A floresta plantada e o povo que dela vive - OpCP31

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 10 - Divisão F - número 31 - mar-mai 2013

a floresta plantada e o povo que dela vive




índice

a floresta plantada e o povo que dela vive Celulose & Papel:

Editorial:

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Carlos Alberto Roxo

Diretor de Sustentabilidade da Fibria

Visão estratégica:

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Moacir José Sales Medrado

Diretor da MCA - Medrado e Consultores

Siderurgia: Roosevelt de Paula Almado

Gerente de Pesquisa Florestal da ArcelorMittal Bio

Alexandre V. Mello

Assessor de Sustentabilidade da V&M do Brasil

16 18 20 23 26 28 30 34

Sandro Morais Santos

Gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Cenibra

Tulio Gomes

Diretor de Negócios Florestais da Celulose Irani

Otávio Cardoso Fernandes Pontes

Vice-presidente da Stora Enso América Latina

Eliete Maria Luiza e Ricardo Simonetti

Executivos da Bahia Specialty Cellulose e Copener

Walter Coelho

Fornecedores do Sistema:

32 36

Karla Camargo

38

Maria José Brito Zakia

40

Gabriela Burian e Fabio Scarano

Gerente de Operações Florestais da MWV Rigesa

Lizzi Colla

Gerente de Sustentabilidade da International Paper

Jorge Rafael Barbosa Almeida

Coordenador de Operações Sociais - Fundação Jari

Gerente de Segurança Alimentar para AL - Syngenta

Paulo Herrmann

Presidente da John Deere Brasil

Consultoria especializada: Diretora da Práxis Assessoria Socioambiental

Ensaio Especial Diretora Global de Ecossistemas Agrícolas Sustentáveis da Monsanto e Vice-Presidente para as Américas da Conservação Internacional

Sergio Sesiki

CEO da Cia Melhoramentos de SP - CMSP

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: opinioes@RevistaOpinioes.com.br Diretor de Operações: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br - Gerente de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - Fone: 16 3965-4606 VRDS@RevistaOpinioes.com.br - Vendas: Beatriz Furukawa - 16 3965-4698 - BF@RevistaOpinioes.com.br • Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br - Apoio a Vendas: Fernanda Aparecida da Silva e Silva - FS@Revista Opinioes.com.br - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismorevistaopinioes.com.br - Edição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Projetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - juliaBR@revistaopinioes.com.br - Projetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - luisaBR@revistaopinioes.com.br - Freelancer da Editoria: Aline Gebrin de Castro Pereira - Consultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha - Correspondente na Europa (Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de - Desenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - mg@revistaopinioes.com.br Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Agência de Propaganda: Agência Chat Publicom - Fone: 11 3849-4579 - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Foto da Capa e Índice: Heider Alexandre dos Santos Torres - Comunicação Corporativa Grupo Jari Fone: (93) 3736-6210 - heider.torres@jaricelulose.com.br - Fotos das Ilustrações: Acervo Revista Opiniões - Fotos dos Articulistas: Acervo Pessoal - Tiragem da Edição: 5.500 exemplares Veiculação: Comprovada por documentos fiscais de pagamento da Gráfica e de Postagem dos Correios - Edição online: Leia online em nosso site a revista original, tal qual como foi impressa. Estão disponíveis todos os artigos de todos os articulistas de todas as edições de todas as divisões desde os seus lançamentos - Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br

Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano


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editorial

sustentabilidade e negócios no

planeta

em mutação

Sustentabilidade ainda é um conceito pouco compreendido pelo grande público, embora o tema apareça com frequência cada vez maior na mídia, na literatura e até no dia a dia das pessoas. Muitos acham que desenvolvimento sustentável significa crescer realizando compensações para que o meio ambiente e a sociedade, impactados pelos efeitos da expansão econômica, sejam “ressarcidos” de alguma maneira. Na realidade, existe uma grande diferença entre tomar medidas paliativas para tentar contrabalançar os efeitos nocivos de determinada atividade econômica no meio ambiente – como plantar árvores para neutralizar as emissões de CO2, ou fazer doações filantrópicas – e ter a sustentabilidade como elemento fundamental das estratégias de negócio.

não há como fugir dos problemas intrínsecos ao crescimento econômico e populacional do planeta. É preciso enfrentá-los ou enfrentá-los, não havendo rota de fuga. "

Carlos Alberto Roxo Diretor de Sustentabilidade e de Relações Corporativas da Fibria

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Opiniões No caso da indústria de papel e celulose, e falando mais especificamente da Fibria, a sustentabilidade está na gênese da sua existência, que é baseada em recursos naturais renováveis – eucaliptos plantados, que, se não forem adequadamente repostos, levarão à exaustão da empresa. Por isso plantamos eucaliptos e, no intuito de fazê-lo bem, mantemos e regeneramos florestas nativas e temos mais de 35% de nossa área total destinada à preservação. Em nossas unidades de produção, esses eucaliptos são convertidos em celulose, com altos níveis de controle ambiental, suprindo, a partir daí, os mercados brasileiro e mundial da matéria-prima que dá origem ao papel, que, em suas diversas formas, é um produto essencial na nossa sociedade. Procuramos também fazê-lo apoiando o desenvolvimento das comunidades do entorno das nossas operações, por mais difícil que seja fazer isso em um país com as desigualdades e as contradições do Brasil. Além do presente, encaramos também a sustentabilidade sob a ótica do futuro. Desde o século passado, o mundo vem experimentando uma mudança vertiginosa, e, olhando as projeções sobre como essas mudanças evoluirão no médio e longo prazo, verificamos que não há como fugir dos problemas intrínsecos ao crescimento econômico e populacional do planeta. É preciso enfrentá-los ou enfrentá-los, não havendo rota de fuga. De fato, as projeções de influentes modelos indicam que, até 2050, a população global ultrapassará 9 bilhões, a produção de alimentos aumentará em mais de 70%, as mudanças climáticas – além de impactarem a vida em várias dimensões – afetarão a produtividade agrícola em todas as regiões do Planeta, a demanda por fibras florestais (madeira e papel) continuará a crescer e o uso de biocombustíveis requererá extensas áreas, competindo com outros usos já estabelecidos. E, para ser sustentável, o enfrentamento desses desafios precisa ser feito de forma compatível com a proteção dos ecossistemas nativos, cada vez mais ameaçados, e a inclusão social de milhões de pessoas hoje marginalizadas. Com esse contexto em mente, a Fibria, entre outras ações, elaborou um conjunto de metas de longo prazo (2025), que, além de fixarem compromissos, sinalizam as direções em que a empresa está empenhada em priorizar seus esforços. Essas metas, alinhadas ao planejamento estratégico da empresa, não significam o abandono de metas em outros temas, que poderão ser tratados por metas anuais, ou mesmo virem a se tornar metas de longo prazo. São, a rigor, seis metas. A primeira diz respeito à redução em um terço da área florestal necessária para a produção de uma mesma quantidade de celulose, por meio do aumento da produtividade atual, de 10 toneladas de celulose/hectare/ano, para 15 toneladas hectare/ano. Com isso, haverá menor concentração fundiária, maior disponibilidade de terras para outros usos e aumento de competitividade, com maior retorno para os acionistas. Essa meta tem um forte componente de inovação, pois busca dar um salto de qualidade no atual paradigma de produtividade florestal e industrial. A segunda meta, bastante ambiciosa, mas perfeitamente factível, é a de duplicar a absorção de carbono da atmosfera, aumentando o sequestro líquido de carbono dos atuais 5,5 milhões de toneladas/eq/ano para

11,1 milhões de ton/eq/ano, por meio do aumento das áreas florestais e da restauração de áreas degradadas. O balanço é calculado levando em conta a absorção e a emissão de carbono em todo o ciclo de responsabilidade da empresa, do plantio das mudas à entrega da celulose nos vários mercados. A terceira de nossas metas diz respeito à proteção da biodiversidade, ameaçada pela extinção de espécies a um ritmo que nem conseguimos calcular. Comprometemo-nos a promover, até 2025, a restauração ambiental de 40 mil hectares de áreas próprias, com plantios de espécies florestais nativas e estímulo à regeneração natural. A quarta meta objetiva aumentar a ecoeficiência de nossas operações industriais através da redução em 91% da quantidade de resíduos sólidos industriais destinados a aterros. Trata-se de uma meta também ambiciosa, pois significa diminuir a quantidade de resíduos encaminhados para aterro de 60 kg para 5 kg por tonelada de celulose, por meio da diminuição de geração de resíduos nas fábricas, por um lado, e reutilização dos resíduos no solo, por outro. As duas últimas metas estão no campo social e são igualmente ambiciosas. A quinta meta explicita nossa intenção de elevar para 80% o índice de aprovação nas comunidades vizinhas às nossas operações. Hoje, essa taxa está em 50%, e, para elevá-la, será necessário melhorar a qualidade do relacionamento com as comunidades e apoiar os seus esforços de desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural. A sexta meta, complementar à quinta, é a de ajudar essas comunidades a tornar autossustentáveis 70% dos projetos de geração de renda apoiados pela empresa – hoje essa taxa está em 5% –, fortalecendo sua independência. Para isso, trabalhamos na ampliação do modelo PDRT – Programa de Desenvolvimento Rural e Territorial. Realizado em parceria com diversos órgãos públicos e baseado numa rede de compartilhamento de informações e recursos das próprias comunidades, o PDRT envolve a oferta de assistência técnica especializada aos moradores, a orientação para a comercialização dos produtos em programas governamentais de incentivo à agricultura familiar e cursos de capacitação profissional, tendo como premissa básica o respeito à vontade e o protagonismo das próprias comunidades. A verdade é que as aceleradas mudanças ocorridas e sua evolução futura estão transformando a sociedade e também o ambiente de negócios, exigindo novos paradigmas para a sobrevivência das empresas. O sucesso do passado não é mais garantia de sucesso futuro, e, como ensinou Darwin sobre as espécies, os vencedores não serão necessariamente nem os maiores nem os mais fortes, mas os que melhor se adaptarem. É preciso adaptar-se rapidamente, e é o que estamos procurando fazer, em um mundo de regras mutantes, com múltiplos atores inseridos na sociedade em rede, ambientes totalmente conectados e valores ambientais e sociais cada vez mais centrais para a sociedade. Ao fazê-lo, acreditamos que estamos alinhados a vários outros atores – empresas, ONGs, governos, comunidades –, na tentativa de minimizar os inevitáveis ônus do desenvolvimento do planeta, ao invés de simplesmente pagar por eles depois que a conta chegar.

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visão estratégica

Opiniões

floresta

do povo para o povo

Não se pode negar que este país megadiverso, chamado Brasil, uma das nações biologicamente mais ricas do planeta, desde o descobrimento, tem tido suas florestas ameaçadas, via desmatamento, para a conversão de paisagens naturais em outras paisagens exigidas pelo estabelecimento de atividades voltadas ao desenvolvimento socioeconômico, por vezes, assentado na superexploração dos recursos naturais. Essa destruição das florestas e de seus habitantes primitivos não ocorreu para que outros povos adentrassem a floresta para nela viver ou para explorá-las – exceto no caso da extração de minérios –, mas, sim, para substituí-las por cidades, povoados e vilas. Por isso a conversão dos habitats em paisagens agrícolas e/ou florestais industriais – e, por muitas vezes, em terras degradadas – foi o impacto principal que causamos sobre o ambiente natural.

"

Espera-se que, com essa lei, fique entendido que foi criado ... o conceito de floresta do povo para o povo, legitimando o uso das florestas naturais pelos povos-da-floresta, pelos povos-na-floresta e pelas pessoas de fora da floresta que, apesar de não viverem nela, necessitam de seus serviços ambientais " Moacir José Sales Medrado

Diretor da MCA - Medrado e Consultores Agroflorestais Associados

No que diz respeito ao setor florestal, em alguns casos, as pessoas de fora da floresta substituíram os povos-da-floresta – os indígenas – sem, no entanto, alterar as florestas, substancialmente, sem transformá-las em paisagens urbanas. Um desses casos diz respeito aos seringueiros na Amazônia. É provável que eles sejam a primeira geração do que denomino povos-na-floresta a ser reconhecida nacionalmente.

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A partir deles e graças à luta articulada por Chico Mendes, tais povos deixaram de ser invisíveis para serem, junto com os povos-da-floresta, o centro das atenções de ambientalistas, ecologistas e ecodesenvolvimentistas quando tratam de desenvolvimento sustentável. A partir do movimento liderado por Chico Mendes, os povos-na-floresta não mais se restringiram aos seringais. Eles passaram a viver em reservas extrativistas, áreas de manejo florestal comunitário, projetos de assentamento agroextrativista, projetos de desenvolvimento sustentável, projetos de assentamento florestal e, infelizmente, até mesmo em áreas localizadas no interior de unidades de conservação de uso direto e indireto.



visão estratégica Estamos, portanto, vivenciando uma época em que a floresta tropical deixou de ser, unicamente, uma moradia do povo tribal. Ela passou a acolher, também, pessoas que ainda estão em processo de adaptação a esse tipo de moradia. Os movimentos sobre as florestas brasileiras, e suas consequências sobre o ambiente, exigiram a regulamentação do seu uso. Para tal, por último, o governo brasileiro, ouvindo a população, reiterou, através da Lei 12.727, de 17 de outubro de 2012, modificada pela Medida Provisória 571, que as florestas existentes no território nacional e demais formas de vegetação nativa são bens de interesse comum a todos os habitantes do País e que todos terão a responsabilidade com: 1. a preservação, não somente das florestas, mas também das demais formas de vegetação nativa, da biodiversidade, do solo e dos recursos hídricos; 2. a integridade do sistema climático, para o bem-estar das gerações presentes e futuras; 3. a função estratégica da produção rural na recuperação e na manutenção das florestas e demais formas de vegetação nativa; 4. a função das florestas na sustentabilidade da produção agropecuária; 5. o estabelecimento de um modelo agropecuário e florestal ecologicamente sustentável, que concilie o uso produtivo da terra e a contribuição de serviços coletivos das florestas e demais formas de vegetação nativa privada; 6. a integração entre a Política Nacional do Meio Ambiente, a Política Nacional de Recursos Hídricos, a Política Agrícola, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, a Política de Gestão de Florestas Públicas, a Política Nacional sobre Mudança do Clima e a Política Nacional da Biodiversidade; 7. a necessidade de fomentar a inovação para o uso sustentável, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa. Por fim, estabeleceu a responsabilidade comum de União, estados, Distrito Federal e municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e a restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais. Alem disso, propôs a criação e a mobilização de incentivos jurídicos e econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis. Espera-se que, com essa lei, fique entendido que foi criado, a partir do jogo legítimo de interesses da sociedade, o conceito de floresta do povo para o povo, legitimando,

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Opiniões dessa forma, o uso das florestas naturais pelos povos-da-floresta, pelos povos-na-floresta e pelas pessoas de fora da floresta que, apesar de não viverem nela, necessitam de seus serviços ambientais, na forma de floresta urbana e, também, na forma de floresta plantada para recuperação de passivos ambientais por nós estabelecidos ao longo de nossa história agrícola, industrial e do processo brasileiro de urbanização. O conceito de floresta do povo para o povo, quando trata da “função estratégica da produção rural na recuperação e manutenção das florestas” incorpora, também, o estabelecimento de plantações florestais comerciais (principalmente as certificadas) que ajudarão a: 1. diminuir a pressão sobre as florestas naturais, possibilitando que elas sejam utilizadas para seus fins mais nobres, como a manutenção da biodiversidade, a prestação de serviços ambientais e a geração de produtos biotecnológicos; 2. gerar energia para complementar e tornar mais limpa nossa matriz energética, evitando a utilização de madeiras de vegetação natural para produção de carvão; 3. gerar riquezas através da exportação de papel, celulose e produtos de madeira com alto valor agregado; 4. gerar desenvolvimento sustentável de seu entorno através de programas de fomento florestal a pequenos agricultores, principalmente via utilização de sistemas agroflorestais. Por fim, espera-se que sejam estabelecidas políticas públicas que possam: 1. modificar totalmente a situação de penúria em que vivem os indígenas brasileiros, dando-lhes segurança em seus limites e qualidade de vida como seres humanos dignos; 2. resolver a situação das ocupações das unidades de conservação (estima-se que, para cada 100 hectares de floresta protegida, 23 hectares estão ocupados de forma irregular) e das famílias que as ocupam; 3. assegurar a conservação dos recursos naturais de forma estrategicamente localizada nos biomas nacionais e não de forma caótica, muitas vezes voltada simplesmente para evitar que a silvicultura ou a agricultura comercial se estabeleça e prospere; 4. retirar os entulhos burocráticos que têm travado o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, com destaque para a silvicultura comercial; e 5. contribuir para que o fomento florestal não pereça – isso tem ocorrido em alguns locais –, mas, ao contrário, se fortaleça e se modernize. Só assim, teremos, efetivamente, uma floresta de todos para todos em benefício do Brasil e do planeta.


siderurgia a eicas

Opiniões

a floresta e a O setor florestal é um dos mais importantes produtores de água do setor produtivo nacional; o setor, segundo dados da Abraf/2012, tem, sob sua responsabilidade, aproximadamente 2 milhões de hectares de mata nativa, entre reservas florestais legais (RLs) e áreas de preservação permanente (APPs) nos principais biomas brasileiros. No perímetro do bioma mata atlântica, temos 100 milhões de brasileiros que se beneficiam das águas geradas pela floresta, que formam diversos rios que abastecem cidades e metrópoles brasileiras. Um estudo do WWF também mostrou que mais de 30% das 105 maiores cidades do mundo dependem das florestas para seu abastecimento de água. Seis capitais brasileiras foram analisadas no estudo, sendo cinco na mata atlântica: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza. A tendência mundial se confirmou também no Brasil, pois, com exceção de Fortaleza, todas as cidades pesquisadas dependem, em maior ou menor grau, de áreas protegidas para o abastecimento. Intencionalmente, citei o setor produtivo porque a disponibilidade de água vem sendo a premissa básica e a mais preocupante ameaça à instalação e à permanência de um empreendimento econômico na atualidade; a possibilidade do desabastecimento de água devido às mudanças significa-

"

água

ou retirada dos lençóis freáticos em quantidades superiores à reposição natural. O ano de 2012 foi atípico quanto à ocorrência de chuvas em várias regiões do Brasil. Em Pirapora, por exemplo, que é uma cidade localizada na região norte de Minas Gerais, a precipitação média é de 1150 mm, de acordo com as normas climatológicas de 1961 a 1990. Esse volume de chuvas é semelhante ao que ocorre no município de Carbonita-MG. Em 2012, choveu apenas 870 mm. Em Carbonita, choveu apenas 653 mm em 2012, ou seja, aproximadamente 57% em relação à média histórica. Em setembro de 2012, no auge do período seco em Minas Gerais, registraram-se ocorrências de morte de plantios florestais por déficits hídricos. Em uma empresa, na região de Pirapora, houve morte total das plantas (déficit hídrico forte) em 6% da área plantada, houve mortes parciais (déficit hídrico intermediário) em 13% e sintomas severos sem mortes (déficit hídrico pouco intenso) em 18% da área da fazenda. A quantificação das áreas foi feita a partir de interpretação de imagens de satélite; a técnica de sensoriamento remoto é potencial para monitorar comportamentos ecofisiológicos da floresta.

é essencial que as empresas saibam" as chuvas das úento sua pegada hídrica; para isso, necessitam ter indicadores de desempenho monitorados e gerenciados de forma a desenvolver processos cada vez mais eficazes no uso da água nos seus processos produtivos " Roosevelt de Paula Almado

Jorgk Gerente de Pesquisa Florestal, Sustentabilidade e Meio Ambiente da ArcelorMittalDiretoracional BioFlorestas

tivas no ecossistema tem induzido crescentes alterações no comportamento de diversos atores no setor público, privado e na sociedade civil. Aumentam as leis e as regulamentações por parte dos governos e a pressão exercida sobre as empresas pelos grupos de interesse, sejam eles acionistas, organizações não governamentais ou clientes. A tendência é que esse quadro se torne mais complexo à medida que os diversos grupos de interesse vão aferindo a gravidade da situação. Segundo o relatório síntese da Millenium Ecosystem Assesement (Avaliação Ecossistêmica do Milênio), uma parcela entre 5 a 20% da captação de água para uso industrial ou doméstico não é sustentável no longo prazo, uma vez que a água é obtida por transferência de bacia hidrográfica

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siderurgia Recentemente, tivemos uma reunião muito interessante sobre a indução de chuvas localizadas por processo físico, que é uma tecnologia limpa, nacional e patenteada, resultante de 12 anos de pesquisa com mais de 1.000 voos realizados e mais de 600 chuvas induzidas. A nossa preocupação, logicamente, é a perda de produtividade da cultura pela falta de água. Realizamos um trabalho com o objetivo de avaliar a influência dos aspectos climáticos sobre a produtividade florestal em áreas da ArcelorMittal Bioflorestas, especialmente nas regionais de Carbonita e Martinho Campos; para isso, utilizamos o modelo 3-PG (Physiological Principles in Predicting Grouth), que é um modelo baseado em princípios fisiológicos, desenvolvido por Landsberg & Waring (1997). Resumidamente, trata-se de um sistema utilizado para estimar o crescimento de florestas homogêneas a partir de parâmetros ambientais. Segundo Lemos (2012), o modelo 3-PG calcula a absorção da energia solar pelas folhas, que é convertida em carboidratos, alocados nas folhas, nos galhos, na casca, no lenho e nas raízes. Para que o sistema 3-PG funcionasse corretamente, foi necessário parametrizá-lo com as variáveis ambientais do local para o qual se deseja realizar as estimativas de crescimento florestal. No ano de 2004, Stape et al. (2004) fizeram a parametrização do 3-PG utilizando dados experimentais coletados na região de Entre Rios-BA, em áreas da Copener. Outras parametrizações também já foram feitas para diversas regiões do Brasil, como Espírito Santo (Almeida et al., 2004); Vale do Rio Doce, em Minas Gerais (Silva, 2006); e Cerrados (Curvelo e Itamarandiba), em Minas Gerais (Borges, 2009). Utilizando-se o programa 3-PG com os parâmetros ajustados por Borges (2009), foram feitas duas simulações: na primeira, foram utilizados os dados climáticos (precipitação pluviométrica, temperaturas mínimas e máximas) das normais climatológicas (média dos anos de 1961 a 1990) estimadas a partir de interpolação de dados pelo site Tempo Agora, e, na segunda, foram utilizados os dados observados para o ano de 2012 nas duas regiões. Nas simulações, foram consideradas 1.111 plantas por hectare, já que esse é o número de plantas adotado durante a parametrização do 3-PG. De acordo com os resultados das simulações, aos 7 anos de idade, o crescimento em volume seria de 408 m3 ha-1 e o incremento médio anual (IMA), de 56 m3 ha-1 ano-1, caso o comportamento do clima fosse exatamente igual ao das normais climatológicas para a regional de Carbonita. Heuzeães A essa mesma idade, o volume produzido seria de 143 Pres SIF 3 -1 3 -1 -1 m ha e o IMA, de 19,8 m ha ano , caso o comportamento do clima fosse exatamente igual ao ocorrido durante o ano de 2012. Ou seja, as condições climáticas normais para a regional de Carbonita proporcionariam uma produtividade 2,8 vezes superior à que seria obtida se as condições climáticas de 2012 se repetissem ao longo de toda uma rotação florestal. Tratou-se de uma simulação, mas nos alerta sobre a sustentabilidade dos nossos plantios florestais; o desenvolvimento de técnicas de silvicultura racional deve levar em consideração as bases e a dinâmica dos recursos de crescimento das árvores (luz, água e nutrientes) de forma compatível com os componentes ambientais e o retorno econômico. O estresse hídrico é um fator limitante para Eucalyptus em Carjo todo o globo, o consumo de água aumenta com o cresimenCFO d to do eucalipto e pode influenciar a bacia hidrográfica onde

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Opiniões está plantado, por isso técnicas de planejamento ambiental e de silvicultura devem ser utilizadas na sua implantação. Estudos precisam ser ampliados para se determinar a eficiência no uso da água pelo eucalipto em todas as escalas, já que se trata de um fenômeno mais complexo. O binômio hidrologia x eucalipto vem despertando pesquisadores ao redor do mundo, que estão usando modelos baseados em processos para as florestas plantadas e para diferentes escalas (stand, bacias hidrográficas, regiões); esses modelos necessitam de parâmetros genéticos para sua geração. A linha de pesquisa relacionada aos mecanismos de uso e à regulação de água pelas plantações devem, necessariamente, levar em conta a interação entre os processos ecofisilógicos e a genética, principalmente porque há variabilidade genética em Eucalyptus sobre as estratégias de tolerância à seca, e o desenvolvimento de indicadores dos mecanismos fisiológicos específicos é essencial para triagem facilitada, com o objetivo de acelerar programas de melhoramento das empresas. Os genótipos têm uma elevada capacidade tampão em relação ao estresse ambiental, portanto a estabilidade é um valor a ser perseguido, com base no equilíbrio entre produtividade, qualidade do produto e resistência da planta ou tolerância aos agentes bióticos e abióticos. Não necessariamente o genótipo mais adequado é o mais produtivo. A pesquisa florestal nacional não está parada, as empresas têm se associado para entender melhor a dinâmica do ecossistema florestal plantado; para isso, foram criados o Programa Torre de Fluxo (EucFlux), que estuda o fluxo de energia, de água, de nutrientes e de carbono no ecossistema florestal, estimando a eficiência do uso desses recursos no crescimento da floresta de eucalipto, validando modelos ecofisiológicos que serão usados como ferramentas de análise da produção e da sustentabilidade do ecossistema, e o Programa Tolerância de Eucalyptus Clonais aos Estresses Hídrico e Térmico (Techs), que estuda os aspectos ecofisiológicos que interferem na tolerância do eucalipto a estresses hídrico e térmico nos principais clones do Brasil e pretende aprofundar o conhecimento da ecofisiologia do eucalipto, ao mesmo tempo que aproxima os estudos à área de melhoramento genético e hidrologia florestal. Além da fundamental questão da influência da água na produtividade, é essencial que as empresas saibam sua pegada hídrica; para isso, necessitam ter indicadores de desempenho monitorados e gerenciados de forma a desenvolver processos cada vez mais eficazes no uso da água nos seus processos produtivos. Para isso, devem estratificar o consumo, definindo metas e prioridades por área. O correto uso da água pelo setor passa pela outorga do uso de recursos hídricos e do seu gerenciamento, o uso de alternativas para redução de água, como projetos de recirculação de água nos viveiros florestais, e o uso do gel no momento do plantio, que, em média, reduziu de 4 litros de água por cova para 800 ml de solução – exemplos reais aplicados ao setor florestal. A transferência de conhecimento científico sobre a relação água e eucalipto é deficiente. É necessário melhorar a comunicação com os usuários potenciais e formuladores de políticas, através de eventos científicos e técnicos, cursos com participação de pesquisadores/silvicultores e produção de publicações com linguagem técnica adequada e de fácil acesso sobre o tema.


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siderurgia

florestas plantadas: fonte de valor para a

humanidade A diversidade da indústria brasileira, juntamente com a disponibilidade de recursos naturais, oferece ao nosso país uma gama de oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Hoje, aliar crescimento econômico com inclusão social e preservação ambiental é um tema constante e obrigatório nas agendas estratégicas das empresas e do governo e tem influência direta nos setores da economia. No segmento de florestas plantadas, por exemplo, essa visão sustentável já foi absorvida. Referência em agrosilvicultura, o setor nacional é um dos que mais crescem no País e ainda oferece boas alternativas para a geração de emprego e de renda.

a projeção feita pelo Ministério da Agricultura, de aumentar a área de florestas plantadas no País, até 2020, de 6.000.000 de hectares para 9.000.000, terá uma contribuição ecológica importantíssima " Alexandre V. Mello Assessor de Sustentabilidade da V&M do Brasil

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Opiniões Segundo dados do anuário estatístico 2012 da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), referente ao ano-base 2011, o valor bruto da produção florestal atingiu R$ 53,91 bilhões, representando um aumento de 4% em relação a 2010. Da mesma forma, também foi registrado um crescimento nos índices de empregabilidade em diversos segmentos da cadeia produtiva de base florestal plantada, passando de 4,69 milhões de empregos diretos e indiretos para 4,73 milhões. Além disso, as empresas associadas à Abraf investiram R$ 145 milhões em programas de responsabilidade social nas áreas de saúde, educação e cultura e programas sociais e de educação ambiental, beneficiando um grande número de pessoas nos municípios das regiões de influência das empresas. Muitas pessoas desconhecem as possíveis formas de aproveitamento das florestas plantadas, que vai muito além da utilização da madeira. Essas florestas contribuem de várias formas para o desenvolvimento socioeconômico do País. Um exemplo é a produção de energia. Sabe-se que as florestas são geradoras de energia por meio da biomassa. Hoje, mais de 60% da população mundial a utiliza como fonte energética, e 50% das energias renováveis são provenientes das florestas plantadas. As indústrias de papel e de cosméticos também dependem das florestas plantadas para a extração de celulose, essências e corantes. Na indústria medicinal, são essenciais para a produção de cápsulas de remédios. A madeira também é utilizada em larga escala na construção civil e na fabricação de móveis. As florestas plantadas têm outra função importante: os serviços ambientais. Elas protegem biomas, biomassa e a biodiversidade de várias regiões, atuando no controle da erosão, mantendo o volume de recursos hídricos e a qualidade do ar. Nesse sentido, a projeção feita pelo Ministério da Agricultura, de aumentar a área de florestas plantadas no País, até 2020, de 6.000.000 de hectares para 9.000.000, terá uma contribuição ecológica importantíssima: com a iniciativa, será possível reduzir a emissão de 8 a 10 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Outro serviço ambiental prestado pelas florestas plantadas é a recuperação de áreas degradadas, uma vez que muitas delas são cultivadas em áreas anteriormente utilizadas para pastos ou que tenham sido desmatadas sem novo aproveitamento. Dentro dessa perspectiva, o Ministério da Agricultura prevê o avanço na recuperação de 15 milhões de hectares de áreas degradadas, saindo dos atuais 40 milhões para 55 milhões nos próximos sete anos. Emprego e renda: Entre as pessoas que dependem diretamente das florestas plantadas, estão os trabalhadores que atuam na gerência e na operação das plantações. Suas atividades envolvem desde a gestão de viveiros, plantio, colheita, carbonização até a logística de entrega dos produtos finais. Geralmente, esses trabalhadores pertencem à comunidade onde as florestas estão inseridas. Um exemplo é a V&M Florestal (VMFL), subsidiária da V&M do Brasil, onde 96% dos empregados são das áreas vizinhas da empresa. Por isso uma grande preocupação do setor é promover a capacitação necessária para tais atuações, que pode ser feita por meio de parcerias com instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

Além dos empregos diretos, o modelo das fazendas plantadas permite incluir pequenos produtores em sua cadeia de negócio, otimizando a produção da propriedade e contribuindo para as economias locais. Um bom exemplo são as parcerias com as associações de apicultores. As empresas utilizam as áreas das florestas plantadas para a produção de mel, que pode ser comercializado. A contribuição da VMB: Com 22 fazendas plantadas no centro, norte e nordeste de Minas Gerais, as quais somam mais de 232 mil hectares, a VMFL possui diversos projetos que visam estimular o desenvolvimento local. Um deles é a parceria com associações de apicultores, que, somente em 2012, produziu mais de 110 toneladas de mel, com geração de renda de R$ 616 mil no período. No começo do projeto, em 2004, doamos vários equipamentos apícolas, como fumegador, caixas, uniformes e cera. Hoje, cedemos as florestas, uma vez que os 60 apicultores que participam do projeto já possuem condições de ampliar seus apiários. Também temos o projeto Poupança Verde, que visa fomentar pequenos produtores rurais a atuarem no plantio de bosques de eucalipto. Enquanto essa espécie vegetal cresce e atinge o ponto de ser processada, os produtores podem utilizar a área para desenvolver outras atividades, como agricultura e pecuária, de forma que tenham outra alternativa de trabalho e renda. Nós fornecemos todo o insumo necessário e fazemos o monitoramento, para que não sejam causados danos ao ecossistema local. Além disso, há parcerias com associações de catadores de recicláveis. Todo o resíduo gerado nas atividades de silvicultura que pode ser reciclado, como sucatas plásticas, metálicas, papel e papelão, é repassado às associações. No ano passado, doamos 140 toneladas de resíduos, com geração de renda de R$ 42 mil no ano. O transporte é feito por meio de parcerias com o poder público ou pela própria V&M Florestal. O projeto, que teve início em 2008, beneficia 43 famílias. Também faz parte das nossas ações de investimentos sociais a manutenção de 90 unidades de hortas para Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), que possibilita a geração de renda de R$ 45 mil ao mês, distribuídos entre 90 famílias atendidas pelo projeto. O objetivo é melhorar a qualidade de vida e proporcionar sustentabilidade para as comunidades rurais. Trata-se de uma nova alternativa de trabalho e de renda para a agricultura familiar, que beneficia qualquer produtor rural que queira melhorar a qualidade da produção, sem o uso de agrotóxicos, queimadas e desmatamentos. Isso estimula, ainda, o cultivo de alimentos mais saudáveis, tanto para o consumo próprio quanto para a comercialização. Por meio desses projetos e parcerias, é possível notar que são inúmeras as oportunidades de gerar riqueza para as comunidades próximas às florestas plantadas. Além da oferta de novos empregos, diretos e indiretos, há a possibilidade de se fazer investimentos em infraestrutura, estimular o consumo de bens de produção local e fomentar novos negócios, sem contar as iniciativas na área social. A indústria florestal é estratégica para o Brasil e sempre está em busca de soluções para propiciar condições econômicas favoráveis para garantir o desenvolvimento social.

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celulose e papel

Opiniões

a sustentabilidade na prática “Viabilizar economicamente ações sociais e ambientais”. Uma primeira leitura dessa frase possivelmente irá resultar, em boa parte das pessoas, num entendimento de como sendo originada de intenções e ações do terceiro setor, ou seja, iniciativas da sociedade civil organizada, ou talvez do primeiro setor (o público); dificilmente ocorrerá uma imediata associação com o segundo setor (o privado). Mas para quem conhece e vivencia o setor de florestas plantadas no Brasil em seu atual nível de desempenho, em termos de contribuição para o desenvolvimento e o bem-estar das comunidades, certamente a leitura e o entendimento serão um pouco diferentes. Os relatórios empresariais de sustentabilidade e os de performance setorial são uma interminável fonte de bons exemplos de como o setor tem elaborado e conduzido projetos sociais e ambientais que geram valor para a sociedade, e o que é mais importante, de forma sustentável. Ou seja, os projetos desenvolvidos por empresas florestais, que há uma década poderiam ser entendidos como filantropia, hoje são voltados para a indução de novos negócios, com geração de trabalho e renda, melhoria na qualidade de vida e conservação do patrimônio ambiental das empresas, de forma participativa, com o manejo adequado dos recursos naturais. Neste artigo, queremos demonstrar como a Cenibra desenvolve projetos sociais e ambientais com foco na sustentabilidade, dando condições para que os projetos, uma vez iniciados com a participação e o fomento da empresa, se perpetuem na geração de valor para a sociedade. Para conduzir esses projetos, foi criado, em 2002, o Instituto Cenibra, que tem, dentre suas várias estratégias, as de “realizar ações e firmar parcerias que contribuam para o desenvolvimento integrado e sustentável das comunidades inseridas em sua área de atuação” e “identificar e estimular potenciais de desenvolvimento regional”. Ou seja, a empresa possui uma estrutura organizacional específica, cuja função é identificar os potenciais de um território, promover a capacitação de atores locais e atuar como elemento fomentador para que os projetos, legitimados pela percepção de potencial e oportunidade das pessoas que vivem nesse território, se concretizem e se sustentem. Atualmente, o Instituto Cenibra viabiliza 32 projetos voltados para a geração de trabalho e de renda, envolvendo as comunidades vizinhas das florestas da empresa. Um desses projetos é a Parceria Apícola. O Instituto mantém contratos de parceria com associações de apicultores, permitindo o acesso e o uso das florestas nativas para instalação de apiários. O projeto possui grande significado social e econômico, pois cria novos postos de trabalho e uma fonte alternativa de renda para pequenos e médios

proprietários rurais. Do ponto de vista ambiental, os apicultores, que têm na natureza a fonte de matéria-prima, colaboram com a Cenibra na proteção das propriedades, ajudando a coibir o corte ilegal de árvores nativas, incêndios florestais e a caça e a pesca predatórias. Os apicultores têm os seus apiários com localização georreferenciada e circulam pelas áreas da empresa com crachá de identificação e selos nos veículos. Atualmente, onze associações de apicultores integram o programa, beneficiando 512 produtores rurais, e o programa conta com assistência técnica da Emater-MG. A Associação Regional de Apicultores e Exportadores do Vale do Aço, de Ipatinga, inclusive obteve certificado internacional de mel orgânico, exportando parte de sua produção para o mercado europeu, com alto valor agregado. Outro bom exemplo é o Projeto Chapeleiras, baseado no manejo da palmeira-indaiá para a obtenção de palha utilizada na confecção de chapéus. Partindo de uma vocação econômica e cultural da região da Serra dos Cocais, no município de Antônio Dias, o Instituto Cenibra firmou parceria com a Associação de Artesãos para organizar e viabilizar a geração de trabalho e de renda com as folhas da palmeira, envolvendo cerca de 500 pessoas. A coleta das folhas da palmeira para confecção de chapéus é uma atividade costumária, existente desde a colonização da região, há 200 anos. As folhas são colhidas mantendo a planta viva e permitindo a realização de coletas periódicas. Um plano de manejo está sendo viabilizado, em parceria com a UF-Viçosa, de forma a garantir que a coleta das folhas se mantenha como uma atividade viável e sustentável. Uma premissa desse plano é a de que as coletas serão feitas, preferencialmente, em palmeiras que regeneram no interior das plantações de eucalipto, evitando intervenções nas áreas protegidas e mantendo populações estáveis da palmeira-indaiá. Estão sendo também elaborados estudos para avaliação de outros potenciais ativos das áreas preservadas da Cenibra para geração de trabalho e de renda, como a candeia, o palmito, fármacos, fibras, etc. Com esses dois exemplos, percebe-se claramente um novo paradigma relacionado ao desenvolvimento de projetos sociais e ambientais por empresas do setor de florestas plantadas, com evolução para uma nova abordagem, baseada na sustentabilidade de negócios, envolvimento das comunidades vizinhas com geração de trabalho e de renda e uso sustentável dos recursos naturais. Os arranjos institucionais necessários para o desenvolvimento desses projetos propiciam uma condição de legitimação das ações das empresas pela sociedade, o que contribui positivamente para a manutenção de um ambiente seguro de atuação dos empreendimentos.

os projetos desenvolvidos por empresas florestais, que há uma década poderiam ser entendidos como filantropia, hoje são voltados para a indução de novos negócios " Sandro Morais Santos

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Gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Cenibra



celulose e papel

um exemplo muito bom A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo dependam da biomassa florestal. Boa parte desse contingente ainda utiliza madeira proveniente de florestas nativas sem qualquer tipo de manejo, provocando o desmatamento em uma época em que o mundo já dispõe de largo conhecimento científico acumulado e áreas suficientes para que essa demanda seja suprida apenas com madeira proveniente de florestas plantadas. Nesse sentido, há uma evidente necessidade de a sociedade organizada fomentar o plantio de árvores de rápido crescimento para atender a essa demanda, reduzindo, ao mesmo tempo, a pressão sobre as florestas nativas. Mesmo que estas últimas possam ser manejadas adequadamente de forma a suprir parte dessa necessidade, a contribuição das florestas plantadas é absolutamente vital. As florestas plantadas no Brasil e em outros países (China, Índia, EUA, Chile, África do Sul, Portugal, Espanha, etc.) representam uma alternativa sustentável – sob os pontos de vista econômico, social e ambiental – para se reduzir o processo de desmatamento das florestas naturais do nosso planeta. A produtividade das florestas plantadas no Brasil, por exemplo, é mais que 10 vezes superior ao das florestas naturais do País. Assim, ao contrário do que defendem algumas correntes ambientalistas, o estímulo ao plantio de florestas de rápido crescimento reduz a pressão por desmatamento das florestas naturais. Essas florestas têm sido usadas para atender às mais diversas necessidades do homem, mais especificamente energia – na forma de lenha, pellets, serragem – celulose, papel e embalagem, móveis, painéis de madeira para diversas finalidades, além de tanino, breu, terebintina, óleos essenciais – produtos de larga aplicação nas indústrias têxtil, cosmética, alimentícia, farmacêutica, de tintas, etc. A área coberta por florestas plantadas representa apenas 0,7% do território brasileiro. As principais espécies utilizadas são o eucalipto e o pinus, mas são encontradas também, mais regionalmente, a acácia negra, a teca, além de outras espécies. Essa área se espalha por todo o território nacional. O Brasil possui, hoje, cerca de seis milhões e meio de hectares de florestas plantadas. O conhecimento científico sobre o manejo dessas florestas tem se acumulado ao longo do tempo, notadamente nos últimos 50 anos, o que tem permitido a sua condução de acordo com princípios sustentá-

A Bracelpa estima que as florestas plantadas de empresas brasileiras removam do ar cerca de um bilhão de toneladas/ano de CO2 eq. " Tulio Gomes

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Diretor de Negócios Florestais da Celulose Irani

veis. Ao mesmo tempo em que são viáveis economicamente, seu manejo tem procurado seguir as mais modernas práticas ambientais, além de contribuir, de forma expressiva, para a redução, na atmosfera, dos níveis de gases geradores do efeito estufa. A riqueza gerada no seu entorno tem importante participação social no aumento de renda, de emprego, de disseminação do conhecimento, de fixação do homem ao campo e de elevação dos indicadores sociais das suas regiões de influência. As florestas plantadas estão, geralmente, associadas a empreendimentos industriais, do setor de celulose e papel, siderurgia, moveleiro, além de diversas outras aplicações. Nesse sentido, fazer parte de uma cadeia produtiva integrada tem permitido ao setor brasileiro de florestas plantadas, especialmente nos últimos 20 anos, acrescentar a essa cadeia uma nova categoria de empresários rurais, os chamados parceiros florestais. Estes, que participam da cadeia produtiva através de programas de parceria florestal ou arrendamento de terras, estão integrando cada vez mais essa cadeia produtiva. Esse relacionamento tem resultado em aumento de renda e conhecimento para os parceiros e para a sua fixação na zona rural. Por fazer parte de uma cadeia produtiva integrada e competitiva, o setor brasileiro de florestas plantadas contribui decisivamente para a balança comercial do País. Apenas o setor de papel e celulose tem gerado para o País superávit comercial anual superior a US$ 3 bilhões nos últimos anos. Isso significa geração de emprego e renda no País. Apenas para ficarmos em um exemplo, a Celulose Irani, empresa fundada em 1941, na região de Vargem Bonita, meio oeste de Santa Catarina, e que tem, hoje, como principais atividades a produção e comercialização de caixas de papelão ondulado, diversos tipos de papéis para embalagem, breu e terebintina, conta com uma base florestal plantada de pinus e eucalipto, da qual extrai a madeira, usada na fabricação de celulose, papel e embalagem, e a resina, empregada na manufatura de breu e terebintina. A empresa conta com 1.915 funcionários diretos e 789 indiretos (prestadores de serviço), divididos entre suas unidades florestais e industriais espalhadas por quatro estados brasileiros (RS, SC, SP e MG). A empresa exporta para mais de 30 países. A base florestal da Irani está localizada em cinco municípios da região meio oeste do estado de Santa Catarina e em cinco municípios do litoral do Rio Grande do Sul e é composta de 46,5 mil hectares de terras, dos quais 49% são dedicados ao


Opiniões plantio de pinus e eucalipto; os demais 51% são formados por florestas nativas (áreas de APP, reserva legal e outras áreas nativas), lagos e infraestrutura. Apenas as florestas plantadas de pinus e eucalipto são utilizadas na produção de madeira destinadas à fabricação de celulose – matéria-prima para a manufatura de papéis e embalagens –, resinas – matéria-prima empregada na fabricação de breu e terebintina – e energia de biomassa, além de madeira comercializada no mercado. Breu e terebintina, derivados da resina extraída das árvores de pinus, são produtos usados nas indústrias de tintas, cosméticos, saúde, alimentício, etc. Considerando os funcionários próprios e terceiros e seus dependentes – estimamos em três dependentes por funcionário –, concluímos que cerca de 10 mil pessoas dependem direta e economicamente da Irani. Um aspecto a ser considerado é o impacto positivo dos negócios da empresa sobre a vida das comunidades do seu entorno, em geral pequenas cidades ou vilas. Os funcionários da Irani representam parcela significativa da população dessas cidades. São pessoas que recebem seus salários da empresa e investem preferencialmente no município onde vivem; por receberem da empresa um Plano de Saúde privado, não oneram os custos municipais relacionados à saúde; diversas empresas sediadas nos municípios prestam serviço à Celulose Irani, e seus funcionários também dependem diretamente da empresa para seu sustento; as compras realizadas pela empresa nos municípios representam importante aporte de recursos financeiros, recursos estes que entram e são, majoritariamente, investidos localmente; doações de mudas de espécies nativas e parcerias com os municípios do entorno em atividades socioe-

ducativas também fazem parte da agenda de relacionamento da empresa com seus municípios vizinhos. Analogamente, a importância social das corporações na vida das pequenas cidades do interior do País é comum às nossas empresas de base florestal. Por possuírem suas bases florestais disseminadas nas zonas rurais do Brasil, levam riqueza, educação e cidadania a essas populações e, paralelamente, desoneram esses pequenos municípios de algumas das suas obrigações. Outra grande contribuição das florestas plantadas às populações do seu entorno é a absorção de gás carbônico durante o seu ciclo de crescimento. Por estarem em contínuo crescimento até o momento da colheita – 14 anos para o pinus e sete para o eucalipto –, as árvores plantadas absorvem, através do processo de fotossíntese, o CO2 presente na atmosfera. A Bracelpa - Associação Brasileira das empresas de Celulose e Papel, estima que as florestas plantadas de empresas brasileiras removam do ar cerca de um bilhão de toneladas/ano de CO2 eq. O fato é que nossas empresas de base florestal foram e seguem sendo competitivas em suas políticas e práticas de sustentabilidade. Sua evolução na gestão dos três pilares é exemplar para outros setores do Brasil e do mundo. Contudo precisamos aprofundar nossa comunicação com a população brasileira, mais especificamente com aquelas do entorno das nossas florestas e fábricas. É necessário mostrar-lhes o quanto elas participam dos nossos negócios, o quanto se beneficiam deles. Essa comunicação precisa ser realizada de forma direta e permanente com as principais lideranças – políticas, empresariais, educacionais, sociais, etc. –, em cada município onde atuamos. Ela ainda não tem sido realizada de maneira eficaz!

Doze anos no mercado de mudas de eucaliptos

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celulose e papel

Opiniões

as florestas plantadas e a

celulose

Existem hoje, no Brasil, cerca de 7 milhões de hectares de plantações florestais destinadas a uso comercial, fornecendo insumos para vários segmentos industriais, além de combustível para diversas aplicações, seja como lenha ou como carvão vegetal. Essas florestas começaram a ser plantadas há mais de 100 anos, para substituir o uso de madeira das florestas naturais, como lenha, e propiciaram o surgimento de setores muito competitivos da indústria brasileira, como os da cadeia de celulose e papel e de painéis, que têm importante papel na exportação e no atendimento ao mercado interno. Das primeiras plantações de eucalipto, acácia e pinus até hoje, houve uma extraordinária evolução tecnológica, fruto de estudos e pesquisas de universidades e empresas, que permitiram o desenvolvimento de variedades mais bem adaptadas aos diversos climas do País, com aumento significativo da produtividade. O resultado foi tornar o setor de florestas plantadas do País um dos mais competitivos do mundo, fato hoje reconhecido internacionalmente, além de criar milhares de empregos para profissionais de todos os níveis, desenvolver a engenharia florestal, possibilitar o crescimento econômico de diferentes regiões do País e trazer melhores condições de trabalho para os trabalhadores rurais. A sustentabilidade é uma preocupação constante do setor, em especial dos segmentos voltados ao fornecimento de matérias-primas para a indústria de celulose, de painéis e de outros produtos de maior valor agregado. As florestas plantadas para suprir a indústria desses segmentos é responsável, em

"

Essa é uma atividade de longo prazo, e é preciso garantir que, vinte, trinta e mais anos depois, ela continue a ser mantida com produtividade, bons resultados e sustentavelmente. "

Otávio Cardoso Fernandes Pontes Vice-presidente da Stora Enso América Latina

muitas regiões do País, pela preservação e pela recuperação da vegetação nativa, que chegam a representar 40% a 50% das áreas próprias das empresas nas regiões em que o bioma, como a mata atlântica, é o principal. Essa postura do setor decorre da consciência geral das empresas e de seus dirigentes e profissionais sobre a necessidade de preservação do planeta. E, ao lado disso, do reconhecimento que a legislação e a opinião pública estão cada vez mais exigentes, no Brasil e nos países desenvolvidos, o que obriga os produtores a manter padrões de sustentabilidade, para que sejam aceitos tanto

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localmente como por investidores e importadores. Em adição aos cuidados ambientais, as empresas vêm tendo atuação cada vez mais ampla em políticas sociais, buscando oferecer às comunidades em que estão instaladas novas perspectivas de desenvolvimento. As ações junto às comunidades fazem parte integral do projeto de instalação das unidades industriais. As exigências ambientais, sociais e econômicas crescentes das populações e do poder público são importante estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos nos diversos setores da indústria e do agronegócio. É preciso, no entanto, que elas tenham visão e aplicação positiva, para trazer mais qualidade nos investimentos, e não um viés negativo ou ideológico para impedir projetos bem planejados e executados. A maior parte dos projetos florestais foi e está sendo implantada em áreas desmatadas no passado para retirada de madeira, em muitos casos ocupadas, posteriormente, por criação extensiva de gado, em que o trabalho era, em geral, pouco ou nada formalizado. O setor de florestas plantadas, ao contrário, oferece empregos em condições adequadas e cobra de seus fornecedores a correta aplicação da legislação trabalhista. Com isso, vem gerando progresso às comunidades onde se localizam as plantações, com o aumento do nível de consumo e o consequente crescimento da receita pública. A prática do fomento florestal onde as empresas estabelecem parcerias para o fornecimento de madeira tem trazido, além de uma melhor remuneração à atividade agrícola, um estímulo à adequação das propriedades às leis ambientais.



celulose e papel No caso da Veracel Celulose, empresa onde a Stora Enso detém 50% do capital, foi dado, inclusive, apoio para que grupos de pequenos produtores buscassem e conquistassem a certificação florestal. A Veracel tem mais de 97% do plantio de árvores para produção de celulose, em seu empreendimento na Bahia, situado em solos que foram antropizados para a criação de gado, que pastaram por décadas naquela região, após o corte e a derrubada das matas originais. Nesse projeto, como nos demais implantados desde o final dos anos 80, quando se firmou a percepção da importância da preservação ambiental, há um cuidado de não destruir qualquer remanescente das florestas tropicais ou de outros ecossistemas importantes. Além disso, os projetos em região de mata atlântica vão muito além de preservar, buscando restaurar a cobertura florestal original, para o que contam com viveiros próprios de árvores nativas que hoje são referência no País. Atualmente, aproximadamente 100 mil hectares (cerca de 50% das terras da Veracel) são áreas de conservação, apesar da exigência legal determinar cerca de 30% (soma das áreas de reserva legal e proteção ambiental). Até o fim de 2012, a Veracel tinha restaurado mais de 3.500 hectares de mata atlântica com o plantio de mais de 3 milhões de árvores. Faz parte do manejo florestal proteger as florestas naturais remanescentes e as conectar para ajudar a preservar a flora e fauna. As condições edafoclimáticas brasileiras são ideais para o rápido crescimento de plantações de eucaliptos e pinus, graças à insolação favorável, pluviosidade e temperaturas adequadas, o que continua propiciando forte expansão da atividade.

Opiniões Infelizmente, vivemos, no momento, um paradoxo no setor: há empresas internacionais estabelecidas no Brasil interessadas em ampliar seus investimentos, mas foram criadas dificuldades para a compra de terras por esses produtores. Embora seja possível comprar madeira de terceiros, não há ainda, no País, a tradição de fornecimento que possa garantir o abastecimento regular de indústrias de celulose que exigem investimentos de alto valor e trabalham de forma contínua, e o mesmo se aplica a outros setores, como painéis de madeira. Usar com responsabilidade a terra em benefício da economia, do ambiente e dos cidadãos do País contribui para a evolução favorável dos negócios no setor florestal. Essa é uma atividade de longo prazo, e é preciso garantir que, vinte, trinta e mais anos depois, ela continue a ser mantida com produtividade, bons resultados e sustentavelmente. O setor de celulose, responsável por cerca de 30% das florestas plantadas no País, tem buscado e obtido as certificações internacionais mais importantes, como o selo FSC e o Cerflor, que estabelecem padrões de gerenciamento responsável nos cultivos florestais. Florestas plantadas podem coabitar os solos com a vegetação nativa regional e com cultivos agrícolas e atividades pastoris, um sistema complementar que se vem ampliando e traz ótimos resultados quando bem manejado. Programas de parceria com pequenos e médios agricultores incentivam esse uso das áreas de forma múltipla, gerando uma fonte adicional de renda para os proprietários e para as comunidades vizinhas. São benefícios para o País e para as pessoas, gerados pelo setor de florestas plantadas.


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todos vivemos da

floresta plantada

Viver da floresta não é uma condição exclusiva dos produtores rurais, de seus trabalhadores, das reflorestadoras, das indústrias afins e de suas prestadoras de serviço e clientes diretos. O povo que vive da floresta plantada é a população de todo o mundo. Viver da floresta plantada é, também, utilizar produtos obtidos a partir de sua madeira, suas folhas, suas resinas, suas flores... E quem não utiliza? Em seu livro A história das florestas - a importância da madeira no desenvolvimento da civilização, o pesquisador americano John Perlin mostra como as florestas foram cruciais para o desenvolvimento da humanidade, desde a Mesopotâmia. Comprovando suas afirmações com registros históricos, ele revela como a existência das florestas foi decisiva para a formação de povos nas mais diversas regiões do planeta, ao mesmo tempo em que sua destruição levou muitas civilizações à ruína. A exploração insustentável da madeira nativa trouxe, num primeiro momento, lucro fácil. Porém, como consequência, vieram o esgotamento dos recursos florestais, fome, inundações, destruição do solo e estagnação da produção agrícola.

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A história mostra, então, que o caminho é plantar florestas, não destruir florestas; que o uso sustentável dos recursos naturais é o que pode assegurar a sobrevivência da espécie humana. Hoje, felizmente, os conhecimentos e tecnologias disponíveis e adotados pela maioria das empresas permitem o manejo dos plantios de modo absolutamente consistente com os compromissos de sustentabilidade do segmento. É o que, em geral, revelam os relatórios setoriais e de sustentabilidade das empresas de base florestal brasileira. O que se observa nesses registros é que elas, de modo claro, contínuo e objetivo, aprimoram suas práticas de gestão, inclusive incorporando as comunidades aos processos produtivos, como forma de compartilhar os benefícios da cultura de árvores. Alguns exemplos são as parcerias com produtores rurais em programa de fomento do eucalipto, com apicultores, artesãos, moveleiros e integrantes de movimentos sociais. Isso sem falar nas iniciativas voltadas à promoção do bem-estar social implantadas e mantidas pelas empresas em parcerias com organizações não governamentais, associações e poder público.

O povo que vive da floresta plantada é a população de todo o mundo. Viver da floresta plantada é, também, utilizar produtos obtidos a partir de sua madeira, suas folhas, suas resinas, suas flores... E quem não utiliza? "

Eliete Maria Luiza e Ricardo Simonetti

Especialista em Relações com a Comunidade e Diretor Florestal da Bahia Specialty Cellulose e Copener, respectivamente

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celulose e papel Na Bahia Specialty Cellulose - BSC/Copener, por exemplo, a Política de Gestão Social orienta para a promoção do negócio florestal em sintonia com a valorização do meio ambiente e o fomento ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades. O pressuposto fundamental dessa política se expressa no imperativo de construção de parcerias, valorizando posturas que fomentem a corresponsabilidade, o compromisso, a contrapartida e, dessa maneira, a autonomia das partes interessadas. Assim, nossas ações sociais – agregadas nos eixos educação, trabalho e renda, agricultura familiar, organização comunitária e associativismo e apoio a demandas sociais qualificadas – focam o fortalecimento dos arranjos associativos regionais, com vistas a garantir conhecimento, educação formal e trabalho para os moradores, em sintonia com os princípios de conservação e preservação ambiental e a manutenção da missão e dos objetivos do manejo florestal.Voltando ao setor como um todo, o que se percebe na maioria das empresas é que as iniciativas empreendidas por elas conciliam interesses das partes

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Opiniões envolvidas e evidenciam o poder transformador e de articulação das organizações, especialmente em favor das comunidades mais carentes e afastadas dos grandes centros urbanos, aquelas que vivem no entorno dos plantios e com maior dificuldade de acesso às oportunidades de qualificação profissional e trabalho digno. Em termos ambientais, as técnicas de manejo do solo, as medidas de uso consciente e proteção dos recursos hídricos, a recuperação e a manutenção de áreas de cobertura vegetal original, o emprego de tecnologias de controle e monitoramento de pragas, as técnicas e os equipamentos adotados na colheita florestal e, claro, os processos industriais de conversão da matéria-prima formam a base de uma atividade sustentável mundialmente reconhecida. Uma prova desse reconhecimento é a certificação das empresas pelos mais respeitados organismos nacionais e internacionais. Mas precisamos compreender que há um longo caminho a seguir, com novos e crescentes desafios a cada dia, e que as empresas do setor devem continuar focadas na conquista e na manutenção de selos que permitam à sociedade reconhecer as boas práticas e diferenciar as empresas que desenvolvem produtos para um mercado em contínua evolução da demanda e cada vez mais consciente de suas responsabilidades. Essa é a garantia para o consumidor de que as empresas e os produtores, que demandam recursos naturais, estão cuidando de toda a cadeia produtiva, o que significa equilibrar os aspectos econômicos, sociais e ambientais relacionados à atividade florestal. O povo que vive da floresta plantada, ainda que indiretamente, precisa ampliar o uso, em suas reais necessidades de consumo, de produtos de origem sustentável, exigindo boa procedência dos produtos florestais e industriais derivados. Se, como consumidores, devemos estar atentos às boas práticas de mercado, na qualidade de produtores florestais, devemos ter o compromisso com o aprimoramento constante da atividade para levar aos clientes um produto que atenda às suas expectativas e que contribua para a manutenção dos ecossistemas, honrando a reputação do setor perante empresas e estudiosos de todo o mundo, como Patrick Moore, cofundador e ex-líder do Greenpeace. Segundo Moore, no livro Desafios da sustentabilidade, Cerflor – 10 anos trabalhando em favor das florestas brasileiras, “toda atividade humana tem impacto sobre o meio ambiente, mas de todas as atividades primárias que fornecem energia e material, a indústria florestal é a mais sustentável”. Assim, quanto mais pessoas ao redor do mundo viverem das florestas plantadas do Brasil, melhor. Melhor porque temos as melhores florestas plantadas do globo. Melhor porque nossas empresas florestais atuam significativamente na recuperação e na preservação de áreas de mata nativa. Melhor porque os cultivos de eucalipto são grandes aliados do planeta no sequestro de CO2 da atmosfera. Melhor porque o setor é um dos que realiza investimentos sociais mais expressivos. Melhor porque as indústrias que utilizam produtos de nossa atividade florestal fazem toda a diferença na balança comercial brasileira. Melhor porque o cultivo de árvores é um dos mais importantes geradores de emprego e renda no nosso país. Melhor, enfim, porque mais e mais pessoas estarão, de fato, vivendo melhor da floresta plantada, com a certeza de que não estarão degradando o meio ambiente pelos seus hábitos de consumo.



celulose e papel

da teoria à prática Colaboração: Zilda Romanovski, Givago Costenaro, Eduardo Mota e Cynthia Wolgien

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Os bons resultados de todos esses trabalhos conjuntos com comunidades e parceiros inspiram a MWV Rigesa a buscar uma atuação cada vez mais sustentável, em benefício da sociedade, dos negócios e do meio ambiente. "

Walter Coelho

Gerente de Operações Florestais da MWV Rigesa

O foco em sustentabilidade – social, econômica ou ambiental – entrou definitivamente na pauta das empresas responsáveis e preocupadas com a construção de um futuro melhor para o negócio, para a comunidade e para o meio ambiente. Vivemos, hoje, o momento de ir além do discurso e comprovar que ações sérias estão sendo feitas, traduzindo o compromisso em atuar de maneira ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável. Nesse cenário, a gestão empresarial e as atividades cotidianas da MWV Rigesa seguem diretrizes voltadas para promover o desenvolvimento sustentável, a excelência e a integridade, o respeito pelo indivíduo e o trabalho em equipe. Esse compromisso se reflete em iniciativas concretas, que valorizam a formação e a capacitação profissional e pessoal de seus funcionários, preservam o meio ambiente e, sobretudo, estimulam o desenvolvimento das comunidades em que atua. A realização eficiente e adequada do manejo florestal está no centro dos trabalhos da empresa. Com 100% de suas florestas certificadas pelo Cerflor, programa coordenado pelo Inmetro, a MWV Rigesa segue o princípio de responsabilidade com a sociedade, respeitando a comunidade ao desenvolver um empreendimento. A empresa tem a mesma certificação para toda sua cadeia de custódia, o que assegura que suas embalagens de papelão ondulado oferecem garantia de rastreabilidade da matéria-prima, proveniente de um manejo florestal responsável em todas as etapas de transformação do produto, passando pelo papel e pelo papelão ondulado, até chegar ao destino final. A responsabilidade socioambiental está na essência de toda a nossa cadeia produtiva. Tudo começa quando a Divisão Florestal – responsável por viveiros que produzem, anualmente, mais de 10 milhões de mudas de pinus e eucaliptos – avalia as áreas onde serão plantadas as

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florestas. Essa análise leva em conta a vocação do solo para cada espécie e o respeito às Áreas de Preservação Ambiental e de Preservação Legal. Nas áreas utilizadas para cultivo, a MWV Rigesa adota medidas de conservação do solo, que evitam a erosão, e da água, preservando as nascentes, com o objetivo de obter o máximo de produtividade com menor impacto ambiental. Qualidade genética: Todas as mudas plantadas são provenientes do programa de melhoramento genético desenvolvido internamente, que garante uma floresta mais produtiva e mudas que crescem 19% mais do que a média do mercado, além da produção de madeira de alto padrão de qualidade no momento da colheita. Depois de colhidas, as áreas são replantadas, mantendo seu ciclo sustentável e garantindo a existência permanente de madeira madura para colheita. O plantio em forma de mosaico é outra característica importante do padrão de florestas da MWV. Além de proporcionar valorização da paisagem da região, esse tipo de cultivo favorece o corredor biológico, essencial para a preservação da biodiversidade das regiões em que atua. O processo prevê ainda o monitoramento de dispersão de espécies exóticas, ou seja, não nativas, para que as sementes de pinus, por exemplo, não se espalhem naturalmente, e a árvore cresça em meio às áreas de preservação. A empresa realiza ainda um inventário sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE), considerando todo o processo, como maquinários e combustíveis utilizados. Esse relatório indica que o saldo é sempre positivo, pois a absorção de GEE pelas florestas plantadas é sempre maior do que o volume emitido. A preocupação da empresa com os impactos de suas iniciativas na comunidade é notada desde o início de qualquer projeto.


Opiniões A MWV Rigesa prioriza a comunicação do empreendimento para a população do entorno, por meio de reuniões de apresentação do projeto ou visitas de casa em casa. O diálogo com a comunidade também é importante, para ouvir a opinião das pessoas, por exemplo, sobre as rotas para passagem de caminhões e maquinários. Junto com as prefeituras, são escolhidos e melhorados os acessos, com a abertura de estradas, colocação de cascalho sobre estradas de terra, asfalto, ou preparação para o trânsito de caminhões e maquinário, optando pela rota que cause menos impacto para a população local. Poupança Florestal: Além da contratação da mão de obra local, a atividade da empresa gera renda para os produtores e para a região, em razão da movimentação do comércio e de parcerias previstas em programas específicos da empresa. Um deles é o Programa Poupança Florestal, parceria entre a MWV Rigesa e produtores locais para o plantio de florestas de pinus com corte raso aos 16 anos. Voltado para produtores localizados num raio de 80 quilômetros da fábrica de Três Barras-SC, o projeto é vantajoso para todos por garantir maior fornecimento de madeira para a empresa, sem precisar adquirir mais terras, representar uma fonte alternativa de renda para o produtor da região, disseminar tecnologia florestal de ponta e garantir a venda da madeira. A parceria incentiva e dissemina o manejo responsável, pois os parceiros passam a seguir os padrões e as normas que a empresa adota nas terras próprias, por exemplo, no que se refere à preservação da mata nativa. O programa prevê que a MWV Rigesa forneça aos produtores mudas de material genético de qualidade, insumos e assistência técnica. Os parceiros podem ainda solicitar à empresa financiamento da operação de subsolagem e adiantamento do pagamento de parte da produção no 7º e no 11º ano. Cabe ainda à empresa executar levantamento topográfico na área a ser plantada e doar até 1.100 mudas de espécies nativas, como estímulo a recomposição das APPs. Depois de 16 anos, a empresa faz a colheita da madeira nas terras dos parceiros e paga o preço médio do mercado local. Em contrapartida, os parceiros se comprometem a efetuar a venda da madeira em pé e fornecer mão de obra, ferramentas e equipamentos necessários ao preparo do solo, ao plantio das mudas, às limpezas, ao combate às formigas, à construção e à manutenção de aceiros, assim como implementar as recomendações técnicas que garantem a qualidade da madeira. Em nome da preservação ambiental, os produtores são obrigados a promover a manutenção das áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal e cumprir o disposto na legislação referente à Política Nacional do Meio Ambiente. O cumprimento da legislação trabalhista pelos parceiros é estimulado por meio da obrigatoriedade de utilização de equipamentos de proteção individual e proibição de emprego de mão de obra infantil e escrava nas atividades florestais. Essas regras da parceria promovem ações responsáveis junto aos parceiros, contribuindo para a construção de um mundo melhor. Foco no social: Nas áreas em torno da floresta plantada pela MWV Rigesa, sempre existe parceria entre a empresa, a comunidade e a prefeitura. Projetos sociais da Divisão Florestal levam benefícios diretos à população do entorno, como:

O PACA (Programa de Aprendizado com a Árvore): é um programa de educação ambiental e destina-se aos alunos do ensino fundamental de 18 municípios do Planalto Norte Catarinense e sul do Paraná. Com esse projeto, as crianças e os adolescentes aprendem a importância da preservação ambiental por meio de atividades práticas nas comunidades. Envolve todo o ambiente – fauna, flora, ar, terra e água – e funciona com o compromisso de ajudar os alunos a aprenderem como pensar sobre questões ambientais locais e globais. É um projeto construtivista, pois o aluno constrói seus conhecimentos, combinando experiências anteriores com novas descobertas. O PACA beneficia mais de 51 mil alunos, de 6 a 14 anos, em 192 escolas, em seus mais de 15 anos de atividade. Trilhas ecológicas: Trilhas onde a empresa, em parceria com ONGs, treinam monitores que realizam passeios guiados, orientando alunos e a população sobre a fauna e a flora local e sua preservação. SOS Florestas: Projeto orienta população vizinha para atuar na prevenção e no combate ao incêndio nas florestas. A população recebe orientações e disponibiliza 0800 para alertas de focos de incêndio. Os bons resultados de todos esses trabalhos conjuntos com comunidades e parceiros inspiram a MWV Rigesa a buscar uma atuação cada vez mais sustentável, em benefício da sociedade, dos negócios e do meio ambiente.

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celulose e papel

Opiniões

compromisso com a sustentabilidade O setor de papel e celulose no Brasil vem aprimorando as suas práticas a cada ano, tornando-se cada vez mais um grande aliado do desenvolvimento econômico nos centros rurais e urbanos, por meio de promoção de empregos diretos e indiretos e de projetos de responsabilidade social, ambiental e educacional. Documento produzido pela Confederação Nacional da Indústria em parceria com a Bracelpa, divulgado em 2012, apontou que as empresas de papel e celulose são responsáveis por gerar 115 mil empregos diretos (68 mil na indústria e 47 mil na base florestal) e 575 mil empregos indiretos. Para atender à demanda por profissionais qualificados, no médio e no longo prazo, o setor vem atuando em parceria com os governos federal e estadual, universidades e escolas técnicas, com o objetivo de criar ou mesmo adequar cursos para capacitar novos e antigos profissionais, além de atrair talentos. Em 2009, para a inauguração da sua unidade em Três Lagoas, a International Paper, líder no mercado de papéis para imprimir e escrever no Brasil, em parceria com o Senai do Mato Grosso do Sul, investiu em dez meses de treinamento da comunidade local. Resultado: 90% dos 150 alunos foram contratados ao final do curso. A IP vem demonstrando, ao longo do tempo, o seu compromisso em contribuir para o desenvolvimento das comunidades onde atua. Para auxiliar a economia das regiões em que está presente, a companhia adquire mais de 70% dos bens e dos serviços nos próprios estados em que são realizadas as suas operações.

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de produzir energia limpa, ou seja, a partir de recursos renováveis. Além disso, outra forma de respeito às pessoas e ao meio ambiente seguidas pela companhia são os seus vários tipos de certificações, que atestam a sustentabilidade do processo produtivo. Além disso, a empresa possui canais de relacionamento e de comunicação com as diversas partes interessadas, desenvolvimento de projetos voltados para a comunidade, além de ferramentas de gestão, como o próprio Relatório de Sustentabilidade. Para estruturar de forma mais efetiva ações que estimulem o desenvolvimento das pessoas e das regiões, a empresa, em 2007, criou o Instituto International Paper. A entidade desenvolve projetos com foco educacional e socioambiental, dedicado, principalmente, a crianças e a adolescentes na região das suas fábricas em Mogi-Guaçu e Luiz Antônio, no estado de São Paulo, e em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. No total, são alcançadas, aproximadamente, 26 mil pessoas por ano, de forma direta, e 130 mil, indireta, em 31 cidades diferentes. Em 2012, os projetos de responsabilidade social da International Paper atingiram mais de 25 mil pessoas diretamente. Eles contribuíram desde o desenvolvimento educacional e profissionalizante para jovens em situação de risco, passando pela conscientização sobre as melhores práticas de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável, até com a recuperação de áreas degradadas, além de incentivar o consumo consciente de

Em 2009, para a inauguração da sua unidade em Três Lagoas, a International Paper, em parceria com o Senai-MS, investiu em dez meses de treinamento da comunidade local. Resultado: 90% dos 150 alunos foram contratados ao final do curso. " Lizzi Colla

Gerente de Sustentabilidade e RS da International Paper

Além de auxiliar no desenvolvimento econômico regional, as empresas do setor também estão atentas às exigências dos consumidores, que esperam que as grandes corporações, além de serem agentes produtivos, sejam agentes sociais e ambientais, contribuindo ativamente para o desenvolvimento da sociedade. Com esses desafios, a International Paper vê a sustentabilidade das suas operações a partir de três fatores: desenvolvimento econômico, social e ambiental, fabricando produtos que os clientes desejam e utilizando recursos de maneira criteriosa, com o menor impacto possível ao meio ambiente e às comunidades onde atua. Inaugurada recentemente, a caldeira de biomassa da unidade da IP em Mogi-Guaçu, interior de São Paulo, elevou em 90% a capacidade

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água, proporcionar a possibilidade do primeiro emprego e colaborar para a atividade apícola. Apesar de cada projeto ter um foco de atuação específico, todos têm o objetivo de contribuir para o crescimento sustentável e para a transformação de vidas nas comunidades onde a International Paper atua. Como grande parte da indústria de papel e celulose, a IP mostra que é possível que suas fábricas aliem o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região por meio de capacitação profissional, valorização de bens e serviços do estado onde as fábricas estão localizadas, com promoção de projetos que auxiliam no desenvolvimento socioambiental e educacional. Com isso, formamos profissionais capacitados com consciência socioambiental.


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celulose e papel

na floresta, diálogo e parceria são

fundamentais

Comunidades tradicionais da Amazônia são historicamente marcadas por sinais da violência e do conflito. Em geral, situações patrocinadas pela chamada indústria do desmatamento, às vezes sob o silêncio ou a conivência de poderes instituídos. Fatos lamentáveis que colocam em dúvida a capacidade das nossas instituições de proteger as pessoas e os recursos naturais, envergonhando nossa nação aos olhos do mundo. Há dez anos, moro nesse pedaço de Brasil, no Vale do Jari, entre os estados do Pará e do Amapá. Nesses anos de trabalho e aprendizado, participo de uma fundação empresarial, a Fundação Jari, que, a cada dia, busca tornar-se um instrumento de inovação social. Evoluímos do conceito inicial de projetos pontuais para o diálogo com a sociedade: discutir ideias e propostas, pactuar compromissos e agir de forma integrada com as políticas públicas. São várias iniciativas no entorno do maior plano de manejo de floresta nativa certificado do planeta, com 545 mil hectares: formação de conselheiros e lideranças para defesa e garantia de diretos da criança, adolescente, jovens e mulheres; formação de líderes comunitários como agentes de defesa da floresta; assessoria a organizações sociais para a realização de projetos de incentivo à leitura, cultura, esporte e cidadania, de qualificação profissional de jovens e adultos para as oportunidades do mundo do trabalho, de

Seria muita arrogância nossa achar que poderíamos quebrar, sozinhos, esse sistema. Afinal, já havíamos aprendido essa lição no passado e, diante do desafio de intervir nessa cadeia, tínhamos que olhar mais para os lados, abrir mais os ouvidos e sair em busca de alianças. " Jorge Rafael Barbosa Almeida

Coordenador de Operações Sociais da Fundação Jari

empreendedorismo, como o que incentiva agricultores que produzem hortaliças e as vendem aos restaurantes e supermercados locais, entre outros projetos. Poderia falar sobre cada um, compartilhar conquistas, quedas, lições aprendidas. Porém destaco uma que está entre as mais recentes, mas reflete sobre uma história secular no relacionamento entre o homem e a floresta no Vale do Jari. O Projeto Extrativismo Sustentável tem como propósito valorizar a cultura extrativista e criar condições para a sustentabilidade dessa atividade, que é a principal marca da identidade cultural das comunidades tradicionais da região.

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Estas que se utilizam da caça de subsistência, da pesca artesanal e do extrativismo vegetal dos produtos da biodiversidade, principalmente da castanha-do-pará, como principal fonte de trabalho e de sobrevivência na floresta (foto da capa dessa edição). O Desafio: A relação comercial entre extrativistas e compradores de castanha sempre se baseou no sistema de aviamento, que, por tantos anos, predominou e, ainda hoje, predomina como sistema que move a base produtiva da cadeia da castanha e de outros produtos da floresta na Amazônia. Porém sempre fundado na reprodução da relação de dependência entre extrativistas e compradores (conhecidos popularmente como atravessadores), preservando características exploratórias, do ponto de vista do trabalho humano e da concentração de riquezas ao final da cadeia. Por outro lado, esses atores locais exercem grande importância na sustentação dessa atividade que funciona, basicamente, às margens das políticas oficiais de desenvolvimento econômico. Diante do grande desafio, era necessário combinarmos diferentes estratégias, tais como articulação de parcerias comerciais com a indústria, assistência técnica para a implantação das boas práticas,


Opiniões acesso a políticas de fomento da produção rural sustentável, formação e informação aos extrativistas para a organização da produção familiar e outras alternativas de produção e de renda, com base no uso racional do solo e da floresta. Seria muita arrogância nossa achar que poderíamos quebrar, sozinhos, esse sistema. Afinal, já havíamos aprendido essa lição no passado e, diante do desafio de intervir nessa cadeia, tínhamos que olhar mais para os lados, abrir mais os ouvidos e sair em busca de alianças. O exercício do diálogo deve ser uma etapa permanente e indispensável no escopo da política de responsabilidade social de qualquer empresa que tenha real interesse de contribuir para o desenvolvimento regional sustentável. Com parcerias firmadas, extrativistas tiveram acesso ao crédito rural (Pronaf - Banco do Brasil) por quatro anos seguidos. Recursos na ordem de R$ 314.279,51 para mais de 50 castanheiros, índice zero de inadimplência e garantia da continuidade para a próxima safra. O acesso às políticas públicas de crédito (Pronaf), subvenção (PGPM Bio) e comercialização (PAA e PNAE) da produção agrícola e extrativista repercutiu em um novo posicionamento do extrativista no contexto da relação comercial com os compradores de castanha, uma vez que os participantes do projeto não tiveram mais que se submeter aos efeitos exploratórios do sistema tradicional de aviamento. Ao lançar mão de recursos próprios, advindos da relação com essas políticas, o extrativista retornava dos castanhais com uma produção que, então, passou a ser sua de fato e não mais da figura do “patrão”, elevando-se a um patamar mais de “igual para igual”, exercendo o direito de negociar preços mais justos. Passo importante na aquisição da independência econômica do extrativista, tornando o mercado mais competitivo e forçando a migração das relações comerciais para o campo da legalidade, da ética e da cidadania. Foram mais de R$ 1.200.000,00 de incremento na economia regional em 4 anos, considerando somente as famílias participantes do projeto (aumento na renda média de R$ 5.600,00 família/ano). Isso sem mensurar as demais comunidades da região, também beneficiadas indiretamente, por causa da elevação dos preços pelo aumento da concorrência e do grau de informação do extrativista sobre o mercado local.

As boas práticas na cadeia de valor da castanha: Negociar bons preços e reduzir a cadeia de intermediários entre o extrativista e a indústria dependem da adoção de padrões de qualidade do produto. Com a orientação técnica (Embrapa, Emater e STTR Almeirim) para os cuidados adequados no processo coleta, quebra, lavagem, transporte, secagem e armazenamento da castanha e a implantação de estruturas (paióis, barracões de armazenagem e secadores industriais) nas comunidades – investimentos do governo do Pará (Ideflor), prefeitura de Almeirim e Grupo Orsa –, foi possível influenciar a redução dos índices de umidade e o aumento da produtividade e da renda. Além das boas práticas na produção da castanha, os extrativistas foram orientados a reaproveitar áreas já alteradas pela prática da lavoura (roça), bem como a utilizar adubação orgânica, promover a diversificação e a rotação de culturas, o plantio de espécies resistentes e adaptadas às condições climáticas locais e o controle eficaz de pragas e doenças através do uso de defensivos naturais alternativos. São os conhecidos SAFs - Sistemas Agroflorestais. Eles evitam a derrubada de novas áreas de floresta pela queima de roças, diversificam a produção familiar e aumentam as condições de segurança alimentar e renda. Outra repercussão do trabalho foi a organização de um grupo de mulheres que se apropriou das técnicas de produção, higiene e qualidade para a confecção de biscoito de castanha-do-pará. Elas adquiriram os equipamentos necessários, utilizando recursos financeiros próprios, oriundos da melhoria na renda familiar com a venda da castanha. O resultado foi a comercialização dos biscoitos de castanha para a merenda escolar (prefeitura de Almeirim) a preços até quinze vezes acima do valor da castanha, quando vendida in natura. Essa atitude valorizou os saberes tradicionais e o trabalho da mulher, diversificou e agregou valor ao produto e fortaleceu a organização e a economia familiar. Agora, os frutos dessa “colheita” já não são nossos, pertencem às comunidades, pela via da participação social e do empoderamento. Acima de tudo, pertencem à sociedade, pois resultam de um esforço coletivo de pessoas e de instituições que acreditaram e tomaram decisões, cientes de que não há outro caminho para a construção de um modelo de Governança Florestal para a Amazônia, a não ser pela via do diálogo e da cooperação intersetorial, da efetivação de políticas públicas e do exercício da responsabilidade empresarial.

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fornecedor do sistema florestal

Opiniões

segurança alimentar:

urgência x eficiência

Com tantas análises de cenários, com a quantidade de informações disponíveis, com as inúmeras discussões sobre perspectivas e projeções, fica latente uma percepção: o futuro já chegou, mas, de fato, não está na devida escala. Hoje, quase 1 bilhão de pessoas está em estado de desnutrição e dorme todos os dias com fome, enquanto praticamente 1 bilhão de pessoas está acima do peso. As mudanças no modelo de consumo tem exigido maior variedade, qualidade e quantidade de alimentos. Em economias como a China, a dieta está mudando radicalmente, com um consumo muito maior de carnes. Os agricultores são hoje uma população em diminuição. A atração da cidade continua a esgotar as populações rurais. Mais da metade da humanidade, hoje, vive em cidades, e a taxa de urbanização deve crescer na média de 2% ao ano entre 2010 e 2015. Hoje, se observa que a falta de trabalhadores no campo já eleva custos de produção em muitos países. Eventos extremos fazem parte das notícias com muita frequência – secas, enchentes, furacões –; existe forte pressão sobre recursos hídricos, emissões de gases de efeito estufa (19 a 29% de GEE global é originário de sistemas alimentícios) e questionamento sobre uso do solo. A cada segundo, perdemos o equivalente a um campo de futebol de solo para a agricultura. A erosão e a urbanização estão reduzindo áreas que poderiam ser utilizadas para produção agrícola. Nessa mesma fração de tempo, nascem mais dois habitantes no planeta. Nos próximos 40 anos, precisaremos produzir mais alimentos do que nos últimos 10 mil anos. Uma pessoa consome cerca de 200 a 400 litros de água por dia (dependendo da região que habita). A agricultura utiliza cerca de 70% da água doce do mundo e acumula desperdícios na ordem de 40%. Ainda vale ter em conta que, atualmente, a produção de alimentos para uma pessoa utiliza 2 mil litros de água por dia. Fundamentalmente, são necessárias soluções diferenciadas adaptadas a regiões geográficas, a climas e a culturas, Paulodevem Hermann John onde as diversas abordagens convergir paraDEERE modelos Presrasil integrados, com equilíbrio e eficiência entre produção de alimentos, fibras, combustíveis e recursos naturais. É fazer mais com menos. Esse mantra, que se ouve intensamente, leva-nos à questão de como articular transformações com as devidas rupturas de modelos e decisões de tantos setores envolvidos. É esse sentido de urgência que tem movido o agronegócio. Dados recentes indicam possibilidades im-

A cada segundo, perdemos o equivalente a um campo de futebol de solo para a agricultura... Nessa mesma fração de tempo, nascem mais dois habitantes no planeta. " Karla Camargo Gerente de Segurança Alimentar para a América Latina da Syngenta

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pressionantes, como a produtividade alcançada em 20 anos (1988-2008) em culturas relevantes, como milho (44%), soja (41%), trigo (34%), arroz (29%) e cana-de-açúcar (18%). A indústria de proteção de cultivos e sementes investe cerca de US$ 5 bi/ano em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a produtividade no campo. Quando se observa o gasto por setores em P&D (% de vendas), o primeiro é o farmacêutico, com 15,6%; agroquímicos e biotecnologia despontam em segundo lugar, com 8,2%, ficando à frente de setores como informática, aeroespacial e automotivo. Novas tecnologias, soluções integradas e modelos de produção diferenciados sinalizam boas perspectivas. A integração Lavoura-Pecuária-Floresta apresenta exemplos concretos de recuperação de solos, incremento na produção de alimentos e equilíbrio ambiental. Essa é a essência da Segurança Alimentar, novos modelos para produzir de forma sustentável, integrando a cadeia de produção, gerando produtividade, serviços ambientais e conhecimento que pode ganhar escala. TFD-4Fs: Em novembro de 2012, aconteceu, pela primeira vez no Brasil, o encontro do “The Forests Dialogue´s – TFD e os 4Fs (Food, Fuel, Fibre, Forests)”, composto por diversos setores da cadeia, ONGs (como WBCSD, Conservação Internacional e Ethos), governos, institutos de pesquisa e empresas. Fundada em 2000 por ONGs e líderes empresariais, tem como propósito reduzir conflitos entre stakeholders no setor florestal e se constitui, hoje, uma plataforma internacional para discutir manejo sustentável de florestas e questões conservacionistas. Além disso, conecta o setor florestal e agrícola, tem foco na melhoria das decisões para uso e ocupação do solo, tendo presente os desafios para atender à população crescente. Questões prioritárias desse diálogo dizem respeito a mudanças climáticas, conservação de florestas e biodiversidade, extração ilegal de madeira e governança, plantação de florestas geridas intensivamente, redução de pobreza e meios rurais, árvores geneticamente modificadas, florestas locais conservadas e certificações. É dessa forma, com o debate, com a ciência e com sistemas reguladores como lastro para ações convergentes, que teremos fundamento para padrões de produção e consumo compatíveis com o desafio de alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050, com os recursos finitos de um só planeta.



celulose e papel

temos ainda onde melhorar Em algumas décadas, não teremos mais trabalhadores rurais! Essa afirmação tem pouca ou nenhuma aderência pelos futurólogos. Bem, nem eu concordo, só a escrevo para exercer a reflexão sobre o processo massivo de êxodo rural, que vem ocorrendo neste planeta. Sob qualquer ponto de vista, as estatísticas são desafiadas ao não apontar um país sequer que, nos últimos 50 anos ou para os próximos 50, tenha aumentado ou aumentará sua população rural. O processo de mecanização do campo trouxe uma diminuição do número de empregos rurais; a melhoria do nível de escolaridade levou o jovem aos empregos industriais, onde encontram um teto, um banheiro, um refeitório, até mesmo uma estrutura sindical mais organizada e um sem-número de benefícios oferecidos pelo empregador urbano, com qualidade superior à sua contraparte rural e, apesar de ultrapassada, uma proteção legal trabalhista mais rigorosa. O acesso fácil e de melhor qualidade do entretenimento e da cultura, da saúde e da educação também pesam nesse processo migratório. Desprezadas as alterações constantes da definição do significado “rural”, no caso brasileiro, a população, em 1950, situava-se em 52 milhões de habitantes, com 64% do total dessa população vivendo em área rural; em contrapartida, somente 36%, em centros urbanos. Após o contínuo processo de êxodo rural, segundo o IBGE, em 2010, estávamos com 190 milhões de habitantes, sendo 85% desse contingente humano vivendo em cidades, portanto somente 15% da população habitando no campo. Voltemos à primeira frase deste artigo! Em qualquer tempo, com qualquer relação entre rural e urbano, a questão a ser enfrentada pela sociedade é a qualidade de vida do cidadão. O êxodo rural é um fenômeno não controlado pelas autoridades, somente mapeado. E esse tem sido o grande problema do Brasil, a falta de consistente política pública para o País rural não contribui para a retenção da população nesses rincões. Pequenos proprietários, posseiros, parceiros, trabalhadores permanentes ou temporários, sem dizer, lamentavelmente, das famílias presas a um exaustivo, exasperante e exploratório trabalho em troca de comida – sim, é trabalho escravo! – que vivem e trabalham em condições indignas. Algumas solitárias e recentes políticas públicas tentam trazer esse importante segmento da sociedade rural brasileira ao século XXI. E, na verdade, está se pulando um século, pois o estilo de trabalho e o pensamento reinante ainda estão enraizados no século XIX, seja oriundo de governo, de organizações sociais, de trabalhadores ou dos empresários. E, ainda pasmo, vejo boa parcela dos agentes envolvidos desperdiçando inteligência e esforço por ainda discutir

campesinato versus agronegócio, enquanto a tecnologia já alterou radicalmente esse tema, reconhecendo que, em certas regiões do País, o latifúndio do coronelismo improdutivo ainda nos remete novamente ao império. A questão fulcral é a pobreza da população rural. As políticas assistencialistas têm oferecido uma renda para essas famílias, isso é humano, é certo, é o que se tem que fazer de imediato. Num processo bem mais lento, as autoridades vacilam na implementação de reais ações públicas para atração de investimentos, hesitam ao levar treinamento ao trabalhador, aproximando-o do avanço tecnológico das ferramentas industriais e biológicas no campo, e são irresolutas para capacitá-lo efetivamente a auferir uma renda de trabalho que o leve a um novo estrato social. Não estou cego aos avanços da renda do campo e do trabalhador, mas é absurdamente infantil e irresponsável celebrar o assistencialismo e não avançar na real economia. Para erradicar a miséria em tempo não secular, os dois modelos precisam andar juntos. Os dados do PNAD-IBGE de 2009 mostram mais da metade da população rural vivendo em extrema pobreza, e não adianta a estatística de governo alterar a classificação de renda em alguns reais para cima ou para baixo; eis a verdade inexorável: falta comida na mesa da família rural brasileira. A fixação do trabalhador no campo requer aportes de recursos públicos e privados. Trazer tecnologia não diminui o trabalho, muda sua categoria. O trabalho pesado e em ambiente hostil, até inóspito em certas partes do País, gera também fuga para os centros urbanos. Portanto qualificar o trabalhador para o manuseio de técnicas e aparelhos sofisticados melhora sua condição de trabalho, além de proporcionar um incremento importante em sua renda. O Ministério da Agricultura anunciou, em seu Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013, disponibilização de R$ 115 bilhões de recursos para fomentar esse setor, com juros reduzidos, entre outros benefícios. Não é pouco! A discussão é se esses recursos chegarão a quem realmente necessita e se a sua utilização se dará de forma eficiente. A história diz que não, e, com muita vigilância de todos os atores, espero ter minha boca calada no futuro. Não nego que empregos rurais poderão desaparecer pelo uso intensivo das novas tecnologias (de novo, a primeira frase deste texto), mas estou certo de que, imediata e simultaneamente, surgirão novos postos de trabalho no setor de serviços para abrigar o consumo de uma nova e emergente classe média rural. No campo específico da silvicultura, sofrem-se igualmente as agruras do que acontece no campo geral. Algum progresso ocorreu, é verdade,

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Não estou cego aos avanços da renda do campo e do trabalhador, mas é absurdamente infantil e irresponsável celebrar o assistencialismo e não avançar na real economia. " Sergio Sesiki

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CEO da Cia Melhoramentos de SP - CMSP

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Opiniões pois o setor silvicultural está parcialmente organizado, mas ainda é escancarada a falta de proteção ao trabalhador. Se, de um lado, para adentrar em alguns mercados, são exigidos selos de certificação internacional, portanto há boa condução nos tratos de proteção ambiental e social, em outros, ainda se encontram facilmente trabalhadores fotografados, hoje em cores, em situação idêntica àqueles que visualizamos em fotos antigas da Primeira República, em preto e branco. Só a tecnologia da máquina fotográfica é diferente. Essa dualidade da silvicultura está presente no País. O direcionamento das críticas, e não poderia ser diferente, circula os temas de monocultura, grandes propriedades, exploração do trabalhador, sem esquecer as pesquisas biológicas. O contra-argumento só melhora o processo de avanço na produtividade silvicultural, mas é inevitável trazer tecnologia também nesse importante setor. Moderníssimos equipamentos de colheita das florestas plantadas têm ar condicionado e se operam com joysticks. Habilidades novas exigem trabalhadores mais bem educados e, consequentemente, mais renda a eles. Não temamos tecnologias, aprendamos com elas a ser melhores. Aprofundando ainda um pouco mais no setor silvicultural, especificamente no setor de papel e celulose, o investimento nesses campos não diminuiu os empregos da população rural. Ao contrário, o ofertou em grande escala, além de corrigir alguns históricos problemas agrários da pequena propriedade arrendada pelo agricultor local e sem condições de mantê-la. Programas privados de fomento florestal para desenvolver essas Anúncio MIREX-S estão 21x13,8cm.pdf 09:55:53 propriedades mudando15/3/2013 para melhor a sua paisagem.

Há que, certamente, preocupar-se com a monocultura, mas o setor está atento a esse problema ainda característico das florestas plantadas, e seus agentes estão se movendo. Já se veem multiculturas em seu modelo e manejadas pelas famílias que vivem no envoltório da plantação de florestas, gerando renda adicional às famílias, e as políticas públicas devem se juntar a esse novo modelo e agregar ainda mais recursos para a retenção do homem no campo. Dentro da multicultura, a integração lavoura, pecuária e floresta é um instrumento recente de política pública. O ILPF do Ministério da Agricultura tem incentivado a diversificação e a integração dessas múltiplas atividades, a fim de manter o equilíbrio da biodiversidade do meio ambiente e pulverizar “os riscos de quebras por eventos da natureza, como as pragas, os climáticos e os de mercado”. Um bom programa que espero que saia da retórica propagandística e, de fato, promova o desenvolvimento sustentável. É o início do fim da velha cantilena de improdutividade do pequeno produtor rural versus grande produtor. Esse modelo de fomento é bom para os dois agentes no crescimento do setor e ótima fórmula para paralisar o movimento migratório para o grande centro, para as cidades, para o litoral. Nós da Melhoramentos Florestal estamos à frente de vários movimentos para a melhoria da renda do trabalhador, além de provocar o setor público a investir na infraestrutura básica da cidade, quando não poucas vezes o fazemos diretamente. É muito para uma empresa, é pouco para a necessidade do trabalhador. Uma missão que é conjunta, privado e público, e à que todo líder deve pessoalmente se dedicar.


fornecedor do sistema florestal

Opiniões

integração é a palavra O crescimento do agronegócio brasileiro, nos últimos anos, é um dos pilares do bom momento econômico vivido pelo País neste século. Para se ter uma ideia, desde 2000, a balança comercial do setor registrou superávit de US$ 481 bilhões. E esse cenário pode ser ainda melhor. Pesquisas apontam que o crescimento populacional deve aumentar a demanda por alimentos em mais de 70% até 2050. Muito se fala da responsabilidade do Brasil nesse contexto, o que nos deixa diante de uma grande oportunidade e de um desafio ainda maior: produzir mais sem aumentar a área de cultivo. É aí que entra a terceira grande revolução da agricultura, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). A primeira onda aconteceu quando o País aprendeu a dominar a agricultura nos trópicos e tornou o cerrado produtivo. Nesse momento, o Brasil passou a ganhar relevância mundial. A segunda começou quase inocentemente com a safrinha, quando a técnica de manejo conhecida como plantio direto começou a ganhar cada vez mais força. O agricultor percebeu que, com um processo adequado, poderia transformar a entressafra em um período produtivo, em alguns casos, até mais produtivo que a própria safra. Isso nos coloca à frente no mundo do agronegócio, já que, nos Estados Unidos, nosso maior concorrente em produção, a safrinha não existe. Segundo dados da Conab, impulsionada pelo milho segunda safra, a produção nacional de grãos na Safra 2011/12 chegou a 185 milhões de toneladas e foi 11,3% maior que a safra anterior.

termicamente, enquanto todo o metano que se desprende das fezes dos animais é absorvido pela floresta. As lavouras também se beneficiam dessa integração, uma vez que o eucalipto capta a água das chuvas e traz ao solo. Implementado, o iLPF rapidamente garante benefícios ao produtor, seja na redução do custo de produção por arroba de boi, no aumento da produção de leite, na melhora da matéria orgânica no solo ou na geração de empregos. Quem pratica iLPF encontra uma excelente diversificação dos negócios do campo, conquistando lucratividade e excelentes margens de segurança em um setor normalmente sujeito a riscos e sazonalidades. É o caso da Fazenda Santa Brígida, em Goiás, que se tornou referência nacional no assunto. Hoje, essa prática é recomendada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que criou uma linha de crédito para a agricultura de baixa emissão de carbono, e o compromisso do Brasil é ter 4 milhões de hectares de iLPF até 2020. Nosso dever é acelerar a transferência dessa tecnologia, levando conhecimento ao campo para que o agricultor produza mais, preservando o meio ambiente. Para facilitar essa difusão, foi criada, inclusive, a Rede de Fomento em iLPF, uma parceria público-privada formada pela John Deere, Cocamar, Syngenta e Embrapa. Qualquer empresa que assuma o compromisso por, pelo menos, cinco anos pode participar, assinando um acordo de cooperação técnica com a Embrapa e trabalhando em conjunto à rede para o desenvolvimento desse conceito. A John Deere investirá

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Pesquisas apontam que o crescimento populacional deve aumentar a demanda por alimentos em mais de 70% até 2050. Muito se fala da responsabilidade do Brasil nesse contexto. "

Paulo Herrmann Presidente da John Deere Brasil e da Rede de Fomento iLPF

Agora chegamos à era da iLPF, que veio para quebrar paradigmas, trazendo à mesa interesses comuns de agricultores e pecuaristas. Busca-se diminuir distâncias entre as práticas e as diferentes necessidades de negócios da lavoura, da pecuária e da floresta. É possível unir diferentes culturas, e o Brasil, mais uma vez, é pioneiro nessa tecnologia. Em uma mesma área e com o mesmo ativo de máquinas e pessoas, o campo brasileiro demonstra que pode produzir ainda mais. A integração é tão profunda, que mexe com todo o sistema, permitindo a produção constante, de maneira ecológica e sustentável. Durante os seis anos de crescimento de uma floresta de eucalipto, por exemplo, podem ser criadas pastagens entre as linhas, onde os animais estarão confortáveis

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R$ 2,5 milhões no projeto nos próximos cinco anos, apoiando a rede em projetos e atividades que serão financiadas com esses recursos. A indústria do agronegócio precisa agregar valor às commodities brasileiras. Produzir por meio do sistema de iLPF, além de geração de grãos e carne sem impactar negativamente na natureza, é pura sustentabilidade. Trazer conforto animal, aproximar a produção agrícola de meios sustentáveis ao utilizar o sistema iLPF, por exemplo, é agregar valor à nossa produção. Essa é a verdadeira revolução que a agricultura brasileira precisa levar ao mundo. Não podemos tirar do Brasil essa oportunidade. Temos todas as condições naturais e tecnológicas para vencer o desafio de ajudar a alimentar o mundo.



consultoria especializada

gestão compartilhada de território Colaboração: Karin Rettl e Wilson Stavarengo

Com a evolução do conceito de Sustentabilidade, surgiram novos desafios e obrigações para as empresas florestais, em especial àquelas certificadas (FSC e Cerflor) e de capital aberto. Ganhar em eficiência produtiva deixou de ser suficiente. É necessário contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seus stakeholders e criar caminhos para anular as externalidades negativas. Essa mudança de posicionamento materializa-se globalmente nos processos de planejamento e elaboração de políticas públicas, concretizando-se na forma de leis, normas, certificações e políticas nacionais, regionais e internacionais que regulam todas as etapas da cadeia de valor. Concepção que contribuiu para levar o tema Responsabilidade Social Corporativa (RSC) a fazer parte do planejamento estratégico das organizações.

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Ganhar em eficiência produtiva deixou de ser suficiente. É necessário contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seus stakeholders e criar caminhos para anular as externalidades negativas. " Maria José Brito Zakia Diretora da Práxis Assessoria Socioambiental

O desafio estava posto – os modelos de gestão devem permitir que outras partes interessadas tomem parte do seu modelo de governança, influenciando os processos de tomada de decisão e na gestão do negócio florestal. Colocado em uma única frase: era preciso mudar o modelo mental e quebrar paradigmas, ou substituir as generalidades abstratas pelas peculiaridades concretas das populações locais. Mas como operacionalizar esses conceitos? O PDRT (Programa de Desenvolvimento Rural Territorial) desenvolvido junto e com a área de sustentabilidade da Fibria é uma experiência interessante de gestão compartilhada de território. É preciso destacar o espírito inovador da equipe de sustentabilidade da Fibria que acreditou, apoiou e criou as condições para que a gestão compartilhada do território começasse a acontecer em uma região até então marcada por conflitos. A Unidade Aracruz da Fibria ocupa uma área de plantio de 202,8 mil hectares intercalados com 128,7 mil hectares de áreas destinadas à conservação, formando extensos blocos de florestais. Esse modelo de ocupação contribuiu para o isolamento de comunidades rurais. Como essas comunidades têm no acesso à terra sua base de geração de capital social e econômico, a concentração fundiária

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limitou suas alternativas de geração de trabalho e renda, influenciando no modelo de organização social estabelecido. O PDRT nasceu em setembro de 2010, com o propósito de qualificar o diálogo entre empresa e comunidades. Partiu-se do princípio que, ao se incentivar a organização de cadeias produtivas, seria possível fortalecer e qualificar os arranjos sociais locais e o protagonismo de seus membros. Propósito que orientou a definição do objetivo geral do PDRT: “Promover o desenvolvimento de comunidades rurais vizinhas através do fortalecimento das associações comunitárias e suas redes, focando no apoio à suas cadeias produtivas”. O PDRT tornou-se a principal ferramenta de engajamento da Fibria com comunidades rurais vizinhas.

Todo o processo de tomada de decisão passa a privilegiar e a valorizar o protagonismo da comunidade, o desenvolvimento de lideranças legítimas, a construção de capital social, o resgate da cidadania e a autoestima. Em 2010, em versão piloto, 8 comunidades rurais do extremo sul da Bahia foram engajadas no Programa, beneficiando 197 famílias. A primeira característica inovadora do programa reside na construção de um processo de diálogo com metodologias e ferramentas participativas que possibilitassem: • conhecer o nível de organização sociopolítica, econômica e cultural dos grupos atendidos; • a disseminação desse conhecimento para as outras áreas da empresa, envolvendo-as na compreensão dos problemas, na definição e na implantação de soluções; • a construção de uma linguagem capaz de ser entendida pelas comunidades e pela empresa; • o exercício de implantar modelos participativos de decisão; • a transferência de informações sobre sistemas de manejo alternativos como forma de apresentar oportunidades de geração de trabalho, garantir a segurança alimentar, a conservação dos recursos naturais e a autossuficiência econômica; • a transferência de informações sobre os princípios, os objetivos e os canais de acesso às políticas públicas; • o estímulo à consolidação de redes locais produtivas como forma de organizar e definir o território.


Opiniões O processo de engajamento está baseado na organização de um ciclo de diálogos estruturados com o objetivo de definir combinados claros entre os grupos que compõem as organizações de base comunitária e a empresa. Esses grupos podem estar oficialmente constituídos em associações ou cooperativas, ou estar informalmente organizados. O ciclo está subdividido em 5 fases, que se correlacionam. A primeira fase, o diagnóstico participativo, propicia a coleta de informações, que são sistematizadas, oferecendo um panorama: 1. das necessidades e do tipo de acesso que a comunidade tem a um conjunto de serviços públicos; 2. das questões ambientais relacionadas à forma de ocupação do espaço pela comunidade; 3. da vocação e do potencial econômico das famílias, além dos canais de comercialização e formas de acesso ao mercado. Na segunda fase, são definidos os objetivos da parceria, que devem ser orientados para o fortalecimento das cadeias produtivas já instaladas. A materialização dos combinados acontece com a elaboração de um plano de ação conjunto. Essa fase também é composta por 3 oficinas de 4 horas de duração, cada uma. Os combinados são sistematizados em um modelo de matriz, especificando: a. os objetivos de longo prazo da parceria; b. as metas a serem alcançadas conjuntamente durante o período de um ano; c. as ações que deverão ser realizadas para o atingimento das metas; d. o detalhamento das ações em atividades, com definição dos responsáveis; e. a definição de um calendário de trabalho. A elaboração dos planos de fortalecimento das cadeias produtivas, terceira fase, é dedicada ao levantamento do

perfil econômico de cada família, das práticas de manejo adotadas, das variedades de cultivos e/ou criações de animais e da área disponível. Ao final desse processo, a previsão orçamentária e o cronograma de atividades estarão finalizados e validados. A quarta fase é a da execução e do monitoramento do Plano de Ação. A quinta fase acontece a cada 12 meses, quando os processos vividos passam por uma avaliação compartilhada e por um replanejamento para um novo ciclo de 12 meses, baseado nas lições aprendidas. Um dos principais aprendizados registrados relaciona-se à importância de definir indicadores de impacto. Em geral, os programas de investimento socioambiental financiados por instituições privadas e públicas adotam práticas de monitoramento focadas no controle da aplicação dos orçamentos e da execução das atividades planejadas. O PDRT conta com um sistema de indicadores de efetividade, que, além de qualificar o investimento, oferece informações gerenciais que possibilitam a definição e a gestão de metas, de estratégias de expansão e de correção de rumos, que têm potencializado os ganhos de capital social e o protagonismo das associações de base. O Sistema de Gestão dos Planos de Ação, aliado aos indicadores, também possibilita a disseminação de informações entre as diferentes áreas da empresa e a instalação de um processo de gestão do conhecimento, que impacta na melhoria contínua de sua operação e na qualificação de sua participação no desenvolvimento local.


ensaio especial

Opiniões

parcerias: a simplicidade das soluções práticas A importância da natureza e a interdependência dos ecossistemas e pessoas têm ficado cada vez mais evidentes, e, hoje, percebemos que pessoas em geral têm uma clara noção da necessidade da natureza para sua própria sobrevivência e mesmo para sua capacidade de prosperar. Isso porque, cada vez mais, evidencia-se que a biodiversidade é a guardiã de serviços ambientais essenciais – seja por meio da qualidade e da quantidade do provisionamento de água, seja através da manutenção da qualidade do solo –, que permitem a manutenção dos níveis de produtividade em atividades econômicas humanas.

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Conservação Internacional – e uma empresa do agronegócio – a Monsanto. Desse diálogo, nasceu a parceria Produzir e Conservar, com o foco na sinergia entre as duas entidades e suas cadeias, que visa contribuir, de alguma forma, para a maior conservação da biodiversidade em áreas de crescimento agrícola significativo. Qual seria a contribuição da parceria almejada a longo prazo? O fim do desmatamento, o fim da extinção de espécies e o respeito à legislação ambiental nas regiões onde atuássemos. E, desde o início, já na definição dos locais onde a parceria atuaria, duas perspectivas foram avaliadas, com a total integração desses dois olha-

O desafio é que a biodiversidade está desaparecendo em taxas sem precedentes, resultado de uma combinação de consumo desenfreado no mundo desenvolvido e pobreza persistente nos países em desenvolvimento. "

Gabriela Procópio Burian e Fabio Scarano

Diretora Global de Ecossistemas Agrícolas Sustentáveis da Monsanto e Vice-Presidente para as Américas da Conservação Internacional

O desafio é que a biodiversidade está desaparecendo em taxas sem precedentes, resultado de uma combinação de consumo desenfreado no mundo desenvolvido e pobreza persistente nos países em desenvolvimento. A particularidade do Brasil é termos esses dois mundos aqui presentes. E foi no sentido de contribuir um pouco para enfrentar na prática o desafio que essas duas realidades trazem que, há pouco mais de cinco anos, no Brasil, iniciamos um diálogo não comum entre uma organização não governamental – a

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res diferentes, que se constituiu um fator fundamental para seu sucesso. Por um lado, as regiões com maior crescimento do agronegócio foram apresentadas pela equipe Monsanto. Por seu lado, o time da Conservação Internacional expôs o ponto de vista das áreas que seriam prioritárias conservar em termos de biodiversidade. O cruzamento desses dois pontos de vista levou à eleição de duas áreas de atuação, baseadas, sobretudo, em nossas atividades: mata atlântica do Nordeste, no bioma mata atlântica, e oeste da Bahia, no cerrado.


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ensaio especial A efetivação do trabalho passou por capacitação de equipes, diálogo com a cadeia agrícola e principais stakeholders locais e integração de ONGs locais à parceria. Nosso olhar visava trazer soluções efetivas para essas duas realidades: na primeira, o Brasil desenvolvido, que vemos no Brasil do agronegócio. Nesse, nós acreditamos que a produtividade elevada depende de tecnologia e, por outro lado, sabemos também depender da natureza conservada. E um exemplo bem evidente é a garantia da água – qualitativa e quantitativamente –, base da sustentabilidade dos plantios. Conseguindo alta produtividade sobre as terras hoje já utilizadas, esperamos que o desmatamento não seja mais visto como saída para o aumento da produção. Nesse sentido, em nossa parceria, somados com toda a cadeia agrícola, pudemos garantir cumprimento do Código Florestal em várias fazendas parceiras. Como resultado direto desse trabalho, tivemos, inclusive, a emergência de legislação ambiental municipal focada na regularização da área total de Áreas de Proteção Permanente, por meio da Campanha LEM APP 100% Legal, no município baiano de Luís Eduardo Magalhães, seguindo a linha que o setor florestal brasileiro já há muito realiza. Na outra realidade distinta, no Brasil em desenvolvimento, a situação ainda é de pessoas que coletam lenha diariamente para sua sobrevivência. E foi com essa compreensão somada à necessidade de uma resposta imediata a esse cotidiano que, na mata atlântica do Nordeste, trabalhamos também com um projeto de instalação de ecofogões. Através de parceiros locais como o Cepan (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste), apoiamos a implementação de uma tecnologia mais eficiente, gerando a oportunidade de menor necessidade de lenha coletada por parte daqueles que ainda dependem de fogões a lenha para sobreviver.

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Opiniões Com essa tecnologia, a saúde dessa população também obteve melhorias, pois houve a redução do nível de fumaça dentro dos lares, acompanhada da redução da utilização de lenha e, consequentemente, proteção à biodiversidade local. Voltando ao cerrado, a melhoria da situação de comunidades que vivem no oeste da Bahia ocorreu por meio da criação da Rede de Coleta de Sementes – implementada pela parceria com o governo local e parceiros locais, como o Instituto Lina Galvani. Essa rede traz a capacitação para valorização das sementes nativas por parte da população local, a melhoria de rendimento através de fundo municipal criado para esse fim e a restauração com mata nativa. Assim, ajuda a restaurar, a sensibilizar e a melhorar o rendimento das famílias. Gostaríamos de destacar, ainda dentro das ações da parceria, que o maior conhecimento da biodiversidade traz maior valoração. De modo geral, a falta de entendimento dos serviços ambientais e seus limites derivados da biodiversidade acarretam falta de cuidado e desvalorização. Por assumirmos que esses serviços existirão para sempre, deixam de participar das contas públicas ou contas privadas. Nesse sentido, a parceria também está desenvolvendo, no oeste baiano, um projeto ligado ao TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity) para o setor de negócios brasileiro, que vai valorar os recursos hídricos na região utilizados pela agricultura. Esse estudo permitirá um melhor entendimento dos custos financeiros, potenciais dependências e impactos ambientais e, mais ainda, o entendimento de oportunidades de bons negócios baseados em um meio ambiente sadio. Assim, acreditamos poder contribuir para essas duas realidades tão desafiadoras quanto diferentes: a produção e a conservação, na prática, hoje, no campo, e ajudando a preparar a valoração de ecossistemas e biodiversidade para uma nova economia, produzindo mais, conservando mais e ajudando a melhorar vidas.


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Resultados gráficos de medições feitas pelo Logmeter 4000

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