O que é, de fato, o meio ambiente? - OpCP16

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FLORESTAL: papel, celulose, carvão, siderurgia, painéis e madeira jun-ago 2009

sobre o que é, de fato, o meio ambiente



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o que é, de fato, o

índice

meio ambiente? 05 08 09 10 12 13 14 16 17 18 20 22 24 26

Editorial de abertura: Marina Silva

Senadora da República do Brasil

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Ensaio Especial: André Trigueiro

Jornalista Especialista em Gestão Ambiental

Visão Estratégica: Xico Graziano

Secretário de Meio Ambiente de São Paulo

José Carlos Carvalho

Secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais

Manoel Vicente Fernandes Bertone

Secretário de Agroenergia do Ministério da Agricultura

Visão Estratégica: João Paulo Ribeiro Capobianco Especialista em Meio Ambiente

Jacques Marcovitch Professor da FEA-USP

Roberto Isao Kishinami

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Diretor Geral da NRG - Energia e Meio Ambiente

José Goldemberg Professor do IEE-USP

Luiz Gylvan Meira Filho

Pesquisador do IEA-USP

Moacir José Sales Medrado Pesquisador da Embrapa Florestas

Fábio Feldmann

Secretário do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas

Paulo Yoshio Kageyama

Professor da Esalq-USP

Walter de Paula Lima Professor da Esalq-USP

Nairam Félix de Barros Professor da UF Viçosa

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Visão de Entidades: Alessandra Bernuzzi

Diretora de Responsb Socioambiental da Abimaq

Cesário Ramalho da Silva

Presidente da Sociedade Rural Brasileira

Visão de ONGs: Roberto Smeraldi

Diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira

Paulo Gonçalves Barreto Pesquisador-sênior do Imazon

Visão Empresarial: Pedro de Toledo Piza Consultor Jurídico Ambiental da Pöyry Tecnologia

Gabriela Procópio Burian

Gerente de Meio Ambiente da Monsanto do Brasil

Augusto Praxedes Neto

Gerente de Sustentabilidade da Jari Celulose

Antônio Claret de Oliveira

Superintendente Desv Sustentável da V & M do Brasil José Maria de Arruda Mendes Filho Consultor Florestal da Mendes & Mendes Associados

Heuzer Saraiva Guimarães Diretor Florestal da Satipel

Zoé Antonio Donati

Gerente Florestal da Aracruz

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editorial

crescer A história de qualquer civilização nos remete à relação do ser humano com a natureza. O ser humano age conforme sua compreensão das coisas e a atribuição de significados a elas, somadas à inventividade na superação de problemas, o que compõe o patrimônio científico construído pela humanidade. Essa ação humana em direção à natureza, traduzida na tecnologia, na ciência e na arte, é orientada por convicções que têm princípios filosóficos, ideológicos, morais e éticos. Essas duas ordens de coisas, a material expressando a simbólica, compõem o que chamamos de cultura. Pois bem, na cultura ocidental em geral, não temos compreendido e nem tratado a natureza como um sistema. Paradoxalmente, alguns de seus componentes, como a ciência e a própria vivência de muitas populações, têm nos provado, com elementos inquestionáveis, que estamos diante, sim, de um sistema. Um sistema com elementos interdependentes, uns prestando serviços aos outros, gerando ciclos que se repetem equilibradamente e garantem a existência perene de ecossistemas múltiplos dentro de biomas.

Opiniões

sem negar os direitos das gerações futuras 20% a 30% das espécies vegetais e animais avaliadas, se os aumentos da temperatura global média ultrapassarem 1,5 a 2,5 °C. Nas áreas mais secas, são esperadas salinização e desertificação de áreas agrícolas. A produtividade de algumas importantes culturas e rebanhos deve sofrer decréscimos, com sérias consequências para a segurança alimentar. Portanto, se a ciência nos diz que a última oportunidade está dada, mas por pouco tempo, temos que tomar medidas urgentes. Temos que mobilizar uma inteligência social, empresarial e acadêmica à altura da gravidade e complexidade do problema, que exige que passemos a produzir riquezas observando as condicionantes da sustentabilidade da vida no planeta. Cada país tem seu processo a reposicionar, cada povo tem sua contribuição a fazer para toda a humanidade. No Brasil, nossa tarefa é tão grande quanto o tamanho das oportunidades ambientais que temos. Somos um país com 12% da água doce do planeta; temos cerca de 20% da biodiversidade global e a maior floresta tropical do mundo. Mas falta-nos governança e clareza quanto ao rumo a seguir.

" nossa tarefa é tão grande quanto o tamanho das oportunidades ambientais que temos "

Marina Silva Senadora da República

Como produzir economicamente em sinergia com esses ciclos? Como extrair riqueza dos recursos naturais de forma igualmente perene? Como permitir que, após nos servirmos do planeta, garantindo nosso conforto, nossa saúde, enfim, nosso completo usufruto, façamos transformações na natureza que sejam inteligentes o bastante para dar essa mesma oportunidade para as próximas gerações da humanidade e para outras eras civilizacionais? Diante dessas perguntas, que nos desafiam; diante da oportunidade que temos de ainda poder escolher o futuro; diante do olhar que lançamos para nossos antecedentes históricos; e, principalmente, diante das consequências trágicas de nossas ações no meio ambiente para a existência humana, consequências que se avizinham em velocidade cada vez maior, tiramos algumas conclusões sobre o binômio meio ambiente e desenvolvimento. A primeira é que nosso trajeto civilizacional até aqui pegou direções equivocadas, inspiradas por valores duvidosos, gerando adoecimento geral de nossa cultura, que se tornou egoísta, consumista, predadora e injusta. A segunda é que estamos esgotando a capacidade de recuperação do planeta, como têm nos alertado os relatórios produzidos pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, vinculado à ONU. Eles nos dizem que há risco de extinção de

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Sabemos que 50% do PIB brasileiro dependem da nossa biodiversidade. Temos que buscar as formas mais inteligentes de pensar nosso desenvolvimento, preservando esses recursos, pois são suas bases naturais de sustentação. No entanto, alguns setores da sociedade e do governo veem as unidades de conservação, terras indígenas, Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal unicamente como empecilho para a expansão da agricultura, sem considerar que podemos triplicar a produção de alimentos com a recuperação de 160 milhões de hectares de terras degradadas. Podemos, na comunhão dos povos pelo redirecionamento de nossa civilização, assumir o papel de líderes pela inventividade, pela contemporaneidade de nossa visão de desenvolvimento, pela descoberta de formas de reprodução sustentável da imensa riqueza natural que já temos. Ou podemos ser imediatistas, resistentes à atualização que nos qualifique para os desafios de nosso tempo, apegados a valores ultrapassados, e jogar fora essa liderança. Já construímos boa parte das respostas técnicas que nos levaram a conquistas recentes. Agora, trabalhamos na associação de nossa capacidade técnica ao compromisso ético de fazer o país crescer atendendo as reais necessidades das gerações presentes, sem que isso signifique negar os reais e legítimos direitos das gerações futuras de viver em um planeta ambientalmente saudável.


ensaio especial

Opiniões

meio ambiente

na idade mídia

" consagramos precioso tempo e energia no entendimento do ponto, ignorando o que vai ao redor dele, ou como ele se resolve dentro do contexto "

André Trigueiro Jornalista Especialista em Gestão Ambiental

A expressão “meio ambiente” reúne dois substantivos redundantes: meio (do latim, mediu) significa tudo aquilo que nos cerca, um espaço onde nós também estamos inseridos; e ambiente, palavra composta de dois vocábulos latinos: a preposição amb(o) (ao redor, à volta) e o verbo ire (ir). Ambiente, portanto, seria tudo o que vai à volta. Mas dizer que meio ambiente é tudo seria simplificar demais a questão. “É um conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo influenciado por eles”, informa o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Seja qual for a definição formal que se busque, importa admitir que estamos longe da compreensão mais profunda do que realmente significa. No mundo moderno, onde o conhecimento encontrase fragmentado, compartimentado em áreas que muitas vezes não se comunicam, a discussão ambiental resgata o sentido holístico, o caráter multidisciplinar que permeia todas as áreas do conhecimento, e nos induz a uma leitura da realidade, onde tudo está conectado, interligado, relacionado. Importa reconhecer que esse sentido mais abrangente e plural é absolutamente revolucionário e ameaçador. Quando nos entendemos como parte do meio ambiente, desmontamos o eixo sobre o qual se estrutura boa parte do conhecimento construído. Algumas tradições religiosas, por exemplo, exaltam a figura do homem na mesma proporção em que desprezam os demais seres vivos, como se fosse possível para nós existirmos sem a maravilhosa e complexa teia da vida, que nos cerca. Sem as microscópicas bactérias, por exemplo, a vida na Terra não seria possível. E isso nos inclui, dependentes que somos desses pequeninos seres. Nas escolas e universidades, a compartimentação das disciplinas – e a frenética busca pelas especializações – aguça a nossa percepção para as partes, em detrimento de um olhar mais abrangente, onde a realidade possa ser entendida no seu aspecto mais interdisciplinar. Consagramos precioso tempo e energia no entendimento do ponto, ignorando o que vai ao redor dele, ou como ele se resolve dentro do contexto. O analfabetismo ambiental grassa nos meios político e econômico, onde o modelo de desenvolvimento vigente – descrito no relatório final da Rio-92 como “ecologicamente

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predatório, socialmente perverso e politicamente injusto” – não contempla a capacidade de suporte do planeta, já exaurido na busca insustentável de matéria-prima e energia. Gestores públicos e privados que privilegiam a maximização dos lucros no menor intervalo de tempo possível agravam o risco de um gigantesco colapso, um Apagão da Vida, por não enxergarem sistemicamente. Ser sustentável, ou ambientalmente responsável, significa respeitar os limites. Mais importante do que cuidar do planeta para que nossos filhos e netos tenham o necessário, é cuidar de nossos filhos e netos para que o planeta possa oferecer o necessário. A educação para a sustentabilidade é a forma mais simples e eficiente de alcançarmos um novo modelo de civilização, menos consumista e mais ética. O mundo caminha nessa direção, a mudança é sensorial e mensurável, uma nova cultura emerge no bojo de uma crise ambiental sem precedentes na história. A grande pergunta, ainda sem resposta, é a seguinte: haverá tempo? Tão preocupante quanto o risco de um colapso, é a capacidade de governantes e empresários se apropriarem da retórica ambientalista – e apenas do discurso – para sobreviverem num mundo suscetível aos apelos do marketing verde. Num mundo globalizado, onde a transparência das instituições é entendida como uma conquista civilizatória, o descolamento entre o discurso e a ação pode custar caro a quem opta pela mentira. Não é mais possível nos entendermos como espécie sem percebermos a urgência de uma nova relação com o mundo que nos cerca. Não basta ser ecoeficiente, promovendo a gestão mais equilibrada dos recursos nos setores público e privado: é preciso reconfigurar os valores prevalentes da sociedade. A cultura do descartável, do desperdício, do apreço desmedido ao materialismo desencadeia ondas de desequilíbrio ambiental e ético, que tornam inertes eventuais esforços em favor da sustentabilidade. Há muito trabalho pela frente. Não há luta mais importante e urgente do que aquela em defesa da vida. E não há vida possível onde o meio ambiente não seja entendido como parte de nós. O meio ambiente começa no meio da gente. Quanto mais tempo levarmos para compreender isso, mais difícil será.

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visão de governo

meio oambiente: natural versus o social

Quando se pensa no meio ambiente, geralmente as pessoas se lembram de imagens contendo belas paisagens, muito verde, lindas flores, belas árvores e animais vivendo livres na floresta. Nada errado. Mas essa visão idílica esquece um ator fundamental: o homem, a vida da sociedade. Com a ampliação do debate sobre a conservação ambiental, a sustentabilidade e os riscos das mudanças climáticas e do aquecimento global, o ambientalismo acabou dividido em duas vertentes. Há a vertente naturalista, essa que remete às áreas preservadas, à natureza pura, e a vertente socioambiental, na qual se encontra a preocupação com a relação da sociedade com a natureza, a influência dos hábitos, costumes e do padrão de vida na “pegada ecológica”. Escapando do preservacionismo puro e adentrando as preocupações da sociedade sustentável, a equação ambientalista exige a participação da cidadania como parte inte-

Hoje, dos 645 municípios de São Paulo, 635 aderiram ao projeto e estão trabalhando em parceria com o estado, executando planos de ação para as melhorias ambientais de cada localidade. Com isso, já é possível observar resultados animadores. No lixo, por exemplo, agenda polêmica e desgastante, os números são excelentes. Em menos de dois anos, foi possível reduzir em 70% o número de lixões. Eram 137 em 2007 e agora são 42. A meta é chegar a zero até o final deste ano. Quem não se adequar, verá suas fábricas de urubus interditadas. Em vez de sofrer as consequências desse jogo duro, as municipalidades têm optado pela adequação, criando alternativas e trazendo melhorias ao meio ambiente. As ações de coleta seletiva que surgiram nos últimos anos são um ótimo exemplo. Em 2007, havia 181 municípios desenvolvendo alguma atividade de coleta seletiva de lixo no estado. Ao término de 2008, eram 446

" é chegado o momento da reintegração homem-natureza, sob uma perspectiva progressista e sustentável. Isso só se faz trabalhando muito, saindo do discurso e partindo para a prática das ações " Xico Graziano Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo

grante do meio ambiente. Não como “agentes da salvação”, mas como um dos responsáveis pelo funcionamento do planeta, com os seus ciclos naturais, agora, abalados pelas intervenções humanas, nas quais o meio ambiente não foi considerado como parte integrante das construções sociais. Na evolução da luta ambientalista, é chegado o momento dessa reintegração homem-natureza, sob uma perspectiva progressista e sustentável. Isso só se faz trabalhando muito, saindo do discurso e partindo para a prática das ações ambientais, distribuindo as lições de casa ambientais, nas quais integrar o homem ao meio ambiente é tarefa que exige a participação de toda a sociedade. Na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, em São Paulo, para buscar essa reintegração e agilizar a agenda ambiental, foram criados 21 Projetos Ambientais Estratégicos. Em todos os casos, a sociedade é considerada como peça fundamental para o alcance das metas. Um dos melhores exemplos desse trabalho é o Projeto Ambiental Estratégico Município Verde, que partiu da premissa de que a base da sociedade está nos municípios. Afinal, quem vive o dia a dia de cada localidade são as administrações municipais, e são elas que dialogam constantemente com os cidadãos.

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localidades praticando essa ação. Um aumento de 146%. Lixo que iria para os aterros e lixões se revertendo em reais melhorias ambientais. Enquanto trabalhamos nessa reintegração do homem com o ambiente, há as gerações que precisam ser integradas, fazer parte desse contexto desde os primeiros passos. São as crianças que vão garantir a efetividade de todo esse trabalho. Por isso, a educação ambiental se tornou primordial para que a atual geração cresça fazendo parte do meio ambiente. Com o Programa Criança Ecológica, as crianças de 8 a 10 anos da rede pública de ensino estão aprendendo que a sociedade também faz parte do meio ambiente e precisa respeitar o ciclo natural do planeta, que garante a vida de todos nós. Estamos no caminho. Sendo assim, definir meio ambiente é definir o espaço da vida. Meio ambiente sadio significa vida sadia, sociedade com futuro. Meio ambiente abalado significa a vida cercada por debilidades. Falar em meio ambiente é, também, falar em natureza, fauna e flora, mas, acima de tudo, é falar do lugar onde as pessoas, os animais e as plantas interagem e constroem o meio onde se viver. Em paz e harmonia com a natureza, construindo uma civilização duradoura para a espécie humana.


Opiniões

o que é meioambiente ?

Vida. Assim responderíamos objetivamente a essa pergunta. A razão é simples: cada vez que degradamos o meio ambiente, eliminamos ou reduzimos nossas chances de sobrevivência, nosso futuro como espécie sobre a Terra. Felizmente, hoje, mais e mais países e grupos do setor produtivo vão se conscientizando disso e procurando ajustar suas condutas. Mas observamos um contrassenso nesse sentido. Se, antes, nossas preocupações centravam-se no convencimento dos empresários sobre a necessidade de se preservar o meio ambiente, agora, nota-se a importância de convencer a classe política - que detêm o poder de decisão, que os esforços de uns podem ser minados por outros. Um dos segmentos básicos a ser sensibilizado para essa questão é o de decisões sobre o uso do solo em nosso país. Que o país precisa evoluir e desenvolver-se, todos sabemos e apoiamos. Que tal desenvolvimento deve pautar-se

tra o desmatamento, mesmo se para expandir a fronteira agrícola. Ou seja: menos de 10% da população admitem a supressão da cobertura vegetal para quaisquer usos. Por que o desmatamento continua? Que razões informam tal resultado? A ausência, teimosa, da discussão de políticas de uso da terra no país. Repetimos: enquanto fugirmos desse tema, se prosseguirmos sem debater os instrumentos econômicos que estimulam o uso da terra, o desmatamento continuará, mesmo que se adote a mais dura legislação ambiental do mundo. E mais: ainda hoje, estimulam-se os cultivos e criações, sem pensar a propriedade rural como uma unidade de produção sustentável. Trata-se de formulação de políticas públicas de uso da terra em bases meramente tecnicistas e de uma política ambiental agindo, quase exclusivamente, nas medidas de comando e controle, sem uma séria preocupação de to-

" se prosseguirmos sem debater os instrumentos econômicos que estimulam o uso da terra, o desmatamento continuará, mesmo que se adote a mais dura legislação ambiental do mundo " José Carlos Carvalho Secretário de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais

na sustentabilidade, poucos reconhecem e dão sua contribuição além da simples retórica. Achamos que, neste momento, meio ambiente para o Brasil representa abrir uma profunda discussão sobre o uso inteligente da terra, retirando tal questão da esfera das simples restrições legais – nem sempre justas – e lançando-as à reflexão dos especialistas, dos produtores rurais, dos ambientalistas de espírito aberto e lúcido, dos políticos de vanguarda, todos desvinculados dos postulados liberais retrógrados e honestamente preocupados com a busca de soluções que sejam prudentes e produtivas para todos, hoje e amanhã. Como a que disciplinaria o uso da terra, colocando fim ao desmatamento irracional e iniciando um novo ciclo de produção rural sustentada. Mas o Brasil é pleno de questões absolutamente incompreensíveis, como esta: há mais de duas décadas, o problema do desmatamento está no centro do debate ambiental, por ser o principal dano identificado em pesquisas que avaliam a preocupação dos brasileiros em relação à temática do meio ambiente. A questão, entretanto, permanece sem solução capaz de revertê-la, e vai-se dilapidando o patrimônio natural brasileiro. Recentemente, uma pesquisa apontou que mais de 90% da população brasileira são con-

dos os segmentos de poder norteador do setor agropecuário com a incorporação da variável ambiental nessa área. Tal visão compromete em tudo a desejada sustentabilidade. O que precisamos é de uma política de desenvolvimento rural avançada, na qual os recursos naturais sejam considerados, simultaneamente, como ativos ambientais imprescindíveis à manutenção dos ecossistemas e como fatores de produção da economia agropecuária. Sem isso, estaremos degradando o meio ambiente e destruindo as bases da prosperidade futura do próprio setor agrícola. Essa questão exige a participação ativa da classe política, de deputados, senadores, governadores e da Presidência da República, num esforço sem precedentes, para colocar o Brasil no lugar que merece, pela importância intrínseca e pela dimensão gigantesca do seu patrimônio natural. Por isso, preocupa-nos certa desmobilização do Congresso Nacional em relação às questões de meio ambiente, bem como percepção limitada de muitos centros de poder da República sobre a gravidade dos desafios que se põem à comunidade nacional com relação à conservação das bases da sobrevivência de futuras gerações. Portanto, meio ambiente é isto: compromisso com a sustentabilidade, ou seja, vida!

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visão de governo

Opiniões

a preservação da

vida

" não tenho dúvida de que tudo que se planta com o objetivo de colher é agricultura. Assim, floresta plantada é também assunto agrícola "

Manoel Vicente Fernandes Bertone Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura

A preservação da vida é, sem dúvida, um dos grandes desafios da humanidade. O homem trabalha de forma incansável para aumentar sua longevidade. Ao mesmo tempo, aumenta cada vez mais sua percepção de que a vida das gerações futuras depende não apenas da evolução de nossa capacidade de vencer as doenças e o tempo, como também de termos um planeta que nos permita uma vida plena e digna. A forte relação e a profunda interdependência entre agricultura e meio ambiente nos obrigam a considerá-los temas conjuntos em sua abrangência. Quando os colocamos, então, face às questões relativas à preservação da vida, percebemos que formam um tripé indissociável. E é função dos formuladores de políticas públicas para as áreas de agricultura e meio ambiente compreender essa estreita relação e trabalhar para a obtenção dos resultados necessários e imprescindíveis à comunidade. Assim, meio ambiente, além de vida, é também agricultura, e agricultura, além de vida, é também meio ambiente. O agricultor já tem consciência de que a possibilidade de seus filhos e netos continuarem na atividade depende, em grande parte, da preservação ambiental. Clima, solos, água, ar e biodiversidade são fundamentais à capacidade de continuar produzindo. Nessa estreita relação de interdependência, é necessário buscarmos o equilíbrio, delimitarmos áreas de ação, ponderarmos as paixões, lembrando que o planeta, por dele depender a vida futura, assim como os alimentos e a energia, por deles depender o presente, são igualmente importantes para a nossa sobrevivência. A agroenergia é exemplo de excelente trabalho conjunto realizado entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério do Meio Ambiente. Os aspectos técnicos do zoneamento da expansão da cana-de-açúcar foram trabalhados pelos dois ministérios, e os resultados foram considerados um completo sucesso. Buscou-se a preservação dos biomas e demonstrou-se cabalmente que a expansão da cana pode ocorrer de forma sustentável, preservando-se também solos e água. Novos desafios devem ser enfrentados na busca de soluções para o meio ambiente e para a agricultura. E florestas é um bom exemplo! Não tenho dúvida de que tudo que

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se planta com o objetivo de colher é agricultura. Assim, floresta plantada é também assunto agrícola. E reconheço que é também tema ambiental. Como assunto agrícola, temos que providenciar as condições para que essa atividade se expanda, contribua para diminuir a pressão sobre os biomas naturais e que, assim, seja objeto de políticas públicas próprias à atividade, tais como crédito adequado, seguros e flexibilidade para colheita, conforme o timing de seu próprio negócio. Não se plantarão mais florestas se, para colhê-las, não se tiver a necessária segurança jurídica de que o que norteará essa colheita serão apenas e tão somente as questões do negócio propriamente dito. A segurança jurídica, nesse aspecto, é fundamental, segurança que, de forma geral, tem faltado à agricultura. Outro tema conjunto de absoluta prioridade é a reforma do código florestal, que, por exageros cometidos no passado, colocou na ilegalidade milhares de agricultores. Daí a ação tempestiva do Ministro Reinhold Stephanes, que deu à questão o tratamento adequado nos meios políticos, na classe agrícola e na mídia. Reconheça-se a importância do meio ambiente para a continuidade da atividade agrícola, mas reconheça-se a importância da agricultura na preservação da vida e da dignidade de quem quer ser sustentado pelo trabalho de sua família. A busca de um meio ambiente preservado deve se dar junto à de uma atividade agrícola sustentável e economicamente viável. Assim, devem ser garantidos os direitos adquiridos, respeitadas as situações de produção consolidadas em outras épocas, distribuindo-se, na sociedade, os ônus pelas novas necessidades ambientais, sem imputálos exclusivamente aos agricultores. A ocupação racional do território nacional deve ser preocupação de todos, e cabe aos que governam traçar as políticas para que se alcance esse objetivo. Nosso planeta já se mostra pequeno, insuficiente, para a humanidade. Temos que “multiplicar os pães” e a energia. A sustentabilidade não pode ser apenas objeto de ações de marketing, mas sim de ações concretas, de decisões por parte de agricultores, empresários, governantes e sociedade. Disso depende a vida. Meio ambiente, assim como a agricultura, é vida!



visão estratégica

o meio ambiente e os limites do

homem " o homem chega ao terceiro milênio tendo que encarar o fato de estar pondo em risco sua breve aventura na Terra "

João Paulo Ribeiro Capobianco Especialista em Meio Ambiente

Ao longo da história da humanidade, a mistificação e o temor, que marcaram o início do relacionamento homem-natureza, converteu-se em dominação. O homem moderno subjuga e destrói o meio ambiente em um ritmo sem precedentes na longa trajetória do planeta Terra. Como justificativas: a riqueza, a melhoria das condições de vida, a produção farta e o desenvolvimento. Como consequências: a pobreza, a degradação, a poluição e o subdesenvolvimento. O homem chega ao terceiro milênio tendo que encarar o fato de estar pondo em risco sua breve aventura na Terra. De um lado, a degradação dos recursos marinhos, desmatamentos em larga escala, redução da qualidade e da quantidade de água potável, acumulação na atmosfera de gases responsáveis pelo efeito estufa e perda acelerada de biodiversidade; de outro, a certeza de que o desenvolvimento é necessário, mas não suficiente para o bem-estar da humanidade. Os problemas ecológicos globais constituem um problema que ameaça, simultaneamente, o futuro - crise da sobrevivência - e questiona, radicalmente, um dos principais pilares da sociedade moderna: a supremacia da ciência e da tecnologia sobre os ideais, a sensibilidade e os sentimentos humanos. Ao apontar para os prováveis gravíssimos problemas ambientais, onde o efeito estufa é um dos mais fortes exemplos, o caráter controverso dessa questão coloca a humanidade diante de uma crise histórica. A sociedade se depara com o dilema de ter que agir na mudança radical de processos produtivos e de padrões de consumo, sem ter a certeza científica de como e de quanto tempo dispõe para fazê-lo. Os desafios trazidos pelo panorama de evolução/transformação em que a sociedade se encontra, no entanto, não têm levado à implementação de mudanças concretas no sentido da sustentabilidade. Os próprios resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, e as frágeis convenções dela resultantes mostram claramente as dificuldades de se definir políticas capazes de garantir ações baseadas na solidariedade global com as presentes e futuras gerações. O desenvolvimento sustentável, propalado como a solução para esse impasse histórico, por outro lado, não é tão simples como muitos gostariam. Mais do que ligeiros acertos ou pequenas correções de rumo, sua viabilidade

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exige a adoção de posturas individuais e coletivas, que contradizem o processo evolutivo recente da humanidade. Sua implantação requer mudanças estruturais na sociedade, que passam a ter um caráter de mudança civilizatória. Essas indefinições e contradições, características dos momentos de mudanças, não podem ser tratadas com simples discussões teóricas. A complexidade do problema e a enorme dimensão do desafio exigem mais do que normas, leis ou programas de investimentos em novas alternativas. Exige um novo quadro de valores culturais e uma redefinição do ser humano e de sua responsabilidade com a natureza. Nesse cenário de complexidade crescente do processo de tomada de decisões político-econômicas, provocada pelas dificuldades trazidas pelas questões ambientais, estão surgindo novas teses que podem alterar profundamente a compreensão da sociedade sobre seu papel perante os aspectos socioambientais. Uma delas, a tese da ciência pós-normal, estabelece uma ruptura com os procedimentos tradicionais de se fazer ciência. Segundo essa linha de pensamento, é necessário que os acadêmicos incluam entre seus parâmetros a incerteza e considerem a pluralidade de perspectivas dos diferentes atores sociais como legítimas, incorporando-a em suas análises, para que seja possível lidar com a complexidade e o dinamismo do meio ambiente. Essa nova concepção implica a valorização do papel da sociedade nos processos de tomada de decisão. Outro mecanismo de grande importância surgido nos últimos anos é o do Princípio da Precaução. Segundo ele, a sociedade passa a admitir, e considerar legítima, a adoção por antecipação de medidas que visem evitar problemas socioambientais, ou implementar medidas de prevenção, sem que haja certeza científica de que esses problemas efetivamente se concretizem caso as medidas não sejam adotadas. A viabilidade da aplicação de ambas as teses, que implicam a possibilidade de a sociedade humana tomar decisões contrárias à racionalidade econômica atual, no entanto, exige mudanças profundas, que passam, necessariamente pelo reencontro com a natureza e pela busca de outras visões de futuro. É um processo de descoberta interior, que encontra grandes dificuldades de operar num cenário de destruição e exacerbação do individualismo vivido neste início de século.


Opiniões

metas setoriais na

redução dos GEE " as empresas brasileiras alcançam resultados significativos na neutralização de suas emissões, em função da ampla base florestal plantada" Jacques Marcovitch Professor da Faculdade de Economia e Administração da USP

A economia real está no centro da turbulência que abala, desde setembro de 2008, em maior ou menor proporção, todos os países do mundo. Cabe articular, no contexto dessa crise, as análises de questões relacionadas à sustentabilidade, em busca de uma reestruturação na arquitetura financeira global. É preciso oferecer bases sólidas a um novo ciclo de desenvolvimento, focado em tecnologias limpas, energias renováveis e uso sustentável de recursos naturais. Com respeito aos problemas do meio ambiente e à gestão dos recursos naturais, o Brasil poderia ser uma parte importante da solução, notadamente quanto à redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa (GEE) e intensificação das mudanças do clima. Nesse contexto, cabe mencionar as nossas florestas tropicais e suas imensas reservas de água doce, acumulando cerca de 20% das reservas mundiais. Os cinco estudos setoriais realizados no âmbito do Projeto Para Mudar o Futuro mostram que o segmento de papel e celulose em nosso país tem condições de liderar o processo de estabelecimento de metas setoriais na emissão de GEE. As empresas brasileiras alcançam resultados significativos na neutralização de suas emissões, em função da ampla base florestal plantada. Além disso, os fatores naturais favoráveis do país, o incremento da produtividade florestal e os investimentos industriais em eficiência energética, que incluem a redução da disposição de resíduos em aterros, permitiriam ao setor produzir, com certificações Carbon Free, ou mesmo Carbon Reducer. A maioria das empresas está ciente de que deve expandir o foco, que hoje está nas operações internas, para uma perspectiva global, abrangendo todo o ciclo de vida do produto. Torna-se imprescindível que as corporações mantenham os investimentos atuais na base florestal e nos processos industriais, mas passem também a desenvolver estratégias para mitigação das emissões derivadas do transporte e da disposição final do produto, após o seu tempo de uso. O estabelecimento de metas setoriais faria surgir, então, um novo cenário competitivo para as empresas, conferindo peso ao atributo “emissões de carbono” dos produtos. Esse cenário futuro difere muito do que temos atualmente, com o

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e as emissões em mercado voluntário, sendo fontes de receita não operacional. As metas setoriais introduziriam a questão do carbono no core business da empresa, determinando parâmetros de competitividade e acesso a mercados e ao crédito. Certamente, as maiores empresas brasileiras do setor têm plenas condições de assumir um papel de liderança no processo de negociação, adoção e conquista de metas setoriais para papel e celulose. Entretanto, apesar das cinco maiores empresas representarem cerca de 70% do negócio, o segmento é bastante pulverizado, com 220 empresas, a maior parte delas atuando em nichos regionais, com pouca capacidade de investimento e baixo poder de negociação. Essas empresas devem receber incentivos e transferência de tecnologia, para permanecerem competitivas dentro do horizonte de tempo necessário ao cumprimento das metas. Com relação às fontes de financiamento, o relatório do Banco Mundial, State and Trends of the Carbon Market 2009, destaca que o mercado global dos créditos para emissões de carbono saltou de 63 bilhões de dólares, em 2007, para 126 bilhões, em 2008, valores que correspondem a créditos comercializados relativos a 4,8 bilhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono. Uma alta de 61% em relação ao ano anterior. Os cortes de emissões efetivamente feitos e vendidos por projetos de energia limpa, com registro na ONU, em países em desenvolvimento, caíram 30% em 2008, ficando em 389 milhões de toneladas, ou 6,5 bilhões de dólares. A oferta continua sendo restringida por demoras regulatórias, e a crise financeira tornou a obtenção de financiamento de projetos muito mais difícil. A crise no sistema financeiro contribuiu para destacar a necessidade de mecanismos robustos de governança para gerir o problema das mudanças climáticas. Os mecanismos devem, também, ser criteriosos, ao mesmo tempo articulando, com agilidade, as pressões e demandas dos atores globais. Rigorosos mecanismos de controle deveriam assegurar que o mercado de carbono atendesse plenamente ao princípio de responsabilidade comum, porém diferenciada sobre as mudanças climáticas, e fomentar, nos países em desenvolvimento, alternativas sustentáveis de crescimento.

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visão estratégica

Opiniões

a recuperação de

áreas degradadas pode gerar 20 mil MW

Nessa primeira metade do século XXI, os países que concentram as maiores economias do planeta deverão realizar a mais profunda mudança na matriz energética da humanidade desde a Revolução Industrial. Naquela grande transformação, iniciada na Inglaterra por volta de 1750, a queima do carvão mineral em máquinas a vapor permitiu a produção em escala industrial de bens até então fabricados artesanalmente, como têxteis, cerâmica e papel. Ao largo dos séculos seguintes, o consumo per capita de energia na Europa multiplicou-se por cem, pelo uso em larga escala de um único combustível fóssil, transformando as sociedades, que, até então, estavam limitadas ao consumo de lenha e ao uso da tração animal. Nos primórdios do século XX, os combustíveis líquidos derivados do petróleo empurraram definitivamente a sociedade à espiral de desperdício e consumo de recursos naturais, ao ponto em que, hoje, são necessários quase dois planetas para dar conta das nossas demandas por água, ar, recursos marinhos, florestas e solo fértil. O significado de meio ambiente também mudou ao longo desse trajeto. No início da era industrial, o planeta mantinha quase intacta sua capacidade de reciclar nossas emissões. O meio ambiente era identificado à natureza, resultado de obra divina, em que a atividade humana não se compara à dos ciclos naturais e tampouco à força das estações do ano e das variações do tempo e do clima. Hoje, a situação é algo diferente. O acúmulo na atmosfera dos gases de efeito estufa – CO2, majoritariamente, resultantes da atividade humana, já é suficiente para alterar o clima do planeta, por um aumento significativo do efeito estufa. Por volta de 1850, a concentração média de CO2 na baixa atmosfera do planeta era de 280 ppm, ou, aproximadamente, 0,03%, contra uma concentração verificada em 2008 de 380 ppm, ou 0,04%. Esses 30% de acúmulo de CO2 representam o excedente que os sistemas naturais - oceanos, principalmente, e, em menor medida, as florestas - não são capazes de processar. O resultado é uma mudança de longo prazo no clima global, com consequências catastróficas para a espécie humana. Em tal situação de crise ambiental, o significado de meio ambiente não pode ser outro que não o de fator de limitação ao aumento de determinadas atividades humanas. Todo esforço expresso na Convenção Clima e o seu Protocolo de Kyoto representam ainda os ensaios iniciais para a mudança necessária, pois o

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC, estima que será necessário reduzir em 60% as emissões de gases de efeito estufa até 2050, para que a mudança do clima não atinja níveis perigosos ao final do presente século. Nessa crise, abrem-se muitas oportunidades. Como exemplo, as florestas energéticas são uma boa oportunidade para combinar a geração de energia com a remoção de carbono da atmosfera. Cada mil hectares de área desmatada, plantados com eucalipto e manejados para a produção contínua de energia, removem permanentemente mais de 100 mil ton de carbono da atmosfera, ao mesmo tempo que fornecem em torno de um megawatt firme de energia cogerada, dos quais 40% são eletricidade, e o restante, calor. O manejo florestal utilizaria anualmente, nesse caso, um sétimo da área total reflorestada. A tecnologia necessária é disponível e permite aperfeiçoamentos e inovações a partir de investimentos acessíveis à economia brasileira. O Brasil possui imensas áreas hoje desmatadas que, nessa transição para uma nova matriz energética mundial, deverão ser aproveitadas para a produção de energia a partir da biomassa. Cerca de 20% dos quase 220 milhões de hectares de pastagens estão degradados. Só a recuperação de áreas degradadas com reflorestamento para manejo energético geraria quase 20 mil MW assegurados em eletricidade, distribuídos ao longo de diferentes biomas brasileiros. Além da produção de biomassa para cogeração de eletricidade e calor, essas mesmas áreas já desmatadas permitem o aumento da produção de biocombustíveis – etanol e biodiesel, numa escala dificilmente encontrada em outros países. Obviamente, essa disponibilização de áreas de pastagem exige o aumento da produtividade na pecuária brasileira, hoje empacada no pobre índice de uma cabeça de gado por hectare. Mas esse aumento de produtividade irá ocorrer por diferentes fatores, inclusive pelo fato de a pecuária brasileira representar o primeiro maior emissor direto de gases de efeito estufa, depois do desmatamento da Amazônia. Se considerado ainda que a maior parte das áreas desmatadas na Amazônia é pasto, a criação de gado é, sozinha, a maior emissora de gases de efeito estufa no Brasil e, como atividade em si, no mundo. Mas é hora de começar a mudar isso. As florestas energéticas são uma alternativa para a utilização racional dessas áreas, com produção de energia e remoção de carbono da atmosfera. Uma base para a construção da economia com baixo carbono.

" as crises abrem oportunidades. Como exemplo, as florestas energéticas são uma boa oportunidade para combinar a geração de energia com a remoção de carbono da atmosfera " Roberto Isao Kishinami

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Diretor Geral da NRG Consultoria em Energia e Meio Ambiente



visão estratégica

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o meio ambiente e as

mudanças climáticas O IPCC lançou uma nova era na maneira como o mundo passou a enxergar as mudanças climáticas. O tão almejado desenvolvimento sustentável está intimamente ligado às mudanças climáticas e, consequentemente, aos desafios energéticos que o mundo enfrenta hoje. O desenvolvimento sustentável é aquele que vai ao encontro das necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de suprir suas próprias demandas. Esse conceito contém dois pontos chaves: o primeiro é o das necessidades, em particular dos países mais pobres, que deve ser priorizada. E, em segundo, as limitações impostas pelas condições atuais da tecnologia e das organizações sociais na habilidade de satisfazer as necessidades presentes e futuras. O primeiro conceito é ligado à equidade, e o segundo, à disponibilidade de recursos.

ano, com números ainda maiores no verão; • As mudanças climáticas estão redistribuindo as chuvas em direção ao norte, e • Houve um aumento na intensidade dos ciclones tropicais desde 1970, associado ao aumento de temperatura na superfície dos oceanos. Embora a redução da poluição atmosférica tenha tido um progresso considerável em grande parte do mundo, a realidade é que ainda dependemos muito dos combustíveis fósseis, que, além da ameaça de escassez, enfrentam problemas territoriais e políticos. Outro elemento essencial para um futuro mais sustentável é a questão das externalidades, que não se encaixam nas transações de mercado modernas. Por exemplo, apesar do aquecimento global ser um proble-

" hoje, tornar a energia utilizada mais eficiente não é uma solução completa para os atuais problemas "

José Goldemberg Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP

Uma matriz energética segura e sustentável será crucial para o desenvolvimento. Os combustíveis fósseis representam cerca de 80% do abastecimento mundial de energia, contra cerca de 6% de energia nuclear e 14% de energias renováveis. Com relação aos fósseis, eles somente poderão ser utilizados dessa maneira por mais uma ou duas gerações. Adicionado aos problemas de depleção, sua queima gera sérios problemas ambientais, com ênfase para as mudanças climáticas. Hoje, tornar a energia utilizada mais eficiente não é uma solução completa para os atuais problemas. Isso pode apenas ajudar a ganhar algum tempo até a criação de uma matriz energética totalmente limpa. O IPCC já concluiu que as mudanças climáticas provocadas pelo homem é um evento quase certo, destacando que: • Desde a era pré-industrial, as temperaturas médias cresceram cerca de 0,8 °C. A tendência linear de aquecimento global dos últimos cinquenta anos é duas vezes maior do que nos últimos cem anos; • A média dos níveis do oceano cresceu, no período de 19902003, quase o dobro da média do período de 1961-2003; • O derretimento de geleiras, da cobertura de gelo dos mares e de neve das montanhas está se acelerando. Houve redução das calotas em ambos os hemisférios. O derretimento da Groenlândia e da Antártica contribuiu para o aumento de nível dos oceanos. O Ártico está encolhendo quase 3% ao

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ma que afeta toda a humanidade e que seja causado em sua maior parte pela queima de combustíveis fósseis, uma das grandes falhas do mercado é não considerá-la e não definir um preço para as emissões de carbono. Estima-se que precificar o carbono a US$ 100 a tonelada pode reduzir, de imediato, o desmatamento das florestas tropicais, que contribuem em aproximadamente 15% das emissões totais de carbono. Cada hectare de floresta contém algo próximo a 100 toneladas de carbono. Os desafios atuais são mais sérios do que há 20 anos. Os altos preços do petróleo, os indícios do fim da era dos recursos naturais abundantes e baratos, o aumento dos conflitos geopolíticos, as disputas pelo suprimento de gás da Rússia para a Europa Oriental e as preocupações sobre as mudanças climáticas e suas consequências reforçam a convicção de que o momento das decisões é agora. O maior desafio é fazer com que os EUA (maiores emissores per capita de gases de efeito estufa), assim como a China (maior emissor global), Índia, Brasil e outros emissores significantes concordem em introduzir metas de redução. Uma mudança considerável de direção, apontando o sistema de energia mundial para um futuro mais sustentável, não será conquistada a tempo necessário para evitar riscos ambientais e energéticos significantes se os países em desenvolvimento simplesmente repassarem a trajetória energética histórica dos países já desenvolvidos.


Opiniões

é importante adotar medidas para conter as Não entendo por que se diz meio ambiente, quando a palavra ambiente já expressa, de forma mais concisa, o conceito de “aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas”. Há algum tempo, o ambiente em questão era o do ambiente natural, descrito pela climatologia, oceanografia, pedologia, botânica, etc, ou em geral, os ramos do conhecimento dedicados a descrever o estado do ambiente, implicitamente aceito como estático. A preocupação das últimas décadas está associada ao fato de que a humanidade demonstra uma capacidade crescente de modificar o ambiente, e, em muitos casos, o ambiente modificado é menos propício para a vida humana (e de outras espécies). Não somente a intensidade dos impactos das ações humanas sobre o ambiente tem crescido, mas sua extensão geográfica se ampliou e hoje

emissões já havia sido detectada de forma inequívoca. Para lograr essa detecção, foi necessário esperar que a temperatura média global da superfície aumentasse mais do que a variabilidade natural e que essa última fosse melhor explicada pelos modelos do clima. A implicação dessa decisão política, que aparentemente é generalizada no mundo, é que as emissões globais deverão ser reduzidas em algo como 60%, em relação aos níveis de 1990, para evitar que o clima continue mudando. A única liberdade à nossa disposição é a escolha de quando iniciar o processo. Se o fizermos logo, ainda será possível limitar a mudança do clima a 2 ºC. Se esperarmos poucas décadas, 3 ºC e assim por diante. Os danos causados pela mudança do clima tendem a ser maiores se estabilizarmos o aumento de temperatura em níveis mais altos.

" não somente a intensidade dos impactos das ações humanas sobre o ambiente tem crescido, mas sua extensão geográfica se ampliou e hoje abrange toda a Terra " Luiz Gylvan Meira Filho Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP

abrange toda a Terra. Os exemplos apareceram aos poucos: o estudo, na década de 1980, sobre o inverno nuclear, a destruição da camada de ozônio por substâncias sintetizadas pela nossa indústria, e, finalmente, a mudança do clima. É interessante notar que a Conferência de Estocolmo, em 1972, foi intitulada de “O Homem e o Meio Ambiente”, concentrando suas atenções em problemas locais ou, no máximo, regionais. Passou desapercebido um relatório da Academia de Ciência da Suécia, de 1971, sobre “Impacto do Homem sobre o Clima”, no qual a questão do aquecimento global figurou. Somente em 1992, com a Conferência sobre “Meio Ambiente e Desenvolvimento”, que o tema de impactos do homem em dimensão planetária recebeu a atenção devida. Ainda assim, o produto da Conferência, a Agenda 21, trata, em geral, dos problemas ambientais, sem um foco nos desafios globais. É sintomático que as duas grandes Convenções abertas à assinatura em 1992, sobre Mudança do Clima e Biodiversidade, foram negociadas em processos separados da redação da Agenda 21, por mandato direto da Assembleia Geral da ONU. Embora a base física da mudança do clima pelo aquecimento global causado pelo aumento do dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera já fosse bem conhecida há algum tempo, a decisão política de fazer algo a respeito foi adiada até que se pudesse afirmar, o que ocorreu em fevereiro de 2007, que a mudança do clima

As medidas para limitar as emissões de gases de efeito estufa, diferentemente do que é dito de forma apressada, não deverão criar constrangimentos para o desenvolvimento econômico do Brasil. O potencial de ampliação significativa de produção de biocombustíveis, desde o etanol já maduro e com potencial de expansão de área plantada e de desenvolvimento de tecnologias ainda mais avançadas do que as atuais, o biodiesel ainda em fase incipiente e, portanto, com grande potencial de crescimento, e o biocombustível sólido, que é o carvão vegetal oriundo de florestas plantadas, na produção de ferro e aço, devem constituir fatores de desenvolvimento econômico para o país. Registre-se que a pecuária brasileira, fonte de emissão de metano, é frequentemente citada como um fator de mudança do clima, cerca de seis vezes maior do que realmente é, pelo fator errôneo de equivalência entre a emissão do metano e aquela do dióxido de carbono. Concordo com a avaliação do editorial do jornal O Estado de S. Paulo, de que não faz sentido esperar pelas grandes negociações de tratados internacionais sobre as responsabilidades de cada país pelas medidas necessárias para conter as emissões, sendo importante adotar, desde já, as medidas necessárias e, com isso, influenciar as negociações internacionais, para que a contribuição que o Brasil pode dar para resolver o problema da mudança do clima seja refletida em remuneração condizente com a magnitude dessa contribuição.

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visão estratégica

Opiniões

o meio ambiente de toda

natureza

" resta-nos o caminho do desenvolvimento sustentável, que poderá nos garantir qualidade de vida, hoje, e o repasse de um ambiente saudável e pleno de recursos naturais, para as gerações futuras " Moacir José Sales Medrado Pesquisador da Embrapa Florestas

Imediatamente, após confirmar que escreveria este texto, fiz uma rápida busca na internet para sentir como a sociedade definia meio ambiente. Constatei, além das disparidades nas respostas, uma grande adjetivação do termo: meio ambiente abiótico, meio ambiente biótico, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural, enfim, “meio ambiente de toda natureza”. Comum, somente a conotação antropocêntrica que, a meu ver, explica o fato de a proteção jurídica assegurada à natureza se assentar no bem-estar e sobrevivência da espécie humana. Esse tipo de visão sobre o meio ambiente tem feito com que ele seja considerado valioso quando gera benefícios econômicos e desprezível quando não há tal possibilidade; pior, ainda, é que, nesse caso, opta-se pelos “pseudobenefícios” advindos de sua destruição. Isso tem gerado uma acentuada degradação ambiental, que só não é maior graças aos movimentos sociais, iniciando-se com a Cúpula de Meio Ambiente, realizada pela ONU em Estocolmo, em 1972, na qual os governos reconheceram, pela primeira vez, a necessidade de tratar a poluição provocada pelas atividades humanas. Mesmo assim, acumulamos graves problemas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na área urbana, devido a indústrias e automóveis, e na área rural, pelas mudanças no uso da terra e suas consequências: desmatamento, uso de agrotóxicos e degradação de solos por mau manejo. Esperava-se que, em 1987, vendo a imagem do buraco da camada de ozônio, a sociedade percebesse que o sistema de utilização dos recursos naturais incluído em nosso modelo de desenvolvimento não era sustentável. Mas não. Na década de 1990, a crise ecológica agravou-se, originando a Rio-92, que gerou importantes produtos: Agenda 21, Convenção da Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudança do Clima, e Convenção do Combate a Desertificação. Em 2000, na Cúpula do Milênio, chefes de Estado dos países-membros da ONU criaram as oito metas do milênio para o desenvolvimento, a serem cumpridas até 2015, e, novamente, os efeitos estão abaixo do esperado. Continuamos a receber relatórios com dados alarmantes sobre aquecimento global, diminuição da biodiversidade, aumento do nível do mar e, até mesmo, refugiados ambientais.

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Certo é que o mundo está submetido a níveis de emissões de GEE elevadíssimos, em razão da queima de combustíveis fósseis (66%), das mudanças de uso da terra (14%,) da agropecuária (20%). No Brasil, inversamente, as emissões vêm principalmente do desmatamento (70 a 75% de nossas emissões), seguido da agropecuária e da queima de combustíveis fósseis. Resta-nos, portanto, o caminho do desenvolvimento sustentável, que poderá nos garantir qualidade de vida, hoje, e o repasse de um ambiente saudável e pleno de recursos naturais, para as gerações futuras. Esse é o caminho a ser seguido pela sociedade. Felizmente, a maioria das empresas vinculadas às plantações florestais comerciais mostra-se sintonizada com essa nova dimensão do desenvolvimento. De outro modo, na exploração de florestas naturais, apesar dos esforços do Governo Federal com inúmeros Programas (Concessões Florestais para Manejo Sustentável, Distritos Florestais Sustentáveis, Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais – Pensaf, Proambiente e Pronaf Florestal) e de alguns bons empresários, vemos o avesso. Autoridades governamentais relatam fatos gravíssimos em relação à derrubada e queima das florestas naturais, à extração ilegal de madeira (aproximadamente 80%) e ao desperdício da mesma (70% em alguns casos). Além disso, a pecuarização da Amazônia aumenta, ainda mais, a questão dos GEE. Preocupa-me, também, a falta de infraestrutura e de conhecimentos tecnológicos, que poderá fazer com que os programas governamentais não gerem produtos de alto valor agregado, a partir de nossas florestas servindo, apenas, para geração de toras ou produtos não madeireiros de baixo valor agregado. Com base nesse quadro, agradam-me as conceituações que consideram o meio ambiente como tudo que está ao redor de um organismo e que tem interação com o mesmo - às vezes esse organismo é o homem. Nesse caso, podemos considerar como meio ambiente “o conjunto de fatores bióticos e abióticos que nos cercam e nos influenciam e que devem ser utilizados, considerando, além do sentido ecológico, os sentidos jurídico, filosófico e social”.



visão estratégica

Opiniões

o desafio

da sustentabilidade

Sustentabilidade é um tema que ganhou a agenda mundial nos últimos meses, basicamente em função da constatação da urgência relativa ao tema do aquecimento global. Com a divulgação do quarto relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, no fim de 2007, e a premiação do ex-vice-presidente americano Al Gore e do mesmo IPCC com o Prêmio Nobel da Paz, o tema das mudanças climáticas atingiu patamares de divulgação e discussão nunca antes vistos pela sociedade. Esse relatório, que é considerado como o mais importante já produzido até o momento pelo IPCC, constata que o aquecimento global, que se agrava a cada dia, é resultado da ação antrópica. Aponta também as consequências que tal fenômeno irá gerar até o ano de 2100, caso o homem não faça nada para impedi-lo, bem como as projeções de vulnerabilidade de diversas regiões do mundo e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

vado e sociedade civil. As políticas públicas para o tema são essenciais. No entanto, também cabe ao setor empresarial um papel fundamental na questão. Este tem uma enorme responsabilidade na oferta de soluções para os desafios climáticos, exercendo um papel mais ativo em várias frentes, seja no campo diplomático, exigindo do Brasil uma postura diferenciada nas negociações internacionais em curso, notadamente em relação aos eventuais compromissos dos países em desenvolvimento, seja na mitigação das emissões de seus produtos e serviços, contribuindo para uma economia de baixa intensidade de carbono. Está claro que essa é uma questão estratégica para o setor empresarial de hoje. Sustentabilidade não surgiu com o aquecimento global, mas adquiriu uma outra magnitude pela necessidade de se agir em relação a esse tema. No jargão usualmente utilizado na projeção de cenário, emprega-se a expressão business as usual, mas o que verdadeiramente está em jogo, em minha

" sustentabilidade não surgiu com o aquecimento global, mas adquiriu uma outra magnitude pela necessidade de se agir em relação a esse tema " Fábio Feldmann Secretário do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e Biodiversidade

Segundo o IPCC, os impactos que o aquecimento global irão provocar são inúmeros, e muitos deles já podem ser observados, tais como a diminuição da biodiversidade, com a migração e extinção de espécies, a perda da produtividade da agricultura e a impossibilidade de produção de determinadas culturas, o degelo das calotas polares, o aumento do nível dos oceanos e o surgimento de refugiados ambientais. Atualmente, o cenário mais pessimista projetado para a Humanidade para os próximos anos, já é hoje o cenário mais próximo da realidade, segundo conclusões do grupo de cientistas dos principais centros de pesquisa do mundo, que se reuniu em um encontro em Copenhague, Dinamarca, em março deste ano. O encontro teve como objetivo reunir todo o conhecimento científico sobre o tema e chegar a um consenso sobre o clima. Nessa ocasião, os cientistas divulgaram que o nível do mar deve subir um metro ou mais até 2100, isto é, o dobro dos 50 cm previstos pelo IPCC em 2007. Ainda, essa elevação significará a provável necessidade de migração de cerca de 600 milhões de pessoas – 10% da população mundial, que terão suas áreas inundadas. Tal evidência nos coloca a necessidade de buscarmos soluções para a questão em todos os níveis: poder público, setor pri-

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opinião, não será apenas o mundo dos negócios (business), que terá que ser transformado radicalmente, mas sim life as usual, que terá que sofrer inúmeras transformações. Quer dizer que nos próximos dez anos haverá uma enorme força de transformação afetando a sociedade em que vivemos em vários campos: a economia terá que incorporar a dimensão climática e de sustentabilidade, o papel do Estado e do poder público nesse campo será decisivo, e também o dos consumidores, que, em suas escolhas pessoais, irão demandar bens e serviços que incorporem novas dimensões ecológicas e sociais no seu processo de produção e de disposição final. O ambientalismo como conhecemos já está incorporando novos atores sociais, e será muito difícil imaginar que seja possível deixar de lado a dimensão da sustentabilidade em todos os processos decisórios, públicos e privados. Aliás, ainda que seja difícil precisar o que esse conceito significa, o esforço será o de definir metodologias que permitam traduzir em medidas efetivas e operacionais o que a sociedade vislumbra como sustentabilidade. Trata-se, portanto, de um processo em curso que será inexoravelmente o mais importante, em termos de transformação do mundo em que vivemos, constituindo o verdadeiro passaporte para o século XXI.


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o que é o meio ambiente?

para quem?

O meio ambiente, ou o conjunto de fatores físicos e biológicos naturais onde os humanos e os outros organismos coabitam, é onde as contradições do chamado desenvolvimento vêm ocorrendo, tanto no meio rural como no urbano deste planeta. A biodiversidade, um elemento essencial deste meio ambiente, juntamente com a água, vem sendo cada vez mais valorizada e considerada estratégica para a espécie humana, mas também está sendo destruída a cada dia, mesmo considerando que conhecemos somente 2-5% de toda essa riqueza biológica. Os humanos, prevalecendose de suas características de pseudossuperioridade, vêm colocando sua força para dominar com brutalidade essa natureza, ou o meio ambiente com que convive. Agindo assim, nós, os humanos, estamos colocando o nosso planeta sujeito a um alto risco de implosão, nesses tempos de foco nas mudanças climáticas globais.

ploração dos recursos naturais de forma errônea e perversa. O rumo da ciência e da tecnologia, muitas vezes voltadas aos interesses das indústrias, aponta, nesses casos, rumos contrários às práticas voltadas às necessidades socioambientais. Nesse sentido, medidas que visam minimizar esses impactos ambientais vêm sendo apontadas, sendo que uma das mais importantes tem como base o uso da agrobiodiversidade no meio rural, ou a inclusão de outros organismos associados, imitando ao mínimo o ecossistema original natural. O uso da agrobiodiversidade como ferramenta para práticas mais sustentáveis na agricultura, pecuária e silvicultura já mostra exemplos reais de novas formas de uso do solo, fazendo com que esse componente essencial para o meio ambiente rural venha sendo destacado. No Brasil, campeão absoluto de biodiversidade no mundo, esse fator se torna importante e possível.

" os humanos, prevalecendo-se de suas características de pseudossuperioridade, vêm colacando sua força para dominar com brutalidade essa natureza, ou o meio ambiente com que convive. " Paulo Yoshio Kageyama Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

Sendo pesquisador e promotor de políticas públicas sobre o tema biodiversidade, na natureza e no meio rural, isso sempre exige que tomemos uma posição e determinada postura com relação ao meio ambiente, do qual essa biodiversidade é parte importante. Nesse sentido, o equilíbrio fundamentado na alta biodiversidade dos trópicos deve ser para nós o referencial para as regras dessa convivência, principalmente nessas regiões. Pois é isso o que verificamos quando entramos numa floresta tropical: nenhum sinal de ataque de pragas ou doenças nos vegetais - há um equilíbrio ecológico dinâmico, conseguido nos milhões de anos da evolução dos organismos e de coevolução entre eles. Dessa forma, como já temos constatado na maioria das regiões, quando a alta biodiversidade dos trópicos é substituída sem nenhuma precaução e parcimônia por monocultivos em escalas enormes, com o uso cada vez maior de agrotóxicos, impactando tanto a saúde humana como o meio ambiente, a natureza clama por socorro, que é o que estamos vendo e vivendo. Com os sinais evidentes de que as nossas ações antrópicas são as responsáveis pelo aquecimento global, resultados da somatória das atividades impactantes em cada bioma e ecossistema, o que estamos constatando a cada momento, ações emergenciais vêm sendo exigidas, para conter essa ex-

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A incorporação das Áreas de Preservação Permanente e Reservas legais como estratégicas para incorporação de biodiversidade nos agrossistemas, inclusive para equilíbrio e aumento da produtividade, é um axioma que vem sendo comprovado. Ao mesmo tempo, verifica-se que há um movimento contrário, apontando que essas propostas seriam contra o desenvolvimento. Da mesma forma, a própria inclusão da biodiversidade nos sistemas produtivos, tanto agropecuários como silviculturais, também vem sendo pesquisada e preconizada com sucesso, porém, negligenciada. Para os agricultores familiares, principalmente, os denominados Sistemas Agroflorestais, que conjugam biodiversidade funcional às espécies carros-chefe no sistema de produção, apontam formas de incorporar equilíbrio ecológico ao meio ambiente agropecuário e silvicultural, sem perder a perspectiva de retorno econômico e qualidade de vida no meio ambiente rural. Associadas à(s) espécie(s) produtiva(s) economicamente, temos também, nesses sistemas, espécies produtivas de serviços, de nutrientes, além da biodiversidade. Esse é o meio ambiente saudável que enxergamos, sendo a utopia que apontamos, assim como vimos implantando, para o meio rural, que pode associar a produção de alimento saudável com qualidade de vida e práticas amigáveis ao ambiente.



visão estratégica

Opiniões

sustentabilidade: é preciso avançar do discurso à prática " Não existe receita. O livro do Manejo Florestal Sustentável não deve ser lido, mas escrito. "

Walter de Paula Lima Professor de Hidrologia Florestal da Esalq-USP

Um dos resultados da reunião da UNCED no Rio de Janeiro, em 1992, foi a disseminação, no setor florestal, do enfoque de Manejo Sustentável, implicando que o manejo deveria ser sustentável não apenas do ponto de vista econômico, mas também do social, cultural e ecológico, de acordo com o conceito de desenvolvimento sustentável. De modo que não deveria haver mais lugar para atividades de manejo de florestas, de áreas plantadas, ou de qualquer outro tipo de uso da terra, nesse sentido, que não estejam em sintonia com essas demandas contemporâneas de sustentabilidade, que refletem a percepção atual que o homem tem para com o ambiente, assim como as expectativas de toda a sociedade para com os inúmeros bens e serviços ambientais: água, moderação climática, proteção do solo e da ciclagem de nutrientes, biodiversidade, valores estéticos, culturais e espirituais. A implementação desse objetivo de manejo sustentável deve se basear na premissa da existência de uma ligação mútua e interativa entre os recursos florestais e todos os demais elementos do ecossistema, incluindo o fluxo de energia e a ciclagem da água e dos nutrientes. Implica, ainda, a premissa de que qualquer alteração da paisagem decorrente do uso dos recursos naturais tem invariavelmente reflexos ambientais. Assim, o manejo florestal sustentável implica na utilização de práticas integradas de manejo, visando organizar a ocupação dos espaços produtivos da paisagem, garantindo a permanência dos processos ecológicos e hidrológicos, minimizando os impactos ambientais. Essa busca de práticas sustentáveis de manejo, por sua vez, depende do monitoramento das ações, cujos resultados devem realimentar continuamente o plano de manejo, dentro de um enfoque adaptativo de constante e permanente aprendizado institucional e de melhoria contínua. Ou seja, o manejo florestal sustentável como tal não existe, é apenas um conceito balizador, um objetivo a ser perseguido. Esse é o enfoque que torna o conceito cristalino e eficaz, na busca constante pelas melhores alternativas possíveis de manejo, suportadas por políticas corporativas concretas de coexistência entre as dimensões econômicas, sociais, ecológicas e culturais do manejo florestal. A dimensão ambiental do manejo florestal, portanto, tem que ser vista como parte integrante do processo e não

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apenas como “algo a mais” que distingue um “bom manejo” de um “manejo convencional”. Não deveria ser afetada por crises econômicas passageiras, tampouco ser considerada um modismo. Ao longo da evolução da preocupação para com o meio ambiente, a dimensão ambiental do manejo atingiu a sua maturidade, não porque tudo que necessitava ser conhecido e estudado já o foi, mas, principalmente, para nos alertar de que o que se atingiu, na realidade, foi o fim das certezas e dos dogmas. Não existe receita. O livro do Manejo Florestal Sustentável não deve ser lido, mas escrito. No caso de florestas plantadas com espécies de rápido crescimento, a busca por alternativas de manejo mais condizentes com a sustentabilidade deve, em primeiro lugar, equacionar os aspectos básicos da produtividade florestal sob esse enfoque ecossistêmico, a fim de garantir a sustentabilidade da própria produtividade florestal, que é, afinal, o objetivo primário dessas florestas. Deve, além disso, levar em conta os possíveis conflitos pelo uso da água, em termos do equacionamento do consumo de água em relação às demandas já estabelecidas e à disponibilidade climática desse precioso recurso natural, além de minimizar os impactos sobre a qualidade da água, decorrentes das práticas de manejo. A adoção da microbacia hidrográfica como unidade ecossistêmica de planejamento fornece a base coerente para a implementação dessa estratégia hidrológica de manejo. Por outro lado, a perspectiva da microbacia como unidade de planejamento do manejo oferece, também, uma metodologia consistente para a incorporação da questão das diferentes escalas da sustentabilidade, o que contribui para o planejamento integrado ou sistêmico das ações de manejo. Essa perspectiva de uso da microbacia como unidade de planejamento do manejo de florestas plantadas fazia parte dos Princípios e Critérios do processo da Certificação Florestal, mas foi, recentemente, abolida pelos organismos gestores da Certificação, o que constituiu um gigantesco retrocesso ambiental. Os benefícios ambientais das florestas plantadas não são imediatos, ou seja, não ocorrem por si só, mas dependem crucialmente de nossas estratégias de manejo. Como já alertava Confúcio: “Não são as ervas daninhas que sufocam o grão, é a negligência do cultivador”.



visão estratégica

Opiniões

versus

recursos do solo

sustentabilidade florestal

O conceito de sustentabilidade florestal engloba aspectos relacionados à produção de bens, ao ambiente, ao social e ao econômico. De acordo com a Sociedade Americana de Ciência Florestal, "florestas sustentáveis são aquelas manejadas de forma a atender às necessidades do presente sem comprometer a habilidade de gerações futuras em satisfazerem suas próprias necessidades, pelo manejo ético e responsável da terra, integrando o crescimento, a provisão e a colheita das árvores para produtos úteis, observando a conservação do solo, da qualidade da água e do ar e do habitat da fauna silvestre e da pesca". As inter-relações e dependências entre esses aspectos justificam a preocupação permanente dos administradores e silvicultores na busca da sustentabilidade florestal, que é suportada por quatro pilares: a sustentabilidade da produção (biológica), ambiental, social e econômica, como vemos na figura em destaque. Esses quatro pilares devem mostrar um adequado alinhamento ou nivelamento entre si. Por exemplo, uma elevada produção de madeira em detrimento da conservação ambiental não se sustentaria por muito tempo. A sustentabilidade biológica depende da disponibilidade de fatores de crescimento para a produção de determinado bem, como madeira, por exemplo. Na região tropical, a disponibilidade dos recursos do solo – água e nutrientes, determina o nível da sustentabilidade. Técnicas de manejo do solo ou da floresta que interfiram negativamente e de maneira irreversível no estoque e no fluxo desses dois recursos podem levar à perda da sustentabilidade florestal. A sustentabilidade ambiental refere-se à capacidade do ambiente em prover recursos para a produção e o funcionamento equilibrado do ecossistema e satisfazer os anseios das comunidades local, regional, nacional e internacional e

dos clientes. A sustentabilidade econômica diz respeito ao retorno econômico do negócio. Por fim, a sustentabilidade social requer a aceitação e “cumplicidade” das várias comunidades para o negócio da empresa no que diz respeito aos aspectos ambientais, culturais, políticos e pessoais. A Ciência Florestal brasileira tem se mostrado bastante eficiente na busca de conhecimento e informações que permitam o desenvolvimento de técnicas de manejo sustentado das florestas, especialmente as plantadas, ainda que se reconheçam que existem muitas questões a serem resolvidas. O uso racional do solo e a preservação de formações vegetais e seus recursos, de acordo com os preceitos da legislação vigente, têm sido uma busca constante da silvicultura brasileira. Esse compromisso tem permitido a elevada produção de madeira em consonância com princípios do desenvolvimento ecologicamente sustentável. Citam-se, por exemplo, a não utilização da queima de resíduos no preparo das áreas para plantio, o preparo mínimo do solo, a aplicação e reposição de nutrientes em quantidades compatíveis com aquelas absorvidas pelas árvores e removidas pela colheita, a manutenção do máximo de resíduos vegetais na área, a utilização de materiais genéticos eficientes na utilização de nutrientes e água, dentre outras técnicas racionais e conservadoras de recursos. A estrita observância das leis ambientais fez com que as empresas florestais brasileiras se tornassem as maiores detentoras de áreas de preservação permanente dentre as que desenvolvem atividades de agronegócio. Não são raras as empresas que utilizam menos da metade de suas áreas para o plantio e produção de bens florestais. A esses aspectos soma-se o fato de, em muitas regiões, o cultivo florestal se limitar a áreas degradadas pelo uso agrícola e, especialmente, pastoril. Nessas áreas, o cultivo florestal tem contribuído para a recuperação do teor de matéria orgânica do solo, característica que é considerada como uma das mais importantes para a sustentabilidade, saúde e funcionalidade do solo.

" a estrita observância das leis ambientais fez com que as empresas florestais brasileiras se tornassem as maiores detentoras de áreas de preservação permanente dentre as que desenvolvem atividades de agronegócio "

Nairam Félix de Barros Professor em Ciência do Solo e Nutrição Florestal da UF Viçosa

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O cultivo florestal, dependendo do tipo de manejo aplicado, pode desempenhar algumas das funções típicas das florestas naturais. Além da conservação do solo e melhoria da qualidade da água, conforme já mencionado, as florestas plantadas podem contribuir para o aumento da biodiversidade, especialmente quando manejadas por desbastes para obtenção de madeira para serraria, postes e dormentes ferroviários. O desbaste permite a formação de sub-bosque de vegetação nativa, criando condições de maior diversidade vegetal, animal e de organismos do solo. Comparativamente aos cultivos agrícolas, poucos defensivos são utilizados no cultivo florestal, reduzindo a possibilidade de impactos no ambiente. Outro papel ambiental das florestas plantadas é evitar o avanço sobre as formações florestais naturais ainda existentes nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. O emprego de técnicas racionais e conservadoras de manejo tem permitido atingir elevadas produtividades florestais e obtenção do máximo de produtos e bens em um mínimo da área cultivada. Por fim, os benefícios econômicos e sociais das florestas plantadas devem estar alinhados com a produção e conservação ambiental. A atividade florestal tem importante participação no PIB brasileiro e na pauta de exportação do país. Os benefícios sociais podem ser medidos pelo número de empregos diretos e indiretos criados pela atividade - por exemplo, cada hectare de floresta plantada emprega quatro trabalhadores - e pelo tradicional IDH que, nas regiões de atuação de empresas florestais, tem crescido mais do que a média do estado ou de sua capital. Esses indicadores muitas vezes são desconsiderados por determinados setores da sociedade que, por razões políticas e/ou ideológicas, colocam-se em oposição à atividade das empresas florestais no Brasil.

Mensurar a sustentabilidade ou insustentabilidade de um ecossistema florestal não é tarefa fácil. Por isso o monitoramento de características ambientais e sociais é essencial para avaliação da sustentabilidade florestal (sensu lato). Vários pesquisadores têm buscado identificar indicadores de sustentabilidade florestal e estabelecer modelos que possam predizer a direção que a sustentabilidade está seguindo em resposta à aplicação de determinadas técnicas de manejo ou adoção de atitudes econômicas e sociais. A criação de índices que possam refletir o nível de cada sustentabilidade (biológica, ambiental, social e econômica) e um geral, que expresse a combinação delas, seria um grande avanço na tomada de decisões e na correção de rumos nas empresas visando manter um nível satisfatório de sustentabilidade florestal.

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visão de entidade

pensando nas

gerações

" A questão ambiental que se coloca para o mundo está na convergência entre o desenvolvimento e as limitações físicas do planeta. Qualquer resposta que não traga a sustentabilidade como princípio e fim está fadada ao fracasso. " Alessandra Bernuzzi Diretora de Responsabilidade Socioambiental da Abimaq e Gestora de Planejamento e Inteligência da Equipalcool

Afinal, o que é meio ambiente? Não faltam complexas definições sobre seu conceito. Quero compartilhar a visão mais simples: o meio ambiente é a nossa casa, o nosso sustento. Assim, o conceito de sustentabilidade será o equilíbrio que embasa essa casa e passará pelo entendimento dos diferentes estágios de renovação, exploração e utilização responsável dos recursos naturais. Este aspecto é fundamental: a limitação temporal e quantitativa de recursos. A ciência econômica necessita de uma releitura, de um redesenho de sua arquitetura mundial, pois ainda hoje administra as fontes primárias de recursos naturais como infinitas. Isso quebra o ciclo de equilíbrio que permeia o conceito de sustentabilidade, pois tais recursos possuem um tempo para cumprir seu ciclo de renovação. A degradação e o uso irracional de recursos geram passivos que não são contabilizados pelas empresas e países. O PIB, por exemplo, é um indicador que não contabiliza os passivos e custos socioambientais gerados para que uma riqueza seja produzida. Nem os ativos ambientais, que poucas empresas realizam, são contabilizados de forma adequada. Essas distorções analíticas têm sido questionadas, e novos mecanismos de aferição de desenvolvimento, bem como de controles (normalizações, fiscalização), começam a ganhar destaque global como elementos importantes de gestão. As regulamentações não são barreiras para o desenvolvimento. Pelo contrário, a presença de dificuldades ou de supostas dificuldades, como em qualquer outra esfera da vida, é um fator de estímulo à superação e ao desenvolvimento de soluções inovadoras. A série ISO 14000, por exemplo, foi fundamental para difundir o conceito de qualidade e eficiência de recursos, métodos e processos, em conformidade com o conceito de sustentabilidade. Na indústria, especificamente, isso significa inovação de métodos de produção e de produtos ambientalmente corretos e competitivos. Agregar preservação ambiental à produção impõe também agregar os passivos ambientais, sem perda de lucratividade, com utilização criteriosa de energia, trabalho e recursos. O controle ambiental é aliado da competitividade. Essa postura é extremamente positiva, e os resultados estão nas iniciativas no âmbito da responsabilidade socioambiental.

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O investimento em controle ambiental das indústrias brasileiras, por exemplo, cresceu mais de 83% entre 1997 e 2007 (IBGE), o que demonstra o interesse não só para adequação às normas vigentes, mas também para atendimento aos princípios da sustentabilidade. É a presente geração pensando nas futuras. A gestão equilibrada, com diminuição de retrabalho e aumento da eficiência e qualidade dos produtos, influencia a opinião do consumidor final ou empresarial, gerando melhores produtos, com tecnologias sustentáveis incorporadas. Essas ações, longe de serem um problema, resultam em ativos, receitas e lucros. A gestão sustentável traz oportunidades de negócios. A bioenergia, por exemplo, já consolidada no Brasil, possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Aliás, temos uma saída valiosa para esse mundo em transição, que procura o equilíbrio entre consumo e meio ambiente: a cana-de-açúcar. Seja como combustível veicular, fonte de energia em sistemas de cogeração, ou ainda como substituto dos derivados do petróleo na etanolquímica. Os produtos e subprodutos da cana contribuem para o controle dos gases de efeito estufa, para a geração alternativa de energia, para o controle dos resíduos agroindustriais. Sem dúvida, a cana desempenha um papel importante para o desenvolvimento sustentado do país. A questão ambiental que se coloca para o mundo está na convergência entre o desenvolvimento e as limitações físicas do planeta. Qualquer resposta que não traga a sustentabilidade como princípio e fim está fadada ao fracasso. Nesse cenário de novos conceitos e expressões, que procuram dar novo sentido para a realidade marcada por mudanças climáticas, a chamada “Era do Carbono” deve ser conscientemente substituída por “Era do Respeito”. Respeito como valor e não como ideal, que contribui para formar o conceito de Cadeia de Valor Sustentável, em que a interação aconteça entre empresas que tiverem e mantiverem os princípios da sustentabilidade arraigados ao seu negócio. A Era do Respeito deve vir acompanhada de um amadurecimento intenso, fruto do conhecimento e da consciência sobre a interdependência entre o social, o econômico e o ambiental. O conceito de Cadeia de Valor Sustentável é o que mais se assemelha ao que, há bilhões de anos, o meio ambiente proporciona: equilíbrio.


Opiniões

por uma nova

legislação ambiental

Se o conjunto de normas existentes, hoje, para o meio ambiente na área agrícola continuar vigorando, metade das propriedades rurais do país, cerca de um milhão de produtores rurais, ficarão na ilegalidade. Esse contingente representa aproximadamente 20% da produção rural do país. Os dados são do Ministério da Agricultura. Como diz o ministro Reinhold Stephanes, a legislação atual foi construída sem muita racionalidade, foi feita por política, ideologia, com contornos emocionais. Para se ter uma ideia da problemática ambiental brasileira, existem cerca de 16 mil leis que regem a questão no país. O fato é que o Código Florestal foi construído ao longo dos anos, por meio de portarias, decretos, medidas provisórias, entre outros atos do Executivo. Recente estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite mostra que reservas florestais, unidades de conservação da biodiversidade, áreas de preservação permanente, reserva legal e áreas indígenas ocupam 67% do Brasil. Esse percentual deve aumentar em mais 10% com as novas áreas para quilombolas, povos indígenas e conservação prioritária para biodiversidade, restando apenas 23% para a produção. Somente 25% do território brasileiro é utilizado para agricultura e pecuária, e todos os produtos destinados à alimentação e exportação são cultivados em apenas 7% do território. Para cumprir a legislação vigente, teríamos que paralisar todos os empreendimentos que fossem ocupar novas áreas e devolver à natureza muitas das áreas que ocupamos atualmente. Tomando-se como exemplo, na área rural, grande parte da produção de maçã em Santa Catarina, de café em Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo e de arroz no Rio Grande do Sul não poderia continuar existindo. Na verdade, não há, no mundo, nenhuma nação que reserva, para proteção da natureza, porcentual sequer próximo ao mencionado. Se o fizéssemos, a deterioração da balança comercial seria rápida, comprometendo completamente a economia nacional. Por isso, o ajuste do Código Florestal à realidade brasileira é imprescindível. Produtor é amigo do meio ambiente: O produtor é o maior interessado no meio ambiente preservado. Do equilíbrio dos recursos naturais é que depende sua atividade e sobrevivência. O produtor tem cumprido sua responsabilidade ambien-

tal. É o principal agente e patrocinador do conservacionismo e da manutenção dos recursos naturais. É imprescindível para a atividade rural a proteção das nascentes, o cuidado com o assoreamento dos rios, a conservação do solo, a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio da natureza. O produtor é o maior responsável pela absorção da poluição causada nas cidades e pela manutenção dos recursos hídricos que as abastecem. Nessa questão, ele não pode pagar a conta sozinho. Assim como a questão agrária, a legislação ambiental é enraizada de ideologia, anacronismo. Uma legislação ambiental justa e eficiente – que promova a conservação, sem barrar o desenvolvimento – tem que contemplar particularidades de cada região do país. Deve ser segmentada por bioma. É imprescindível o zoneamento agrícola. Conservar não passa necessariamente por deixar a mata intocável. Aliás, por falar em biodiversidade, é fundamental pesquisar, explorar sustentavelmente as riquezas, que, por ventura, possam existir, como no caso da Amazônia, onde vivem cerca de 25 milhões de pessoas, carentes de políticas de desenvolvimento sustentável. Proposta para mudança do Código Florestal: A SRB apoia a proposta do MAPA para atualização do Código Florestal. Os principais pontos são: somar Áreas de Proteção Permanente (APPs) com as de Reserva Legal; recompor a Reserva Legal: usar espécies arbóreas econômicas mais as nativas; possibilitar a compensação da Reserva Legal fora da bacia hidrográfica ou do estado; permitir a continuidade das atividades agropecuárias em APPs consolidadas - topos de morro, encostas, várzeas; aumentar o prazo previsto para a compensação da Reserva Legal, iniciando a contagem na publicação da lei; o uso das APPs deve ser atribuição dos Estados - Consemas e/ou Secretarias Estaduais do Meio Ambiente - baseado na orientação dos Zoneamentos Ecológicos Econômicos (ZEEs); desmatamento zero no bioma amazônico, e flexibilizar a legislação aos pequenos produtores que não têm condições financeiras de se adequar às normas da compensação ambiental.

" É imprescindível para a atividade rural a proteção das nascentes, o cuidado com o assoreamento dos rios, a conservação do solo, a manutenção da biodiversidade e o equilíbrio da natureza. " Cesário Ramalho da Silva Presidente da SRB - Sociedade Rural Brasileira

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visão de ong

o alvo

Opiniões

móvel

" uma grande oportunidade de desenvolvimento para o Brasil está justamente na economia florestal "

Roberto Smeraldi Jornalista e Diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira

A pergunta mais frequente à qual ainda sou obrigado a responder – em entrevistas, palestras e reuniões – é ainda aquela clássica “como resolver o conflito entre conservação e desenvolvimento?”. Ora, se os geradores de opinião na sociedade estão ainda se questionando sobre essa suposta dicotomia, é indício de que sustentabilidade está ainda longe da pauta, para a maioria dos atores econômicos. Se houver um conflito – e há, claro, é evidentemente entre desenvolvimento e devastação, nunca entre desenvolvimento e conservação, pois a segunda é condição necessária, embora não suficiente, para o primeiro. Já imaginou um desenvolvimento baseado na destruição do capital natural? Seria uma contradição. Eu nunca vi. Outro indicador importante da distância entre a realidade do mundo empresarial atual no Brasil - com as devidas exceções que confirmam a regra - e a sustentabilidade, reside no fato de que a maioria, até hoje, cria departamentos ou gerências de sustentabilidade, outra grosseira contradição conceitual. Por definição, sustentabilidade é algo que só pode estar no centro do negócio, sem qualquer dimensão setorial. O único possível gerente de sustentabilidade é o CEO da empresa. O resto é conversa para boi dormir. Muitos até inserem a sustentabilidade dentro da área de marketing, ou do vago conceito de responsabilidade social empresarial, algo que é exatamente o contrário de sustentabilidade: significa que a empresa assume que seu negócio impacta negativamente a sociedade e resolveu fazer alguma boa ação para não se tornar tão antipática aos chamados stakeholders. Nem acredito naqueles que pregam a teoria dos passos progressivos, ou seja, que se começaria com responsabilidade social para avançar rumo à sustentabilidade. Balela. Se você escolhe o caminho de dar sobrevida a atividades obsolescentes, não escolherá aquele da inovação, pois não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo, ou, pelo menos, nunca vi isso acontecer até hoje. Buscar sustentabilidade significa fazer aquilo que um dos maiores economistas do século passado, Schumpeter, revelava nos anos 40 como essência do negócio: renovar o mesmo por meio de uma destruição criativa.

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Nesse sentido, sustentabilidade pressupõe ser mais competitivo, dando prioridade à eficácia em vez da eficiência, e adotar uma noção completa e abrangente do conceito de capitalismo, incluindo capital manufaturado, natural, humano, financeiro e social. Muitos acham que a atual crise é do capitalismo, errando: é de um capitalismo manco, que desconsidera e despreza aspectos essenciais do capital. O setor florestal é um bom exemplo, aliás, dos melhores. Uma grande oportunidade de desenvolvimento para o Brasil está justamente na economia florestal. Só que estamos ainda reproduzindo – mesmo quando chegamos a padrões ótimos ou bons de manejo da floresta – um modelo que não agrega e não se torna hegemônico por meio da formação de arranjos produtivos, de cadeias, de indústria. A economia florestal integrada deve ser abrangente, associando produtos a serviços e, assim, maximizando o valor da floresta. Além disso, deve avançar para as novas fronteiras da tecnologia, como a biomimética, a imitação da natureza, com a qual se vai definir a vantagem competitiva ao longo deste século. Pensar economia florestal só como metros cúbicos de madeira – mesmo que com corretos certificados FSC – não significa ainda sustentabilidade, e sim apenas uma boa prática, que, porém, nem necessariamente sabe competir com as atividades que convertem a floresta. Continuo bastante convencido de uma definição que lancei num livro de 2004, o primeiro Manual de Negócios Sustentáveis (sairá neste ano uma nova edição, na qual aprofundo e amplio esta discussão): a sustentabilidade nada mais é do que um alvo móvel, que apresenta o desafio de tentar sempre se aproximar dela, sem nunca atingi-la. Isso porque, na medida em que você se aproximar do alvo, as condições que permitem a sustentabilidade já terão sido alteradas pela evolução da sociedade. É essa a visão dinâmica, de atualização permanente, que deveria finalmente pautar o debate. Sustentabilidade é para quem tem garra e determinação de liderar e assumir uma inovação radical, não para quem deseja publicar volumosos relatórios em papel reciclado com criancinhas sorrindo.



visão de ong

Opiniões

sustentabilidade

não é parâmetro para nortear decições empresariais O meio ambiente tem sido um parâmetro importante para nortear as decisões de negócios? No que se refere à Amazônia, onde trabalho, a resposta é não! A expansão da produção de gado na região tem sido baseada principalmente no desmatamento, e a exploração de madeira das florestas nativas é, em sua maioria, predatória. A exploração sustentável de madeira e o reflorestamento são ínfimos. Por que o meio ambiente tem sido um fator secundário nas decisões de negócio? Os empresários têm respondido aos sinais do consumidor, do Estado e dos eleitores. A maioria dos consumidores não compra produtos sustentáveis se eles custam mais caro. Assim, o nicho para os produtos sustentáveis é limitado, e os produtores insustentáveis acabam ocupando a maior parte. Na Amazônia, a situação é ainda pior, pois as barreiras aos negócios, como o caos fundiário, dificultam o atendimento ao pequeno mercado para madeira certificada.

Os eleitores, por sua vez, são contraditórios. Embora a maioria declare em pesquisas de opinião que é contra o desmatamento e que não votou naqueles favoráveis à redução da proteção ambiental, continua votando naqueles desinteressados em meio ambiente. Do contrário, teríamos políticas ambientais mais eficientes. O que fazer se faltam incentivos claros para que os empresários considerem o meio ambiente como estratégico? Esse é um problema clássico de estratégia, em que a solução demanda cooperação e coordenação. Em muitos desses problemas, não é preciso esperar um consenso, mas sim atingir uma massa crítica necessária para as mudanças. Impulsionar práticas empresariais mais sustentáveis demandará um acordo global sobre mudanças climáticas. O mundo precisa pôr um preço nas emissões do carbono para reduzi-las. Assim, é necessário pressionar as elites políticas, para que cheguem a um acordo climático pós-Kyoto,

" o nicho para os produtos sustentáveis é limitado, e os produtores insustentáveis acabam ocupando a maior parte "

Paulo Gonçalves Barreto Pesquisador-sênior do Imazon

O Estado, que deveria assegurar o interesse público, tem sido ineficiente, contraditório ou dominado por interesses de curto prazo, legítimos ou não. Alguns exemplos ilustram essa afirmação. O governo aumenta a fiscalização contra crimes ambientais, mas arrecada menos de 5% do valor total das multas. Assim, resta a sensação de que se ganhou (com o avanço das regras ambientais), mas não se levou. Se a produção predatória e ilegal é financeiramente vantajosa, as empresas continuarão predatórias. O governo também dá maus exemplos quando investe, sem considerar o meio ambiente, na criação de assentamentos de reforma agrária na Amazônia, sem o licenciamento ambiental, em frigoríficos que se abastecem de gado de origem ilegal e na reconstrução de uma estrada (BR-319) que dará prejuízo financeiro e ambiental. O Judiciário, por sua vez, inicia processos contra crimes ambientais, mas muitos prescrevem, ou demoram tantos anos, que os réus desaparecem. A justiça que tarda, falha! Além disso, parte dos parlamentares propõe ou aprova normas para reduzir as salvaguardas ambientais ou que facilitam a apropriação dos recursos públicos, como a Medida Provisória 458, sobre a regularização fundiária. Se a terra é facilmente acessível, há pouco incentivo para investir no aumento da produtividade das áreas já desmatadas.

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que seja relevante e suficiente para evitar catástrofes climáticas. Não é preciso esperar que todos os países cheguem ao consenso, mas sim envolver os emissores históricos e os países em desenvolvimento, incluindo China, Índia e Brasil. Já existem tecnologias para eliminar cerca de 80% das emissões globais que devem ser reduzidas. O Brasil pode fazer essa transição com certa facilidade, já que mais da metade de suas emissões vem de queimadas e desmatamentos na Amazônia, que pouco contribuem para o PIB. A eliminação do desmatamento até 2030 corresponderia a 72% do potencial de reduções do Brasil, segundo a consultoria McKinsey. Além disso, o setor florestal poderia se beneficiar de iniciativas para reflorestamento e manejo de florestas para sequestro e estoque de carbono. Essas oportunidades poderiam unir setores que hoje aparecem em campos opostos: ambientalistas e ruralistas. Por exemplo, as propostas para lidar com o Código Florestal deveriam focar na promoção da conservação, baseada nessas novas oportunidades (inclusive com pagamentos por serviços ambientais aos proprietários rurais) e não na redução de proteção ou legalização de usos do solo iniciados ilegalmente. Os descendentes dos líderes desses setores agradeceriam muito se eles iniciassem conversas efetivas nessa direção!


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visão empresarial

sustentabilidade é o

caminho

para solidez

" o setor florestal, especialmente a indústria de celulose e papel, vem fazendo sua lição de casa ao longo das últimas décadas e dando exemplos de sustentabilidade ambiental " Pedro de Toledo Piza Consultor Jurídico Ambiental da Pöyry Tecnologia

Consideramos a sustentabilidade ambiental um dos principais marcos do século XXI. A palavra “sustentabilidade” deriva do verbo sustentar, presente nos meios profissional, social e familiar. Segundo o Dicionário Aurélio, sustentar é: “1. Segurar para que não caia, suster, suportar. ... 8. Impedir a ruína ou queda de. ... 11. Defender com argumentos ou razões ...”. Transpondo a definição denotativa, entendemos que a sustentabilidade ambiental revela-se intrinsecamente relacionada a quesitos de ordem financeira e social, e afeta diretamente investimentos, projetos e, principalmente, atividades que demandam matéria-prima florestal. Ora, a sustentabilidade ambiental é vetor regente de alternativas e, por consequência, fator determinante nos estudos desenvolvidos pela consultoria. Uma vez reconhecida a possibilidade de ocorrência de impactos ambientais da silvicultura ou os processos produtivos que utilizam a floresta como matéria-prima, torna-se importante a adoção de novos paradigmas. Nossa missão de consultor ambiental é tornar viável a concepção do empreendimento, com base em premissas de ordem financeira, sempre aliadas às questões ambientais e sociais, desde a fase de planejamento do projeto até sua operação, atendendo às demandas dos stakeholders. Essas, por sua vez, consolidadas em marcos históricos como Conferência de Estocolmo, Cúpula da Terra, Conferência de Johanesburgo, Rio+10, etc, não podem ser desprezadas, pois o mercado consumidor exige do empresário sua parcela de responsabilidade ambiental. O setor florestal, especialmente a indústria de celulose e papel, vem fazendo sua lição de casa ao longo das últimas décadas e dando exemplos de sustentabilidade ambiental. Logo, a consultoria técnica especializada tem acompanhado essa tendência e trabalha em parceria, certos da importância estratégica de recursos naturais por eles utilizados, essenciais à indústria de celulose e papel. Paralelamente à necessidade de elaboração de estudos ambientais (EIA/RIMA e outras figuras) para empreendimentos causadores de significativo impacto ambiental, há exigências internacionais, muitas vezes representadas por barreiras técnicas ambientais, que mobilizam a indústria para atendimento de rígidos padrões e intrincadas certificações. Vislumbrar o futuro cenário concorrencial, onde a

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competitividade de mercado extrapola limites econômicos e adentra a dinâmica cultural, é essencial à sobrevivência de qualquer empreendimento. O papel do consultor deve ultrapassar a fronteira do planejamento e operar em parceria com seu cliente, envolvendo o empreendimento sob a égide da sustentabilidade. Sua relevância é reconhecida até mesmo no planejamento para embasar critérios de requerimento a financiamentos e avaliação de créditos por entidades financeiras. Recentes exemplos são análises de EIA/RIMA por entidades financeiras, como BNDES, Banco Mundial, etc. Reflexo disso é que os setores usuários da matéria-prima florestal procuram cada vez mais adequar toda sua cadeia produtiva à sustentabilidade, exigindo respaldo de critérios técnicos e ambientais. Em nossos recentes trabalhos, identificamos hot spots que vêm se tornando tendência para projetos de silvicultura: atenção a diferentes espécies de Zoneamento Ambiental e Econômico Ecológico; reciclagem e reposição de nutrientes, manutenção de fertilidade do solo; manejo florestal sustentável e certificado; medidas de restauração e preservação de Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais; emprego de melhores tecnologias disponíveis; avaliação do impacto paisagístico, etc. Igualmente, são objeto de preocupação: emissões atmosféricas e qualidade do ar, com foco na saúde humana; possibilidades de geração de créditos de carbono desde a fase conceitual; alternativas de mitigação e neutralização de emissões, de negociações em mercado de emissões, e emprego de novas fontes de energias com menores impactos socioambientais. Portanto, ao se deparar com a concepção de novo empreendimento, ou expansão de um já existente, há necessidade de superação de parâmetros de mercado. A sustentabilidade está além da gestão ambiental; agrega valor ao projeto e se traduz nos índices como Dow Jones Sustainability Index, Índice de Sustentabilidade BM&FBovespa, que geram valorização das ações de empresas comprometidas com a sustentabilidade. Considerar a variável ambiental é imprescindível para evitar atrasos de cronograma, reduzir custos socioambientais e juros financeiros. Agir sustentável é impedir a ruína e evitar a queda; é prover segurança ao empreendimento.


Opiniões

produtos sustentáveis possibilitam maior

produção

" a oferta de produtos sustentáveis para o setor agrícola e florestal deve possibilitar que ambos produzam mais, utilizando menos recursos naturais em uma mesma unidade de terra " Gabriela Procópio Burian Gerente de Meio Ambiente da Monsanto do Brasil

De acordo com o Programa das Nações Unidas, o meio ambiente, “é o conjunto do sistema externo físico e biológico, no qual vivem o homem e os outros organismos”. O ser humano é parte desse sistema assim como outros trinta milhões de espécies, atuais e futuras gerações, e é fundamental que a questão ambiental seja integrada ao desenvolvimento econômico, como já colocava na ONU, em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente no Relatório Brundtland. Critérios ambientais e sociais começaram a fazer parte do desenvolvimento econômico de uma forma mais estruturada a partir dessa época. Considerando-se que nos últimos cinquenta anos a demanda mundial de grãos cresceu 2,7 vezes, nos próximos cinquenta, deve-se produzir quantidade de alimentos equivalente à dos últimos dez mil anos. Até hoje essa produção tem utilizado cerca de 70% de toda a água doce do mundo. O desafio está colocado para todos: como aumentar a produção de alimentos, para atender à demanda crescente, preservando o meio ambiente? Na escala atual, seria necessário o dobro de área para atender a essa demanda e aumento do uso da água em cerca de 20%. A questão de recursos naturais e produção tem sido uma das causas de grandes embates e muitas vezes se perdem em discussões improdutivas. Ainda que não seja fácil, esse diálogo envolvendo os diversos setores da sociedade é fundamental para que se encontrem soluções factíveis e que ajudem a conservar mais, mantendo a produção suficiente para atender a demanda por alimentos e energia, que deve dobrar nos próximos 40 anos. O setor florestal brasileiro tem sido um dos mais avançados no diálogo com a sociedade, sendo o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica um bom exemplo dessa atuação com governos estaduais, ONGs, associações diversas e empresas florestais, buscando atingir um objetivo comum. Nesse cenário, as ações demandadas estão em várias esferas: Nas práticas das empresas: que seus processos produtivos sejam mais sustentáveis (menor emissão de CO2 e menor consumo de água, para citarmos as principais), dialogando com as comunidades no entorno de suas operações, em busca de alternativas que tragam o menor impacto possível ao meio ambiente.

Na incorporação da questão: conscientizando colaboradores e suas cadeias produtivas para a necessidade de repensar os modelos atuais com o olhar sistêmico e envolvendo todos os setores da sociedade, de modo a encontrar soluções além das fronteiras de nossas empresas. No olhar sistêmico de sua relação com a sociedade: integrando soluções e trabalhando de forma conjunta com a sociedade civil, de modo a manter e repor hábitats importantes, as vezes não diretamente relacionados com o negócio, mas indiretamente sempre. E, finalmente, nas soluções apresentadas aos clientes, as quais devem ser sustentáveis: economicamente interessantes, respeitando o meio ambiente e levando-se em conta aspectos sociais. E nesse cenário, saber dialogar com todos os setores da sociedade é fundamental para se construir as necessárias novas formas de fazer negócio. Uma das maneiras práticas de dialogar no dia a dia com a sociedade tem sido os Comitês de Sustentabilidade com participação representativa de todos os setores externos e internos às empresas, discutindo soluções viáveis e importantes nos três aspectos. Nessa ótica, a oferta de produtos sustentáveis para o setor agrícola e florestal deve possibilitar que ambos produzam mais, utilizando menos recursos naturais em uma mesma unidade de terra, evitando, assim, avanço no desmatamento e preservando importantes áreas. Assiste-se ao crescimento da produtividade das lavouras ao longo dos últimos anos por meio do melhoramento genético e de boas práticas agronômicas e florestais. Mas, para transpor a barreira de maior produção com menor uso de recursos naturais, é necessário dispor de tecnologias modernas, como a biotecnologia, que tem possibilitado aos produtores de alimento, fibra, ração ou energia utilizarem cada vez menos recursos naturais e, mesmo assim, produzirem mais. De 1996 a 2006, a biotecnologia reduziu quase 224 mil toneladas em herbicidas e inseticidas (o equivalente a 40% do volume atual de defensivos nas lavouras da União Europeia) e 15% de redução de CO2 (dióxido de carbono), segundo Graham Brookes e Peter Barfoot. Além do meio ambiente, essa tecnologia tem ajudado a inclusão social, fazendo com que comunidades agrícolas com pouco acesso ao manejo de ervas ou pragas possam viabilizar suas produções.

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visão empresarial

Opiniões

ainda há tempo para mudar.

mãos à obra!

O meio ambiente não deve ser compreendido apenas como o espaço da natureza, das plantas, dos animais, dos recursos hídricos e minerais. O meio ambiente deve ser entendido com base numa visão holística, como um espaço físico-universal, onde há uma interação social, ambiental, cultural e econômica que está em permanente mudança. Meio ambiente somos nós e tudo que nos cerca.

Aquele movimento sísmico no oceano Índico, que teve magnitude de 9,1 pontos na escala Richter, teria ocorrido como resultado da sobreposição de duas placas continentais sobre uma falha no leito marinho do oceano Índico. Segundo o estudo, o terremoto elevou o fundo marinho a vários metros sobre uma superfície de milhares de quilômetros quadrados, com pelo menos duas mudanças na

" se não encararmos a sustentabilidade como parte de nossas vidas, como algo que deve estar presente em cada ação do nosso dia a dia, não teremos como garantir as futuras gerações " Augusto Praxedes Neto Gerente de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Jari Celulose - Grupo Orsa

Se observarmos a história, até bem pouco tempo, a maior parte das transformações do planeta, como as grandes alterações geológicas, ocorreu de forma natural, independente da ação humana e até mesmo antes de sua existência. São terremotos, vulcões e outros fenômenos naturais de enormes proporções, que, se por um lado provocam destruição, por outro alteram a paisagem, fazendo surgir montanhas e ilhas, separando continentes e unindo outros. Essas alterações no relevo terrestre pertencem à dinâmica natural do planeta e têm influência no clima e na biodiversidade. Não há quem nunca ouviu falar da famosa teoria da seleção natural, do cientista Charles Darwin, que a desenvolveu viajando pelo mundo, observando não só os diferentes seres, mas também as mudanças geológicas sofridas pela Terra. Concluiu que, se o planeta sofre mudanças significativas na sua forma física, os seres que não tiverem condições de se adaptar às mudanças acabam extintos, o que pode ter acontecido com os dinossauros. Ainda de acordo com Darwin, se o planeta muda, seus habitantes também mudam. E nosso planeta ainda está em constante mudança. O relevo ainda está sendo moldado pela ação das forças naturais, que continuam a girar no decorrer de milhões de anos, forças que têm provocado mudanças mais visíveis quando agem de dentro para fora da terra, como nos eventos de tectonismo, vulcanismo e nos abalos sísmicos. Tivemos um exemplo recente, em dezembro de 2004, por ocasião do tsunami que matou quase 250 mil pessoas em doze países banhados pelo oceano Índico. Em 2006, dois anos depois, a respeitada revista Science publicou estudos com dados de dois satélites da Agência Espacial Americana (NASA) que confirmaram mudanças sofridas pela Terra após o tsunami.

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estrutura geológica da região. É importante ressaltar que as transformações naturais foram e serão sempre necessárias para a existência do planeta e da própria humanidade. A natureza foi sábia ao nos proporcionar tantos recursos, capazes de suprir as demandas de quem vive no planeta, mas é fundamental que haja equilíbrio entre a ação humana e a capacidade de suporte dos recursos naturais, pois a velocidade de consumo é muito mais intensa do que a sua renovação. Essa equação, no entanto, nos obriga a administrar com responsabilidade o que temos disponível, pois a maioria desses recursos é finita. As mudanças climáticas que hoje observamos são, em muitos casos, senão em sua maioria, resultado desse desequilíbrio, da ação predatória do próprio homem em relação ao seu habitat. Consequência da sua dissociação, da postura de ser superior, aquele que domina e não aquele que compõe. E, ao se colocar como algo isolado do meio ambiente, como alguém imune, que não exerce impacto, coloca em risco sua própria existência. Buscar esse equilíbrio é questão de honra para a raça humana, que deve repensar seus valores, passar a produzir e gerar riquezas de modo ético e responsável, a adotar o consumo consciente e socialmente justo, a investir na educação ambiental. Se não encararmos a sustentabilidade como parte de nossas vidas, como algo que deve estar presente em cada ação do nosso dia a dia, não teremos como garantir as futuras gerações. E talvez nosso destino seja o mesmo dos dinossauros: peças arqueológicas de uma espécie que um dia habitou esse planeta. Mas ainda há tempo para mudar esse cenário, é só uma questão de consciência e, principalmente, de atitude. Então, mãos à obra!


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combatero bom combate Mesmo a princípio, parecendo um conceito simples, a complexidade do tema meio ambiente se torna clara ao vermos os efeitos que a sua degradação causa em praticamente todas as esferas de nossas vidas: do clima à migração de pessoas, da saúde à economia, dentre diversos outros aspectos que afetam a todos diariamente. Existem evidências de que o planeta está sofrendo muito com abusos do homem. Quando pesquisamos o que está acontecendo no mundo, vemos incêndios acima do normal, concentração de gases do efeito estufa, degelo das calotas polares, aumento de tremores de terra, furacões, vulcões e tempestades. Os extremos estão se acentuando. Se quisermos que o futuro seja melhor, para nós e para as gerações futuras, precisamos promover a mudança agora. Nesse sentido, a iniciativa privada tem um papel crucial a cumprir, como agregadora de esforços e multiplicadora de boas práticas. Não se concebe mais que uma empresa se instale em uma comunidade apenas para fazer lucro. A empresa sobrevive do lucro e retira dele as condições para fazer mais e melhor. Mas o lucro não pode ser apenas financeiro. Toda ação que afete o meio ambiente, ou a comunidade, precisa, obrigatoriamente, de outra ação de mitigação. No fechamento das contas, o saldo tem que ser positivo. Dessa maneira, o financeiro é apenas um dos pilares da sustentabilidade, enquanto os outros são o bem-estar social e a saúde do meio ambiente. Está claro que as organizações que não tratarem da sustentabilidade com a devida importância serão eliminadas naturalmente do sistema. Essa é uma tendência natural, que não se dará por movimentos violentos. Os clientes simplesmente não comprarão mais das organizações que agem contra a imagem deles e que assim exponham ou derrubem sua reputação. As empresas precisam manter ações sistêmicas e adotar uma política de sustentabilidade que englobe as pessoas que se relacionem com ela de alguma forma, seja pelo viés comercial, econômico, social ou ambiental. Estamos falando de objetivos comuns, do homem, da biodiversidade, do oxigênio, do clima, da produção menos impactante.

Dessa forma, poderemos ver as pessoas deixando o egoísmo de lado e dando as mãos, aumentando nossa esperança num futuro melhor, com menos ganância e hipocrisia. Com essa visão, estamos tratando da sustentabilidade no dia a dia, principalmente através da implantação do “Tempo Sustentável”. A base desse conceito é muito simples: temos que produzir mais com menos recursos. Mas, na sua simplicidade, o conceito aponta para termos uma vida melhor e possibilitar que as futuras gerações tenham uma vida ainda melhor que a nossa. Esperamos que as próximas gerações sejam mais cuidadosas e responsáveis com os recursos naturais. Somente a preservação deles possibilitará a produção, o trabalho e, enfim, a esperança no futuro desse planeta, a Gaia. Já temos exemplos claros em Belo Horizonte, onde empresas estão dando andamento a uma série de investimentos ambientais. Temos, na siderurgia, ações que visam acabar com a emissão de poeira fugitiva e instalação de planta modelo de recuperação de resíduos. O reflorestamento de áreas com árvores nativas, integrando plantas industriais com o processo de urbanização, também já é uma realidade abraçada pela população. Então, vamos fazer desse abraço algo positivo e verde. Isso é importante, mas não é tudo. As empresas precisam ter uma atitude diferenciada, da pesquisa à produção, incluindo projetos de integração social. Enfim, o mais importante aqui é lembrar que a mudança para melhor, para a sustentabilidade, começa dentro da gente. Temos que gerar influência positiva, e isso só é possível com exemplo em movimento. O “seu” e o “meu” movimento, a “sua” e a “minha” mudança. Devemos nos lembrar de que precisamos, nesse assunto, “combater o bom combate”, fazendo barreira ao mercantilismo natural do ser humano que, por vezes, transforma catástrofes em oportunidades de ganhar dinheiro: vende consultorias desenhadas a partir de criação da dificuldade. Precisamos urgente mudar nosso comportamento em direção ao “mais”. Deus não é vingativo, mas a natureza pode dar respostas às nossas grosserias. Vamos refletir e agir no sentido de um mundo melhor. Nossos filhos e netos nos agradecerão.

" as organizações que não tratarem da sustentabilidade com a devida importância serão eliminadas naturalmente do sistema " Antônio Claret de Oliveira Superintendente de Desenvolvimento Sustentável e Relações Corporativas da V & M do Brasil

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Opiniões

a sustentabilidade no

setor florestal

Sustentabilidade é um conceito sistêmico relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. De maneira prática e objetiva, sustentabilidade é suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. O setor florestal brasileiro pratica esse conceito com maestria. Além de atender a todas as exigências legais, a instalação de uma base florestal requer algumas sutilezas para atender às gerações futuras. Dentre elas destacamos: • Licença da comunidade: uma atividade, para sobreviver plenamente, precisa que a comunidade conheça o negócio, enxergue-a com bons olhos, legitime-a e defenda-a. É fundamental que a comunidade se sinta inserida na atividade, ganhando com o negócio ou na sua cadeia. • Integração socioambiental: a floresta implantada e os fragmentos de floresta nativa preservados deverão ser partilhados com a comunidade. A Educação Ambiental, além de introduzir a cultura de boas práticas, também é um importante elo de interação com a comunidade. • Respeito e resgate de costumes: é fundamental que a empresa se integre regionalmente. O respeito e resgate de costumes auxiliam na elevação da autoestima, além de se constituir em um veículo da preservação da memória regional. • Resgate da dignidade: ao incentivar o trabalho e a produção, a atividade florestal desperta a prática de enxergar o futuro, de planejar e não apenas impor metas, mas conquistá-las. • Profundo respeito ao meio ambiente: até por uma questão de juramento, o profissional florestal não se priva de preservar, recuperar e integrar-se com a floresta nativa nas fazendas florestais. É gratificante acompanhar o ressurgir de uma mata nativa. A reintrodução de espécies nativas, seu crescimento acelerado pelas práticas silviculturais e a readaptação da fauna, que naturalmente volta a frequentar a área que agora lhe oferece abrigo e proteção. • Responsabilidade na educação ambiental: pelo fato de se qualificar como ensino transversal, a educação ambiental oferece oportunidades de ser inserida no dia a dia das pessoas. O conceito da Ecoeficiência, envolvendo a importância da água, do ar, da terra e das pessoas entre si, prepara todos para uma visão de futuro.

• Geração de emprego e renda: essa é uma forte característica do setor florestal. O orgulho de um trabalhador, ao receber seu salário, além do sustento de sua família, resgata a autoestima e resulta em reais melhorias no entorno florestal. • Diversificação da atividade rural: uma característica mais evoluída da silvicultura brasileira é a produção de grãos, carnes, mel, fibras e outros em uma mesma área. Além de otimizar o retorno do capital investido na formação da floresta, também permitirá, principalmente ao pequeno agricultor, diversificar a renda e reduzir os riscos comuns do negócio. • Criação natural da cadeia florestal: a atividade florestal, além de produzir madeira para um consumo industrial (celulose, carvão, chapas, energia), também fornece matéria-prima para outras atividades na cadeia, como postes e toras. • Indutor do progresso e desenvolvimento: a atividade florestal, por ter longo ciclo, favorece o planejamento e a construção de estradas, escolas, comércio e indústria. • Relacionamentos de longo prazo: a atividade se sucede nos ciclos e gera compromissos e relacionamentos com os fornecedores, com os clientes e com as comunidades. • Qualificação da mão-de-obra: o elevado nível de tecnologia da silvicultura gera constante necessidade de treinamento e qualificação da mão-de-obra, como para o uso dos defensivos agrícolas, na produção das mudas clonais, no plantio da muda e suas manutenções até se tornar árvore, treinamento e qualificação para a operação das máquinas e equipamentos utilizados em todos os processos operacionais. • Diversificação de empregos na cadeia: um fato social de grande importância na empresa florestal é a grande diversificação de empregos. Desde trabalhadores rurais, engenheiros, biólogos e outros profissionais de cursos superiores, além de toda cadeia para atender o consumo direto e indireto. O caminho para a sustentabilidade é gradual, continuado e de longo prazo, dependendo muito de atitude, o que demanda conhecimento, prática e, principalmente, disseminação. Já é bem clara a consciência conceitual da sustentabilidade no setor florestal brasileiro. Será apenas uma questão de tempo para que os desafios sejam vencidos, e a verdadeira Empresa Florestal Sustentada seja reconhecida na sociedade.

" o caminho para a sustentabilidade é gradual, continuado e de longo prazo, dependendo muito de atitude, o que demanda conhecimento, prática e, principalmente, disseminação " José Maria de Arruda Mendes Filho Consultor Florestal da Mendes & Mendes Engenheiros Associados

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florestas plantadas: evidências e desafios da sustentabilidade " a conscientização e a mobilização das pessoas diante das questões sociais e ambientais do planeta constituem uma das mais salutares conquistas da sociedade moderna " Heuzer Saraiva Guimarães Diretor Florestal da Satipel

Certamente, esta é uma notável questão. Notável não significa elitista ou esquisito. Nem bonito ou feio, grande ou pequeno. Pode ser qualquer uma dessas coisas. É apenas algo sobre o qual é relevante discutir, dividir e aprender. Dentre todas as mudanças que se observam no mundo, a conscientização e a mobilização das pessoas diante das questões sociais e ambientais do planeta constituem uma das mais salutares conquistas da sociedade moderna. Reconhecer e aplicar essas novas dimensões institui a sustentabilidade como efetivo alicerce norteador das estratégias de sobrevivência e sucesso de um negócio. A meta do desenvolvimento sustentável requer capacidade de pensar e operar, tendo em conta, e em conjunto, dimensões econômica, social e ambiental, sem predominância de uma sobre as outras. Isso significa pensar e atuar com base na transversalidade. Trata-se, como discorre o Prof. Fernando Almeida (Coppe/UFRJ), de um conceito proveniente do domínio ambiental, pois a observação dos ecossistemas mostra que neles não há lugar para ações estanques e segmentação, já que, na natureza, todos os processos são interligados. Opondo-se à fragmentação, a transversalidade nos dá uma visão mais ampla e adequada da realidade, indicando o caminho da continuidade. O último anuário da Abraf destaca a evolução e profissionalização do setor de florestas plantadas. Esse setor já se apresenta como um dos mais importantes da agricultura brasileira, somando cerca de 6,5 milhões de hectares plantados e 5,7 milhões de hectares de florestas nativas protegidas, representando relevantes biomas nacionais. A cadeia produtiva que tem por base as florestas plantadas gera, aproximadamente, 4,7 milhões de empregos. No período de 1999-2008, o número de postos de trabalho cresceu 145%. Ao longo dos últimos 20 anos, verifica-se consistente investimento em pesquisa, infraestrutura, colheita, transporte florestal, indústria e plantios. O investimento previsto para os próximos 5 anos ultrapassa R$ 16 bilhões. A evolução da produtividade das florestas plantadas saiu, em 1980, de 25 m3/ha/ano para 55 m3/ha/ano, em 2010. Os programas de fomento florestal, responsáveis por extensão tecnológica, integração e desenvolvimento agrícola regional, já perfazem uma área plantada superior a 530 mil ha, envolvendo quase 25.000 beneficiá-

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rios. Nos últimos anos, os programas de responsabilidade social desenvolvidos pelas empresas do setor têm proporcionado expressivos investimentos anuais, beneficiando, anualmente, mais de 1,5 milhão de pessoas em regiões com significativas deficiências socioeconômicas. Esse é um dos setores que lideram ações de certificação ambiental no país, apresentando 5,2 milhões de hectares certificados pelo FSC, selo de certificação florestal mais disseminado no mundo, e 1 milhão de hectares certificados pelo Cerflor/Inmetro, reconhecido pelo PEFC - Programme for the Endorsement of Forest Certification schemes. Definitivamente, citando o Prof. Stape (Esalq-USP), a produtividade, per si, deixou de ser o único fator a ser analisado numa decisão estratégica de grandes empreendimentos, sendo de alta relevância, na sociedade atual, o know-how e o embasamento científico dos manejos adotados, de forma que, nas sociedades local e internacional, haja transparência das práticas de manejo e seus controles, bem como das inter-relações sociais. Exatamente por isso, os maciços de florestas plantadas assumem status de um “ecossistema”, demandando ativo conhecimento, além da produção de madeira, também do uso dos recursos naturais de que necessita ou influencia, como água (regime de vazão e qualidade), solo (conservação e potencial produtivo), biodiversidade (no contexto de conservação e preservação) e progresso econômico e social (educação e inclusão). As evidências demonstram que a expansão florestal está cada vez mais apoiada nos conhecimentos científicos sobre “ecossistemas” de plantações florestais e suas inter-relações ambientais e sociais. A “expansão das florestas plantadas” tem caracterizado meio ambiente, num primeiro momento, invocando uma série de premissas associadas à produtividade florestal, mas se seguindo, imediatamente, os aspectos da sustentabilidade econômica, ecológica e social do empreendimento, dentro das particularidades de cada região. Integrar as três dimensões da sustentabilidade tem sido uma dificuldade visível em todos os segmentos e esferas. Apesar da evolução já alcançada, permanece o desafio de reconhecer que o status assumido pelas florestas plantadas requer plena ciência de que competição e cooperação devem andar juntas.



visão empresarial

Opiniões

caminho

o planeta vai nos impondo o

da sustentabilidade

Meio ambiente é muito mais do que a designação do local em que os seres humanos e os animais vivem. Na verdade, é um conjunto de condições que influenciam a vida dos seres vivos em geral, proporcionando situações de competição e conflito, ou de convivência pacífica, que ajuda a determinar o estabelecimento, o crescimento e o equilíbrio entre as espécies. Isso que se convencionou chamar de meio ambiente é, portanto, o planeta onde habitamos, que é nossa fonte de vida. Depois que os astronautas fizeram as primeiras fotos da Terra vista do espaço, pudemos conhecer a beleza do astro azul, mas, principalmente, entender que a Terra e todas as formas de vida que nela navegam são, na verdade, uma coisa só. Hoje, vivemos uma situação insustentável devido ao grau de agressão a que a humanidade está submetendo esse meio ambiente vital para nossa sobrevivência. Portanto, não dá para falar dele sem considerar a sua situação atual e afirmar a necessidade urgente de mudança da relação homem-Terra. Pela primeira vez na história, corremos o risco de extinção, ou pelo menos de grandes catástrofes, por culpa da ação do homem sobre o meio ambiente. Por isso, a questão ambiental está sendo vista integrada com os outros meios, o social e o econômico. Não se fala em meio ambiente como uma questão isolada. A sustentabilidade é, sem dúvida, um importante parâmetro para nortear ações de executivos preocupados com a sobrevivência do negócio. É um conceito ousado pela sua abrangência universal, mas tem um significado histórico inegável: é o símbolo do século XXI, seu modo de vida e sua cultura de produção. Por isso mesmo, é capaz de abrir um vasto leque de oportunidades para qualquer empreendimento. Essas oportunidades precisam ser identificadas por meio de estudos que respondam ao desafio de perenizar o negócio, respeitando critérios ambientais e sociais. Entendemos ser necessária uma integração dos aspectos socioambientais ao core business da empresa. Seja por razões operacionais, por restrições comerciais impostas pelo mercado ou barreiras sociais e ambientais aos produtos de origem florestal. Aquilo que foi periférico, há alguns anos,

" vivemos uma situação insustentável devido ao grau de agressão a que a humanidade está submetendo esse meio ambiente vital para nossa sobrevivência " Zoé Antonio Donati Gerente Florestal da Aracruz Celulose

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passa a compor o núcleo estratégico do negócio. Faz-se necessário um alinhamento das intervenções socioambientais com o negócio da empresa, onde cada projeto ou ação de sustentabilidade integre sinergicamente os diversos interesses dos stakeholders. O ambiente de negócios, em constante evolução, exige das empresas a adoção do conceito de sustentabilidade em todas as suas atividades empresariais. Por esse motivo, as empresas devem se empenhar na elaboração de um abrangente plano de sustentabilidade, que inclua medidas relacionadas à governança corporativa, transparência das suas ações, relacionamento com as partes interessadas, gestão do negócio e também questões sociais e ambientais. Sabendo que a sustentabilidade é um objetivo permanente, qualquer empresa deve acreditar que é fundamental trabalhar para alcançá-lo, a fim de manter a competitividade e sua própria sobrevivência. Essa consciência cresce conforme as empresas e seus gestores vão se adequando às demandas dos novos tempos. Mas não é um crescimento uniforme; varia segundo o setor de atividade e os grupos humanos que as gerenciam. Além do aprendizado pela vivência, a consciência da sustentabilidade nasce também de um processo educacional, exigindo um esforço de capacitação sistemático dentro dos ambientes empresariais e na sociedade. De alguma forma que ainda não se conhece bem, o planeta vai nos impondo o caminho da sustentabilidade e, na medida em que vamos fazendo o nosso dever de casa, vamos encontrando as portas abertas para um futuro mais feliz. O leitor pode não compartilhar dessa visão de esperança, mas terá que reconhecer que vivemos um momento histórico de grandes transformações, e a sustentabilidade não está na agenda das nações por acaso: é a senha para a vida no século XXI. Em todos os campos de atividade, ninguém vai prosperar, ou perenizar seu negócio, se quiser remar contra essa corrente. Para finalizar, gostaria de citar o famoso escritor francês Victor Hugo que, com grande sabedoria, afirmou que “nenhum exército do mundo é capaz de derrotar uma ideia quando chegou seu tempo”. O tempo da sustentabilidade é agora.




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