mais de 20% dos pellets são importados dos EUA e do Canadá. Em 2010, foram estabelecidas normas e padrões internacionais para o biocombustível, que vai se tornando uma importante “commodity energética”, que movimenta em torno de 2 bilhões de euros naquele continente. Com isso, é possível otimizar os processos de produção e dos bicombustíveis densificados. Essas novidades me fazem crer que, mesmo na ausência de estímulos legais, forças de mercado vão organizar, no Brasil, a cadeia da madeira energética. A demanda para exportação de densificados já tem mobilizado algumas iniciativas, mas sua exportação é dificultada por fatores como a valorização do real, custo de transporte e pequena escala de produção. O exemplo externo, a existência de normas que podem ser adaptadas às condições brasileiras, a possibilidade de reduzir custos de logística, no entanto, fazem prever uma expansão do uso no País. Cabe lembrar que as tecnologias de produção e uso desses biocombustíveis são compatíveis com a nossa capacidade industrial, que terá acesso aos últimos avanços e desenvolvimentos europeus e norte-americanos. Apesar dos baixos investimentos em P&D para o uso energético da madeira e derivados, o Brasil tem um pequeno, porém competente grupo de especialistas. Esses avanços também servirão de paradigma para alavancar a cadeia dos pirolizados em geral, notadamente o carvão vegetal. O Brasil é o único país do mundo a produzir gusa com carvão vegetal em larga escala. Pela ausência de enxofre e contaminantes no carvão vegetal, esse gusa tem elevada qualidade. A organização da cadeia para esse biocombustível e uso dos voláteis orientará o mercado com sinais econômicos adequados à criação e ao desenvolvimento de biorrefinarias, com o aumento da receita dos produtores do carvão vegetal em bases modernas. O Brasil terá a oportunidade, assim, de rapidamente liderar o desenvolvimento tecnológico e o domínio da produção e uso desses biocombustíveis, mais adaptados ao País e a todos os países da faixa tropical, para competirem com os combustíveis fósseis.

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os desafios dos pellets de madeira:

competitividade

Os países mais ricos e mais industrializados sabem que a maior parte dessa conta é deles. O acordo histórico para reduzir emissões, assinado recentemente entre China e EUA, é uma comprovação do mea-culpa deles. "

Dorival Pinheiro Garcia Presidente da ABIPEL - Associação Brasileira das Indústrias de Pellets

Quando fiz meus primeiros estudos sobre os pellets de madeira aqui no Brasil, um trabalho de graduação na faculdade de engenharia, não imaginava que, 10 anos depois, ele se tornaria tão importante. Desde o seu surgimento na Europa, como opção de energia mais barata do que o petróleo, no final da década de 1970, o número de indústrias ao redor do mundo que produzem esse biocombustível subiu de 70 para mais de 900 neste ano. No Brasil, essa forma de energia renovável só apareceu 20 anos depois. E, por aqui, o surgimento dos pellets está mais relacionado à necessidade de agregar mais valor aos resíduos das indústrias madeireiras. Em 2006, surgiu a ABIPEL - Associação Brasileira das Indústrias de Pellets, que tinha dois objetivos básicos: obter dados consistentes da indústria nacional e desenvolver o mercado interno para a utilização deles. O primeiro objetivo foi atingido, pois temos dados bem representativos da indústria aqui instalada; o segundo, porém, ainda está em andamento.

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Convencer os empresários de que os pellets podem ser uma opção renovável e sustentável de energia para o seu negócio não é tarefa fácil, sobretudo se não houver vantagens econômicas que justifiquem a mudança do seu suprimento de energia. Ainda assim, avanços foram obtidos nesses últimos anos, como o surgimento de empresas que fazem adaptação a qualquer sistema para queimar pellets, novos produtos e novas aplicações para a linha pellets e maior conhecimento dessa forma de energia pelos empresários. Muitas vezes, eu falava de pellets (energia), e as pessoas entendiam como paletes (estrado de madeira). Mas essa fase inicial foi superada. Atualmente, a principal aplicação dos pellets de madeira, aqui no Brasil, é na geração de energia térmica para as indústrias e o comércio, sendo utilizado por pizzarias, padarias, hotéis, parques aquáticos, academias de natação, estufas de pintura, indústrias alimentícias, galvanoplastia a quente, lavanderias industriais, indústrias de ressolagens de pneus e indústrias de produtos plásticos, que consomem, aproximadamente, 99% da produção interna. Aplicações exóticas também são encontradas, como pellets para substituir a tradicional “areia do gato” e para combater doenças como a dengue, que utilizam em torno de 1% da produção nacional dos pellets de madeira.


Opiniões Nessas aplicações específicas, o baixo teor de umidade dos pellets, em torno de 6 a 10%, favorece a rápida absorção da urina dos pequenos animais. Pesquisa recente da Associação mostrou que temos cerca de 14 indústrias produzindo pellets no Brasil, com capacidade instalada para produzir até 460.000 toneladas/ano. A maior parte dessas indústrias operam nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, principalmente para aproveitar os subprodutos das inúmeras indústrias de base florestal dessas regiões. Dados dos desenvolvedores de equipamentos para a queima dos pellets mostram que eles são economicamente competitivos quando comparados com o gás natural ou óleo BPF e que são importantes combustíveis utilizados pela área industrial. Se acrescentarmos a questão das emissões dos gases do efeito estufa, as vantagens dos pellets é ainda maior, uma vez que são biocombustíveis neutros nas emissões dos gases do efeito estufa (GEE), ou seja, os gases emitidos na queima são os aprisionados quando do crescimento da árvore, e isso equilibra as emissões para a atmosfera, ao contrário dos derivados do petróleo. Aliás, questões ambientais e os novos acordos de redução de emissões assinados pelos países desenvolvidos são fortes propulsores do mercado internacional de pellets de madeira, deixando-o em destaque e aumentando a procura por essa fonte de energia de baixo carbono. Segundo os dados do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU, as emissões de CO2, da combustão de combustíveis fósseis, contribuíram com cerca de 78% do aumento das emissões dos GEE no período de 1970 a 2010. Os europeus têm metas rígidas de redução desses gases, e a utilização dos pellets parece ser uma saída rápida para o atingimento desse objetivo. Durante os últimos anos, os pellets de madeira vêm se tornando um importante combustível mundial, especialmente na Europa, onde seu mercado é um grande negócio, estável e rentável. A Associação Europeia de Biomassa Aebiom, prevê um consumo de 50 milhões de toneladas de pellets para 2024, o que representa mais de três vezes o consumo atual. Esse biocombustível já é considerado um dos maiores produtos de biomassa sólida comercializados internacionalmente. No Brasil, os padrões de qualidade do ar são estabelecidos por meio da Resolução nº 436 do Conama, que define os limites de emissões para poluentes atmosféricos provenientes dos processos de geração de energia térmica a partir da combustão da madeira. As emissões brasileiras do setor de energia são pouco representativas no contexto global, devido à matriz energética relativamente limpa do País, de fundamento hidroelétrico. Mesmo assim, muitas empresas estão substituindo os poluentes derivados do petróleo por pellets, alcançando os benefícios enconômicos, bem como o marketing ambiental que a energia limpa proporciona. Recente estudo sobre as emissões gasosas de monóxido de carbono (CO) de três tipos de pellets produzidos com pinus, eucaliptos e casca de pinus mostrou que os pellets de madeira atendem, com folga, aos limites impostos pela norma vigente do Conama. Mas a utilização energética da casca de pinus está condicionada à utilização de tecnologias de controle das emissões e dos particulados. Mesmo que o Brasil não esteja entre os maiores emissores dos GEE, precisamos encontrar formas de mitigação,

pois sabemos que o problema do aquecimento global não obedece a fronteiras territoriais. Substituir derivados do petróleo por pellets de madeira é uma ação ambientalmente correta que atende às necessidades da sociedade atual, pois atua nesse contexto global. Os países mais ricos e mais industrializados sabem que a maior parte dessa conta é deles. O acordo histórico para reduzir emissões, assinado recentemente entre China e EUA, além de outros países europeus, é uma comprovação do mea-culpa deles. Mas, se o mercado interno está sendo desenvolvido e a demanda externa, muito aquecida, por que o Brasil não é um grande exportador dessa commodity? A resposta a essa pergunta é de antigo conhecimento dos empresários brasileiros: falta competitividade à indústria de pellets. Apesar das ótimas condições edafoclimáticas do País para a implantação de reflorestamentos, problemas como a falta de estruturas dos portos, altos custos logísticos relacionados ao transporte rodoviário e falta de equipamentos com tecnologia apropriada para a produção mais eficiente são os desafios impostos à nossa indústria para viabilizar novos projetos. Além disso, costuma-se confundir, aqui no Brasil, a “compactação de resíduos” com “produção de pellets”: Compactar resíduos sem critérios, qualquer equipamento faz. Mas a arte de produzir pellets com padrão de qualidade e de forma mais eficiente é para poucos. Para isso, exige-se conhecimento, competência e equipamentos com tecnologia comprovada na produção de pellets de madeira. Os primeiros estudos e os primeiros passos da indústria de pellets de biomassa no Brasil já foram dados. A demanda crescente do mercado internacional por energia renovável indica quais serão os próximos. O Brasil não pode perder a oportunidade de tornar-se líder na produção e na exportação desse biocombustível.


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as inovações

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Assumindo-se que o Brasil tenha 6 milhões de ha de plantações de eucaliptose, e que 20% esteja passando pela renovação ... seria 1,2 milhão de ha onde se faria necessária a remoção dos tocos para facilitar os trabalhos de implantação e de manutenção ... com 24 milhões de toneladas de cavacos com umidade em torno de 30%. "

Laércio Couto

Membro da WBA - World Bioenergy Association

O Brasil possui 236 milhões de hectares de terras destinadas para a agricultura, pecuária e florestas plantadas, sendo que essas últimas ocupam algo em torno de 6 a 7 milhões de hectares, 0,7% do território nacional. Um País de dimensões continentais como o Brasil, com as condições climáticas e edáficas aqui existentes e com a topografia favorável, principalmente nos biomas cerrado, na caatinga e nos pampas sulinos, deveria aproveitar melhor esses fatores de produção para ter a biomassa florestal necessária para diminuir cada vez mais a dependência dos combustíveis fósseis. As instituições de ensino e de pesquisa, bem como as empresas do setor florestal brasileiro, têm feito, ao longo do tempo, desde a introdução do eucalipto por Edmundo Navarro de Andrade, em Rio Claro, São Paulo, o seu dever de casa. São mais de 100 anos de pesquisas e desenvolvimento que contribuíram para que o Brasil seja, hoje, conhecido e respeitado como um dos mais avançados na área da eucaliptocultura. Nossas plantações de eucaliptos são estabelecidas, hoje, com um avançado grau de tecnologia, e o seu produto, a biomassa de eucaliptos, alimenta vários segmentos e indústrias do setor florestal brasileiro: carvão vegetal, papel e celulose, laminados, compensados, chapas de madeira reconstituída, chapas de fibras, madeiras serradas, madeiras tratadas para os mais diversos fins, biomassa para produção de vapor, eletricidade e biocombustíveis. No campo da silvicultura, pode-se citar o advento do plantio adensado de curta rotação para a produção de biomassa para energia, em trabalho de tese de doutorado no Departamento de Engenharia Florestal da UFV, com o apoio da Cemig, MME, Aperam Bioenergia, Capes, CNPq e Renabio, no período de 2001 a 2005, como um dos mais importantes.

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Esse trabalho resultou no World Bioenergy Award 2010 para o Brasil e o Presidente da Renabio naquela época. O plantio adensado de eucaliptos para a produção de biomassa para energia em curta rotação permite que se alavanquem os empreendimentos de produção de vapor e de eletricidade em diversas regiões do País, a curto prazo, mesmo quando ali não existe a base florestal. Posteriormente, se for o caso, plantios tradicionais poderão ser, então, estabelecidos para continuarem a fornecer a biomassa para os processos produtivos locais. O interessante é que, inicialmente desenhados para atender às necessidades de produção de vapor e de eletricidade, esses plantios adensados de curta rotação se mostraram também adequados para abastecer as fábricas de MDF. Podem também ser usados para a produção de cavacos para fábricas de papel quando a tecnologia permite o uso da casca, o que ocorre, por exemplo, em países como a Índia, com plantações jovens de eucaliptos. O melhor exemplo de um plantio semiadensado de eucalipto para produção de biomassa para energia encontra-se em Alagoinhas, na Bahia, destinada para a ERB - Energias Renováveis do Brasil, em seu projeto pioneiro com a Dow Chemical no



visão de entidades Polo Petroquímico de Camaçari. No caso de biomassa para produção de MDF, o melhor exemplo é o da Duratex, em Lençóis Paulista, São Paulo. Não se pode deixar de mencionar a grande área experimental instalada pelo Grupo Bertin na região de Lins, São Paulo, que resultou em grande divulgação do sistema, em nível nacional e internacional. No setor sucroenergético, a URP - Usina Rio Pardo, foi a grande pioneira, plantando uma área piloto visando à produção de biomassa para a sua térmica em Avaré, São Paulo. A solução para a colheita dos plantios adensados de eucaliptos para a produção de biomassa para energia em curta rotação veio da Austrália, por meio do engenheiro mecânico Richard Sulman. O primeiro protótipo foi utilizado para a colheita de algumas áreas de eucaliptos na Austrália. Uma nova versão está sendo construída após visitas técnicas a empresas florestais no Brasil, para identificar as características dos seus plantios de eucaliptos e dos tipos de cavacos desejados. Essa versão deverá retornar para a área os resíduos, representados por folhas e galhos finos dos povoamentos colhidos, evitando, assim, a exportação de uma quantidade considerável de nutrientes do site. Posteriormente, poderá ser possível se proceder à produção de cavacos sem casca, podendo, assim, atender também ao setor de celulose e papel. Hoje, este tipo de equipamento atende aos empreendimentos destinados a produzir cavacos para a produção de vapor e de eletricidade, de MDF e de etanol de segunda geração. A produção de etanol celulósico a partir da ação de enzimas produzidas por empresas como a Novozymes em biomassa de eucalipto e a produção de biocombustíveis e de nanoprodutos a partir dessa matéria-prima florestal estarão, sem dúvida, na relação das próximas inovações que deverão ocorrer nos próximos anos. Por outro lado, não apenas da biomassa dos troncos das árvores, mas também dos tocos remanescentes das colheitas florestais, bem como das maiores raízes a eles agregadas, opção que se tornou possível graças a uma das maiores inovações que ocorreram neste ano no setor florestal brasileiro, com a chegada do Tyrex. Até então, não existia no Brasil um equipamento que permitisse a extração técnica e economicamente viável dos tocos de eucaliptos nas áreas de plantações de eucaliptos no sistema de talhadia, quando, em determinado momento, a empresa tinha em mente a substituição dos clones ali plantados, ou seja, nos casos de renovação das plantações florestais. Assumindo-se que o Brasil tenha 6 milhões de hectares de plantações de eucaliptos e que 20% dessa área esteja passando pela renovação acima mencionada, seria 1,2 milhão de hectares onde se faria necessária a remoção dos tocos para facilitar os trabalhos de implantação e de manutenção florestal, com uma considerável

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Opiniões redução dos custos da renovação dos povoamentos de eucaliptos. Por outro lado, caso essa biomassa de tocos e raízes de maiores dimensões que permanecem no solo caso não sejam extraídos, representa, pelo menos, 24 milhões de toneladas de cavacos com umidade em torno de 30%. A Caterpillar, juntamente com a PESA e a OperFlora, desenvolveram, neste ano, o Tyrex, um equipamento destinado a extrair os tocos de eucaliptos das áreas a serem renovadas, em uma das inovações de maior impacto, nos últimos tempos, no setor florestal brasileiro. Trata-se de uma pinça hidráulica desenvolvida pela Pesa, acoplada a uma escavadeira Caterpillar, com a capacidade de extrair uma média de 9 tocos por minuto em áreas planas nas operações conduzidas pela OperFlora, uma Empresa da Columbia Energia. Atualmente, as operações têm sido realizadas por várias empresas florestais nos estados de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e do Pará, devendo extender-se para outras regiões do País e até para o exterior. Os tocos são extraídos e enleirados no campo por um período aproximado de 30 dias para que possam perder uma parte de sua umidade e também as partículas de solo que ficam agregadas nas raízes que os acompanham. Em seguida, são removidos para a praça onde se localiza o picador, munido de peneiras, para produzir um cavaco com baixo teor de contaminação. Observou-se também que, além dos benefícios de redução do custo de implantação florestal, a extração dos tocos de eucaliptos permitem uma receita adicional com a venda da biomassa deles resultantes, que varia de 20 a 50 toneladas de cavacos por hectare, dependendo de os tocos serem de primeira ou de segunda ou de terceira rotação. Além disso, com a extração dos tocos e das raízes maiores que os Peacompanham, ocorre uma maior aeração do solo elagoas um aproveitamento maior das águas das chuvas que irão penetrar no solo ao invés de se perderem pelo escoamento superficial. Essa maior quantidade de água acumulada no solo irá promover um crescimento maior dos eucaliptos estabelecidos na área de onde os tocos foram extraídos.


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Opiniões

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Coautoras: Cristiane Vieira Helm e Patrícia Raquel Silva, Pesquisadoras da Embrapa Florestas

Atualmente, os custos associados à obtenção do etanol a partir de materiais lignocelulósicos ainda são mais elevados do que o etanol de primeira geração. Esperamos que a biomassa florestal possa se tornar mais uma alternativa viável para a produção de etanol no futuro. "

Mônica Caramez Triches Damaso Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

Com a industrialização e o aumento do poder de compra de todas as camadas sociais da população, surge a necessidade de produção cada vez maior de energia, na forma de combustíveis e energia elétrica. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética Brasileira, em 2013, 41% da produção de energia brasileira originou-se de fontes renováveis, o que coloca o Brasil em uma posição de destaque mundial. Embora o País apresente esse panorama favorável, não é possível a substituição total da matriz fóssil pela renovável.

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A Verde Forte trabalha na produção de mudas florestais e desenvolve práticas produtivas inovadoras como o consórcio semi-mecanizado de café e cedro australiano e sistemas de produção a baixo custo de madeira diferenciada para atender o mercado de madeira serrada e madeira imunizada.

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ensaio especial O aumento na demanda por energia, associado às recentes e contínuas descobertas de novas reservas fósseis, torna cada vez mais realista o conceito da integração das matrizes fóssil-renovável. O Brasil produz o álcool combustível mais competitivo do mundo, oriundo da sacarose contida na cana-de-açúcar. No entanto, o cenário energético atual não permite que os países fiquem restritos a poucas opções de biomassas, principalmente quando existe um grande potencial para sua diversificação, como é o caso brasileiro. Uma opção interessante, mas ainda em fase de estudos e desenvolvimento em bancada, é o etanol a partir de biomassas florestais. Elas se enquadram na categoria dos materiais lignocelulósicos, assim como a palha de cana-de-açúcar, que, neste ano, passou a ser matéria-prima para produção do biocombustível em escala comercial, com a inauguração da primeira planta do hemisfério sul, a GranBio (Alagoas). O setor florestal nacional apresenta grande potencial competitivo por possuir uma das melhores tecnologias do mundo para a implantação, o manejo e a exploração das florestas de eucaliptos. Isso amplia o potencial de participação dessa biomassa no mercado de bioprodutos e de agroenergia, além das aplicações convencionais de papel e celulose, carvão vegetal e lenha. Nas últimas quatro décadas, o País tem investido na ampliação da área de florestas plantadas. Em 2012, havia, no Brasil, 6.664.812 ha de florestas com eucalipto (76,6%) e pinus (23,4%), segundo o Anuário Estatístico 2013 da Abraf - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. A Embrapa Agroenergia e a Embrapa Florestas, em parceria com outras unidades da Embrapa e instituições de ensino e pesquisa, estão desenvolvendo um projeto que visa à obtenção de derivados energéticos a partir de biomassa florestal. Nesse projeto, existem linhas de pesquisa de produção de etanol combustível tanto a partir da biomassa florestal virgem como de resíduos da indústria de papel e celulose. No primeiro caso, o objetivo é avaliar a qualidade tecnológica de madeira pré-tratada para obtenção do álcool, por rota biotecnológica, testando-se diferentes espécies florestais. Para ser convertido a etanol, o material deve passar por uma etapa inicial de pré-tratamento para “afrouxar” a ligação da lignina com a celulose e a hemicelulose.

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Opiniões É nessas duas últimas que encontramos açúcares que, na etapa seguinte, a hidrólise enzimática, tornam-se disponíveis para a fermentação a etanol. Dois processos de pré-tratamento da biomassa estão sendo avaliados no projeto citado: a explosão a vapor e um tratamento alcalino baseado no conceito de polpação Kraft. O processo Kraft é, atualmente, o mais utilizado no Brasil para a produção de polpa de celulose e poderia ser adaptado para a obtenção de etanol e outros produtos de interesse. Isso possibilitaria às indústrias de celulose atuarem como biorrefinarias, podendo direcionar sua produção conforme o cenário econômico atual. Outras vantagens associadas a esse processo alcalino de pré-tratamento para a produção de etanol seriam: o aumento da disponibilidade de carboidratos com menor formação de inibidores para as etapas posteriores, além da menor geração de efluentes devido ao reciclo de químicos já existentes nas indústrias de papel e celulose. A lignina poderia ser aproveitada para a geração de energia, assim como já acontece no processo industrial de polpação, ou ser direcionada para a obtenção de químicos e materiais de maior valor agregado. O pré-tratamento por explosão a vapor tem sido indicado como uma das opções mais eficientes no fracionamento de biomassa lignocelulósica. Esse processo hidrolisa as hemiceluloses, além de modificar parcialmente a lignina presente. Nesse tratamento, o vapor é aplicado à biomassa contida em um vaso fechado e, dessa forma, penetra no interior da biomassa, que fica pressurizada. Sob pressão e temperatura desejadas e após um tempo definido, ocorre descompressão instantânea, causando fragmentação do material e facilitando a etapa posterior, que consiste na hidrólise enzimática. As enzimas utilizadas no processo de hidrólise serão produzidas por diferentes grupos da Embrapa que trabalham com o tema, e os resultados, comparados aos obtidos com enzimas comerciais. Em relação à produção de etanol utilizando resíduos da indústria de papel e celulose, pretende-se avaliar diversos tipos de subprodutos sólidos gerados por esse setor que apresentem potencial de conversão em etanol, por conterem teores significativos de celulose. Exemplos são os lodos gerados no processo de reciclagem de papel, cuja quantidade pode chegar a uma tonelada de lodo úmido por tonelada de papel produzido. A principal vantagem de seu aproveitamento seria o fato de essa matéria-prima não necessitar de pré-tratamento, por já ter sido submetida a um tratamento prévio das fibras durante o processo de produção do papel. Outro ponto positivo é o custo negativo desse material, considerando que se trata de um resíduo que tem sido, normalmente, depositado em aterros, demandando grandes investimentos e áreas de estocagem. Nesse sentido, pretende-se avaliar a viabilidade de produção de etanol a partir de resíduo da indústria de papel, com o objetivo de minimizar custos e impactos ambientais associados à sua destinação, bem como ampliar a possibilidade de produção do bioetanol. Também serão estudadas aplicações para os resíduos gerados nos processos de hidrólise e fermentação. Com base nos dados obtidos, serão feitas análises econômicas e financeiras preliminares dos novos processos propostos para a produção de etanol. Atualmente, os custos associados à obtenção desse biocombustível a partir de materiais lignocelulósicos ainda são mais elevados do que os envolvidos na produção do etanol de primeira geração. Isso se deve a gargalos tecnológicos, como a necessidade de etapa adicional de pré-tratamento e os custos associados às enzimas hidrolíticas. No entanto esperamos que, com os avanços tecnológicos obtidos nas pesquisas e mudanças no cenário econômico, social e ambiental, a biomassa florestal possa se tornar mais uma alternativa viável para a produção de etanol no futuro.



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