O atual mercado florestal brasileiro - OpCP15

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Opiniões DIVISÃO FLORESTAL mar-mai 09

Opiniões PAPEL, CELULOSE, CARVÃO, SIDERURGIA, PAINÉIS E MADEIRA

sobre o atual mercado florestal brasileiro mar-mai 2009

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Índice O atual mercado florestal brasileiro Visão de Governo: 06, Blairo Borges Maggi

Governador do Estado do Mato Grosso

07, João de Almeida Sampaio Filho Secretário da Agricultura de São Paulo

08, Gilman Viana Rodrigues

Visão de Especialistas: 22, Ivan Tomaselli Diretor da STCP

23, Carlos Alberto Farinha e Silva

Vice-presidente de Desenvolvimento da Pöyry Tecnologia

24, Fábio Luis Brun

Secretário da Agricultura de Minas Gerais

Diretor para a América do Sul da RMS

11, Valter Bianchini

26, Robert Flynn

Secretário da Agricultura do Paraná

Diretor da RISI - International Timber, EUA

10, Antonio Carlos Hummel

28, Adhemar Villela Filho

Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro do MMA

Consultor Florestal

Visão Empresarial: Visão de Centros de P&D: 12, João Fernando Borges

29, Carlos José Caetano Bacha

14, João Afiune Sobrinho

30, Sebastião Renato Valverde

15, Armando José Storni Santiago

32, José Luiz de Pereira Rezende

Diretor Florestal da Divisão América Latina da Stora Enso Gerente Operacional Corporativo da VCP Diretor Global Florestal da International Paper

Visão de Entidades:

Professor de Economia da Esalq/USP

Professor da Universidade Federal de Viçosa Pesquisador de Economia e Planejamento da UF de Lavras

Visão de Fornecedores:

16, Nelson Barboza Leite

34, Christopher Podgorski

18, Cesar Augusto dos Reis

36, Nestor de Castro Neto

Conselheiro da SBS

Diretor Executivo da Abraf

19, Elizabeth de Carvalhaes

Diretor Geral da Scania no Brasil

Presidente da Voith Paper América do Sul

37, Silvana Nobre

Presidente Executiva da Bracelpa

Diretora de Soluções da Savcor Forest

20, Rosane Dill Donati

38, Ubiratã Pinhel

Superintendente Executiva da Abipa

Diretor da Tecma

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - Ribeirânia - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 opinioes@revistaopinioes.com.br - Diretor de Operações: William Domingues de Souza - wds@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4660 - Coordenação Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - vrds@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4606 - Suporte de Vendas: Lâina Patricia Campos Oliveira - lpco@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4616 - Auristela Malardo - am@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4698 - Priscila Boniceli de Souza Rolo - pbsr@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4696 - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@revistaopinioes.com.br Assistente do Editor Chefe: Aline Gebrin de Castro Pereira - agcp@revistaopinioes.com.br - +55 16 3965-4661 - Freelancer da Editoria: Priscilla Araujo Rocha - par@revistaopinioes.com.br - Correspondente na Europa: Sonia Liepold-Mai - sl-mai@T-online.de - +49 821 48-7507 - Correspondente na Índia: Marcelo Gonçalez - mg@revistaopinioes.com.br - Correspondente em Taiwan: Wagner Vila - wv@revistaopinioes.com.br - Correspondente no Nepal: Lucas Barbosa Neto - lbn@revistaopinioes.com.br - Jornalista Fotográfica na Ásia: Marcia Maria Ribeiro - mmr@revistaopinioes.com.br - Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - +55 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Copydesk: Jacilene Ribeiro Oliveira Pimenta - jrop@revistaopinioes.com.br - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Fotografias: Acervo pessoal Foto da Capa e do Índice: Acervo Stora Enso - Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 4.000 exemplares - Veiculação: Comprovada - Home-Page: Todas as matérias publicadas em todas as edições da Divisão Florestal da Revista Opiniões estão disponíveis, na íntegra, no seu site: www.revistaopinioes.com.br


Editorial A evolução do setor florestal brasileiro O eucalipto é o emblema vivo do negócio florestal do nosso país. Não obstante ter suas origens nas longínquas regiões do Pacífico, o eucalipto naturalizou-se brasileiro, transformando-se num dos mais importantes recursos da economia nacional. Começou como uma curiosidade exótica e alguns pioneiros tiveram a visão de casar aquela árvore de rápido e abundante crescimento, com as condições ecológicas do nosso território. Árvore e terra consorciaram-se, para tornar o Brasil importante produtor de madeira, sem sequer tocar nas nossas florestas e matas nativas. As ferrovias utilizaram o eucalipto como combustível das locomotivas a vapor daquele tempo e quando elas foram sendo substituídas pelo diesel e pela eletricidade, algumas extensões plantadas tornaram-se praticamente ociosas. A indústria de papel no país encontrava-se então em estado embrionário, tendo como matéria-prima aparas e alguma celulose importada. A segunda guerra mundial isolou o país das fontes de onde se importava a celulose, criando dificuldades quase intransponíveis para a modesta indústria papeleira. No pós-guerra, mais precisamente na década de 1950, o Brasil, que já havia sido premido pelas circunstâncias criadas pelo conflito mundial, ingressou com toda a energia na era da industrialização. Foi o período histórico da substituição das importações pela crescente produção industrial nacional. O Estado brasileiro assumiu o papel de indutor do desenvolvimento. O mercado interno foi protegido da competição internacional, ficando reservado para as indústrias brasileiras. Foram criados mecanismos tributários e de crédito subsidiado e o efeito dessas políticas foi espetacular. Para as novas gerações, é bom recordar como o Estado, especialmente num país como o nosso, é o indutor do desenvolvimento, não obstante o discurso hoje em voga de que o mercado tudo resolve. Na mencionada década de 1950, o setor de papel também começou a mover-se. Mas, a sua principal matéria-prima, a celulose, praticamente não existia no país. Um jovem empresário, Max Feffer, de uma família que já há algum tempo dedicava-se ao negócio papeleiro, teve a visão de que aquela madeira, que havia perdido sua utilidade, poderia ser a fonte principal da fabricação do papel. Ele liderou uma pequena equipe, que contava com poucos técnicos escandinavos, e vencendo mil e um obstáculos, desenvolveu, pela primeira vez, o uso do eucalipto para fazer papel de boa qualidade. Dali em diante, o crescimento do setor não parou mais.

É bem conhecida a história do desenvolvimento tecnológico da parte industrial do setor, mas é menos conhecida a expresssiva história da fase florestal. Os dados do aumento da produtividade do eucalipto são impressionantes e constituem-se em fruto quase exclusivo do trabalho dos brasileiros. A seleção, a clonagem e, agora, a pesquisa genética, colocam o país na vanguarda da plantação de florestas. A evolução da atividade florestal, do ponto de vista propriamente empresarial, é pouco conhecida e também passou por importantes transformações. As áreas florestais das empresas eram cuidadas como uma das áreas da gestão industrial e vistas como fornecedoras da matéria-prima, embora a mais importante do processo industrial. A evolução mais recente transformou esse quadro. A atividade florestal, do ponto de vista gerencial, deslocou-se para adquirir vida própria, sem perder sua função de fornecedora da produção industrial. Essa importante mudança representa o reconhecimento do enorme potencial econômico da produção de fibra de madeira para vários outros fins, como, por exemplo, o energético, a fabricação de móveis, a construção civil, e muitos outros, para atender à demanda, considerando a necessidade da defesa ambiental das florestas nativas, de um mundo que não abre mão da necessidade da fibra da madeira de árvores plantadas. São variados os efeitos da extraordinária expansão do setor florestal brasileiro. Passamos à condição de players do primeiro time mundial do setor, a exemplo da nossa participação no Comitê Assessor Florestal da FAO, organização responsável para alimentação e agricultura das Nações Unidas, do qual fui presidente. O reconhecimento da imbatível competitividade do eucalipto atrai também os investimentos de importantes empresas globais. Destaque especial cabe à formação de novos quadros, com excelentes qualificações técnicas na engenharia florestal, nas ciências biológicas, na genética e em outras áreas afins. A mais significativa evolução é a de que a área florestal não é mais um departamento das fábricas, mas as indústrias da celulose e do papel são áreas que compõem o grande setor florestal brasileiro. Boris Tabacof Vice-presidente da Suzano Papel e Celulose e do Conselho Superior de Economia da Fiesp


Visão de Governo Blairo Borges Maggi

Governador do Estado do Mato Grosso

O exemplo da indústria de celulose e papel e as oportunidades para o setor O agronegócio brasileiro já demonstrou que com o auxílio da tecnologia pode aumentar a sua produtividade, sem expandir as áreas de plantio. Os números não mentem. Entre 1990 e 2007, houve um aumento de 140% na produção de grãos. No mesmo período, o tamanho da área plantada cresceu apenas 30%. Dados como este confirmam a importância do investimento e desenvolvimento de novas tecnologias para o setor. No entanto, é evidente que o agronegócio ainda tem uma série de desafios pela frente. Um desses desafios é a verticalização da produção, que será determinante para o futuro do setor, e que já é uma realidade na indústria de papel e celulose brasileira. A importância da verticalização transcende o ganho de escala para o produtor e empresário. Ela é essencial, também, para a sustentabilidade da cadeia produtiva e gera um ciclo virtuoso na economia. Hoje, a indústria brasileira de papel e celulose serve de exemplo para os demais atores do agronegócio. Ela foi pioneira na implementação de uma série de exigências ambientais, conseguiu agregar valor ao produto final e colocou o Brasil entre os seis maiores produtores mundiais de celulose e entre os dez maiores de papel. A indústria de papel e celulose planta de maneira 100% sustentável, faz o corte da madeira, extrai o produto final e o exporta e vende no mercado interno. Esse ciclo precisa ser seguido nas demais áreas do agronegócio. O produtor de grãos deve considerar o investimento no processo de industrialização. O Instituto de Economia Agrícola Matogrossense - IMEA, produziu um estudo que aponta as vantagens da verticalização da produção para a sustentabilidade do negócio. Um dos dados é surpreendente. A maior parte dos grãos produzidos no Mato Grosso é exportada. O transporte dos grãos das fazendas até os locais de embarque consome, anualmente, 570 milhões de

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litros de combustível, o que gera uma enorme emissão de CO2 na atmosfera. Segundo o estudo, se toda a produção de grãos fosse processada internamente, haveria uma redução de 270 milhões de litros de combustível no estado, gerando uma diminuição de 50% na emissão de CO2 e uma enorme economia para o produtor. Um outro aspecto positivo para a indústria de papel e celulose nacional é uma nova forma de política para a preservação das florestas brasileiras, conhecida como pagamento por serviços ambientais. Esses programas têm como objetivo gerar valor para a floresta, de forma que o proprietário de terra na Amazônia, por exemplo, seja compensado financeiramente por manter uma parcela considerável da sua propriedade em pé. Isso requer uma série de ações paralelas para garantir a segurança jurídica do programa. A ideia é que grandes empresas poluidoras ao redor do mundo compensem suas emissões de CO2 no Brasil, principalmente na Amazônia brasileira. Hoje, o desmatamento é a principal fonte de emissão de gases no Brasil e também responde por 20% das emissões globais anualmente. As florestas tropicais têm um papel fundamental na luta contra o aquecimento global, pois, segundo o IPCC da ONU, elas armazenam 50% a mais de carbono do que outras florestas, além, também, de retirar o carbono da atmosfera e transformá-lo em matéria orgânica. Por essas e outras razões, o governo brasileiro quer diminuir o ritmo do desmatamento em 70%, até 2017. Para atingir esses objetivos, eu acredito que é necessário implantar ações pragmáticas, como o pagamento por serviços ambientais. Mato Grosso está em fase final de desenvolvimento de um projeto de pagamento por serviço ambiental na região noroeste do estado, onde o desmatamento é mais intenso. Ao invés de abrir novas áreas para plantar ou para alimentar o rebanho, o proprietário será estimulado a manter a floresta em pé. O setor de celulose e papel pode ser um grande parceiro dos governos da Amazônia Legal, na busca por soluções para a floresta. A indústria pode, por exemplo, incentivar o manejo florestal sustentável na região. Hoje, segundo dados da Bracelpa - Associação Brasileira de Celulose e Papel, há apenas três indústrias do setor, instaladas na região norte do Brasil. As mudanças que estão sendo implementadas para promover o desenvolvimento sustentável na região, associadas à experiência e ao conhecimento do setor de celulose e papel, podem dar início a um novo ciclo de desenvolvimento nos estados que lutam para conter o desmatamento.


Opiniões

mar-mai 09

João de Almeida Sampaio Filho

Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo Florestas plantadas: um futuro de oportunidades O Brasil é um dos maiores produtores e grande consumidor mundial de produtos de origem florestal. Setores estratégicos da economia brasileira como a siderurgia, a indústria de celulose, papéis e embalagens, e a construção civil são altamente integrados ao setor florestal. É importante distinguir que, em nosso país, existem dois grandes “Brasis” florestais: o das regiões ainda com fronteiras agrícolas inexploradas, onde predominam as florestas nativas, como a Amazônia, com 350 milhões de hectares, e as regiões mais tradicionais, onde as atividades agro-silvo-pastoris estão estabelecidas há muito tempo e em que predominam as florestas plantadas com mais de 6 milhões de hectares ou 0,2% do território nacional. O potencial dos mercados florestais no Brasil decorre do aumento do padrão de consumo das populações urbanas, que pressiona a demanda por papel, metais e energia. Sobre esta última, uma crise latente continuará pesando sobre os setores dependentes de combustíveis fósseis, conferindo papel ascendente à biomassa na matriz energética. Além disso, a queima de combustíveis fósseis tem aumentado continuamente o teor de CO2 na atmosfera, contribuindo para o agravamento do efeito estufa, que poderia ser atenuado pela fixação desse gás excedente sob a forma de fitomassa florestal. Como pano de fundo, as pressões ambientalistas têm levado a uma legislação mais conservacionista. Todos estes elementos podem se traduzir tanto em crescente pressão sobre os recursos florestais brasileiros, como em uma oportunidade para o seu desenvolvimento. Existe, cada vez mais, consciência pública de que os produtos florestais têm mais vantagens em relação aqueles materiais que eventualmente podem substituí-los (cimento, plásticos, metal, borracha sintética), já que são renováveis e eficientes do ponto de vista energético e suas produções, de forma responsável, favorecem o meio ambiente. Para o setor agrícola, os resultados são expressivos: a incorporação à produção de terras degradadas, contribuindo para o aumento e para a diversificação da produção local e da industrialização regional da matéria-prima produzida. O potencial econômico da atividade fica ainda mais evidente, visto que esta pode ser estendida a quase todas as propriedades rurais do país. No estado de São Paulo, podemos alcançar um dos melhores rendimentos na silvicultura. As condições ecológicas paulistas e brasileiras favorecem uma alta produtividade florestal: 30 t/ha/ano, a baixos custos de plantio, exploração, transporte e mesmo de operações portuárias. Com isto, o Brasil é, reconhecidamente, uma referência no setor de celulose e papel. Os custos de produção das empresas

setoriais estão entre os menores do mundo, porque são baseados em florestas plantadas de alto rendimento. Mais de três décadas de investimentos em pesquisa genética permitiram ao eucalipto brasileiro estar pronto para o corte em um tempo muito menor do que em outros países. A farta disponibilidade de terras cultiváveis e o clima favorável completam a lista das principais vantagens competitivas do país, que ocupou a quarta posição mundial como produtor de celulose, com 12,8 milhões de toneladas no ano passado. Uma análise do cenário atual do mercado brasileiro de papel e celulose mostra que a indústria brasileira está se voltando cada vez mais para a produção de celulose e, ao seguir esse caminho, alinhamo-nos a uma tendência mundial de especialização regional como um caminho para o futuro dos países e blocos econômicos. No entanto, o país apresenta, ainda, sérias deficiências com relação a informações, modernização da legislação e implantação de certificações, que poderiam subsidiar a tomada de decisões tanto em relação às políticas públicas, como em projetos da sociedade civil e iniciativa privada. Deve-se, portanto, continuar avançando na melhoria da legislação vigente, principalmente no aprimoramento do Código Florestal, na ampliação das linhas de financiamento específicas, nos incentivos ao pequeno produtor e na condução eficiente de políticas para a área florestal, a exemplo do que está ocorrendo no estado de São Paulo com a parceria pública-privada, para a implantação do Sistema Estadual de Informações Florestais. Desafios e oportunidades caminham juntos, não seria diferente no setor florestal. Ao enfrentar os primeiros, já estaremos no cultivo do futuro.

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Governo

Opiniões

mar-mai 09

Gilman Viana Rodrigues

Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais Excelência e segurança da produção florestal As florestas comerciais têm um desenvolvimento econômico com elevada competitividade, quando implantadas nas regiões tropicais. A luminosidade e a quantidade de dias com incidência do sol durante o ano fazem com que o crescimento das plantas nos trópicos seja três vezes mais rápido do que nas regiões de clima temperado. Aqui no Brasil, o eucalipto, por exemplo, chega ao ponto de corte aos sete anos, enquanto na Europa as árvores levam 21 anos para se desenvolver. Irrefutavelmente, as condições brasileiras para o plantio de florestas colocam a produção do país na vanguarda da competitividade, com elevada redução dos custos no processo de obtenção dos derivados de madeira. Os três principais produtos da cadeia produtiva do plantio florestal são o papel, a celulose e as fontes energéticas, entre elas o carvão. No caso de Minas Gerais, por exemplo, o setor de florestas plantadas vem se desenvolvendo de tal maneira que já se posiciona na linha de frente do agronegócio estadual. Minas tem a maior área de florestas plantadas do país, com aproximadamente 1,2 milhão de hectares, distribuídos em 300 municípios. As maiores concentrações estão nas regiões Central, Noroeste e nos Vales do Rio Doce e do Jequitinhonha. A cadeia produtiva florestal gera cerca de 800 mil empregos diretos e indiretos no estado. Em 2008, as exportações do agronegócio florestal de Minas Gerais foram responsáveis por 11% das vendas internacionais de todo o agronegócio estadual. Os embarques dos produtos florestais somaram um milhão de toneladas e movimentaram US$ 633 milhões. Um crescimento de 8% em relação a 2007, quando não sofríamos o impacto da crise mundial. No agronegócio, as exportações do setor em Minas Gerais só ficam atrás das vendas de café e de carnes. Além disso, no contexto atual de pressão mundial pela substituição de combustíveis de origem fóssil

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pela energia limpa, a biomassa proveniente das florestas energéticas apresenta-se com um valioso sucedâneo. A um só tempo, é possível promover a recuperação de áreas degradadas – com adequações de tecnologias de manejo de solo – e introduzir o consórcio do plantio florestal, com pastagens e lavouras. Minas Gerais e vários outros estados brasileiros possuem excelência em tecnologia, domínio de técnicas de cultivo, de manejo e administração florestal. A experiência de sucesso do plantio direto na agricultura foi um terreno fértil para o avanço das técnicas sustentáveis da produção agropecuária. Partindo da experiência de integração das lavouras temporárias – como milho e feijão – com a pastagem, a migração para a tríplice integração – neste caso acrescentando os plantios florestais – está a um passo da franca consolidação em Minas e outras regiões brasileiras. O espaçamento adotado nas áreas de florestas integradas proporciona o convívio produtivo com as outras duas atividades. Esta caminhada vem garantir a certeza de oferta de produtos da biomassa para o consumo industrial, assegurando a "intocabilidade" da mata nativa brasileira. A intervenção necessária para a implantação dos sistemas integrados gera um balanço ambiental significativamente positivo. A disponibilidade de terras ociosas ou degradadas permite a expansão da base florestal, sem colocar em risco a produção de alimentos e, principalmente, poupando as espécies nativas da exploração predatória. Atualmente, segundo dados da Embrapa, cerca de 20% do território brasileiro, ou seja, 173 milhões de hectares são ocupados por pastagens. Uma boa parte está degradada e tem condições de ser recuperada com as tecnologias de integração. Estudos indicam que o sequestro de CO2 nas áreas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta chega a 2,5 toneladas por hectare/ano. É preciso, antes de tudo, acabar com o preconceito em relação ao plantio florestal e encará-lo como uma cultura agrícola, com benefícios econômicos, sociais e ambientais. Nossa meta, mesmo com toda a excelência de produção já alcançada pelo país, é evoluir na compatibilização e simplificação dos procedimentos legais e administrativos aplicáveis à cadeia produtiva florestal, principalmente no que se refere aos setores ambientais, operacionais, tributários e fiscais. Desta forma, podemos afirmar que o horizonte para a produção de energia renovável, papel e celulose no Brasil sustenta-se numa plataforma segura de oferta de matéria-prima.


Savcor Conference 2009

26 a 29 de Maio - São Paulo – SP 25 a 28 de Agosto - São Paulo – SP

O ENCONTRO DE GESTORES FLORESTAIS O ENCONTRO DE GESTORES FLORESTAIS

Reduzindo Custos com com Reduzindo Riscos Riscos ee Custos Gestão Florestal Gestão da da Informação Informação Florestal CONFIRA A GRADE DE PALESTRAS: WORKSHOPS Otimização integrada dos processos florestais Gestão da informação: ferramenta para redução dos riscos e custos florestais Recomendações técnicas para melhoria da produtividade Tecnologias aplicadas aos processos florestais (Banco de Dados, SOA e Mobile)

CONGRESSO

Keynotes speakers nacionais e internacionais Expectativas mundiais para o mercado florestal Informação: a chave no processo de redução dos custos florestais Potencial do Perfilamento a Laser na área florestal Otimização da cadeia florestal Oportunidades de financiamento da atividade florestal Importância do planejamento e otimização dos recursos florestais em tempos de crise Apresentação de cases de empresas brasileiras e estrangeiras Debate – Conjuntura Florestal Internacional

Faça sua inscrição através do site: www.savcorconference.com.br


Governo Antonio Carlos Hummel

Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro do MMA

Manejo florestal sustentável é peça-chave para a renovação da indústria madeireira Os produtos madeireiros e não-madeireiros das florestas brasileiras são partes indissociáveis de várias cadeias de produção no país. A Floresta Amazônica, por exemplo, atende a uma demanda de, aproximadamente, 25 milhões de m³/ano de madeira nativa. A Caatinga, por sua vez, atende a uma demanda de cerca de 28 milhões de estéreis de lenha, principalmente para fins energéticos. O problema é que parte disso vem de exploração predatória ou do avanço da fronteira agropecuária, que converte a floresta em área agricultável, a preços de liquidação. Se essa exploração desordenada persistir, perderemos as florestas e a oportunidade de viabilizar uma economia florestal genuína, que distribua renda e promova o desenvolvimento. Sustentabilidade: O manejo florestal sustentável é uma das saídas que podem equacionar a questão. Metodologia aperfeiçoada há décadas pela pesquisa, dá garantias às demandas de mercado, evitando o desmatamento e mantendo os serviços ambientais. O segredo está na exploração, por ciclos de até trinta anos (na Amazônia), que respeitem a regeneração da floresta. Em biomas não-amazônicos, esse ciclo pode ser adaptado. Segundo o Ibama, existem, na Amazônia, mais de 11 milhões de ha de terras privadas legalizadas, que podem receber manejo sustentável. Área suficiente para oferecer de 8 a 10 milhões de m³ de madeira, de forma sustentável, que cobriria um terço da demanda de madeira nativa. Concessões Florestais: O Governo Federal já oferece a oportunidade de manejo de áreas de florestas públicas, por concessão de uso sustentável de até 40 anos, graças à aprovação pelo Congresso Nacional da Lei de Gestão de Florestas Públicas, que criou o Serviço Florestal Brasileiro. Os processos de concessão já começaram. Em 2008, 96 mil ha de florestas foram licitados em Rondônia. E, no primeiro semestre de 2009, pelo menos outros 130 mil serão destinados no Pará. Os governos do Pará, Acre e Amazonas também estão programando concessões florestais. O manejo florestal não é só uma boa iniciativa para atrair investimentos, ele também garante geração de renda para as comunidades locais. Um exemplo, na Floresta Nacional do Tapajós, PA, o Projeto Ambé, de manejo florestal comunitário, garante renda para moradores de cerca de 20 comunidades. Os cooperados manejam, além da madeira, produtos não-madeireiros, como frutos, óleos, etc. Regularização Fundiária: O manejo florestal sustentável é um dos eixos da política do MMA, para tratar da conservação florestal, o outro é a regularização fundiária. Por meio dela, o desmatamento pode ser mais

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bem controlado. E, com as propriedades legalizadas, uma produção regular de madeireiros e não-madeireiros poderá se estabelecer. Com isso, outra parte da enorme demanda por produtos florestais poderá ser atendida. O Governo Federal oferece linhas de créditos, através da Propflora do BNDES, para a produção florestal, com juros de 6,75% a.a., e que, ainda, podem ser investidas na recuperação de reserva legal, ativando-a para a produção. O empreendedor precisa pensar na melhoria dos processos tecnológicos. Diminuir perdas é fundamental. Há várias iniciativas de sucesso no MT e PA. Empresários, que antes se limitavam a produzir tábuas, modernizaram seus equipamentos e capacitaram pessoal, e estão fabricando tacos e outros produtos, que agregam valor e diversificam o mercado. Caatinga: Outros biomas florestais fornecem matéria-prima para as cadeias produtivas. Na caatinga, por exemplo, cerca de 28 milhões de estéreis de lenha/ano são consumidos de forma insustentável, para consumo doméstico e para atender à demanda de lenha e carvão de polos gesseiros e cerâmicos. Estima-se que o comércio de carvão vegetal e lenha movimentem, juntos, cerca de R$ 700 mil por ano. A boa notícia é que pesquisas recentes provaram que o manejo da caatinga é ambientalmente viável. A Rede de Manejo Floresta da Caatinga, apoiada pelo GEF Caatinga/MMA e com a participação das universidades federais de Pernambuco e Campina Grande, há décadas pesquisa o uso sustentável do bioma. No mês de março, a iniciativa recebeu o prêmio Energy Globe Award, um dos mais importantes reconhecimentos mundiais de iniciativas ligadas ao uso sustentável dos recursos naturais e à energia renovável. O “Manejo Florestal para a Produção Sustentável de Lenha em Assentamentos Rurais do Semi-árido Nordestino”, realizado pela ONG Associação Plantas do Nordeste/APNE, parceira do Serviço Florestal Brasileiro, foi selecionada entre 769 concorrentes de 11 países. Esse reconhecimento mostra que o Ministério do Meio Ambiente está no caminho certo quando apoia o manejo sustentável do bioma. Dados de 2007 apontam que cerca de 80 mil ha estão sobe regime de manejo ativo. Peça-chave: O uso sustentável dos recursos florestais deve ser considerado uma forma de inovação do setor industrial brasileiro. E o Brasil, como nação megaflorestal, tem que saber gerenciar esses recursos, de forma estratégica. O Serviço Florestal Brasileiro sabe disso e vai além. Aposta que o manejo florestal sustentável seja peça-chave para a perenidade dessas riquezas. Valorizadas, as florestas geram os próprios recursos, que serão investidos na sua conservação e manutenção dos serviços ambientais, por elas garantidos.


Opiniões

mar-mai 09

Valter Bianchini

Secretário da Agricultura do Estado do Paraná Atividade florestal, crise e oportunidades O setor madeireiro, de forma geral, vem atravessando uma crise sem precedentes, que teve início com a forte desvalorização do dólar em 2007, situação que se emendou com o colapso econômico global, que vem atingindo o Brasil desde os últimos meses de 2008. Diante deste cenário, os fabricantes de papel, setor onde predominam as multinacionais, estão reduzindo as atividades, diante da queda das exportações e da perda de competitividade no mercado internacional. No mercado interno, a situação não é diferente. Os pedidos para as indústrias madeireiras recuaram, resultando na diminuição das atividades na linha de produção. Este cenário, porém, está revelando as fragilidades da concentração da atividade agropecuária. Portanto, é em momentos de crise e de reavaliação que surgem as soluções que podem dar sustentabilidade ao setor. O setor madeireiro é de fundamental importância no Paraná, responsável por um valor bruto da produção de R$ 3,12 bilhões em 2007, que corresponde a terceira maior renda bruta da agropecuária e o segundo item da pauta de exportações do agronegócio paranaense. Cerca de 85% das propriedades rurais no estado são menores que 50 hectares. Desta forma, o desafio que se impõe é traçar novas estratégias aos planos de expansão do setor madeireiro, incluindo a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva da madeira, onde a atividade florestal entra como alternativa de diversificação nas pequenas propriedades. O modelo que defendemos é integrar a atividade florestal com outros sistemas de produção como grãos, leite e frutas, entre outros produtos. Mas, para isso, é necessário um planejamento para a pequena propriedade familiar, para que os componentes de produção sejam demarcados de forma estratégica, permitindo renda no curto, médio e longo prazos. A pequena propriedade familiar pode reservar um espaço para a silvicultura, para não ficar a mercê das frequentes oscilações de preços do mercado, que desestabilizam e, muitas vezes, inviabilizam a atividade agropecuária. Em parceria com grandes empresas, que visam o fomento florestal, a nossa intenção é ocupar, no máximo, 30% da área da propriedade, por menor que ela seja, com atividade florestal, desde que esteja integrada com outros sistemas de produção. O pequeno produtor pode e deve participar do cenário de produção de papel e celulose, concentrado nos grandes empreendimentos. Com um manejo adequado, é possível orientar o agricultor familiar a usar a floresta para atender a várias finalidades, desde a produção de madeira, para as laminadoras, serrarias, celulose, até para fins energéticos.

Assim, para ser construída uma base florestal produtiva madeireira, sob a égide da sustentabilidade, o setor deve cumprir seu papel, não só econômico, mas também ambiental e social. No Paraná, o modelo proposto sugere o apoio e a parceria dos setores produtivos, tanto da produção rural, como da base industrial existente, para que o setor seja um instrumento ativo de desenvolvimento sustentável. A inclusão da agricultura familiar amplia a base florestal e, ao mesmo tempo, formata um mosaico produtivo na paisagem. A meta é ampliar a base florestal do estado para dois milhões de hectares no prazo de desenvolvimento de, pelo menos, cinco ciclos florestais, em torno de 100 anos. O destaque desse modelo é a geração de milhares de novos postos de trabalho, além do efeito renda superior às demais atividades no meio rural e urbano. Deve-se considerar também os aspectos ambientais proporcionados pela atividade, com baixos índices de utilização de agroquímicos e baixo impacto no meio ambiente, quando comparados com outras atividades agrícolas. Neste modelo, em que se coloca a atividade florestal madeireira a serviço do desenvolvimento rural e urbano, os ganhos na equidade de divisão de renda, as elevadas taxas de retorno econômico e a sustentabilidade de produção são garantidos e necessários. Nesse aspecto, o Paraná tem grandes desafios a serem superados, como a construção de políticas públicas, acompanhadas de legislação, que promovam a silvicultura de espécies potenciais nativas, a desburocratização do cultivo e, ainda, a garantia para o investidor. Outro desafio é a necessidade de se determinar normas e procedimentos para o manejo em regime de rendimento sustentável da reserva legal, ainda vista como “área improdutiva” pelos agricultores. Sabemos que são poucos os que usam as áreas florestais, através de técnicas de manejo florestal, obtendo produtos madeireiros e não-madeireiros. Desta forma, o manejo pode servir de exemplo de atividade economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta. Para finalizar, é necessária uma sistematização das informações estatísticas florestais para o Estado, para subsidiar a tomada de decisões e melhoria contínua por parte do setor público.

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Visão Empresarial

Opiniões

mar-mai 09

João Fernando Borges

Diretor Florestal da Divisão América Latina da Stora Enso As florestas plantadas e o mercado florestal brasileiro Segundo a FAO, o novo conceito de florestas plantadas une duas classificações florestais, antes consideradas em separado: as plantações florestais e as florestas plantadas semi-naturais. A razão para essa junção é a similaridade do método de estabelecimento, do manejo aplicado e uso da madeira, geralmente destinada para fins industriais. Ainda conforme a FAO, em 2006, havia 271 milhões de hectares de florestas plantadas em todo o mundo, o que corresponde a 7% da área mundial de florestas ou 2% da superfície de terras do planeta. Desse total, 205 milhões de hectares são destinados à produção de madeira e outros produtos florestais e 66 milhões de hectares para a proteção dos solos e de águas (combate à desertificação, reabilitação de áreas degradadas, etc). Cinquenta por cento das florestas plantadas manejadas para fins de produção pertencem aos governos, 32% estão nas mãos de pequenos produtores e 18% pertencem ao setor privado corporativo, empresas vinculadas à indústria florestal, como é o caso da Stora Enso. Embora com menor percentual que as demais, o setor privado corporativo tem um papel destacado no desenvolvimento das florestas plantadas. Geralmente, a gestão dessas florestas é feita por profissionais florestais, as empresas investem no melhoramento genético das espécies utilizadas, adotam práticas de prevenção de incêndios e de pragas, assegurando a produção de madeira com a qualidade desejada pela indústria. O Brasil, embora detenha uma pequena área se comparada a outros países, tem 5,6 milhões de hectares de florestas plantadas e vem se destacando no cenário mundial pelo aporte de tecnologia aplicada ao manejo de suas plantações que, aliada às condições ambientais e climáticas, fazem com que o país seja extremamente competitivo na produção de madeira para fins industriais. To m a n d o - s e como referência o setor de celulose e papel - que possui 1,7 milhão de hectares de florestas plantadas – a produção de celulose no período de 1990 a 2007 cresceu 175,8% e a de papel, 91%. A título de referência, a agricultura bra-

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sileira cresceu, nesse mesmo período, 84,3% (381,3 Mt em 1990, 702,9 Mt em 2007) e a produção de etanol cresceu 41,6% (11,5 Ml em 1990, 17,7 Ml em 2007). No início de 2008, antes da crise, os potenciais investimentos anunciados no setor de celulose do Brasil previam um acréscimo de 13 milhões de ton no período 2009-2015. Com a mudança do cenário econômico decorrente da crise, a maior parte desses novos investimentos foi adiada e, nesse momento, é prematuro fazer novas projeções. A expansão das florestas plantadas também seguirá com ritmo mais lento, principalmente a vinculada às indústrias florestais. Como o retorno à normalidade está previsto para meados de 2010, esses investimentos deverão ser retomados mais à frente. Em paralelo ao setor industrial, investidores sem vínculo com as indústrias – fundos de investimentos e investidores particulares – têm mostrado interesse cada vez maior em investir na formação de bases florestais e aquisição de ativos florestais já existentes. Esse movimento começou nos Estados Unidos, com instituições locais de grande porte buscando a diversificação de seus portfólios de investimento. Outros fundos menores também optaram por investir em florestas na Europa, Oceania e América Latina, já que mesmo não apresentando valorizações tão expressivas como a de outros setores, a atividade florestal tem garantido retorno desejado e risco bastante reduzido para o investidor. Esses novos investidores florestais têm aumentado seu interesse no Brasil, motivados pela alta competitividade das nossas florestas plantadas, quando comparadas a de outras regiões do mundo e pela perspectiva de crescimento da indústria florestal local. A longo prazo, a expansão da base florestal do Brasil poderá ter uma participação mais expressiva de proprietários florestais não industriais. Essa mudança do perfil da propriedade de florestas plantadas no Brasil irá alavancar a diversificação da indústria florestal e incorporar a produção de madeira à atividade produtiva das propriedades rurais, de maneira mais ampla. O produtor rural, tradicionalmente voltado para a produção agrícola e pecuária, incorporará a produção florestal ao seu modelo de produção. Atualmente, as plantações florestais já suprem 50% da madeira industrial no mundo e a projeção é que, nos próximos 20 anos, essa participação alcance 2/3 do abastecimento das indústrias. O Brasil tem uma excepcional oportunidade nesse setor, pois as crises vão e vêm e, a longo prazo, as florestas plantadas são uma opção promissora para pequenos e grandes investidores, com reflexos positivos para o bem-estar da sociedade e uso sustentável dos recursos naturais.



Empresarial João Afiune Sobrinho

Gerente Operacional Corporativo da VCP

A prática sustentável na indústria de celulose Não é de hoje que a produção florestal, especificamente no caso do eucalipto, movimenta a economia de nosso país. O setor florestal brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, devido às condições climáticas e à tecnologia desenvolvida para o plantio e cultivo das espécies. Hoje, a indústria brasileira de celulose é considerada uma das mais sustentáveis do mundo. O Brasil, que historicamente se firmou como referência na agricultura, entrou em um novo momento de renovação de sua base produtiva. As culturas amplamente disseminadas pelos estados brasileiros – como soja, milho e cana – começaram a dividir espaço também com florestas plantadas. Esta diversificação, fundamental para regiões que buscam o desenvolvimento sustentável, promove a melhor distribuição de renda, geração de empregos e fomento à diversidade produtiva rural. Os diferenciais que fazem do Brasil a principal referência mundial no setor são muitos. Em primeiro lugar, o clima é amplamente favorável à cultura do eucalipto. O corte das árvores é possível a partir do sétimo ano de cultivo. Em outros países esta média chega a 15 anos. Os altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento colocaram as empresas brasileiras entre as mais competitivas do mundo. Isso significa que aqui se utiliza muito menos recursos para uma produção idêntica, em quantidade, a de países europeus, por exemplo. Esta alta produtividade reduz, ainda, a necessidade de expansão das áreas de cultivo no Brasil. A eficiência produtiva é evidenciada por números. Enquanto em nosso país são necessários cerca de 100 mil hectares para uma produção anual de um milhão de toneladas de celulose,

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nos países escandinavos são necessários 720 mil para produzir esse mesmo volume anual. Estudos apontam que o segmento florestal é responsável por 3,5% do PIB brasileiro, US$ 4,8 bilhões em impostos e US$ 6,1 bilhões em exportações. Para movimentar essa máquina, o setor emprega 4,6 milhões de pessoas, quase 5% da população economicamente ativa do Brasil. Frente a este cenário, a VCP vem se firmando como um dos principais players do mercado, com atuação nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Toda matéria-prima utilizada pela VCP para produção de celulose é proveniente de florestas plantadas. O processo produtivo, do manejo das florestas ao produto final, é certificado pelo FSC - Forest Stewardship Council, uma das mais sérias certificadoras ambientais do mundo. Isso significa que em hipótese alguma utiliza-se florestas nativas para colheita de madeira. Pelo contrário, a VCP vai além da legislação vigente, que prevê a conservação permanente de 20% das áreas de manejo. Atualmente, a área florestal da VCP é de 518 mil hectares, sendo que cerca de 39% desse total é preservada. Um rígido plano de manejo florestal conduz toda a operação da empresa. A agrosilvicultura, conjunto de técnicas que prevê o plantio de diversas culturas agrícolas em meio às florestas, promove a biodiversidade de fauna e flora nestes ambientes. Nas áreas de manejo da VCP, é comum observar o cultivo de soja, milho, feijão, além de outros grãos e frutos. Quem também sai ganhando neste sentido são as comunidades rurais, que encontram aí uma alternativa para geração de renda. É com esta experiência e tecnologia que a VCP coloca em operação, no município de Três Lagoas, no estado do Mato Grosso Sul, sua mais nova unidade fabril. A nova fábrica é a maior planta de celulose do país, com uma única linha de produção. Contudo, a consolidação da base florestal e uma série de projetos socioambientais já estão sendo realizados, desde o lançamento da pedra fundamental. O estado do Mato Grosso do Sul, que vinha passando por um momento de renovação da base produtiva, agora tem mais ponto para se firmar como um dos pólos produtivos do país. O empreendimento da VCP elevará em 300% o PIB do município de Três Lagoas e em 13,5% o PIB do Mato Grosso do Sul. É com base no tripé da sustentabilidade – desenvolvimento econômico, conservação ambiental e investimento social – que a VCP chega a Três Lagoas. E, como acontece com as principais empresas brasileiras do setor, deverá se consolidar como um dos elementos estratégicos para o desenvolvimento na região de atuação.


Opiniões

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Armando José Storni Santiago

Diretor Global Florestal da International Paper do Brasil Oportunidades e desafios no setor de papel e celulose O mercado de florestas plantadas no Brasil para a produção de fibras encontra-se em um momento de boas oportunidades e novos desafios, diante de uma crise que afeta, hoje, vários setores da economia em todo o mundo, incluindo-se o de papel e celulose em nosso país. O cenário atual esclarece a pujança e o dinamismo deste setor e que, independente dos sobressaltos já enfrentados, firma-se, hoje, como uma das âncoras do agronegócio brasileiro. Possui 31% dos atuais 5,5 milhões de ha de florestas plantadas do Brasil e representa 8,5% do saldo da balança comercial do país, com exportações de US$ 4,7 bilhões. Isto tudo utilizando apenas 0,2% das terras agricultáveis do Brasil, preservando 2,8 milhões de ha de áreas naturais e gerando 110 mil empregos diretos e 500 mil empregos indiretos. Se, por um lado, as notícias da mídia especializada retratam que as grandes empresas do setor estão interrompendo ou postergando investimentos florestais para a implantação de novas florestas ou reforma das existentes, por outro, destacam os interesses e as ações de grupos nacionais e estrangeiros na aquisição de terras para cultivar florestas renováveis. Em ambas as situações existem ótimas oportunidades, pois o país ainda se posiciona como atrativo a investimentos em base florestal. No primeiro caso, observamos o aumento na condução das florestas plantadas em detrimento da execução de novos plantios numa determinada área. Apesar de entender-se que esta mudança de prática possa implicar numa redução do volume futuro de madeira, há a oportunidade de desenvolver-se, como nunca, pesquisa e desenvolvimento em tecnologias de condução de florestas, que associem a redução no consumo de insumos e de custos operacionais com práticas de manejo que assegurem a sustentabilidade do negócio no longo prazo, podendo nos tornar ainda mais competitivos no futuro, quando bem harmonizado com estratégias de contínuo desenvolvimento de novos materiais genéticos. No tocante à produção de celulose, algumas empresas do setor e a Bracelpa vêm negociando com o Governo Federal medidas de financiamento e de redução de impostos, para o enfrentamento da crise financeira internacional. As prioridades são: ampliação das linhas de crédito para as operações de pré-embarque da celulose, apoio nos seguros de crédito para exportação e a redução dos impostos dos investimentos. Estas medidas urgem efeito para que este setor possa ter certa estabilidade, enquanto o preço da celulose recupera-se e para que os investimentos em nosso país sejam mantidos. Em relação ao papel, também se observa uma retração na demanda do mercado interno e externo, mas a principal questão que se impõe no momento é a regulamentação da Medida Provisória 451/08, que tem o objetivo de coibir

o desvio de papel declarado como imune, que compete de forma ilegal com o papel tributado, e a ampliação dos programas governamentais para aquisição de livros didáticos. No tocante ao papel imune, o que ocorre é que parte do produto declarado para impressão de livros, jornais e periódicos, ao ser comercializado no Brasil, é desviado na sua cadeia de comercialização. Em 2008, as importações de papel imune cresceram 24% e representaram 50% do consumo nacional de papel de imprimir e escrever. Além da Medida Provisória, que fará o recadastramento dos importadores, o governo precisa fiscalizar a cadeia de comercialização, para evitar o desvio. Já a ampliação dos programas governamentais de aquisição de livros didáticos para as escolas públicas, pelo Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, e pelo Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio - PNLEM, pode colaborar para a manutenção da produção. Outra proposta é que o governo também passe a distribuir cadernos aos alunos, na volta às aulas de 2010. Estas são as oportunidades e desafios que nos defrontamos no momento atual e que nos chamam a protagonizar as soluções e os embates necessários para que possamos transformar este cenário de incertezas em vantagens competitivas para os anos vindouros. Esperamos que, dentro de um otimismo focado na realidade, estes mesmos desafios venham a nos tornar ainda mais fortes.

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Visão de Entidades Nelson Barboza Leite

Conselheiro da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura As cadeias produtivas e os reflexos no setor florestal

A crise financeira internacional abalou sensivelmente toda a cadeia produtiva da silvicultura. No caso da celulose e do papel, interrompeu-se um ciclo de duplicação da produção industrial, que vinha acontecendo, aproximadamente, a cada década. Esse crescimento foi alavancado com as florestas originadas, por ocasião dos incentivos fiscais, e teve continuidade com a formação de estoques das próprias empresas e com a implantação de novos empreendimentos. A existência da base florestal constituiu-se, sempre, na principal condicionante para o crescimento. Essa crise, além de prejudicar esse ciclo virtuoso do setor industrial, abalou sensivelmente a silvicultura. Abalos em um momento de franca expansão da base florestal, de intensa discussão sobre sua identidade institucional, de adequações das legislações e no embalo de oportunidades inéditas, como o compromisso do Governo Federal assumido, recentemente, em Fórum Internacional, de aumentar os plantios de novas florestas, em favor das mudanças climáticas. Das paralisações anunciadas, fica a sensação de que a silvicultura foi a parte mais atingida pelo golpe. É a parte de toda a cadeia de produção mais fácil de ser paralisada, mas sua retomada é muito complexa e demorada. A grande e desafiadora tarefa vai ser identificar as fragilidades, as oportunidades, o que precisa ser corrigido no curto prazo, o que pode afetar a estrutura do setor, enfim, escolher as estratégias que promovam a retomada do crescimento, sem que se percam os avanços alcançados nos últimos anos. Algumas certezas merecem registro: os plantios paralisados vão implicar em falta de madeira. É uma questão de tempo para se ter um novo apagão florestal, e desta vez, sem remediações; alguns impactos negativos, principalmente os sociais, poderão

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macular a boa imagem da silvicultura, que vinha sendo construída nos últimos anos. Lidar com esse contexto será um grande desafio para se evitar que as futuras e inevitáveis expansões industriais não sejam prejudicadas por falta de madeira ou por restrições impostas pelos incrédulos da silvicultura, que estarão de plantão juntando, nesses momentos, mais argumentos para dificultar a expansão de novos plantios. Um desafio também para as inúmeras entidades representativas do setor, que lutam por políticas públicas e institucionais para fortalecimento da atividade. Talvez, o desafio exija a integração de todas as forças existentes, para repensar e definir novas estratégias de atuação. Não há nenhuma informação segura sobre as consequências da crise e dos seus desdobramentos. Há, no entanto, informações suficientes, que permitem algumas deduções do que poderá acontecer, a médio e longo prazos, e das ações imprescindíveis, que necessitam de urgentes providências para se evitar danos maiores à atividade. Fala-se de paralisações e diminuições da produção, adiamento dos projetos de novas plantas e diminuição no ritmo dos programas de expansões industriais. Essa situação, no entanto, a qualquer sinal de mudança na economia, pode se transformar e promover a retomada do crescimento. Esse filme é o mesmo da época do preto e branco e, se isso voltar a repetir-se, não será nenhuma surpresa. Mas, os impactos na silvicultura, na maioria dos casos, são irreversíveis. E o impacto das paralisações industriais refletiu diretamente em programas de plantios, de reformas, de colheitas, no mercado de madeira, nas empresas prestadoras de serviços, na produção de mudas e nos programas de fomento, dentre outros. Toda a cadeia produtiva florestal foi afetada. É difícil fazer o cálculo do impacto econômico, mas causam estranhos desconfortos as informações que dão conta do desemprego gerado e da descontinuidade de inúmeros compromissos com fornecedores, prestadores de serviços e fomentados. Compromissos de parceiros, que se transformaram em problemas jurídicos. Problemas dessa ordem precisam ser tratados de forma especial, pois podem prejudicar sobremaneira a imagem e a credibilidade do setor. No caso dos fomentados, que nos últimos anos aderiram aos programas florestais e que representam um dos mais importantes avanços na relação de respeito das empresas com suas comunidades do entorno, não podem ser marginalizados numa situação de crise. Um percalço nessa relação pode tornar irreversível o


Opiniões

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descrédito dos pequenos produtores, com respeito às parcerias empresariais. Poderemos estar, na verdade, criando na sociedade uma nova parcela de cidadãos, que vão duvidar do discurso de empresas tão elogiadas no setor. Serão inimigos dessas empresas e da silvicultura. Há muito tempo, discute-se a necessidade de um programa de comunicação, que pudesse mostrar os benefícios da silvicultura e apagar a sensação de uma atividade distante e desconhecida da sociedade. Os fatos atuais, se mal resolvidos, podem afastar ainda mais a sociedade e gerar mais polêmicas. Não dá para evitar respingos no futuro, quando se liga a situação presente, com um passado, que lutamos para apagar e esquecer. Infelizmente, ainda para muitos, não deixamos de ser aquela atividade oriunda dos incentivos fiscais das décadas de 1970 e 80. Aquela atividade elitista e formadora de desertos verdes, de acordo com a pregação dos que lutam, insistentemente, contra a expansão da silvicultura. Estamos longe desse passado, mas o discurso atual, fundamentado na sustentabilidade, ainda não conseguiu afastar, definitivamente, os fantasmas do passado. Há até quem aponte essas questões mal resolvidas, como uma das principais justificativas pela insensibilidade do Governo Federal, diante dos pleitos e das questões silviculturais. Nenhuma medida governamental

mais arrojada e motivadora tem sido implementada, além de apáticos instrumentos de políticas públicas, diante de crescentes demandas e de desafiantes compromissos internacionais. Fica a sensação de que falta credibilidade nos benefícios econômicos, sociais e ambientais da silvicultura e na interação desses benefícios com a sociedade. A falta dessa inquestionável certeza pode estar impedindo que o Governo adote políticas públicas mais agressivas, que atendam às expectativas do setor, e possam promover, de fato, o seu necessário crescimento. Os impactos atuais e as novas adversidades, se não tratadas devidamente, poderão prejudicar, ainda mais, a construção da imagem positiva, que há anos o setor procura conquistar. Uma ampla reflexão de todo esse contexto é fundamental para que se estabeleçam estratégias que resgatem o crescimento do setor e, consequentemente, não deixem, que, lá na frente, expansões industriais sejam prejudicadas por falta de madeira e restrições aos plantios florestais. Bem disse, em recente pronunciamento, o Dr. Leopoldo Garcia Brandão, um dos ícones da silvicultura brasileira: "a silvicultura está precisando, urgentemente, de uma boa chacoalhada". É preciso falar do crescimento cíclico, das oportunidades, das dificuldades, da mistura e da necessidade de se separar essa brigas distintas, que necessitam de remédios diferentes.

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Entidades Cesar Augusto dos Reis Diretor Executivo da Abraf

As florestas plantadas e a crise A crise financeira iniciada nos Estados Unidos, e que chegou ao Brasil no 4º trimestre de 2008, afetou as atividades de florestas plantadas de eucalipto e pinus integradas à produção de celulose e papel. A queda no volume das exportações de celulose e dos respectivos preços internacionais trouxe um novo desafio para as empresas integradas, que se viram forçadas a um plano de redução de custos, atingindo as atividades de plantio e colheita florestais. Vários projetos de expansão e de construção de novas unidades de produção foram postergados, levando à desativação de viveiros e adiamento dos planos de expansão das áreas florestais. Os reveses trazidos pela crise financeira internacional e a queda da demanda nos mercados internacionais, atingiram não somente os segmentos de celulose e papel, mas também a produção siderúrgica a carvão vegetal, acompanhando a redução drástica da produção da siderurgia brasileira em geral, e ainda as indústrias de painéis de madeira reconstituída, fornecedoras da indústria moveleira, que enfrenta a demanda retraída nos mercados interno e externo. Os prognósticos mais otimistas anteveem retomada dos níveis das atividades econômicas em geral no 2º semestre de 2009, o que permitiria a retomada de produção das empresas integrantes da cadeia de base florestal, e o reinício do plantio de florestas na estação de chuvas ao final deste ano, limitando a interrupção do plantio a cerca de 12 meses e postergando a colheita por igual período no futuro. Diante desse cenário incerto, convém reforçar os aspectos positivos da atividade de florestas plantadas, que são recursos úteis para enfrentar os desafios da crise.

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Assim, a competitividade das florestas plantadas de eucalipto permanece como um diferencial positivo, que possibilita custos reduzidos na fabricação da celulose e a consequente competitividade nos mercados mundiais. As perspectivas de sucesso nos experimentos em biotecnologia, com desenvolvimento de espécies tolerantes às variações climáticas, com menor demanda de insumos químicos na produção de celulose, são recursos que certamente irão permitir novos saltos de produtividade, incrementando a competitividade da celulose nacional. Um dos temas dominantes neste início de ano, nos diversos setores do agronegócio, é a necessidade premente de revisão do código florestal, atualizando seus conceitos e regulações. O setor de florestas plantadas tem propostas de mudança do código, em especial quanto ao reconhecimento das áreas de florestas plantadas consolidadas em topo de morro, e na inclusão das áreas de preservação permanente no cálculo da área de reserva legal, que fazem eco com as reivindicações de outras culturas agrícolas do país, e que coincidem com as mudanças defendidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Recente apresentação da Embrapa Monitoramento por Satélite, demonstrou a redução drástica de áreas disponíveis para agricultura, se consideradas as atuais restrições da legislação ambiental, o que reforça a necessidade de revisão dos dispositivos legais, em favor da continuidade da produção. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, utilizando essas conclusões, tem assumido posições francamente favoráveis à revisão legal. As possíveis alterações na legislação, que venham a ocorrer no atual período legislativo, certamente ampliarão as oportunidades para o desenvolvimento e crescimento das florestas plantadas. O anúncio feito pelo governo na última semana de março de 2009, de um ambicioso programa de construção de um milhão de casas populares, promete aquecer a indústria da construção civil, com o aumento da demanda de aço para a construção e o crescimento da demanda por móveis, o que renova as oportunidades de retomada da produção da siderurgia a carvão vegetal e dos painéis de madeira reconstituída, indústrias integradas às florestas plantadas. Todavia, a par dos aspectos positivos elencados, devemos sempre considerar os desafios impostos pelos movimentos sociais contrários às culturas de eucalipto e pinus, que permanecem como ameaças no horizonte, e merecem toda a atenção do setor, diante do calendário estruturado por suas lideranças ao longo do ano, que aproveita datas e períodos comemorativos para marcar sua atuação com manifestações e invasões das propriedades ou instalações do setor.


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Elizabeth de Carvalhaes

Presidente Executiva da Bracelpa

Demandas do setor de celulose e papel para enfrentar a crise Há seis meses, o mundo foi surpreendido pela crise financeira internacional e, até agora, não há previsões confiáveis sobre o total dos prejuízos, nem sobre quando a estabilidade voltará, para que os países retomem suas metas de desenvolvimento. Os impactos da crise, no Brasil, são medidos por diversos índices, seja pela previsão de queda do PIB, em 2009, de 3,5% para 2%, seja pela retração da produção industrial ou, ainda, pela redução do comércio exterior. Em fevereiro deste ano, mesmo positivo, o saldo da Balança Comercial – após janeiro ter registrado retração – foi 20,9% menor que o verificado no mesmo período de 2008. Esses dados mostram que o Governo precisa tomar medidas eficazes para garantir a continuidade do crescimento verificado nos últimos anos. O setor de celulose e papel também vem sofrendo os impactos da crise, tanto no mercado externo, como no interno, e as negociações das demandas das empresas com o governo, para enfrentar esse momento difícil, são o principal tema da agenda da Bracelpa, nos últimos meses. O objetivo principal é manter as operações de um dos setores que é referência mundial por suas práticas sustentáveis e seu manejo florestal e, por isso, promove o país internacionalmente. Altamente exportador e de capital intensivo, o setor de celulose necessita do apoio do governo, até que os mercados internacionais voltem a comprar celulose nos níveis anteriores à crise. As prioridades são: ampliação das linhas de crédito para as operações de pré-embarque da celulose, apoio nos seguros de crédito para exportação e redução dos impostos dos investimentos. Tais medidas contribuiriam para a manutenção das exportações de celulose aos níveis de 2008, ou seja, US$ 500 milhões mensais. Foi essa média, inclusive, que levou as empresas do setor a exportarem, no ano passado, US$ 5,8 bilhões, o equivalente a 17% do superávit da Balança Comercial Brasileira. Além disso, se as exportações mantiverem-se, o país poderá manter o quarto lugar entre os maiores produtores de celulose do mundo. Conquistada no final de 2008, essa posição é fruto de investimento em pesquisa, nas últimas décadas, que resultaram em espécies de árvores altamente produtivas e, consequentemente, deram mais competitividade ao setor. E isso precisa ser valorizado. Competitividade do papel: Em relação ao segmento de papel, que busca crescer ainda mais no mercado brasileiro e também quer ganhar competitividade internacional, a principal demanda junto ao Governo é a obtenção de crédito para capital de giro – uma vez que houve forte retração na oferta de capital e os custos de financiamento estão elevados. O setor também reivindica a regulamentação da Medida Provisória 451/08, que tem o objetivo de coibir o desvio de papéis para fins editoriais, declarado como imune de tributos. Utilizados para outras finalidades, esses produtos

acabam competindo, de forma ilegal, com o papel tributado, gerando, além de prejuízos às empresas, evasão fiscal. Em 2008, as importações de papel imune representaram 50% do consumo nacional de papel para imprimir e escrever. A Bracelpa e as empresas também estudam novos mercados para sacos e sacolas de papel, entre eles, a utilização desses produtos em supermercados e demais estabelecimentos do comércio em geral. Outra medida importante para o segmento manter a produção é a ampliação dos programas governamentais para aquisição de livros didáticos para as escolas públicas, pelo Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, e pelo Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio - PNLEM. Além dos livros, o governo poderia passar a distribuir cadernos aos alunos, na volta às aulas de 2010. Nas estimativas da Bracelpa, 48 milhões de alunos seriam beneficiados com a medida. Protecionismo: até que as economias estabilizem-se, acreditamos que todos os países, principalmente o Brasil, precisam evitar a adoção de medidas protecionistas, visando a incentivar atividades econômicas internas e reduzir a concorrência externa. A médio e longo prazos, o fechamento dos mercados poderá prejudicar a reestruturação das economias, desestabilizando sólidas relações comerciais internacionais. O Governo Federal precisa acompanhar de perto os principais mercados dos produtos brasileiros, inclusive os do Mercosul, garantindo a manutenção do livre comércio e dos acordos estabelecidos. Também é fundamental que os princípios estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio sejam respeitados. Do contrário, o cenário mundial poderá ficar ainda mais incerto, adiando a superação da crise.

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Entidades

Opiniões

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Rosane Dill Donati

Superintendente Executiva da Abipa

A visão da indústria de painéis de madeira sobre o mercado florestal

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Antes de falarmos da questão florestal, devemos abordar a nova sociedade de indivíduos, onde o capitalismo ajudou a criar um mundo de abundância sem precedentes. A reboque dessa abundância, vieram a educação, a saúde, a informação e as experiências das mais diferentes formas, valorizando segurança, conforto e qualidade de vida. É nesse sentido que entra o mercado ambiental. A consciência de um mundo melhor não é mais uma característica individual e não se limita às sociedades desenvolvidas. O primeiro painel de madeira aglomerada foi fabricado em escala industrial em 1941, em Bremen, na Alemanha, como uma alternativa mais econômica ao uso da madeira maciça. O conceito da sustentabilidade é intrínseco à própria atividade e sua operação. Sustentabilidade não é mais um tema isolado, defendido só por ambientalistas sonhadores. Ao contrário, é uma agenda de âmbito mundial e no ambiente empresarial como o do nosso setor de painéis de madeira industrializada não é diferente. Nosso foco está voltado para a importância da sustentabilidade como estratégia de perpetuação e crescimento da indústria. Conscientes do seu papel como agente multiplicador do conceito de sustentabilidade, as empresas associadas da Abipa desenvolvem um trabalho de conscientização e auxílio a vários outros públicos, patrocinando diversos programas, com o objetivo de integrar as empresas às comunidades onde estão inseridas. São projetos sociais de preservação ambiental, proteção à fauna e à flora, projetos de educação continuada nas empresas, combate ao desperdício da água e, adicionalmente, com o objetivo de gerar renda, programas de fomento e parcerias com produtores rurais independentes, para o cultivo de florestas renováveis em terras ociosas, entre outros. A atividade florestal é importante sob diversos aspectos e o Brasil, com suas características de solo e clima, além da extensão de terras aptas à produção de madeira, poderia ocupar um lugar privilegiado no mercado mundial, sem o estigma de campeão de desmatamento. O setor florestal brasileiro, com suas oito cadeias produtivas, conforme classificação do PNF - Programa Nacional de Florestas, contribui com uma parcela importante para a economia do nosso país, gerando produtos para o consumo direto, emprego e renda.

Perfil do setor de painéis industrializado:

• Associadas: Berneck, Eucatex, Duratex, Fibra-

plac, Masisa, Satipel e Tafisa. • Localização das unidades industriais: Estados de SP, MG, PR e RS. • Capacidade instalada-2009: 8 milhões m3/ano. • Linhas de produto: MDP (Médium Density Particleboard), MDF (Médium Density Fiberboard), HARDBOARD (Chapa de Fibra) e HDF (High Density Fiberboard). • Principais segmentos atendidos: indústria da transformação - moveleira, construção civil, embalagens, indústria automobilística e de artefatos de madeira. • Áreas florestais utilizadas de pinus e eucalipto: 500 mil hectares. • Reserva permanente: 260 mil hectares. • Empregos gerados: 30 mil postos de trabalho, considerando os diretos e indiretos. • Certificação: ISO 9000 e a Certificação Florestal - Green Label. As políticas florestais reconhecem que as florestas e as terras de vocação florestal contribuem para a qualidade de vida da população, proporcionando bens e serviços necessários. Tal contribuição melhora o bem-estar das populações locais, regionais e outros países. O desafio de uma política florestal é assegurar que essas florestas contribuam para maximizar o bem-estar da sociedade, de forma sustentável. As alternativas de financiamento por meio do Propflor, Programa de Plantio Comercial de Florestas e do Pronaf Florestal são importantíssimas para integrar os produtores rurais ao processo de produção florestal, se complementadas com assistência técnica e mecanismos de fácil acesso ao crédito e posterior auxílio para a comercialização dos produtos florestais. Uma das alternativas seria incentivar a criação de cooperativas de produtores de madeira para dar suporte aos pequenos e médios produtores para a comercialização da madeira produzida. Sabemos que o setor florestal é carente de apoio e linhas de créditos que facilitem o acesso de pequeno e médio produtor. É importante que estas políticas sejam estendidas a todas as atividades florestais, inclusive aos pequenos produtores que vivem do manejo dos produtos da floresta. Entretanto, algumas reflexões ainda precisam ser consideradas como: • A maior inserção do fomento em políticas públicas; • Ação institucional para superação de entraves na legislação; • Formação de cooperativas e associações de pequenos e médios produtores; • Linhas de crédito para o financiamento de novos empreendimentos para os pequenos e médios produtores, e • Aprimoramento dos programas de parcerias nas empresas do setor florestal x entrantes x inovações nos contratos.



Visão de Especialistas Ivan Tomaselli

Diretor da STCP Engenharia de Projetos

A crise mundial e o setor florestal brasileiro

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A crise financeira, que se originou nos Estados Unidos, está reduzindo a demanda e os preços de bens e serviços, e gerando desemprego em praticamente todos os países. Um ano após o seu início, não existe um consenso sobre suas implicações e impactos, e de quando a recuperação iniciar-se-á. O impacto da crise sobre os países depende de uma série de fatores. A expectativa é de que com a redução do comércio internacional, serão afetados, principalmente, os países onde a exportação tem uma grande contribuição para o PIB. Este é o caso dos países asiáticos, como Cingapura, que em 2008 exportou US$ 350 bilhões (66% do PIB), Malásia (US$ 196 bilhões - 49% do PIB), Taiwan (US$ 273 bilhões - 36% do PIB) e Coréia do Sul (US$ 458 bilhões - 35% do PIB). Considerando esta premissa, o Brasil seria menos afetado pela crise, pois a participação das exportações no PIB é menor. No entanto, o país é um grande exportador de commodities, cujos preços são, geralmente, mais afetados em períodos de crise, que os manufaturados e serviços. A redução do comércio internacional, resultante da menor atividade econômica em países importadores, é um dos fatores que limitará o crescimento dos emergentes. A maioria dos emergentes estão sendo afetados por mudanças globais no fluxo de capitais, resultantes da redução dos investimentos estrangeiros diretos, da repatriação de capitais e aumentos na remessa de dividendos de empresas transnacionais. Além disto, para alguns países, a redução de remessas de trabalhadores migrantes tem sido impactante, como é o caso do México, que recebia anualmente cerca de US$ 24 bilhões de mexicanos que trabalhavam no exterior. O principal problema resultante da redução das atividades econômicas é o impacto social. A Organização Internacional do Trabalho estima que, no mundo, cerca de 50 milhões de pessoas perderão o emprego em 2009. O impacto social deverá ter várias implicações, podendo, inclusive, afetar a estabilidade política de alguns países. Todos os setores da economia estão sendo afetados pela crise, inclusive o setor florestal. Os efeitos sobre este setor serão mais sentidos em países onde a atividade tem uma maior contribuição para o

PIB e para as exportações. Na América Latina, este seria o caso do Chile e do Brasil. A crise levou à desvalorização do Real, o que, em um primeiro momento, ajudou a tornar os produtos florestais brasileiros mais competitivos no mercado internacional. No entanto, a queda na demanda e nos preços foram superiores, e muitas empresas acabaram registrando prejuízos e suas dívidas aumentaram. O processo de ajuste adotado pelas empresas incluiu a reestruturação de dívidas, a redução de investimentos e de custos, o que tem como efeito final um menor nível de emprego (impacto social). Para o caso do Brasil, segundo a Abraf, projeta-se uma redução de 6% no nível do emprego direto no setor florestal, no entanto existem regiões onde o impacto é maior. Este é o caso do Paraná, onde o número de empregos diretos na indústria florestal em 2008 teve uma queda de 21%, segundo o IBGE. Esta queda está aparentemente associada à redução da atividade da indústria de serrados, painéis, móveis e outros produtos de maior valor agregado, segmentos que foram muito afetados pela crise. A redução do nível de emprego direto na indústria de papel e celulose é esperada. No entanto, é neste segmento que os investimentos deverão ser mais afetados. Estimativas feitas pela Abraf indicam que em 2008 os investimentos no setor florestal foram menores em 26%, quando comparados com 2007. As projeções de investimentos para os próximos 5 anos indicam uma queda maior (36%), o que reduzirá as expectativas de criação de empregos diretos e indiretos para os próximos anos. Uma das alternativas que vem sendo discutida para mitigar os impactos sociais da crise é a criação de empregos através de plantações florestais. Simulações apresentadas durante a reunião do Committee on Forestry - COFO (realizada na FAO, em Roma, entre 20 e 24 de março de 2009) indicam que investir em um programa florestal teria um custo por emprego gerado equivalente ao do seguro desemprego (entre US$ 4 e 5 mil/ano). A diferença é que, ao se investir em um programa florestal, estar-se-ia criando ativos que irão beneficiar gerações futuras. Esta é uma das opções estratégicas que a indústria florestal brasileira poderia levar à consideração do governo, como alternativa para mitigar o impacto social da crise. Ainda que os impactos da crise sejam grandes, e ainda não totalmente internalizados, é importante lembrar que as crises são cíclicas e que a atividade de base florestal é uma atividade de longo prazo.


Opiniões

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Carlos Alberto Farinha e Silva

Vice-presidente de Desenvolvimento da Pöyry Tecnologia O efeito depurador da crise pode fortalecer o Brasil A característica mais marcante da crise atual é, talvez, a sua falta de visibilidade, mesmo em relação a efeitos já identificados. A crise, que teve uma origem declarada como sendo financeira e regional na América do Norte, acabou por contaminar de forma contundente a economia, afetando o binômio produção e consumo e espalhando-se pelo mercado global. A grande incerteza, hoje, reside na estimativa da sua duração e quando e com que velocidade acontecerá a eventual recuperação. O mercado de produtos de base florestal foi fortemente afetado, mesmo considerando que existem, obviamente, diferenças de comportamentos setoriais. Isto é, os mercados de madeira para construção, celulose de mercado, papéis sanitários, papel de imprimir e escrever, jornais e embalagens, para citar alguns exemplos, têm sido afetados, mas de forma diferenciada e, com certeza, irão mostrar perfis distintos de evolução, até a eventual normalização. O consumo mundial de papel e cartão cresceu de 53 milhões de toneladas em 1950 e até 392 milhões de ton em 2007, acrescentando cerca de 10 milhões de ton a partir do início do milênio. Do total de crescimento da produção/ consumo de 60 milhões de ton entre 2002 e 2007, cerca de 74% originou-se na Ásia e 6% na Europa Oriental. A América do Norte e a Europa Ocidental contaram apenas com 5%. Prevê-se que por volta de 2025 o consumo atinja cerca de 542 milhões de ton, com grande parte do crescimento localizado nas regiões em desenvolvimento, especialmente na Ásia. Porém, não podemos esquecer que os EUA respondem ainda por, aproximadamente, 25% do PIB mundial, e que, portanto, seu saneamento é fundamental para que vejamos uma recuperação significativa em nível global. Uma coisa está clara: a contração brutal do mercado, especialmente para produtos classificados como commodities, como a celulose, papéis de imprimir e escrever e embalagens, tem levado à redução drástica de preços e de margens, forçando a redução da produção. Esse cenário, que no presente momento afeta profundamente a vida das empresas brasileiras do setor, desencadeia um efeito depurador que, com certeza, terá efeitos benéficos no cenário pós-crise. O mecanismo darwiniano de seleção deverá eliminar aquele grupo de concorrentes que apenas sobreviviam num ambiente de preços altos e mercado aquecido. Para ter uma visão clara desse fato basta acompanhar as notícias que nos têm chegado, sobretudo das regiões norteamericana e europeia. Existem razões claras e diretas que explicam essa retração, como a paralisação dos circuitos de concessão de crédito e o encarecimento do escasso financiamento disponível, tanto para empresas, como para o consumidor pessoa física. Como consequência, mesmo as

empresas mais capitalizadas colocam como prioridade o controle do caixa, restringindo qualquer desembolso aos limites do possível, o que acaba afetando toda a cadeia a montante, como fornecedores de equipamentos e serviços. Outros fatores de natureza indireta, mas não tão visíveis, têm consequências notáveis para alguns tipos de produtos. Por exemplo: • Diminuição no volume de publicidade impressa, combinada com a migração de recursos de marketing para outras mídias mais baratas, como o rádio. • Colapso no sistema de coleta de aparas nos EUA, onde se estabeleceu um círculo vicioso de baixa demanda, preços baixos, desestímulo à coleta e falta de oferta. Esse fenômeno está atingindo grandes produtores de embalagem na Ásia. • Migração para produtos mais baratos, mesmo prejudicando a qualidade, por exemplo, no caso de papéis de imprimir e escrever. A atual crise não afeta de forma ainda mais severa o segmento exportador, principalmente o de celulose de mercado, devido à taxa cambial mais favorável. Se por um lado penalizase as empresas no que tange ao custo das suas dívidas em Dólar ou Euro, por outro lado beneficia-se a receita, via conversão em Real. O efeito depurador que a crise provoca pode fazer com que o Brasil saia mais fortalecido quando o mercado melhorar. Já vemos no Brasil e no mundo a aceleração do movimento de consolidação do setor. Essa consolidação deverá trazer uma melhor disciplina em termos de programação de investimentos, beneficiando o setor como um todo, no médio e longo prazos.

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Especialistas Fábio Luis Brun

Diretor para a América do Sul da RMS Administração de Florestas A crise e o mercado florestal brasileiro: perspectiva do investidor Há um consenso geral de que a produção de florestas plantadas na América do Sul e, em especial, no Brasil, beneficia-se de características particulares regionais, que produzem um significativo diferencial comparativo. De maneira geral, há disponibilidade de grandes áreas reflorestáveis, ambiente e clima favoráveis, custos operacionais competitivos e desenvolvimento tecnológico satisfatório. Muito embora essas características estejam especialmente evidentes no Brasil, as particularidades do mercado florestal local no passado pouco contribuíram para que investimentos florestais de origem internacional fossem atraídos na mesma escala observada em outros países. Protecionismo, insegurança legal e econômica, problemas de cunho social e, de certa forma, a conformação dos mercados - concentrado em eucalipto, disperso em pinus, estão entre os elementos que sempre foram cuidadosamente pesados quando havia interesse externo em investir. Em função destes, e por determinadas facilidades fiscais, as empresas tradicionais de produtos de madeira – altamente integradas e verticalizadas – alguns pequenos/médios empreendedores locais e, indiretamente, o Estado, foram essencialmente os únicos reais investidores em florestas plantadas no país. A condição de longo prazo intrínseca à produção de madeira também sempre limitou o interesse de pequenos investidores, uma vez que o valor aplicado no estabelecimento da floresta – geralmente alto – necessariamente se imobiliza por vários anos, até sua realização.

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Apesar do baixo risco, a pouca liquidez do negócio, portanto, impossibilita a exploração dessa oportunidade, por uma vasta gama de potenciais investidores. A estabilização da economia nos anos 90 e a sua posterior consolidação produziram a condição básica para que novos investidores pudessem considerar mais seriamente a hipótese de financiar projetos florestais no país. Ainda nessa década, o efeito produzido por uma economia mais previsível e por uma base legal mais definida possibilitou a entrada de investimentos por intermédio da atividade de TIMOs - do inglês Timberland Investment Management Organizations, organizações de objeto florestal, comuns em países como Estados Unidos e Canadá, mas sem grande apelo no Brasil. A proposta de se criar florestas rentáveis em si mesmas passou a ser uma alternativa concreta às florestas comumente integradas dentro de um processo fabril. Interessante, pois, paradoxalmente, em inúmeros casos, florestas são absolutamente necessárias para a obtenção do produto final, mas representam apenas um item de custo no balanço final e, muitas vezes, nem o principal item. Não é incomum, portanto, que não ocorra a devida remuneração do uso da terra por essas empresas, conceito comum em praticamente todos os países de grande tradição florestal. O significativo incremento da participação de parceiros florestais e fomentados no abastecimento de indústrias de base florestal também impulsiona hoje a criação de um mercado florestal real e efetivo. Enfim, os fundamentos que permitem o investimento estrangeiro no Brasil estão devidamente estabelecidos. A crise financeira mundial, que tecnicamente se iniciou em 2007, tem, evidentemente, impactado diversos negócios de base florestal no país – especialmente os que tinham como objetivo maximizar as vantagens comparativas locais por intermédio da exportação de seus produtos. A original lógica de que há oportunidades em crises, mesmo quando da gravidade da atual, sustenta-se também nesse caso. Para efeito deste artigo, vamos desconsiderar a hipótese de investimento em greenfields – o que por si mereceria um artigo distinto – e focalizar no investimento em florestas formadas. De maneira simplista, há duas oportunidades proporcionadas por essa situação, no curto prazo, para proprietários florestais: a) Empresas grandes e fortemente integradas podem considerar a liberação de seus ativos florestais como forma de suprirem-se financeiramente e consolidar/fortalecer sua base manufatureira, reposicionando-se de forma


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mais sólida, para colherem os frutos de um mesma crise e, portanto, reduziram sua caeventual upturn futuro dos mercados, e pacidade de adquirir ativos; investimentos b) Pequenos e médios proprietários florestais florestais continuam a competir com outros passam a considerar a hipótese de garantir re- investimentos de alto retorno no Brasil (incurso financeiro por intermédio da venda de fraestrutura, agricultura); os preços de váseus ativos florestais e potencial utilização rios produtos de madeira estão muito abaixo destes em meios econômicos mais líquidos – do seu patamar histórico; e finalmente, há a boa estratégia quando a crise é de crédito e expectativa da crise produzir um intervalo liquidez, como a atual. maior entre a execução do investimento e Para o investidor, oportunidades surgem seu efetivo retorno, ditado basicamente pelo da chance de penetrar em mercados antes con- prazo para o consumo retornar aos patamares siderados impermeáveis, em função da sua al- observados antes de 2007 – algo que não pota integração. As grandes empresas de papel e de ser efetivamente previsto sem risco. celulose, por exemplo, sempre consideraram Há uma chance de que a atual crise ajude a estratégica a manutenção do seu recurso flo- estabelecer as bases para o funcionamento de restal próprio. uma economia florestal brasileira futura mais Além disso e, evidentemente, a crise pode conforme com a lógica de que a produção floproduzir a real necessidade de tornar ativos restal é um negócio em si, e não apenas um de baixa liquidez em dinheiro imediato, em apêndice – embora essencial – de um processo alguns casos. As atuais taxas de câmbio são manufatureiro. Alternativas antes descartadas efetivamente favoráveis ao investidor externo ou simplesmente desconhecidas para o uso da e merecem citação, ainda que a geral alta vola- floresta plantada – como cogeração de enertilidade desse meio proíba considerá-las como gia, fixação de carbono e creditação, produuma vantagem definitiva. ção de biocombustíveis alternativos, como o Apesar de parecer evidente que o momen- etanol celulósico (promissor na madeira, que to seja para investir, é importante considerar é essencialmente açúcar ultraconcentrado), que alguns outros elementos da equação tam- devem ser consideradas pelo investidor como bém foram afetados: o crédito não está mais potencial upside futuro em sua avaliação de tão disponível em condições favoráveis, quan- investimento. As condições atuais podem ser titativa e qualitativamente; potenciais1 fundos promissoras reflorestamento 2009.qxp:Layout 3/13/09 bem 11:57 AM Pagepara 1 investidores e vendedoinvestidores foram também impactados pela res. Quem sobreviver verá.

www.saudeambiental.com.br Bayer Environmental Science

Se é Bayer, é bom.

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Robert Flynn

Diretor da RISI - International Timber, EUA A floresta é o elo principal da cadeia produtiva * Com colaboração de Amantino Ramos de Freitas

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Foi um grande prazer tornar a visitar, recentemente, algumas das principais empresas de celulose e papel do Brasil. Fiquei bastante satisfeito em verificar que, apesar do caos econômico global do momento, as empresas brasileiras continuam focadas no futuro, planejando novos plantios e desenvolvendo projetos que irão garantir uma fatia crescente dos mercados globais. Ainda que reconheça que a atual crise financeira vai certamente diminuir o ritmo dos plantios e a implantação de novas fábricas no período 2009-2010, posso afirmar que as condições para o estabelecimento de grandes reflorestamentos em outros países são muito piores. Não existe outro país no mundo, cujas vantagens para o desenvolvimento de projetos de celulose de fibra curta, possam se equiparar ao Brasil. Por mais de uma década, analistas financeiros de muitos países vêm aconselhando as companhias de celulose e papel a venderem suas florestas para fundos de pensão e outros investidores, sob o argumento de que esses imensos ativos não remuneram adequadamente os acionistas. Estes gurus têm encorajado as empresas a “monetarizar” seus ativos florestais e usar o dinheiro para expandir sua base industrial ou para pagar dividendos aos acionistas. Contudo, as indústrias brasileiras de celulose e papel estão absolutamente corretas em não aceitar esse conselho e continuar mantendo a propriedade de suas florestas de alta qualidade. Para as empresas brasileiras de celulose e papel, o objetivo das plantações florestais não é apenas cultivar árvores que lhes trarão lucro. Essas empresas consideram que a floresta é apenas o primeiro passo numa longa cadeia de suprimento destinada a fornecer fibra de alta qualidade ao preço mais baixo possível a ser entregue aos seus clientes na Europa, nos Estados Unidos ou na Ásia. Cada vez mais essa fibra é melhorada, de forma a atender aos rigorosos requisitos técnicos de uso final de uma ampla gama de clientes. Isso requer um trabalho de pesquisa permanente, de forma a garantir que a floresta que está sendo plantada hoje irá atender às necessidades do mercado na época de sua colheita. Temos observado que em outros países, investidores institucionais com ativos florestais, como as TIMOs - Timber Investment Management Organizations, têm uma visão de curto prazo e, normalmente, não se dispõem a manter o mesmo nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento da floresta,

que foi o principal responsável pela conquista da liderança mundial em florestas plantadas pela indústria brasileira. Nos modelos de florestas de eucalipto de ciclo curto, como os praticados pelas empresas de celulose, é fundamental manter a continuidade dos trabalhos de melhoramento genético, para se garantir um rigoroso controle de pragas e insetos. Nesses modelos, há também necessidade de uma busca contínua de novos métodos de colheita e transporte da madeira, que sejam mais eficientes e mais seguros. Na forma e na escala em que operam as indústrias de celulose e papel no Brasil, a floresta não é apenas um ativo financeiro que pode ser vendido a qualquer momento para melhorar o balanço da empresa – a floresta é, de fato, uma parte integral de toda a cadeia produtiva. Já de algum tempo, as empresas brasileiras reconhecem que não há necessidade de manter o controle de 100% dos ativos florestais de que necessitam para suprir suas fábricas. Os programas de fomento florestal mantidos pelas empresas de celulose e papel têm promovido o desenvolvimento econômico das áreas de sua influência e facilitado uma política de boa vizinhança com os demais proprietários de terra. Um arranjo que me parece razoável, e que já está sendo adotado por várias empresas, seria garantir 70% do fornecimento de madeira de florestas próprias e 30% de terceiros, principalmente de parceiros dos programas de fomento. E algumas dessas empresas, como a Klabin, desenvolveram formas inovadoras de interação com investidores interessados no plantio de novas florestas. Certamente, existe um grande número de investidores, estrangeiros e nacionais, com muito interesse em participar desse tipo de negócio, voltado ao plantio de florestas nas proximidades das empresas de celulose. Outro uso, que tem despertado o interesse crescente dos investidores, é o plantio de florestas de eucalipto no Brasil, para fins energéticos. Contudo, programas que estimulam o plantio de florestas por terceiros envolvem responsabilidade e confiabilidade, sobretudo quando se trata de pequenos e médios proprietários de terra. Tenho visto casos de outros países em que os agricultores foram estimulados a plantar eucalipto e que, na hora da colheita, as empresas de celulose não se dispunham a comprar a madeira, devido às condições de mercado. Esse tipo de comportamento deteriorou o relacionamento da empresa com os agricultores, que passaram a cultivar outros produtos. Acho que no Brasil esse problema não ocorre, pois as empresas compreendem perfeitamente a importância de se manter um mercado consistente para a madeira produzida por pequenos proprietários. Apesar das condições econômicas pouco animadoras para 2009, no meu ponto de vista, o futuro das empresas brasileiras de celulose em relação aos mercados internacionais é extremamente promissor.



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Adhemar Villela Filho Consultor Florestal

Brasil a caminho da liderança em produtos florestais É irrefutável a contribuição do negócio florestal para o desenvolvimento nacional. Há quatro décadas, prevalecia a visão que a oferta necessitava se antecipar à demanda futura de produtos florestais. Os fundamentos iniciais foram delineados por um programa governamental de estímulo fiscal ao reflorestamento. Uma década após, vem o ciclo industrial com forte apoio do antigo BNDE. Em síntese, uma política de industrialização, com ênfase inicial na substituição de importações. Foram plantados quase 6 milhões de hectares, permitindo a migração do extrativismo predatório, para práticas de manejo sustentável das florestas plantadas, organizando mais eficientemente as cadeias produtivas, com visão crescente nos aspectos socioambientais. Após breve período, o governo retirou-se do fomento fiscal, em meados da década de 1980. A política setorial adotada foi de crescimento orgânico, pautada por inovação e diferenciação tecnológica, com adequada escala operacional e eficiente gestão, que alinhada a uma dinâmica de abertura e consolidação de mercados, levou o país à liderança global em inúmeras áreas de produtos florestais. Inconteste a posição marcante em competitividade na produção de fibras. O segmento representado por papel e celulose, painéis reconstituídos de madeira, siderurgia, produtos sólidos e energia renovável, conquistou importância macroeconômica e socioambiental. No primeiro ciclo, ocupou os espaços degradados nos estados próximos à costa atlântica, refletindo na ocasião o perfil socioeconômico das regiões mais ricas e urbanizadas do sul e sudeste. O novo ciclo estabelece-se no centro oeste, extremo sul, nordeste e norte. Novos modais de transporte e a possível saída simultânea para os Oceanos Atlântico e Pacífico são instrumentos de competitividade para alcançar o mercado asiático. Recentemente, no terceiro trimestre de 2008, o Brasil foi atingido pela crise mundial, após um período de bonança. Os agentes econômicos, em épocas de crise, defensivamen-

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te reduzem as demandas de investimentos e consumo. O segmento florestal reduziu investimentos e custos de produção, tentando preservar a sua saúde financeira. Este processo, contudo, não tirou o foco do futuro. O negócio florestal tem uma vocação estrutural para a visão de longo prazo. Visíveis são os movimentos iniciais de consolidação. O Grupo Votorantim incorpora a Aracruz, constituindo a maior produtora mundial de celulose. Novos negócios são liderados pelos investimentos em ativos florestais por fundos de investimentos estrangeiros e empresários nacionais. Fundos continuam comprando terras e florestas plantadas. O Grupo Lorentzen, fundador da Aracruz, toma a decisão de investir em florestas para produzir o “carvão verde”. Tantos outros negócios ainda não revelados certamente estão sendo desenvolvidos. O setor vai sair mais forte e competitivo desta crise. As árvores crescem mesmo nos tempos bicudos, embora, como diz W. Buffet, não alcancem o céu. A base florestal de seis milhões de hectares caminha para atingir os dez milhões em 2020. Os negócios de papel e celulose ameaçam a liderança dos nórdicos na produção de celulose e a posição tradicional de países produtores de papel. Os painéis de madeira almejam mais de 10 milhões de metros cúbicos anuais para a próxima década. Produtos sólidos avançam para produzir mais de 15 milhões de metros cúbicos anuais nos próximos anos. A energia renovável tradicional está e estará no topo da agenda nacional. A difícil indagação: e os próximos 40 anos? Se não pudermos responder adequadamente, pelo menos podemos conjeturar. O Brasil estará entre as maiores economias globais, terá um imenso mercado interno e vai consolidar a sua liderança no campo agroindustrial. E a transferência do centro de gravidade do agronegócio do hemisfério norte para o sul será irreversível. Viveremos um período de intensa transformação em escala, participação de mercado, tecnologia e oferta de produtos a nível global. E o negócio florestal? Não se ignora que o binômio floresta-indústria, na sua trajetória global, adaptará o modelo de internacionalização, adotado por empresas brasileiras de alimentos, mineração e siderurgia. Seremos exportadores de produtos, tecnologia e gerenciamento. Seremos atores ativos na consolidação de indústrias florestais globais. A nossa vocação à verticalização deslocará a produção e distribuição de papel para outros centros. Os novos espaços na África não deverão ser desprezados, onde inúmeras empresas nacionais já atuam em outros setores, sem descuidar do grande negócio da bioenergia. Este será o grande desafio que nos acercará.


Visão de Centros de P&D Carlos José Caetano Bacha

Professor de Economia da Esalq-USP

Importância do setor florestal para a economia brasileira O sistema agroindustrial florestal (complexo florestal ou agronegócio florestal - termos normalmente usados como sinônimos) é o conjunto de atividades realizadas pela silvicultura e extração vegetal e pelos setores a elas vinculados. O sistema agroindustrial florestal - SAGFlorestal, é composto por quatro segmentos. O segmento 1 (indústrias a montante), constitui-se das empresas que ofertam insumos para a produção florestal. Parte dessas empresas compõemse de indústrias de equipamentos e insumos, e outras referem-se às prestadoras de serviços para a extração vegetal e a silvicultura. A produção florestal compõe o segmento 2 (produtos florestais in natura), que se divide na produção oriunda da exploração de matas nativas (extração vegetal) e da exploração de matas plantadas (silvicultura). A produção florestal divide-se em produtos madeireiros (lenha, carvão, toras e cavacos) e produtos não madeireiros (como serviços ambientais, folhas, raízes, gomas, frutos, por exemplo). Esses produtos são transformados no segmento 3 (primeira transformação industrial) ou diretamente consumidos no segmento 4 (segunda transformação industrial ou consumo final). Alguns produtos transformados no segmento 3 são reprocessados no segmento 4. Os quatro segmentos são supervisionados por entidades privadas e públicas. Um exemplo da sequência de atividades que compõem o SAG-Florestal é a empresa Caterpillar do Brasil, que produz tratores utilizados na extração de toras de florestas nativas, que são transformadas em pranchas nas serrarias e/ou utilizadas na indústria moveleira. A produção desses tratores da Caterpillar insere-se no segmento 1, a produção de toras no segmento 2, a produção de madeira serrada no segmento 3 e a de móveis no segmento 4. O Ibama é uma instituição pública regulatória, supervisiona as atividades feitas pelos extratores e indústrias de transformação da madeira. Diversas atividades do SAG-Florestal ainda não podem ser dimensionadas na economia brasileira. Isto é o caso das “indústrias a montante”, de parte da produção não madeireira e do ecoturismo. Devido a isto, as informações abaixo mencionadas referem-se à parte do SAG-Madeira. Considerando apenas os produtos florestais madeireiros e a primeira e segunda transformações industriais, têm-se que eles representaram 3,26% do PIB brasileiro, em 1995, e 3,06%, em 2000. Eles também geraram US$ 9,2 bilhões de exportações, em 2006, equivalentes a 6,7% das exportações brasileiras. O saldo comercial (exportações

menos importações) do SAG-Madeira foi de US$ 8 bilhões em 2006. Além disso, esse SAG gerou 1,45 milhão de empregos por ano, no período de 1993 a 1995. O SAG-Madeira é superavitário em suas transações comerciais externas. De um saldo comercial de US$ 972 milhões, em 1980, atingiu-se US$ 8 bilhões, em 2006. É interessante ressaltar que, apesar da valorização cambial dos anos de 2003 a 2006, as exportações do SAGMadeira têm crescido. Isto é fruto do estabelecimento de unidades produtivas - em especial de celulose, papel, madeira serrada, chapas de madeira, móveis e produtos siderúrgicos a base de carvão vegetal, voltadas para a exportação. No período de 1989 a 2006, a taxa geométrica anual de crescimento das exportações do SAGMadeira foi de 8,21%. No entanto, essa taxa foi 16,8% a.a. de 2001 a 2006 e de 7,4% a.a. de 1989 a 2001, evidenciando um crescimento mais forte das exportações nos últimos 5 anos. As importações, por sua vez, são bastante sensíveis à taxa de câmbio. Elas cresceram de 1995 a 1998, quando houve valorização cambial; diminuíram de 2000 a 2002, quando houve desvalorização cambial; e voltaram a aumentar de 2003 a 2006, com a valorização cambial. Os principais produtos exportados pelo SAG-Madeira, em ordem decrescente de valor, são: celulose, papel e papelão, produtos siderúrgicos à base de carvão vegetal, painéis à base de madeira, madeira serrada, manufaturados de madeiras, móveis de madeira, obras de marcenaria, carvão e madeiras em toras. Os principais produtos importados, em ordem decrescente de valor, são: papel e papelão, celulose, painéis à base de madeira, madeira serrada, manufaturados de madeira, madeira laminada e carvão.

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Centros de P&D Sebastião Renato Valverde

Professor e membro do Pólo de Excelência Florestal da UF de Viçosa Impactos da crise no setor florestal brasileiro

Os sistemas financeiro e creditício global deram sinais claros de fragilidade, frente às armadilhas que a colossal alavancagem e a falta de lastros do mercado de capitais são capazes de provocar. A atual crise de subprime, fruto desta armadilha, extrapolou os limites do financeiro e atingiu a economia real dos países, indistintamente, e vem causando uma balburdia na rotina dos agentes em geral, que há muito não se via. Não há como negar esta crise e, nem muito menos, prever o seu fim. Impressiona o fato de que há pouco mais de dois anos, o mundo vivia uma euforia econômica generalizada, cercada de rumores e especulações, que inflacionaram o mercado de commodities e insumos. Ontem, preocupávamos como abasteceríamos a população mundial. Hoje, não temos para quem vender. Pretensões à parte, a verdade é que a maioria das atividades econômicas sentiu graves abalos no mercado com esta crise, que tem um efeito moral, de sorte, positivo, como pretendo discorrer neste documento. Lamentavelmente, o setor florestal não passou incólume a ela. Para muitas empresas florestais, a sobrevivência tem sido desafiadora. Alguns segmentos estão sofrendo, sem precedentes. É o caso das guseiras a carvão vegetal que, mesmo tendo o preço do gusa despencado para menos da metade, ainda assim não conseguem mercado para seus produtos. Idem para as celulósicas que, apesar de reduzirem o ritmo de produção, deparam-se com altos estoques mundiais e queda nos preços, de US$ 800 para US$ 500/ton. O desemprego já é uma realidade no setor florestal por razões diretas da crise e, indiretas, das operações financeiras mal sucedidas. A queda no lucro das empresas foi inevitável e afetou o ritmo dos investimentos no reflorestamento. Um breve contato com os dirigentes florestais foi suficiente para observar que as empresas mais sacrificadas suspenderam, temporariamente, os investimentos nos plantios florestais, em áreas próprias e fomentadas. Poucas estão mantendo o cronograma de plantio, como o previsto. Certamente, lamentar os efeitos da crise não é solução para nada. Até porque não há crise que assuste os brasileiros, como as que viveram no início da década de 1980, até meados da atual. Nada de imaginar que ela vai comprometer as expectativas de longo prazo dos investimentos florestais no Brasil. As adversidades que a economia brasileira enfrentou no passado e as arbitrariedades impostas pela burocracia, com o intuito de minar a competitividade da indústria florestal, resultou no fortalecimento do setor. Superaram-se todas, superarão esta e outras que porventura virão. Apesar do efeito desta crise nas maiores economias do mundo - EUA, Europa e Japão, o consolo é que os BRICs, que têm impulsionado a locomotiva global, são os mais populosos, estão em expansão econômica e social, internamente consolidados e consumindo barbaridade, depois

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de viverem historicamente com uma demanda reprimida. Além disso, o Brasil hoje possui uma economia interna mais expressiva, não dependendo tanto das exportações, como outrora. Se os EUA eram o quase único parceiro comercial, hoje o Brasil diversificou seus parceiros e sua pauta de exportações para os países da Ásia, Oriente Médio e África, que estão sendo menos afetados. Por sorte, a economia global é dinâmica e também vigorosa nos países emergentes. Se não há como mudar o rumo da crise e, muito menos, evitá-la, resta ver o que de bom pode ser aproveitado. Se a US$ 500 o preço da tonelada de celulose está ruim para o Brasil, sabendo que aqui os custos giram em torno de US$ 300/ton, imaginem como está para os países, ainda players, que têm seus custos próximos dos US$ 500 e que já estavam se declinando no momento de boom econômico. Estes sairão nocauteados da crise. Se já havia uma debandada das indústrias deles para cá antes da crise, agora mais ainda. As indústrias de celulose dos países players não têm como colocar este produto no mercado internacional, num preço abaixo dos seus custos de produção. Com isso, o Brasil preencherá este espaço. Não se assustem se os noticiários informarem que as exportações de celulose brasileira para os países asiáticos subiram. Isso significa que o Brasil estará vendendo para mercados antes abastecidos pelas indústrias de países como Finlândia e Suécia. Este é um efeito positivo da crise para o setor florestal brasileiro. Pois, não há outro “país abençoado por Deus e bonito por natureza” que tenha


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uma identidade florestal como o Brasil, em que o crescimento médio das florestas atinge 40 m3/ ha.ano, sendo que, em muitos sites, absurdos 50 m3/ha.ano. Dada a estagnação no mercado internacional de produtos florestais, o momento então é ideal para as empresas ajustarem-se. Com o excesso de demanda, muitas indústrias estavam se abastecendo com madeira juvenil, com idade bem abaixo do ótimo econômico. Só que isto comprometia o estoque de crescimento florestal, que seria sentido em breve, além de inviabilizar qualquer planejamento florestal focado no abastecimento futuro industrial. Para muitas indústrias, esta é a oportunidade de colocar a casa em ordem. Muitas vão ter que investir mais na disciplina operacional e financeira. O que se via era as empresas num frenesi perdulário, sem igual. Afoitas e sem se dar conta, chegaram a assumir o papel de Estado paternalista. Agora, na crise, vão rever gastos e avaliar, de forma mais estratégica e menos assistencialista, os investimentos produtivos e sociais. Outro ponto positivo é que os dirigentes das indústrias florestais, sobretudo as de celulose, passam a ter mais fôlego para avaliar a melhor localização para novas indústrias, para não ter que construir em lugares sem vocações locacionais para tal. Por sinal, aqui cabe um detalhe, as indústrias florestais são todas elas orientadas locacionalmente pelo menor custo de produção e transporte, jamais por favores políticos, tributários, fiscais, ou seja lá o que for.

Para aqueles investidores independentes, que aplicaram em projetos florestais e que estejam receando os efeitos desta crise, vale lembrar que este projeto é de longo prazo. Além disso, quem investiu, fez isso de quatro anos para cá e estes projetos ainda não maturaram, ou seja, ninguém está colhendo neste momento. Quando da maturação, não há a menor dúvida de que a crise já tenha se despedido. Se para estes, ela não vai afetar, muito menos será afetado quem ainda vai investir. Assim, o que vai acontecer é um processo de depuração natural dos agentes econômicos interessados no projeto florestal. Isto é até bom, pois muita gente que não deveria participar deste mercado já está sendo eliminada. Com a saída deles, espera-se que todas as consequências das especulações que surgiram nos últimos anos com o ímpeto dos investimentos florestais continuem reduzindo. Acredita-se que o valor das terras caia para padrões reais. Que os preços dos fertilizantes reduzir-se-ão para próximos dos patamares históricos. Isto vem ocorrendo até por conta da própria crise, que fez recuar o preço do petróleo, que ninguém mais esperava que caísse abaixo dos US$ 100 por barril. Não há que temer crise e nem assombração. O brasileiro não é daqueles que freia por qualquer curva. Apenas desacelera antes, para, estando nela, retomar a aceleração a todo torque. Este é o Brasil florestal: capota, mas não breca. Ninguém segura.

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Centros de P&D José Luiz de Pereira Rezende

Pesquisador de Economia e Planejamento da UF de Lavras A crise financeira global e o setor florestal brasileiro A atual crise financeira internacional foi originada no mercado imobiliário americano. Após anos de crescimento, baixa inflação e taxa de juros, o sistema de créditos do país expandiu em demasia os chamados empréstimos subprime, ou seja, créditos com baixa perspectiva de retorno. Quando as pessoas deixaram de pagar, os bancos ficaram sem dinheiro. Como eles trabalham interligados por meio de empréstimos e compra de títulos, o processo virou uma bola de neve. No estado de crise, procurou-se por títulos do governo e não por ações, canalizando recursos financeiros para os EUA, ao contrário do que se esperava, pois, apesar de tudo, ele ainda é o país mais seguro para se investir. A crise não começou no processo produtivo, mas como resultado do enxugamento da liquidez do mercado pelos bancos, fazendo com que a disponibilidade monetária quase desaparecesse nos principais países. Alguns grandes bancos conseguiram garantir seus próprios recursos, mas os bancos menores e os menos preparados realizaram uma autêntica corrida para as chamadas ilhas de segurança, em especial para os títulos do tesouro americano. O fato da economia estar com altos estoques, no final de 2008, piorou a situação dos exportadores, pois, pode-se adiar novos pedidos, bem como aproveitar para renegociar os contratos vigentes. No setor florestal, os efeitos da crise foram grandes. A redução da atividade econômica, com escassez de crédito e baixa do consumo, reduziu a demanda dos principais importadores de celulose, papel, carvão, móveis e madeira para construção, com queda considerável de preços. Entre maio de 2008 e janeiro de 2009, o preço da celulose de fibra curta caiu 26% no Brasil, e os preços de alguns papéis reduziram-se em até 30%. Contudo, os investimentos no setor continuarão. Há previsão de que sejam investidos US$ 11 bilhões até 2011 e US$ 10 bilhões entre 2012 e 2015. As expectativas são otimistas para o setor. O enfraquecimento dos mercados de madeira em praticamente todo o mundo, com a possível exceção da China e da Índia, já fez com que pedidos de exportação fossem cancelados, causando redução de até 40%. A construção civil reduziu a demanda de ferro e aço no mundo, que, por sua vez, reduziu a de carvão vegetal, provocando redução de seu preço em mais de 60% no mercado interno. Em agosto de 2008 alcançava R$ 189/ mdc e caiu

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para R$ 75/mdc em fevereiro de 2009. A economia, em geral, vai precisar de crédito e a falta de liquidez terá forte impacto na produção de 2009. A produção madeireira, pode e deve ter uma defasagem, mas ela só ocorrerá daqui a 6 ou 7 anos. É possível, ainda, corrigir um pouco a situação com acertos e ajustes na idade de corte. Devido também aos altos preços da madeira nos últimos anos, a área plantada cresceu nos anos recentes, o que arrefecerá o possível desequilíbrio. A possibilidade de um aprofundamento da crise não é mais real. Para muitos, não há mais crise e sim dificuldades a serem resolvidas. Os setores mais vulneráveis, tais como imobiliárias, seguradoras e bancos, já sofreram os impactos que deveriam sofrer. O impacto foi devastador durante o final de 2008 e início de 2009 na Europa, Japão e Estados Unidos, mas nos países do BRIC pareceu haver um efeito bem menor os quais não deixarão de crescer, ainda que em ritmo menos acentuado. No Brasil, são apontados como possíveis arrefecedores dos efeitos da crise: o Proer deixou os bancos nacionais financeiramente sólidos e estes não possuem vínculos estreitos com o sistema bancário americano; as reservas externas, de US$ 200 bilhões, tranquilizam os investidores, tanto externos quanto internos, evitando maiores fugas de dólares e problemas cambiais; a ampliação do mercado interno nos últimos anos, hoje significa uma espécie de anteparo à crise; a menor dependência do mercado americano, cerca de 20%, no conjunto do comércio externo do país também tranquiliza. Além disso, o país pode contar ainda com a desvalorização da moeda, a redução das taxas reais de juros e com o porte e pujança do mercado interno. A desvalorização relativa do Real vai estimular as exportações ou, pelo menos, evitar reduções mais acentuadas nas mesmas. Países como a China, por exemplo, não contam com essa alternativa. As taxas de juros, por sua vez, ainda estão elevadas. Há espaços para reduções significativas, estimulando os investimentos e o consumo. Há que se considerar ainda que o mercado interno brasileiro é amplo e crescente. Contudo, não há consenso no tamanho do impacto sobre as economias emergentes. A China deverá manter seu crescimento e as medidas fundamentais já foram tomadas. O crescimento chinês, mesmo que menor - os pessimistas falam algo entre 7 e 8,5%, deverá ser mantido. Isso é uma garantia para os países fornecedores de matéria-prima, tais como o Brasil. A dúvida reside no maior mercado da China: os Estados Unidos. A capacidade dos americanos de continuarem como grandes compradores, com crédito difícil e caro pode ser determinante do crescimento chinês. Havendo queda no ritmo das economias dos EUA e da Europa, a China pode mirar as economias emergentes como substitutos para alocar suas exportações. Felizmente, a China não é tão forte em produtos florestais, com exceção de móveis e alguns tipos de chapas.


Opiniões

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Caso a crise do mercado americano seja muito profunda e as compras americanas despenquem, é provável que a China torne-se agressiva na procura de mercados substitutos, na América Latina, principalmente. Se isso acontecer, será inevitável o enfrentamento de uma concorrência chinesa muito mais ativa e dura, em mercados periféricos de interesse do Brasil. É possível que, a partir de 2010, surja um novo desenho do poder das nações no mundo. Os EUA sairiam da crise com seu poder hegemônico diminuído em vários sentidos, com a economia do país perdendo valor e atratividade e suas empresas, o valor relativo. Em termos mundiais, dar-se-á uma nítida ampliação da ação estatal, revertendo um período de longa duração de liberalismo econômico, fortalecendo a ação do Estado como agente econômico. Se isso realmente ocorrer, a doutrina do livre mercado será fortemente atingida e, com ela, os EUA. O Brasil exporta muita matéria-prima e alguns produtos acabados. Se a economia mundial continuar a encolher, as exportações também diminuirão, fazendo com que caiam os preços dos insumos e produtos. A celulose é o principal produto florestal exportado pelo Brasil e está concentrada na China (25%), EUA (21%), Alemanha (15%) e Itália (12%), sendo seguidos por Japão e França. Com relação a painéis, o problema pode ser mais complexo, pois EUA e Reino Unido juntos representam 40% das exportações e são países

que passam por significativa redução da atividade econômica. No que se refere a papel, móveis e outros produtos, a pauta de exportações é mais diversificada, o que, em princípio, torna os riscos menores. Acontecimentos recentes e relevantes têm evidenciado e magnificado a importância que o Brasil tem hoje no novo cenário mundial que se desenha, tanto por sua liderança na América do Sul, como também, como membro do BRIC e do G-20 e pelo papel que desempenha como uma das maiores economias do mundo. A importância e a participação do Brasil no comércio mundial de produtos florestais não são menores do que na economia como um todo. Segundo previsões do FMI, os mercados financeiros só estarão plenamente restabelecidos a partir de 2010, contudo, o IPEA prevê que a economia crescerá 2% este ano, afirmando que a pior fase da crise financeira global já passou. O crescimento será resultado de uma trajetória de recuperação ao longo do ano, com crescimento a taxas mais expressivas a partir do segundo semestre. Portanto, não se está prestes a ver o fim dos tempos como preconizam as aves de mau agouro e os profetas do apocalipse, mas todos serão obrigados a fazer um duro ajuste e correção de rumos, como consequência das inconsequências alheias. O país pode e deve aproveitar o momento para elaborar um planejamento estratégico para o setor florestal e procurar, por todos os meios possíveis, agregar valor a seus produtos.

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Visão dos Fornecedores Christopher Podgorski

Diretor Geral da Scania no Brasil É importante sair da onda negativa

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O setor florestal brasileiro contribui de maneira bastante expressiva para a economia nacional, seja para consumo direto ou para exportação, na geração de empregos ou na conservação e preservação dos recursos naturais. Historicamente, a economia florestal tem sido responsável por um dos cinco maiores saldos comerciais positivos do país. O Brasil possui uma vocação agrícola grande, com florestas que foram e são intensamente exploradas ao longo da história. Quando juntarmos nossa extensão territorial às condições climáticas e aos índices pluviométricos anuais, ao dinamismo e à criatividade do povo brasileiro, e a um governo que transmita confiança aos investidores internacionais, teremos ainda mais credibilidade e um potencial de crescimento ainda maior para o agronegócio e, especialmente, para o segmento florestal. Ao mesmo tempo, os maiores desafios de nosso mercado são a conservação das florestas nativas e o atendimento à demanda do mercado por meio de florestas plantadas. Em tempos em que o aquecimento global e a sustentabilidade são temas amplamente discutidos, é fundamental que os recursos naturais sejam preservados ao máximo, não só pelas empresas, mas pela sociedade como um todo. O transporte da madeira da floresta até a fábrica é efetuado, principalmente, por meio de caminhões. As composições mais utilizadas são denominadas tri-trens e rodo-trens, que transportam, em média, 45 toneladas de madeira por viagem. Os veículos indicados para esse tipo de trabalho devem ter, preferencialmente, ao menos, 420 cavalos de potência.

Os principais países exportadores de celulose do mundo estão localizados no hemisfério norte. Com isto, o ciclo vegetativo do eucalipto, árvore em que a idade de corte chega a ser de cinco a sete anos, torna-se maior que aqueles conseguidos no Brasil. Isto se transforma em maior produtividade por hectare ao longo da cadeia, explicando assim o interesse de investidores estrangeiros no segmento de celulose no Brasil. Sobre a atual crise econômica mundial, acredito que o exemplo a seguir traduz, de maneira bem clara, o momento pelo qual estamos passando. Se compararmos o país ou as empresas a uma família, seria como atravessar um período de desemprego do pai ou da mãe, por exemplo, quando a receita irá diminuir e, consequentemente, surge a necessidade de apertar os cintos para atravessar esse período de dificuldades com mais tranquilidade. Pois é exatamente essa atitude que vemos com frequência nas empresas atuantes no transporte de madeira. Para não correrem riscos desnecessários, os grandes e médios frotistas estão programando as compras de 2009 de maneira criteriosa. Afinal, em tempos de instabilidade econômica ou não, a carga precisa ser transportada e, para isso, são necessários veículos que estejam em boas condições para esse tipo de trabalho. Ainda comparando as empresas e o país com a família, será ainda melhor se houver uma poupança, onde se possa buscar recursos sem recorrer a bancos e aos juros de mercado. Nesta situação, a compra de cotas de consórcio surge como uma excelente alternativa, pois o cliente encontra duas vantagens principais. A primeira são as baixas taxas de juros, e a segunda é a possibilidade de programação de compra. Em contrapartida, atento a esta situação de instabilidade, o governo brasileiro tomou algumas medidas como forma de incentivar a compra e o giro de capital. A ação mais importante, principalmente para o segmento no qual atuamos, foi a redução do IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados, neste 1º trimestre do ano. Sem dúvida, a medida foi importante para alavancar as vendas de caminhões de janeiro, fevereiro e, principalmente, de março, quando os compradores devem aproveitar o último mês da redução para fechar negócios que estavam programados para o segundo semestre. Em tempos em que as notícias levam às especulações pessimistas, é importante sair da onda negativa e preparar toda a cadeia, desde o plantio ao transporte da madeira, para a retomada de mercado, quando o cenário econômico estiver estabilizado. É por isso que permanecemos oferecendo suporte ao transportador para encontrar soluções adequadas ao negócio, seja em financiamento de produtos, ou na programação para a compra. Diante dessa postura, acreditamos que em um futuro próximo o setor de madeira será uma das alavancas para o crescimento das vendas de caminhões e da retomada econômica deste nosso Brasil.



Fornecedores Nestor de Castro Neto

Presidente da Voith Paper América do Sul

Os rumos do setor de papel e celulose brasileiro

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O mercado de papel e celulose nunca esteve tão competitivo. Novos cenários têm alterado as regras do mercado e o entendimento deles será determinante para o crescimento no setor. Localização das áreas florestais, estilo de plantio, taxas cambiais, mudanças de hábitos de consumo, enfim, tudo pode ser interpretado como oportunidade e ameaça. O Brasil foi privilegiado pela natureza e a vantagem competitiva da cultura do eucalipto é fator diferenciador relevante no potencial de crescimento de nossa indústria. A terra no Brasil ainda é relativamente barata e extremamente favorável ao plantio do eucalipto, chegando a ter uma produtividade por hectare até 10 vezes maior do que no hemisfério norte, o que significa um manejo mais simples e necessidade de área proporcionalmente menor. Essas vantagens competitivas permitem também custos competitivos, mesmo diante da valorização cambial extrema que vivenciamos em 2008. Injustamente, vemos campanhas contra o plantio de eucalipto, que rotulam tais plantações como deserto verde. A verdade é que essas plantações são controladas e para cada hectare de eucalipto plantado, em média, outro de mata natural é preservado, muitas vezes em áreas já degradadas, em projetos de recuperação e proteção. Os pastos no Brasil têm uma área de mais de 220 milhões de ha e as florestas plantadas de eucalipto são pouco mais de 2,5% dessa área, 5 milhões de ha, sendo que nem metade é destinada para o segmento de papel e celulose. Assim, caso transformássemos mais 1,25% dos atuais pastos em florestas para produção de celulose e papel, poderíamos dobrar a produção desses produtos. Os aprimoramentos na indústria florestal brasileira também têm sido significativos. A produtividade cresce constantemente com o uso de técnicas de manejo florestal. As empresas investem fortemente em pesquisa, na busca de novas tecnologias que possibilitem avanços e quebra de mitos e de barreiras florestais hoje conhecidas, como a clonagem na geração de mudas para o plantio, não só corriqueira, como obrigatória. As recentes turbulências econômicas afetaram fortemente o setor, mas a competitividade brasileira ajudou a proteger parcialmente as empresas nacionais, mesmo com a queda do preço da tonelada de celulose de US$ 780 para US$ 400.

As empresas brasileiras têm, ao seu lado, custos em Real declinantes, frente à apreciação do Dólar, hoje na faixa de R$ 2,30. As margens das nossas produtoras acabaram mantendo-se mais satisfatórias. No entanto, fomos afetados pelas dívidas em moeda forte, o que ficou claro na leitura dos balanços das produtoras de celulose e papel do país. Além das dívidas, a utilização de ferramentas sofisticadas de derivativos foi a causa de perdas para os investidores mais afoitos. Nesse contexto, para as empresas do hemisfério norte, que têm custos superiores, o valor de US$ 400 por tonelada não permite sobrevivência, por isso muitas anunciaram seu fechamento nos últimos meses. No final de 2008, o quadro era de uma parada brusca na produção de celulose. Existiam altos estoques e os custos de capital eram elevados. Nada mais natural do que observar um movimento representativo de contenção das saídas de caixa. Agora, o quadro volta a apresentar uma luz no fim do túnel. No mercado nacional, mesmo com a situação difícil no curto prazo, há boas perspectivas no médio prazo. Após a redução dos estoques dos consumidores de celulose, já se nota uma estabilização dos preços. Com o fechamento ou redução da produção, por parada estratégica ou por inviabilidade de produzir com custos aceitáveis, espera-se, também, um retorno lento do crescimento de preços. A China, por exemplo, apresenta agora um processo de estabilidade. No mercado de papel, mesmo com retração significativa de demanda, alguns segmentos tiveram um aumento de margem por redução de custo maior que a redução de preço, como é o caso de papéis de escrever e imprimir. Na área de embalagem, a redução de custo não foi suficiente para repor as margens e algumas fábricas tiveram que fechar as portas. Além disso, há oportunidades latentes de investimento, que possibilitam mais escala e poder de negociação, ante o mercado internacional, derivadas das vantagens competitivas locais. Não podemos deixar de mencionar que além da competitividade natural, o Brasil preparou-se com tecnologia e formação de pessoal. Nossos profissionais estão capacitados para projetar, instalar e operar as complexas plantas instaladas em âmbito mundial. Esta vantagem competitiva não é fácil de copiar. Não nos faltam também qualificação gerencial e boas e sólidas empresas no setor, tanto na produção de equipamentos, como na produção de papel e celulose, que podem e vão continuar a desenvolver-se. O horizonte que vemos pela frente não é mais de completa escuridão. Há tímidos sinais de reencontro com a estabilidade, mas é necessário agir com sabedoria, utilizando nossas vantagens competitivas, temperadas com prudência e espírito empreendedor. Foram esses aspectos que possibilitaram, ao Brasil, ter lugar de destaque no cenário mundial de papel e celulose.


Opiniões

mar-mai 09

Silvana Nobre

Diretora de Soluções da Savcor Forest

Respostas baseadas no conhecimento florestal sistematizado A silvicultura brasileira, reconhecida mundialmente por sua eficiência e desempenho, traçou seu caminho sobre os trilhos firmes do conhecimento. Ao longo das décadas, que já somam mais de um século, as gerações passaram o bastão para seus sucessores, orgulhosos dos ganhos alcançados. O conhecimento produzido e adquirido é, hoje, a fonte onde buscamos soluções para enfrentar a atual crise mundial. Esta crise mundial mostra a importância de investimentos, feitos com lastro em ativos físicos. Nesse sentido, as florestas plantadas passaram a ser consideradas uma alternativa segura de investimento. O setor florestal brasileiro ficou em evidência e a cobrança por transparência de informações aprofundou-se, pois os investidores, com o objetivo de calcular riscos, querem ver números precisos e bem fundamentados. É nesse contexto que os técnicos florestais buscam respostas para duas pressões aparentemente contraditórias, restrições de caixa hoje podem comprometer a oferta futura de produtos, com a devida qualidade e quantidade. Afinal, florestas são feitas no longo prazo. A resposta para essa tensão está, certamente, na atenção que deve ser dada ao conhecimento já adquirido e disponível nas organizações florestais do nosso país. O ciclo sinérgico da geração e uso do conhecimento evolui rapidamente no ambiente tecnológico nas últimas décadas. O setor florestal, liderado pelas indústrias de celulose e papel, investiu em tecnologia da informação e, por isso, temos hoje, pelo menos, 50% das nossas florestas plantadas, geridas por sistemas integrados, o que têm nos levado à sistematização do conhecimento adquirido e nos permitido passar por este momento de tensão com tranquilidade e segurança. Já existem tecnologia e conhecimento disponíveis no setor, que nos permitem: a. fazer planos de manejo otimizados de longo prazo, com restrições no curto prazo; b. calcular impactos da restrição de caixa hoje, no futuro das florestas, usando ferramentas de programação matemática; c. simular crescimento sujeito a restrições operacionais, com equações ajustados sobre a base de dados histórica de medições de inventário; d. calcular impactos de investimento; e. compreender nossos custos, correlacionandoos estatisticamente às informações edafoclimáticas, e f. calcular os impactos ambientais das operações silviculturais. Evolução da TI Florestal: A primeira publicação sobre uso da tecnologia da informação como ferramenta de apoio ao processo de gestão florestal ocorreu no início dos anos 80 e marcou o início do estabelecimento coletivo de conceitos brasileiros de gestão florestal baseada em informação. O primeiro “cadastro no computador” abriu caminho para uma série de conceitos e práticas de trabalho, que direcionam os profissionais florestais brasileiros na gestão das suas atividades.

Nos anos 80, quase 100% das indústrias de base florestal desenvolveram sistemas próprios de recepção de madeira na fábrica e adquiriam ferramentas estatísticas que atuavam sobre bases de arquivos texto isoladas, para apoiar o melhoramento genético e inventário. Nos anos 90, enquanto as fábricas investiam em grandes sistemas de gestão integrada, como o SAP e seus correlatos, os florestais aprenderam a trabalhar com SIG, coletores de dados, programação matemática, análises estatísticas sobre dados edafoclimáticos, apoiando o crescimento tecnológico da silvicultura. As empresas compraram equipamentos sofisticados, coletaram dados, mapearam a área, foram a fundo na automação dos viveiros, calcularam custos, desenvolveram a silvicultura de precisão. Nos anos 2000, caminhamos para o uso do sistema integrado, reunindo, em uma única plataforma, o SIG, a estatística, os bancos de dados, a mobilidade, a história e a matemática com banco de dados; estatística com SIG; móbile com dados históricos; programação matemática com banco de dados. Enfim, reunimos o que tínhamos em um só ambiente integrado. Muito além da tecnologia e dos dados, integramos nossos processos, desde o viveiro, até a entrega de madeira. Maturidade na gestão da informação florestal: A integração dos processos e das pessoas acontecem ao mesmo tempo, ambas viabilizadas pelo ambiente tecnológico de informação. Transpomos as barreiras geográficas e culturais existentes entre as distintas equipes florestais e já somos capazes de otimizar os processos de produção de mudas, plantio e colheita juntos, com base em parâmetros operacionais e pesquisa, com ganhos na casa dos milhões de reais, só pela sincronização dos processos. Hoje, fechamos o ciclo e quebramos as últimas barreiras que nos separavam da fábrica. Através da integração de dados do cadastro florestal, com dados do processo industrial, passamos a dominar ferramentas que nos permitem encontrar correlações reais entre as variáveis florestais e as variáveis do processo industrial. Assim, temos agora condições de calcular planos de mínimo impacto e de adaptação da floresta às tão almejadas necessidades industriais, uma merecida conquista dos nossos dedicados profissionais da engenharia florestal e da tecnologia da informação.

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Fornecedores

Opiniões

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Ubiratã Pinhel

Diretor da Tecma

Automatizando a criação

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O setor florestal é um dos mais organizados da agricultura brasileira. Investimentos vultosos, feitos por poucas empresas. Poucos decidindo sobre o destino de muitos. Os serviços manuais são substituídos por máquinas. Sou favorável. É inevitável! Em outros países aconteceu antes. Em 1987, na Suécia, vi uma das pessoas mais gabaritadas que conheço operando um forwarder. Antes, ele treinava operadores e mecânicos. Comprou a máquina já depreciada pela indústria. Dela tirava seu sustento. Perguntei espantado por que ele parava às 14h00? Resposta lógica. Cairia em outra faixa de imposto de renda e não compensaria trabalhar mais. Legislação impondo limites no serviço. Vi na área florestal pessoas analfabetas ganhando dinheiro como empreiteiros, ao lado de outras com grande conhecimento sem trabalho. Não subestimo competências. Recompensar a ignorância? Tem algo errado! Alguém está fazendo alguma coisa errada. Conduzindo mal. Ou será que ninguém está conduzindo? Conhecimento custa para a sociedade e precisa ser aproveitado com responsabilidade e inteligência. Recentemente, uma reportagem na BBC News anunciava um sistema que transmite por rádio os movimentos definidos pelo operador da primeira máquina, para uma frota sem ninguém no volante. Será a possibilidade de formação de enormes comboios de caminhões ou tratores preparando solo, por exemplo. Máquinas repetem, automatizam, mas não criam. Com tristeza, vi um município do estado de São Paulo, perdoem omitir o nome, transformar-se em um dos maiores pólos de desemprego do estado. Antes, agricultura exuberante, agora serviços de plantio e colheita de eucalipto totalmente mecanizados. Operações agrícolas semestrais passaram para operações florestais a cada sete anos. Movimento 14 vezes menor. Pense. Calcule o impacto social! Vi a pobre cidade do interior do Paraná, Telêmaco Borba, transformarse em pólo de tecnologia.

Exportação de trabalho agregado a produtos de eucalipto. Passou a ser uma das maiores arrecadadoras de ICMS do estado. Tudo isto em menos de 10 anos. Alguém arquitetou e fez isto. Atraiu e incentivou o trabalho, alavancado pelo mais importante deles: o empreendedorismo. Sinta o que pode ser feito para benefício de todos! Outras atividades da economia ensinam que leiloar não é a melhor forma de comprar. Já descobriram que manter fornecedores competindo entre si também não. Descobriram que a integração da cadeia produtiva (Fornecedor-Empresa-Cliente), possibilitando planejamento e racionalização no tempo é melhor. Premiar o conhecimento útil em benefício de todos estimula sua obtenção e aplicação. Uma usina do interior de São Paulo inovou, terceirizando toda atividade agrícola para seus exfuncionários mais graduados. Apoia o grupo com compra conjunta e outras atividades inteligentes. Em três anos, a cidade de Lençóis Paulista não é a mesma. Visível desenvolvimento. Ganhos inquestionáveis para a usina. Alguém arquitetou e fez isto. Existem três formas de comprar serviços: como empregado, autônomo ou empresa prestadora de serviços. Alguém sintetizou de forma brilhante. São colaboradores! Vejo esta ideia sair pela boca de pessoas importantes. Infelizmente, nem todas atêmse ao significado que inspira. Principalmente as que podem fazer algo pelo país. Não são cobrados por isto. São cobrados por resultados imediatos. Muitos pensam apenas em garantir seus empregos agora. É obvio que a empresa precisa de resultados. Mas, só isto? Onde tem uma fábrica, tem e terá uma comunidade. Fazendo o que? Como a empresa pensa em relação aos seus colaboradores do presente e do futuro? Que critérios usa para se relacionar com a comunidade da qual depende? Não inventaram uma forma de automatizar e substituir características humanas fundamentais: querer, sentir, pensar, aprender coisas novas, ou seja, criar! Também não mecanizaram o reconhecimento das necessidades humanas, formas de identificá-las, de transformá-las em desejos, enfim, de motivar. Floresta traz algo diferente de outras atividades: exige visão e planejamento de longo prazo. Formar uma pessoa demora mais do que uma árvore. Temos que deixar nosso feito para nossos descendentes. Errado querer colher tudo que plantamos. Até hoje diretores não souberam criar e gerir forças políticas. Quando faremos nossa jurisprudência florestal? Empresas têm dinheiro para formar lideranças que defendam os interesses da cadeia produtiva florestal. O retorno é garantido. Alguém se habilita?




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