O caminho ideal da silvicultura brasileira - OpCP22

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvĂŁo, siderurgia, painĂŠis e madeira dez 2010-fev 2011

o caminho ideal da silvicultura




o caminho ideal índice

da silvicultura brasileira

Editorial de abertura da Edição:

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Xico Graziano

Especialista em Meio Ambiente

Consultores e Especialistas:

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João Paulo Ribeiro Capobianco Especialista em Meio Ambiente

Roberto Isao Kishinami

Diretor Geral da NRG Consultoria em Energia e Meio Ambiente

Joésio Deoclécio Pierin Siqueira

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César Augusto Valencise Bonine

Gerente de Biotecnologia do Centro de Tecnologia da Fibria

Manoel de Freitas

Diretor da Manoel de Freitas Consultoria Florestal

Antonio Paulo Mendes Galvão

Consultor Florestal e Ambiental Independente

Adhemar Villela Filho

30 31 32 34

Diretor Florestal da Masisa do Brasil

Gustavo Dobner dos Santos

Gerente Florestal da Caxuana Reflorestamento

Moacir José Sales Medrado

Diretor da MCA – Medrado & Consultores Agroflorestais

Renato Moraes de Jesus e Bruno Mariani

Diretor Técnico Operacional e Acionista da Symbiosis

Luciano Amaral Rodrigues

Gerente Geral Florestal da Cenibra

Luís Fernando Silva

Gerente Geral Florestal International Paper do Brasil

Luís Antônio Künzel

Gerente Florestal da Lwarcel Celulose

Cesar Augusto dos Reis Diretor Executivo da Abraf

Ensaio Especial:

Gerente Florestal da Eucatex

Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas

Entidades:

Consultor Florestal

Hernon José Ferreira

Nelson Barboza Leite

Celulose e Papel:

Vice-presidente da STCP Engenharia de Projetos

Painéis:

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Florestas:

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Denise Hamú

Secretária-geral do WWF-Brasil

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - Ribeirânia - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - opinioes@revistaopinioes.com.br Diretor de Operações: William Domingues de Souza - wds@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4660 - Coordenação Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - vrds@ revistaopinioes.com.br - 16 3965-4606 - Suporte de Vendas: Priscila Boniceli de Souza Rolo - pbsc@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4698 - Patricia Curtarelli Soares - pcs@revistaopinioes.com.br 16 3965-4616 - Apoio a Vendas: Susana Albertini Agazarian - saa@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4696 - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@ revistaopinioes.com.br - Coordenadora de Editoria: Beatriz Marques Nogueira - Fone: 3965-4661 - bmn@revistaopinioes.com.br - Assistente do Editor Chefe: Tamires Zeoti Ciana - Fone: 3965-4696 tzc@revistaopinioes.com.br - Freelancer da Editoria: Aline Gebrin de Castro Pereira - Priscilla Araujo Rocha - Projetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - JuliaBR@revistaopinioes.com.br - Correspondente na Europa (Alemanha): Sonia Liepold-Mai - sl-mai@T-online.de - Fone: +49 821 48-7507 - Correspondente na Índia: Marcelo Gonçalez - mg@revistaopinioes.com.br - Correspondente em Taiwan: Wagner Vila - wv@revistaopinioes.com.br - Jornalista Fotográfica na Ásia: Marcia Maria Ribeiro - mmr@revistaopinioes.com.br - Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes. com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Tradução para o Inglês: Benno Franz Kialka - BeKom Comunicação Internacional - Fone: 11 6398-0825 - bkialka@bekom.com.br - Rediagramação: Agência Chat Publicom - Fone: 11 3849-4579 - 11 8381-8913 - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Fotografias dos Articulistas: Acervo pessoal - Foto da Capa: Revista Opiniões - Foto Índice: Revista Opiniões - Periodicidade: Trimestral - Tiragem da Edição: 5.000 exemplares - Veiculação: Comprovada - Todos os artigos de todas as edições e a Versão On-Line da revista estão publicados na íntegra na home-page: www.RevistaOpinioes.com.br

Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano


editorial

Opiniões

solução

inteligente

" O pinus e o eucalipto são tão estrangeiros quanto o arroz com feijão nosso de cada dia, a laranja e o café do lanche, a alface e o tomate da salada... Nenhuma dessas plantas comestíveis tem origem tupiniquim, embora ninguém as cultive com preconceito. " Xico Graziano Especialista em Meio Ambiente

Noutro dia, promovendo meu Almanaque do Campo, livro que lancei recentemente, destaquei o fato de o Brasil ainda manter preservados 517 milhões de hectares de florestas nativas, representando 60,7% do território nacional. Alguns estudantes presentes na palestra que eu ministrava duvidaram do número. Tive que provar. Os ambientalistas, muitas vezes, apreciam raciocinar com o apoio negativo dos desastres ecológicos e se surpreendem quando enfrentam alguma informação positiva sobre o meio ambiente. Por isso fui ao ataque: nosso país não apenas mantém grande parcela da vegetação original, como está formando novas florestas. Aí sim aumentou a incredulidade da minha jovem assistência. “Como assim?!” “Fácil”, retruquei. Existem quase 7 milhões de hectares plantados com florestas. Em comparação, todos os cafezais brasileiros somam 2,3 milhões de hectares. Quer dizer, crescem bilhões de árvores por aí afora. A luta pela informação continuou. “Mas não são espécies exóticas”, me questionaram. “Sim”, respondi. O pinus e o eucalipto são tão estrangeiros quanto o arroz com feijão nosso de cada dia, a laranja e o café do lanche, a alface e o tomate da salada... Nenhuma dessas plantas comestíveis tem origem tupiniquim, embora ninguém as cultive com preconceito. Utilizo essa pequena história para me amparar no combate ao catastrofismo ecológico e seus raciocínios preconceituosos. A polêmica discussão sobre o Código Florestal atesta a capacidade de confusão que reina sobre a agenda verde em nosso país. Falsos argumentos, quase sempre, baseiam a radicalização do embate entre ambientalismo e ruralismo, recheado de “achismos” que machucam o bom senso. É perfeitamente possível produzir no campo sem degradar a natureza, embora seja necessário encontrar, através da tecnologia e da cultura humana, os limites dessa disputa pelo uso dos recursos naturais disponíveis. Certas sociedades do passado entraram em declínio, ou mesmo soçobraram, devido ao desmatamento desenfreado, conforme mostra Jared Diamond em Colapso, seu magnífico livro.

Soa ridículo exigir que a agropecuária brasileira retroceda, abandonando áreas ocupadas historicamente pelas culturas e criações que permitiram desenvolver a civilização. Por outro lado, seria o cúmulo da imbecilidade imaginar que a expansão agrícola devesse seguir o rumo do passado perdulário, degradando a natureza. A necessária adequação do Código Florestal não vai afetar nem a fome no mundo nem o aquecimento global. Esses argumentos extremistas embasam bons discursos, mas nada constroem. Reconhecer e valorizar a agricultura consolidada do País, exigindo boas práticas de produção, não impede avançar na proteção da biodiversidade. Nesse contexto, existe, com certeza, muito espaço para a silvicultura brasileira avançar, ocupando novas e importantes áreas do território, gerando empregos, renda e divisas. Tal expansão, que julgo inevitável, não poderá ocorrer sob a encrenca dos dualismos estéreis, como aquele que demoniza as espécies exóticas versus o que sublima os plantios florestais. Quem vislumbra o futuro com boa ventura deve apostar no profissionalismo. A oportunidade política de mais bem encaminhar a agenda florestal se abre com a posse dos novos mandatários, na União e nos estados. Todos estão organizando seus novos planos de trabalho. Chegou a hora de fugir dos chavões – ruralistas ou ambientalistas – e partir para as soluções, acompanhadas de políticas públicas eficazes. Falar em apagão florestal também já cansou a turma. Ao finalizar, chamo a atenção para um ponto fundamental na agenda da nossa silvicultura: a necessidade de se investir mais na comunicação com a opinião pública. Não adianta reclamar que os incautos adversários da silvicultura só dizem abobrinhas e causam futricas. Torna-se necessário mostrar à sociedade as vantagens das florestas plantadas e convencê-la disso. E fazê-las, efetivamente, se tornarem realidade, embasando o marketing do setor. Tudo com total transparência. O Brasil não pode temer a agenda ambiental. Pelo contrário, deve tomá-la como um desafio e uma grande oportunidade de liderar a economia verde mundial. Nesse caminho, contará com a força da sua silvicultura. Uma solução inteligente, com certeza.

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consultores e especialistas

a silvicultura brasileira em um mundo em

transformação

Uma reflexão sobre os caminhos para o desenvolvimento da silvilcultura brasileira inicia-se, necessariamente, pela interpretação dos cenários com os quais o setor irá se deparar nos próximos anos. Para além do ambiente econômico de curto e médio prazos, cujas avaliações dependem da capacidade de se fazer projeções confiáveis sobre o comportamento do consumo nos planos nacional e internacional, da evolução da infraestrutura necessária à produção e à comercialização, da disponibilidade de crédito e financiamento públicos e privados, entre outros indicadores importantes, há um cenário mais amplo e já bem definido a ser considerado. Trata-se da nova realidade que a humanidade enfrenta, fortemente marcada pela percepção de que a sustentabilidade e o combate às mudanças climáticas se tornaram questões objetivas que passaram a exigir atitudes concretas e cada vez mais urgentes. Em síntese, o que se tem exigido a partir do início deste século são mudanças nos padrões de produção e de consumo. Mudanças que terão que avançar muito, superando as tímidas iniciativas já adotadas ou em fase inicial de implementação, para se tornarem cada vez mais rigorosas. Isso é inexorável, seja por imposição dos acordos internacionais com poder vinculante que, cedo ou tarde, serão gerados no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, seja pela pressão interna que a sociedade fará sobre seus governantes, levando à multiplicação de iniciativas unilaterais por parte de países ou estados e municípios dentro de países. Esse quadro tem sido extremamente dinâmico em todo o mundo, inclusive

no Brasil, que promoveu recentemente uma mudança surpreendente na posição conservadora e reativa que, durante décadas, orientou sua diplomacia nos debates envolvendo as questões climáticas. Foram as pressões internas de vários setores da sociedade, com destaque para o setor empresarial, que levaram o País a adotar, no final de 2009, metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito estufa, algo inimaginável até poucos meses antes. Conforme esse quadro evolui, fica cada dia mais claro que é inadiável a busca por alternativas que viabilizem a redução do uso de combustíveis fósseis e aprimorem os processos industriais, agroindustriais e urbanos, principalmente os de produção de energia e de transporte, altamente emissores de gases estufa. Para tanto, será necessário superar muito rapidamente as atuais limitações de ordem tecnológica, social e econômica para que essas providências se tornem viáveis no tempo e na escala necessários. Nesse contexto de busca acelerada de alternativas, poucos setores da atividade econômica poderiam ser mais amigáveis ou possuírem maior potencial do que o da silvicultura. A vocação florestal brasileira: A atividade florestal larga com enorme vantagem na corrida pela substituição de processos produtivos convencionais, e o Brasil desponta como um dos países com maior potencial de crescimento nesse campo. Isso decorre da grande vocação florestal brasileira, tanto do ponto de vista de seu enorme volume de florestas nativas, a segunda maior massa florestal do planeta, como dos fatores ambientais favoráveis ao cultivo de florestas plantadas. Uma simples quantificação do volume de carbono estocado na floresta amazônica nos mostra a posição estratégica do Brasil. São cerca de 40 bilhões de toneladas, que equivalem, para fins de dimensionamento, a quase seis anos da emissão total de gás carbônico de todos os países do mundo. Por outro lado, em função das condições naturais, no Brasil, uma árvore de produção, que leva quarenta anos para se desenvolver em países do hemisfério Norte, está apta para o corte em sete anos, às vezes menos. Isso significa não apenas uma óbvia vantagem econômica, como também

" a atividade florestal larga com enorme vantagem na corrida pela substituição de processos produtivos convencionais, e o Brasil desponta como um dos países com maior potencial de crescimento nesse campo "

João Paulo Ribeiro Capobianco Biólogo, Diretor da Métra Gestão Socioambiental Estratégica

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consultores e especialistas uma importante contribuição ambiental, já que o plantio de um hectare remove entre 7,5 e 15 toneladas de carbono da atmosfera por ano, de acordo com a espécie de árvore utilizada e das condições de manejo adotadas. Some-se a isso o fato de que, além do uso da biomassa para a produção de papel, móveis, madeiras, compensados, que podem manter grande parte do carbono capturado estável por décadas, sua utilização como combustível pode eliminar o uso do terrível carvão mineral, bem como substituir combustíveis fósseis na geração de energia. Conservar e manejar adequadamente as florestas nativas e plantar árvores para produção são, sem nenhuma dúvida, atividades de alto interesse, e seus benefícios vão muito além dos climáticos. Quando bem conduzidos, os plantios contribuem para a recuperação de áreas degradadas, a estabilização de encostas, o combate à erosão, a formação de corredores biológicos e a viabilização da recomposição de Áreas de Preservação Permanente. O potencial da silvicultura no Brasil: O potencial do setor é comprovado por números. Segundo dados do SFB – Serviço Florestal Brasileiro, estima-se que a economia de base florestal responda por 3,5% do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB de 2007) e por 7,3% das exportações totais do País. Em termos de produção de florestas nativas, estudo conduzido pelo SFB e Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia registra que, em 2009, as 2.226 empresas que operam na Amazônia consumiram 14,1 milhões de m3 de toras e produziram 5,8 milhões de m3 de madeira processada, gerando uma receita de R$ 4,9 bilhões e 203 mil empregos diretos e indiretos. No mesmo ano, segundo a Abraf – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, o Valor Bruto da Produção Florestal (VBPF) do setor de florestas plantadas e suas cadeias produtivas foi de R$ 46,6 bilhões, incluindo o setor de papel e celulose, responsável por cerca de 50% do total, a indústria de madeira sólida, a siderurgia a carvão vegetal e a indústria moveleira. Os empregos diretos gerados foram da ordem de 535 mil, e os indiretos, 1,25 milhão. E as perspectivas são extremamante positivas. No que diz respeito à exploração sustentável de florestas nativas, o processo de concessão florestal, viabilizado pela Lei de Gestão de Florestas Públicas, aprovada em 2006 para dinamizar essa atividade, está apenas começando. Até o momento, somente uma floresta nacional, a do Jamari, em Rondônia, está em exploração, com uma área de manejo de apenas 96.361 hectares. Para 2011, no entanto, o Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF), elaborado pelo SFB, prevê a posibilidade de colocar, em regime de concessão, 5,1 milhões de ha de um total de 22,5 milhões de ha de florestas públicas federais consideradas aptas para concessão. Para as florestas não nativas, a Agenda Estratégica do Setor de Florestas Plantadas, elaborada pela Câmara Setorial de Florestas Plantadas, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, prevê uma expansão de novas áreas de florestas de eucalipto e pinus a uma taxa média de 4,3% ao ano entre 2009 e 2014, passando dos atuais 6,3 milhões de hectares para 7,5 milhões de hectares de florestas plantadas no final do período. Isso implicaria investimentos superiores a R$ 13 bilhões somente na aquisição de terras e atividades de plantio. No que diz respeito ao carvão vegetal, por exemplo, esse potencial é indiscutível. O consumo em nível nacional, em 2009, foi estimado em aproximadamente 22 milhões de mdc, sendo que 45% desse volume provêm de florestas nativas, justamente devido à insuficiência de florestas plantadas ca-

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pazes de suprir essa demanda. Considerando que o consumo de carvão continuará crescendo de acordo com a evolução da produção de gusa, cuja capacidade instalada está ociosa, o plantio de florestas para atender a essa demanda é inevitável, seja por imposição da legislação ambiental, seja pela pressão dos consumidores, cada vez mais conscientes e exigentes em relação às garantias de que o produto que adquirem não está contribuindo para a degradação do meio ambiente. Os desafios atuais e futuros da silvicultura brasileira: Pelo exposto, é possível deduzir que tanto o setor de florestas naturais, como o de florestas plantadas apresentam grandes potencialidades em uma conjuntura em que os aspectos ambientais adquiriram grande relevância. O planejamento desse crescimento, no entanto, necessita ser muito bem feito para se evitar que as vantagens elencadas sejam minimizadas, ou mesmo eliminadas por eventuais impactos socioambientais indesejáveis decorrentes de um crescimento desorganizado. Embora esse risco esteja presente para ambos os setores, eles são mais significativos no caso das florestas plantadas. Isso porque a escala dos empreendimentos é maior e, via de regra, eles se caracterizam por intervenções territoriais de grandes dimensões. Considerando os levantamentos atuais, há disponibilidade de terras ociosas, principalmente pastagens de baixa produtividade, suficiente para atender à demanda de expansão de florestas plantadas, sem comprometer a produção de alimentos ou o crescimento esperado da produção de culturas como a cana-de-açúcar e a soja. Essas áreas disponíveis, no entanto, nem sempre estão nos locais considerados ótimos do ponto de vista de logística e de sinergia com outros empreendimentos florestais. Nesse sentido, um dos maiores desafios a ser enfrentado pelo setor é o planejamento territorial de sua expansão, na forma de um zoneamento agroecológico que seja efetivamente negociado com todas as partes interessadas. Esse é um instrumento fundamental para se evitar conflitos. Além desse, uma agenda moderna para o setor de florestas plantadas deveria incluir pelo menos os seguintes compromissos: 1. avançar consistentemente na certificação de áreas florestais e de cadeias de custódia; 2. investir significativamente na recuperação de áreas degradadas, ampliando oportunidades, sem gerar impactos adicionais; 3. desenvolver metodologias e orientar plantadores para o aproveitamento das oportunidades proporcionadas pelo mercado de carbono; 4. desenhar incentivos à substituição de carvão mineral pelo carvão vegetal de florestas plantadas na siderurgia; 5. elaborar modelos de estímulos creditícios para produtores rurais que optarem por dedicar parte de sua área à produção florestal; e 6. incentivar a produção de tecnologia e prestação de assistência técnica para produção de florestas plantadas. Outro grande potencial que exigirá forte envolvimento de lideranças do setor é o de ampliação da participação da energia renovável na matriz energética brasileira, através do desenvolvimento de processos mais eficientes para uso de madeira como fonte de energia. Finalmente, é importante o tratamento adequado das questões relacionadas aos ajustes propostos para o Código Florestal, já que a sua flexibilização não deveria contar com apoio do setor. Isso porque, além do desgaste e do comprometimento da imagem de suas lideranças, as principais demandas das empresas florestais são razoáveis e podem ser contempladas sem que sejam processadas alterações profundas na lei atual, como pretende o substitutivo do deputado Aldo Rebelo.



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Opiniões

a energia do

sistema florestal

Para contribuir na discussão do caminho ideal para a silvicultura brasileira, vamos partir de uma escolha inicial e alguns números do setor. Inicialmente, a silvicultura pelo mundo afora significa a exploração racional de recursos florestais nativos e a economia das florestas plantadas. As florestas nativas são, sem exceção, exploradas através de concessões dos estados nacionais, sob regras que visam perenizar a atividade. Nos países de clima temperado, é prática antiga, apesar do longo tempo necessário à recomposição florestal, e apoiada na aparente uniformidade dos ecossistemas, dado o número relativamente pequeno de espécies arbóreas que dominam a paisagem. No Brasil, a exploração de florestas nacionais apenas se inicia com a recente concessão de lotes na Floresta Nacional do Jamari, através do Serviço Florestal Brasileiro. Serão necessários ainda um maior tempo de exploração – para acumular experiência – e uma maior diversidade de formações florestais em exploração comercial, para avançar na institucionalização da atividade. De qualquer forma, é importante registrar que o caminho está correto: só se preserva aquilo que se conhece e – direta ou indiretamente – se usa. Em florestas plantadas, são 271 milhões de hectares registrados em todo o mundo, enquanto, no Brasil, somam cerca de 6,5 milhões de hectares entre eucaliptos e pinus, na quase totalidade dedicados às industrias de papel, celulose e de painéis para construção civil e mobiliário. É muito pouco. Para termos uma ideia do que esse setor precisa crescer, basta ver que o recém-divulgado plano setorial para a siderurgia, de iniciativa do governo federal em sua definição de metas para a mitigação das mudanças climáticas globais, pela substituição do carvão vegetal com origem no desmatamento por aquele produzido a partir de madeira de reflorestamento, representa uma demanda reprimida da ordem de 2 milhões de hectares de novas florestas plantadas até 2020. Além desse desafio, há que somar outro: o de produzir carvão vegetal com eficiência maior que a permitida pela tecnologia predomi-

nante em uso, da ordem de 20% nas mais primitivas e de 30% nos fornos cilíndricos conhecidos como “mineirinhos”. O consumo industrial de carvão vegetal foi de 8,2 milhões de toneladas em 2008 no setor siderúrgico e de ferro ligas. Adotando-se esse volume como referência, teriam sido necessárias plantações com espécies produtivas de eucalipto somando 1,5 milhão de hectares com sete anos de plantio, totalmente dedicadas à produção de carvão vegetal, para que esse consumo pudesse ser considerado sustentável. Evidentemente, a realidade está longe desse número. O que precisa ser feito para se chegar lá? Dois movimentos institucionais ajudariam. Primeiro, é preciso dar consistência às diferentes iniciativas em andamento, através de uma política pública de claro incentivo à atividade, uma vez que florestas de qualquer tipo representam investimentos de longo prazo. Um instrumento dessa política, já usado no passado com outras espécies agrícolas, seria um zoneamento agroecológico para o plantio de espécies voltadas à produção de carvão vegetal. Áreas candidatas à atividade na região amazônica, por exemplo, não faltam: estimativas de diferentes fontes falam em 20 milhões de hectares de floresta nativa derrubada, queimada e abandonada, que podem ser recuperados através de plantações para a produção de carvão vegetal, combinados à restauração de matas nativas nas Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Mas outro movimento institucional que pode também dar bons resultados, em combinação com o primeiro, é investir recursos na produção eficiente de carvão vegetal. Isso compreenderia tanto a promoção de equipamentos pirolisadores de maior eficiência, quanto a implantação de polos de produção de carvão vegetal, para onde a produção dedicada de biomassa seria transportada, com o fim de aproveitar a energia com os voláteis gasosos e líquidos (alcatrão), hoje desperdiçados nos equipamentos de menor porte. Uma grande vantagem é que, para transformar essas substâncias gasosas e líquidas em eletricidade, são necessários equipamentos já disponíveis comercialmente no mercado nacional. Para dar uma ideia de quanto se pode gerar com isso, basta ver que a parcela da energia não aproveitada na produção do carvão vegetal, em 2008, equivaleu a 13 GW médios. Os sistemas comercialmente disponíveis convertem um terço disso em eletricidade, energia suficiente para competir em tamanho com as grandes hidroelétricas em implantação na Amazônia.

" a parcela da energia não aproveitada na produção do carvão vegetal, em 2008, equivaleu a 13 GW médios, suficiente para competir com as grandes hidroelétricas em implantação na Amazônia " Roberto Isao Kishinami

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Joésio Deoclécio Pierin Siqueira Vice-presidente da STCP Engenharia de Projetos

Dados da Abraf (2010) mostram que, em nível mundial, as plantações florestais ultrapassam a área de 190 milhões de hectares. Na América Latina, existem 12 milhões de hectares, sendo 50% dessa área do Brasil, ou seja, aproximadamente 6,8 milhões de hectares. No que se refere à cobertura florestal brasileira, a área é quase 100 vezes maior. Estima-se que o Brasil possui em torno de 520 milhões de hectares com algum tipo de cobertura florestal. Mesmo detendo toda essa área, a importância e as respostas econômicas, sociais e ambientais do setor florestal brasileiro jamais receberam do Governo, no Brasil, a devida consideração. Ao contrário, esse setor sempre foi utilizado como instrumento de resposta e desvio da atenção em decorrência das políticas públicas mal formuladas e/ou implementadas no País. Sempre que políticas (estruturadas para a agricultura, a reforma agrária, a expansão e a adequação da infraestrutura, entre outros, as quais, geralmente, alteram, e de forma significativa, a cobertura florestal em seus locais de implantação) resultaram em significativos impactos ambientais, a responsabilidade e culpa recaíram, com a complacência da sociedade civil e da mídia, bem como dos mais variados atores que direta ou indiretamente relacionam-se com as atividades florestais, sobre o setor florestal. Não importa o alto desenvolvimento tecnológico alcançado pela silvicultura de plantações, nem as alternativas de uso dos recursos florestais nativos deste País através de planos de manejo florestal. O setor florestal brasileiro continua sendo o patinho feio do desenvolvimento do País. Embora a realidade corra em sentido contrário. A silvicultura de plantadas, normalmente de iniciativa privada, não tem necessitado das ações do Governo, como provam os números a seguir: o valor anual bruto da produção – VBPF, é de mais de R$ 46 bilhões; em 2009, a arrecadação de tributos atingiu R$ 8,2 bilhões, quase 1% da arrecadação nacional de tributos; emprega, entre empregos diretos e indiretos, mais de 4 milhões de pessoas; e é também o que melhor efetiva o cumprimento da legislação

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florestal, possuindo 6,1 milhões de hectares em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal consolidadas. No segmento de florestas nativas tropicais, observa-se, no período de 1998 a 2009, um crescimento (negativo) médio anual na receita bruta de -5,5% ao ano. Atualmente, o segmento utiliza, direta ou indiretamente, mais de 1 milhão de pessoas; o consumo de madeira em tora é de 14,2 milhões de m³ e possui pouco mais de 2,3 mil indústrias. Os números demonstram que as políticas públicas governamentais para as florestas nativas foram desenvolvidas apenas no sentido de limitar as atividades florestais na Amazônia brasileira e não efetivaram qualquer contribuição para melhorar ou ampliar as adequadas respostas pelo uso sustentado desse vasto potencial de recurso natural de que o Brasil dispõe. É chegado o momento da mudança. O discurso manifestado por todos, Governo e sociedade civil, sobre as vantagens comparativas e competitivas do setor florestal brasileiro com outros países do mundo não pode continuar sendo somente falácia. Deve-se buscar, e com urgência, o desenvolvimento de ações que permitam efetivar o uso sustentável das florestas brasileiras. No que se refere às plantações florestais, é necessária uma maior eficácia e eficiência públicas nos processos de licenciamento ambiental e, fundamentalmente, nas formas de financiamentos para todas as atividades silviculturais com vistas aos plantios nas pequenas e médias propriedades rurais brasileiras. As mesmas ações devem ser desenvolvidas nos processos de concessão florestal das terras sob gestão pública e no estabelecimento de procedimentos para melhorar o uso da madeira em toras nas indústrias, para agregar valor, e na comercialização. O instrumento que falta para a efetivação das políticas públicas de conservação dos recursos florestais é o Ministério das Florestas. É a mais antiga reivindicação dos mais diversos atores do setor florestal, e esse é o único instrumento que será capaz de conduzir de maneira adequada a coordenação da política florestal no Brasil.



consultores e especialistas

novos rumos para a

P&D no Brasil

O Brasil vem experimentando um desenvolvimento econômico surpreendente, e isso tem chamado a atenção do mundo todo. Após a crise econômica mundial em 2008, retomamos o crescimento e estamos com investimentos no setor florestal como nunca vimos nos últimos anos. Praticamente, todas as grandes empresas de base florestal estão com anúncios de aumento de capacidade ou com estudos em andamento. Também não é surpresa para ninguém que o setor florestal brasileiro, principalmente de florestas plantadas, teve um grande diferencial em relação a outras partes do mundo quanto às condições edafoclimáticas privilegiadas, mas, sobretudo, pela qualificação dos profissionais que atuam nesse segmento e pela qualidade dos trabalhos em pesquisa e desenvolvimento que realiza ao longo de várias décadas.

" As publicações científicas ainda são poucas. Temos uma discrepância entre o número de pesquisadores na iniciativa privada em relação ao setor público. Nos EUA, cerca de 80% estão no setor privado. No Brasil, não chega a 30%. " César Augusto Valencise Bonine Gerente de Biotecnologia e Fisiologia Vegetal do Centro de Tecnologia da Fibria

Para se ter ideia da magnitude da P&D no Brasil, podemos citar recente publicação na revista Science, intitulada "Brazilian Science: Riding a Gusher" (vol. 330, 3 December 2010, www.sciencemag.org), que apresenta o Brasil como único país da América Latina a investir mais de 1% do PIB em P&D, ou, ainda, o salto em publicações científicas que demos nos últimos anos, saindo de cerca de 6.000, em 1997, para mais de 32.000, em 2009 (o que equivale a 55% de toda a publicação

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da America Latina e quase 3% da publicação mundial). Outro exemplo marcante publicado no mesmo artigo é a comparação do orçamento da Embrapa, que já está no mesmo patamar do Agricultural Research Service, ligado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA –, com US$ 1 bilhão/ano. Mas ainda há muito a ser feito... As publicações científicas de alto impacto ainda são muito poucas, estamos apenas engatinhando em relação a patentes e temos uma discrepância muito grande entre o número de pesquisadores na iniciativa privada em relação ao setor público. Enquanto nos EUA cerca de 80% dos pesquisado-


Opiniões res estão no setor privado, aqui no Brasil, esse número não chega a 30%. É certo que algumas empresas estão se estruturando, com criações de Centro de Tecnologia, contratação de mestres e doutores, criação de programas de incentivo à inovação etc., mas ainda é pouco! Da mesma forma, ainda não sabemos utilizar adequadamente, na iniciativa privada, os recursos públicos para P&D&I. O plano estruturado em 2007 pelo Governo Federal para C&T&I para o Desenvolvimento Nacional identificou como uma das prioridades estratégicas a "Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas", cuja meta era ampliar a razão entre gastos em P&D e faturamento das empresas de 0,7% a 1,2% até 2010. Foi criada uma série de modalidades para aplicação de recursos públicos nas empresas, destacando-se os projetos de financiamento reembolsável e o apoio financeiro não reembolsável da Finep, os programas de inserção de pesquisadores nas empresas, da Finep e do CNPq, além dos instrumentos do BNDES de apoio à inovação nas empresas. Os recursos foram disponibilizados, porém não conseguimos utilizá-los, pois há uma complexidade excessiva de documentos e formulários ligados ao processo de submissão e aprovação dos projetos e uma lentidão muito grande na análise desses pedidos. O que sentimos é que a burocracia exagerada e a falta de marcos regulatórios claros atrapalham o "caminhar a passos largos" do P&D&I no Brasil. Estamos no meio de um verdadeiro cipoal de leis, decretos, regras, medidas provisórias, que, muitas vezes, não conversam entre si e comprometem e desestimulam o processo de inovação.

Um exemplo disso é o brilhante trabalho conduzido pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, ligado ao Ministério da Agricultura, na elaboração dos descritores para a proteção de cultivares de eucalipto. Já há algum tempo, é possível proteger intelectualmente uma nova cultivar (ou clone) de Eucalyptus, mas ainda há empresas (até de grande porte) que utilizam comercialmente clones protegidos de outras, sem se preocupar com isso. Provavelmente, o desconhecimento ou o sentimento de impunidade faz com que isso aconteça no nosso setor, bem diferente do que ocorre no restante do agronegócio. Não há como negar que estamos, hoje, muito mais preparados para novos saltos do que no passado. O quadro de técnicos e analistas nos órgãos públicos parece já ser suficiente para analisar rapidamente os processos ligados a P&D&I. Devemos seguir o exemplo de sucesso da CTNBio, que ganhou força, importância e agilidade, e onde os processos hoje não demoram mais tanto tempo quanto no passado. Isso é bom para o pesquisador, para a instituição de pesquisa e para o Brasil. Precisamos, portanto, trabalhar fortemente em um novo marco regulatório para a inovação sustentável no Brasil. Buscar agilidade nas análises de processos sobre o tema, desde pedidos de financiamento público à inovação até as análises de pedidos de patentes. Com isso, conseguiremos manter nossa posição invejável de destaque no cenário florestal mundial, atraindo cada vez mais talentos e garantindo vantagens competitivas para nossa indústria e nosso País.


consultores e especialistas

Opiniões

fatores a considerar " Os obstáculos serão vencidos? A resposta é muito simples: sim, serão vencidos, pois, ao final, prevalecerá a lei do pêndulo, que tende ao meio, após sua ida para os extremos, eliminando os exageros. "

Manoel de Freitas Diretor da Manoel de Freitas Consultoria Florestal

A expansão da silvicultura no Brasil bem que se encaixaria num provérbio do budismo que diz que “se estamos olhando na direção certa, tudo o que temos que fazer é continuar caminhando”, pois os números do setor nos indicam que estamos na direção correta, restando encontrar as condições ideais dessa caminhada. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas - Abraf, no ano base 2009, o valor bruto da produção de plantações florestais alcançou o montante de R$ 46,6 bilhões, gerou arrecadações de R$ 8,1 bilhões em tributos e manteve 3,9 milhões de empregos, entre diretos, indiretos e por efeito renda. Esses dados tomam por base uma área plantada de 6,8 milhões de hectares, onde predominam eucaliptos e pinus, mas também incluem quase 500.000 hectares com outras espécies, boa parte delas nativa. Nesse cenário, seria bom recapitular as vantagens das plantações florestais, quais sejam: produzem mais renda ao proprietário rural – em terras sem vocação agrícola, geram número de empregos acima de outras atividades e trazem benefícios ambientais, entre eles, a conservação do solo, a redução dos extremos da temperatura dentro do perímetro florestal e a contribuição para o sequestro do CO2 da atmosfera, um dos causadores do efeito estufa. Quando se apontam outras vantagens, como a diminuição da pressão sobre florestas nativas, a importância das plantações florestais sobe de patamar, afinal de contas, estima-se que consumimos entre 1,5 a 2,0 m3 de madeira por habitante/ano, o que nos levaria a um consumo entre 285 a 380 milhões de m3/ano. E, se for válida a tese de que o consumo total de madeira cresce a um ritmo igual ao crescimento da população – essa é uma constatação global –, a situação exigirá estratégias bem estruturadas de expansão da base florestal. Como em toda caminhada, na expansão florestal, poderemos também encontrar obstáculos, alguns já existentes, ou que aparecerão durante o trajeto, criando impedimentos para o prosseguimento. Quais seriam esses obstáculos no caso em questão? A meu ver, uns seriam de natureza técnica, outros de natureza econômica e alguns de natureza ambiental. Os de natureza técnica requerem encontrar o material genético adequado para o plantio em novas fronteiras

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florestais, tais como os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, e em outras regiões mais ao Centro-Oeste e Norte do País. Referimo-nos a novas fronteiras florestais para diferenciá-las das áreas produtoras tradicionais – regiões Sul, Sudeste e parte da Bahia – que se encontram, de certa maneira, esgotadas, absorvendo apenas crescimentos marginais de novos plantios. Essas novas fronteiras dispõem de poucas pesquisas florestais e estão em climas normalmente mais secos, requerendo passar os grandes projetos florestais pelo crivo do tempo. Obstáculos de natureza econômica resultam, principalmente, da subida acelerada dos preços de terras nas regiões tradicionais, fenômeno esse que é esperado também nas novas fronteiras, tão logo avancem os grandes programas florestais previstos para essas áreas. Se os preços de terra serão compatíveis com os retornos financeiros, isso será objeto de análise caso a caso, doravante. Não se refloresta até o ponto da colheita por menos de R$ 5.000,00/hectare, e, dessa forma, a disponibilidade ampla de linhas de crédito com juros e prazos de pagamentos compatíveis com uma atividade de longo prazo torna-se objetivo a ser alcançado. Por último, os obstáculos ambientais. Complicados a meu ver. Muito tempo e muita exigência para licenciar uma área para plantio, mesmo as já antropizadas. O curioso é que as exigências ou a demora para licenciar variam muito de estado para estado. Sinal de que há algo subjetivo ou um grande espaço para simplificar. Cabe notar que as plantações florestais talvez sejam a ocupação mais perfeita de uma área rural, pela gama de serviços ambientais fornecidos, além do fato de que o setor florestal está entre os que mais cumprem os requisitos da legislação, como Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente. Finalmente, defronta-se o setor com o compromisso contínuo de explicar à sociedade que os mitos contra determinadas espécies não passam de crenças e ideologias, sem nenhum fundamento técnico-científico. Os obstáculos serão vencidos? A resposta é muito simples: sim, serão vencidos, pois, ao final, prevalecerá a lei do pêndulo, que tende ao meio, após sua ida para os extremos, eliminando os exageros.



consultores e especialistas

transformando intenção em

resultados

" Existem muitas metodologias para planejar e administrar bem. Muitos cursos têm sido proporcionados ao servidor público, mas falta ainda bastante qualificação e treinamento. Planejamento e administração eficientes somente serão possíveis com gente capacitada. " Antonio Paulo Mendes Galvão Consultor Florestal e Ambiental Independente

Possivelmente, vou contrariar alguns leitores, outros articulistas desta edição e até o editor de Opiniões, mas essa é a intenção. Nada de dizer o que deve continuar sendo feito, o que deve ser mudado ou o que precisa passar a ser feito. Deve-se sair de "o que fazer", sair do "discurso político" e, com planejamento consciente, colocar mãos à obra para obter os resultados desejados para o sistema florestal brasileiro. Para isso, é necessário considerar que o ambiente para esse trabalho é constituído por atores dos Poderes Executivo e Legislativo e empresas privadas, nem todos sinceros. Cada qual tem interesses próprios. O Brasil espera resultados palpáveis das promessas de políticos. O povo quer uma vida melhor. Das empresas ele deseja melhor qualidade dos produtos e serviços, com menor preço. Nesse contexto, a satisfação da sociedade deve acontecer sem desgastar (a parte boa) da preciosa herança ambiental recebida. Fazer isso ou ajudá-lo a acontecer em um mundo extremamente competitivo é o grande desafio para o sistema florestal. Há um livro que trata da arte de obter resultados desejados em contextos como aquele que se abrirá no próximo ano, 2011. Chama-se Everyman´s Prince: A Guide to Understand Political Problems, de William D. Coplin e Michael K. O Leary. Nesse texto, o príncipe seria cada um de nós encarnando o próprio Maquiavel. Nas primeiras páginas, os autores consideram que, "Para ter sucesso na política da vida você deve: 1) examinar o cenário para saber quais são os atores mais importantes; 2) interagir com eles para conhecer suas tendências e influências nos tópicos que são importantes para você; 3) calcular como fazer para que eles atuem da forma que você deseja; e 4) executar o que foi planejado". Assim, surge a dualidade em relação à escolha do intercessor: seu interesse em atuar a favor do que você deseja versus ter ele poder para fazer ou mudar o que é desejado. Essa interação é vital para fazer com que o desejado aconteça. Não adianta ao nosso intermediário ter o poder se ele não tem o interesse. A recíproca é verdadeira. Interagindo com o sistema florestal brasileiro estão os Poderes Executivo e Legislativo – federais e estaduais –, para proporcionar condições favoráveis e estabelecer

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regras para a atuação do setor privado, mas, infelizmente, na maioria das ocasiões, mais preocupados com os votos nas próximas eleições. Por sua vez, o setor privado produz bens e serviços sem desviar-se do seu principal objetivo: a própria sobrevivência, que depende do lucro. Para parte desse setor, o ecologicamente sustentável é apenas algo como colocar uvas passas no panetone de Natal; um disfarce para vender mais e ter mais lucro. Felizmente, o sistema florestal brasileiro, em sua maioria, tem um viés evolutivamente ambiental. Comumente, o planejamento no setor público preocupa-se apenas com “o que fazer”. Não ficam devidamente caracterizadas cobranças sobre metas, prazos de execução, dentre outros elementos. Os prezados leitores têm dúvida quanto a isso? Procurem saber quanto dos orçamentos anuais de planos e projetos é efetivamente executado no ano fiscal de muitas entidades públicas do Brasil. É um paradoxo: não há dinheiro e sobra dinheiro. Existem muitas metodologias e técnicas para planejar e administrar bem. Muitos cursos têm sido proporcionados ao servidor público, mas falta ainda bastante qualificação e treinamento. Planejamento e administração eficientes somente serão possíveis com gente capacitada. Causa muito dano ao nosso Brasil lotar os cargos e funções comissionadas com pessoas despreparadas, apenas por interesses políticos. Algumas instituições governamentais têm gestão tecnicamente bem planejada e conduzida, mas é a exceção, não é a regra. Invariavelmente, há erros frequentes no planejamento feito no setor público. Por exemplo: planejamento estratégico feito sem a participação ativa dos dirigentes mais graduados, sempre muito ocupados; projetos e planos nos quais toda ação é prioritária. Na realidade, essa prática de priorizar tudo é um artíficio político para agradar a todos. Também o controle efetivo da execução é fraco. Pouco se cobra do compromissado no planejamento. Ah! Que falta faz o uso regular daquelas “planilhazinhas” simples para gerenciar projetos e planos, com as perguntas clássicas: Que ação? Por quê? Como? Onde? Quem executa? Quando/prazo? e Quanto custa?


Opiniões

um futuro rico em

oportunidades

" O Brasil detém mais de 150 milhões de hectares de área ocupada por pecuária de baixo desfrute. Imperativos econômicos e ambientais indicam sua utilização mais racional. Parte poderia ser destinada à formação de florestas industriais e energéticas. " Adhemar Villela Filho Consultor Florestal

Inegavelmente, as últimas quatro décadas tiveram papel marcante na formação da atual cadeia produtiva florestal de nosso país. A flexibilidade do modelo desenvolvido permitiu sua rápida inserção na dinâmica da economia florestal mundial e seu pronto alinhamento às melhores práticas de sustentabilidade. A combinação de gestão, tecnologia e condições edafoclimáticas ideais conduziu a silvicultura nacional a níveis extraordinários de produtividade, proporcionando à sua jovem e moderna indústria a oportunidade para alcançar mercados nunca imaginados. A escala obtida produziu massa crítica suficiente para acessar novos mercados, consolidar os existentes e desenvolver novos produtos. Sua contribuição na mitigação dos gases do efeito estufa não pode ser descartada. O cenário global, sob influência de amplas mudanças estruturais, oferece ainda melhores perspectivas para o desenvolvimento florestal nacional. O declínio da era do petróleo, a urbanização crescente, o acesso ao mercado de consumo nos países emergentes, a alteração do centro de gravidade da indústria florestal e as mudanças climáticas compõem um elenco de tendências globais que nos favorecem. Esse conjunto de vetores está inserido no que se define como o início da Terceira Revolução Industrial (pós-carbono) ou, ainda, a era pró-floresta plantada de alto desempenho. Algumas evidências dessa nova era: • A Comunidade Europeia incorpora mais energia renovável em sua matriz energética na próxima década, impactando em maior demanda de madeira (adicionais 250 milhões de m3/ano); • O mercado aberto de woodchips, tradicional matéria-prima para a indústria asiática de celulose, com 80 milhões de toneladas anuais, avaliado em 10 bilhões de dólares. Assim como o mercado de pulpwood, vai ser afetado pelo aumento da demanda de madeira para fins energéticos; • O mercado de papel da China tem crescido a taxas superiores a 8 milhões de toneladas anuais, com reflexos sobre a demanda mundial de celulose; • A base industrial do hemisfério Norte, aos poucos, vai perdendo espaço para plantas de maior escala e competitividade localizadas no hemisfério Sul; • O reposicionamento estratégico da brasileira Suzano. Maior produção de celulose com a

simultânea entrada no mercado de energia renovável (aspira ser líder global na produção de pellets). Como deveríamos aproveitar essa conjunção de oportunidades? O Brasil detém mais de 150 milhões de hectares de área ocupada por pecuária de baixo desfrute. Imperativos econômicos e ambientais indicam sua utilização mais racional. Parte poderia ser destinada à formação de florestas industriais e energéticas. Por outro lado, nosso produtor rural, frequentemente sujeito às bruscas oscilações do mercado das commodities, necessita da diversificação de seu negócio na procura por maior estabilidade e equilíbrio econômico-financeiro. O modelo de integração da lavoura, pecuária e florestas plantadas, já utilizado em muitas regiões do País, poderia ser ampliado. E, sob o prisma da responsabilidade social, esses objetivos têm a característica inclusiva e universal: existe espaço para o pequeno, médio e grande produtor rural. Dessa forma, uma visão nacional para as próximas décadas de liderança global em muitos mercados de produtos florestais não seria utópica. A industrialização estimulada por governo e mercado consolidaria essa visão. Apesar de nossos diferenciais relevantes, temos problemas pontuais na estrutura de políticas públicas nas três esferas de governo. Temas como insegurança jurídica, carga tributária, política fiscal, burocracia crescente, infraestrutura deficiente, legislação trabalhista, normas ambientais e tantas outras fazem parte do rol do cotidiano de preocupações das empresas florestais. Embora exista um ambiente de ceticismo empresarial frente às necessidades de reformas públicas e investimentos em infraestrutura, a necessidade de construção de uma agenda setorial na busca de soluções comuns à cadeia produtiva florestal se sobrepõe. O mote é aumentar a competitividade. Esforços adicionais deveriam ser envidados no convencimento da importância estratégica do segmento de produtos florestais junto aos representantes e governantes que assumem a gestão pública em 2011. E quantitativamente? Certamente, construir um ativo florestal de mais de 20 milhões de hectares nas próximas quatro décadas. De preferência, ocupando diferentes espaços geográficos do território nacional. Essa é a nossa missão e compromisso para com as futuras gerações.

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florestas

a silvicultura dos

próximos anos

A silvicultura brasileira, em seus anos de existência, teve fases de crescimento e desenvolvimento com características bem marcantes. A turbulenta fase inicial embalada pelos incentivos fiscais, o surgimento das grandes indústrias, os programas de pesquisas e experimentações, os avanços tecnológicos e os questionamentos sociais e ambientais são algumas das importantes questões vividas pelo setor. Foram superações que fortaleceram cada vez mais o setor. O resultado tem sido o reconhecimento, em nível internacional, do sucesso da atividade: somos os campeoníssimos de produtividade e competitividade.

Manter essa posição e dar sustentabilidade ao crescimento dos próximos anos são os grandes desafios de todos que participam do processo produtivo da silvicultura brasileira. Nesse contexto, algumas evidências são destaques: 1. A necessidade do fortalecimento institucional: há necessidade de endereço institucional que cuide da elaboração e da execução de um programa nacional, com metas definidas e políticas públicas adequadas para promover, de maneira planejada, o crescimento da atividade. Nada de favores ou excepcionalidades. Somente segurança institucional e reconhecimento pelos valores econômicos, sociais e ambientais que a silvicultura pode prestar à sociedade. É inaceitável que uma atividade com geração de tantos empregos, tantas possibilidades de alavancar exportação, alto potencial para geração de energia, recuperação de áreas degradadas e mitigação do efeito estufa continue sem um endereço institucional para cuidar dos seus interesses. Poderia ser parte do Ministério das

" Precisamos sair desse samba de duas notas só (eucalipto e pinus). Mas isso, com certeza, só irá acontecer se houver um amplo programa de pesquisa e experimentação que possa garantir o mesmo sucesso dos empreendimentos alcançados com as espécies exóticas. "

Nelson Barboza Leite Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas

Florestas, de uma Secretaria Especial, etc. Só não pode continuar sendo portas e salas com meia dúzia de abnegados servidores em vários ministérios discutindo separadamente os pedaços do setor florestal. 2. A desejável integração de pequenos produtores rurais: As áreas com silvicultura consolidada, como as regiões Sul e Sudeste, seguramente, terão ainda possibilidade de crescimento, na medida em que os pequenos e médios produtores rurais sejam integrados de forma justa e segura aos programas de produção de madeira. Nos últimos anos, alguns avanços foram alcançados, no entanto, os retrocessos promovidos por algumas empresas marcaram negativamente os programas de fomento florestal, que se expandiam crescentemente. Há de se fazerem essas correções para que a atividade resgate a credibilidade junto a essa importante e estratégica clientela.

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Opiniões

3. Os novos proprietários das florestas: as florestas plantadas, que, por muitos anos, tinham como proprietários, exclusivamente, grandes indústrias, tendem a se tornar um bem disputadíssimo por diferentes investidores nacionais e internacionais. Está se transformando em negócio independente e, para tal, há necessidade de se manter produtiva e competitiva. É o rumo da sustentabilidade cada vez mais presente na atividade. Ganha a silvicultura, ganham os investidores, ganha a sociedade, e o crescimento industrial fica assegurado. 4. As novas fronteiras e o uso de tecnologia: a expansão da silvicultura para novas fronteiras será sempre uma preocupação, enquanto não for precedida de amplo programa de pesquisa e experimentação. Nesses trabalhos pioneiros, há necessidade de se integrarem os conhecimentos técnicos e os cuidados sociais e ambientais, comprovadamente bem-sucedidos, para que os empreendimentos não sejam surpreendidos por grandes dificuldades. Nada que não possa ser resolvido com os conhecimentos existentes, mas que fatalmente poderá comprometer investimentos mal orientados ou influenciados pelo excessivo arrojo empresarial. A silvicultura de sucesso das regiões Sul e Sudeste não pode ser transferida para essas novas fronteiras sem as devidas adequações. As observações iniciais mostram a importância da escolha do material genético, a forma e a quantidade de adubo e por aí vão as inúmeras necessidades. São limitações que demandarão muitas pesquisas e experimentações. Nessas novas regiões, os erros em procedimentos silviculturais podem levar empreendimentos a produtividades próximas de zero. Um desastre que precisa ser evitado. 5. O governo e as legislações: o sucesso da silvicultura, principalmente nas novas fronteiras, vai sempre depender de ações governamentais com adequações das legislações, estruturação dos organismos estaduais, programas de infraestrutura e implementação de políticas públicas visando à industrialização da madeira. Essas iniciativas

só avançam e se concretizam com apoio governamental. O papel do empresário florestal é formar florestas produtivas e competitivas. Infelizmente, essas atribuições institucionais em nível estadual e federal ainda estão longe de atender ao crescimento setorial, e a consequência mais desastrosa tem sido o enovelado da legislação florestal e ambiental nos diferentes estados. Esse desafio se arrasta há anos, e a complexidade da legislação só tem se agravado. A silvicultura respeita integralmente o Código Florestal, do início ao fim do processo produtivo, mas o emaranhado legal para se estabelecer em determinadas regiões tem demandado custos elevadíssimos e sem a mínima contribuição para o sucesso e segurança dos empreendimentos. Essa sangria é inaceitável. 6. O uso de espécies nativas: há que se assegurar, também para os próximos anos, o uso comercial de espécies nativas. Precisamos sair desse samba de duas notas só (eucalipto e pinus). Mas isso, com certeza, só irá acontecer se houver um amplo programa de pesquisa e experimentação que possa garantir o mesmo sucesso dos empreendimentos alcançados com as espécies exóticas. Há competência nas universidades e instituições de pesquisa, no entanto falta a decisão política e o apoio financeiro para que os programas de pesquisas se transformem em realidade. O Brasil triplicou a produtividade das espécies exóticas em pouco mais de 30 anos, e a probabilidade de se alcançar esse sucesso com inúmeras espécies nativas é muito grande, mas a fase de pesquisas e experimentações será sempre imprescindível à sustentabilidade da proposta. A silvicultura dos próximos anos continuará crescendo e se fortalecendo na medida em que as dificuldades vão sendo deixadas para trás. O Brasil, além da base científica, que tem garantido o sucesso da silvicultura até aqui, dispõe de profissionais competentes e comprometidos com a causa florestal, que, com certeza, cuidarão de despertar para os novos rumos de nossa silvicultura.

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florestas

Opiniões

a silvicultura do futuro

começa hoje

Num cenário de competitividade global acirrada, constantes mudanças e busca por altas taxas de retorno em curto intervalo de tempo, como conciliar investimentos em florestas plantadas – uma cultura com retorno esperado entre 5 e 7 anos, no caso de eucaliptos, e 12 a 18 anos, no caso de plantios de pinus? Traçar o caminho da silvicultura não é tarefa fácil. Apesar de a produtividade brasileira estar entre as mais altas do mundo, o futuro se mostra extremamente desafiador. A viabilidade econômica, social e ambiental de projetos de reflorestamento é o resultado de um esforço de produção, e, assim sendo, a madeira, na grande maioria dos casos, precisa remunerar essas despesas para que haja continuidade dos processos. Somam-se à madeira outros produtos florestais não madeireiros, como resinas, óleos essenciais, frutos, sementes e extrativos. De forma ainda incipiente, mas com grande potencial de crescimento, também podemos contabilizar serviços ambientais, como regulação climática, proteção de solos e mananciais, potencial de turismo, mercado de carbono, entre outros. No entanto, para que haja resultado satisfatório, é preciso obedecer a algumas regras, e gerenciar os custos de produção é tão óbvio quanto importante. Qual o desvio das nossas ações em relação à meta? Quantas mudas perdemos no viveiro? Quantos hectares precisam de replantio? Quantos metros cúbicos de madeira deixamos de produzir sem que fossem necessários investimentos adicionais? Definido o plano de ação, precisamos executá-lo com eficiência, e monitorar as operações é uma ferramenta de ajuste de rota e garantia de cumprimento dos objetivos. É necessário estar atento às mudanças, desenhar novas formas de realização e incorporar as melhorias de processo no dia a dia das operações. O ganho operacional potencial é enorme. Plantamos 100% das mudas de determinada área e, em raríssimos casos, colhemos os mesmos 100%. Muitas mudas não se desenvolverão e não formarão árvores.

Além dos fatores operacionais, somam-se os fatores ambientais da atividade. Trabalhamos com recursos naturais. Em uma visita recente a áreas de florestas plantadas no estado do Rio Grande do Sul, fiquei surpreso com o bom desenvolvimento dos materiais genéticos plantados ali, não tanto pela boa produtividade, mas sim pelo fato de que esses mesmos materiais também obtêm bom desempenho em plantios em estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul e Goiás, ou seja, em situações de clima e solo completamente diferentes. Diante desse fato, é inevitável questionar: qual é realmente o potencial genético das espécies florestais com as quais estamos trabalhando hoje? Uma coisa é certa: a natureza é poderosa e complexa, e devemos respeitá-la e agir com sabedoria. Da mesma maneira que somos surpreendidos positivamente, nos deparamos com outro fato importante que vem ocorrendo nos plantios de eucaliptos: o potencial de dano que novas pragas e doenças estão provocando em todo o Brasil. Está claro que devemos nos preparar melhor para combater essas e outras mais que surgirão. A convivência daqui para frente é inevitável, e devemos aprimorar as técnicas de manejo e seleção de material genético. O percevejo-bronzeado, por exemplo, em pouco tempo já foi identificado nas grandes áreas de florestas plantadas do País, com registros de danos. O investimento de florestas plantadas no País está crescendo, atraindo desde grandes grupos nacionais e internacionais até pequenos e médios produtores. Entender melhor as perdas e os ganhos, investigar suas causas e propor mudanças é fundamental. E, nesse quesito, a pesquisa proporcionou grandes avanços à silvicultura. Precisam ser mantidos investimentos nessa área, pois uma nova fronteira está sendo explorada. Combinar as melhores práticas de manejo em 100% do tempo é o objetivo dos silvicultores, porém, na prática, gerenciar todas as variáveis não é tarefa fácil. Exige competência, conhecimento e um time de profissionais comprometidos. A silvicultura incorpora tecnologia a cada dia que passa, se tornando mais específica. É preciso estar informado e atento às oportunidades. Se nada for feito, os custos sobem, o retorno cai, e perdemos competitividade. Devemos ser questionadores, criativos e dinâmicos, pois a solução dos problemas passa por nossas mãos. A silvicultura do futuro começa hoje.

" é necessário estar atento às mudanças, desenhar novas formas de realização e incorporar as melhorias de processo no dia a dia das operações. O ganho operacional potencial é enorme " Gustavo Dobner dos Santos

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Gerente Florestal da Caxuana Reflorestamento



florestas

Opiniões

perspectivas para o setor florestal no As florestas geram produtos e serviços para a humanidade, que consome, por ano, cerca de 1,6 bilhão de metros cúbicos de madeira. Consumo esse que poderá chegar a 3 bilhões em 2050 ou ao triplo disso se a crise econômica for equacionada, se a expansão das economias dos países em desenvolvimento continuar e se a distribuição de renda junto com o padrão do consumo de produtos de madeira se aproximar do padrão americano. As perguntas para os dois casos são: como será e como se fará o suprimento de tamanha demanda, de forma sustentável, sem dilapidar os recursos florestais do planeta? Minha resposta é que, neste século, a sustentabilidade da exploração florestal resultará dos avanços científicos e tecnológicos e da universalização do processo de certificação; uma certificação além do campo e da fábrica, que atinja as questões socioambientais do entorno e da sociedade, tanto no manejo de Florestal Naturais – FNs – quanto nas Plantações Florestais de Rápido Crescimento – PFRC. O manejo das FNs passará da extração econômica de madeiras ao uso múltiplo de baixo impacto, incluindo os produtos da biodiversidade com alto valor agregado. A exploração florestal dependerá mais da ciência e das tecnologias modernas. Assim, a conservação genética, o manejo de precisão, a saúde do ecossistema florestal e formas modernas de monitoramento dos planos de manejo serão temas centrais. As PFRC terão ampliação substancial, inclusive nas pequenas e médias propriedades, devido a: 1. aumento da proteção às FNs; 2. maior produtividade comparativa; 3. utilização de materiais melhorados; 4. menor ciclo de exploração; 5. menor prazo na geração de tecnologias; 6. possibilidade de seleção de sítios específicos para plantio; 7. potencial para substituição de grande parte dos produtos obtidos pela exploração de FNs, com a vantagem de apresentarem maior uniformidade de fibras, principalmente quando a PFRC for clonal. A atividade florestal como um todo sofrerá uma revolução pelo fato de que: 1. as serrarias serão muito mais eficientes e produzirão mais, com igual quantidade de matéria-prima e menor desperdício na exploração e na industrialização; 2. a produção de papel e celulose será aperfeiçoada; 3. os materiais genéticos terão maiores rendimentos e qualidade superior para os vários usos; 4. a reciclagem e a produção de “novas” famílias de produtos laminados terão

" a exploração florestal dependerá mais da ciência. Assim, a conservação genética, o manejo de precisão, a saúde do ecossistema florestal e formas modernas de monitoramento dos planos de manejo serão temas centrais. " Moacir José Sales Medrado Diretor da MCA – Medrado & Consultores Agroflorestais Associados

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século XXI

um espaço muito maior; 5. as árvores serão aproveitadas ao máximo, diminuindo a pressão sobre as FNs. Resolvidas as questões de suprimento da demanda via FNs e PFRC, restará um grande desafio: garantir à sociedade, via mecanismos de certificação independente, que a matéria-prima utilizada pelo setor provenha de áreas submetidas a boas práticas de manejo. Sem isso, sofreremos grandes restrições comerciais na forma de barreiras não tarifárias. Resumindo, neste século, ver-se-á que: 1. a exploração das FNs não atenderá à demanda mundial de madeira, abrindo espaço para as PFRC; 2. os modelos de produção florestal terão que considerar incondicionalmente a diminuição dos desperdícios, o aumento da produtividade da exploração e a sustentabilidade dos sítios florestais; 3. as tecnologias inovadoras em engenharia da produção florestal diminuirão a necessidade de matéria-prima para a fabricação de alguns produtos; 4. o tamanho das plantações será diminuído, e sua complexação, ampliada; 5. aumentarão as plantações florestais nas pequenas e médias propriedades rurais; e 6. a certificação dos empreendimentos florestais será imprescindível. Assim, concito ao novo governo (2011-2014) fortalecer o setor florestal frente à concorrência internacional, através de: 1. apoio à pesquisa florestal; 2. revisão dos dispositivos legais, considerando as realidades nacionais e regionais; 3. redução do custo de transação; 4. apoio às empresas industriais e comerciais; 5. desenvolvimento de um sistema de informação e de inteligência de mercado para apoiar o planejamento estratégico de ações do governo e dos investimentos privados no setor; 6. melhora da infraestrutura de estradas e portos; e 7. atuação em fóruns internacionais relevantes, visando à mitigação de barreiras de acesso ao mercado e ao fortalecimento da imagem do produto “Madeira do Brasil”.


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Grande abertura da garra para melhor ataque a pilha. A forma e a curvatura das mandíbulas proporcionam uma rolagem perfeita das toras. Mandíbulas passantes para agarar toras de menor diâmetro ou cargas parciais

Ponteiras redondas substituíveis, feitas de material com alta resistência à abrasão


florestas

Opiniões

produção madeireira e as florestas de

uso múltiplo " a produção madeireira representa uma oportunidade única na diversificação de ativos, melhorando a relação risco/retorno de uma carteira convencional de ativos financeiros " Renato Moraes de Jesus e Bruno Mariani Diretor Técnico Operacional e Acionista da Symbiosis Investimentos e Participações

A madeira é uma das commodities mais importantes e uma componente fundamental da economia global. Em 2000, segundo a FAO, o mundo tinha 3,9 bilhões de hectares de florestas naturais e 113 milhões de hectares de plantações de árvores. A maior parte dessas plantações é para a produção de papel e celulose (Eucalyptus e Pinus) e representa cerca de 85% de todas as plantações nos trópicos. Apesar do crescimento das áreas de plantações de árvores, 90% do consumo mundial de madeira ainda são de origem de florestas naturais. Com o crescimento mundial e o aumento da renda nos países em desenvolvimento, a demanda madeireira aumenta cada vez mais. Nesse sentido, a sua produção através de plantios tem retorno previsível, baixo risco, e seu estoque não é perecível, dando ao investidor a oportunidade ainda de adiar a colheita se os preços estiverem em baixa. A produção madeireira representa uma oportunidade única na diversificação de ativos, melhorando a relação risco/retorno de uma carteira convencional de ativos financeiros. Isso porque possui baixa correlação com outras classes de ativos, proporcionando efeito diversificador e reduzindo sua volatilidade. Diversifica, ainda, em relação a outros setores ou commodities, dado ter atribuições diferenciadas por ser de fonte renovável. O retorno histórico é comparável a outras classes de investimentos tradicionais, mas agrega uma série de fatores, como o incremento do preço das terras, a valorização do produto final e o crescimento biológico. O investimento tem também a função de hedge inflacionário, já que o componente terra e o crescimento biológico protegem contra o efeito da inflação a longo prazo. Segundo a FAO, os preços da madeira aumentaram cerca de 3% ao ano acima da inflação nos últimos 20 anos, e os retornos dependem basicamente de variáveis ambientais, como qualidade do solo, clima, regime de chuvas, espécie de madeira, taxa de crescimento, entre outros. A indústria de produtos florestais dos EUA é a maior do mundo e emprega, aproximadamente, 10% da mão de obra do setor industrial e produz

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bens avaliados em mais de US$ 233 bilhões ao ano (sendo US$ 23 bilhões em exportação). É um caminho a ser seguido por nós, brasileiros, não só pela dimensão de nosso território, mas também pelas condições tropicais e o conhecimento já estabelecido. Apesar do significativo avanço no cultivo das florestas de ciclo curto no Brasil, que sempre objetivam a obtenção de um único produto, raras são as iniciativas destinadas ao uso múltiplo e contínuo das florestas plantadas. Certamente, o imediatismo econômico e mesmo a falta e a divulgação do conhecimento silvicultural são as principais razões para essa ainda limitada produção florestal. As plantações planejadas e devidamente conduzidas com espécies das florestas atlântica e amazônica são mais produtivas do que as das florestas naturais do então denominado manejo sustentável. O crescimento médio anual da floresta plantada, em diferentes consórcios, pode chegar a 20 m³/ha/ano, comparado até a 1,5 m³/ha/ano desse manejo, que, até então, tem permitido a formação de um capital inicial e ainda sem um segundo ciclo. As plantações de florestas produzem mais madeira por hectare do que as florestas naturais e também de forma mais rápida e de tamanho e qualidade mais uniformes, o que facilita a colheita, o transporte e a conversão. Elas são sempre estabelecidas em áreas desmatadas, perto dos centros consumidores e de processamento, com acesso mais fácil e, consequentemente, reduzindo o custo de transporte. Além dos benefícios sociais, permite ainda o resgate da biodiversidade, a recuperação das Áreas de Preservação Permanente, a recomposição da Reserva Legal e ainda a efetivação dos serviços ambientais. Com o início de um novo governo, sem muita espera, que seja incorporado na sua política florestal o incremento nas instituições de ensino e, nos seus órgãos de extensão florestal, o conceito e a prática na implantação das florestas de uso múltiplo e, preferencialmente, com múltiplas espécies. Especial atenção também deverá ser dada à silvicultura de plantio envolvendo as espécies das florestas atlântica e amazônica.



celulose e papel

no caminho da Vivenciamos uma era em que as consequências de nossas escolhas estão cada vez mais evidentes e imediatas. Quando observo o setor florestal e sua expansão, atento-me não apenas à viabilidade econômica, mas principalmente à conservação da vida, garantindo a preservação da biodiversidade em equilíbrio com o desenvolvimento social. Acredito ser esse um diferencial do setor, pois a integração entre as empresas, juntamente com universidades, entidades ambientais e outras instituições da sociedade organizada, possibilita uma efetiva resolução de problemas, melhoria contínua de processos e estabelecimento de metas. O Brasil tem vocação para produção de florestas. O País é privilegiado pela dimensão territorial e pelas condições favoráveis, como abundância de luz, calor, períodos de chuva distribuídos ao longo do ano, tecnologia de ponta e maior produtividade e qualidade mundial. O setor de florestas plantadas pode ser considerado um ícone do desenvolvimento sustentável brasileiro. A comprovação está na adaptação do eucalipto às condições naturais do Brasil, na preservação de milhões de hectares de florestas nativas, nos mais de 1,7 milhão de empregos diretos e 2 milhões indiretos gerados, nos incentivos fiscais oferecidos e no empenho de profissionais altamente capacitados. O sucesso dessas iniciativas é comprovado também pelos criteriosos sistemas de certificação da atividade florestal, que atestam a sustentabilidade da gestão ambiental adotada pelas empresas. O manejo adequado dos recursos naturais retoma a vocação da terra: produzir vida. Em contraponto aos impactos gerados pela ocupação territorial, pastagens e processo de urbanização, as florestas plantadas possuem inigualável relevância no que se refere ao combate às indesejáveis mudanças climáticas, absorvendo por ano cerca de 64 milhões de toneladas de CO2. Ressalta-se também que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, sendo 40% de fontes renováveis, como as florestas plantadas. Entretanto, diante de todos os benefícios oferecidos e do favorável cenário para a silvicultura brasileira, é fundamental considerarmos os desafios e as preocupações que possam interferir no crescimento do setor. As adequações na Legislação Florestal, em voga na agenda nacional, exigem cautela e alguns critérios. É fundamental que o Código Florestal seja coerente e con-

excelência temple de forma sustentável os aspectos ambientais, sociais e econômicos, sem estagnar o desenvolvimento. Outra importante questão é a terceirização, que deve ser conduzida de forma a preservar a livre iniciativa empresarial para a implementação das atividades e estratégias, desde que garantidas as condições trabalhistas e socioambientais, tão necessárias ao empreendimento sustentável. Um fator de preocupação, em especial para a Cenibra, empresa controlada pelo grupo japonês Japan Brazil Paper and Pulp Resources Development – JBP, é a compra de terras por estrangeiros. A restrição determinada pelo parecer da Advocacia Geral da União – AGU, que impõe limite para a compra de terras pelo capital estrangeiro, com base na lei n° 5.709, de 1971, mesmo que seja revertida, gera insegurança jurídica, impactando fortemente na confiabilidade e nos investimentos estrangeiros, especialmente os de longo prazo. O efeito em cadeia dessa regulamentação interfere no desenvolvimento do País, tanto em relação à preservação da biodiversidade, quanto à geração e distribuição de renda. Além disso, o setor no Brasil é alvo de inúmeros trâmites e exigências burocráticas. Para plantar, colher e transportar a madeira, é preciso preencher, despachar e colecionar vistos, assinaturas e carimbos. Trata-se de licenças de operações para atividades silviculturais, autorizações e declarações para corte e colheita, certidões de registro técnico de utilizadores de recursos ambientais, guias de controle do consumo, registro de equipamentos, outorgas para uso de águas públicas, permissões para trânsito de vegetais, certificados fitossanitários de origem e muitos outros documentos e atestados. A atualização das leis é pertinente e necessária. Porém sua criação e aplicação devem envolver aspectos que desburocratizem o processo silvicultural, inclusive para o pequeno produtor, parceiro importantíssimo das empresas, por meio dos sistemas de fomento para o plantio de eucalipto. As perspectivas para o crescimento sustentável do setor são animadoras e extremamente possíveis. Tenho a convicção de que a silvicultura brasileira está no caminho da manutenção da excelência mundial alcançada, tendo como parceiros os governos municipais, estaduais e federal, as entidades ambientais, instituições de ensino e comunidades.

" O manejo adequado dos recursos naturais retoma a vocação da terra: produzir vida. Em contraponto aos impactos gerados pela ocupação territorial, pastagens e processo de urbanização, as florestas plantadas possuem inigualável relevância no que se refere ao combate às indesejáveis mudanças climáticas. " Luciano Amaral Rodrigues Gerente Geral Florestal da Cenibra

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Opiniões

onde o nosso verde

resplandece

" Apesar de as florestas plantadas ocuparem menos de 1% do território nacional, sua expansão é limitada pelo 'excesso de zelo burocrático'. As exigências que são feitas à atividade de silvicultura representam um processo longo, complexo e custoso. "

Luís Fernando Silva Gerente Geral Florestal da International Paper do Brasil

Com a chegada do novo ano, tanto nos preparamos para festejar aquilo que consolidamos de melhoria, como para estabelecer os novos desafios e as inovações necessárias ao crescimento, competitividade e sustentabilidade dos nossos negócios. E é justamente esse ambiente de transição entre festividade e passagem que nos propicia ousar em direção ao futuro, sem a temeridade de incertezas, pois vivemos um Brasil que está dando certo e que aponta para um horizonte de oportunidades àqueles que plantam as florestas e delas colhem seus produtos e serviços. Para que as florestas plantadas continuem a ser um vetor importante do desenvolvimento nacional, é preciso que o estímulo ao empreendedorismo no setor, como as políticas de financiamento a juros competitivos, sejam mantidos e, se possível, aperfeiçoados, independente do porte do empreendimento, pois o avançar da silvicultura em municípios brasileiros reduz as taxas de desemprego, fortalece o comércio e o empreendedorismo e melhora o IDH. Atualmente, o gargalo logístico é um dos fatores que limitam a expansão das florestas plantadas e que, consequentemente, impedem que esse modelo de progresso chegue a mais municípios no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. Torna-se, portanto, necessária a continuidade e a ampliação dos investimentos nacionais em melhoria da infraestrutura rodoviária, ferroviária e portuária, a fim de que as benesses associadas ao crescimento econômico do setor possam gerar o desenvolvimento regional que almejamos. A taxa de crescimento no setor de florestas plantadas demonstra que a economia nacional ajuda a impulsionar o setor. No entanto a formação de novas florestas e a instalação de unidades processadoras da madeira para os mais diversos fins requerem um alto aporte de capital. A combinação do financiamento nacional e estrangeiro foi e vem sendo a chave do sucesso que experimentamos hoje em termos do desenvolvimento do setor. No Brasil, algumas empresas multinacionais sempre tiveram um papel de destaque no cultivo de florestas, e já há mais de cinquenta anos contribuem significativamente para o desenvolvimento do País. Sendo assim, os recentes anúncios sobre restrição da compra de terras por empresas

estrangeiras podem impactar diretamente os rumos de crescimento sustentado do setor, o qual, historicamente, possui um convívio harmônico, de competitividade saudável, entre empresas nacionais e multinacionais na cadeia de produtos florestais. Apesar de as florestas plantadas ocuparem menos de 1% do território nacional, sua expansão é limitada pelo “excesso de zelo burocrático”. As exigências que são feitas à atividade de silvicultura representam um processo longo, complexo e custoso de licenciamento, na maioria dos estados, e a colheita e o transporte da madeira ainda exigem licenciamento específico. Seria de suma importância que as florestas plantadas não fossem discriminadas pela legislação ambiental, como são hoje em relação a outras culturas agrícolas. Ainda sobre questões de ordem ambiental, há que ser dito que, de modo geral, as empresas do setor de florestas plantadas excedem os percentuais de conservação da natureza definidos pelo Código Florestal e nem por isso tornam-se menos competitivas. No entanto o cumprimento na íntegra do atual Código Florestal leva a um aproveitamento de plantio por vezes menor que 50% em propriedades de muitas regiões do País. Sendo assim, urge a necessidade de reformulação do Código, e que este consiga equilibrar mecanismos de comando e controle com incentivos para a conservação e a restauração dos ecossistemas, assim como permita que as Áreas de Preservação Permanente – APPs, sejam consideradas no cômputo da Reserva Legal, para propriedades de qualquer tamanho, desde que não implique supressão de vegetação nativa. Por fim, quero ressaltar a vocação deste país como produtor de florestas, mencionando que nenhum país do mundo alcança os níveis de produtividade que as florestas plantadas brasileiras possuem. Tudo isso fruto de incentivos governamentais e décadas de pesquisa e desenvolvimento, por parte de empresas, universidades e institutos de pesquisa. Podemos nos orgulhar e dizer, como brasileiros, que parte do verde de nossa bandeira não resplandece somente por natureza, mas também por muito trabalho e cooperação institucional.

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celulose e papel

Opiniões

desafios para o crescimento da silvicultura

Nas últimas três décadas, foi fantástica a evolução da silvicultura brasileira, mais especificamente no setor de florestas plantadas. O aperfeiçoamento das técnicas de manejo e de melhoramento genético e o foco em sustentabilidade resultaram em ganhos de produtividade e, consequentemente, maior competitividade internacional para os nossos produtos. A produtividade média das florestas de eucalipto no Brasil cresceu significativamente, passando de 25 para 40 m³/ha/ano. Algumas empresas, como a Lwarcel Celulose, já ultrapassaram os 53 m³/ha/ano. Nos países do hemisfério Norte, essa produtividade média gira em torno dos 10 m³/ha/ano. Esse crescimento em produtividade também foi acompanhado por melhorias nos aspectos ambiental e social, que podem ser comprovadas pelo significativo número de certificações de manejo florestal com reconhecimento internacional, como o FSC – Forest Stewardship Council, ou a Cerflor – Programa Nacional de Certificação Florestal, que a maioria das grandes empresas nacionais do setor possui. Essas conquistas, o clima favorável e a disponibilidade de terras propiciaram a multiplicação de projetos de novas indústrias, especialmente no setor de celulose, acompanhada do proporcional aumento das áreas de plantio, em especial do eucalipto. Grandes projetos industriais, hoje, estão se deslocando para o Norte e para o Oeste, na busca de novas áreas para expansão. A produção brasileira da indústria de base florestal cresceu fortemente voltada para o mercado externo. No entanto, apesar do nível de excelência alcançado na produção de madeira, a nossa competitividade internacional é dependente dos custos com logística associados às rodovias, ferrovias e portos. Por exemplo: a malha ferroviária brasileira, de forma geral, é antiquada, ineficiente, não interligada e, em alguns locais, inviabiliza a chegada aos portos, isso sem abordar as suas diferenças de bitola. É inadmissível que a velocidade média dos trens de carga no Brasil seja de 25 km/h, enquanto, em alguns países do hemisfério Norte, a média é acima de 80 km/h.

" A malha ferroviária brasileira é antiquada, ineficiente, não interligada e, em alguns locais, inviabiliza a chegada aos portos, além das diferenças de bitola. É inadmissível que a velocidade média dos trens de carga no Brasil seja de 25 km/h, enquanto, em alguns países do hemisfério Norte, a média é acima de 80 km/h. " Luís Antônio Künzel

Gerente Florestal da Lwarcel Celulose

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A movimentação das indústrias para o interior do País irá requerer investimentos públicos na ampliação, modernização e integração dos modais logísticos, sob pena de se perder a posição que foi conquistada com muito esforço. Nesse sentido, a Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel, está elaborando uma proposta estratégica para o governo, com sugestão de investimentos em logística e infraestrutura. Outro aspecto crítico para o sucesso do crescimento da silvicultura e da indústria de base florestal está relacionado às questões legais. Investimentos de grande porte, em geral, demandam recursos financiados por instituições para as quais a segurança jurídica é fundamental, em especial em relação ao direito de propriedade e à legislação ambiental. A impunidade e a morosidade no tratamento dos casos de invasões de propriedades produtivas criam dificuldades e reduzem as possibilidades de investimento no País. Na questão ambiental, houve uma ampla consulta à sociedade brasileira para a formulação de sugestões para a revisão e modernização do Código Florestal. As contribuições do setor de florestas plantadas foram apresentadas pela Abraf – Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas, ao governo. É importante a conclusão e a aprovação da revisão do Código, eliminando dispositivos contraditórios e de interpretação imprecisa, pois necessitamos ter regras claras e objetivas. Por outro lado, a condição atual do Brasil com o expressivo e continuado crescimento da economia poderá levar à escassez de mão de obra para as atividades rurais. Isso irá requerer aumento dos investimentos em mecanização, biotecnologia e eficiência de processos, visando à manutenção da competitividade internacional em custos. Para a silvicultura, também vale o ditado “o sucesso do passado não garante o do futuro”. A união do setor privado, do governo e das entidades representativas do setor é fundamental para prover o apoio necessário que garanta o crescimento planejado, o escoamento ágil da produção e os níveis de competitividade que o Brasil merece.


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entidades

para que as

florestas plantadas continuem

crescendo " outro desafio histórico a ser resolvido é o retorno das atividades de florestas plantadas – um cultivo agrícola de ciclo longo, ao âmbito do Ministério da Agricultura, que abrigava as atividades do setor no então IBDF, até que este se transformou no Ibama e foi incorporado ao Ministério do Meio Ambiente " Cesar Augusto dos Reis Diretor Executivo da Abraf

As atividades de florestas plantadas de eucalipto e pinus são um caso de sucesso na história do desenvolvimento econômico e social do Brasil. Somando pouco mais de 6 milhões de hectares – que representam menos de 1% do território nacional –, distribuídos em mais de dez estados, as florestas plantadas, em sua maioria certificadas pelo FSC – Forest Stewardship Council, ou a Cerflor – Programa Nacional de Certificação Florestal, são a origem da madeira certificada, que é a matéria-prima para as indústrias de celulose e papel, painéis de madeira industrializada, produtos de madeira sólida e o carvão vegetal destinado a cerca de 30% da siderurgia nacional. Essa cadeia de base florestal plantada apresenta um valor bruto da produção que ultrapassa R$ 50 bilhões anuais, uma arrecadação de tributos que supera R$ 9 bilhões por ano, gerando mais de 5 milhões de empregos, entre diretos, indiretos e os devidos ao efeito renda. A pesquisa e o desenvolvimento promovidos pelas empresas do setor permitiram atingir uma produtividade inédita nos cultivos de eucalipto e pinus, medida em m3/ha/ano, que confere uma competitividade única do País nos mercados internacionais dos produtos derivados da madeira. As fronteiras das florestas plantadas, que até anos recentes se limitavam às regiões Sul e Sudeste e ao Nordeste ao estado da Bahia, agora se ampliam pelos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins,

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enquanto o Mato Grosso do Sul torna-se um polo para essa atividade, em franca expansão nesse estado. A atratividade decorrente dessa produtividade levou à criação de vários fundos de investimentos florestais, grande parte deles com financiamentos externos, embora agora prejudicados por recente parecer da Advocacia Geral da União – AGU, (LA nº 1/2008), criando restrições à aquisição de terras por empresas nacionais de maioria de capital estrangeiro. E eis aí o paradoxo desse pujante setor: o seu sucesso tem ocorrido apesar de inúmeros impedimentos e obstáculos, alguns históricos, que teimam em se colocar como barreiras ao seu desenvolvimento. A criação das atividades de florestas plantadas foi motivada pela visão de seus pioneiros, e sua expansão tem sido alimentada pela competitividade e arrojo dos empreendedores do setor, enfrentando incontáveis obstáculos. Um exemplo recente é o parecer da AGU, que, destinado corretamente a restringir o avanço do capital estrangeiro especulativo em território nacional, pela ampliação desse escopo original, acabou por atingir o capital estrangeiro produtivo, inviabilizando e paralisando investimentos estimados em mais de R$ 7 bilhões no setor de florestas plantadas. Todavia essa corrida de barreiras tem outros obstáculos de grande altura e dificuldade de transposição. A extensa lista de exigências burocráticas para a viabilização


Opiniões de novos projetos, em todos os níveis da administração pública, com custos crescentes a cada novo tributo, foi recentemente ampliada com a criação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que traz novos empecilhos à expansão da fronteira agrícola das atividades de florestas plantadas, que ocorre justamente pela superação das limitações edafoclimáticas mediante a pesquisa de seleção e melhoramento genéticos, hibridação e clonagem. E, no momento em que se necessita de ampliação dos mecanismos de financiamento das atividades de florestas plantadas, o zoneamento vem no sentido contrário, definindo certos municípios em detrimento dos demais, impedindo a expansão da fronteira do cultivo de florestas e criando obstáculos a financiamentos já de difícil concessão. Outro desafio histórico a ser resolvido é o retorno das atividades de florestas plantadas, reconhecidamente um cultivo agrícola de ciclo longo, ao âmbito do Ministério da Agricultura, que abrigava as atividades do setor no âmbito do então IBDF – Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Florestal, até que este se transformou no Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, sendo incorporado à estrutura do Ministério do Meio Ambiente. Um importante obstáculo a ser transposto é a revisão do Código Florestal, com o reconhecimento e a autorização de permanência do cultivo das áreas consolidadas de florestas plantadas em topo e encosta de morro e a inclusão das Áreas de Preservação Permanente – APPs, no cômputo das áreas de Reserva Legal – RLs.

Por outro lado, a regularização da terceirização de serviços no setor de florestas plantadas clama por uma solução que depende de projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, que venham regular a terceirização de atividades fins e de atividades meio e estabeleçam a responsabilidade solidária das contratantes com as obrigações das empresas contratadas. As florestas de eucalipto e pinus são, especialmente em sua fase de crescimento, um reconhecido sumidouro de dióxido de carbono. No entanto o mercado de créditos de carbono não está ainda reconhecido e regularizado no País, o que requer atenção e determinação na regulamentação da Política Nacional de Mudanças Climáticas. Exemplo de outro obstáculo à expansão do setor são os gargalos de infraestrutura a afetarem a logística do transporte de madeira para as fábricas e o escoamento de seus produtos, pela precariedade das vias de acesso, rodovias e ferrovias, e pelos portos, com capacidade reduzida. Em boa hora, o setor recebeu com alento a iniciativa da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, que, por meio da Portaria nº 90, de 20 de agosto de 2010, criou um grupo de trabalho, com a finalidade de propor e formular a Política Nacional de Florestas Plantadas. O setor espera que a formulação dessa política, que vem ao encontro de uma reivindicação da Câmara Setorial de Florestas Plantadas, contemple a superação de cada um dos obstáculos à sua expansão, permitindo que o crescimento das atividades do setor de florestas plantadas participe da retomada do crescimento do País.

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painéis

Opiniões

os caminhos do nosso “A sociedade humana, desde os primórdios de sua existência, sempre teve nos produtos das florestas importantes fontes de materiais para sua sobrevivência, crescimento e desenvolvimento. No início, esses produtos eram oferecidos pelas florestas naturais, abundantes no planeta. Com a continuada exploração desses recursos florestais, tornou-se necessário plantar e manejar florestas para suprir os produtos exigidos pelo ser humano nas quantidades e nas qualidades requeridas. Com isso, surgiram novas ciências e novas tecnologias, desenvolvidas pela sabedoria do homem e pelas suas pesquisas. Dentre essas ciências, destacam-se a silvicultura, a ecologia e a hidrologia. Todas interagem de forma absolutamente íntima e intensa” (Foelkel). Para atender a essa demanda, o setor florestal terá que modernizar e rever as técnicas de manejo florestal, visando a uma silvicultura que atenda às especificidades de cada site, passando pelas áreas ambiental, social e econômica, todas ligadas às culturas de cada região. Nesse contexto, temos que repensar a maneira como queremos encarar o futuro da silvicultura no País. Muitas barreiras já foram superadas, mas a dinâmica do setor, as mudanças climáticas versus pressão da sociedade por produtos mais ecoeficientes irão requerer novos estudos de impactos ambientais e a introdução da silvicultura de precisão visando ao uso, na sua plenitude, dos recursos naturais e de forma racional. O sucesso ou o fracasso das atividades estão atrelados aos vários caminhos que podemos trilhar em busca de uma atividade rentável e sustentável. Caminhos cada vez mais curtos para um objetivo final, recomendações e controles pontuais. Esses são apenas alguns pontos que poderiam sintetizar as técnicas silviculturais para a formação de florestas atualmente. A evolução da silvicultura e, consequentemente, do padrão florestal brasileiro é, ao mesmo tempo, essencial à competitividade e assustadora do ponto de vista científico. Nós temos disponíveis ferramentas de mensuração florestal que possibilitam prever os volumes de produção de determinada área, com baixo índice de erro. O material genético, adaptado e dotado das características desejadas, o conhecimento do solo, o histórico de pragas, as doenças

" O futuro da silvicultura brasileira passa por" " Temomissor. revisão de conceitos e quebra de paradigmas. Não temos tempo a perder. Outros países estão se preparando para a expansão de sua base florestal com amplos programas de incentivos e subsídios para aManBertone atividade. " SecretAgricultura

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Gerente Florestal da Eucatex

futuro

florestais e as modernas técnicas existentes de preparo do solo e monitoramentos estão disponíveis e facilitam a gestão florestal. E o homem? Aquele que realmente faz acontecer estaria preparado para essa infinidade de opções ou para as cobranças que serão feitas face a um número alcançado diferente do planejado? A especificidade e a evolução da silvicultura estão diretamente ligadas à cobrança de melhores resultados. O segredo são as pessoas trabalhando em conjunto, pois trabalhar e viver não são atividades solitárias. Novos processos indicam mudanças, e a gestão dessas mudanças implica conhecer os passos necessários para gerir o processo de execução ao longo do tempo. Nessa linha de raciocínio, não podemos deixar de fora do elo da cadeia produtiva os produtores rurais, que estão ávidos por alternativas que lhes permitam auferir maiores dividendos em suas atividades na lida pela gestão das propriedades. Temos que inseri-los em nossos programas de parceria, levando novas tecnologias e todo o know-how utilizado amplamente pelo setor para formação de florestas de alta produtividade. O futuro da silvicultura brasileira passa por revisão de conceitos e quebra de paradigmas. Não temos tempo a perder. Outros países estão se preparando para a expansão de sua base florestal com amplos programas de incentivos e subsídios para a atividade. Programas de melhoramento e pesquisas em fase avançadas para o uso em escala comercial de espécies transgênicas tolerantes ao frio, pragas, doenças e resistentes ao uso de herbicidas. Nós temos vantagens comparativas, porém não o bastante para nos manter na vanguarda e nos garantir competitividade na balança comercial com outros países exportadores de produtos de base florestal. Se quisermos ser mais eficazes, não basta apenas aumentar o volume de áreas plantadas, precisamos ser inovadores nas atividades de gestão e manejo florestal que permitam altas produtividades atreladas aos quesitos de preservação e conservação da biodiversidade. Os caminhos para o nosso futuro passam por uma ampla revisão de conceitos e atitudes, como converter um período de fortes mudanças tecnológicas em crescimento econômico, justiça social e bem-estar individual. Acreditamos, dessa forma, garantir o futuro sustentável da nossa atividade.



painéis

o caminho

ideal

A trajetória da silvicultura brasileira todo mundo conhece, desde os incentivos fiscais nos anos 60 e 70, a consolidação dos aspectos biológicos e técnicos nos anos 80 e 90, a formação de uma base florestal relevante com um crescimento industrial importante, a inserção de conceitos de sustentabilidade, até a entrada das TIMOs no contexto nacional, como financiadoras do forte crescimento da área plantada no Brasil. Agora nos deparamos com um novo contexto, que poderá alterar muito o ambiente de trabalho das empresas florestais. Novos temas, novo governo, uma crise lá fora e novamente muitas perguntas sem respostas. Qual o tamanho possível para a silvicultura brasileira? Que oportunidades ainda teremos e que entraves vamos enfrentar? Algumas discussões importantes estarão em pauta: 1. Revisão do Código Florestal; 2. Modelo energético brasileiro: a construção da Usina de Belo Monte, amplamente discutida, e por muitos condenada, poderá abrir novos debates sobre o modelo energético que queremos e criar oportunidade real para a bioenergia; 3. Terra para estrangeiros: haverá um tratamento diferenciado entre as empresas brasileiras com capital nacional e capital estrangeiro? Esse debate, que está apenas começando, poderá influenciar de maneira relevante no avanço da área plantada no Brasil;

" novos cenários devem ser considerados para a silvicultura brasileira: a migração de suas áreas de fronteira para os estados do Centro-Oeste e do Norte do País, na tentativa de obtenção de taxas de retorno mais atrativas para os novos projetos florestais " Germano Aguiar Vieira Diretor Florestal da Masisa do Brasil

4. Pré-sal: haverá reversão de parte dos recursos provenientes do Pré-sal para incrementar a implantação de projetos de biocombustiveis?; 5. Programa “Minha Casa Minha Vida”: a continuidade desse programa, assim como o bom desempenho da construção civil têm acarretado bons negócios para o setor florestal, especificamente o setor de madeira sólida e painéis reconstituídos;

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6. O cumprimento dos acordos assumidos para redução de emissão de CO2 poderá trazer oportunidades para o setor florestal brasileiro, como, por exemplo, a exportação de pellets para a Europa e outras demandas relacionadas?; 7. A previsão, segundo a FAO, de demanda de 80 milhões de hectares de novas florestas para suprir a demanda mundial de fibra até o ano 2020, tendo a vocação natural de crescimento no hemisfério Sul. Novos cenários devem ser considerados para a silvicultura brasileira: a migração de suas áreas de fronteira para os estados do Centro-Oeste e do Norte do País, na tentativa de obtenção de taxas de retorno mais atrativas para os novos projetos florestais. Disponibilidade e preço de terra são os fundamentos mais importantes


Opiniões para que ocorra essa realocação dos projetos florestais, porém assumindo riscos adicionais inerentes à falta de experiência das empresas nos novos sites. Fatores de produção (climáticos, edáficos e biológicos) somam-se à fragilidade dos documentos de terras e poderão dificultar a evolução satisfatória dos plantios, necessitando de mais tecnologia para o cumprimento dos seus respectivos programas. No Sudeste, destacamos o estado de Minas Gerais, que, para solucionar seu déficit de carvão vegetal (um milhão de hectares em novos plantios), aguarda uma retomada do setor siderúrgico e clareza sobre o tema “compra de terras por estrangeiros” para pôr em prática os seus projetos florestais, na sua maioria, capitaneados por fundos de pensão internacionais. No Sul, especificamente nos estados do Paraná e Santa Catarina, a indústria de madeira sólida tem sofrido bastante com a recessão americana e europeia, com forte redução de sua base industrial e rentabilidade do setor e se apoia no bom momento da construção civil para colocar seus estoques, porém com valores reais do m³ da madeira em toras inferiores ao ano de 2004. No Rio Grande do Sul, projetos de grande porte foram postergados, e a área plantada vem aumentando muito lentamente devido à falta de perspectivas de consumo da madeira e dificuldades burocráticas para obtenção de licenças ambientais. No fim do dia, podemos resumir:

• Políticas para combater o câmbio climático criaram im-

portantes rupturas no modelo tradicional e criarão oportunidades para o aumento da silvicultura no hemisfério Sul; • Madeira e agrofibra serão base para a bioenergia e o biocombustível; • Disponibilidade de terras será um fator crítico para a expansão do setor; • Novos modelos agroflorestais deixarão de lado os monocultivos de grande extensão; • Novos modelos de financiamento poderão ser desenvolvidos para diminuir os impactos dos grandes investimentos requeridos para compra de terras e plantações de florestas; • Crescerão as parcerias com pequenos e médios produtores para atendimento à demanda atual das grandes indústrias do setor; • A necessidade de abertura de novas fronteiras florestais no Brasil; • Investimento pesado em tecnologia para aumento da produtividade nos novos sites e para controle de novas pragas e doenças que surgirão; • Em médio prazo, um aumento de, pelo menos, 30% na área plantada no Brasil é necessário para atender às demandas já conhecidas nos setores de celulose e papel, painéis reconstituídos, madeira sólida e energia; • Pegadas ambientais terão primeira página nos relatórios demonstrativos da eficiência das organizações.

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ensaio especial

Opiniões

nova geração de florestas plantadas:

potenciais impactos positivos Colaboração: Estevão Braga, Analista de Conservação do WWF-Brasil

" com a crescente demanda por áreas naturais pela sociedade e pelos fóruns mundiais, o setor florestal brasileiro se destaca, não só pela possível integração de áreas plantadas com remanescentes naturais, mas também diante da possibilidade de recuperação de paisagens naturais " Denise Hamú Secretária-geral do WWF-Brasil

O que define um salto na evolução de um setor econômico? Crescimento? Inovação incorporada aos processos produtivos? Engajamento significativo em padrões de sustentabilidade? Aumento de participação no mercado global? O Brasil é o país com a melhor tecnologia para produção de celulose e papel de fibra curta do mundo, além de possuir alta produtividade nas florestas plantadas. Hoje, há, em média, proteção de um hectare de ecossistemas nativos para cada hectare de floresta plantada, ao menos no setor de papel e celulose – desconsiderando o avanço sobre a vegetação nativa de algum tempo atrás. Outro importante fator relacionado a essa produção refere-se ao reaproveitamento de resíduos e à busca pela eficiência energética, que diminuem, de forma considerável, a demanda por novos recursos naturais. Muitas serrarias do Centro-Sul do País já alcançam o percentual de 75% de aproveitamento de toda a madeira que retiram. Terra, água e sol podem ser considerados abundantes, se usados com responsabilidade. Assim, é possível ousar no planejamento para aumentar, ou até duplicar, a produção florestal até 2015, sem afetar a produção de alimentos. Contudo é preciso ter critérios, cuidados e procedimentos que assegurem que não haverá avanços sobre ecossistemas naturais, garantindo apoio à regeneração das florestas nativas e integração social e econômica na escala regional. Por que uma instituição voltada para a conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento sustentável, como é o caso do WWF-Brasil, discute o potencial favorável de um setor com um histórico tão conturbado com o movimento ambientalista, como é o caso do segmento das florestas plantadas no Brasil?

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Entendemos que o tema de florestas plantadas pode ser do interesse de sociedades que desejam um processo de produção na direção da sustentabilidade, como tem sido apontado pelos líderes desse setor industrial nos últimos tempos. Nesse novo contexto, como deverá se comportar o setor de florestas plantadas do século XXI? Como será a próxima geração de florestas plantadas? Na visão do WWF-Brasil, na próxima década, os desafios do setor serão tão grandes quanto as oportunidades. Talvez o fomento florestal seja o maior desafio e a maior oportunidade. Incentivar a produção florestal em áreas privadas que não sejam das empresas, com especial atenção para a pequena e a média propriedade, pode levar à garantia da sustentabilidade econômica e ambiental, além de incrementar o desempenho do setor na área da responsabilidade social. No passado, as empresas decidiram concentrar a produção em terras próprias. Essa estratégia diminuía o risco de falta de matéria-prima, bem como justificava os grandes investimentos necessários para a formação da base florestal. Diante do embate com movimentos sociais, tornou-se indispensável repensar o modelo de negócios das organizações florestais. Diante desse cenário, o fomento pode ser uma estratégia acertada para o setor. No componente econômico, esse modelo permite reduzir o capital imobilizado das empresas em terras, melhorando a competitividade das organizações em tempos de câmbio desfavorável e possíveis crises econômicas regionais nas próximas décadas. Possibilita, ainda, o acesso às linhas de financiamento exclusivas para o pequeno produtor, como Pronaf e Propflora, diminuindo a dependência do capital próprio para a execução de novos plantios. Ambientalmente, o fomento florestal só faz sentido se incentivar a recuperação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal – o mínimo que os requisitos de sustentabilidade exigem. Afinal, oferece ferramentas de gestão, como planejamento da propriedade, economia rural básica e



ensaio especial microzoneamento, além de insumos e técnicas mais eficientes de recomposição da vegetação nativa. Como esses incentivos vêm acompanhados de exigências contratuais para a recomposição, o produtor rural acaba optando por restaurar a vegetação nativa. Ainda no campo ambiental, inicia-se a discussão sobre pagamentos por serviços dos ecossistemas, tais como compensação pela fixação de carbono nas áreas de recuperação ecológica, manutenção da qualidade da água e, talvez, futuramente, benefícios por manutenção e incremento da biodiversidade nas propriedades. Cabe, ainda, observar que, certamente, a sociedade brasileira estará mais aberta a discutir remuneração para pequenos produtores rurais do que para grandes conglomerados empresariais. Mas é no campo social que o fomento pode apresentar maior ganho. Ao envolver o pequeno e o médio produtor rural, as empresas florestais podem resolver diversos problemas. O aumento da renda do produtor contribui para a redução do êxodo rural e o consequente inchaço das áreas urbanas ou de áreas próximas aos maciços de florestas plantadas. O fomento tem também o potencial de diminuir conflitos entre movimentos sociais e empresas, uma vez que, via de regra, o alvo principal das organizações que reivindicam reforma agrária são as grandes propriedades e a concentração de terras, na monocultura. A nova geração de florestas plantadas deve eliminar esses problemas. Finalmente, a criação de empregos por meio do fomento é diretamente relacionada à área explorada. Nas propriedades das empresas, a mecanização florestal reduziu significativamente a oferta de empregos. Seja por intermédio do emprego na propriedade ou do emprego formal nas empresas florestais ou prestadoras de serviços, o potencial impacto social positivo desse modelo não deve ser ignorado. Há possibilidades de potencializar os impactos positivos do setor também por meio da transferência de tecnologia para espécies de árvores nativas. Somente na Amazônia brasileira, há cerca de 4 mil espécies arbóreas nativas, das quais mais de 600 possuem madeira com características favoráveis à industrialização florestal. Infelizmente, a grande maioria das empresas não tem investido ou apoiado pesquisas com essas espécies. Um bom exemplo é o paricá (Schizolobium amazonicum), cujos plantios no Brasil atingiram cerca de 80 mil hectares. Segundo o Centro de Pesquisas do Paricá no Pará, a produtividade média da espécie atingiu 20 m³/ha/ano em 2010. Há algumas décadas, uma espécie australiana apresentava desempenho semelhante e, hoje, atinge mais de 120 m3/ha/ano em plantios experimentais e 42 m3/ha/ano em plantios comerciais no Brasil. Outras espécies nativas, como mogno, maçaranduba e ipê, que possuem alto valor comercial, deveriam ser igualmente pesquisadas e usadas no reflorestamento, com enorme vantagem sobre as exóticas. Na Amazônia Legal, que corresponde a 60% da área do País, mais de 20 milhões de hectares de áreas degradadas precisam ser recuperadas, e esse processo deverá ser feito com uso de espécies nativas. Há outras frentes. Não há dúvidas de que o Brasil possui o mais abrangente e avançado sistema de melhoramento genético do eucalipto. Mas os desafios ainda são grandes. Nossos plantios requerem grandes quantidades de produtos químicos, alguns deles de uso restrito ou não recomendado pela OMS – sulfloramida, por exemplo, utilizada no combate às formigas. O melhoramento genético pode ter um papel fundamental no desenvolvimento de híbridos mais resistentes a pragas e a doenças e altamente produtivos em regiões inóspitas, como

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Opiniões o semiárido ou áreas sujeitas a geadas intensas e frequentes. Nesse tema, é necessário também ampliar e aprofundar o debate sobre organismos geneticamente modificados – OGMs, principalmente por meio do envolvimento de instituições independentes, que podem dar uma visão mais abrangente sobre eventuais vantagens e riscos dos OGMs. De um lado, organizações ambientalistas indicam sérias restrições quanto ao uso de OGMs, principalmente devido ao risco de impactos no meio ambiente, difíceis de mensurar. De outro, algumas organizações privadas ou governamentais afirmam que não existe risco. Nesse caso, uma abordagem com o enfoque da precaução – evitar potenciais danos, analisar cuidadosamente as opções, manter flexibilidade nas alternativas futuras é a recomendação do WWF-Brasil. O debate precisa amadurecer e ser aprofundado, com base em conhecimento e na busca de soluções. Nas perspectivas atuais, a eficácia de um setor não se mede mais somente dentro de si mesmo. É fundamental que a sustentabilidade exista na relação com os meios onde se inserem as organizações. É também necessária, portanto, a integração com áreas naturais, de conservação ou restauração, e de comunidades locais. Cabe ressaltar que vários limites de perda de hábitats já foram ultrapassados. A conversão de ecossistemas em áreas plantadas não é mais aceitável, exceto em condições e situações muito limitadas e com a compensação adequada. A comunidade mundial tem expressado seu interesse em caminhar para a sustentabilidade, seja pelas discussões sobre mudanças climáticas, seja pela atenção dada à biodiversidade. Nesses campos, se valorizam cada vez mais as florestas. Mas já não são aceitas as florestas plantadas que consomem ecossistemas naturais. Com a crescente demanda por áreas naturais pela sociedade e pelos fóruns mundiais, o setor florestal brasileiro se destaca, não só pela possível integração de áreas plantadas com remanescentes naturais, mas também diante da possibilidade de recuperação de paisagens naturais. Claro que esse potencial só será uma realidade se o planejamento da conservação for colocado em primeiro plano, o que não impede o desenvolvimento do setor florestal. Nesse contexto, a participação de governos e sociedade civil é crucial para o planejamento ligado à conservação. Os processos de uma nova geração, sustentável, de florestas plantadas demandam a reorientação dos profissionais do setor, bem como o envolvimento dos produtores rurais. Considera-se que a capacitação técnica adequada seja requisito fundamental para o cumprimento de metas de conservação no setor produtivo. Além disso, após a recente crise econômica mundial, várias empresas do segmento florestal têm anunciado investimentos expressivos para o aumento da produção. Diante desse cenário, especialistas preveem dificuldades para suprir a crescente demanda por mão de obra especializada. Apesar da valorização dos profissionais, os cursos de formação de engenheiros florestais e outros profissionais da área florestal parecem ser insuficientes, e isso se reflete diretamente na ampliação da produção. A demanda não se restringe apenas à formação superior. Técnicos desse setor têm atingido um grau cada vez maior de especialização. Diante disso, investimentos em formação técnica e superior são primordiais para se evitarem obstáculos ao desenvolvimento do setor. O WWF-Brasil vem acompanhando essas discussões e tem colaborado com orientações para diversos setores produtivos, inclusive o florestal, de maneira que metas de conservação possam ser alcançadas, sem prejuízos à produção.


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