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www.revistaopinioes.com.br
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ISSN: 2177-6504
FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 10 - Divisão F - número 30 - dez 2012-fev 2013
como continuar competitivos ?
índice
como continuar competitivos 6
Elizabeth de Carvalhaes
Presidente executiva da Bracelpa
Ensaio Especial:
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Lucas Rezende Gomide
Luiz Antonio Cornacchioni Diretor Executivo da Abraf
Gilson Geronasso Presidente da APRE
Heuzer Saraiva Guimarães Presidente da SIF
Armando José Storni Santiago Presidente do IPEF
Nilton José Sousa
Diretor Administrativo da Fupef-PR
30 33 36
Embrapas:
Professor de Planej, Otimização e Manejo na UFLA
Entidades:
Universidades:
Agentes empresa-universidade:
Editorial:
20 22 26 28
Helton Damin da Silva
Chefe geral da Embrapa Florestas
Manoel Teixeira Souza Junior Chefe geral da Embrapa Agroenergia
Natoniel Franklin de Melo
Chefe geral da Embrapa Semiárido
Claudio José Reis de Carvalho
Chefe geral da Embrapa Amazônia Oriental
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Jorge Antonio de Farias
Diretor do Centro de Pesquisas Florestais da UF-SM
Ismael Eleotério Pires
Chefe do Dpto de Engenharia Florestal da UF-Viçosa
Mario Tomazello Filho
Chefe Dpto Ciências Florestais da Esalq-USP
Empresas produtoras:
38 41 44 45
Cesar Bonine e Fernando Bertolucci Gerentes da Fibria
Fernando Palha Leite
Coordenador de P&D Florestal da Cenibra
Moacir Batista do Nascimento Filho Superintendente Técnico da V&M Florestal
Brígida Maria dos Reis Teixeira Valente
Coordenadora de P&D,I da ArcelorMittal BioFlorestas
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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano
editorial
a biotecnologia e o futuro do
planeta
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome todos os dias no mundo. Também prevê que a população mundial alcance os 9 bilhões de habitantes em 2050. Atualmente, somos aproximadamente 7 bilhões. Governos, empresas e instituições privadas, organizações socioambientais, organismos internacionais e cidadãos em todo o mundo estão diante de um problema de dimensões gigantescas e que ainda pode agravar-se. Como enfrentá-lo? A própria FAO estima que será preciso expandir em cerca de 60% a produção agrícola do planeta, ou seja, precisaremos produzir mais com menos recursos naturais. Portanto combater a fome da humanidade nos próximos anos é tão importante e urgente quanto a questão das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa (GEE). Por outro lado, o desafio de alimentar o planeta também vai gerar oportunidades em muitos países, especialmente no Brasil, traduzidas na busca de soluções para aumentar a produção sem esgotar as fontes de matéria-prima. Para se adaptar a esse novo contexto mundial, o setor produtivo terá de aprimorar as técnicas de uso da terra, da água, de energia e demais recursos, conciliando a produção sustentável dos chamados 4Fs (do inglês food, fiber, fuel and forests). Esse conceito engloba as principais demandas de cunho socioeconômico e ambiental, e sua evolução depende de decisões políticas em todo o mundo.
combater a fome da humanidade nos próximos anos é tão importante e urgente quanto a questão das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa " Elizabeth de Carvalhaes Presidente executiva da Bracelpa
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Opiniões Nesse sentido, a biotecnologia vem se destacando como mais um instrumento para superar esse desafio mundial. Segundo a International Service for the Acquisition of Agro-Biotech Application (Isaaa), essa foi a tecnologia agrícola mais adotada nos últimos 10 anos, com uma área atual plantada 94 vezes maior do que a área existente em 1996, distribuída em 29 países. Já existem mais de 160 milhões de hectares de culturas agrícolas transgênicas cultivadas mundialmente, e o Brasil, com uma área equivalente a mais de 30 milhões de hectares, ocupa o segundo lugar do ranking de área plantada com organismos geneticamente modificados (OGMs) no mundo. Para a consultoria de valoração e precificação Ceteris, os benefícios da biotecnologia, já quantificados e acumulados de 1996 a 2010, incluem o incremento no volume e no valor de produção, que atingiu US$ 78 bilhões, e a provisão de melhorias ambientais, por evitar o uso de 443 milhões de quilos de ingrediente ativo de pesticidas. Também já registram a conservação da biodiversidade, por evitar que 91 milhões de hectares adicionais de terras fossem destinados à agricultura; a redução da pobreza por meio de programas para 15 milhões de pequenos produtores; e uma redução de emissão de 19 milhões de toneladas de CO2, somente no ano de 2010. Assim, a biotecnologia arbórea poderá contribuir para superar os importantes desafios relacionados aos 4Fs. Além disso, representa uma alternativa potencial para os distintos aspectos do tripé da sustentabilidade (social, econômico e ambiental). Estados Unidos e China, por exemplo, já aprovaram a utilização da biotecnologia arbórea em árvores de mamão e álamo. No Brasil, no entanto, essa tecnologia ainda não foi aprovada, nem utilizada em escala comercial e encontra-se em fase de pesquisa. No total, já são mais de 800 testes e estudos desenvolvidos globalmente por acadêmicos, cientistas e institutos de pesquisa de renome internacional, além de empresas. Benefícios: Para o setor de florestas plantadas, celulose e papel, a biotecnologia arbórea contribuirá de forma significativa em diversos aspectos, a começar pelos benefícios econômicos, com estímulo para novos investimentos, redução de custos de produção e risco de perdas e aumento de competitividade. Entre os benefícios ambientais, destacamos o controle de pragas e doenças, aumento potencial da produtividade da madeira, redução do consumo de recursos naturais e incentivo à implantação de sistemas agroflorestais. No lado social, os benefícios podem ser ainda mais visíveis, com o atendimento de demandas geradas pelo crescimento da população mundial, a educação e a capacitação profissional e a geração de emprego e renda. É importante ressaltar, mais uma vez, que será necessário suprir as carências sem exaurir os recursos naturais. Nesse sentido, o uso da biotecnologia poderá facilitar o atendimento da demanda por produtos de base florestal, de forma sustentável, nos mais diversos setores, como o de alimentos, energia, medicamentos, eletroeletrônicos, embalagens, calçados, higiene pessoal, automotivo, cosméticos e brinquedos, além do de celulose e papel. O Brasil tem muito a contribuir nessa evolução da biotecnologia arbórea, por sua reconhecida excelência no manejo florestal, por ser um grande produtor agrícola e por possuir terras disponíveis para atender a parte significativa da demanda mundial, seja por alimentos, biocombustíveis ou produtos florestais.
No nível global, é preciso que governos e instituições conheçam os avanços científicos resultantes de estudos e pesquisas da aplicação da biotecnologia como ferramenta essencial para suprir demandas futuras. Além disso, é fundamental que avaliem, ampla e conjuntamente, os riscos e as oportunidades do uso da biotecnologia no contexto das propostas para o desenvolvimento sustentável. Assim, acreditamos que a biotecnologia deve ser vista como aliada na implementação de soluções mundiais para a erradicação da pobreza extrema, a valorização das florestas na economia dos países, o fortalecimento do multilateralismo, a difusão de tecnologias para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e a proteção de recursos naturais (pagamento por serviços ambientais). Repercussão Global: Os debates em busca de soluções para essas questões começam a ganhar novos contornos nos fóruns internacionais, graças ao reconhecimento da importância das florestas também no âmbito socioeconômico. Um exemplo é a conferência internacional que a FAO promoverá em maio de 2013, em Roma: “Forests for Food Security and Nutrition”. A pauta é extensa, engloba diversos temas aqui expostos, como escassez de recursos naturais, medidas de proteção e conservação do meio ambiente e o papel dos governos. Isso envolve cientistas, representantes da indústria de produtos florestais, organizações socioambientais e produtores rurais. Será uma oportunidade única de apresentar boas práticas e propor soluções – incluindo a biotecnologia arbórea – que, acreditamos, podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento global sustentável e a erradicação da fome. O setor de florestas plantadas, celulose e papel brasileiro vem trabalhando para levar o tema “biotecnologia arbórea” aos mais diversos fóruns. Queremos envolver organizações governamentais e não governamentais, sistemas de certificação, representantes do Governo Federal, de outros setores produtivos, das universidades, entre outros públicos, em um debate que tenha por base a ciência e, a partir daí, buscar o consenso sobre a melhor solução para o futuro.
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a visão das entidades
Opiniões
P&D
o diferencial do setor de florestas plantadas
É incontestável a liderança mundial do setor de florestas plantadas do Brasil, fato esse reconhecido em todos os fóruns. Porém essa liderança não se deve apenas às favoráveis condições edafoclimáticas do País, mas, principalmente, aos maciços investimentos em pesquisa e desenvolvimento realizados ao longo de anos, tanto pelo setor privado como por universidades, instituições de pesquisas e órgãos públicos de fomento. Esses investimentos, inicialmente fundamentados em materiais genéticos, manejo florestal e ambiental, criaram as condições ideais de desenvolvimento das culturas de eucalipto e pinus e sua difusão para as diversas regiões deste nosso Brasil. Com isso, houve a expansão da base florestal, proporcionando a verticalização da atividade, através da implantação de diversas indústrias de transformação de madeira proveniente de florestas plantadas. Isso colocou o setor em posição de destaque na economia nacional. Outro resultado importante decorrente da aplicação de recursos, que na maioria das vezes é feito em parcerias com universidades e institutos de pesquisas, é a formação de profissionais de diversos níveis. Temos, hoje, na academia, um celeiro de formação de pessoas, e seus efeitos podem ser observados pela excelência de gestão do setor. Analisando o que foi descrito, podemos concluir que estamos em posição confortável e não precisamos mudar nada. Mas não é bem assim!
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Porém existe outro ponto fundamental no qual devemos focar nossa atenção: é o fortalecimento das instituições. Em toda a sociedade organizada, são as leis e os marcos regulatórios que orientam as condutas que devem ser observadas e seguidas. " Luiz Antonio Cornacchioni Diretor Executivo da ABRAF
Vivemos em um mundo de constantes transformações, muitas delas em velocidades surpreendentes, fazendo com que os cenários se alterem em um curto intervalo de tempo. Frente a isso, o que fazer para nos manter competitivos? Primeiramente, quanto aos investimentos em P&D, mesmo que as condições econômicas não sejam as mais favoráveis, é fundamental mantê-los. Avançamos muito nas metodologias empregadas, e os resultados nesse segmento são
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alcançados no longo prazo e de forma continuada; eventual interrupção ocasiona atraso em efeito cascata e muito tempo para se retomar. Outro fator de que não podemos nos descuidar é a formação de pessoas. Com a globalização dos mercados e a rápida propagação das informações, a exigência atual é por profissionais capazes de atuar em situações adversas. Não há dúvida de que o Brasil dispõe de condições para manter-se na fronteira do conhecimento, e o setor sabe da sua competitividade e investe continuamente em P&D e gestão. Porém existe outro ponto fundamental no qual devemos focar nossa atenção: é o fortalecimento das instituições. Em toda a sociedade organizada, são as leis e os marcos regulatórios que orientam as condutas que devem ser observadas e seguidas. Temos que atuar de maneira organizada e contínua nesse segmento, para que possamos concatenar os resultados alcançados e colocá-los em prática, respeitando as exigências da sociedade. O setor de florestas plantadas consolidou seu papel nos cenários nacional e internacional fundamentado em sólidos conceitos. Não há dúvida de que temos um horizonte promissor para os próximos anos. Para que possamos nos manter como protagonistas nesse segmento, devemos continuar investindo em pesquisa & desenvolvimento, em gestão e no fortalecimento institucional.
a visão das entidades
o caminho da
inovação Colaboração: Ailson Loper e Carlos Mendes, Diretor e Gerente da APRE
O estado do Paraná tem cerca de 850.000 ha de florestas plantadas (aproximadamente 4% da área total do estado), sendo mais de 80% do gênero pinus. Possuímos uma das mais altas taxas de produtividade em crescimento, particularmente devido aos programas de pesquisa e de desenvolvimento de empresas, universidades, institutos de pesquisa e parcerias entre essas entidades. O grande fator de atratividade do setor florestal no Paraná está na produção de madeira advinda das florestas de alta produtividade e do parque industrial instalado que contempla toda a cadeia produtiva. Altas produções, aliadas a um eficiente controle de custos, tornam as empresas do estado competitivas.
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a clonagem de indivíduos puros ou híbridos pode trazer um novo e significativo avanço na produção florestal, um novo ciclo de incremento da produção, semelhante àquele que foi obtido com o melhoramento florestal tradicional " Gilson Geronasso Presidente da APRE
No entanto, indiscutivelmente, o Paraná precisa de maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento, especialmente na área de logística, visando criar uma rede de transporte que possa garantir custo baixo e segurança na entrega, ou seja, regularidade no transporte. O setor florestal transporta para consumo – diferente da agricultura, que transporta para estoque –, e isso faz com que a rede de estradas para o transporte de toras seja intensamente utilizada, inclusive em períodos de clima adverso, pois os estoques dessa matéria-prima nas unidades industriais são pequenos; isso porque, economicamente, estoque é custo. Para se ter uma malha de vias de transporte para toras, é preciso investimentos e trabalhos que envolvam as empresas, a academia e os governos municipais e estadual. Nesse sentido, a APRE iniciou as tratativas com o governo estadual, dentro de um modelo de readequação e recuperação de estradas vicinais, que deverão
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envolver a participação desses três atores. O uso da madeira de floresta plantada na construção civil é um grande gargalo para o setor de base florestal, que necessita criar formas de estímulo para a utilização mais adequada de seus produtos, saindo, por exemplo, do uso de tábuas largas na fabricação de caixaria para concreto na construção, para o uso racional e mais nobre da madeira nas estruturas e nos modelos construtivos – que usam mais madeira e de forma mais inteligente. Para tanto, pesquisa e desenvolvimento de processos têm sido realizados, e é certo que muito esforço ainda precisa ser feito para levar a tecnologia existente na academia e institutos de pesquisa para dentro das construções.
A APRE tem atuado fortemente nesse segmento, visando atingir o “cliente do nosso cliente”, buscando abrir mercado para o setor de madeira serrada de florestas plantadas. Com esse objetivo, estão sendo realizados ciclos de palestras junto com o Sinduscon-PR, para debater com profissionais de engenharia civil, arquitetos e empresas construtoras as vantagens e dificuldades do maior uso de madeira nas construções. Também irá promover, em outubro de 2013, com a Universidade Federal do Paraná, um simpósio e uma feira sobre o incentivo do uso da madeira de floresta plantada na construção civil. No campo da utilização da madeira sólida, a academia, empresas e associações precisam destinar mais trabalhos na normatização da madeira serrada de pinus. Um dos grandes entraves na utilização da madeira de pinus na construção civil é a falta de normatização, o que leva a dificuldades nos projetos, nas construções e no financiamento.
Opiniões As empresas florestais estão constantemente desenvolvendo pesquisas, buscando novas tecnologias. O histórico acréscimo nos incrementos médios anuais, a biotecnologia empregada na produção florestal, o manejo integrado de pragas, a tecnologia empregada na colheita florestal, o desenvolvimento de novos produtos são evidências desse caminho. Diversos casos comprovam a necessidade e o sucesso do desenvolvimento de pesquisas em parceria entre a iniciativa privada e instituições de pesquisa. A criação do Funcema - Fundo Nacional de Combate a Pragas Florestais, nascido em 1989, gerido pelas associações de empresas de base florestal do Sul do Brasil, com a fundamental participação da Embrapa Florestas, teve o foco inicial no controle da vespa da madeira, praga que, na época, preocupou imensamente os silvicultores e, atualmente, está controlada. Essa iniciativa de parceria público-privada é um exemplo de grande sucesso reconhecido mundialmente. Hoje, o Funcema, com a Embrapa Florestas, atendendo a uma demanda da área produtiva, desenvolve programas de pesquisas relacionados ao controle de formigas cortadeiras, manejo do macaco-prego, entre outros, além de prosseguir com os trabalhos de monitoramento e controle da vespa da madeira. A existência de alguns mecanismos financiadores de pesquisa, mesmo em estágio inicial, são de extrema valia para o incentivo à pesquisa e à inovação. A “Lei do Bem” (lei nº 10.973, de 2004), de que algumas empresas associadas a APRE já estão usufruindo, é um incentivo indireto que desperta grande interesse entre as empresas, pois possibilita o enquadramento das pesquisas realizadas para inovação dos processos e produtos nesse incentivo, além de estimular a presença de pesquisadores nas empresas. A inovação e a tecnologia se configuram atualmente como o principal diferencial competitivo, principalmente no setor florestal, onde os custos se elevaram drasticamente, e os preços ficaram totalmente reprimidos nesses últimos anos, restando às empresas o caminho da inovação para a manutenção de suas posições. De qualquer forma, muita pesquisa e desenvolvimento precisam ser ainda implementados. Os programas de hibridação trazem grandes vantagens, pois permitem agrupar, em um mesmo indivíduo, características desejáveis para
determinados fins. O estado da arte de hibridação de pinus no Brasil é ainda incipiente, e muito esforço precisa ser empreendido nessa área. Assim, o setor florestal procura, ainda, que trabalhos nesse campo sejam bem desenvolvidos, para que algumas características sejam agrupadas. Temos bons programas de pesquisa em melhoramento florestal, onde o crescimento volumétrico tem sido expressivo. Outras características precisam ser trabalhadas, como a qualidade de madeira em árvores jovem e adulta, representada pela densidade, para trazer maior resistência e consequente melhor utilização nos diversos produtos que utilizam madeira, tanto na forma picada (celulose, papel, chapas reconstituídas e energia) quanto para madeira sólida; outra característica importante na madeira para o mercado é a cor. Também resistência ou tolerância a pragas e a doenças, para garantir que as produções sejam alcançadas nos programas de desenvolvimento florestal; temos a vespa-da-madeira, o pulgão do pinus, formigas cortadeiras e o macaco-prego. O controle e o manejo dessas pragas têm sido estudados pela Embrapa, estimulados pelas empresas florestais do Paraná e de Santa Catarina. As técnicas de clonagem permitem reproduzir indivíduos com as características selecionadas e desejáveis, proporcionando um grande avanço à silvicultura de pinus. Poucos trabalhos têm sido realizados nesse campo, o que faz com que não se obtenham os ganhos de produção, assim como se tem com eucaliptos, por exemplo. A clonagem de indivíduos puros ou híbridos pode trazer um novo e significativo avanço na produção florestal, um novo ciclo de incremento da produção, semelhante àquele que foi obtido com o melhoramento florestal tradicional, tema pelo qual o setor tem grande expectativa por expressivos avanços, com auxilio da academia e das instituições de pesquisas. Outra área carente em pesquisa e tecnologia é a fertilização e a nutrição em pinus. Por certo, bons resultados poderão ser conseguidos para o aumento e a manutenção da produtividade. E, finalmente, considerando a importância do setor, que contribui com mais de 7% para o PIB do estado e tem importância socioambiental incontestável, é imprescindível que o governo estadual reconheça essa realidade e defina e implante uma política florestal sólida e eficiente.
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a visao dos agentes empresa-universidade
Opiniões
potência florestal
ameaçada Colaboração: Prof. Sebastião Renato Valverde, da UF de Viçosa
O Brasil é a maior potência florestal do mundo graças às suas condições naturais de solo, de clima e de disponibilidade de áreas contíguas com vocação florestal em seu território continental. Essa vantagem comparativa é do conhecimento de muitos, mas poucos sabem que ela é fruto do acaso e do esforço individual de alguns, que se dedicaram à causa florestal de “corpo e alma”. Méritos navarrianos à parte, o fortalecimento da silvicultura brasileira se credita ao acaso de duas políticas públicas da época do regime militar. A primeira delas é a dos incentivos fiscais ao reflorestamento, que tinha como objetivo a redução da pressão sobre as florestas nativas por parte das indústrias florestais. A segunda é a que instituiu os Programas Nacionais de Desenvolvimento (PND I e II) de apoio aos projetos das grandes indústrias de celulose e aço.
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multidisciplinares e áreas de experimentação em pesquisas florestais, bem como as universidades e as empresas de pesquisas públicas. Essa cooperação só foi possível devido ao empenho de institutos de pesquisas que souberam muito bem fazer essa ligação de empresas privadas com órgãos públicos. Nesses termos, a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), ao longo de suas quatro décadas de existência, tem promovido um papel fundamental no progresso da ciência florestal e na competitividade da silvicultura brasileira. Os primeiros reflorestamentos subsidiados alcançavam produtividades (Incremento Médio Anual aos sete anos, IMA7) médias de 20 m3/ha/ano, consideradas razoáveis numa época em que a ciência florestal engatinhava. Já no seu jubileu de ouro, a ciência propiciou um aumento para 40 m3/ha/ano. Projeta-se para a próxima década IMA de
apesar de a área florestal ser, aparentemente, a mesma hoje em dia, a produção de madeira mais que duplicou, graças ao avanço da produtividade em virtude da individualidade dos profissionais envolvidos com a pesquisa florestal " Heuzer Saraiva Guimarães Presidente da SIF
Essas políticas foram responsáveis por aumentar a área de reflorestamento de 500 mil para 6 milhões de hectares, mas, dadas as circunstancias da época, essa expansão se deu, em alguns casos, de forma empírica, desordenada e desconectada da principal força logística, que impõe que os reflorestamentos sejam implantados próximos da indústria consumidora. Passados 25 anos dessas políticas (em 1988, a Lei 7.714/88 decretou o fim dos incentivos), apesar de a área florestal ser, aparentemente, a mesma hoje em dia, a produção de madeira mais que duplicou, graças ao avanço da produtividade em virtude da individualidade dos profissionais envolvidos com a pesquisa florestal – melhoramento Carjo genético, nutrição mineral de plantas e manejo silvicultural –CFO e dad cooperação entre as empresas, que são detentoras de equipes
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50, embora seja comum encontrar povoamentos de eucalipto com 60. Esse salto na produtividade é fruto das pesquisas que foram conduzidas com o esforço de renomados profissionais de universidades e empresas privadas. No entanto se vê que os ganhos marginais propiciados pelo melhoramento genético e manejo silvicultural são limitados e estão se estabilizando, sendo que, para se manter competitivo na área florestal, há que se avançar em pesquisas aplicadas à genética (quantitativa e molecular), incluindo ganhos proporcionados pela transgenia, caracterização edafoclimática, ecofisiologia e aspectos socioambientais, entre outros. Da mesma forma, do ponto de vista operacional, à medida que o seu custo sobe, há que se buscar alternativas operacionais mais intensivas em capital do que em trabalho,
a visao dos agentes empresa-universidade o qual caracterizava esse tipo de projeto. Nesses casos e no excesso burocrático, é onde residem os principais desafios para o progresso tecnológico do setor florestal brasileiro. Até então, o processo de abertura do mercado internacional favorecia o crescimento da silvicultura brasileira. Entretanto o fortalecimento do setor florestal asiático e a democratização do continente africano podem colocar em xeque nossa vocação florestal, caso as lideranças do setor e o poder público não enfrentem tais desafios. Embora a disponibilidade de recursos do Governo Federal para financiamento em pesquisa tenha aumentado nos últimos 10 anos, ainda assim, o limite é insignificante para se investigarem projetos de longo prazo e está muito aquém do que é disponibilizado por outros países. Além dos obstáculos naturais inerentes aos projetos florestais, faltam programas estratégicos cooperativos em investigações, e, mesmo quando eles existem, a disponibilidade financeira é insuficiente e de difícil gerenciamento. Visões medievais construídas por mitos e crendices sob a dimensão ambiental exacerbada contribuem para dificultar o avanço e os resultados das pesquisas na ciência florestal e do próprio setor. Perigosamente, tem se difundido um comportamento contrário ao uso de defensivos de toxicidade reconhecidamente quase nula e ao uso de transgênico em testes florestais. Interferências negativas acontecem até no combate a pragas florestais por meio das técnicas de controle biológico. É o caso do percevejo bronzeado: embora tenhamos tecnologia para o combate biológico, dependemos de autorização do órgão competente para liberar o uso do parasita natural em nível de campo. Essas limitações etnoambientalistas e os onerosos processos de licenciamento têm levado o Brasil a desperdiçar muitas oportunidades na expansão da sua indústria florestal. Somam-se a isso os excessos da legislação trabalhista que, recentemente, tem imposto a primarização do quadro de trabalhadores em detrimento da orientação natural no mundo, que é o da terceirização. Enquanto o Brasil impõe dificuldades para a expansão da produção florestal, países concorrentes subsidiam a silvicultura.
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Enquanto o gigante Brasil adormece e dificulta a ação de seus empresários, os concorrentes estão liberando fartos recursos para atrair investidores florestais, ameaçando nosso esplêndido berço florestal. Para agravar o quadro de insuficiência financeira de apoio às pesquisas florestais, tem-se os efeitos burocráticos que comprometem a livre iniciativa e a criatividade exigidas em qualquer ação científica. Os pesquisadores carecem de autonomia na condução de suas experiências. Dessa forma, para que o Brasil se mantenha na vanguarda do setor florestal, há que se investir continuamente na ciência e no desenvolvimento tecnológico. O País precisa elevar a commodity madeira em produto de qualidade nacional e transformar sua vantagem comparativa silvicultural em competitividade, antes que os potenciais concorrentes o façam. Para isso, há que se aumentar os recursos para investimento em pesquisas, tanto em nível de poder público quanto de iniciativa privada, fortalecendo as instituições que interligam esses níveis por meio de um programa cooperativo de pesquisas focado nos principais problemas com que o setor florestal se depara. As demandas das empresas florestais em resolver problemas técnico, científico, econômico, social e ambiental são várias, e, de forma oportuna, surgem novos problemas fortuitos ao setor. Por isso as lideranças florestais têm que agir mais proativamente junto às entidades da classe no que tange a defender o setor dos efeitos negativos dessas casualidades que dificultam a adequada dinâmica de seu crescimento. A efetividade na transformação de vantagens comparativas em diferenciais competitivos depende, para eficácia dos projetos de pesquisa, da ação cooperativa intrassetor privado, ativa participação desse setor junto ao poder público nos níveis municipal, estadual e federal, bem como engajamento político convergente com as demandas e os princípios que fortaleçam e consolidem a sustentabilidade de um dos setores de maior relevância socioambiental do País.
Opiniões
desenvolvimento tecnológico: a base da
competitividade
Nos idos de 1964, foram dados passos decisivos com a Esalq/USP numa ação de sinergismo entre antigos colegas, diretores de empresas e o Prof. Helládio do Amaral Mello, então catedrático da citada escola, culminando na criação do IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, em 1968. O IPEF foi fundado pelas empresas Champion, Madeirit, Rigesa, Leon Feffer, Duratex e a Esalq/USP. Dos fundadores, a Champion (atual International Paper) foi a primeira a assumir a presidência, na época, desse projeto vitorioso que, no próximo ano, comemora 45 anos de existência. Desde a década de 1960, o IPEF com as grandes empresas do setor florestal vêm contribuindo para garantir a competitividade do setor de florestas plantadas no Brasil, que, até então, realizava os plantios das florestas, principalmente de Pinus e Eucalyptus, baseando-se em informações importadas do exterior e incipientes estudos das universidades, institutos e centros de pesquisas espalhados pelos diferentes estados brasileiros, principalmente das regiões Sul e Sudeste.
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o depósito de patentes e a proteção de cultivares no Brasil ainda estão muito aquém do que deveriam ser, permitindo aos nossos concorrentes o acesso irrestrito a tudo que levamos décadas para desenvolver, de forma fácil e a custo zero "
Armando José Storni Santiago Presidente do IPEF
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a visao dos agentes empresa-universidade Devido à falta de conhecimento e de tecnologia em florestas plantadas, foram criadas inúmeras parcerias entre as empresas privadas, universidades e institutos de pesquisa nacionais e internacionais, nas quais foram estruturados os programas de melhoramento genético clássico, para testar e selecionar as espécies mais adaptadas às condições edafoclimáticas de cada região, seguida da seleção das melhores procedências e famílias de cada espécie. Da mesma forma, foram iniciadas as pesquisas de manejo florestal para determinar a melhor forma de preparo do solo, adubação, espaçamento, controle de ervas daninhas, controle de pragas e doenças, bem como a idade ótima de corte, entre muitas outras linhas de pesquisa. Um dos pontos de destaque do IPEF são seus programas cooperativos, os quais procuram otimizar os recursos financeiros, materiais e humanos das empresas associadas e os representantes dos institutos de pesquisa e universidade. O IPEF tem, atualmente, vários programas cooperativos, como o Programa Temático de Silvicultura e Manejo (PTSM), Programa de Proteção Florestal (PROTEF), Programa Tolerância de Eucalyptus Clonais aos Estresses Hídrico e Térmico (TECHS), Programa Cooperativo em Certificação Florestal (PCCF), entre outros. Com o nível de sofisticação das pesquisas atuais, não é possível a realização do desenvolvimento tecnológico de forma isolada, e a parceria com universidades, institutos de pesquisas, bem como entre as próprias empresas do setor privado, se torna fundamental. E, devido à amplitude das pesquisas realizadas, é comum a associação das empresas com diversos institutos de pesquisa, como o próprio IPEF, a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), o Instituto Florestal (IF), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a International Union of Forestry Research Organizations (IUFRO), o Tropical Forest Research Centre (CSIRO), a Forest Productivity Cooperative (FPC), entre outros. Como resultado de todo esse esforço e investimento em pesquisa, a produtividade média das florestas plantadas praticamente triplicou no Brasil, saindo de um patamar de 12 a 15 m3/ha/ano, na década de 60, para os atuais 40 m3/ha/ano. Não apenas a produtividade evolui ao longo dessas décadas, mas tivemos avanços significativos em qualidade para os mais diversos usos da madeira, como celulose e papel, energia e produtos sólidos.
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Opiniões
Com isso, o setor florestal brasileiro se tornou referência mundial em florestas plantadas, principalmente de Pinus e Eucalyptus, atraindo investimentos de diversas empresas nacionais e multinacionais, transformando o Brasil, por exemplo, de país importador de celulose em maior exportador de celulose de fibra curta do mundo. Entretanto, para o Brasil manter sua competitividade e sua posição de liderança no cenário mundial, será necessário, novamente, uma ação conjunta entre o setor público e o privado, para o setor florestal brasileiro estabelecer um novo patamar de produtividade, qualidade e custos de produção de fibras, bem como do produto final. Como primeiro desafio, antes mesmo de pensarmos em aumento de produtividade, devemos nos preocupar em como manter nossa produtividade florestal atual, frente aos danos que nossas florestas plantadas no Brasil vêm sofrendo nos últimos anos, principalmente devido ao aparecimento de novas pragas, como a vespa da galha e o percevejo bronzeado, e a fatores abióticos, como o estresse hídrico e os danos por vento, que também tem afetado a produtividade das florestas no Brasil. Outro ponto preocupante é em relação ao custo e à disponibilidade de mão de obra para as operações florestais. Com o crescimento da economia brasileira, estão sendo geradas muitas oportunidades de emprego, e, como vem acontecendo ao longo dos anos, há uma migração da mão de obra do campo para os centros urbanos, dificultando e onerando a manutenção dessa mão de obra no campo. E a única forma de equacionar essa questão é por meio da intensificação da mecanização das operações florestais. Nesse sentido, há necessidade de desenvolvimento de equipamentos florestais propriamente ditos e não apenas adaptações de máquinas agrícolas para o setor florestal. Mais uma vez a parceria entre as empresas florestais, os fornecedores de equipamentos e as universidades/institutos de pesquisa é fundamental para avançarmos nesse quesito. Aliado a essas questões, um dos fatores que têm levado a perda de competitividade no cenário global é a falta da proteção da propriedade intelectual gerada pelo País. O depósito de patentes e a proteção de cultivares no Brasil ainda estão muito aquém do que deveriam ser, permitindo aos nossos concorrentes o acesso irrestrito a tudo que levamos décadas para desenvolver, de forma fácil e a custo zero. E ainda correndo o risco de as empresas brasileiras terem que pagar royalties por algo que elas mesmas desenvolveram. É necessária uma mudança radical na forma como gerimos nosso capital intelectual. No tocante às políticas governamentais, evoluímos muito nos últimos anos com leis que estimulam o investimento em pesquisa, mas ainda há muito que melhorar. O acesso a linhas de financiamento voltadas à pesquisa, principalmente quando se trata de projetos de alto risco e alto investimento, em que a contrapartida do governo é crucial para a viabilização da pesquisa, é extremamente morosa, pouco transparente e restritiva, dificultando o acesso a tais recursos. Por fim, para mantermos a competitividade do setor florestal brasileiro, a gestão da inovação tecnológica é uma cultura que precisa ser estabelecida rapidamente. De forma a acelerar e direcionar desenvolvimento tecnológico de ruptura e incremental, redesenhando processos, gerando novos produtos e novos negócios. Por meio dessas ações, poderemos garantir os ganhos conquistados no passado e os ganhos futuros para nos mantermos na posição atual e consolidar o setor florestal brasileiro, como a plataforma de fibras para a América Latina e para o mundo.
a visao dos agentes empresa-universidade
a consolidação da
liderança
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apenas na UF-PR, em quarenta anos de existência do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, já foram produzidos e defendidos quase mil trabalhos, entre dissertações e teses "
Nilton José Sousa
Diretor Administrativo da Fupef-PR
Quando recebi o convite para participar desta edição da Revista Opiniões, me foi perguntado se “o setor florestal está fazendo os investimentos necessários para a manutenção e o avanço da nossa liderança no setor florestal” e “qual é o papel que a instituição que represento – a Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná - Fupef –, tem na pesquisa florestal brasileira”. Confesso que achei difícil responder à primeira pergunta com precisão. Para tentar chegar a uma resposta, comecei a elaborar um panorama mental do nosso setor, buscando visualizar como é que conseguimos, em tão pouco tempo, avançar tanto em vários setores da produção florestal. Nessa reflexão, surgiram vários fatores e cenários, como o investimento público dos incentivos fiscais, a natureza privilegiada que temos, o pioneirismo e a audácia dos empresários, entre vários outros fatores. Mas, acima de tudo, concluí que o avanço só foi possível porque fomos capazes de aliar investimento com inovação. Em relação aos investimentos, basicamente eles têm duas origens, a iniciativa privada ou o governo. Em relação à inovação, esta só ocorre quando são geradas informações qualificadas sobre um determinado tema. Estas, por sua vez, podem ser compradas de outros países e adaptadas aos nossos processos, ou, então, podem ser geradas e desenvolvidas para as nossas condições e realidade; para tanto, a principal fonte é a pesquisa criteriosa e com base científica.
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Realizada essa contextualização, a pergunta inicial pode ser mais específica: os investimentos em pesquisa são suficientes para o avanço e a manutenção da nossa liderança no setor florestal? Eu considero que não, os investimentos em pesquisa florestal são escassos em nosso país e inferiores ao que deveríamos ter. Resumidamente, a principal fonte de investimento é o governo, que realiza pesquisas nessa área através das universidades e dos centros de pesquisa. Se tudo o que é investido for somado, sem dúvida, o número é expressivo, porém, como é fragmentado para dezenas de instituições e centenas de professores, pesquisadores e alunos, o valor torna-se inexpressivo. Mesmo assim, muito se é realizado: apenas na UF-PR, em quarenta anos de existência do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, já foram produzidos e defendidos quase mil trabalhos, entre dissertações e teses. Grande parte dessas dissertações e teses só foi realizada graças à participação e ao investimento da iniciativa privada, pois o setor empresarial colaborou e colabora, de forma decisiva, para a execução das atividades de pesquisa da UF-PR, custeando e fornecendo a infraestrutura necessária para a execução de inúmeros projetos e experimentos de nossa instituição.
Opiniões Concluindo a questão dos investimentos, eu considero que não fazemos os investimentos necessários. Os investimentos em pesquisa florestal são escassos e inferiores ao que deveríamos ter. Tenho sempre a sensação de que a cúpula de nosso governo não entende o setor florestal, não sabe de suas necessidades, por isso não investe de forma adequada. Em relação ao setor empresarial, conforme citado, a colaboração e o apoio são imprescindíveis para a viabilidade e aplicação das pesquisas geradas. Porém a pesquisa em muitas empresas ainda é vista como custo e não como estratégia de desenvolvimento, por isso, na maioria das empresas, essa atividade sempre está na linha de corte e redução de investimentos. Quanto ao papel que a Fupef tem na pesquisa florestal, primeiramente, é preciso um esclarecimento. Alguns acreditam que uma instituição como a Fupef tem a missão e a obrigação de patrocinar e gerar pesquisas. Isso não é verdade, nem é possível. A Fupef não possui um quadro funcional de pesquisadores, não tem um mantenedor que paga suas despesas e que fornece recursos para o desenvolvimento de pesquisas, portanto não tem como executar diretamente atividades de pesquisa. Instituições como a Fupef são o elo entre as universidades e a iniciativa privada; sua missão é viabilizar os projetos de pesquisa que professores, pesquisadores, alunos e empresas querem executar, fornecendo-lhes estrutura administrativa para a captação e o gerenciamento de recursos. Portanto afirmar que a Fupef, ou qualquer outra instituição similar, desenvolveu pesquisas não é correto.
O que é correto é que, sem essas instituições, certamente, a maioria das pesquisas desenvolvidas, entre universidades e empresas, não teria acontecido. No caso específico da UF-PR, a Fupef precede a fundação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, pois o programa teve início em 1972, enquanto a Fupef foi fundada em 1971. Também é correto e seguro afirmar que boa parte dos 949 trabalhos realizados no nosso Programa de Pós-Graduação até agora (325 teses e 624 dissertações) só foram possíveis graças ao apoio da Fupef. Nesses 42 anos de existência, a Fupef passou por várias transformações e adaptações: inicialmente, atendia apenas ao curso de engenharia florestal da UF-PR e às empresas do setor florestal. A partir de 2007, seu estatuto foi revisto e ampliado, com isso, a Fupef passou a ter o status de Fundação de Apoio da UF-PR, atendendo a outros setores da UF-PR. Entre eles, o setor de ciências da terra, o setor de ciências biológicas, o setor de tecnologia, e, principalmente, o seu setor de origem: as ciências agrárias. Entretanto continua sendo mantida sua finalidade principal que é apoiar o desenvolvimento da ciência florestal, através de pesquisas científicas. Para tanto, a Fupef tem se reinventado a cada dia, agora como Fundação de Apoio da UF-PR; nossa meta é mostrar para a comunidade florestal todo o potencial que os diferentes setores da UF-PR tem para o desenvolvimento de pesquisas, e, com isso, colaborar para a consolidação da nossa liderança no cenário florestal internacional.
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a visão das embrapas
Opiniões
a pesquisa e os
investimentos
Os questionamentos sobre temas ligados às ações que devem ser consideradas para que o sistema florestal mantenha-se competitivo nos fazem refletir sobre a forma institucional de provimento e desenvolvimento de pesquisa no Brasil e qual lição proveitosa podemos tirar. Os investimentos aplicados e que contemplam o quesito P&D&I estão estimados em aproximadamente 1% do PIB, e a pesquisa florestal não está entre as áreas mais beneficiadas. Os investimentos são baixos comparativamente àqueles de países desenvolvidos. No Brasil, nos últimos 40 anos, os esforços privilegiaram o treinamento e a consolidação da tecnologia. Pode-se dizer que a maior conquista brasileira reside no seu capital humano. Nas últimas quatro décadas, foram consolidados os setores de papel e celulose, energia à base de madeira, móveis, chapas de fibras, entre outros. A produtividade dos eucaliptos passou de 12 a 15 m3/ha/ano para a média nacional de 45. No caso do pinus, de 15 para 45 m3/ha/ano.
Discute-se o “negócio florestal” nas pequenas e médias propriedades rurais, nos sistemas integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), na expansão da fronteira agrícola e nos processos da recuperação de áreas degradadas. Na nova conjuntura, podemos constatar e afirmar que a forma de ocupação é quase idêntica àquelas praticadas nas décadas passadas, nas quais o material genético tem que ser testado, e as técnicas silviculturais, adaptadas a essa nova realidade. Para atender a essa nova demanda, possivelmente os caminhos serão melhores, exatamente pelos conhecimentos acumulados. Devemos, sim, refletir sobre o aporte de recursos atuais. No passado, as diretrizes, as demandas de pesquisa, as participações institucionais e o uso de recursos humanos eram discutidos de forma multi-institucional, com grandes ganhos para a ciência florestal. Dessa forma, a estratégia de desenvolvimento de projetos em rede, multidisciplinares e multi-institucionais deve ser conti-
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a parceria entre as instituições públicas, privadas e o setor de base florestal foi a mola propulsora que garantiu melhores resultados e otimização dos recursos materiais, financeiros e humanos "
Helton Damin da Silva Chefe geral da Embrapa Florestas
A parceria entre as instituições públicas, privadas e o setor de base florestal foi a mola propulsora que garantiu melhores resultados e otimização dos recursos materiais, financeiros e humanos. Os conhecimentos sobre silvicultura e ciências correlatas presentes nas instituições ainda é uma referência mundial. Evoluiu-se nas diversas áreas afetas à silvicultura e que influenciam diretamente na produção sustentável das florestas, como melhoramento genético, solos e nutrição, manejo, inventário, viveiros, sementes, mudas, clonagem, técnicas de plantio, controle de pragas e doenças. No cenário nacional, observamos que a demanda por madeira é uma realidade assustadora, pois o atendimento do déficit de madeira que é suprido pela vegetação nativa necessitaria do triplo da área atualmente plantada. Dentro dessas perspectivas, novas fronteiras se estabelecem, atraem os investidores, mas também surgem novas demandas. Novos atores são incluídos, o tema florestal não se resume mais aos empreendimentos verticalizados.
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nuamente estimulada, para que reflitam no uso racional dos recursos. A análise com base no padrão seguido para os investimentos mundiais indica que a participação pública no aporte de recursos está entre 50% e 63% do total, enquanto os fundos internacionais colaboram com 3%, e os fundos de apoio existentes nos países investem entre 33% e 47%. A ordem mundial indica que os investimentos europeus devem ser decrescentes, e os americanos, moderadamente ascendentes nos próximos anos. Como alerta, a situação vigente nos convoca a discutir, em conjunto, o que queremos para o sistema florestal no futuro. Temos desafios, pessoal capacitado, recursos limitados, instituições confiáveis, programas de governo audaciosos para o setor, mas o que nos falta? Em minha opinião, há uma oportunidade para investimentos privados, há necessidade de uma estratégia comum e objetiva que nos torne ainda mais eficientes na geração de resultados e no uso otimizado dos recursos tão escassos.
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a visão das embrapas
agregando
valor Contribuíram: José Dilcio Rocha, Rossano Gambetta, Elaine Virmond e Alexandre Alonso Alves – da equipe de P&D da Embrapa Agroenergia
A sustentabilidade, no pilar ambiental, social ou econômico, é um conceito cada vez mais presente no dia a dia das pessoas, interferindo cada vez mais na escolha dos produtos consumidos e, consequentemente, nos que serão comercializados. Nesse contexto, as florestas ganham um lugar de destaque quando o assunto são fontes renováveis de matéria-prima para uma gama crescente de produtos, que chegam a um número cada vez maior de consumidores. Por muito tempo, as florestas supriram o homem em suas necessidades mais básicas, como habitação e energia, por meio do uso da madeira. Hoje, essas necessidades são supridas, em grande parte, por novos materiais, pelo petróleo e seus derivados.
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o efeito benéfico da floresta, seja para a mitigação das mudanças climáticas e das emissões de GEE, seja para a promoção do desenvolvimento econômico em bases sustentáveis do País, indica um caminho seguro para a industrialização e agregação de valor à matéria-prima " Manoel Teixeira Souza Junior Chefe geral da Embrapa Agroenergia
No entanto existem exemplos muito bem-sucedidos de agroindústrias baseadas em biomassa florestal, como a indústria do papel e celulose, que obtêm da madeira de reflorestamento a matéria-prima para a obtenção da celulose e do papel e utiliza um subproduto, rico em lignina, como fonte de energia para o processo, substituindo, dessa forma, fontes de energia não renováveis. Outras indústrias, como a siderúrgica, dependem da madeira convertida em carvão vegetal para uso em seus altos-fornos, e muitas outras dependem da queima de madeira em caldeiras para a geração de vapor ou energia, para operar seus respectivos processos industriais.
Opiniões A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias para a produção de energia baseada em biomassa florestal podem ser divididos em duas categorias, isto é, aquelas que fazem uso integral da biomassa e aquelas que trabalham a “desconstrução” da biomassa em seus polímeros constituintes: a celulose, a hemicelulose e a lignina. O aproveitamento integral da biomassa florestal ocorre mediante o emprego de processos termoquímicos, com destaque para as tecnologias de carbonização, pirólise rápida e gaseificação. As tecnologias mencionadas são antigas, mas, com o estabelecimento do petróleo como fonte de combustíveis líquidos, caíram em desuso. Além do uso para a produção de energia, os polímeros oriundos da desconstrução da biomassa podem também ser direcionados para a produção de “blocos básicos”, que são empregados na “construção” dos chamados bio-based chemicals & materials. Os processos termoquímicos diferem, principalmente, em suas condições de operação, como temperatura, pressão e tempo, às quais a biomassa é submetida, resultando preferencialmente em carvão vegetal (carbonização), bio-óleo (pirólise rápida) e/ou gás combustível (gaseificação). Esse último, quando purificado, pode dar origem ao gás de síntese, uma mistura reativa de hidrogênio e monóxido de carbono que pode ser usada na síntese de produtos como a gasolina, o querosene de aviação e o diesel, assim como as parafinas com diversas aplicações na indústria, e a amônia utilizada como fertilizante. O gás de síntese é um intermediário de reação comercial, porém, atualmente, obtido de fontes não renováveis, a exemplo da África do Sul que usa o carvão mineral como matéria-prima. O bio-óleo e o resíduo sólido carbonoso são os principais produtos da pirólise rápida da biomassa, um processo que tem ganhado destaque na idealização do conceito de biorrefinaria, onde uma unidade central de gaseificação e síntese recebe a mistura de bio-óleo e resíduo sólido carbonoso de várias unidades descentralizadas de pirólise rápida localizadas nas proximidades das áreas de origem da biomassa. Nesse caso, a pirólise rápida pode ser encarada como um processo de pré-tratamento e adensamento energético da biomassa, reduzindo o seu custo logístico. O bio-óleo pode ser destinado a processos de hidroprocessamento, no qual as moléculas orgânicas são craqueadas e oligomerizadas, o oxigênio e os compostos nitrogenados são removidos, dando origem a combustíveis líquidos, como gasolina, querosene de aviação e diesel. Outra opção é a carboquímica vegetal derivada do bio-óleo, do qual é possível obter ácido acético, metanol, mentol, vanilina, guaiacol, siringil, entre outros insumos químicos. Os processos que envolvem a desconstrução da biomassa visam à despolimerização ou à solubilização da celulose, da hemicelulose e da lignina, que constituem a biomassa, de forma a obter uma matéria-prima pura o suficiente para uso em processos subsequentes. As rotas bioquímicas de transformação das estruturas poliméricas da biomassa são capazes de simplificar a celulose em açúcares (hexoses), assim como a hemicelulose (pentoses). Essas duas unidades construtivas podem ser usadas para a produção de etanol e outras moléculas importantes, como furfural, butanol, etc. A maior dificuldade hoje para o desenvolvimento dessas tecnologias se encontra no baixo custo dos produtos derivados do petróleo frente ao custo da biomassa, o qual deve incorporar a remuneração adequada ao produtor rural, os custos de coleta e transporte da biomassa até a unidade
industrial e o custo de pré-tratamento do material. Para fins de competição com o petróleo, essas tecnologias devem ser aplicadas em grande escala. Nesse sentido, o petróleo é um produto de grande densidade energética e menor variabilidade quando comparado à biomassa, o que, em geral, tende a aumentar o custo de processamento e, por consequência, do produto final. Olhando sob essa perspectiva, a pesquisa deve ser focada (1) no desenvolvimento de biomassa florestal sustentável de baixo custo e (2) no desenvolvimento de processos de menor complexidade e custo, de forma a obter um produto comercialmente viável. Nesse último ponto, devem ser considerados os resíduos produzidos pela agroindústria, como a serragem da indústria moveleira e o licor negro da indústria de papel e celulose, entre outros, dado que têm menor custo como matéria-prima. Há de se ressaltar ainda que, embora se possam obter produtos comercialmente viáveis por meio do contínuo desenvolvimento de tecnologias e processos termoquímicos e de desconstrução, tais processos podem ser mais facilmente desenvolvidos e/ou otimizados se a biomassa utilizada como matéria-prima for desenvolvida com essa finalidade. Nesse contexto, antecipa-se que o melhoramento florestal deve assumir importância central, pois, do mesmo modo que os inúmeros programas de melhoramento têm respondido às demandas do setor de papel e celulose, por exemplo, estes podem também atender às novas demandas que surgem sob a ótica das biorrefinarias. O melhoramento florestal é, hoje, um dos ramos mais inovadores da pesquisa e do desenvolvimento agropecuário, e, em função disso, já dispõe de um conjunto robusto de biotecnologias outrora não disponíveis. Essas biotecnologias podem ser integradas aos programas de melhoramento, auxiliando no desenvolvimento ou mesmo na construção biológica de matérias-primas com excelente desempenho para fins energéticos. Basicamente, tal integração vem sendo realizada por meio de duas abordagens distintas, porém complementares: (1) a abordagem de engenharia genética (ou transgenia) e a (2) abordagem de melhoramento genômico. A primeira se baseia no conhecimento da função/ação de genes/promotores e na capacidade do pesquisador de modificar, ou “engenheirar”, as vias bioquímicas que estão envolvidas no metabolismo de características de interesse (e.g. parede celular, lignina, açúcares), usando genes ou promotores de expressão gênica modificados. Já a segunda se baseia na aplicação de marcadores moleculares para auxiliar a seleção de genótipos superiores, por meio de estratégias de seleção assistida (SAM) ou seleção genômica. O efeito benéfico da floresta, seja para a mitigação das mudanças climáticas e das emissões de gases de efeito estufa, seja para a promoção do desenvolvimento econômico em bases sustentáveis do País, indica um caminho seguro para a industrialização e agregação de valor à matéria-prima. O Brasil precisa despertar para ocupar em plenitude, de forma sustentável, o seu devido protagonismo no cenário mundial. A participação das fontes renováveis na matriz energética nacional é uma das mais altas do mundo, mas isso se deve refletir no constante desenvolvimento tecnológico e industrial, para que não somente cresçam as exportações de commodities, mas também de tecnologias, e, para isso, a demanda por recursos para P&D deve ser atendida. A Embrapa Agroenergia se alia aos agentes de P&D e à indústria nacional para, juntos, levarem o País a trilhar esse caminho da inovação e da sustentabilidade, como protagonistas.
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a visão das embrapas
Opiniões
semiárido brasileiro O Nordeste brasileiro compreende uma área de, aproximadamente, 1,54 milhão de quilômetros quadrados, que correspondem a 18% do território nacional, onde vivem 53 milhões de habitantes. Nessa região, está inserido o Trópico Semiárido, que se estende do norte do Piauí ao norte de Minas Gerais, ocupando uma área de 969.589 km2, equivalente a 11,4% do território brasileiro e abrigando uma população de aproximadamente 24 milhões de habitantes. De acordo com os dados do último censo agropecuário, dos 5,17 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil, 47,4% (ou seja, 2,45 milhões) localizam-se na região Nordeste, sendo a maioria constituída de pequenas propriedades na região semiárida. Considerando esse cenário frente à necessidade de implantação do Novo Código Florestal, há um grande desafio para a ciência e a tecnologia, visando oferecer alternativas numa região onde escassez de água e restrições ambientais são os fatores mais marcantes. Temos, portanto, uma oportunidade para diversificar a matriz da nossa base florestal, buscando atender à demanda gerada pelo déficit de áreas de conservação, como também na recuperação de bacias hidrográficas. Por outro lado, a atual política de governo para o crescimento do País tem o foco dos investimentos localizado na modernização de vários setores, em pesquisa, desenvolvimento e inovação e na ampliação da capacidade produtiva, com atenção à dimensão regional, baseada numa política em dois níveis: estrutural e sistêmico. A concentração da população, da base produtiva, da infraestrutura econômica, social e de C&T no litoral e na região Sudeste/Sul deixa o imenso espaço do interior das demais regiões do País sem ter onde ancorar seu desenvolvimento, havendo uma marcante desigualdade de oportunidades. Dessa forma, o País desperdiça um de seus grandes potenciais, que é a “diversidade regional”. Nesse contexto, as instituições de P&D e de C&T localizadas em várias regiões têm despertado para o momento de mudanças, em que se requer prioridade na interiorização do desenvolvimento e na geração de tecnologias apropriadas a diferentes realidades. Recentemente, observamos o surgimento de novas universidades no semiárido, onde as ações de C&T começam a ser pautadas numa visão estratégica, considerando o processo Roosemado de desenvolvimento como um conceito multidimensional, Gerente de Pestas no qual as localidades são encaradas na sua diversidade, de acordo com suas especificidades. Num cenário baseado no dinamismo do mercado interno e da demanda internacional por alimentos e energia, a estrutura de P&D, cada vez mais,
dos 5,17 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil, 47,4% (ou seja, 2,45 milhões) localizam-se na região Nordeste, sendo a maioria constituída de pequenas propriedades na região semiárida " Natoniel Franklin de Melo
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Chefe geral da Embrapa Semiárido
vem sendo articulada em redes integradas, com uma gestão sintonizada e orientada pelas demandas do setor produtivo. Por outro lado, considerando-se as dimensões social e ambiental, o avanço científico e o desenvolvimento de tecnologias devem levar em consideração uma maior sustentabilidade no uso da biodiversidade e dos recursos naturais. Esse deve ser um processo de inclusão tecnológico-social que gere, ao mesmo tempo, confiança, mobilização, autonomia e inovação, transformando as potencialidades em riquezas, mas também que estimule uma dinâmica de fortalecimento do próprio processo de desenvolvimento local. Entretanto um fator importante com fortes consequências para o semiárido brasileiro refere-se à questão das mudanças climáticas. Os estudos recentes apresentam modelos de tendências de mudanças climáticas com resultados bastante variáveis quanto ao comportamento da América do Sul. Contudo todos preveem aumento de temperatura para todo o continente. Para a precipitação, porém, os modelos para 2091-2100 são divergentes, apresentando tanto aumento quanto diminuição, ou, ainda, estabilidade das chuvas, não permitindo estabelecer cenários confiáveis para alterações no ciclo hidrológico regional. Há também a previsão de maior frequência de fenômenos extremos, como observamos agora com essa grande seca em 2012. Algumas simulações apresentam resultados sobre o comportamento dos biomas brasileiros por meio da aplicação dos cenários do Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC para 2091-2100, onde se percebe, em maior ou menor grau, a desertificação do semiárido nordestino. A Embrapa Semiárido tem buscado atuar como liderança em estudos voltados para o semiárido, destacando-se como articuladora de parcerias importantes (regionais, nacionais e internacionais), reunindo competências nas áreas das ciências biológicas, agrárias, florestais e socioeconômicas. Para isso, as políticas de C&T e Inovação devem ser sólidas e tratadas como políticas nacionais, com visão de longo prazo, instrumentos estáveis e envolvimento dos vários agentes públicos, de agentes privados e da sociedade, não podendo ser vistas como política apenas partidária ou emergencial. É necessário atuar em múltiplas escalas, em redes horizontais e verticais e articulando outros agentes. Dessa forma, a C&T e Inovação deverão garantir a manutenção do protagonismo do semiárido em tecnologias para agricultura e no uso sustentável da biodiversidade, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de vida no ambiente rural.
a visão das embrapas
investimento em pesquisa florestal:
solução para uma nova Amazônia
O próprio nome de nosso país deriva de uma espécie que foi explorada predatoriamente: o pau-brasil. Durante muitos anos, praticamente toda a nossa produção florestal foi feita com base em exploração dos recursos naturais, o que resultou em enormes reduções dos estoques de várias espécies das nossas florestas de clima temperado, mata atlântica, cerrado e, finalmente, do bioma amazônico. Mesmo assim, historicamente, os investimentos em pesquisa florestal no Brasil têm sido inferiores àqueles feitos em agricultura e em pecuária.
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há absoluta necessidade de investimentos em pesquisas com melhoramento genético e técnicas de cultivo das espécies nativas e exóticas "
Claudio José Reis de Carvalho Chefe geral da Embrapa Amazônia Oriental
A destinação de investimentos para pesquisas em culturas de ciclo longo, como café, cacau e seringueira, tem sido mais consistente em função de serem culturas industriais. Porém os investimentos em pesquisas com o manejo e a exploração de impacto reduzido das florestas nativas são relativamente mais recentes. Com exceção do eucalipto, o volume de pesquisas voltado para essências florestais nativas pelos órgãos oficiais tem sido muito abaixo do necessário para colocar o País em uma posição confortável quanto à oferta de tecnologias para o setor madeireiro, tanto em métodos mais racionais de exploração quanto de beneficiamento, o qual ainda apresenta um baixíssimo nível de rendimento, principalmente na Amazônia. Grande parte dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento tem sido feita pela iniciativa privada, algumas vezes em parceria com instituições governamentais, como a Embrapa. Dois exemplos que podemos citar são o estabelecimento do processo de exploração florestal de impacto reduzido e a expansão da cultura do paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum) no estado do Pará, impulsionada pelo desenvolvimento de uma ferramenta que permitiu laminar troncos finos dessa espécie, reduzindo, assim, o tempo de colheita. Atualmente, essa espécie alimenta uma crescente indústria de compensados e MDF no sul do Pará. No novo Código Florestal, a delimitação de 20% da área da
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propriedade para atividades produtivas e 80% para a Área de Reserva Legal (ARL) e/ou Áreas de Preservação Permanente (APP) na Amazônia, e o reverso para outras áreas do País, implica a necessidade de desenvolver tecnologias para tornar possível um considerável aumento da produtividade da terra e da mão de obra. Por outro lado, isso traz uma grande oportunidade, sobretudo para atividades florestais de espécies nativas ou exóticas, no aproveitamento de 80% da área da propriedade. A sinergia dessa mudança já está visível, sobretudo no setor florestal, que já apresenta
492.833 hectares reflorestados na Amazônia Legal, destacando-se 85.473 hectares com paricá, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF) para 2010. A busca por alternativas é intensa, e podemos testemunhar que as sementes de quatro pés de mogno africano (Kaya ivorensis) plantados na sede da Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), em 1973, provenientes de oito sementes doadas ao Dr. Ítalo Falesi, pesquisador aposentado dessa instituição, por um componente de uma comitiva da Costa do Marfim, são altamente disputadas, e esses espécimes devem ser os progenitores dos milhares de pés de mogno africano espalhados no País. Outras espécies exóticas que têm aumentado expressivamente a sua área cultivada na região Norte são a acácia (Racosperma mangium) e a teca (Tectona grandis). Além dos investimentos em projetos de pesquisa e desenvolvimento nas técnicas de identificação de matrizes, coleta e beneficiamento de sementes, formação e caracterização de mudas de essências nativas destinadas à recomposição do passivo ambiental na Amazônia, há necessidade premente de pesquisas de seleção e melhoramento genético dessas mesmas espécies, utilizando ferramentas de genômica avançada, como seleção genômica ampla utilizando marcadores moleculares. E também o desenvolvimento de
Opiniões protocolos eficientes de clonagem e multiplicação in vitro, visando a biofábricas para a disponibilização de material clonal de alta performance, tanto em produção de biomassa como de tolerância a pragas e doenças. Portanto há absoluta necessidade de investimentos em pesquisas com melhoramento genético e técnicas de cultivo das espécies nativas e exóticas. Com respeito a estas, o seu sucesso no Brasil deve-se à capacidade extraordinária de adaptação às nossas condições edafoclimáticas e, principalmente, à ausência de pragas e de doenças no nosso território. Por isso deveria ser pensado um programa de prospecção de espécies promissoras da África e da Ásia, coleta de material genético de qualidade e sua introdução segura, após quarentena, em nosso território. De certa maneira, estaríamos usando, de forma inversa, a mesma estratégia dos europeus com relação à seringueira e ao cacau, quando da introdução dessas espécies em suas colônias na Ásia e África, que resultou em casos de sucesso econômico justamente pela falta de doenças e de pragas que as atacavam em nosso País. Pode-se pensar na introdução de outras espécies produtoras de madeira, como o limba (Terminalia superba), entre tantas. O grande estoque de madeira na Amazônia sempre tem levado à negligência e ao atraso na busca de soluções poupadoras no uso desse recurso natural. O manejo florestal na Amazônia deve ser colocado, portanto, em um processo de substituição por plantios silviculturais no longo prazo, sobretudo pelas grandes empresas madeireiras. Dessa forma, apesar da ênfase dada ao manejo florestal como a solução para a extração madeireira na Amazônia, a definição de uma política de estímulo ao reflorestamento é mais do que urgente. O reflorestamento para produção de madeiras nobres e compensados pode constituir grande opção futura, substituindo a totalidade do atual extrativismo madeireiro e de manejo florestal. O reflorestamento na Amazônia não deve ser entendido somente para a produção de madeira para atender a guseiras e ao mercado de madeira e celulose. Ela deve abranger a produção de matérias-primas oriundas de plantas perenes para biocombustível, fruticultura, látex, recuperação de ecossistemas destruídos e como compensação ambiental. Toda política do setor primário para a Amazônia deve estar voltada para a utilização parcial de mais de 75 milhões de hectares (2011), que já foram desmatados. Essa área é três vezes a do estado do Paraná ou mais do que a soma dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Contudo o PIB da Amazônia Legal é inferior ao do Rio Grande do Sul ou apenas 1/5 do PIB do Paraná. Isso mostra o potencial agrícola e de reengenharia ambiental que poderia ser obtido com a aplicação correta de práticas agrícolas e de atividades mais adequadas, que muitos produtores já vêm efetuando. Essa utilização fica neutralizada se for mantida a contínua formação de novos berçários de áreas desmatadas. O complexo madeireiro na Amazônia Legal, que até o final da década de 1990 representava o terceiro produto da pauta das exportações da região Norte, decresceu bruscamente de 16,26%, em 2000, para apenas 3,16%, em 2011. Enquanto isso, o complexo minério teve um crescimento de 54,93% para 83,01% nesse período. Há necessidade de reativar o setor madeireiro na Amazônia como gerador de
renda e emprego com novo enfoque, com base no reflorestamento. A Floraplac Industrial, implantada no município de Paragominas, em 1989, com reflorestamento e produção de MDF, constitui um exemplo a ser seguido para outros estados da Amazônia Legal. Há, contudo, grandes desafios que precisam ser vencidos pela pesquisa para apoiar o setor produtivo e possibilitar a integração da cadeia produtiva da madeira na Amazônia. O setor florestal no País tem sido agressivo em inovações, necessitando, portanto, que o setor público ocupe espaços nos quais há dificuldades de execução. O exemplo do que foi feito com o eucalipto deve basear as pesquisas com as espécies nativas e mesmo exóticas, pois temos de recuperar o tempo perdido no desenvolvimento de tecnologias para o seu cultivo em larga escala. Finalmente, há uma crença generalizada no País de que os investimentos de pesquisa no setor privado substituem os investimentos do setor público. Trata-se de um grande equívoco, pois o esforço conjunto, tanto do setor público quanto do privado para a área florestal, tem efeitos complementares e suplementares importantes para garantir a construção de uma nova Amazônia.
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a visão das universidades
Opiniões
a pesquisa sem mecanismos de extensão serve
para quem?
Defender a necessidade de investimentos em pesquisas é quase redundante. Há exemplos em toda a história que demonstram que todas as nações desenvolvidas chegaram lá devido aos seus altos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Então, é necessário debater, de forma exaustiva, como os recursos, independentemente se abundantes ou escassos, estão sendo utilizados em pesquisas que busquem esses objetivos. Qual a proporção de recursos que devem ser investidos em pesquisa básica e em pesquisa aplicada? Qual o impacto dessas pesquisas no desenvolvimento econômico e social? Todos os stakerholders do setor florestal têm as suas demandas, ou parte delas, atendidas nas linhas de pesquisas existentes? Há uma proporção, no mínimo razoável, entre o que se investe em setores consolidados do agronegócio florestal e a nova pauta que a sociedade brasileira estabelece, como a valoração dos serviços ambientais das florestas?
Por outro lado, vê-se o avanço de espécies exóticas sobre as florestas nativas em estágio inicial de regeneração, principalmente pela Houvenia dulcis. Além disso, criou-se uma ideia de que os remanescentes de florestas nativas, que, na sua quase totalidade, estão em propriedades de pequenos produtores, devem ser intocáveis, criando, na prática, um passivo para esses produtores, quando, na verdade, utilizando tudo que a ciência florestal já produziu, essas áreas poderiam ser conservadas e, ao mesmo tempo, produtivas, tornando-se verdadeiros ativos florestais para esses proprietários. Afinal de contas, as florestas plantadas, nativas ou não, são recursos naturais renováveis que quando manejados sob a luz da ciência florestal, são totalmente sustentáveis. E, para completar o quadro, as florestas plantadas no Rio Grande do Sul são consideradas potencialmente poluidoras pelo órgão de licenciamento ambiental estadual, estabelecendo enormes restrições ao seu cultivo
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as florestas plantadas no RS são consideradas potencialmente poluidoras pelo órgão de licenciamento ambiental estadual... A ciência florestal já não produziu conhecimento suficiente para demonstrar a insensatez de uma afirmação como essa? "
Jorge Antonio de Farias Diretor Executivo do Centro de Pesquisas Florestais da UF-Santa Maria
Com certeza, as respostas a essas questões são necessárias para um debate sobre o estado da arte da pesquisa florestal no Brasil. O Sul do Brasil experimentou, ao longo das últimas duas décadas, um significativo crescimento do setor florestal, principalmente alicerçado nos investimentos do setor de celulose e papel e placas; por outro lado, nesse mesmo período, viram-se segmentos do setor florestal decrescerem, e alguns até desaparecerem por completo, como no Rio Grande do Sul. O comércio de madeira pelas pequenas propriedades rurais é insignificante, a indústria de laminação e compensados extinguiu-se no estado. A produção de mudas florestais no estado é somente de espécies de rápido crescimento (Eucalyptus, Pinus e Acacia), as nativas não entram na estatística, e as mudas de erva-mate estão reduzidas à produção familiar, com uma tecnologia rudimentar e com poucos avanços em melhoramento genético. A Acacia mearnsii, que já é cultivada no Rio Grande do Sul há quase 100 anos, tem a sua produtividade estagnada em 200 m³/ha há décadas. Algumas nativas promissoras estão fora da pauta do agronegócio florestal, como o palmito, a bracatinga, o pinheiro-brasileiro.
e expansão dos plantios florestais. A ciência florestal já não produziu conhecimento suficiente para demonstrar a insensatez de uma afirmação como essa? E a agricultura familiar tem participação na cadeia produtiva de base florestal? São incompatíveis florestas comerciais em pequenas propriedades? Países como a Aústria e a Finlândia nos mostram o contrário, e por que, aqui no Sul do Brasil, isso não acontece? Nesse ponto, há um dogma que a pesquisa e a extensão das universidades precisam romper. Recentemente, houve um debate nacional sobre a aquisição de terras por estrangeiros, estabelecendo-se um conceito de que os investimentos florestais só se viabilizam com a aquisição de grandes extensões de terras. Uma enorme falácia. Várias empresas que aqui estão, com grandes extensões de terras, em seus países de origem, mantêm programas de fomento e parcerias com pequenos produtores e, com isso, conseguem abastecer, em parte, a indústria de matéria-prima florestal. Dessa forma, conclui-se que é perfeitamente possível se estabelecer uma base florestal através de programas de fomentos pela Pedti
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Professsalq-USP Agrad, Fibria
a visão das universidades participação de proprietários rurais, com propriedades de diferentes tamanhos. Portanto pesquisa também é a validação de conceitos e ideias. Pelo que já foi exposto, mais do que nunca, é necessário se perguntar: não foram feitas pesquisas sobre essas questões? A academia já percebeu essas demandas? Ou será que a produção científica já conseguiu sair dos limites da universidade e se apresentar como solução a esses problemas? Dessa forma, além das questões sobre recursos para pesquisas ou linhas de pesquisa, é fundamental debater, paralelamente, a forma como essas produções serão usadas pelo conjunto da sociedade: a socialização do conhecimento. A academia tem produzido muito e com muita qualidade; a maior discussão, ainda, é como fazer com que essa produção chegue até os seus verdadeiros demandantes, como fazer com que essa produção sirva de subsídios para a formulação de políticas públicas, permitindo que o setor florestal deixe de ser refém da tecnocracia e de ONGs multinacionais interessadas no nosso atraso social, ambiental e econômico. Evidentemente que não se tem a solução para todas as questões que aqui foram levantadas, mas, como o objetivo deste artigo é estimular uma reflexão sobre o papel que todas as instituições de pesquisa, públicas e privadas, vêm desenvolvendo, é oportuno propor uma nova abordagem sobre os dilemas da pesquisa florestal. O CEPEF - Centro de Pesquisas Florestais, da UF-SM, ligado ao Departamento de Ciências Florestais, foi fundado em 1986, tendo como principais objetivos a inves-
tigação científica, a interação e a integração do meio acadêmico com o meio empresarial. O nosso centro de pesquisa, atualmente, passa por uma reformulação, pensando justamente nesses questionamentos. A inclusão dos pequenos e médios produtores na cadeia produtiva de base florestal deve estar na pauta dos estudos socioeconômicos do setor florestal. No segmento da Acacia mearnsii, no Rio Grande do Sul, estima-se uma base florestal em que 80% dos fornecedores de matéria-prima são pequenos e médios produtores rurais; estima-se também que há 150 mil hectares de florestas dispersos em pequenas e médias propriedades do Rio Grande do Sul, fornecendo biomassa florestal para todo o setor primário, como secagem de grãos, cura de tabaco, cama de suínos e aves. Além disso, a inclusão desses proprietários rurais em APLs de base florestal possibilitará novas oportunidades de desenvolvimento regional e será uma das alternativas de redução dos crescentes custos da produção florestal primária. As universidades e seus centros de pesquisa devem utilizar os canais de comunicação com a sociedade, seja através dos programas de integração empresa-escola, que já é um processo consolidado, ou através de pesquisa e interações com organizações civis da sociedade, como federações, sindicatos e associações. Dessa forma, as pesquisas poderão, efetivamente, propiciar conhecimento, inovação, desenvolvimento e crescimento social e econômico.
Opiniões
mestres: insumos para o progresso Para falar do setor florestal brasileiro, precisamos, inicialmente, caracterizá-lo naquilo que buscamos, levando-se em conta as florestas naturais e plantadas, bem como a participação de cada uma no contexto de interesse. Em primeiro lugar, precisamos refletir o que entendemos por setor florestal brasileiro. Evidentemente, temos que entender como sendo o todo, florestas naturais e plantadas ou cultivadas. No Brasil, as florestas naturais, até poucos anos atrás, eram consideradas “áreas improdutivas”, e ainda o são para uma parcela da sociedade, enquanto, no outro extremo, está também aquela parcela que as considera sinônimo de meio ambiente. Estamos de pleno acordo que essas florestas podem, perfeitamente, cumprir a função de proteção da biodiversidade e do meio ambiente, mas temos certeza de que grande parte delas poderiam também ser manejadas, a exemplo do que acontece em outros países, proporcionando emprego e renda, pelo uso sustentável desses recursos naturais ou dentro do contexto dos serviços ambientais.
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para siderurgia, celulose e papel, chapas em geral, móveis e molduras, dentre outros, é que vamos focar como visão de presente e futuro do setor florestal brasileiro, no que se refere ao suprimento interno e competitividade internacional. Estamos há mais de 50 anos do início da formação de profissionais da engenharia florestal no Brasil, em nível de graduação, e, em seguida, com o surgimento dos programas de pós-graduação, em nível de mestrado e doutorado, na década de 1970. Como é natural em todas as circunstâncias em que não se tem o “mestre”, implementa-se a sua formação em parceria com aqueles que detêm a experiência e competência, e assim foi no início dos nossos cursos de engenharia florestal. Países como Estados Unidos da América, Canadá e Alemanha foram os grandes colaboradores na formação de nossos professores (“mestres”). Com esse apoio, fizemos um grande time, com competência para formação dos profissionais do setor para atuação tanto na produção como na pesquisa e, também, na gestão de empreendimentos florestais.
é preciso repensar os entraves burocráticos e a legislação, de modo a estimular o pesquisador ... com vistas ao aumento na captação e no uso mais eficiente de recursos financeiros para pesquisa " Ismael Eleotério Pires
Chefe do Dpto de Engenharia Florestal da UF-Viçosa
Os conhecimentos técnicos e científicos da era atual associados aos avanços tecnológicos dão garantia desse manejo, requerendo políticas apropriadas e duradouras para sustentabilidade. No caso das florestas plantadas, podemos dividi-las em duas categorias, quais sejam: plantadas com fins de proteção ambiental e/ou conservação genética e plantadas, isto é, cultivadas com fins comerciais, as quais se resumem a uns poucos gêneros, como Eucalyptus, Pinus, Acacia e Teca, com destaque para as espécies do primeiro, considerando o Brasil com ampla extensão territorial e a finalidade da madeira, bem como o mercado interno e externo. Dessa feita, considerando que o gênero Eucalyptus representa cerca de 70% das florestas cultivadas no Brasil, além de ser o mais diversificado em usos da madeira, prestando-se para lenha, mourões de cerca, construção civil, carvão
Outro fator que merece destaque é que, nos anos 1970, trabalhávamos com materiais genéticos em estado selvagem, com alto nível de variabilidade e, portanto, com alto grau de resposta a processos simples de seleção que, complementados com outras tecnologias, como qualidade de muda, preparo de solo, adubação, espaçamento, etc., proporcionaram produtividades altamente satisfatórias, até fins da década de 1990. Nessa época, começamos a alcançar altos níveis de produtividade das principais espécies plantadas, justificando e requerendo protocolos tecnológicos de produção mais refinados, como é natural em qualquer processo evolutivo. Em complemento, podemos afirmar que novos desafios têm surgido, como recursos genéticos de alto valor agregado, pragas e doenças, escassez e custo de fertilizantes, maior custo da terra e da mão de obra, competição de mercado cada vez mais acirrada,
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a visão das universidades exigências da sociedade, qualidade do produto final, maior demanda pelo produto madeira e seus derivados e escassez de recursos humanos qualificados, além de exigências legais. Mas também outros fatores, como redução das fontes tradicionais de energia, como petróleo, o crescimento da população mundial e o aumento da demanda por alimentos e produtos de alta tecnologia atuam como fatores propulsores dos esforços de pesquisa e inovação, como as novas linhas de pesquisa nas áreas de biotecnologia e engenharia genética, biorrefinaria, controle biológico de pragas e doenças, produção e qualidade de água, restauração florestal, redes de inteligência, novos produtos, dentre outras, têm proporcionado novas perspectivas para o setor, evidenciando muitos desafios e, ao mesmo tempo, mostrando grandes oportunidades para o setor, no médio e longo prazos. Assim, o que vemos são condições altamente favoráveis no Brasil, como solo, clima e disponibilidade de áreas, que, associadas a políticas de governo que proporcionem segurança para o setor, principalmente no que se refere ao cultivo de florestas, a exemplo do que acontece com outras culturas como o café, que também é perene, a cana-de-açúcar, o milho e a soja, dentre outras, podem tornar o setor florestal ainda mais competitivo no futuro próximo. No que tange à pesquisa, merece destaque a formação de “massa crítica” (“mestres”), a exemplo do que ocorreu 50 anos passados, e a disponibilidade de recursos financeiros, ou melhor, os entraves ao pesquisador na obtenção e
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Opiniões no uso dos recursos públicos, frente à burocracia inerente, com grande dispêndio de energia desses pesquisadores na gestão desses recursos, assim como na elaboração de relatórios técnicos e financeiros frente a uma legislação cada vez mais exigente. O pesquisador por si, como pessoa física, gasta tanta energia para isso, que acaba, muitas vezes, desestimulado. O mesmo acontece com institutos de pesquisa na captação e gestão de recursos públicos, face ao aparato de pessoal requerido para o cumprimento de todas as exigências legais e a burocracia do processo, tendo como consequência uma oferta efetiva de recursos para pesquisa reduzida. É preciso repensar os entraves burocráticos e a legislação, de modo a estimular o pesquisador e os institutos de pesquisa, assim como as parcerias interinstitucionais, com vistas ao aumento na captação e no uso mais eficiente de recursos financeiros para pesquisa. Outro aspecto a ser considerado é a massificação da formação de profissionais da engenharia florestal no Brasil, visto que esse processo requer a participação efetiva dos agentes formadores (“mestres”), isto é, professores e pesquisadores bem preparados e condições de ensino e pesquisa compatíveis. Temos, hoje, mais de 50 escolas de engenharia florestal, das quais 13 oferecem também formação em nível de pós-graduação, mestrado ou mestrado e doutorado (MS e DS), cujos profissionais, em grande parte, serão os futuros “mestres” nelas próprias ou naquelas que se encontram em fase de estruturação. Portanto precisamos continuar cuidando da formação dos “mestres”, pois a qualidade do profissional resultante, tanto para o ensino como para a pesquisa, assim como para atuação na produção, depende desses formadores, pela transferência de conhecimentos, pela orientação, pelo exemplo, enfim, pelo ensino. A situação apresentada revela que estamos em vias de um processo endogâmico, em que poucas escolas estão formando a maioria dos professores das mais de 50 existentes no Brasil, e isso pode comprometer a formação dos futuros profissionais, se certos cuidados não forem tomados. É preciso buscar meios de proporcionar maior interação e integração entre professores (“mestres”) e alunos, dentro e entre escolas. É preciso investir no interinstitucional dentro e fora do Brasil e o processo de internacionalização. Nesse sentido, deve-se destacar a existência de uma política de governo, como o Ciência Sem Fronteiras, porém esse programa requer aperfeiçoamentos para atendimento pleno, tanto aos alunos da pós-graduação e graduação como também aos professores, que requerem programas mais flexíveis, estruturados em conformidade com seus projetos de pesquisa e com a realidade brasileira. Precisamos de políticas institucionais que facilitem o trânsito dos “mestres” entre instituições, em nível nacional e internacional, de modo a permitir a ida e a vinda livres de amarras de prazos regimentais, além de recursos financeiros adequados. Nesse sentido, o que se quer dizer é que cada área do conhecimento precisa de um projeto em conformidade com seu status, devendo-se ter a adesão das instituições conforme a sua particularidade, ou seja, o projeto institucional. Por fim, cabe destacar que, com tantas perspectivas para o setor florestal brasileiro, a formação de bons profissionais e a elaboração de políticas de governo, justas e duradoras, são os principais insumos para o progresso.
a visão das universidades
o capital
humano
A manutenção e o aumento da competitividade do sistema florestal brasileiro no cenário internacional demandam contínuo investimento de recursos em capital humano, em infraestrutura física e um parque moderno de equipamentos, para fazer frente aos crescentes desafios e ameaças. Enquanto fortemente vinculado à Universidade de São Paulo e na qualidade de professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq, entendo como fundamental a aplicação de investimentos na formação e na capacitação de futuros engenheiros florestais nos cursos de graduação e de mestres e doutores nos cursos de pós-graduação e de especialização em ciências florestais e áreas afins. Nos bancos escolares e nos laboratórios das universidades e instituições de pesquisa públicas e privadas brasileiras, está sendo lapidado o capital humano necessário para atender às estratégicas demandas do País, das próprias instituições, das empresas florestais, das ONGs, etc. As instituições que detêm essa responsabilidade devem ficar permanentemente atentas em relação às demandas de profissionais em um ambiente de forte dinamismo de muAocha danças e de exigências, que caracteriza o setor florestal no Brasil e no mundo. A identificação de jovens talentos na Preseg universidade e o estímulo para que os estudantes de graduação e de pós-graduação adquiram experiência internacional são extremamente importantes.
no ano de 2010, o País contava com 56 cursos de graduação em engenharia florestal, oferecidos por 51 instituições de ensino superior, predominando as públicas (82% do total), formando, a cada ano, quase 1.000 alunos " Mario Tomazello Filho Chefe Dpto Ciências Florestais da Esalq-USP
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No entanto cabe destacar a necessidade de aplicação de mecanismos de avaliação dos cursos de graduação em ciências florestais das universidades e de instituições públicas e privadas. É imprescindível que se invista na constituição de equipes de especialistas externos às instituições, para que elaborem um “relatório diagnóstico da situação do ensino de graduação em engenharia florestal no Brasil” sério, aprofundado e que induza as instituições a elaborar, a revisar e a apresentar, de forma contínua e transparente, os seus planos estratégicos de ensino, pesquisa e desenvolvimento, em fóruns regionais e nacionais. Certamente, em resposta, as instituições deverão ser contempladas com investimentos, através de planos plurianuais, para sanar as limitações e os gargalos apontados no relatório-diagnóstico e que restringem a formação de engenheiros qualificados para o atendimento das demandas e os desafios do setor florestal brasileiro. Para justificar essa importante iniciativa, menciona-se que esse universo é altamente expressivo: segundo o Ministério da Educação, no ano de 2010, o País contava com 56 cursos de graduação em engenharia florestal, oferecidos por 51 instituições de ensino superior, predominando as públicas (82% do total), formando, a cada ano, quase 1.000 alunos. O número de cursos de graduação é crescente, devendo existir, atualmente, cerca de 60 cursos de graduação,
Opiniões com uma oferta de 3.000 vagas anuais. Ainda, as estimativas (ano-base 2007) indicam existir cerca de 13.000 engenheiros florestais no País. Uma discrepância observada é relacionada com a distribuição dos cursos de graduação em engenharia florestal (dados de 2010) no País, estando concentrados nas regiões Sul e Sudeste (25 cursos), em relação às regiões Norte (12 cursos), Nordeste (9 cursos) e Centro-Oeste (10 cursos), em sua maioria implantados mais recentemente e que necessitam de maior aporte financeiro. Ainda, no âmbito do ensino de graduação, é fundamental o entendimento da dinâmica ocorrida na informatização, na captura, no processamento e na transferência de imagens digitais, avanços na comunicação, internet, etc. e sua incorporação nas metodologias de ensino. Certamente, as aulas tradicionais, expositivas e longas, deverão ser, obrigatoriamente, substituídas (e estão, em parte, sendo modernizadas em cursos de graduação) por processos modernos, propiciando um ensino de qualidade que, principalmente, motive, envolva e promova a efetiva transferência dos conteúdos das disciplinas para os alunos. Novamente, essas mudanças exigem forte aporte de investimentos. Em relação aos cursos de pós-graduação, no Brasil, há 21 programas de pós-graduação relacionados à engenharia florestal e às ciências florestais, concentrados, majoritariamente, nas regiões Sul e Sudeste (a exemplo dos cursos de graduação), com um total de 315 concluintes (ano-base 2010), sendo 212 mestrandos e 103 doutorandos, envolvendo 384 docentes (de 2000 a 2010, houve um crescimento do número de docentes de 72%), atuando em diversas subáreas do conhecimento, como conservação da natureza, manejo florestal e tecnologia e utilização de recursos florestais, etc. No entanto a distribuição de docentes da pós-graduação não é equitativa, com uma maior concentração de docentes na região Sudeste (com 182 docentes), principalmente, nos estados de Minas Gerais e de São Paulo (com 137 docentes), em relação à região Norte (com 61 docentes), com a região Nordeste com menor concentração de docentes atuando na pós-graduação em engenharia florestal. Da mesma forma, os investimentos em pós-graduação devem considerar os parâmetros diferenciais entre os programas, bem como visar diminuir, prioritariamente, as diferenças regionais. Apesar dos esforços de investimentos da CAPES, do CNPq e das instituições estaduais e privadas, das agências de fomento nos programas de pós-graduação, há necessidade de maior aporte de recursos para atender aos desafios para a
manutenção e o avanço da liderança do País no setor florestal. Certamente, como educador e pesquisador vinculado à universidade, a análise para atingir um aumento da competitividade e do direcionamento dos investimentos em pesquisa no setor florestal brasileiro está focada no ensino de graduação e de pós-graduação em florestas. No entanto se faz necessário realizar, da mesma forma – o que não é possível, no presente texto, em face da complexidade e das variáveis envolvidas –, um diagnóstico completo das pesquisas realizadas pelas universidades, instituições de pesquisa públicas e privadas, na fronteira do conhecimento, alertando sobre as suas deficiências, perspectivas e caminhos, em benefício do sistema florestal brasileiro e sua consolidação como líder mundial. As estatísticas florestais que apontam a evolução da área de plantações de 5,2 milhões ha em 2006 para 8-10 milhões ha em 2020 indicam, ao mesmo tempo, os desafios, a multiplicidade e a complexidade de ações e investimentos necessários em pesquisa para a manutenção e a consolidação do País como liderança mundial do setor florestal. Nesse formidável horizonte de desafios e de forte implementação de recursos em pesquisas, podem ser mencionadas algumas vertentes principais, como (1) as de avaliação dos impactos das mudanças climáticas globais, indutoras de estresse hídrico e térmico nas plantações florestais e (2) de sustentabilidade das florestas plantadas em face do estresse nutricional (somado ao hídrico e térmico) nas atuais e novas fronteiras das plantações florestais. Nesse aspecto, serão fundamentais os investimentos em inúmeras áreas prioritárias, direcionados ao melhoramento genético e à biotecnologia, à proteção florestal, à qualidade da madeira para celulose, papel, chapas de fibras, carvão e biomassa ou para a mecanização e a logística, a ecofisiologia, a silvicultura de espécies nativas, etc. Outros desafios se concentram nas fronteiras do conhecimento, como as pesquisas com transgênicos, genômica, nanotecnologias, produção de etanol celulósico, biorrefinarias, etc. Finalmente, esses desafios de dimensões praticamente imensuráveis, no momento, somente serão possíveis de serem enfrentados e suplantados a partir de algumas “palavras mágicas”, como forte interação entre as universidades, centros e institutos de pesquisa e, não menos importante, com a integração das universidades e empresas florestais, em sua maioria, legitimamente representadas pelos seus institutos de pesquisa.
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a visão das empresas produtoras
Opiniões
a competitividade e a
inovação tecnológica
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como em tudo o que fazemos na vida, o sucesso de ontem não assegura um futuro brilhante "
Cesar Augusto Valencise Bonine e Fernando de Lellis Garcia Bertolucci Gerente de Assuntos Regulatórios e Propriedade Intelectual e Gerente geral de Tecnologia, respectivamente, da Fibria
A indústria de produtos florestais no Brasil é um exemplo de sucesso, reconhecido mundialmente. Ao longo das últimas décadas, conseguimos transformar vantagens comparativas, associadas principalmente à favorabilidade das nossas condições climáticas, em vantagens competitivas sólidas. Elas foram resultado de um trabalho sério e consistente, realizado por muitos atores envolvidos com a questão florestal, como universidades, institutos de pesquisa e empresas, que souberam “sinergizar” as boas condições naturais brasileiras com um formidável desenvolvimento em pesquisa e tecnologia, suportado por uma gestão florestal focada em resultados e fortemente baseada no empreendedorismo. Os números do setor mostram a importância da indústria de base florestal para o País. Segundo a Abraf, o produto bruto gerado pelo setor atinge US$ 24 bilhões, com a geração de US$ 3,7 bilhões em impostos. O setor gera 4,7 milhões de empregos, o que equivale a cerca de 5% da população ativa total. Adicionalmente, essa indústria contribui com 19% da balança comercial brasileira. Ou seja, não estamos falando de pouca coisa. Todavia, como em tudo o que fazemos na vida, o sucesso de ontem não assegura um futuro brilhante. Ao contrário, os bons resultados de um país ou de um setor estimulam
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a entrada de novos “jogadores” e tendem a aumentar a competição, comprimindo as margens de resultado e de lucro. Isso é exatamente o que move a economia, pois, com margens mais estreitas, os competidores têm que ser mais eficientes no uso de todos os recursos. Assim, a sociedade como um todo tende a se aprimorar, transformando-se continuamente para melhor. E é exatamente esse o contexto atual da indústria de base florestal brasileira. As margens de outrora têm sido fortemente comprimidas nos últimos anos, principalmente em função da valorização do real frente ao dólar, muito maior do que a ocorrida nas moedas de concorrentes brasileiros. Além disso, questões estruturais e muito peculiares ao Brasil têm resultado num aumento significativo dos nossos custos. Só para se ter uma ideia, estudos de mercado, realizados por consultorias especializadas, indicam que os custos de formação florestal são, atualmente, cerca de três vezes maiores do que os observados há 10 anos. Para complicar ainda mais, se tomarmos um setor específico – celulose e papel –, constataremos que o nosso mercado, daqui para frente, deverá estar, predominantemente, na Ásia, com especial destaque para a China. Diante desse cenário relativamente novo, complexo e altamente competitivo, a questão que precisa de uma resposta urgente da indústria florestal brasileira é: como
a visão das empresas produtoras manter-se competitivo diante de custos crescentes, margens comprimidas e da necessidade de alcançar sucesso, principalmente no mercado asiático, tão distante geográfica e culturalmente do Brasil? Em nossa opinião, a resposta passa por três pilares fundamentais: escala de produção, atuação global com eficiência logística e inovação tecnológica. Isso requer uma reinvenção profunda da nossa indústria, ainda sustentada por empresas relativamente pequenas – se comparadas com os padrões mundiais – e, em muitos casos, focadas no mercado interno. Não é à toa que, atualmente, tanto se fala em consolidação no setor, algo que parece ter se tornado imperativo e que poderá ocorrer num prazo não muito distante. Além disso, temos observado movimentos inéditos e muito interessantes, como parceria entre a Fibria e a empresa sul-coreana STX Pan Ocean, tendo como objetivo a construção de uma frota de navios para transporte da celulose da empresa brasileira. Escala e logística são essenciais para a nossa competitividade, mas, neste artigo, focaremos a discussão sobre a inovação tecnológica, pois entendemos que ela pode, mais uma vez, representar um salto para a indústria florestal brasileira, assim como já ocorreu na clonagem e no cultivo reduzido do solo, apenas para citar alguns exemplos marcantes. Neste caso, entendemos que o primeiro grande passo, aparentemente óbvio, mas nem sempre praticado, é fugir da armadilha do corte de investimentos em áreas estratégicas, que tendem a entregar os seus produtos mais a médio e a longo prazo. Nos momentos de maior dificuldade, como o atual, há que se conter a “tesoura”, que costuma fazer sérios estragos em áreas como P&D. Para evitar que isso ocorra, é essencial assegurar um forte alinhamento entre as linhas de P&D e a estratégia da empresa, pois, nesses casos, fica muito mais evidente visualizar o dano que uma redução imediatista pode provocar nos produtos que demandam maior tempo para maturação. Outro ponto fundamental é estabelecer um portfólio de projetos de P&D que reflita adequadamente as ações necessárias (não as simplesmente desejadas), para assegurar as respostas da empresa ao cenário externo e aos seus compromissos com todas as partes interessadas. Essa é uma tarefa às vezes complexa, pois exige desprendimento para interromper ou reduzir os esforços em alguns projetos, em detrimento de outros mais urgentes e/ou importantes.
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Para fazer isso com sucesso, há que se cuidar muito do processo de comunicação de cenários, objetivos e prioridades, pois, muitas vezes, os pesquisadores serão obrigados a abrir mão de projetos individuais para que o time como um todo ganhe, e os resultados sejam potencializados para a instituição. Nesses momentos, a gestão do clima organizacional tem que ser vista com muita atenção, sob pena de um clima de trabalho inadequado comprometer os resultados. No que se refere à carteira de projetos, esta deve apresentar um bom equilíbrio entre projetos ligados à excelência operacional, com entregas de curto prazo (ex.: redução no custo de formação de florestas por intermédio de revisões de manejo), com projetos ligados à sustentabilidade do empreendimento (exemplos: melhoramento genético tradicional e estudos da biodiversidade). Adicionalmente, um portfólio bem balanceado precisa conter projetos de ruptura tecnológica, que possam trazer um diferencial competitivo sustentável no médio e no longo prazo (exemplos: novas ferramentas biotecnológicas e desenvolvimento de tecnologias ligadas ao conceito de biorrefinaria). Esse equilíbrio é crucial para continuarmos na liderança da produtividade florestal, com capacidade de absorção dos custos crescentes e elevação de margens. Tais ações contribuirão fortemente para que o negócio florestal brasileiro se mantenha competitivo no curto, médio e longo prazos, mesmo diante do cenário descrito no início deste artigo. Somente assim seremos capazes de dar segurança às partes interessadas, com elevação da atratividade do nosso setor aos investidores. Novos investimentos em tecnologia são essenciais, pois acreditamos firmemente que serão as rupturas tecnológicas, muitas ainda sequer descobertas, que assegurarão a sustentabilidade das empresas e do próprio planeta, tornando viável o “produzir mais com menos”. As estimativas indicam que, em 2050, poderemos ter um déficit mundial da ordem de 200 milhões de hectares, em função do crescimento populacional mundial e do aumento de demanda que isso provocará. É responsabilidade de todos nós – envolvidos de alguma forma com o uso de recursos naturais – encontrarmos saídas para mitigar esses impactos, o que obrigatoriamente passa pelo processo de inovação tecnológica. Porém este só gerará os resultados desejados se for tratado com a prioridade necessária e se for gerenciado de forma eficaz e moderna, com a visão holística que os recursos naturais merecem.
Opiniões
a pesquisa e a
competitividade
A competitividade da indústria nacional de base florestal, que historicamente foi alavancada por fatores estruturais (naturais, climáticos, disponibilidade de terra a preços atrativos, tecnologia florestal desenvolvida, disponibilidade de mão de obra qualificada) e internos às empresas (estratégia individual, escala de operação, qualidade dos produtos, tecnologia e capacidade de gerir o negócio), está em processo de redução no cenário internacional em função de diversos fatores sistêmicos.
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elevados para culturas perenes e extremamente desafiadores de serem mantidos, principalmente em plantios que já possuem um padrão tecnológico de material genético e de manejo bem definido. Como referência de outras culturas, a taxa de crescimento anual, em nível global, da produtividade de milho, arroz e trigo, que são culturas com quantidade de ciclos de melhoramento muito superior ao do eucalipto, ficou entre 1,2 a 1,3 % nos últimos 50 anos.
a competitividade da indústria nacional de base florestal, está em processo de redução no cenário internacional em função de diversos fatores sistêmicos " Fernando Palha Leite
Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento Florestal da Cenibra
Uma das estratégias que podem contribuir para reverter essa tendência de redução da competitividade é a promoção de ações mais efetivas para a manutenção e a melhoria da produtividade das florestas plantadas, com o objetivo de redução do custo de produção e o aumento da disponibilidade de madeira. No caso do eucalipto, a produtividade média atual dos plantios das empresas associadas da Abraf é de 40,2 m3/ha/ano (valor médio de 2006 a 2011), variando, nesse período, entre 39,4 a 41,3 m 3/ha/ano. Se considerarmos as produtividades obtidas em plantios realizados na década de 1970 como uma referência inicial, podemos inferir que, nos últimos 40 anos, a produtividade do eucalipto no Brasil aumentou a taxas entre 0,5 a 1,1% ao ano. Os valores dessas taxas (resultantes de melhorias no manejo e no material genético) podem ser considerados muito
A produtividade é definida pelo material genético escolhido para ser cultivado e pelos fatores de produção vegetal, que podem ser agrupados em climáticos (radiação, temperatura do ar, déficit de pressão de vapor, ventos, água e CO2); edáficos (nutrientes minerais, aeração (O2) e umidade do solo) e biológicos (competição intra e interespecífica, pragas e doenças). Uma vez definido o local de cultivo, algumas dessas variáveis (principalmente as climáticas e aquelas relacionadas à estrutura física do solo) são praticamente fixadas. Sobre as demais variáveis, há uma maior flexibilidade de controle. A definição das melhores estratégias de manejo desse segundo grupo de variáveis é de responsabilidade da área de pesquisa. Em um cenário atual e futuro, caracterizado por: 1. áreas tradicionais de cultivo com várias rotações (podendo, se manejadas inadequadamente, ter ocorrido comprometimento em características
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a visão das empresas produtoras físicas e químicas do solo); 2. expansão (novas fronteiras de cultivo) acontecendo em ambientes edafoclimáticos de potencial produtivo inferior ao das áreas “tradicionais” de cultivo; 3. custo de insumos (fertilizantes, defensivos, etc.) aumentando consistentemente; 4. restrições previstas em algumas certificações ao uso de alguns defensivos essenciais ao manejo de pragas em florestas plantadas e ainda sem substitutos no mercado; 5. demanda global de culturas agrícolas para a produção de alimentos, forragem, ração animal e combustíveis aumentando em ritmo acelerado nos últimos anos, a manutenção e aumento dos níveis atuais de produtividade, associados a uma redução de custo de produção da madeira, demandarão uma contribuição ainda mais efetiva da área de pesquisa na proposição e na implementação de inovações ao atual processo de produção. Diante desse grande desafio, é necessário refletirmos se os atuais recursos atualmente alocados em pesquisa são suficientes, e se eles estão sendo aplicados em projetos alinhados com as melhores oportunidades para a obtenção dos produtos necessários para a garantia da manutenção da competitividade do setor florestal brasileiro. No caso da cultura do eucalipto, oportunidades de melhoria no atual processo de produção podem estar nas seguintes linhas de trabalho de pesquisa: 1. utilização mais intensiva de diferentes espécies (alternativas aos materiais de E. grandis, E. Urophylla e seus híbridos) utilizadas nos programas de melhoramento genético (exemplo: utilização de E. globulus para a produção de híbridos para cultivo em regiões de clima mais frio e de baixa evapotranspiração, destinados à produção de celulose); 2. validação da metodologia de seleção genômica ampla como ferramenta complementar ao melhoramento genético clássico, visando à redução do tempo e à melhoria da eficiência de seleção de novos clones comerciais; 3. aplicação de metodologias que consigam separar o efeito de dominância do efeito genético em experimentos utilizados para a seleção de clones, garantido maior nível de acerto na indicação de novos clones comerciais; 4. estudos na área de proteômica e metabolômica (era pós-genômica) – permitiriam maior
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Opiniões entendimento de como o genótipo controla o comportamento de plantas de eucalipto em situações de estresse abiótico e biótico, e também a produção de informações úteis em futuros trabalhos de transformação genética; 5. avaliação da viabilidade de uso de técnicas de modificação genética como estratégia para aumento de resistência a pragas e a doenças; 6. customização de modelos baseados em processos utilizados para estimativa da produtividade dos plantios, com objetivo de estimar impactos de mudanças nos fluxos de água, nutrientes e variáveis climáticas na produtividade; 7. estudos nas áreas de física do solo – diagnóstico das alterações ao longo dos ciclos de cultivo e seus impactos nos fluxos de água, oxigênio e nutrientes; 8. melhoria de eficiência no uso de insumos – redefinição de produtos (fontes), doses, épocas, localização e modo de aplicação; 9. impacto do manejo e do aproveitamento de resíduos da colheita na sustentabilidade do sistema; 10. estudo de estratégias de seleção de materiais genéticos e de manejo para minimização de riscos aos plantios realizados em regiões com maior probabilidade de ocorrência de eventos climáticos desfavoráveis; 11. avaliação e registro de herbicidas a serem utilizados no controle de plantas daninhas – busca de opções para controle de plantas daninhas de folha larga; 12. viabilização do uso em larga escala de técnicas de silvicultura de precisão; 13. automação de atividades (exemplo: na produção de mudas, verificar a aplicabilidade de sistemas utilizados na Europa para a produção de flores e hortaliças); dentre outros. Tão importante como a definição de áreas onde deve haver aumento dos investimentos para a obtenção de novos conhecimentos, deve ser a definição de como aproveitar o conhecimento já disponível (nas áreas de solos, manejo, proteção florestal, melhoramento genético, qualidade da madeira e etc.). Atualmente, a geração de conhecimento pode ser considerada maior que a capacidade de análise das pessoas responsáveis pela aplicabilidade desse conhecimento. Para equilibrar essa situação, é necessário pensar na necessidade de redimensionamento das equipes e investir na capacitação dos profissionais responsáveis por essa atividade (conversão de dados em informações, de informações em conhecimento, de conhecimento em inovação, de inovação em novo procedimento operacional e de novo procedimento operacional em agregação de valor ao processo de interesse). A promoção de um maior alinhamento entre as demandas e os projetos desenvolvidos pelas principais fontes de geração de conhecimento nacionais e internacionais (universidades, institutos e empresas) também podem contribuir para uma maior sinergia entre elas e, consequentemente, aumentar a chance de proposição de inovações relevantes. A implementação desse conjunto de ações (aumentos de investimentos em algumas linhas de trabalho, manutenção das linhas atuais, melhoria da capacidade de organização e de análise do conhecimento já disponível e promoção de um melhor alinhamento entre as diversas fontes geradoras de conhecimento), associado à aplicação de ferramentas de gestão de projetos adaptados à gestão de projetos de pesquisa, certamente, é um dos caminhos para a elevação da produtividade e a redução dos custos de produção da madeira, que são ações essenciais para elevação do nível de competitividade do setor brasileiro de base florestal.
informe publicitário
Corrente de corte: 387.000 lascas por minuto Um cliente, recentemente visitado, produz 250m3 de madeira por turno por cabeçote em uma das suas fazendas de Pinus onde o m3 vale R$39,00. Estes 250m3 por turno por máquina x 26 dias x R$39,00 significa mais de R$ 253 mil reais/mês de produção. Se neste mesmo período cada cabeçote consumir 1 sabre, 1 pinhão e 4 correntes, teremos um custo de material de corte na ordem de R$ 2 mil reais, ou seja, menos de 1% do valor da madeira gerada no processo. Apesar do seu baixo custo, uma corrente de 43 dentes, girando a 9.000 rpm, remove aproximadamente 387.000 lascas de madeira por minuto. A espessura destas lascas irá determinar a produtividade do equipamento. Lascas grossas reduzem a velocidade e forçam a corrente; lascas finas representam perda de potencial produtivo e desgastam o sabre e a base da corrente, pois são necessários mais giros para se obter a mesma produção.
Exemplo de corrente cega
Muitos usuários desconhecem o impacto do custo do conjunto de corte no valor da produção da madeira, bem como a importância das especificações de manutenção do conjunto de corte. Deve ser por isso que quase 100% dos clientes pedem descontos no preço do conjunto de corte. Por outro lado, menos de 1% dos clientes solicitam algum tipo de orientação técnica sobre seu uso e manutenção. Quando a orientação técnica gratuita é oferecida, muitos polidamente a rejeitam. “Nosso pessoal já recebeu treinamento nesta área”. Mas quando perguntados se está ocorrendo quebra de correntes admitem que sim, dizendo que isso é normal. Normal?! Pode ser comum, mas não é normal! Normal é o que está dentro da norma e a quebra não está!
Em uma operação semelhante em outra fazenda distante quase 1.000 quilômetros, o mesmo cliente do início deste texto, produz 200 m3 por turno por máquina. A afiação, em ambos os locais requer melhorias e há diferenças na política de afiação, bem como nos ângulos de afiação adotados pelos afiadores. Os operadores demonstram não compreender alguns aspectos dos conjuntos de corte e não há procedimentos padronizados para a substituição dos componentes do conjunto de corte. Neste exemplo, enquanto a segunda fazenda não alcançar a produtividade da primeira, a empresa seguirá perdendo um potencial de produção de R$ 600 mil reais por cabeçote por turno por ano.
Exemplo de afiação incorreta A ELOFORTE, distribuidora nacional especialista da marca CARTON produzida pela BLOUNT INC - USA, oferece diagnóstico e orientação na utilização e manutenção do conjunto de corte com o objetivo de reduzir a quebra de correntes e ampliar a produtividade em metros cúbicos por hora.
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a visão das empresas produtoras
investimentos em P&D,I e a competitividade O setor florestal no Brasil cresceu em ritmo acelerado a partir da Lei dos Incentivos Fiscais de 1970, quando grandes áreas foram destinadas ao reflorestamento. Muitos desses cultivos foram conduzidos sem o conhecimento da realidade da cultura e sem cuidados essenciais. Apesar disso, tivemos grandes exemplos de sucesso, principalmente, quando o recurso foi tomado por empresas estruturadas, o que consolidou a cultura do eucalipto no País. Lembro, quando iniciei minha vida profissional, em 1977, que as grandes empresas começavam a estruturar suas áreas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), principalmente, nos setores de siderurgia e celulose. A criação de estruturas dedicadas (gerências e/ou departamentos), com equipes multidisciplinares, focadas nas importantes áreas do desenvolvimento (melhoramento genético, proteção, nutrição e manejo dos solos), objetivava a sustentabilidade da produção. Estas, com a criação das instituições de pesqui-
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Temos que continuar investindo no meio ambiente como forma de proteção do investimento florestal, conhecer a biologia dos insetos e das pragas e produzir inimigos naturais para evitar o uso de pesticidas. Precisamos continuar criando instrumentos de proteção contra invasão e fogo criminosos para garantir a produção e considerar o desenvolvimento social das comunidades que sofrem os efeitos de nosso manejo para que tenhamos material humano compatível com as nossas atividades, cada dia mais exigentes e especializadas. Nesse sentido, o reforço na parceria empresas-universidades-instituições de pesquisa será fundamental para otimizar os recursos, agindo por objetivos comuns. Outra parte importante dentro das empresas florestais que precisa ser melhorada ou trabalhada com mais rigor é o desenvolvimento. Quero dizer, a transferência dos resultados da pesquisa aplicada para a produção. Essa etapa carece de estrutura adequada nas empresas com profissionais capa-
o reforço na parceria empresasuniversidades-instituições de pesquisa será fundamental para otimizar os recursos, agindo por objetivos comuns "
Moacir Batista do Nascimento Filho Superintendente Técnico da V&M Florestal
sas ligadas às universidades e ao governo – citam-se, aqui, IPEF (1968), SIF (1974), Embrapa Florestas (1978), entre outras, cujo principal objetivo foi dar suporte ao desenvolvimento florestal do Brasil –, foram responsáveis pelo grande avanço alcançado na silvicultura brasileira. Recentemente, a Embrapa Bioenergia tem procurado seguir o mesmo caminho no setor florestal. Ao longo do tempo, em função das diferentes situações econômicas, boa parte das empresas florestais não conseguiu manter as equipes internas, levando a uma significativa redução do ritmo de desenvolvimento tecnológico inicialmente alcançado. A pergunta que se faz hoje, “o que deve ser mudado para a manutenção e o avanço de nossa liderança no setor florestal?”, é difícil de ser respondida, mas passa, certamente, pela parceria entre empresas, universidades e governo e necessita de mais investimentos em P&D. Considero importante o fortalecimento de equipes dedicadas à pesquisa, com profissionais que possam atuar com as universidades e direcionar a pesquisa científica para os interesses das empresas, o que, certamente, trará desenvolvimento tecnológico voltado à produção. O manejo florestal, hoje, é muito complexo. Não basta apenas o conhecimento de genética e nutrição, mas também as interações ambientais e sociais, as quais interferem de forma determinante para o sucesso da floresta plantada.
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zes de tornarem aplicáveis, no nível operacional, os resultados obtidos pela pesquisa. Em muitos casos, são necessárias adequações e/ou adaptações nas máquinas, equipamentos e nos procedimentos operacionais. Outro ponto importante para que tenhamos a garantia da manutenção do conhecimento e, consequentemente, a liderança no setor florestal é como perpetuar o know-how dentro da empresa. Uma possível alternativa é a efetivação de um plano de sucessão de profissionais nas áreas-chave (posição-chave). Perdemos muito conhecimento com a saída de profissionais importantes (pessoas-chave), seja pela pressão do mercado de trabalho ou por suas aposentadorias, sem que se tenha a preocupação de ter desenvolvido um substituto à altura. Isso não acontece apenas nas empresas, mas também nas universidades e instituições oficiais, onde os grandes nomes não estão sendo substituídos, ou raramente o são. Em países mais desenvolvidos, o maior número de cientistas e engenheiros está nas empresas, focando no desenvolvimento da área produtiva. Lógico que essa ação exige a contrapartida dos órgãos governamentais nos diferentes níveis para que, de forma conjunta, possamos direcionar a pesquisa básica para onde é preciso crescer e/ou para onde se quer reduzir custos com aumento de produtividade e qualidade.
Opiniões
integração: ganho efetivo e real É mencionado por muitos estudiosos no assunto que, “Para uma empresa se manter competitiva, é necessário criar um valor superior a todos os seus custos, e que este valor deve ser reconhecido pelo cliente”. A principal ferramenta para a manutenção da competitividade da empresa é a pesquisa e o desenvolvimento. Essa área, em uma empresa florestal, é vista como principal meio de crescimento. Esse crescimento pode ser sinalizado por ganhos em incremento volumétrico, em qualidade de produtos madeireiros e não madeireiros, adequação do manejo silvicultural e resistência a pragas e a doenças. Todos esses ganhos podem ser transcritos em qualidade do produto final e na redução de custos. A estruturação da P&D: equipe, projetos e investimentos; varia de empresa para empresa e, normalmente, encontra-se dividida em setores, como solos e nutrição, sistema de manejo, melhoramento genético, biotecnologia, pragas e doenças.
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segmentos de pesquisas no setor florestal. Entretanto existem alguns segmentos desse setor que necessitam do desenvolvimento de novas pesquisas. Os fluxos bilaterais por conhecimentos técnicos e operacionais farão com que novas ferramentas e meios de interações sejam criados para suprir essas lacunas. Essas relações devem ser estreitadas a cada dia, evoluindo de interações, “que é a ação recíproca entre dois corpos”, para integrações, “tornar inteiro, completar e juntar”, possibilitando, assim, a obtenção cotidiana da inovação técnica e a permanência da liderança no setor. Apresento como exemplo de sucesso em integração entre universidades, empresas, laboratórios e pesquisadores a Comissão Técnica de Genética e Melhoramento Florestal (CTGMF). A comissão, coordenada por professores e pesquisadores de renome ligados à Universidade Federal de Viçosa e à Embrapa, internalizada na SIF - Sociedade de Investigações Florestais, e composta por membros de empresas
essas relações devem ser estreitadas a cada dia, evoluindo de interações, 'que é a ação recíproca entre dois corpos', para integrações, 'tornar inteiro, completar e juntar' "
Brígida Maria dos Reis Teixeira Valente Coordenadora de P&D,I da ArcelorMittal BioFlorestas
Os setores ainda são subdivididos em projetos, que se encontram alinhados com as diretrizes da empresa, metas de ganhos em aspectos primordiais de qualidade do produto final e indicadores internos de rotina. Existem alguns fatores que limitam a execução de projetos desses setores: complexidade técnica, necessidade de equipes especializadas, tempo de análise para obtenção de resultados, alterações climáticas, ocorrências de pragas e doenças, altos investimentos necessários, além de novidades constantes em software de análises de dados, análises laboratoriais, máquinas e implementos. Como principal forma de amenizar esses fatores limitantes, na execução de projetos de pesquisas, tanto técnicos como operacionais, empregam-se as interações e parcerias entre universidades, centros de pesquisas públicos e privados, laboratórios, pesquisadores, estudantes e empresas. O setor florestal apresenta-se como um setor de grandes interações. Dessas interações, os programas cooperativos, que são formados pelos principais pesquisadores, são o melhor meio de formar e difundir conhecimento, diminuir os custos fixos, o tempo para a obtenção dos resultados e possibilitar a inovação. A ausência dessas interações impossibilitaria a apresentação do nosso país, bem como é mencionado pelos principais meios de informação, como o líder em diversos
florestais de diversos segmentos, aborda, em cada reunião, assuntos apontados pelos membros como primordiais para o prosseguimento e atendimento de resultados dos diversos programas de melhoramento genético que estão sendo conduzidos. Além disso, monitora ações durante desenvolvimento dos projetos, que são subdivididos entre os membros envolvidos; realiza fórum de apresentação e discussão de todos os resultados encontrados pelas pesquisas; e proporciona palestras ministradas pelos melhores especialistas, para esclarecimento de novas técnicas, ferramentas, equipamentos laboratoriais e inovações tecnológicas. A CTGMF desenvolve e difunde todas as inovações desse setor, possibilitando a manutenção da liderança de todos os membros envolvidos. Dentre esses membros, que fazem parte dessa integração possibilitada pela CTGMF, destaca-se a oportunidade encontrada pelas empresas que conhecem uma ferramenta de abrangência do seu setor de pesquisa e desenvolvimento e um instrumento de inovações tecnológicas. Através dessa integração, as empresas apoderam-se da oportunidade de alcançar resultados em menor tempo, reduzir os investimentos e obter conhecimentos inestimáveis, instituindo, assim, um grande diferencial na qualidade do seu produto final, que é reconhecido como valor pelo cliente.
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ensaio especial
Opiniões
inovação é a base Durante a participação de um curso aplicado de manejo florestal na Amazônia, fomos convidados a um exercício de dinâmica de grupo, no qual os participantes eram agrupados em representantes de cada segmento da sociedade, incluindo universidades/pesquisadores, empresários, movimentos sociais e legisladores, cujo objetivo era discutir formas de estimular o desenvolvimento do setor florestal. Essa experiência foi vivida de forma intensa, na qual os envolvidos expressavam suas ideias, de acordo com o segmento que as representavam. Em seguida, listavam uma série de exigências aos demais grupos participantes, sendo recorrentes cobranças além da capacidade aplicável na realidade. Porém os grupos se esqueciam, ao término do processo, de fazerem sua parte como representantes de cada segmento. A conclusão final do debate demonstrou que cada parte envolvida precisa de ajustes para fortalecer o setor florestal, devendo cumprir suas obrigações para com a sociedade. Assim, fazendo um retrospecto do que já foi desenvolvido no Brasil sobre a pesquisa florestal aplicada, percebe-se que ganhamos destaque mundial, porém não o suficiente para garantir a almejada sustentabilidade da produção, principalmente em tempos de crise. O ambiente macroeconômico instável difunde incertezas, e, naturalmente, surgem cortes de investimentos pela retração da economia. Existe uma premissa interessante, porém errônea, de que, em tempos de crise, devem-se reduzir investimentos em pesquisa. Como exemplo, cita-se a discussão sobre o orçamento do governo federal americano, no qual se planeja realizar cortes dedicados à ciência que chegam a US$ 50 bilhões. Porém analiso esse momento como um ponto de transformação. Recursos escassos carecem de uso inteligente, que fomente projetos de pesquisa inovadores e realmente aplicáveis operacionalmente. A palavra mais discutida atualmente, e que faz toda a diferença, é inovação. O caminho a ser trilhado não é fácil, porém nos auxilia a reformularmos a forma de fazer uma ciência aplicada e com benefícios à economia. Somada à inovação, vem a multidisciplinaridade da pesquisa, que integra diversas áreas do conhecimento e traz uma série de vantagens, dentre elas, permite explorar com maior propriedade os temas pesquisados, otimizando os gastos aplicados e evitando a sobreposição desnecessária de pesquisas. Essa lógica é observada em sistemas de gestão de povoamentos florestais, conciliando a tecnologia da informação (TI) e o setor de pesquisa e desenvolvimento florestal, trazendo resultados significativos à economia.
Porém analiso esse momento como um ponto de transformação. Recursos escassos carecem de uso inteligente, que fomente projetos de pesquisa inovadores e realmente aplicáveis operacionalmente. " Lucas Rezende Gomide Professor de Planejamento, Otimização e Manejo Florestal da UFLA
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As inovações devem ser sempre estimuladas e funcionam como uma semente que precisa de cuidados para germinar e produzir novos frutos. Na UFLA, existe o Núcleo de Inovação Tecnológica (Nintec/Ufla), que possui essa missão, ao promover a transferência de tecnologias e a política de proteção à propriedade intelectual, bem como o incentivo à celebração de convênios e acordos com instituições e empresas parceiras. Entretanto outros mecanismos devem ser explorados em prol da pesquisa, como a internacionalização das universidades brasileiras. Esse processo garante o fluxo de pesquisadores e troca de experiências, fato já iniciado na UFLA e que busca parcerias com renomadas universidades internacionais. O Ministério da Educação e Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação uniram esforços para a criaWages ção do programa intitulado Ciência Sem Fronteiras, no qual Gerenussa têm como meta distribuir mais de 100 mil bolsas de graduação e pós-graduação nos próximos quatro anos, por meio de intercâmbio com universidades internacionais, além de viabilizar a vinda de pesquisadores estrangeiros ao Brasil. A viabilidade de programas inovadores depende da captação de recursos financeiros, não basta ter apenas boas ideias. A divisão dos royalties do petróleo, por exemplo, é um tema que envolve interesses de todos, seja de estados e municípios produtores ou não, pois os recursos gerados trarão benefícios à sociedade. Recentemente, foi editada uma medida provisória garantindo o destino dos recursos gerados pelos royalties, em futuros contratos de concessão, que serão exclusivos à educação e 50% de todo o rendimento do fundo social terá o mesmo caminho. A proposta sobre o tema discutido é o legado deixado à educação, pois o petróleo é um recurso não renovável. A continuação das parcerias entre empresas e universidades/ instituições de pesquisa é fundamental nesse novo ambiente brasileiro que se forma. Contudo as diretrizes sobre a aplicação dos recursos a serem investidos em determinadas áreas, partem de aspectos estratégicos de cada empresa e do órgão financiador. O passo seguinte a ser discutido é a qualidade técnica e não a quantidade de projetos a serem financiados, analisando principalmente os produtos gerados e seu retorno à sociedade. Nesse sentido, existe uma diferença clara entre quantidade e qualidade nas pesquisas, e isso faz toda a diferença quando se discutem os caminhos da pesquisa no setor florestal. Dessa forma, estímulos à pesquisa florestal aplicada é necessária, e, sem ela, iremos regredir, ficando cada vez mais expostos ao competitivo mercado internacional.