Os 50 anos da engenharia florestal no Brasil - OpCP19

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvĂŁo, siderurgia, painĂŠis e madeira mar-mai 2010

engenharia florestal os primeiros 50 anos de estrada


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Diferente por Natureza


os

50

anos

da engenharia florestal

no Brasil

índice

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Editorial da Edição: Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Executivo do IPEF

Homens de fibra: Nelson Barboza Leite

Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas

Márcio Augusto Rabelo Nahuz

Pesquisador do Centro de Tecnologia Florestais do IPT

Mario Sant'Anna Junior

Diretor Executivo da Gerdau Florestal

João Fernando Borges

Diretor Florestal da Stora Enso Latin America Division

Walter de Paula Lima

Professor de Hidrologia Florestal da Esalq-USP

Pieter Willem Prange

Consultor Florestal Independente

Francisco Bertolani

Diretor da Chabana Consultoria Florestal

Antonio Sebastião Rensi Coelho Consultor Florestal Independente

Herdeiros dos homens de fibra: Francides Gomes da Silva Junior

Professor de Tecnologia de Celulose e Papel da Esalq-USP

Silvio Frosini de Barros Ferraz

20 22 24 26 28 30 32 34 36 42

Manoel de Freitas

Consultor Florestal Independente

Antonio Paulo Mendes Galvão Consultor Florestal Independente

Helton Damin da Silva

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Nairam de Barros e Roberto Ferreira de Novais Professores do Departamento de Solos da UF de Viçosa

Dartagnan Baggio Emerenciano

Coordenador do Curso de Engenharia Florestal da UFPR

Glauber Pinheiro Presidente da SBEF

João Cancio de Andrade Araújo Presidente da SIF

Sebastião do Amaral Machado

Professor de Mensuração Florestal da UFPR

Marcílio Caron Neto Presidente da ASBEF

Ensaio Especial: Jorge Roberto e Ricardo Anselmo Malinovski Professores da UFPR

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

Alexandre Barboza Leite

Diretor da Teca Consultoria e Daplan Serviços Florestais

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - Ribeirânia - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - opinioes@revistaopinioes.com.br Diretor de Operações: William Domingues de Souza - wds@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4660 - Coordenação Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - vrds@ revistaopinioes.com.br - 16 3965-4606 - Suporte de Vendas: Priscila Boniceli de Souza Rolo - pbsc@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4696 - Patricia Curtarelli Soares- pcs@revistaopinioes. com.br - 16 3965-4616 - Auristela Malardo - am@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4698 - Estrutura de Operações Comerciais: Nicole Xavier de Souza - nxs@revistaopinioes.com.br Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@revistaopinioes.com.br - Assistente do Editor Chefe: Patrícia Curtarelli Soares - pcs@ revistaopinioes.com.br 16 3965-4616 - Freelancer da Editoria : Priscilla Araujo Rocha - par@ revistaopinioes.com.br - Congressos e Eventos: Lilian Pires - lp@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4696 - Correspondente na Europa: Sonia Liepold-Mai - sl-mai@T-online.de - +49 821 48-7507 - Correspondente na Índia: Marcelo Gonçalez - mg@revistaopinioes.com.br - Correspondente em Taiwan: Wagner Vila wv@revistaopinioes.com.br - Jornalista Fotográfica na Ásia: Marcia Maria Ribeiro - mmr@revistaopinioes.com.br - Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Jacilene Ribeiro Oliveira Pimenta - jrop@ revistaopinioes.com.br - Tradução para o Inglês: Benno Franz Kialka - BeKom Comunicação Internacional - Fone: 11 6398-0825 - bkialka@bekom.com.br - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores Fotografias dos Articulistas: Acervo pessoal - Foto da Capa: Paulo Altafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin.com.br - Foto do Índice: Arquivo Opiniões - Periodicidade: Trimestral - Tiragem da Edição: 5.500 exemplares - Veiculação: Comprovada - Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br - ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504


editorial

Opiniões

sucessão e fazer escola

Certa ocasião, após minha aposentadoria, fui questionado sobre a maior satisfação colhida na minha carreira de professor e pesquisador. Sem titubear, respondi que tinha sido o sentimento da contribuição deixada para o Setor Florestal Brasileiro através dos ex-orientados, hoje respeitáveis profissionais nas áreas de P&D e nas áreas operacionais e administrativas de inúmeras empresas de celulose e papel. A bem da verdade, acredito que essa sensação deve ser sentida por outros colegas e amigos, tanto no meio acadêmico como empresarial de nosso País, que passaram por essa experiência. Entendemos que o processo de formação e treinamento de pessoas pode estar ligado, de um lado, a um plano de carreira ou, de outro lado, com o fazer escola. No primeiro caso, o plano de sucessão, nos dias de hoje, pode ser entendido como imprescindível à sobrevivência das empresas, ou seja, um planejamento estratégico de recursos humanos. Por outro lado, uma garantia de que a empresa continue inovadora e competitiva.

Da mesma forma, é importante não se prender a um único possível sucessor (mais tempo de cargo ou conhecimento técnico), pois os fatores ligados à liderança são fundamentais. Como consequência, o grande segredo é dar espaço a todos os eventuais candidatos, pois, do embate interpares, é possível avaliá-los em diferentes situações além do dia a dia de cada um. O fazer escola tem um sentido mais amplo que a sucessão anteriormente exposta. Seu aporte é mais filosófico, chegando a questionar e a alterar, construtivamente, a visão e mesmo a missão de dada empresa ou entidade. Filosófica porque traz novas maneiras de encarar desafios e ampliar horizontes. Obviamente, essa situação se aplica ao setor empresarial, porém, com mais frequência, ocorre no meio acadêmico e de P&D. Nessas condições, são maiores as oportunidades para o exercício da criatividade e da liderança situacional. Obviamente também, o ambiente de trabalho é mais informal, e a hierarquia é respeitada não como uma obrigação, sobrevivência ou segundo as normas vigentes, mas como respeito e reconhecimento.

" o sucesso do trabalho em equipe como garantia do “fazer escola” e formar sucessores se baseia em três palavras: fé, dedicação e entusiasmo "

Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Executivo do IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais

Alguns estudiosos do assunto afirmam que esse tipo programado de sucessão, em última análise, é uma “reinvenção da empresa”. O processo em si não é tão simples, primeiro pela diversidade de situações e tipos de empresas. As saídas mais usuais têm sido a escolha entre diferentes candidatos, indicação de um sucessor familiar ligado ou não ao sócio majoritário ou criação de um conselho de administração, no qual o líder que se afasta mantém algum tipo de controle e supervisão. Quando a expectativa é de que a sucessão ocorra graças ao planejamento do executivo que deverá deixar o cargo, por promoção ou troca de empresa, parte das vezes ela se frustra por individualismo, receio de concorrência, falta de compromisso com o futuro ou falta de profissionalismo. Os mais conscientes montam uma equipe que dialoga sobre as normas e procedimentos da empresa, colaboram com a sua divulgação ampla e irrestrita e compartilham todo o conhecimento gerado. Dessa maneira, a preocupação com a sucessão deve estar ligada à atividade diária do executivo e não somente quando cobrado pela alta direção da empresa. Inclusive porque se foi o tempo da percepção enganosa de que se é insubstituível.

O sentido de equipe tem que ser despertado e constantemente realimentado, dada a natural rotatividade que ocorre. Um ponto a não ser perdido de vista é que essa ação, na maioria das vezes, ocorre envolvendo voluntários, como estagiários, bolsistas e similares. Apesar de possível retribuição financeira, não há um esquema rígido de trabalho, e a carga horária é compartilhada com outras atividades, talvez mais prioritárias, como escolares. Dessa maneira, a maior ou menor dedicação será resultado da motivação para o trabalho no presente e relacionadas perspectivas profissionais para o futuro. Numa situação especial como essa, minha experiência acadêmica e pessoal permite a conclusão de que o sucesso do trabalho em equipe como garantia do “fazer escola” e formar sucessores se baseia em três palavras: fé, dedicação e entusiasmo. Fé: confunde-se com crença, esperança, desejo, ideal, sonho e outros sentimentos inerentes ao ser humano. Dedicação: confunde-se com determinação, esforço, garra e outros sentimentos não tão difundidos nos dias atuais. Entusiasmo: confunde-se com vibração, euforia, júbilo, ardor, paixão e outros sentimentos inatos a muitos ou adquiridos, mercê de uma decisão ou propósito pessoal.

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homens de fibra

realizações, lições de vida e

Opiniões

novos desafios

A silvicultura brasileira tem sido marcada por realizações que mudaram rumos e deixaram lições de vida para muitas gerações. Uma história que soma ciência e arrojo empresarial. As grandes realizações foram respostas à importância econômica, social e ambiental que a atividade foi alcançando. O sucesso foi o resultado da visão e da credibilidade dos profissionais envolvidos nos processos de criar, de mudar e de encontrar as melhores alternativas para a produção de madeira. Nesses anos, a madeira deixou de ser o incômodo do setor de compras, para se tornar diretriz estratégica das empresas. Essa valorização, no entanto, tem tido altos e baixos. Há até casos em que o “homem da floresta” sumiu das organizações! Algumas realizações serão sempre lembradas. Além do que as contribuições promovidas foram exemplos de profissionalismo de quem as promoveu. Destaque a profissionais de empresas, de universidades e de instituições governamentais. Deram lições “de tudo” para a história da silvicultura. Foram exemplos de ética, respeito, humildade e paixão pelo que faziam. Um privilégio para quem teve a felicidade de conhecê-los e de conviver com eles. No final da década de 60 e início de 70, foram criadas as bases da silvicultura brasileira: o atual Código Florestal, o surgimento do IBDF, a política de incentivos fiscais, a formação dos primeiros cursos de engenharia florestal e das principais instituições de pesquisa. De 70 a 90, o Brasil triplicou a produtividade de suas florestas plantadas. Um período riquíssimo, marcado por grandes programas de reflorestamento, muitas pesquisas, intensa participação e estreita colaboração entre universidades, empresas e organizações governamentais. Tivemos o privilégio de conviver, em Piracicaba, com mestres como Helládio do Amaral Mello, Paulo Galvão, Luiz Barrichelo, Celso Foelkel, Walter Suiter Filho, Mario Ferreira, João Walter Simões, Paulo Kageyama, Fábio Poggiani, dentre outros. Um time de professores, que se doou de corpo e alma à formação de profissionais. Participaram da criação e desenvolvimento do IPEF, com a colaboração de respeitáveis diretores empresariais.

Algumas realizações, por suas peculiaridades, privilegiaram ainda mais aqueles que delas participaram Antonio Rensi Coelho e Ronaldo Guedes Pereira promoveram um salto gigantesco no melhoramento genético com a introdução de sementes de E. grandis, colhidas na Austrália; Leopoldo Brandão revolucionou a silvicultura com a utilização comercial de clones; Osmar Zogbi transformou sua empresa florestal numa referência em inovações tecnológicas. Foram memoráveis também as contribuições de Roberto Alvarenga, Laerte Setúbal, dos irmãos Geraldo e Raul Speltz, dos irmãos Gualter e Geraldo Moura, Luiz Ramires, Rubens Tocci, Pieter Prange, Francisco Bertolani, Amantino de Freitas, Mauro Reis, Lamberto Golfari, Carlos Eugênio Thibau. Tive a satisfação de conviver e de aprender com profissionais extraordinários: Edson Balloni, Arnaldo Salmeron, Walter Jacob, Joésio Siqueira, Sebastião Machado, Gilmar Bertolloti, Admir Lopes Moura, José Maria Mendes, Ademir Cunha Bueno, Ubirajara Brasil, Carlos Alberto Guerreiro, Lineu Wandouski, José Zani, José Luiz Stape, Maria José Zakia, José Geraldo Rivelli, Claudio Cerqueira, dentre muitos companheiros de equipe. Nesse mesmo período, iniciaram os movimentos sociais e ambientais, questionando a monocultura de eucalipto e pinus. Essas discussões, que continuam vivas dentro do setor, foram enriquecidas pelas contribuições do respeitável Walter de Paula Lima. Novo importantíssimo marco surge na década de 90, com os sistemas de certificação florestal em que se destacou a competência e a dedicação de Rubens Garlipp e colaboradores para a estruturação do CERFLOR, através da SBS. Nos anos de 2005/2006/2007, os programas de plantio aumentaram significativamente e com um ingrediente especial: a participação significativa do fomento florestal. A silvicultura encontrava, de fato, a forma de se integrar com suas comunidades e parceiros vizinhos. De 2008 até hoje, surpresas e novidades: uma profunda crise, que abalou o setor e ainda não se afastou de algumas empresas, e o surgimento de novos investidores interessados na formação de ativos florestais. Surgem novas fronteiras da silvicultura, e estamos diante de mudanças e grandes desafios. Há lições de sobra para superarmos eventuais dificuldades e fortalecermos ainda mais a silvicultura. E o mais importante: há silvicultores brilhantes se destacando nesses novos tempos. Com certeza, as lições de comprometimento não foram esquecidas e serão perpetuadas por gerações.

" Surgem novas fronteiras da silvicultura, e estamos diante de mudanças e grandes desafios. Há lições de sobra para superarmos eventuais dificuldades e fortalecermos ainda mais a silvicultura. "

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Nelson Barboza Leite Diretor Florestal da Eco Brasil Florestas


OpiniĂľes


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Opiniões Opiniões

engenharia florestal:

um sonho distante?

Parecia que sim... afinal, que tipo de curso era esse, recém-aberto, quase desconhecido, cujo vestibular vi anunciado no quadro de avisos na Escola de Agronomia da Universidade Federal do Paraná? A que carreira, a que profissão esse curso encaminharia um jovem saído às pressas do terceiro colegial, após um exame de segunda época em química, para não perder um ano sem universidade? Era um curso novo, a engenharia florestal, oferecido pela então Escola Nacional de Florestas, recentemente transferida de Minas Gerais para Curitiba, resultado de um acordo entre o Governo Federal e a FAO, das Nações Unidas. Com a imaginação solta, surgiram imagens de selvas, florestas de vegetação fechada, árvores abatidas, pessoas e tratores em movimento, serrarias em frenética produção e indústrias a todo vapor, literalmente, muito vapor... E, ao mesmo tempo, laboratórios de primeiro mundo, viagens a lugares distantes, ambientes mais calmos, em clima de encorajar pesquisas, intercâmbio e conquistas na área científica.

tos de opiniões, quase sempre com posteriores adequações, mas nunca patrulhamento. O Código acabou se tornando conhecido fora do seu círculo de praticantes, atraindo adesões eventuais, mas sempre apoio e admiração. Há alguns meses, porém, mais de quarenta anos depois, aquele grupo de jovens sonhadores se reuniu, agora um pouco menos jovens, para comemorar e relembrar, prazerosamente, tempos e ocasiões os mais diversos, porém com certeza e orgulho de ter realmente escolhido o rumo certo. A área da tecnologia da madeira acabou sendo também uma escolha certa. Se não reproduzia fielmente o quadro de atividade intensa, quase frenética - característica imaginada da atividade de implantação, manejo e exploração de florestas, perseguindo metas, prazos e cronogramas -, trazia desafios a serem superados, objetivos a serem alcançados em um quadro de planejamento meticuloso e execução cuidadosa. Tal situação se configurava no planejamento e desenho de campanha para a introdução de madeiras tropicais menos

" com a imaginação solta, surgiram imagens de selvas, florestas de vegetação fechada, árvores abatidas, pessoas e tratores em movimento, serrarias em frenética produção e indústrias a todo vapor, literalmente, muito vapor... " Márcio Augusto Rabelo Nahuz Pesquisador do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT

Decisão tomada, aos poucos, o curso e a profissão se desenharam menos românticos e muito mais demandantes de tempo e esforço, mas já fazendo desenvolver um sentimento de pertencer a uma elite e, especialmente, de estar fazendo a coisa certa. Grandes mestres, uns de renome internacional e outros, locais, todos contribuindo para a formação, na visão do conjunto e na análise do detalhe, no cuidado e na dedicação à situação em exame, com uma visão externa, de outras formações e realidades, mas com foco sempre na aplicação local. Em plano menos técnico, valores como ética, honestidade, respeito à diversidade de opiniões e responsabilidade, subjacentes, mas intensamente inculcados, ainda que subliminarmente, passaram a ter importância cada vez maior, não só como balizadores da vida pessoal e da futura vida profissional, mas principalmente como valores emblemáticos, norteadores de um grupo de jovens engenheiros florestais. Surgiu um Código de Ética, que, embora nunca escrito, mostrou-se eficaz e teve quase total adesão - quase, pois, afinal, o respeito à diversidade era uma das bases desse protocolo de conduta. Aos poucos, o Código se consolidou, norteando o comportamento do grupo, provocando, por vezes, confli-

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conhecidas no mercado nacional ou de exportação, como na caracterização das espécies ocorrentes em determinada bacia de inundação de uma usina hidrelétrica, como na caracterização e processamento mecânico de eucalipto ou pinus para a confecção de mobiliário. Como num quebra-cabeças, cada etapa do trabalho tinha seu lugar. Esforços não eram economizados na tentativa de otimizar, com prazo definido e recursos estipulados, o uso da matéria-prima disponível em áreas florestais já abertas e em exploração. Para tal, altas doses de criatividade e inventividade eram necessárias, e, por vezes, também alguma capacidade de improvisação. A facilidade de construir, com base em princípios técnicos e científicos, condições apropriadas para executar determinados ensaios, segundo as especificações e normas técnicas necessárias, continua sendo a característica presente nas iniciativas de maior sucesso. A recompensa, ao cabo de todo o esforço alocado, é o produto final, na plenitude de suas características, atendendo a objetivos pré-estabelecidos e satisfazendo as necessidades apontadas. Tais princípios, simples e eficazes, permanecem válidos e podem representar um legado àqueles que nos sucedem.



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a engenharia florestal e a

evolução da sociedade

Nações e sociedades desenvolvidas têm no investimento em educação a raiz do seu sucesso. Governos e líderes de diversos segmentos da sociedade têm em mente esse fator de inquestionável importância, contudo, por vezes, ignorado. O setor florestal brasileiro é um exemplo bem-sucedido e, em meio século, passou por uma transformação que colocou o Brasil no cenário internacional em condição de competitividade. Fontes citam que o ensino florestal de nível superior começou na Alemanha, na Academia Florestal de Tharandt, em 1811. No Brasil, o curso superior de engenharia florestal foi criado em 1960, na cidade de Viçosa, em Minas Gerais, e transferido para Curitiba no final de 1963, e, hoje, 57 instituições de ensino em engenharia florestal formam profissionais para o mercado. Neste ano, em que se celebram 50 anos de engenharia florestal no Brasil, será impossível enumerar as imensas contribuições desse curso como um agente social do desenvolvimento dos negócios e atividades florestais. Destacam-se um consolidado parque florestal de 6,3 milhões de hectares de florestas plantadas e 6,0 milhões de hectares de florestas naturais preservadas, o surgimento de uma indústria de base florestal de ferro-gusa, celulose e papel, de serrados, de compensados e de painéis reconstituídos, resultantes de bem-sucedidas políticas públicas do passado. O setor tornou-se referência pelo espantoso salto em produtividade florestal, no desenvolvimento das técnicas de manejo e otimizados processos de silvicultura, colheita e beneficiamento da madeira. Importante lembrar que, num passado pouco distante, o conhecimento para implantação de projetos florestais era importado; hoje, engenheiros florestais brasileiros pertencentes a universidades, instituições de pesquisas, empresas de consultorias e da iniciativa privada suprem a demanda doméstica bem como a de outros países, prova inequívoca dessa grande transformação.

serviços florestais, como sequestro de carbono, qualidade e disponibilidade de água e ar. O País tem potencial de se tornar um importante fornecedor de produtos de origem florestal, para tanto necessitará superar-se em manejar florestas nativas e plantadas, manter e preservar florestas e ecossistemas de maneira sustentável, atendendo às mais rígidas demandas, tanto nos aspectos econômicos, quanto sociais e ambientais. A evolução do setor florestal brasileiro estará baseada na inovação, criatividade e na governança, para continuar competitivo na arena nacional e internacional. Deverá estar ciente do maior convívio com uma sociedade mais complexa, mutante em credos, valores, padrões culturais, padrões religiosos e que clama por mudanças. E esses fatores deverão estar presentes nas mentes dos engenheiros florestais e de suas universidades. Nesse ambiente, os esforços em explorar os limites de sustentabilidade das plantações florestais de rápido crescimento continuarão sendo priorizados, notadamente através de plantios também em pequenas e médias propriedades rurais. Da mesma forma, a busca de um novo patamar de produtividade florestal e industrial, através da modernização dos processos e inserção de novos materiais genéticos que estão por vir. Por fim, discorridos esses pontos, salvo críticas mais apuradas, são temas de amplo domínio dos engenheiros florestais, contudo não são, a rigor, de conhecimento da sociedade. Com raras exceções, a representatividade institucional não foi o ponto marcante do setor, ficou, por períodos da história recente, sem interlocução ativa e alijada de uma política nacional. Sua inclusão como parte do ambiente social e atuante na fundamentação de políticas públicas de incentivo à produção florestal sustentável, aplicação de esforços no fortalecimento das relações institucionais, universidades, organizações, associações e órgãos governamentais

" Com raras exceções, a representatividade institucional não foi o ponto marcante do setor, ficou, por períodos da história recente, sem interlocução ativa e alijada de uma política nacional. " Mario Sant'Anna Junior Diretor Executivo da Gerdau Florestal

Mesmo aqueles que militam no setor não imaginariam tamanho sucesso e expansão num período tão curto de tempo. Oportuno lançar um olhar mais distante ao futuro, sugerindo onde se quer estar nos próximos 50 anos. O Brasil continuará com uma formidável e ímpar diversidade de ecossistemas, condições climáticas e regimes pluviométricos, variedade das bacias hidrográficas, relevos e extensão territorial. O mundo continuará não abrindo mão da necessidade por madeira, e será crescente a busca por novos

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deverão demandar ainda muitos esforços e tempo. O aperfeiçoamento da educação e da informação foram propulsores desses primeiros 50 anos e serão também os fundamentos para a inteligência competitiva para o futuro.



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os 50 anos

A engenharia florestal no Brasil completa seu primeiro jubileu neste ano de 2010. Como evoca o termo “jubileu”, é um ano de alegria. Nesses 50 anos, foram muitos os avanços e conquistas, porém maiores são os desafios nas próximas décadas por conta da criticidade da gestão dos recursos naturais para a sociedade. Em maio de 1960, foi criada a primeira Escola Nacional de Florestas, instalada inicialmente na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de Viçosa, e transferida em 1963 para Curitiba, na Universidade Federal do Paraná, que formou os primeiros engenheiros florestais do Brasil em 1964.

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mínimo impacto no solo e a seleção de áreas, levando em conta o manejo de recursos hídricos e da paisagem. A silvicultura e o melhoramento genético têm tido um excepcional avanço com as espécies introduzidas de rápido crescimento, destinadas à produção de madeira para as indústrias, e são animadoras as perspectivas na silvicultura e no manejo das nossas espécies nativas. Paralelamente à abertura de novos cursos, surgiram instituições de pesquisas vinculadas às universidades, como o IPEF, SIF, Fupef e Cepef e a Embrapa Florestas. O setor privado também desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da engenharia florestal.

" A engenharia florestal deu passos expressivos e tem contribuído de maneira significativa para a evolução do Brasil. Precisamos agora olhar as próximas décadas, com a visão de crescimento sustentável do setor florestal. Temos que proteger e utilizar os recursos florestais com ciência. " João Fernando Borges Diretor Florestal da Stora Enso Latin America Division

A engenharia florestal - denominação que utilizamos no Brasil - como ensino universitário é, no entanto, bem mais antiga. A primeira foi criada em 1787, na cidade de Dillenburg, Alemanha. Nas Américas, as primeiras escolas foram estabelecidas nos EUA, em 1898, na Carolina do Norte e em Nova York. A Escola Nacional de Florestas brasileira foi a primeira da América do Sul. Em 2006, o Brasil já contava com 37 cursos de engenharia florestal. Uma das mais importantes contribuições da engenharia florestal é a formação de profissionais dedicados ao uso sustentável dos recursos florestais. Todas as áreas que compõem a engenharia florestal, como a silvicultura e manejo florestal, a ecologia, economia e proteção florestal, o manejo de bacias hidrográficas, a tecnologia de uso da madeira e produtos florestais e a colheita florestal, têm como norte a sustentabilidade da produção e das condições ambientais desses recursos. Nesses 50 anos, o Brasil tem ganho cada vez mais importância no cenário florestal mundial. Temos a mais vasta reserva de floresta tropical do planeta, e nosso setor de florestas plantadas atingiu produtividade excepcional. A aplicação do manejo adequado às florestas nativas, principalmente na Amazônia, é de fundamental importância para conter sua redução e propiciar às comunidades locais desenvolvimento socioeconômico, sem reduzir a área de florestas. Nas florestas plantadas, o modelo desenvolvido incorporou a proteção das reservas legais e das áreas de preservação. A observância da legislação florestal ensinada às centenas de turmas de engenheiros florestais cristalizou a cultura de que todo projeto florestal deve considerar as reservas, com fins de preservação ambiental. As práticas silviculturais atuais prescrevem a mínima interferência no solo, o uso racional de químicos no controle de ervas daninhas e pragas, a utilização de equipamentos de

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Além dos investimentos realizados nas atividades de pesquisas e no desenvolvimento operacional, houve investimentos das empresas na capacitação dos profissionais florestais. A política florestal oficial, embora possa não ter sido a ideal, também tem estimulado o desenvolvimento do setor. A soma de vários esforços, iniciativas e dedicação nos trouxeram até essa primeira década do século XXI. A engenharia florestal deu passos expressivos e tem contribuído de maneira significativa para a evolução do Brasil. Precisamos agora olhar as próximas décadas, com a visão de crescimento sustentável do setor florestal. Temos que proteger e utilizar os recursos florestais com ciência. Nossa legislação florestal ainda necessita de ajustes. Há, inegavelmente, que se agir de forma a assegurar às próximas gerações o acesso aos bens florestais no seu sentido amplo, que inclui a diversidade biológica e da paisagem, a proteção dos mananciais, a absorção de carbono, sua contribuição para a redução dos efeitos das mudanças do clima e para a mitigação da pobreza no meio rural. Outro desafio importante é conciliar os diversos interesses das comunidades rurais com a produção sustentável de madeira e produtos florestais. No setor de florestas plantadas, é preciso assegurar a produção de madeira para os diversos segmentos da indústria de base florestal, com plantios sustentáveis, produtivos e que gerem emprego e renda no campo. A função social das áreas florestais nativas e plantadas, na proteção de mananciais de água, por exemplo, terá importância vital para a sociedade. Os bens, produtos e serviços florestais contribuem de forma inequívoca para o bem-estar, educação e cultura da sociedade e têm o mérito de serem gerados a partir de recursos naturais renováveis. Esses são desafios motivadores para as próximas décadas da cinquentenária engenharia florestal brasileira.


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de: "o eucalipto seca o solo" para: "manejo sustentável de florestas plantadas" É bem verdade que a famosa polêmica do eucalipto ainda persiste, em algumas situações, exatamente como era na fase inicial do reflorestamento com espécies de rápido crescimento no País. Naquele tempo, havia muita desinformação, e o folclore se alastrava. Chegou a ponto de se proibirem, por força de lei, novos plantios de eucalipto em alguns estados. Quantas frustrações e debates infrutíferos entre opositores e defensores em incontáveis seminários e congressos. Quanto esforço desprendido para tentar mostrar que o consumo de água pelo eucalipto não era diferente do de outras espécies florestais. Como se essa informação fosse a chave para aplacar os ânimos e acabar com a controvérsia. Mas, a despeito de inúmeros resultados experimentais, ela não desaparecia, pelo contrário. E no entanto, em meio à alternância entre calmarias e ondas recorrentes de ataques ao eucalipto e à expansão de plantações florestais, o setor florestal produtivo do País cresceu e se fortaleceu, alcançando reconhecimento mundial. Na década de 1980, com algum atraso, o País notou o crescimento da preocupação para com o meio ambiente. E a polêmica não mais se restringia à questão da água, mas também a vários outros aspectos ambientais e sociais.

lidade é apenas um alvo para orientar a melhoria contínua das práticas de manejo. Esse alvo, por natureza, não é fixo, querendo, com isso, significar que não existem receitas. O conceito de manejo sustentável não tolera acomodação. O eucalipto realmente não seca o solo, mas florestas plantadas de eucalipto ou de outras espécies de rápido crescimento requerem muita água, e essa evidência é de fundamental importância ambiental, já que pode causar conflitos em algumas situações. Assim, mais do que apenas saber quanto é o consumo de água pelo eucalipto, a nova ordem social e ambiental exige saber também como ocorre esse consumo, o que implica uma mudança de paradigma. No primeiro caso, o conforto que se obtém é o saber que esse consumo é igual ao de outras espécies florestais, ou, ainda, que ele não é maior do que a precipitação. Mas isso não resolve o problema. Agora, quando o enfoque visa procurar saber se esse consumo pode ser suportado pela disponibilidade de água, então, evoluímos, já que o que está agora em jogo é saber se há água para a produção florestal e para todas as demais demandas, inclusive a demanda ambiental, aqui simplificadamente tida como a permanência dos fluxos de água superficial nas microbacias hidrográficas.

" Todas as respostas que sabemos tornaram-se inúteis porque as perguntas mudaram. (Júlio Ribeiro) "

Walter de Paula Lima Professor de Hidrologia Florestal da Esalq-USP

Depois veio a década de 1990, que pode ser caracterizada como a década em que o manejo florestal teve que se adequar aos preceitos de desenvolvimento sustentável emanados na reunião da UNCED, no Rio de Janeiro, em 1992. Essa adequação, todavia, sem dúvida, de fundamental importância ambiental e social, impõe mudanças paradigmáticas, que não são absolutamente difíceis do ponto de vista técnico, mas encontram enorme resistência nas pessoas. Bem por isso, infelizmente, já é quase consenso no setor florestal a noção de que a expressão “manejo florestal sustentável” se tornou “muito desgastada”, como se costuma ouvir. É realmente uma pena. Venceu a ganância e a lei do menor esforço. Perdeu o meio ambiente. O conceito de manejo florestal sustentável, embora de difícil entendimento por parte de muitas pessoas que o consideram vago e nebuloso, na realidade, pode ser considerado uma das maiores ferramentas já concebidas pelo homem para auxiliar na necessidade crucial da convivência entre desenvolvimento e conservação ambiental. E se trata de um conceito extremamente simples, que pode ser assim enunciado: a sustentabi-

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O fluxo de água referente à perda por evapotranspiração da floresta plantada é referido como fluxo de “água verde”. Já o fluxo de água que interessa para todas as demais demandas de água, que é a água superficial, é referido como “água azul”. O destino das chuvas em cada microbacia se dá por esses dois fluxos de água. Dessa forma, manejo sustentável, do ponto de vista da água, envolve desenvolver estratégias de manejo que garantam o equilíbrio entre esses dois componentes. Se a estratégia de manejo está consumindo quase toda a água que chega pelas chuvas, então não pode ser sustentável, pois está eliminando a água azul. Assim, a resposta que se procurou obter no passado, de que o eucalipto não seca o solo, já não serve mais, pois a pergunta agora é outra. É preciso, agora, preocupar-se com o equilíbrio do balanço hídrico das microbacias hidrográficas, que é a escala natural para a avaliação dos efeitos da alteração da paisagem sobre os recursos hídricos. E esse balanço hídrico varia no tempo e no espaço. Ou seja, não há como prever ou teorizar. Temos que estar espertos o tempo todo. Como preceitua o conceito de manejo sustentável.



homens de fibra

emocionante Em conversa com um amigo, perguntara ele como foi que escolhi a minha profissão na silvicultura. Não tive dúvidas. Cabia-me explicar a oportunidade e “voltei a fita” da memória como hoje se faz com um vídeo.

" Para que, moço, perguntara ele. Temos uma imensidade de árvores a perder de vista, e a mata está escura de tantos troncos que temos por aqui e em todo o estado de Santa Catarina e no Paraná... Fui e o encontrei, anos depois, pedindo auxílio, pois acabara de cortar suas últimas árvores e fechara a serraria. " Pieter Willem Prange Consultor Florestal Independente

Estava novamente, nos fim dos anos 50, seguindo para meu segundo estágio de férias, em Santa Catarina, para praticar, na região de Lages, meu aprendizado da “Luiz de Queiroz” adquirido nas aulas teóricas de silvicultura. Um velho DC-3 da TAC - Transportes Aéreos Catarinense me levaria ao destino, via Curitiba, Joinville e Itajaí. Depois de quase oito horas de viagem, pousamos, finalmente, entre imensas pilhas de madeira serrada da araucária, destinadas à construção pelo Brasil afora e às exportações. Um já falecido madeireiro, companheiro no avião, engatara uma boa conversa e ficou sabendo que meu objetivo era melhor conhecer o estabelecimento de plantações de árvores que se iniciara naquela região. Para que, moço, perguntara ele. Temos uma imensidade de árvores a perder de vista, e a mata está escura de tantos troncos que temos por aqui e em todo o estado de Santa Catarina e no Paraná. Mas, meu senhor, respondi, do jeito que vocês cortam essas árvores e não as repõem, isso vai acabar. E nem sempre pagam as taxas de reposição ao antigo Instituto Nacional do Pinho, a que estão obrigados por lei. Eu vou para uma empresa que quer crescer e não tem como esperar o lento crescimento dessas araucárias. Fui e o encontrei, anos depois, pedindo auxílio, pois acabara de cortar suas últimas árvores e fechara a serraria. Queria plantar algo para o futuro. Naquela época, nos anos 60, plantávamos árvores de um outro gênero, desconhecido na região. Eram os Pinus, com diversas espécies em fases de introdução e originários de clima temperado. No estado de São Paulo, nos anos 50, logo após o fracasso da tentativa de introdução de espécies exóticas de rápido crescimento como o Pinus radiata-, ficou evidente que diversos parâmetros técnicos deveriam ser mais bem observados para uma introdução com sucesso. Esse Pinus radiata, era originário de regiões de microclimas, muito distintos do do estado de São Paulo. Os técnicos sabiam, mas era um programa político, e daí, até o insucesso, foi só um passo. Assim, a introdução experimental de outras espécies de Pinus em diversos locais distintos também mereciam demoradas, diversificadas e comparativas observações técnicas.

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Era elementar, mas a ânsia de dispor de madeira a curto prazo era premente. Não se dispunha de informações básicas. Era puro pioneirismo, ajustando cada detalhe, pelos fracassos e sucessos. O que foi importante na época e continua prevalecendo até hoje é a administração da relação custo-benefício, algo básico, que os antigos e os atuais administradores de projetos realizam com a maior e necessária seriedade. O resto é ocasião de oportunidade. Não dispúnhamos, no início das nossas carreiras, do ferramental disponível nos dias atuais, como SIG (sistemas de informações), computadores, dos GPS’s, dos sistemas de gerenciamentos por vias eletrônicas. Que dizer, então, dos esforços coletivos de pesquisas temáticas em conjunto com outras congêneres e por via de entidades de classe? A silvicultura atual é tão tecnificada, que é necessário ter uma visão global das utilidades das florestas plantadas. Antigamente, só se tinha a certeza da necessidade de se poder suprir as áreas consumidoras das madeiras. Conhecimentos de mecânica e genética, administração e finanças, logística e computação, contabilidade e legislação, principalmente do meio ambiente, fertilidade e características dos solos eram, e ainda são, apenas algumas das facetas dos atuais e futuros empreendedores que sucedem aos empreendedores dos anos 60 em diante, os quais, pautando-se nas experiências do passado, poderão elevar, ainda mais, a capacidade da já expressiva representação dos profissionais florestais e a nossa produtividade florestal. A expansão da nossa já ampla variedade de produtos florestais poderá se tornar ainda mais valiosa, já que as oportunidades existem. Mas lembrem-se da equação custo-benefício, que deverá ser lembrada diariamente. Inventar a roda não foi fácil, mas, agora que já existe, cabe um contínuo aperfeiçoamento e avanço e aplicação das novas tecnologias. Entretanto uma ferramenta acima de todos não pode ser desprezada: a comunicação entre todos os atores desse teatro florestal e o estímulo constante à pesquisa. Portanto a opção pela vertente mais interessante na carreira florestal é ampla e diversificada, devendo haver a necessária colaboração entre diversas carreiras, as quais se tornarão complementares.


os desafios

Opiniões

de ontem, de hoje e de amanhã

A silvicultura brasileira surgiu no início de 1900, porém só tomou importância e corpo quando, em 1966, a Lei 5.106 dos Incentivos Fiscais desencadeou um surto de reflorestamento visando ao aproveitamento de tais recursos. Com exceção dos governos estaduais, as empresas privadas ou estavam usando os recursos naturais de araucária, ou estavam plantando pinus e eucalyptus. Essas empresas sabiam o que fazer e como fazer. Eram poucas, contavam-se nos dedos. As demais tinham a visão de utilizar o máximo de recursos e plantar onde pudessem gastar o mínimo possível. Preço de terra não era o fator limitante. Naquele tempo, as empresas florestais eram verticalizadas na sua grande maioria. Ou eram empresas de celulose de fibra curta ou longa - e mesmo as duas -, ou eram empresas de painéis, serrarias, laminadoras etc. Surgiram, então, vários tipos de manejo em gêneros distintos. Nós, particularmente, trabalhamos em florestas de multiuso na Freudenberg. Outras que manejavam eram a Cia. Melhoramentos de São Paulo, Klabin e PCC. Fomos buscar o manejo na África do Sul, que seguia as escolas europeias, agregando valor à madeira através de podas e desbastes seletivos. Outros colegas procuravam o fomento; outros, a maior capacidade produtiva florestal; outros, novas tecnologias. Isso tinha uma particularidade, todos se ajudavam, pois o desafio era o mesmo, e as florestas estavam concentradas no Sul e Sudeste brasileiros. A criação do IPEF foi o marco de um avanço e uma ferramenta que nós soubemos aproveitar no bom entendimento entre as lideranças florestais. Essas lideranças eram tão fortes e tão unidas, que, se algum industrial quisesse visitar outra indústria, utilizava a influência e as boas relações dos florestais. Ganhos em volumes, em plantios de florestas, em maquinários de exploração, desenvolvimento de caminhões de transporte, ferramentas foram os iniciais. Veio a clonagem. As mudanças do cultivo mínimo, a proteção da floresta nativa, primeiro com fragmentos, depois dos corredores de proteção. Estudos iniciais de fauna e flora foram desenvolvidos, criando a base da proteção florestal. O meio ambiente não era o problema naquela época, mas, diante dos erros e acertos, obrigou-nos a definir regras, discutir opiniões e esclarecer constatações, que estão sendo utilizadas hoje como regra. Estávamos escrevendo o manual do reflorestamento, da silvicultura brasileira. Hoje o enfoque do reflorestamento tem uma terceira face.

Antes, era a verticalização, depois os incentivos, com as vantagens e as desvantagens da massificação. Hoje, é a implantação da floresta como um investimento produtivo de futuro. Investidores veem a floresta como um ativo de médio e longo prazo, com garantia de retorno econômico. Assim, com a mudança de enfoque da floresta, novos desafios estão incomodando os florestais de hoje e de amanhã. As florestas devem ser formadas em locais viáveis para um mercado interno e externo, já que a globalização florestal é uma realidade; os custos, compatíveis com uma rentabilidade, assim como as taxas de crescimento; a qualidade da madeira com atendimento da necessidade de mercado e o manejo florestal versátil para suprir as qualidades múltiplas na utilização da madeira. O florestal de amanhã não pode desconsiderar que a condução clássica da floresta sofre uma influência direta com o avanço da tecnologia. As novas serrarias, as manufaturas, as máquinas modernas de fingerjoint, as serras múltiplas, as recobridoras, os novos adesivos, os scanners de leituras óticas têm trazido tecnologia para correção e incremento de aproveitamento da madeira, permitindo e aceitando madeiras com defeitos. Os novos produtos de substituição devem ser considerados norteadores de seu manejo. Portanto, não perder o foco dessa tecnologia. O florestal de hoje e de amanhã terá muito mais responsabilidade ambiental; os manejos de florestas de talhadia simples, energéticos e de cortes precoces deverão ser revistos; e a luz da proteção do solo, da água, da flora e da fauna deverão sofrer adaptações e variações entre e dentro da floresta, com manejos mais inteligentes e mais conservadores. Plantios mistos para nitrificação do solo (coníferas e folhosas) em áreas experimentais e em pequenas escalas deverão ser incentivados, não só pelas autoridades, mas pelos próprios florestais responsáveis. Um manejo de múltiplo uso dentro de áreas de corte raso constante já seria um bom começo. Nós já fazíamos isso há 40 anos, mesmo em florestas de Eucalyptus, para produção de madeira de valor agregado.

" essas lideranças eram tão fortes e tão unidas, que, se algum industrial quisesse visitar outra indústria, utilizava a influência e as boas relações dos florestais " Francisco Bertolani Diretor da Chabana Consultoria Florestal

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das florestas nativas

às florestas plantadas

A história florestal corretamente entendida é, em todo o planeta, uma história de exploração e destruição. A floresta exuberante, reflexo da qualidade do solo, era sempre preferida. Satisfeita a necessidade do uso da madeira, o fogo foi a ferramenta capaz de transformar em apta a área para a produção agrícola. Assim, “sustentamos” os ciclos econômicos do pau-brasil, do açúcar, da borracha e especiarias, da pecuária e do café, alimentando inclusive a mineração. Um belo dia, um visionário consciente e preparado conseguiu o apoio de uma companhia pioneira. Era o ano de 1904, e Edmundo Navarro de Andrade começou a estudar e a plantar florestas. Ali se iniciou uma caminhada de sucesso. Começamos a fazer florestas, a melhorá-las, a adaptá-las, a fazer fomento. Outras empresas seguiram os mesmos passos. Foram passos pioneiros para a silvicultura. Por esse registro, já se pode perceber a existência de “sonhadores”, quando sobrava madeira de qualidade e “mata era mato”. O Brasil já estava sendo abençoado, talvez até pela força do nome...

Madeirit, Olinkraft e Cia. Suzano, as nossas homenagens agradecidas, na imagem de seus comandantes: Lock Craig, Laerte Setúbal Filho, Fernando Abreu Ribeiro, Ruben de Mello e Leon Feffer. A todos esses ilustres benfeitores, fica devendo, e muito, o setor de florestas plantadas, como um marco divisor - antes e depois do IPEF -, com uma homenagem muito especial ao mestre Helládio. Ao meu ver, não poderia estar melhor representado o pioneirismo corajoso, inteligente, patriótico e criativo, que já nos legou imensos frutos e vai garantir o avanço tecnológico do amanhã. Mestres e pesquisadores de alta formação estão prontos e se aperfeiçoam continuamente para garantir a continuidade dos avanços florestais por todo o País. Estágios dirigidos aceleram a adaptação e aprendizado. Na área de biotecnologia, estribada na transgenia, reside a certeza esperançosa do contínuo avanço do desenvolvimento sustentável. Nos híbridos promissores, também, através do melhoramento clássico.

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" o número de profissionais especializados e o contínuo investimento, a transferência de tecnologia, a inovação, o desenvolvimento de máquinas e equipamentos, a riqueza e sofisticação dos insumos básicos, garantirão, tenho certeza e fé, o contínuo desenvolvimento da área florestal. " Antonio Sebastião Rensi Coelho Consultor Florestal Independente

Ao atingirmos a década de 1960, que considero a de ouro para o reflorestamento, na esteira do desenvolvimento acelerado do País, o setor recebeu o seu maior impulso. Senão, vejamos: Em 1961, sediamos a II Conferência Mundial do Eucalipto, em São Paulo, e ganhamos a 2ª edição do O Eucalipto, joia rara da literatura na silvicultura brasileira, em edição melhorada. Na mesma década, apareceu a Escola de Engenharia Florestal, a primeira, em Viçosa/ MG, depois transferida para Curitiba. O núcleo inicial permaneceu e floresceu. As escolas de agronomia ajustaram seus cursos de silvicultura e nasceram novos de engenharia florestal. O grande impulso das atividades de florestas plantadas, entretanto, deve-se à criação dos incentivos fiscais ao reflorestamento, em meados de 1966. Houve, então, uma revolução do ensino e desenvolvimento florestal no País, garantindo as atividades de transformação da madeira plantada, inclusive, abrindo as portas das exportações através das ISO. Nessa década, concretizou-se a fabulosa ideia da ação cooperativa universidade-empresa. Ao “mestre milagreiro”, prof. Helládio do Amaral Mello, cabe a honra, e às seis empresas pioneiras, Champion, Duratex, Rigesa,

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O número de profissionais especializados e o contínuo investimento, a transferência de tecnologia, a inovação, o desenvolvimento de máquinas e equipamentos, a riqueza e sofisticação dos insumos básicos, garantirão, tenho certeza e fé, o contínuo desenvolvimento da área florestal. Inclusive no manejo das florestas nativas, estudo do uso racional da riqueza natural, preservação, introdução e aclimatação de espécies ou variedades, o sucesso está garantido. Basta visitar viveiro para produção de mudas das empresas líderes, quase um fitotron completo, para sentir a pujança, riqueza mesmo, dos recursos disponíveis e técnicas apuradas. As " Os deor. "de qualidade e características das fibras, num necessidades perfeito entrosamento entre empresas transformadoras e os processos de melhoramento e criação de variedades específicas, são outro campo extraordinário e em andamento acelerado. Quem são os nossos sucessores? O tempo dirá, mas acredito piamente que o sucesso virá. Acredito na nossa gente jovem, bem conduzida pelos mais experientes, para continuarmos líderes na área de floresta plantada, regidos pelos Edosprincípios que nos trouxeram até aqui. Tenho a certeza Direde que as sementes foram muito boas. É só saber usá-las. Diredesa

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engenharia florestal,

uma história de meio século

Contar o tempo por séculos dá um valor maior aos fatos, daí preferirmos dizer que a história da engenharia florestal no Brasil já alcançou seu primeiro meio século. Tendo completado 40 anos de formatura - formei-me em 1969, pela então Faculdade de Florestas da UFPR-, imagino-me uma testemunha dessa história, coletando registros e lições, alguns selecionados para o depoimento a seguir. Uma espantosa evolução tecnológica nas práticas florestais. Nesses 50 anos, vimos os plantios de eucalipto saírem do uso de sementes de baixo valor genético para clones de alta produtividade e com propriedades físicas apropriadas para fins específicos. Os dados indicam um salto no crescimento florestal ao redor de 100%, passando estimativamente de um incremento médio anual (IMA) de 20m3 para 40m3 por hectare, em valores medianos.

Comparemos, por exemplo, os fundamentos que regem a fisiologia, nutrição, crescimento em sociedade e verificaremos como são semelhantes os comportamentos das árvores com os indivíduos dos demais reinos, nas mais variadas situações. Clones de eucaliptos revolucionaram as produtividades florestais. Muito mais do que quaisquer outros fatores, como subsolagem, cultivo mínimo e adubação intensiva e parcelada. Porém aprendi que com clone não se brinca. É perigoso. Adaptei a advertência a partir de uma afirmação médica, de que com dor não se brinca. Tenho presenciado inúmeros fracassos, porque o empreendedor passou a plantar clone, porque era clone, sem respeitar o teste do tempo, que daria ao material genético o tempo necessário para confirmar a sua produtividade e enfrentar estações anormais de seca, ocorrências de pragas e doenças, entre outras malezas.

" exemplos de lições, a partir da convivência "com comase florestas: " percebi que as leis da vida atuam de forma paralela, tanto no reino humano, como no animal e vegetal - vale dizer florestal "

Manoel de Freitas Consultor Florestal Independente

O uso de herbicidas para controle do matocompetição e a colheita mecanizada reduziram substancialmente a necessidade de mão de obra nos projetos florestais, recurso este cada dia mais escasso no meio rural. No preparo do solo, evoluímos para o conceito de cultivo mínimo, e, no campo da nutrição florestal, aprendemos que as florestas agradecem ser devidamente alimentadas. Em resumo, um substancial aumento da produtividade florestal, que nos levou ao pódio de campeão mundial na categoria. Tivemos como indutores inquestionáveis dos progressos constatados a formidável produção sustentada de madeira de floresta plantada, que explodiu no período de 50 anos - avalia-se, hoje, uma produção de 250 milhões de m3 por ano (Abraf 2010), comparados a estimados 12 milhões de m3 lá por 1960 -, e a valorização acentuada da madeira em pé, que saltou de uma média de US$ 3,0 por m3, por volta de 1970, para US$ 26,0 por m3, nos dias de hoje. Com essa substancial valorização da madeira, associada ao excepcional ganho em crescimento florestal, pôde o setor fazer frente à acelerada valorização do preço de terra ocorrida no período. Aceleração devidamente entendida, uma vez que quem fez a terra não está fazendo mais! Exemplos de lições, a partir da convivência com as florestas: percebi que as leis da vida atuam de forma paralela, tanto no reino humano, como no animal e no vegetal - vale dizer florestal.

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Algumas lições a partir da convivência com profissionais florestais: conheço alguns profissionais que nunca se sentem totalmente preparados e continuam a frequentar, ano após ano, todo tipo de curso na área, congressos, seminários, etc., e não mudam nada do que fazem no dia a dia. Nada tenho contra esse desejo de atualização, mas chega um momento em que é hora de aplicar o que se sabe. Em resumo, muitos sabem e poucos fazem. Alguns outros perdem a noção de que o mais importante deveria sempre vir em primeiro lugar, ou, então, pretendem fazer tudo com uma precisão desnecessária e deixam de ser eficazes. Resultado: terminam reclamando que não são promovidos. Finalmente, muito comum se esquecerem de que as florestas estão sujeitas a incêndios, pragas, secas, que derrubam a média florestal e assim superestimam seus estoques. Não se lembraram de que, quando os números se chocam com o bom senso, devem-se abandonar os dados e recomeçar a análise! Essas lições estão entre as mais observadas, já que as presenciei vezes e vezes. São numerosos os aprendizados ao longo da carreira profissional. Não me detive em relatar fatos positivos, como perceberam, já que muito pouco se aprende com o sucesso. Final da minha história: a minha formação em engenharia florestal - e penso que poderei estar falando em nome de incontáveis colegas - trouxe-me muitas alegrias, realizações e um universo de amigos.



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empreendedores

do sistema florestal brasileiro " A área de florestas plantadas aproxima-se dos "6 para estadepróxima teremos um novo milhões hectares,década, e os reflorestamentos tipo de cana-de-açúcar, neste Poderoso nesse caso, anuais superam 600 milque, hectares. melhor se a chamássemos de “cana-enerestoque seria de tecnologias permite liderança gia”: umanacana mais rústica e com altíssimo mundial produção de madeira potencial de produção de biomassa, duas vezes e celulose/papel de eucalipto. " maior que a cana convencional. " Antonio Paulo Mendes Galvão Consultor Florestal Independente

É notável a herança que a atual e a futura geração do Setor Florestal Brasileiro estão recebendo de empreendedores que já deixaram ou estão deixando a atividade profissional. O legado, cuja maior parte foi construída a partir da década de 60, representa 3,4% do PIB do País, que corresponde a US$ 44,6 bilhões. As exportações de produtos de base florestal do Brasil equivalem a mais de 5% do total exportado. A área de florestas plantadas aproxima-se dos 6 milhões de hectares, e os reflorestamentos anuais superam 600 mil hectares. Poderoso estoque de tecnologias permite liderança mundial na produção de madeira e celulose/ papel de eucalipto. Fica, assim, evidente a responsabilidade dos atuais executivos e cientistas na conservação e ampliação desse patrimônio. Esse desafio exige, porém, profissionais de alto nível, com características apropriadas ao contexto do Sistema Florestal Brasileiro e do cenário internacional, que mudam rápida e continuamente. Esse panorama inclui a indesejada realidade do setor de florestas plantadas: não possuir, ainda, um abrigo apropriado, justo e seguro nas instituições governamentais. À medida que os meios de comunicação evoluem e se tornam mais acessíveis e velozes, as mudanças de contexto são mais frequentes. A globalização implica crescente interdependência tecnológica e econômica entre países de diferentes culturas. Novas tecnologias, exigências de mercado e cobranças ambientais surgem e se sucedem com frequência. Por isso, o executivo moderno tem de acompanhar com eficácia tudo o que ocorre na sua área de atuação, em nível nacional e internacional. Isso implica a necessidade de o profissional do Setor de Base Florestal dominar bem outros idiomas, como o inglês e o espanhol, e de ser competente no uso da informática. Paradoxalmente, essas facilidades implicam grande quantidade de informação, e, consequentemente, o profissional moderno deve ser capaz de geri-la eficazmente, separando prontamente o útil do inútil. Como a quantidade de tecnologias e especializações profissionais é enorme, é essencial outra qualidade: trabalhar em equipe e saber delegar aquilo que pode e deve ser delegado.

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Outro predicado necessário ao empreendedor moderno é competência para compreender não só “o como executar”, mas também “o porquê”, “o para quê” e “o para quem” são realizadas suas atividades. Deve, ainda, possuir uma visão sistêmica, que lhe possibilite entender o todo com base numa análise global das partes e da interação entre elas. Precisa também possuir compreensão estratégica, isto é, ter a percepção do futuro desejado, em um dado período de tempo, e ser capaz de alcançar as metas desejadas por meio de ações dirigidas. Como solicita o editor chefe da Revista Opiniões, ilustro minha participação na construção do legado representado pelo Sistema Florestal do País. Quando professor na Esalq, fui convidado pela Embrapa a dirigir o Programa Nacional de Pesquisa Florestal - PNPF. Esse desafio resultou em parcerias com 28 entidades de pesquisa e 69 empresas privadas e uma rede de 597 experimentos em 22 estados, grande parte deles sem pesquisa florestal, naquela época. Foi também criado o Centro Nacional de Pesquisa de Florestas, atualmente, Embrapa Florestas. Dentre as atividades desenvolvidas na Embrapa/PNF, destaco o projeto cooperativo com empresas e instituições de pesquisa para a coleta de sementes de eucalipto na Austrália durante um ano. Vinte e duas empresas privadas do setor florestal e 6 instituições governamentais participaram do projeto. Foram instalados testes e populações-base em 59 diferentes locais do País. Muitos clones em uso no Brasil descendem desse material. Como pesquisador da Embrapa, também liderei o processo que permite, sob a administração do Mapa/SNPC, proteger internacionalmente valiosos clones de eucalipto obtidos por melhoramento genético, contra uso não autorizado. Permito-me registrar meu trabalho de coordenação geral de três congressos florestais brasileiros: Olinda (1986), Curitiba (1993) e São Paulo (2004), e a responsabilidade pela área técnica/científica no congresso de Manaus, em 1978. Para concluir, resta desejar sucesso aos atuais e futuros empreendedores do Sistema Florestal Brasileiro. Eles, com certeza, farão mais e melhor que a minha geração.



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engenharia florestal:

cinquenta anos de atividades

A engenharia florestal é a ciência que trata do plantio e/ ou manejo das florestas, plantadas ou nativas, para produzir bens e serviços e suprir a demanda por seus produtos e subprodutos. Essas atividades normalmente visam ao atendimento de setores produtivos como o de energia, papel e celulose, madeira serrada, painéis reconstituídos, entre outros, e também na área ambiental, tanto na reconstituição da Áreas de Preservação Permanente - APP, como de Reserva Legal - RL. O curso superior de engenharia florestal foi criado em 1960, na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, em Viçosa - MG.

Nesse período, profissionais da engenharia florestal introduziram novos materiais genéticos, testaram os genótipos em diferentes condições de solo (pobres e férteis) e clima (secos e frios), selecionaram materiais genéticos, promoveram cruzamentos direcionados ao melhoramento, desenvolveram técnicas silviculturais, investiram em conhecimentos de solos e nutrição de árvores, avaliaram as interações genótipo-ambiente, produziram conhecimentos pró-sustentabilidade, como ciclagem de nutrientes, aproveitamento dos resíduos orgânicos industriais e do lixo urbano, técnicas de cultivo mínimo, visando ao uso adequado dos

" E o futuro? O futuro certamente guarda ao engenheiro florestal uma participação ativa na concepção de alternativas que possam ser produtivas, sem perder a noção de que a manutenção da biodiversidade é a essência da vida. Ele tem competência para isso." Helton Damin da Silva Chefe Geral da Embrapa Florestas

Em 1963, o curso foi transferido para Curitiba, PR. A importância dessa nova profissão e o seu significado para a sociedade mineira ficaram demonstrados com a reestruturação de um novo curso, já a partir de 1964, em Viçosa. Os profissionais da engenharia florestal têm como característica o mesmo espírito desbravador, empreendedor e entusiasta dos pioneiros que iniciaram a atividade florestal no Brasil. É uma profissão que atua amigavelmente com outras como, por exemplo, a engenharia agronômica, a biologia, a engenharia ambiental, entre outras. Já na década de 1960, as condições brasileiras eram favoráveis ao desenvolvimento florestal, pois, além de extensas áreas florestais nativas, passíveis de manejo florestal, as condições de clima e solo eram altamente favoráveis ao plantio de florestas de produção, com espécies exóticas como eucalipto e pínus. Durante os últimos cinquenta anos, observou-se um imenso investimento institucional na área florestal. Além das universidades, foram criadas instituições de pesquisa; as empresas do setor privado investiram em seus departamentos de pesquisa e desenvolvimento; oportunizaram-se treinamentos; desenvolveram-se equipamentos de plantio e exploração florestal e equiparam-se os laboratórios, fatos esses que propiciaram uma evolução significativa do setor. Constata-se que a demanda brasileira por produtos das florestas, notadamente madeira para diferentes usos, é bastante significativa. O Brasil se tornou, nos últimos cinquenta anos, autossuficiente no setor de celulose e papel, e é o maior produtor de carvão vegetal do mundo, sendo a madeira ainda responsável por aproximadamente 16% da matriz energética brasileira.

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solos, e investiram nos sistemas agroflorestais. Desvendaram os genótipos dos eucaliptos, produziram clones de alta produtividade, desenvolveram sistemas de controle biológico de pragas e doenças. Enfim, transformaram o Brasil no maior detentor de conhecimentos silviculturais do planeta. Esses esforços elevaram a produtividade florestal de 12m3. ha.ano-1, nos anos 60 e 70 do século passado, para 45m3. ha.ano-1, média nacional, sendo que, em alguns nichos, a produtividade alcança valores superiores a 60m3.ha.ano-1. A preocupação com a exploração adequada dos recursos florestais naturais levaram à aplicação de técnicas que, com exatidão, permitem cálculos do estoque de madeira em uma floresta e como manejá-la de forma sustentável. O meio ambiente e a sua preservação para o futuro passaram a ser o enfoque principal, atuando-se efetivamente no fornecimento de subsídios técnicos para a revisão da atual legislação florestal. Os investimentos na preservação das áreas mais frágeis também foram considerados. Constata-se que, de toda a área destinada ao plantio de florestas de produção, 46% são das áreas preservadas com espécies nativas, aproximadamente 2,7 milhões de hectares. O setor florestal brasileiro evoluiu para melhor, tornou-se referência mundial, alavancou outros setores da economia, contribuiu para a geração de empregos, renda e impostos, e o profissional da engenharia florestal, com certeza, é o maior responsável por essas conquistas. E o futuro? O futuro certamente guarda ao engenheiro florestal uma participação ativa na concepção de alternativas que possam ser produtivas, sem perder a noção de que a manutenção da biodiversidade é a essência da vida. Ele tem competência para isso.



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Opiniões

solos e nutrição florestal:

contribuição para a silvicultura brasileira

O rápido desenvolvimento da ciência florestal e da silvicultura no Brasil não encontra paralelo no mundo. O expressivo aumento da produtividade florestal, em especial do eucalipto, que passou de, aproximadamente, 15 m3/ha/ano, no início da década de 70, para valores próximos de 40 m3/ ha/ano, atualmente, e a competitividade dos produtos derivados de florestas plantadas no mercado mundial são dois indicadores da competência dos profissionais do setor. A área de solos e nutrição florestal tem contribuição marcante para o alcance desses indicadores, pois, por meio do manejo do solo e da nutrição das plantações, disponibilizam-se os dois principais recursos demandados pelas árvores para seu crescimento: água e nutrientes. Com o advento dos incentivos fiscais, os plantios florestais avançaram para a região de cerrados, onde os solos são ácidos e pobres em nutrientes minerais. Por isso a utilização de fertilizantes tornou-se necessária, conforme demonstrado pelo professor Heládio do Amaral Mello em sua tese de livre-docência. Por algum tempo, o uso da formulação NPK 8-28-16 foi generalizada, pois não havia critérios de interpretação das análises de solo. Perguntas sobre a tolerância do eucalipto ao alumínio e sua demanda por nutrientes ficavam sem respostas, o que caracterizava a irracionalidade das correções e adubações, ainda que se conseguissem ganhos com seu uso. A sistematização dos estudos sobre adubação começou em 1974, com experimentos sobre o efeito de doses de calcário, de N, P, K e micronutrientes. Os estudos se solidificaram em 1982 por meio do convênio UFV/IBDF, com a extensão dessa rede para as principais regiões de plantio de eucalipto no estado de Minas Gerais, culminando com uma série de trabalhos, por meio dos quais ficou demonstrada a grande tolerância do eucalipto ao alumínio e que a aplicação de calcário se justificaria, quando necessária, para fornecimento de Ca e Mg às plantas. A essas alturas, já estava clara a grande dependência da produção à aplicação de fósforo e fortes evidências de que o potássio seria o próximo nutriente que limitaria a produção do eucalipto, pela quantidade absorvida pela planta e seus baixos teores nos solos para os quais o cultivo avançava. Em 1982, foram publicados Níveis Críticos de Implantação e, em 1986, os Níveis Críticos de Manutenção, estes com base no conteúdo de nutrientes em plantações e no conceito de eficiência de utilização de nutriente (CUB). Esse conceito permitiu o desenvolvimento de um sistema para recomendação de corretivos e fertilizantes para o plantio de eucalipto - Nutricalc, que calcula o balanço de nutrientes no sistema e recomenda ou não fertilizantes.

Esse software é, atualmente, utilizado por várias empresas florestais para orientar o manejo nutricional de seus plantios de eucalipto. O início do Programa Cooperativo em Solos e Nutrição do Eucalipto em 1990, envolvendo as principais empresas florestais do Brasil, foi outra marca importante nos estudos sobre o assunto. Nesse mesmo ano, foi lançado o primeiro livro específico no assunto, Relação Solo-Eucalipto, que registrou as principais informações obtidas até aquela época. Dentre os avanços da década de 90, registram-se os ganhos adicionais em produção pela utilização de fosfatos naturais, inicialmente aplicados em área total e, depois, na linha ou sulco de plantio, o que permitiu melhor aproveitamento do fósforo pelas árvores, maior produção de madeira e, consequentemente, utilização de menores quantidades do insumo. Os plantios realizados em regiões com períodos de seca prolongados devem receber, obrigatoriamente, boro para evitar a seca de ponteiros das árvores e perdas de produção que chegam a mais de 30%. A sustentabilidade da produção florestal é outra preocupação que merece atenção. A matéria orgânica do solo é tida como um dos principais indicadores da saúde de solos florestais e um dos principais depositórios de CO2 da atmosfera. Ela tem sido profundamente pesquisada na UFV por meio do Programa Temático Solos e Nutrição Florestal (Nutree), avaliando-se o efeito de técnicas de manejo do solo e de povoamentos florestais na dinâmica do carbono em plantações de eucalipto. O plantio de eucalipto continua avançando para áreas com fortes restrições hídricas. O estudo dos mecanismos que facultam diferentes materiais genéticos a resistirem a períodos de seca prolongados e o possível envolvimento nutricional em aliviar as plantas de estresse hídrico constituem temas de relevância fundamental para a pesquisa nos próximos anos. O uso de técnicas de biotecnologia parece ser uma das opções para avanços mais rápidos e seguros na seleção de genótipos adequados para plantios em áreas sujeitas às secas prolongadas, determinadas por razões das condições naturais da região ou pelas mudanças climáticas, tão discutidas nos anos recentes. Por fim, sendo o cultivo florestal uma atividade de longo prazo, as informações geradas pela pesquisa devem permitir predizer e não constatar fatos. Para isso, o desenvolvimento de modelos e sua conversão em ferramentas de gestão facilitam a tomada de decisão na empresa. Ferramentas tais como o Nutreecalc (para a recomendação de corretivos e fertilizantes) e o Nutreelyptus (para diagnose de distúrbios nutricionais) são bons exemplos de transformação de conhecimento em tecnologia para uso pelo setor produtivo.

" o uso de técnicas de biotecnologia parece ser uma das opções para avanços mais rápidos e seguros na seleção de genótipos adequados para plantios em áreas sujeitas às secas prolongadas, por condições naturais da região ou pelas mudanças climáticas " Nairam Félix de Barros e Roberto Ferreira de Novais

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Professores do Dpto de Solos da UF de Viçosa



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o futuro do ensino da engenharia florestal

no Brasil

Em 1978, recebi o grau de engenheiro florestal no curso de Engenharia Florestal da UFPR - Universidade Federal do Paraná, o primeiro do Brasil, criado pelo decreto federal 48.247, e que, em 30 de maio de 2010, comemora os seus 50 anos de existência, representando o jubileu de ouro da engenharia florestal no Brasil. Em 1979, iniciei a carreira docente na UFPR e, desde então, tenho procurado acompanhar a qualidade do ensino, monitorando junto aos meus alunos conhecimentos que atendam às exigências do mercado empresarial associadas aos resultados do ensino, da pesquisa e da extensão. O exercício de cargos administrativos na UFPR e a participação em projetos do Ministério da Educação me permitiram adquirir experiências que, hoje, são de muita valia para a construção de programas educacionais visando ao mercado de trabalho. Comecei a analisar a importância do ensino da engenharia florestal direcionado à formação do “verdadeiro” engenheiro florestal, de modo a não permitir que o profissional formado na UFPR saia da academia sem saber qual o seu papel diante da engenharia das florestas associada à natureza, aos benefícios sociais e ao mercado de trabalho, sempre atendendo aos princípios da sustentabilidade para a manutenção da biodiversidade no planeta.

Deverá conter disciplinas profissionalizantes adequadas às exigências das atuais realidades ambientais, atendendo às necessidades das empresas que utilizam recursos florestais. O novo currículo do curso de engenharia florestal da UFPR foi implantado em março de 2010, com base nas Novas Diretrizes Curriculares Nacionais, e prevê o atendimento ao anteriormente citado, com instrumentos que permitem modificações isentas de desgastantes processos burocráticos. O elenco de disciplinas é composto por matérias obrigatórias, que contemplam em seus programas os conhecimentos fundamentais, aprofundados e necessários como base a outras disciplinas, chamadas de complementares, destinadas à formação profissional adequada às realidades atuais do mercado. Foi com base em análises de resultados de consultas efetuadas a órgãos governamentais, empresas florestais, professores e alunos que verificamos, juntamente com a equipe responsável pela elaboração do novo projeto político-pedagógico, a necessidade de, além dos princípios que norteiam a formação do engenheiro florestal, incluir disciplinas de gestão florestal, organização e administração florestal, as quais permitirão aos futuros profissionais entender e administrar o equilíbrio necessário

" recomendo uma reflexão sobre a realidade da qualidade dos profissionais que estão sendo formados em engenharia florestal, uma vez que as avaliações educacionais têm mostrado a deficiência que os alunos possuem em conhecimentos fundamentais para o exercício profissional "

Dartagnan Baggio Emerenciano Coordenador do Curso de Engenharia Florestal da UFPR

Em 4 anos como coordenador do curso, pude presenciar, tanto no nosso curso como também em alguns outros do Brasil, o que representa currículos desatualizados, gessados em princípios jurássicos e por burocracias que os impedem de ser modificados para atender às realidades ambientais e do mercado nacional e internacional. Também percebi desvios de foco, os quais direcionaram o ensino a um rumo que não o dos princípios do engenheiro florestal. Ocorreram, e ainda ocorrem, distorções, sendo a maioria provocada por docentes que adestram o aluno a pensar, por exemplo, que o engenheiro florestal deverá ser um biólogo, um botânico, um ecologista ou ambientalista, ignorando que essas profissões voltam os seus currículos e os seus modelos para uma formação profissional especializada. O futuro do ensino da engenharia florestal deverá ter como base essas realidades, e o elenco das disciplinas curriculares não deverá contemplar somente os conhecimentos fundamentais de disciplinas afins, da silvicultura, do manejo florestal, da tecnologia e da economia florestal.

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para a transferência de recursos do ambiente natural para o econômico. Na minha opinião, a engenharia florestal deve ter como foco o manejo sustentável de áreas florestais e a produção de madeiras, atendendo às necessidades econômicas e sociais. O manejo da floresta e a aplicação de tecnologias adequadas são instrumentos econômicos importantes no contexto da política social, obedecendo a objetivos que servem de meta à economia geral, como abastecimento de mercados, geração de empregos, crescimento econômico, conservação do meio ambiente e economia externa. Para concluir, recomendo uma reflexão sobre a realidade da qualidade dos profissionais que estão sendo formados em engenharia florestal, uma vez que as avaliações educacionais, tanto internas, de Instituiçoes de Ensino Superior, como as externas, do Ministério da Educação, têm mostrado a deficiência que os alunos, em sua grande maioria, possuem em conhecimentos de silvicultura, inventário e manejo florestal, conhecimentos esses fundamentais para o exercício profissional de um engenheiro florestal de qualidade.



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o sistema florestal brasileiro é

sustentável " Com a adoção de incentivos fiscais para o reflorestamento, em meados da década de 1980, o Brasil teve uma impressionante evolução da base de florestas plantadas de menos de meio milhão de hectares para mais de seis milhões de hectares " Glauber Pinheiro Presidente da SBEF - Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais

Em 30 de maio de 1960, criou-se a Escola Nacional de Florestas, primeira do ramo no Brasil, sediada em Viçosa e posteriormente transferida para Curitiba em 14 de novembro de 1963. O período inicial de funcionamento do curso, de 1961 a 1969, foi caracterizado pela existência do Convênio de Assistência das Nações Unidas, através da FAO, conhecido como "Projeto 52". De 1971 a 1982, vigorou o Convênio de Cooperação Técnica entre a UFPR e a Universidade Albert-Ludwig, de Freiburg, Alemanha. Foi durante esse período que houve um efetivo desenvolvimento da Faculdade de Florestas de Curitiba em ensino, pesquisas e extensão florestal, incluindo a criação, em 1973, do primeiro curso de pós-graduação de mestrado em engenharia florestal do Brasil. Posteriormente, em 1982, foi também criado o primeiro curso de doutorado. A prática de ensino florestal tem seu registro desde a era Ming, na China, em 1490, embora a primeira escola de silvicultura, que formava especialistas em ciência florestal, tenha sido criada em 1786, em Zillbach, Alemanha, pelo professor Heinrich Cotta, transferida em 1811 para Tharandt, em 1816, transformada na Academia Florestal Real da Saxônia. Em 1825, também na Alemanha, foi fundada a Universidade de Gissem; em 1830, a Academia de Eberswald e a Academia Florestal de Eisenach; depois, as Universidades de Carlsruhe, München e Tübingen, espalhando-se depois por toda a Europa. A primeira escola das Américas foi fundada em 1895, em Baltimore, EUA. Em 11 de julho de 1968, em Belo Horizonte, foi fundada a Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais – SBEF. Com a adoção de incentivos fiscais para o reflorestamento, em meados da década de 1980, o Brasil teve uma impressionante evolução da base de florestas plantadas de menos de meio milhão de hectares para mais de seis milhões de hectares, proporcionando grande evolução científica em silvicultura, melhoramento genético, manejo e colheita florestal e tecnologia de produtos. Isso colocou o País entre os principais produtores florestais do mundo. Nessas cinco décadas de existência, destacamos o desenvolvimento tecnológico do setor, o avanço na área de pesquisa, a difusão da profissão, a criação de 58 cursos de graduação, a inserção da temática ambiental na sociedade

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e o reconhecimento do papel que os ecossistemas florestais desempenham na manutenção do equilíbrio ambiental e do bem-estar dos seres humanos. O conceito de sustentabilidade sempre foi um princípio básico da engenharia florestal. Foi com esse objetivo que a profissão foi criada: “tornar sustentável”. A matéria-prima de origem florestal é fundamental para a humanidade e necessita de longo tempo para a sua produção. O crescimento da população e a demanda são diretamente proporcionais. Assim, temos que planejar a atividade para que ela seja sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental. Econômico, para que não haja desabastecimento e para suportar financeiramente os longos ciclos; social, pois haverá um convívio de bastante tempo entre a atividade e as comunidades locais e também porque envolve um grande número de trabalhadores, o que significa a necessidade de grande interação entre o empreendimento e a comunidade; e ambiental, pois dependemos diretamente das condições ambientais para o sucesso da atividade e da sua perpetuação. Diferentemente de algumas atividades, que alteram completamente o terreno, substituem a cobertura por uma cultura geralmente estranha àquele local, introduzem novos componentes, como fertilizantes e agrotóxicos, e depois simplesmente abandonam a área para outros usos, a nossa atividade é muito mais dependente da sustentabilidade ambiental e não é financeiramente viável com a utilização de grandes quantidades de insumos externos. Por isso nos pautamos pela máxima manutenção possível das condições ambientais. Além disso, a nossa produção de matéria-prima ocorre de forma inversa à maioria das indústrias, já que acontece a partir do consumo de CO2, tendo como resíduos água e oxigênio. O setor florestal é responsável por aproximadamente 5% do PIB brasileiro, com a produção florestal anual de US$ 46,1 bilhões, gerando 8,6 milhões de empregos com potencial para muito mais. Temos 61,5% do território coberto por ecossistemas florestais, com atuais 524 milhões de hectares, e ocupamos lugar de destaque mundial em ciência e tecnologia florestal. Havendo mais incentivo para a atividade, poderíamos gerar muito mais riquezas e empregos, além de garantirmos as condições ambientais, através de uma atividade verdadeiramente sustentável.


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A V & M FLORESTAL pertence ao Grupo Vallourec e é uma das pioneiras no país no plantio e manejo de florestas renováveis de eucalipto. Criada em 1969, sua missão é produzir carvão vegetal, insumo utilizado no processo de produção autossustentável dos tubos de aço sem costura V & M do BRASIL. Sem perder de vista a responsabilidade socioambiental em suas ações, combinando investimentos em pesquisa Grupo Vallourec

e tecnologia com o uso racional dos recursos naturais, a empresa contribui para que os produtos V & M do BRASIL recebam o título de Tubos Verdes. Esta importante conquista é fruto de muita dedicação e competência dos nossos engenheiros florestais. 50 anos da Engenharia Florestal no Brasil. A V & M FLORESTAL tem orgulho de fazer parte dessa história.

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as histórias se confundem Até o início dos anos 60, o setor florestal brasileiro era pouco expressivo para a economia, e não havia no País escolas de formação em engenharia florestal, limitando, assim, os avanços tecnológicos para o incremento das atividades do setor. Objetivando o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da economia florestal no Brasil, em maio de 1960, foi criado, em Viçosa-MG, o primeiro curso superior de engenharia florestal, nominado “Escola Nacional de Florestas”. Após a criação do curso, diversas ações dos governos federal e estaduais propiciaram a criação do Código Florestal, do Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal - IBDF, do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais - IEF/MG, dentre outros. A formulação de políticas dos incentivos fiscais para o reflorestamento foi um marco importante para o incremento de plantios florestais, além da criação de outros cursos superiores de engenharia florestal, que impulsionaram significativamente o setor. Hoje, o curso de engenharia florestal da Universidade Federal de Viçosa é sinônimo de excelência na formação de profissionais, sendo reconhecido como um dos melhores do Brasil. A Parceria Público-Privada na pesquisa florestal iniciou-se em 8 de janeiro de 1974, com a criação da SIF – Sociedade de Investigações Florestais, por meio de um convênio firmado entre a Universidade Federal de Viçosa, por meio do Departamento de Engenharia Florestal, e as empresas florestais, com o objetivo de promover a pesquisa florestal e estreitar ligação entre a universidade e o setor privado. Nos seus mais de 36 anos de existência, a SIF congrega, em seu quadro de associados, empresas do setor florestal brasileiro e estrangeiro, ligadas às mais diversas áreas de interesse, como celulose, papel, carvão vegetal, energia, serrarias, cimento e mineração, dentre outras.

Para atingir seus objetivos, a SIF conta com o apoio da UFV, que disponibiliza sua infraestrutura de recursos humanos e materiais, para que, dessa forma, sejam desenvolvidos trabalhos e pesquisas que possam oferecer significativa contribuição à sociedade. Além do relacionamento direto com as empresas associadas, a SIF mantém estreito relacionamento com organismos governamentais e não governamentais, bem como com as empresas privadas, por meio de convênios, programas cooperativos, comissões técnicas, cursos, simpósios, projetos, consultorias e serviços em geral. Como órgão de divulgação das pesquisas e estudos realizados, com forte atuação na gestão da informação e do conhecimento, a SIF publica, bimestralmente, a revista Árvore, o Jornal SIF e o Informativo Técnico; além de promover eventos técnicos, usa também mecanismos modernos de comunicação com a comunidade científica e a sociedade em si. Consolidadas as potencialidades do Brasil na atividade florestal, fica evidenciado que o setor pode contribuir ainda mais para o incremento da economia brasileira nos próximos anos, desde que maiores investimentos em políticas públicas favoráveis e de desburocratização sejam implementadas. Após 50 anos de criação do primeiro curso superior de engenharia florestal no Brasil e de 36 anos da criação da SIF, passamos a ser respeitados internacionalmente por possuirmos uma das silviculturas mais desenvolvidas e produtivas do mundo. Com isso, deixamos de ser importadores, alcançando a posição de exportadores de vários produtos e tecnologias florestais. O ano de 2010 é, sem dúvida, um marco para a engenharia florestal no Brasil. As memórias da criação do primeiro curso podem ser facilmente confundidas com a história da UFV e da SIF. Orgulhosos, comemoramos os 50 anos da criação do cur-

" o objetivo da SIF é promover o desenvolvimento florestal por meio de elaboração, execução, análise e divulgação de pesquisas e estudos relacionados com problemas técnicos e econômicos do setor florestal brasileiro "

João Cancio de Andrade Araújo Presidente da SIF - Sociedade de Investigações Florestais

A missão da SIF é a promoção do desenvolvimento tecnológico, com alto padrão de qualidade, somando os recursos e necessidades da universidade aos de empresas e outras organizações, sempre em benefício da sociedade. O objetivo da SIF é promover o desenvolvimento florestal por meio de elaboração, execução, análise e divulgação de pesquisas e estudos relacionados com problemas técnicos e econômicos do setor florestal brasileiro, bem como da ciência florestal como um todo.

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so superior de engenharia florestal, digna de significativas contribuições para o crescimento do ensino, da pesquisa, do desenvolvimento técnico e econômico do setor florestal e do Brasil. A SIF se sente honrada por constituir parte dessa história, não só no campo das florestas plantadas de alta produtividade, mas também nas ações de cunho ambiental e social inerentes a todo empreendimento nos dias atuais, fatores essenciais na lapidação de profissionais cada vez mais competentes.



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o ensino florestal no A engenharia florestal da Universidade Federal do Paraná - UFPR, criada em 30 de maio de 1960, com o nome de Escola Nacional de Florestas (ENF), foi instalada primeiramente na então Universidade Rural do Estado de Minas Gerais - UREMG, hoje Universidade Federal de Viçosa - UFV. No entanto, após 4 anos em Viçosa, em novembro de 1963, foi oficialmente transferida para Curitiba e incorporada à Universidade Federal do Paraná - UFPR. Com a transferência da Escola Nacional de Florestas para Curitiba, o governo do estado de Minas Gerais criou, em fevereiro de 1964, a segunda Escola de Florestas do Brasil, então denominada Escola Superior de Florestas, incorporando-a à UREMG, em Viçosa. Apesar de se reconhecer a necessidade da criação de um curso de nível superior em engenharia florestal e de surgirem várias proposições nesse sentido, desde a década de 1920, somente a proposta de 1958 obteve sucesso. Essa proposição surgiu dentro do Serviço Florestal do Ministério da Agricultura. Embora o grupo do Rio de Janeiro tenha proposto a locação da nova escola junto às então Escola Nacional da Agronomia e Nacional de Veterinária, hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por decisão unilateral do então presidente Juscelino, a Escola Nacional de Florestas – ENF foi alocada no seio da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, hoje UFV. Como no Brasil daquela época não havia disponibilidade de professores para as disciplinas profissionalizantes, o governo brasileiro firmou, em novembro de 1961, um convênio com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, tendo a FAO como gerenciadora. Com a chegada dos primeiros professores da FAO, oriundos de diversos países, notadamente da Europa, estes começaram a questionar a localização da Escola Nacional de Florestas - ENF, e, ao mesmo tempo, fazer gestões para a transferência da ENF para outro lugar onde, segundo eles, houvesse maior tradição florestal. Após dois anos, a ENF foi transferida para Curitiba, com professores, estudan-

Brasil

tes e funcionários, e anexada à Universidade do Paraná, passando, assim, do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação e Cultura. Esse foi um fato inédito. Em 1967, foi criada a terceira escola de florestas do Brasil, alocando-a na hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Na década de 1960, foram formados apenas 198 engenheiros florestais, dos quais 149 em Curitiba (UFPR), e 49 em Viçosa (UFV), então federalizada em 1969. O ensino florestal no Brasil continuou evoluindo nos anos seguintes com a criação de mais 7 escolas na década de 1970, 5 escolas nos anos de 1980 e mais 5 na década de 1990, perfazendo um total de 20 escolas até o ano 2000. O conjunto desses cursos graduou 1.644 engenheiros florestais entre 1970 e 1979; 3.168 entre 1980 e 1989; 2.642 entre 1990 e 1999, perfazendo um total de 7.652 engenheiros florestais nas quatro primeiras décadas de existência da engenharia florestal no Brasil. Os anos de 2000 foram pródigos na criação de cursos de engenharia florestal no Brasil, passando de 20 para 57 cursos, portanto praticamente o dobro dos criados nos 40 anos anteriores. Somente nesta década de 2000, foram graduados aproximadamente 7.535 engenheiros florestais (INEP). Isso significa que os graduados nessa década é praticamente igual ao número das quatro décadas anteriores. A soma dos números por década indica que, atualmente, somos 15.187 engenheiros florestais formados no Brasil, com tendência de aumentar consideravelmente, tendo em vista que muitas das escolas recém-criadas ainda não tiveram egressos. A pós-graduação também teve grande impulso desde que foi criada em 1972 e instalada em 1973, na Escola de Curitiba (mestrado), seguida por Viçosa (1976), USP-ESALQ - Piracicaba (1976), INPA (1980). Esses cursos deram o suporte de recursos humanos para a criação e o desenvolvimento de outros. Mantendo o pioneirismo nos três níveis acadêmicos, a Escola de Curitiba criou, em 1982, o primeiro curso de doutorado em engenharia florestal no Brasil. Em 1989, surgiu o segundo curso de doutorado, em Viçosa. Até 2000, eram dez os programas de pós-graduação, nível de mestrado, e apenas quatro de doutorado. Em 2010, já são 19 cursos/programas que oferecem o mestrado e 13 de doutorado. Esses cursos têm formado, em média, nos últimos anos, 190 mestres e 65 doutores.

" Os cursos de engenharia florestal graduou 198 engenheiros nos anos 60, 1.644 nos anos 70, 3.168 nos anos 80 e 2.642 nos anos 90. Nos anos de 2000, os cursos de engenharia florestal passaram de 20 para 57 e graduaram 7.535 engenheiros. Somos, no Brasil, atualmente, 15.187 engenheiros florestais. " Sebastião do Amaral Machado

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Professor de Mensuração Florestal da UFPR



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está bom, mas tem que melhorar Ao comemorarmos o jubileu de ouro da engenharia florestal no Brasil, não poderíamos deixar de mencionar Edmundo Navarro de Andrade, que, por volta de 1903, em Jundiaí, SP, começou a cultivar as primeiras espécies de eucalipto em terras da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Andrade decidiu experimentar o eucalipto, ainda praticamente desconhecido no Brasil, mas que, em Portugal, onde estudara, já era empregado em reflorestamento. O governo de São Paulo, por sua vez, realizou também, na década de 1950, por meio de seu serviço florestal, experiências bem-sucedidas com outras coníferas de rápido crescimento, principalmente o Pinus elliottii. No início da década de 1960, o Brasil vivia uma época de grande expansão industrial com o governo de Juscelino Kubitschek, que exigia o desenvolvimento do setor florestal, entre outros, para reduzir a dependência de alguns produtos importados. Nessa década, surgiu em Minas Gerais, o Curso Superior Brasileiro de Engenharia Florestal denominado Escola Nacional de Florestas - ENF, a qual, passados três anos, foi transferida para Curitiba, PR. Mas foi em 1966, com o surgimento dos incentivos fiscais para o reflorestamento, que a atividade de engenheiro florestal teve a sua importância potencializada, com a busca de profissionais da área de engenharia florestal para desenvolverem suas atividades de silvicultores, verdadeiros especialistas na ciência florestal.

Com os benefícios legais, surgiu um grande número de interessados nessa atividade, aproveitando os recursos financeiros disponíveis. O reflorestamento tornou-se uma operação em grande escala. Dez anos depois da aprovação da legislação de incentivos fiscais, o Brasil era um dos quatro países que mais promoviam plantios de árvores no mundo, depois da China, da antiga União Soviética e dos Estados Unidos. Nos anos de 1970, iniciaram-se os estudos sobre melhoramento vegetal das espécies de rápido crescimento, procurando detectar as mais adequadas e as procedências mais produtivas. Como a qualidade das sementes disponíveis deixava muito a desejar, no final da década, começaram-se a empregar as técnicas de melhoramento genético para o eucalipto. Houve um salto de qualidade nos povoamentos dessa espécie. Cinco anos depois, as pesquisas de melhoramento vegetal visavam à obtenção de árvores com maior potencial de crescimento. Aliado aos estudos de fisiologia vegetal, demonstrou-se ser possível efetuar a propagação vegetativa em larga escala para atender à grande demanda de matéria-prima florestal pelas indústrias, que culminou com a introdução das modernas técnicas de clonagem. Observa-se que a demanda por madeira aumenta a cada ano, e, mesmo que o mercado venha a sofrer retração no futuro próximo, continua o problema: o ritmo dos plantios não consegue acompanhar a elevação gradual do

" observa-se que a demanda por madeira aumenta a cada ano, e, mesmo que o mercado venha a sofrer retração no futuro próximo, continua o problema: o ritmo dos plantios não consegue acompanhar a elevação gradual do consumo ao longo dos anos " Marcílio Caron Neto Presidente da Associação Sul Brasileira das Empresas Florestais

Os engenheiros florestais foram os responsáveis, nessa época, pela implantação de aproximadamente 3 milhões de hectares, com empreendimentos florestais constituídos pelos incentivos fiscais, cujas florestas constituíam-se em espécies de eucalipto e pinus, matérias-primas que alimentam uma próspera cadeia produtiva da madeira, como as fábricas de papel, celulose, carvão vegetal (siderurgias), madeira serrada (móveis, construção civil), compensados e energia. O grande desenvolvimento das atividades de reflorestamento no Brasil trouxe uma considerável demanda por tecnologia na formação das florestas de rápido crescimento. Surgiram outros cursos superiores em engenharia florestal, resultado da demanda de profissionais para o mercado, e, na busca de mão de obra especializada, as universidades começaram a oferecer cursos de pós-graduação, qualificando ainda mais os especialistas, em silvicultura, manejo florestal, melhoramento florestal, economia florestal e implantadores de indústrias de processamento da madeira.

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consumo ao longo dos anos. O governo brasileiro já alertou que, caso não se efetuem novos plantios, o Brasil pode tornar-se um importador de madeira, apesar do seu rico patrimônio florestal. Precisamos plantar 300 mil hectares por ano, porque o mercado consumidor de vários produtos, como papel e móveis, vem crescendo. Em decorrência dos efeitos da crise mundial, o VBPF - Valor Bruto da Produção Florestal, estimado para o setor de florestas plantadas e as cadeias produtivas integradas alcançou R$ 46,6 bilhões em 2009, com queda de 11,7% diante do VBPF de R$ 52,8 bilhões em 2008. O Brasil possui um enorme know-how em implantação de empreendimentos florestais, graças à competência e à especialização da engenharia florestal no Brasil, possuidor de 6,31 milhões de hectares de florestas de rápido crescimento, que geram bens e serviços à sociedade em geral; as florestas se destacam por oferecer importantes contribuições nos aspectos econômicos, sociais e ambientais.



herdeiros dos homens de fibra

as gerações

de engenheiros florestais " um olhar atento e filosófico para o futuro, com um sólido conhecimento do passado, mostra-nos que a engenharia florestal do século XXI caminha a passos largos para mais algumas mudanças, dando àqueles observadores mais atentos a clara noção da volatilidade das fronteiras do saber " Francides Gomes da Silva Junior Professor de Tecnologia de Celulose e Papel da Esalq-USP

A história da engenharia florestal no Brasil é bem conhecida de todos os profissionais que atuam na área; sempre que se elabora a biografia de algum profissional de destaque ligado ao setor, ou se faz uma avaliação histórica da atividade florestal no Brasil, essa história é mais uma vez recontada. Nesta edição da Revista Opiniões, a história da engenharia florestal no Brasil é apresentada com riqueza de detalhes por efetivas testemunhas oculares. A engenharia florestal tem sua raiz ligada às ciências agrárias, e sua origem, nas principais universidades brasileiras, ligada aos cursos de agronomia - as universidades formavam agrônomos silvicultores. Apesar da raiz comum, as particularidades e complexidade das atividades florestais formam um arcabouço técnico e científico que compõe o que hoje se denomina ciência florestal. A consolidação desse conceito extrapola as ciências agrárias, que não mais conseguem acomodar as necessidades da sociedade, especialmente a brasileira de meados do século passado. É sob esse contexto que nasce a engenharia florestal no Brasil; em um primeiro momento, com uma visão de florestas de produção, visando atender à crescente demanda brasileira por madeira para processamento industrial oriunda de florestas plantadas. Os primeiros cursos no Brasil, por mais paradoxal que possa parecer, ainda formavam “engenheiros silvicultores”, e isso era compreensível, pois a grande maioria dos docentes era composta por agrônomos silvicultores. As primeiras turmas de engenheiros florestais formados pelas universidades brasileiras foram rapidamente absorvidas pelo mercado, uma vez que a demanda por esses profissionais era grande, em face do desenvolvimento que atividades florestais brasileiras apresentavam à época. De uma forma pseudodidática, podemos dizer que os dez primeiros anos da engenharia florestal no Brasil deu origem à primeira geração de engenheiros florestais brasileiros. Essa geração de engenheiros florestais contribuiu significativamente para a consolidação da profissão de engenheiro florestal, e esse profissional ocupa lugar de destaque no setor, tanto público quanto privado. A ampliação das áreas de plantios florestais no Brasil trouxe à tona a discussão sobre os possíveis impactos socioambientais das atividades silviculturais; essa discussão teve reflexo na reestruturação da formação acadêmica dos engenheiros florestais com a inclusão de diversas disciplinas que tratam desse tema. Essa ampliação no

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escopo da formação do engenheiro florestal trouxe para a ciência florestal profissionais com formações distintas, tais como biólogos, geógrafos, ecólogos, gestores ambientais, economistas, sociólogos, entre outros. Essa movimentação contribuiu para a consolidação de um importante segmento da engenharia florestal, a qual corresponde à área, genericamente, denominada de manejo e conservação de ecossistemas florestais. O aumento da produção de florestas para fornecimento de madeira para processamento industrial mostrou a necessidade de profissionais com formação específica no que se refere ao processamento industrial da madeira - tecnologia de produtos florestais, área esta, cuja formação ainda está restrita à engenharia florestal e, mais recentemente, à engenharia industrial madeireira. Os aspectos mencionados anteriormente mostram que a engenharia florestal no Brasil está sustentada por três pilares genericamente denominados: silvicultura (no seu sentido mais amplo), conservação e manejo de ecossistemas florestais e tecnologia de produtos florestais. Essa divisão encontra reflexo nos diversos cursos de engenharia florestal, atualmente distribuídos em todo o território nacional. Os cursos de engenharia florestal com maior enfoque em silvicultura são aqueles primordialmente ligados às universidades pioneiras na implantação da carreira de engenheiro florestal e que geograficamente estão localizados nas regiões brasileiras mais tradicionais na produção de florestas plantadas. Os cursos com maior enfoque em manejo e conservação de ecossistemas florestais estão ligados a faculdades e universidades com maior vocação para a área de biologia e ecologia e localizados em regiões com ecossistemas florestais de importância estratégica para o Brasil e para o mundo. Os cursos de engenharia florestal com maior enfoque na área de tecnologia de produtos florestais encontram-se ligados efetivamente à área das engenharias propriamente ditas. Ao completar 50 anos, a engenharia florestal no Brasil vê a sua primeira geração de profissionais completar seu ciclo e ser substituída por novos engenheiros florestais, estes, por sua vez, formados efetivamente por engenheiros florestais. Um olhar atento e filosófico para o futuro, com um sólido conhecimento do passado, mostra-nos que a engenharia florestal do século XXI caminha a passos largos para mais algumas mudanças, dando àqueles observadores mais atentos a clara noção da volatilidade das fronteiras do saber.


Opiniões

a busca da

sustentabilidade

" o florescimento do sistema florestal ocorreu logo após a promulgação da atual versão do Código Florestal, em 1965, fazendo com que os plantios florestais fossem regulados pela lei ambiental desde o seu nascimento, o que os diferenciou de outras culturas agrícolas " Silvio Frosini de Barros Ferraz Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

O setor florestal ganhou impulso no Brasil a partir da lei dos incentivos fiscais de 1966, quando surgiram as principais áreas de plantios florestais que persistem até hoje. Uma das peculiaridades do setor é que seu florescimento, devido à referida lei, ocorreu logo após a promulgação da atual versão do Código Florestal em 1965, fazendo com que os plantios florestais fossem regulados pela lei ambiental desde o seu nascimento, o que os diferenciou de outras culturas agrícolas. A sua existência recente, quando comparada aos demais setores agrícolas brasileiros, e sua implantação, sempre regulada pelas obrigações impostas pela legislação ambiental, talvez explique, juntamente com outros fatores, como certificação, mercado externo e a visão dos profissionais pioneiros no setor, os altos investimentos realizados pelo setor na área ambiental. Esses investimentos resultaram na instalação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal para atendimento à legislação, e o setor florestal, impulsionado pelas pesquisas realizadas, foi mais além, com o monitoramento ambiental, melhoramento genético, cultivo mínimo, planejamento ambiental apoiado em sistemas de informações geográficas, manejo integrado de pragas, entre outras técnicas que aperfeiçoaram o manejo florestal, tornando-o mais eficiente e de menor impacto ambiental. Embora ainda seja controverso calcular seu retorno econômico, é consenso que os investimentos realizados foram positivos e auxiliaram no aumento da produtividade, reduziram efeitos adversos ao meio ambiente, permitiram melhor conservação do patrimônio florestal, reduziram conflitos com a comunidade, além de iniciarem o processo de busca de um manejo florestal mais sustentável. Observando-se o manejo realizado em outros setores agrícolas, tradicionais ou não, nota-se que mesmo importantes indústrias do agronegócio brasileiro estão muito aquém do nível de investimento ambiental já alcançado pelo setor florestal, o que pode ser motivo de orgulho para os que nele atuam. Esse fato, entretanto, comumente traz aos técnicos florestais a falsa sensação de que o setor já atingiu um bom patamar e que este pode ser mantido sem a necessidade de novos investimentos. Essa perspectiva muitas vezes se explica pela dificuldade de se enxergar novos horizontes, além do cumprimento da legislação e das exigências da certificação, que poderiam trazer benefícios futuros.

Desse modo, existe uma dificuldade natural de justificar novos investimentos em áreas como manejo da paisagem, gestão e uso racional da água, redução de impactos das operações florestais, investimento em fomento florestal, sistemas agroflorestais, melhoria do planejamento de estradas, redução do uso de agrotóxicos e conservação da biodiversidade presente no mosaico florestal. Cabe aqui, então, como forma de reflexão, ressaltar a necessidade da visão estratégica do futuro pelos novos profissionais que seja capaz de manter as conquistas já alcançadas pelos pioneiros. Desse modo, algumas das perspectivas futuras da economia e da sociedade em geral podem ser mencionadas para justificar o aumento dos investimentos na área ambiental. Dentre elas, destaca-se o aumento da competitividade internacional, ampliação das restrições socioambientais para importações, maior preocupação com o uso e o custo da água, pagamento de serviços ambientais, competição por novas áreas com a produção de alimentos e combustíveis, expansão do setor para áreas mais sensíveis, maior conscientização ambiental em todos os níveis, aumento da responsabilidade socioambiental do setor privado, entre outros. Espera-se, portanto, que os investimentos ambientais da segunda geração de florestas plantadas estejam afinados com essas tendências mundiais, fazendo com que o setor continue à frente dos demais na questão ambiental, consolidando-se como um setor em busca da sustentabilidade. Entretanto somente investimentos não serão capazes de manter o setor nesse rumo. Será necessária uma mudança de paradigma que envolverá também a necessidade de se enxergar o ambiente e sua conservação de forma mais integrada a todos os processos de produção florestal. Essa visão é esperada nos novos profissionais, e essas mudanças poderão, por exemplo, determinar a extinção do setor de ambiência dos empreendimentos florestais e sua incorporação em todas as etapas do manejo florestal, da produção da muda à exploração. Além disso, pode-se prever ainda a criação de um novo setor de serviços socioambientais, não mais preocupado com a gestão dos impactos, mas concentrando esforços em atividades como manutenção da biodiversidade natural presente nos mosaicos florestais, conservação da água para a vizinhança local e interação com as comunidades locais, seja pela oferta de oportunidades de produção, de uso múltiplo dos plantios florestais, ou mesmo investimentos em educação.

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herdeiros dos homens de fibra

Opiniões

grandes mestres, grandes desafios,

grandes oportunidades " oportunistas e oportunidades serão separados, naturalmente ou de maneira forçada, para a manutenção da moralidade da atividade "

Alexandre Barboza Leite Diretor da Teca Consultoria e Daplan Serviços Florestais

Atualmente, podemos afirmar, sem maiores ressalvas, que a silvicultura e toda a cadeia impulsionada pelos seus diversos produtos representam importante papel no cenário nacional. Planilhas econômicas, fundos de investimentos e executivos do mercado financeiro são figuras rotineiras na atual atividade florestal. Produtividades, custos de implantação e exploração, projeções futuras e constantes comparações dos resultados obtidos, com diversas aplicações e outros mercados, são discutidos de forma segura e embasada por um mercado aquecido, crescente e repleto de oportunidades para a nova geração de profissionais e empresas. Com certeza, essa situação não foi sempre favorável. Basta uma breve visita ao passado relativamente recente, para nos surpreendermos com o avanço e com a velocidade com que todo esse processo evoluiu. Entre os diversos fatores que contribuíram para essa evolução, vale destacarmos, com a merecida reverência, o “time”, formado hoje por “veteranos” profissionais envolvidos nessa fase inicial. Arrojados empreendedores, na maioria dos casos, idealistas, que, entre erros e acertos, elevaram a silvicultura nacional aos padrões atualmente reconhecidos e respeitados em todo o mundo. A nova geração de profissionais florestais tem como obrigação, além do eterno agradecimento pelo esforço, envolvimento e dedicação despendidos por essas pessoas, manter o nível de desenvolvimento alcançado, fazendo evoluir a atividade florestal continuamente, com a mesma coragem e dedicação desses nossos mentores. Sem dúvida, trata-se de enorme desafio. O grande trunfo da nova geração, além da disponibilidade de todo o histórico, é a oportunidade de ter muitos desses profissionais veteranos ainda disponibilizando seus conhecimentos e sua vasta experiência no mercado. A mescla entre essas gerações, desde que respeitadas as devidas posições, tende a ser o grande diferencial dessa atual fase de transição da silvicultura nacional. Aspectos silviculturais, envolvendo melhoramento genético, adequação de espécies

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e espaçamentos, nutrição de plantas, otimização dos serviços de implantação, manutenção e colheita, logística, transporte e desenvolvimento de diferentes produtos e mercados foram e serão alguns dos contínuos desafios da atividade. O desenvolvimento de novas fronteiras florestais será uma obrigação da nova geração. No entanto a oportunidade de consulta ao “time de veteranos” profissionais florestais e o próprio imediatismo da economia moderna não permitirão erros; eventuais aventuras irresponsáveis deverão ser punidas com severa repulsa pelo mercado e pela sociedade. Por mais atrativos que sejam os números e as planilhas, o respeito ao meio ambiente, aos fatores sociais, os limitantes climáticos e, principalmente, a experiência dos bons homens de execução ainda deverão ser preponderantes e decisivos na tomada das decisões. As florestas deverão ser responsabilidade de profissionais capacitados, “homens da atividade florestal”, preparados para enfrentar o mercado e eventuais deslumbres, decorrentes de tantas projeções favoráveis. Oportunistas e oportunidades serão separados, naturalmente ou de maneira forçada, para a manutenção da moralidade da atividade. Nas atuais regiões florestais, a inserção real do pequeno e médio produtor e a integração com as comunidades serão fundamentais. Qualificação e valorização da mão de obra e diversificação dos produtos da floresta, através de diferentes tipos de manejo, deverão ser as novas tendências. Esse processo deverá ser apoiado pelas instituições de pesquisas e pelos grandes consumidores de madeira. É fundamental que ocorra o fortalecimento e, principalmente, a união das entidades do setor. A junção dos diferentes segmentos será imprescindível para que ocorra um processo de discussão, criação e implementação de políticas de desenvolvimento setorial. Os desafios são grandes; sigamos os exemplos dos nossos grandes mestres, e grandes serão as nossas oportunidades.



ensaio especial

Opiniões

requisitos para as novas gerações de

engenheiros florestais

A engenharia florestal no Brasil teve seu início formal em 1960, quando, então, criou-se a primeira Escola Nacional de Florestas e teve sua primeira turma formada em 1964, totalizando 19 engenheiros florestais. Daí para frente, os cursos se proliferaram e, consequentemente, os profissionais formados. Até 1970, eram 283; em 1980, já existiam cerca de 2.000 profissionais formados em nove instituições. Esse aumento é contínuo e se prevê que, hoje, no Brasil, formaram-se cerca de 13.000 profissionais, em mais de 57 instituições, de norte a sul do País. Neste ano, a profissão completa 50 anos de existência, e os desafios de modernidade, adequação e novas oportunidades de trabalho também foram se organizando no decorrer do tempo. No início, as áreas mais disputadas estavam relacionadas com inventário e manejo de florestas nativas e organização de plantações florestais, principalmente as financiadas pelos incentivos fiscais. Nesse caso, a primeira geração de engenheiros florestais teve grande participação no processo. Com a integração das florestas plantadas com os recursos advindos dos incentivos fiscais e novos investimentos, criaram-se, no Brasil, diversos novos campos para os engenheiros florestais, que tiveram principalmente de se adequar a uma nova realidade de mercado competitivo, inclusive com outras profissões. Dessa forma, a segunda geração necessitou de conhecimentos mais diversificados, integrando, além daqueles técnicos e de conceitos básicos, outros relacionados principalmente com a gestão de pessoas, administração, informática, sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica de processos, etc. Outros, inclusive, necessitam de conhecimentos sobre mercados internacionais, pois trabalham e vivem situações de competitividade frequente neste mundo globalizado. Mas entendemos que estamos iniciando uma terceira geração de engenheiros florestais no Brasil, pois, com cinquenta anos de profissão, essa nova fase já está em curso. Se, por um lado, a primeira geração foi aquela que pode ser cha-

mada de empreendedora/sonhadora, pois, até os idos de 1990, a sociedade pouco sabia da profissão e era comum perguntar o que fazia o engenheiro florestal, a segunda geração pode ser chamada de estabilizadora da profissão, pois realmente foi nessa fase que ela ficou conhecida e reconhecida pela sociedade e empresas. Já esta terceira geração, que se inicia, tem vários outros desafios, pois, além da manutenção dos conhecimentos técnicos, de transferência de responsabilidades, da sucessão em cargos de alto nível, também deve, com competência, galgar novos postos de trabalho. Hoje, pode-se dizer que se tem engenheiros florestais em altos postos, basicamente em quatro setores: ensino, pesquisa, cargos executivos em empresas e político. Se, por um lado, no início, eram poucos profissionais, hoje, há um número respeitável, que, com qualidade, está alcançando, cada vez mais, o reconhecimento empresarial e da sociedade. Com o aumento gradativo do número de cursos no Brasil, hoje com 57 reconhecidos pelo governo federal e vários outros em vias desse reconhecimento, a profissão se espalhou e, consequentemente, passou também a fazer parte de forma mais diversificada em vários setores da economia e sociedade brasileiras. No contexto das novas gerações de engenheiros florestais e seus desafios em comandar as ações para o futuro, é muito importante se integrarem as experiências dos antigos e atuais profissionais, pois os princípios não mudam, mas a velocidade da informação sim. Hoje, com a informatização, torna-se muito mais fácil a comunicação, que deve ser integrada com a conectividade entre pessoas, setores e mercado. Os profissionais florestais do futuro terão como desafio o conhecimento do “negócio florestal” e não simplesmente de setores da cadeia produtiva da madeira, ou seja, devem ser muito mais “ecléticos” do que os atuais. Deverão tratar com todos os setores da sociedade, tanto produtivo quanto ambiental, de forma a gerir a atividade para manter a “sustentabilidade da produção” integrada com a “sustentabilidade do meio ambiente”, mas de forma “economicamente viável”.

" os profissionais florestais do futuro terão como desafio o conhecimento do “negócio florestal” e não simplesmente de setores da cadeia produtiva da madeira, ou seja, devem ser muito mais “ecléticos” do que os atuais "

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Jorge Roberto Malinovski e Ricardo Anselmo Malinovski Professores da UFPR - Universidade Federal do Paraná




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