Gestão da silvicultura brasileira - OpCP14

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CELULOSE, PAPEL Opiniões dez 08-fev 09 & FLORESTA

Opiniões sobre a gestão da silvicultura brasileira dez 2008-fev 2009

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Índice A gestão da silvicultura brasileira Edição especial da Expo Forest 2008, Curitiba

Editorial: 05, Luiz Ernesto George Barrichelo

Diretor Geral do IPEF

Silvicultura de Precisão: 26, Bernardo Francisco Duarte de Castro

Diretor Executivo da Arvus

28, Maria José Brito Zakia

Implantação e Reforma: 06, Cláudio M P Oriani e Domingos Raimundo Filho da Conpacel

08, José Luiz Gava

Consultor de Tecnologia Florestal da Suzano Papel e Celulose

10, Ana Paula Pulito e José Carlos Arthur Jr

Coordenação do PTSM do IPEF

12, Júlio César Lima Neves

Gerente Geral de Sustentabilidade da VCP

Professor de Fertilidade do Solo da Universidade Federal de Viçosa

30, Celso Trindade

14, Ulisses Maestri Gonçalves

Diretor da Geraes Qualidade e Meio Ambiente

32, Aristides Ribeiro

Professor de Meteorologia Florestal da Universidade Federal de Viçosa

34, José Henrique Ferreira

Diretor Comercial da Brisa Consulting

Proteção Florestal: 36, Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da Unesp-Botucatu

38, Guilherme de Andrade Lopes

Coordenador Técnico do PCCF do IPEF

40, Pedro Jacob Christoffoleti

Gerente de Marketing da Fertilizantes Heringer

16, Ronaldo André Soares

Desenvolvimento Operacional da VCP

17, Iraê Amaral Guerrini

Professor de Manejo de Solos da Unesp-Botucatu

18, Helton Damin da Silva Chefe Geral da Embrapa Florestas

Sustentabilidade: 20, Antonio Rioyei Higa e Luciana Duque Silva Professores da UF-PR

22, José Leonardo de M Gonçalves

Professor de Manejo de Plantas Daninhas da Esalq-USP

Chefe do Dpto de Ciências Florestais da Esalq-USP

41, Reginaldo Gonçalves Mafia

24, Ivone Satsuki Namikawa Fier

42, Ronaldo Viana Soares e Antonio Carlos Batista

25, Silvio Frosini de Barros Ferraz

Pesquisador da Aracruz Celulose

Professores da UF-Paraná

Coordenadora de P&D da Klabin

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

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Editorial A gestão da silvicultura brasileira Décadas atrás, o termo “Silvicultura” tinha um sentido amplo, englobando todos os aspectos, desde o estabelecimento, condução ou regeneração da floresta até sua utilização, através de bens diretos e indiretos. Com o passar do tempo, graças à evolução da ciência e da cultura, foram sendo desdobradas áreas anteriormente anexas e correlatas, resultando no que se constitui, hoje, as “Ciências Florestais”. Nessa nova dimensão, a silvicultura é colocada ao lado de outros ramos como ecologia florestal, melhoramento florestal, manejo florestal, controle integrado de pragas e doenças, exploração (ou colheita) florestal, só para citar alguns. Dessa forma, a silvicultura ficou reduzida ao “ato de implantar e conduzir os povoamentos florestais, atendendo às necessidades do mercado e respeitando os aspectos sociais e ambientais inerentes à atividade”. Porém, para efeito prático, a silvicultura ainda é classificada como de nativas e de exóticas, subtendendo-se para este segundo caso, as florestas implantadas e comerciais. A gestão da silvicultura de nativas, na atualidade, está intimamente ligada à iniciativa pública e não há registro algum de sucesso mensurável e duradouro alcançado, a despeito de todas as tentativas paternalistas do Governo Federal, na região amazônica. Nesse particular, o Brasil caminha na contramão da gestão de nativas nos países do Hemisfério Norte. Na Finlândia, por exemplo, a gestão é exclusiva de nativas (autóctenes como preferem denominar), cobrindo 76% da área do país, praticando a sonhada “silvicultura familiar”, com dois terços das florestas nas mãos de quase um milhão de proprietários privados. E tudo se resume em quatro coníferas e duas dezenas de folhosas usadas, estas últimas fundamentalmente como lenha. Em nosso país, por estarmos no “hemisfério errado” ou por sermos um dos mais ricos em biodiversidade, estamos na idade média da silvicultura de nativas. A única chance que tivemos foi desperdiçada com a exploração desordenada, inconseqüente e predatória do Pinheiro do Paraná - uma nativa emérita, no sul do país. Por outro lado, independente de explorações pontuais de florestas tropicais para abastecimento de indústrias locais, o reflorestamento com nativas de rápido crescimento tem sido tentado com relativo sucesso para um número restrito de espécies, com destaque para o paricá (Schizolobium amazonicum) na região amazônica, e, em especial, no sul do Pará. Outra espécie, o guanandi (Callophyllum brasiliensis), está sendo mais usada para um marketing através da internet. Todavia, há um novo alento nas recentes concessões florestais do Governo Federal para manejo sustentável na Floresta Nacional de Jamari, em Rondônia. É aguardar para ver. Além disso, na gestão da silvicultura de exóticas, o Brasil mostrou sua verdadeira vocação para “produzir florestas segundo suas necessidades”, inicialmente de forma irrespon-

sável e imediatista (misto de virtude e defeito do povo brasileiro) e, hoje, dentro dos mais modernos preceitos sociais e ambientais. Isso se deve a uma série de fatores que tem sido “cantada e decantada” em uma interminável seqüência de artigos, palestras, releases e assemelhados na mídia impressa e eletrônica no Brasil e no exterior. Os principais destaques - alguns ufanistas, destacam as privilegiadas condições edáficas (variedade e disponibilidade de solos adequados ao plantio de florestais, topografia, etc), climáticas (precipitação, temperatura, etc) insolação, disponibilidade de mão-de-obra, adaptabilidade e crescimento das espécies, entre outros. A nosso ver, na realidade, as duas principais são, de um lado, o amadurecimento das pesquisas no meio acadêmico e, de outro, a determinação do empresariado em investir em desenvolvimento tecnológico, reciclagem e capacitação de seus recursos humanos. A silvicultura de exóticas começou a dar seus primeiros passos decisivos na década de 60, com o surgimento das primeiras escolas de engenharia florestal. Nas décadas seguintes, a pesquisa e o desenvolvimento vieram em um crescente, colocando o Brasil em uma posição de destaque, principalmente nas culturas dos eucaliptos e dos pinus. Os trabalhos gerados nas universidades, institutos e centros de pesquisas, tanto básicas como aplicadas, permitiram visualizar um avanço constante em termos quantitativos e, importante na atualidade, qualitativos. Cada vez mais, necessita-se de matériasprimas para utilizações específicas ou multiusos, dependendo da necessidade ou oportunidade dos empreendimentos. A isso, aliem-se os investimentos feitos pelas próprias empresas nas suas pesquisas e a valorização do recurso humano, incentivado e apoiado para a formação em pós-graduação, tanto a nível de mestrado, como doutorado. Fato isolado no passado, nos dias atuais isso está se tornando corriqueiro nas grandes empresas que acreditam no diferencial que deve ser mantido na área florestal brasileira, quando comparada a de outros países emergentes. A integração entre os setores acadêmico e empresarial - também bastante cantada e decantada, talvez esteja mostrando o que, na disciplina de estruturas, é chamado "fadiga do material". No presente caso, teríamos "fadiga de significado": a integração é visualizada, muitas vezes, como simples aproximação entre as partes, uma troca de amabilidades ou uma prestação de serviços, uma assessoria... A necessária sobrevivência da ciência florestal talvez esteja dependendo de uma nova visão no relacionamento das forças-vivas, através da interação, uma efetiva e permanente simbiose entre universidades, institutos e empresas. Hoje, mais do que nunca, o processo deve ser dinâmico e reversível. Sobretudo, vivo. Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Geral do IPEF


Implantação e Reforma Cláudio Marcelo Pettinazzi Oriani e Domingos Raimundo Filho Chefe de Produção Florestal e Técnico de Conservação de Solos e Estradas da Conpacel, respectivamente A importância da conservação do solo na sustentabilidade florestal O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade. É um elemento físico de muita importância, nele se aplica grande capital e se desenvolve imenso esforço de trabalho técnico na busca constante da produtividade. É imperativo preservar e conservar a sua capacidade produtiva, evitando o desgaste pelo uso irresponsável e inadequado. Através do planejamento do uso do solo, utilizamos um sistema conservacionista dinâmico, que é aplicado e utilizado por todas as atividades operacionais, que vão desde o plantio do eucalipto até a sua colheita. Este sistema visa corrigir todos os processos erosivos potenciais, além de eliminar as voçorocas nas áreas comerciais, mantendo uma relação custo-benefício viável. Porém, quando estas estiverem dentro de Áreas de Preservação Permanente - APP ou Reserva Legal - RL, utilizam-se técnicas manuais, com o objetivo de preservar a paisagem local - gramíneas, banco de sementes, vegetação, etc, fator importante no processo de estabilização da voçoroca e garantia que este tenha uma sucessão natural e contínua.

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Na implantação de novos povoamentos florestais, temos nos deparado, na maioria dos casos, com propriedades degradadas, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente, sejam com manejo de pastagens ou agrícolas, onde não houve preocupação com a conservação do solo, que foram explorados no seu limite econômico e ambiental, causando um empobrecimento ainda maior, já que são de baixa fertilidade natural, tornando sua recuperação ainda mais difícil. Na reforma dos plantios florestais, temos realizado junção de talhões e mudança de layout e alinhamento, se necessário, visando à redução de carreadores, principalmente os problemáticos, com o objetivo de trazer a questão de conservação para dentro do talhão, onde estará protegido, além da redução dos custos de manutenção e riscos de potenciais erosões. Na colheita da madeira, é fundamental que o planejamento operacional seja realizado com antecedência de, pelo menos, um ano, período em que a estratégia de abastecimento fabril será elaborada, visando à garantia de suprimento de madeira, redução da compactação do solo,


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minimização dos danos às estradas com os estoques estratégicos, gerando o menor impacto ambiental possível. Temos a preocupação com as áreas adjacentes de nossos Parques Florestais, porque os recursos naturais estão além dos limites da fazenda e não podem ser divididos por cercas, tornando-se obrigatória a preocupação com as comunidades vizinhas. A recuperação de áreas degradadas tem trazido resultados surpreendentes, pois o eucalipto é a espécie ideal para selar e garantir sua recuperação, inserindo-a novamente no processo produtivo, visando restabelecer, de forma lenta, mas contínua, sua fertilidade. Por esta razão, realizamos diversos estudos através do monitoramento das voçorocas ativas, onde são avaliadas as técnicas utilizadas e a sua eficácia, no processo de estabilização de erosão. As informações geradas em cada Parque Floresta são primordiais para nortear o aprimoramento das práticas conservacionistas utilizadas. Temos que agir de forma preventiva, para evitar o surgimento de novos pro-

cessos erosivos, através do aprimoramento e desenvolvimento contínuo das técnicas conservacionistas, fator muito importante para se obter resultados eficazes, garantindo a preservação do solo e, conseqüentemente, melhor aproveitamento das águas das chuvas, dentro das microbacias, proporcionando, assim, maior recarga dos lençóis freáticos e assegurando a sustentabilidade do manejo florestal para as unidades de produção. Para o sucesso alcançado, foi necessário o envolvimento de toda a equipe florestal da empresa. O planejamento de curto, médio e longo prazos, das atividades operacionais e a ocupação da terra precisaram da participação e empenho de todos, para que alcançássemos a excelência na preservação do solo. Nosso objetivo é buscar e aperfeiçoar as atividades e as oportunidades de melhorias contínuas em todo o processo de produção florestal. “Produzir florestas de alta performance, em harmonia com o meio ambiente”, este é o nosso compromisso com o manejo florestal sustentável, aprovado pelas certificações ambientais e que se renova a cada 7 anos.

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Implantação e Reforma José Luiz Gava

Consultor de Tecnologia Florestal da Suzano Papel e Celulose Preparo do solo: não se pode errar Busca-se o potencial produtivo do solo, muitas vezes sem conhecer suas limitações. Nessa busca, as práticas de manejo do solo têm se mostrado importantes. Não obstante tenha sofrido uma mudança radical, firmandose como prática sustentável e de conservação, o preparo do solo na silvicultura enfrenta inúmeras dificuldades, principalmente decorrentes da evolução de outras práticas da silvicultura e da colheita, como a grande quantidade de resíduos deixados na área após a colheita e a presença de tocos remanescentes em áreas de terceiro ciclo. Manter o preparo do solo dentro do conceito de cultivo mínimo e garantir a qualidade da operação é um desafio que requer conhecimento sobre o próprio solo, os equipamentos e os processos. Novos critérios e soluções precisam ser estabelecidos, para que a qualidade do preparo seja garantida. A busca de soluções óbvias e fáceis não tem sido um caminho interessante, tampouco viável, e pode até representar perda de produtividade. Perspectivas existem, mas requerem novos conceitos ou a adequação de conceitos já consolidados. Há 20 anos, o cultivo mínimo desbancou o intensivo como técnica de manejo de resíduos e preparo de solo na silvicultura. Porém, conceitualmente, muito pouco mudou: o equipamento básico de preparo é o mesmo e o volume de solo preparado evoluiu pouco. Exceto em solos coesos, devido ao volume. Contudo, não temos certeza se é suficiente para aquela condição. Há certa unanimidade quanto ao atendimento às necessidades impostas. Planejamento é importante. Gestão tecnológica ainda mais. Não se pode errar em preparo do solo. É importante ter consciência da necessidade de análises prévias, que contemplem cultura antecessora, tipo de solo, capacidade de retenção de água, fertilidade, textura, estrutura, profundidade, camadas compactadas, resíduos presentes na área e os tocos. Parece óbvio, mas nem todo preparo é feito com base nessas análises. O simples fato de se utilizar a mesma tecnologia de preparo em Latossolos e Argissolos já evidencia o que foi dito.

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A regulagem do equipamento e sua capacidade de realizar as operações para as quais foi desenvolvido também são motivos de análise. Equipamentos para operações conjugadas - como o preparo do solo e a adubação, nem sempre são as melhores opções. A presença de resíduos limita a aplicação do adubo, embora possa não limitar o volume de solo mobilizado. A presença de tocos limita o volume de solo mobilizado e é um desastre para a aplicação do adubo. Melhor seria desvincular as operações e não insistir na busca de qualidade com as operações conjugadas. Em áreas de tocos, como outro exemplo de busca fácil da solução, é preciso fazer o preparo em cova - e é até possível mecanizar, mobilizando menor volume de solo. Porém, deve-se estar ciente de que a redução no volume mobilizado pode implicar em perda de produtividade. É fundamental que se tenha claro o que se pretende com a operação. Por exemplo, com operações conjugadas, que associam preparo de solo e adubação, pode-se agradar a um e descontentar a outro, ou a ambos. Conjugar operações pode aumentar o custo final. O conceito mais recentemente incorporado na prática de preparo de solo é o de precisão. Embora muito mais aplicado às atividades como adubação, controle de plantas daninhas e colheita, a perspectiva de aplicação na atividade de preparo do solo é boa. Pode-se monitorar e registrar a profundidade de preparo em toda a área. Sem dúvida, o conceito de precisão melhora o controle de qualidade das operações e dá maior clareza às decisões operacionais e técnicas, assim como norteia os programas de P&D. Porém, dentre todas as operações com reflexo direto na produtividade, o preparo de solo é a única que não pode ser refeita, sem que se tenha um custo altíssimo. Temos que evoluir no conceito do preparo do solo e buscar soluções que permitam acompanhar a evolução das outras atividades que lhe causam impactos, tal como a colheita. Temos que repensar as operações conjugadas, no sentido de termos claro se ela própria não é o maior limitante à obtenção da qualidade no preparo do solo. Equipamentos especializados podem ser mais eficientes e dar melhores resultados do que equipamentos generalistas. O conceito de precisão deve garantir a qualidade e não apenas o registro. Há que se buscar estabelecer níveis críticos para volume de solo mobilizado. Finalmente, melhorar o preparo de solo passa também por melhorar atividades que lhe estão associadas e que compõem a silvicultura e o manejo. Essas atividades não são vinculadas a grandes investimentos - máquinas e equipamentos, como na colheita. Comparese como se planta e como se colhe. A qualidade parece mais comum na colheita. Parece lógico pensar que investir mais em como se planta seja necessário para se ter mais qualidade que, nesse caso, significa mais produtividade.


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Implantação e Reforma Ana Paula Pulito e José Carlos Arthur Jr

Coordenadora e Vice-Coordenador Técnico do PTSM do IPEF Manejo de resíduos florestais

A silvicultura brasileira tem conseguido importantes avanços científicos e tecnológicos, refletindo crescentes níveis de produtividade, em ampliação das áreas de preservação permanente, em restauração e no uso de métodos de colheita florestal menos nocivos ao ambiente. A adoção do cultivo mínimo foi um dos avanços mais expressivos. O preparo do solo consistia no cultivo intensivo, baseado no amplo revolvimento das camadas superficiais, com incorporação total ou parcial dos resíduos culturais, e até a queima era comum. Nesse contexto, em 1995, criou-se o atual Programa Temático de Silvicultura e Manejo - PTSM. Esse é um dos vários programas temáticos do IPEF, cujo enfoque foi o de estabelecer práticas mais adequadas à realidade florestal. Dessa iniciativa, resultaram inúmeros avanços, como o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias para a consolidação do cultivo mínimo. Esse cultivo prevê a realização de um preparo localizado apenas na linha ou na cova de plantio. Neste método, a maior parte dos resíduos culturais é mantida sobre a superfície do solo. As principais vantagens são: a. manter ou melhorar as características físicas do solo; b. reduzir as perdas de nutrientes do ecossistema; c. manter ou elevar a atividade biológica do solo; d. manter ou elevar a fertilidade do solo; e. reduzir a infestação de plantas invasoras; f. reduzir as despesas de implantação e reforma de povoamentos florestais, e g. aumentar a eficiência operacional das atividades de campo. São considerados resíduos florestais todos os materiais orgânicos que sobram na floresta após a colheita. Podemos citar os resíduos lenhosos - sobras de madeira, com ou sem casca, os galhos grossos e finos, as folhas, os tocos, as raízes, a serapilheira e a casca. A geração de energia de biomassa vegetal deve ser vista com ressalva, pois a aparente energia barata renovável pode custar caro ao meio ambiente.

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A maioria dos solos ocorrentes nas regiões tropical e subtropical apresenta avançado estágio de intemperização, com teores de macro e micronutrientes, considerados baixos ou muito baixos, com grandes implicações sobre o potencial produtivo. Assim, o cultivo sucessivo por várias rotações de espécies florestais com grande capacidade de extração de nutrientes tem grande impacto sobre as pequenas reservas nutricionais dos solos, resultando em quedas de qualidade dos sítios. O equilíbrio entre entradas e saídas de nutrientes é estratégico para a manutenção da produtividade. Assim, é essencial que sejam repostos os nutrientes exportados em produtos florestais, por meio das fertilizações. Os resíduos vegetais podem causar alguns transtornos operacionais, como: o rendimento e a qualidade operacional do preparo de solo podem ficar aquém do almejado e o combate às formigas é dificultado, pois os resíduos camuflam seus ninhos. Para possibilitar ou agilizar o preparo de solo e outras atividades silviculturais, é necessário abaixar, afastar ou picar os montes de galhos, ponteiros e cascas dispostas sobre o solo, evitando o embuchamento. Esse efeito pode ser conseguido com o rolo-faca, o picador de resíduos ou o limpa-trilho. Pode-se também adotar o princípio de convivência com os resíduos, com o objetivo de economizar operações e de reduzir danos ao solo, utilizando-se hastes retráteis em subsoladores e discos cortantes. O rebaixamento dos tocos, após a colheita, pode ser feito com os chamados rala-toco ou em parceria com os trabalhadores locais, que fazem o rebaixamento com motosserra, em troca do toco remanescente para fazer carvão ou em outra atividade. Outra alternativa é treinar os operadores das colhedoras para fazer o corte mais próximo ao solo, apesar do desgaste das peças de corte, devido ao atrito com o solo. Uma nova trituradora de resíduos vem sendo testada e é capaz de fazer a trituração de resíduos na entrelinha de plantio e rebaixar os tocos. Testes de campo mostraram resultados muito satisfatórios. A trituração dos resíduos trouxe vários ganhos subseqüentes, entre eles o aumento do rendimento das operações - preparo de solo, plantio, irrigação, etc, e redução do índice de acidentes e afastamentos de funcionários. Apesar de se realizar mais uma atividade, os ganhos compensam, pois não se restringem apenas às atividades subseqüentes, outros são: aceleração da decomposição de resíduos lenhosos - devido à fragmentação, e o ganho de produtividade ao final do ciclo. Esse ganho de produtividade justifica-se pelo fato de que as atividades ganharam qualidade, ou seja, são realizadas com maior uniformidade. Analisando-se todo o contexto da produção de florestas, é fundamental manejar corretamente os resíduos em prol da sustentabilidade florestal e do desenvolvimento tecnológico.



Implantação e Reforma Júlio César Lima Neves

Professor de Fertilidade do Solo da Universidade Federal de Viçosa Monitoramento nutricional e recomendação de adubação

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A sustentabilidade da produção florestal, ou seja - "a manutenção da produtividade florestal, podendo haver acréscimo, ao longo de rotações ou de colheitas sucessivas" - é fundamental para a competitividade do setor. Esta sustentabilidade é função, nas regiões tropicais, com solos altamente intemperizados, principalmente, da existência e da manutenção de fluxos de água e nutrientes no solo em níveis adequados à satisfação das respectivas demandas pelas árvores. É bem sabido que os ganhos de produtividade em povoamentos florestais são dependentes de adequado manejo silvicultural, de modo a poder expressar o potencial do material genético utilizado.

A idéia subjacente à análise de nutrientes no tecido vegetal é a de que os teores de nutrientes na planta refletem os fluxos de nutrientes e, assim, fornecem idéia do suprimento efetivo do nutriente do solo para as plantas. Mas, qual órgão da planta deve ser analisado? Por sua vez, esse manejo compreende uma série de práticas ou de técnicas, que visam, direta ou indiretamente, aumentar a disponibilidade e/ou a eficiência de uso dos recursos água e nutrientes para as plantas, e, conseqüentemente, elevar e manter em níveis altos a produtividade das florestas, de modo a alcançar a capacidade produtiva do sítio florestal, primariamente determinada pelo clima e fisiografia do terreno. Nesse manejo, a aplicação de fertilizantes tem se mostrado a técnica mais efetiva para acelerar o crescimento e elevar a produtividade de florestas plantadas na região tropical úmida. A efetividade dessa técnica varia com uma série de fatores e de práticas adotadas no manejo silvicultural, podendo-se destacar: qualidade do sítio, material genético, tipo de preparo da área e do solo, competição com plantas invasoras, uso anterior do solo, aspectos relacionados à própria técnica de adubação, escolha de espaçamentos e desbastes. No Brasil, os maiores ganhos de produtividade em resposta à fertilização mineral ocorrem em áreas de implantação, para a aplicação de fertilizantes fosfatados, mas, com o aumento do número de rotações, a resposta a outros nutrientes tem se intensificado. A exportação de nutrientes pela colheita é alta nos povoamentos florestais de curta rotação, e, em

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geral, é baixa a reposição de nutrientes pela ação do intemperismo, tornando a suplementação nutricional, via aplicação de fertilizantes e corretivos, essencial para aumentar e manter a produtividade em altos níveis, mesmo em condições de disponibilidade hídrica elevada. Muito se avançou em termos de recomendação de adubação para povoamentos florestais, no Brasil. Por exemplo, para eucalipto, nas décadas de 60 e 70, com produtividades em torno de 20m³/ha/ano, apenas se adubava por ocasião do plantio, ocasião em que eram utilizadas nas fertilizações praticamente as mesmas quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio, em geral 100 a 150 g/planta de NPK 10-28-6 ou de fórmulas similares, independentemente das condições de solo e do material genético. Atualmente, com produtividades alcançando 60 m³/ha/ano, as quantidades de nutrientes usadas nas adubações podem ser determinadas por meio de modelo - também disponível para povoamentos de Pínus e de Teca, que realiza o balanço entre o suprimento de nutrientes pelo solo e a demanda de nutrientes pelas árvores. Além disso, essas quantidades de nutrientes são aplicadas não apenas por ocasião do plantio, havendo também fertilizações de manutenção, em cobertura, ao longo de parte do ciclo de crescimento da floresta. No modelo, o referido suprimento de nutrientes é obtido com base em resultados de análise de solo e no volume de solo explorado pelas raízes absorventes das árvores. Já a demanda de nutrientes é obtida em função da produtividade esperada e da eficiência nutricional do material genético. Por sua vez, essa produtividade pode ser estimada, inclusive, por meio de modelos baseados em eficiência de uso de radiação solar e água e de partição de carbono, ou seja, modelos baseados em processos, dotados, assim, de capacidade preditiva. A propósito, a utilização crescente de modelos na silvicultura brasileira insere-se em importante e salutar mudança de enfoque, qual seja, de constatação empírica, baseada em observação e medição de experimentos para previsão, sendo que muitas das informações obtidas nos experimentos já realizados são utilizadas visando à parametrização e calibração dos modelos. Uma vez seguidas as recomendações, realizadas as fertilizações de plantio e implantada a cultura, é importante, especialmente durante a fase inicial de crescimento, por exemplo, no primeiro ano, que os plantios sejam observados e avaliados periodicamente, o que se constitui em um inventário da qualidade da implantação do povoamento florestal. Nesse tipo de inventário, em uso cada vez mais freqüente nas empresas, é atribuída grande importância à nutrição, sendo as plantas avaliadas quan-


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to ao crescimento, em altura, e quanto à freqüência e severidade de sintomas de deficiência, e amostradas visando análise química da folha. São também avaliados fatores de natureza não nutricional, tais como competição por plantas invasoras, existência de condições de encharcamento de solo, dentre outras, que interferem no crescimento dos plantios. Afinal, a boa nutrição é condição necessária, mas não suficiente, à obtenção de altas produtividades, havendo, para tal, que se ajustar todos os fatores que interferem no processo produtivo. As informações obtidas desses inventários em plantios jovens são úteis, para que se proceda, se necessário, as correções de rumo, inclusive no que tange às fertilizações de manutenção, no sentido de melhor atingir a capacidade produtiva do sítio, realizando-se, assim, um “ajuste fino” no programa de fertilizações, de modo a otimizá-lo tanto do ponto de vista técnico, como econômico. A idéia subjacente à análise de nutrientes no tecido vegetal é a de que os teores de nutrientes na planta refletem os fluxos de nutrientes e, assim, fornecem idéia do suprimento efetivo do nutriente do solo para as plantas. Mas, qual órgão da planta deve ser analisado? Trabalhos de pesquisa têm concluído que, em plantios florestais jovens, os teores de nutrientes nas folhas correlacionam com o crescimento futuro do povoamento, enquanto que, em plantios adultos, os teores no lenho correlacionam melhor com o crescimento já obtido. Outra questão que se impõe é quanto ao grau de universalidade dos valores de referência utilizados para interpretação do estado nutricional das plantas. Como, em um mesmo sítio florestal, diferentes materiais genéticos podem apresentar distintas taxas de crescimento e eficiências nutricionais, há a necessidade de se dispor de valores de referência específicos para cada material genético ou grupo de materiais genéticos similares. Mas, as normas e os valores de referência - que consistem de teores e faixas de teores (de modo a que seja avaliado o balanço nutricional, ou seja, o grau de saciedade da fome da planta em cada um dos nutrientes) e relações ótimas entre nutrientes (para avaliar o equilíbrio nutricional, ou seja, a qualidade da dieta ) - variam não apenas com o material genético, mas, também, com o sítio, com a idade dos plantios, com a estação climática (seca ou chuvosa), e com o manejo dos recursos água e nutrientes. Logo, a utilização de valores de referência genéricos, que não contemplem esses efeitos, pode resultar em diagnósticos equivocados, com conseqüências negativas importantes no manejo nutricional, na produtividade e na economicidade das fertilizações, e prejuízos relevantes à sustentabilidade da produção florestal. A propósito, a utilização de valores de referência obtidos, na região do Vale do Rio Doce, MG, para plantios de eucalipto na idade de 2 anos, visando diagnosticar o estado nutricional de plantios com 1 ano, resultou em

51% de diagnósticos equivocados, em termos de médias de todos os macro e micronutrientes envolvidos na diagnose, ou de 79% de diagnósticos equivocados, quando foram considerados apenas os nutrientes limitantes por falta, sem dúvida, daqueles mais merecedores de atenção para fins de correção. Cabe ressaltar que os diferentes métodos tradicionalmente utilizados para interpretar os resultados das análises foliares, sejam aqueles que informam sobre o balanço ou o equilíbrio, realizam apenas a diagnose do estado nutricional da cultura, não fornecendo, explicitamente, informações quantitativas que permitam a correção dos problemas detectados, o que sempre foi objeto de crítica. Recentemente, nosso grupo de trabalho conseguiu estabelecer essa ligação quantitativa entre os resultados da diagnose foliar, considerando balanço e equilíbrio nutricional, e a recomendação de adubação, para otimizar a produtividade e o aproveitamento dos nutrientes pelas árvores, e minimizar perdas. Estes são aspectos de suma importância, especialmente nos dias atuais, dado o alto custo dos fertilizantes, já estando disponíveis sistemas para eucalipto - fase de viveiro e plantios jovens no campo, e para teca.

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Implantação e Reforma Ulisses Maestri Gonçalves

Gerente de Marketing da Fertilizantes Heringer Mercado de fertilizantes

O Economista Inglês Thomas Mauthus profetizou, no século XVII, que haveria uma época de fome generalizada por falta de alimentos, isto porque a população crescia de forma geométrica, enquanto as produções agrícolas cresciam de forma aritmética. As teorias de Mauthus não se concretizaram, mas não porque ele errou em suas previsões, mas porque as adaptações, mudanças e transformações que ocorreram nos anos seguintes nas técnicas de produção agrícola fizeram com que se produzisse muito mais nas mesmas extensões de terra. A superfície terrestre tem uma área de aproximadamente 51 bilhões de hectares, dos quais pelo menos 1 bilhão são cultivados para alimentar uma população de quase 6,6 bilhões de pessoas, e que, segundo especialistas, poderá chegar a 8 bilhões no ano de 2028. Diante de tal crescimento, não podemos, de forma nenhuma, abrir mão das tecnologias para produzir mais e melhor. O homem tem revolucionado com novas variedades, espaçamentos, defensivos agrícolas e, principalmente, na utilização de corretivos agrícolas e fertilizantes. No Brasil, por exemplo, isto fez com que o Cerrado, outrora considerado área sem utilidade agrícola, se transformasse num dos maiores pólos agrícolas do mundo. Na década de 70, tínhamos uma produtividade média de 1,2 tonelada por hectare e utilizávamos uma área de 37,3 milhões de hectares, para produzir 46,9 milhões de toneladas. A produção triplicou em 30 anos. A expectativa de produção para 2008/2009 é de quase 144 milhões de toneladas, um novo recorde segundo a Conab, com um crescimento de área utilizada não proporcional - 47,359 milhões, com uma produtividade de 3,0 toneladas por hectare, graças às novas tecnologias e, principalmente, à utilização de fertilizantes.

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O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás da China, Índia e Estados Unidos, com um consumo de 24,6 milhões de toneladas em 2007. O Brasil é fortemente dependente de importações de fertilizantes, tendo que importar aproximadamente 65% de seu consumo. Essa dependência do mercado externo faz com que sejamos tomadores e não formadores de preço, e, apesar de no período de 1995 a 2007 termos mais do que dobrado nosso consumo de fertilizantes, este ainda representa pouco mais de 6% do consumo mundial. O hemisfério Norte é o maior consumidor e produtor de fertilizantes e é de lá que o Brasil recebe grande parte de seu suprimento. Desta forma, estamos, e provavelmente estaremos durante muito tempo, sujeitos às suas oscilações de consumo e de produção, dependendo, diretamente, dos humores de seus mercados. Segundo a International Fertilizer Industry Association - IFA, o mercado de fertilizantes teve um consumo de 173,5 milhões de toneladas de nutrientes em 2007 e atingirá 193,1 milhões de toneladas em 2012, o que significa uma taxa de crescimento anual de 2,7%. Por outro lado, as previsões também indicam que o mundo estará preparado para atender a tal demanda. A corrida por produção de alimentos, a valorização das commodities, a alta dos custos de frete, energia e matéria-prima, associados a um grande consumo e à escassez de investimentos na indústria mundial de fertilizantes, intensificaram as altas que ocorreram nos dois últimos anos. Associar o crescimento populacional com a melhoria nas condições de vida, produzir alimentos e não deixar que as teorias de Mauthus confirmem-se é o desafio do futuro. Adaptar-se às novas realidades e fazer com que a agricultura seja economicamente viável são fundamentais para o futuro da humanidade, e o fertilizante é, sem dúvida, fator primordial no desafio de aumentar as produções e viabilizar a vida. Os acontecimentos recentes na economia mundial, mais uma vez, vão exigir de todos, esforços e adaptações e a certeza única de que tudo é mutável.



Implantação e Reforma Ronaldo André Soares

Responsável pela Área de Desenvolvimento Operacional da VCP A evolução da mecanização na silvicultura brasileira

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Considerando todos os investimentos feitos na área florestal pelo setor, pouco foi investido em tecnologia de silvicultura e manejo. A maior parte dos investimentos foi feita na mecanização da colheita, e na construção e aparelhamento de modernos laboratórios de melhoramento genético. A silvicultura no Brasil evoluiu a partir da agricultura; nas décadas de 60 e 70, eram utilizados métodos convencionais de preparo intensivo do solo em área total (aração, gradagem) e a limpeza do terreno era feita com a queima dos resíduos. A partir da década de 80, foi introduzido o uso da grade bedding, o primeiro passo rumo à melhoria da conservação do solo para o plantio de florestas. Com a chegada das primeiras fábricas de tratores ao Brasil e com os incentivos fiscais aos plantios florestais fornecidos pelo governo, teve início a mecanização da silvicultura, baseando-se na adaptação de máquinas agrícolas. Esta vem sendo a tônica da mecanização na área florestal, com a adaptação da tecnologia já existente no mercado agrícola. Embora o setor florestal brasileiro seja expressivo, gerando divisas equivalentes a 3,5 % do PIB nacional, o desenvolvimento de equipamentos para a silvicultura ainda não obteve o respaldo das principais empresas fabricantes de implementos. Dentro deste contexto, o desenvolvimento florestal é encabeçado pelas empresas florestais, em parceria com entusiastas locais, como pequenas metalúrgicas e oficinas. Salvo estas ações isoladas, pouca atenção é destinada ao mercado da silvicultura. Alguns fatores contribuíram para que a mecanização na silvicultura não evoluísse muito durante os últimos 30 anos. Algumas das causas que dificultaram o desenvolvimento foi a resistência a mudanças, vocação nacional voltada à produção de grãos, escassez de empresas especializadas em equipamentos florestais, falta de profissionais na área, falta de instituições educacionais com este propósito e a mentalidade de retorno dos investimentos em curto prazo. Esse último fato é facilmente verificado no valor investido em equipamentos para a implantação de florestas, que não ultrapassa 10% do valor investido na colheita, como mostra a figura em destaque. A maioria dos equipamentos que hoje são utilizados na área florestal é remanescente das operações realizadas no início da silvicultura no Brasil.

Novas Tecnologias: As novas tecnologias estão baseadas em sistemas que utilizam recursos avançados da eletrônica, como posicionamento global, controle e aquisição de dados, sensoriamento remoto, atuadores entre outros. Todo este arsenal para melhorar a gestão tem apontado ganhos na agricultura. Diversos trabalhos vêm sendo realizados na agricultura, com o intuito de otimizar a utilização dos insumos e maximizar a produtividade das lavouras. Muitos estão relacionados ao mapeamento da produtividade ou à infestação por plantas daninhas das lavouras, através da interpolação espacial das informações e a aplicação direcionada dos insumos. A tecnologia necessária para a realização destes trabalhos está disponível, com adaptações no setor florestal. Podem-se citar diversas iniciativas, incluindo controladores eletrônicos de pulverização, controladores para adubação com taxa variável e fixa, sensores de profundidade do solo, controle de formigas, direção assistida, entre outros. Contudo, a introdução destas tecnologias ainda tem acontecido de forma lenta. A mecanização florestal está dividida em duas áreas distintas: a colheita e a silvicultura. A primeira obteve uma revolução tecnológica e metodológica substancial nos últimos 30 anos, enquanto a segunda incorporou máquinas e implementos utilizados pela agricultura. Durante este período, houve um incessante empenho para melhorias e adaptações destes equipamentos, para uso nos plantios florestais. A tecnologia, desenvolvida rapidamente, foi disponibilizada e absorvida pelo setor agrícola, o que não aconteceu na área de implantação e manutenção de florestas. O mercado florestal vislumbra novos caminhos, em função dos favoráveis resultados obtidos por algumas empresas pelos investimentos realizados nestas novas tecnologias. As ferramentas destas novas tecnologias demonstraram uma infinita possibilidade de ganhos gerenciais, através do monitoramento das operações, equipamentos com melhor eficiência e racionalização do uso de insumos.


Opiniões

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Iraê Amaral Guerrini

Professor de Manejo de Solos com Resíduos da Unesp-Botucatu Uso de resíduos urbanos e industriais como fonte de nutrientes e condicionadores do solo Nas últimas décadas, a intensidade da degradação ambiental tem crescido de forma assustadora e tem sido alvo de preocupação por parte de pesquisadores e governos de todos os países, uma vez que a conseqüência direta desse processo é a degradação generalizada dos ecossistemas e o empobrecimento da população que deles depende. A inescrupulosidade de certas empresas - ou das pessoas que as dirigem, e do povo de uma forma geral, tem provocado grandes danos ao ambiente e à saúde pública. Isso não depende do grau de escolaridade, do poder aquisitivo e da raça das pessoas, mas do seu grau evolutivo. O ato de jogar uma lata de cerveja ou um papel de bala da janela de um carro é equivalente ao de despejar esgotos em um rio. A atitude é a mesma, embora as conseqüências sejam diferentes. Entretanto, como a evolução é a meta do universo, imagina-se que no futuro - espera-se, não muito distante, o Homem conscientize-se do seu fundamental papel na preservação ambiental e, consequentemente, na construção de um mundo melhor. A produção de resíduos urbanos é cada vez maior no Brasil. Cerca de 52,2% dos municípios têm esgotamento sanitário, sendo que 32% têm serviço de coleta e apenas 20,2% do esgoto doméstico é coletado e tratado. Com a tendência de crescimento nesses números, devido à conscientização do povo e conseqüente pressão sobre o governo, certamente haverá, cada vez mais, uma sobra em águas residuárias e lodo - biossólido. A produção de lixo doméstico por pessoa é, em média, cerca de 1 kg de lixo por dia - varia de 0,8 a 1,2 kg/dia, em função do tamanho do município, sendo que 70% desse material é levado aos aterros sanitários ou lixões, os quais, nos grandes centros, já estão no limite de suas capacidades de recepção. Portanto, deve-se procurar alternativas que utilizem esses resíduos de forma ambientalmente correta e, se possível, com baixo custo. Quanto aos resíduos industriais, a produção também é crescente. Por exemplo, em fábricas de papel e celulose produz-se cerca de 151 kg de resíduo sólido por tonelada de celulose, sendo, em média, composto por 24% de cascas, 22% de lama de cal, 17% de lodo de tratamento de efluente, 14% de dregs e grits e 11% de cinzas. Em siderurgias, produz-se cerca de 250 kg de escória por tonelada de ferro-gusa. Também nesses casos, há a necessidade de se procurar melhores formas de utilização, do que simplesmente seu descarte em aterros industriais. A utilização dos diversos resíduos urbanos e industriais com finalidades agrícolas e florestais torna-se uma das melhores formas de aproveitamento desses materiais, uma vez que por possuírem elementos nutrientes, podem servir como fertilizantes químicos e/ou orgânicos, além de também serem usados co-

mo condicionadores de solo, melhorando suas características físicas. Existem diversas pesquisas que comprovam esses fatos. Entretanto, também podem conter patógenos e elementos - metais pesados, sódio, etc, que, em quantidades excessivas, podem se tornar prejudiciais ao desenvolvimento das plantas e/ou ao ambiente e, portanto, necessitam de monitoramento após sua aplicação. Apesar de existir a possibilidade desses efeitos negativos, a utilização desses resíduos em áreas agrícolas e florestais é fundamental para a redução da poluição ambiental, assim como para a redução de gastos com fertilizantes químicos, bastando, para isso, o uso de forma adequada e monitorada. Os plantios florestais são mais adequados para a recepção desses materiais em relação às áreas agrícolas, uma vez que seus produtos não são comestíveis, têm menor contato humano, apresentam serapilheira - maior infiltração e retenção de nutrientes, e ciclo mais longo das culturas, com maior intervalo de aplicação e maior eficiência de absorção de nutrientes. Portanto, em tempos de aumento da consciência ambiental da humanidade, o uso dos resíduos industriais e urbanos como fertilizantes orgânico/minerais, especialmente em plantios florestais, traz muitos benefícios, não só ao ambiente, mas também às empresas, à população e ao planeta. As empresas que reciclam seus resíduos e os utilizam de forma adequada já estão obtendo vantagens econômicas e facilidades na comercialização de seus produtos, especialmente a nível internacional. Não se admitem mais o descarte aleatório e a contaminação ambiental proporcionados pela imprudência de certas pessoas e empresas. Se não estamos contentes com o que vemos hoje e queremos melhorar o futuro, precisamos mudar agora. É só dar o primeiro passo, que os outros virão como conseqüência.

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Implantação e Reforma Helton Damin da Silva

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Espécies de Eucalyptus tolerantes à geada

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O Brasil é um dos principais detentores de tecnologia para formação de plantações florestais de rápido crescimento, principalmente de eucaliptos. O uso intensivo da madeira como fonte renovável para produção de energia para fins domésticos e industriais transformou o eucalipto em uma das principais fontes fornecedoras de matéria-prima para essa finalidade, a despeito da enorme diversidade de condições de solo e clima encontradas no país. No entanto, em parte da região Sul, sujeita a invernos rigorosos, com freqüente formação de geada, o plantio de espécies de eucalipto, tradicionalmente estudadas e utilizadas no país, não resulta em produções econômicas. Diante deste fato, a Embrapa Florestas tem dedicado esforços para identificar germoplasmas tolerantes à geada, de sorte que desde a década de 1980 vem estudando o comportamento de algumas espécies, frente às restrições impostas pelas baixas temperaturas. Neste período, pelo menos duas espécies têm demonstrado potencial, Eucalyptus benthamii e Eucalyptus dunnii. O E. dunnii tem sido indicado para plantios em solos profundos e de boa fertilidade natural, situados até altitudes de 800m, devendo-se evitar terrenos localizados na parte baixa de encostas íngremes, devido à acumulação de ar frio. Nessas condições, tolera temperaturas negativas entre -3°C e -5°C, suportando até 22 geadas anuais. Apresenta bom crescimento e produtividade de até 50 m³/ha/ano. O E. benthamii, por sua vez, tem sido indicado para plantio nas mesmas situações indicadas para E. dunnii, porém, tem demonstrado potencial de crescimento em altitudes mais elevadas. Já se constatou, por exemplo, crescimento satisfatório em locais situados em altitudes superiores a 1.300 m. Nessas condições, tem tolerado temperaturas negativas, com formação de geadas, de até -6°C e -7°C, podendo chegar até a -10°C. Observou-se que plantas têm suportado geadas, mesmo na fase de mudas, com menos de 30 dias após o plantio, desde que tenha ocorrido abaixamento gradual de temperatura. A produtividade tem superado a de E. dunnii em solos férteis e profundos. Na região de Guarapuava, PR, esta espécie tem demonstrado excelente adaptação, com produtivi-

dades entre 45 e 50 m³/ha/ano, alta sobrevivência e boa capacidade de rebrota. O conhecimento acumulado pela Embrapa Florestas nas áreas de melhoramento e silvicultura é decorrente de estudos que remontam quase 30 anos. Para E. dunnii, inicialmente foram avaliadas procedências, sendo posteriormente selecionadas matrizes e implantados testes de progênies de segunda geração, proporcionando a formação de unidades produtoras de sementes melhoradas em diversos locais. Para E. benthamii, espécie sob risco de extinção no território australiano e, por isso, altamente protegida nos dias atuais, em um primeiro momento trabalhou-se com população em bulk, possibilitando a formação de áreas de coleta e de produção de sementes. Mais recentemente, efetuou-se importação de sementes individualizadas por matriz, para estabelecimento de testes de progênies. Um dos módulos experimentais foi implantado em área de ocorrência de geadas severas no estado do Paraná. Atualmente, se encontra com pouco menos de dois anos de idade e não se detectou qualquer evidência de morte de plantas, provocada diretamente pelo frio. O ótimo desempenho obtido em plantios florestais com estas espécies insere a região Sul do Brasil como potencial produtora de madeira para fabricação de energia renovável, principalmente na forma de lenha e carvão. Insere também a possibilidade de negócios no mercado de carbono; viabilizam pequenos e médios empreendimentos dependentes da atividade florestal, como viveiros e empreiteiras; promove a inclusão social pela perspectiva de geração de empregos e renda nas pequenas propriedades rurais; favorece modelos agrícolas que preconizam a integração lavoura, pecuária e componente florestal, além de promover diminuição significativa da pressão sobre a vegetação nativa, em função do aumento da disponibilidade de matéria-prima. A Embrapa Florestas vem intensificando os estudos com essas duas espécies, para viabilizar o uso em larga escala também para fins de produção de celulose, laminados, madeira roliça e para serraria, com boas perspectivas.


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Sustentabilidade Antonio Rioyei Higa e Luciana Duque Silva Professores de Engenharia Florestal da UF-PR

Perspectivas do melhoramento genético de pinus e eucalipto Mais de 90% das plantações florestais existentes atualmente no Brasil são constituídas de espécies dos gêneros Eucalyptus e Pinus. Estes dois gêneros são preferidos em função do rápido crescimento e qualidade da madeira adequada para diferentes finalidades industriais, o que significa a existência de um mercado que garante maior rentabilidade ao produtor de madeira. A otimização da rentabilidade, no entanto, só é conseguida onde são usados sistemas de produção que combinam o plantio de mudas originadas de sementes ou clones geneticamente selecionados com a aplicação de técnicas silviculturais adequadas às diferentes condições de clima e solo das áreas de plantio. Estes assuntos são focados pelo melhorista florestal, que baseia seu trabalho na fórmula conhecida por todos: Fenótipo (F) que pode ser produtividade ou qualidade da madeira = genótipo (G) + ambiente (A) + interação genótipo x ambiente (GA), ou seja, o melhoramento florestal visa não só o melhoramento do material genético, mas também o melhoramento do ambiente de produção e o aproveitamento da melhor combinação entre o material genético e o ambiente de produção. No Brasil, o melhoramento florestal teve seu auge de desenvolvimento nas décadas de 1970 e 1980, para atender ao Programa de Incentivos Fiscais para Reflorestamento, que demandava sementes melhoradas geneticamente para estabelecimentos de plantações de pínus e eucaliptos e para atender à demanda de genótipos selecionados para estabelecimentos de

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florestas clonais de eucaliptos. Como resultado do uso de material genético melhorado e técnicas silviculturais adequadas, as plantações de pínus duplicaram e as plantações de eucaliptos triplicaram suas produtividades. Analisando os aspectos relacionados apenas ao melhoramento genético nesses últimos 40 anos, período onde se observou a consolidação de um setor florestal baseado em plantações de espécies de rápido crescimento no Brasil, observa-se uma significativa diferença entre as estratégias adotadas pelos silvicultores em relação aos pínus e eucaliptos. Atualmente, as plantações mais produtivas de pínus estão sendo estabelecidas em talhões mono-família, com mudas produzidas a partir de sementes colhidas de clones individuais em pomares de gerações avançadas ou sementes de polinização controlada. Mudas clonadas obtidas por embriogênese somática estão sendo testadas no campo, mas ainda não são usadas comercialmente. Assim, no caso dos pínus, já existe disponibilidade no mercado de sementes de Pomares Clonais de Sementes - PCS, de gerações avançadas de algumas espécies. Estima-se que a área instalada de PCS de P. taeda, por exemplo, seja superior a 200 hectares, o que possibilitaria uma oferta anual superior a 6.000 kg de sementes. Esta quantidade seria suficiente para atender a um plantio de 100.000 ha/ano com a espécie, área muitas vezes maior que o observado nesses últimos anos. O que pode significar essa superoferta de sementes de P. taeda no mercado brasileiro? Uma primeira resposta poderia ser a não necessidade em se preocupar em desenvolver novos programas de melhoramento genético para a espécie. Seria só buscar as sementes no mercado. No entanto, essa resposta seria aceitável se: a. As sementes disponíveis no mercado fossem produzidas em pomares clonais estabelecidos com matrizes selecionadas na mesma região bioclimática da área do futuro plantio. Experiências recentes mostraram que árvores originadas de sementes de gerações avançadas de seleção, produzidas em pomares clonais em locais distintos, tiveram piores performances que plantas originadas de sementes produzidas localmente de gerações menos avançadas; b. Os produtores de mudas tiverem acesso aos resultados dos testes de progênies estabelecidos em áreas semelhantes ou próximas às áreas dos futuros plantios; c. Os produtores de sementes de pomares clonais disponibilizarem lotes de sementes separadas das famílias de interesse do pro-


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dutor de mudas, e d. A finalidade da madeira considerada na seleção adotada pelo produtor de sementes seja semelhante à finalidade do plantio a ser estabelecido. Por exemplo, os critérios de seleção adotados por um melhorista interessado na produção de celulose e papel podem ser diferentes dos critérios de seleção de um plantador de pínus interessado em produzir madeira para serraria. Quando essas premissas não são atendidas, os produtores de madeira interessados em obter a máxima rentabilidade em plantações de pínus devem optar por produzir suas próprias sementes, que atendam a seus próprios objetivos e que sejam adequadas para seus locais de plantios. Em contraste, a maioria das plantações de eucaliptos das empresas florestais foi estabelecida com mudas clonadas de poucos genótipos selecionados, principalmente do híbrido urograndis, obtido pelo cruzamento de E. urophylla e E. grandis. Assim, uma das preocupações atuais dos melhoristas florestais é gerar e selecionar novos híbridos, para diminuir os riscos potenciais causados pela pequena base genética do material plantado, que pode não ter variabilidade genética suficiente para evitar grandes perdas, causadas por eventuais doenças ou inadaptações às mudanças climáticas globais, por exemplo. Híbridos gerados por polinização controlada, seguindo estratégias de melhoramento genético definidas por melhoristas, envolvendo E. grandis, E. urophylla, E. camaldulensis, E. dunnii, E. benthamii, E. viminalis e E. globulus estão apresentando resultados altamente positivos em relação ao crescimento, resistência à seca, resistência às geadas e qualidade da madeira. Sem dúvida nenhuma, esses novos clones serão responsáveis por uma nova etapa da eucaliptocultura. Os comentários sobre a produção de sementes própria de pínus também se aplicam quando se analisa a necessidade de desenvolver híbridos próprios de eucaliptos. Além disso, só existe disponibilidade de alguns clones de eucaliptos, cujas mudas estão sendo comercializadas atualmente no mercado. Os novos clones deverão ser protegidos e, portanto, devem ter acesso limitado. A nova legislação de sementes e mudas deverá dificultar a multiplicação dos novos clones, pois o produtor de mudas deverá comprovar a origem dos mesmos ou ter a autorização documentada do detentor dos direitos, se o clone for protegido pela legislação de proteção de cultivares. Deve ser salientado, ainda, que a maximização da produtividade, tanto dos plantios originados de sementes, como das florestas clonais, não é conseguida apenas com o uso de sementes melhoradas ou clones selecionados geneticamente, mas também pela melhoria de todo o sistema de produção, envolvendo, assim, uma silvicultura de precisão. Silvicultura de precisão significa a aplicação de um conjunto de técnicas silviculturais, que incluem,

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O Brasil está a caminho e deverá ser o principal produtor mundial de fibras originadas de plantações florestais, aproveitando as áreas degradadas já existentes, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte.

entre outras coisas: a. Classificação dos talhões onde serão estabelecidos os plantios em “unidades de manejo”, com base no conhecimento do solo e microclima; b. Plantio de talhões monofamília em cada unidade de manejo, com sementes de famílias selecionadas com base em testes de progênies, ou plantio clonais com clones selecionados em testes clonais, e c. Preparo do solo, adubação, tratos silviculturais e idade de corte, de acordo com a qualidade de sítio e capacidade produtiva de cada clone, em cada unidade de manejo. Apesar dos resultados já alcançados nesses últimos 20 anos, usando diferentes estratégias de melhoramento genético para as espécies destes dois gêneros e das possibilidades de se melhorar ainda mais o material genético, através do melhoramento clássico baseado na hibridação interespecífica, o setor florestal, como um todo, está buscando integrar novas tecnologias genômicas para: a. Desenvolver novos métodos de Seleção Assistida por Marcadores Moleculares - SAM, como o Genome Wide Selection - GWS, para caracteres adaptativos (resistência ao déficit hídrico, geadas, pragas e doenças; eficiência no uso de nutrientes e água; adaptação às mudanças climáticas globais, etc) e para características de qualidade da madeira (teor de lignina, rendimento de celulose, densidade básica, ângulo micro-fibrilar, proporção de madeira juvenil/adulta, rendimento de madeira sólida livre de nós, etc), e b. Gerar material genético mais produtivo, com melhor qualidade da madeira e resistente a fatores bióticos e abióticos, através da transgenia. Sem dúvida nenhuma, o Brasil está a caminho e deverá ser o principal produtor mundial de fibras originadas de plantações florestais, aproveitando as áreas degradadas já existentes, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. No entanto, esse desafio só será vencido se houver investimentos adequados em pesquisas em melhoramento florestal, visando desenvolver material genético e técnicas silviculturais adequadas, para o estabelecimento dessas novas plantações florestais.

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Sustentabilidade José Leonardo de Moraes Gonçalves

Chefe do Departamento de Ciências Florestais da Esalq-USP Diretrizes e ações em prol de uma silvicultura sustentável

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Um dos marcos do desenvolvimento do século XX, claramente expresso na Agenda 21, foi o reconhecimento da importância da biodiversidade e do valor da qualidade ambiental como componentes da qualidade de vida humana. Uma vez reconhecido que o modelo de silvicultura pode comprometer esses valores e colocar em risco a própria conservação dos recursos naturais, torna-se necessária a adoção de novos paradigmas, que levem em conta parâmetros ecológicos, em busca da garantia de continuidade e sustentabilidade da atividade silvicultural no futuro e para as próximas gerações. Essa concepção tem como princípio básico que a colheita não pode exceder à capacidade produtiva do sítio, sendo a floresta considerada como uma unidade individual de manejo. A silvicultura provoca modificações na estrutura e na organização do ecossistema, que podem levar à ruptura, desvios e alterações dos ciclos hidrológicos, de nutrientes e das interações entre os organismos, que lhe eram característicos. Três grupos de fatores são essenciais à estabilidade do potencial produtivo da floresta e das funções básicas do ecossistema em uma bacia hidrográfica, em longo prazo: a. manutenção da regularidade dos processos hídricos - infiltração, regime de vazão e qualidade da água; b. manutenção do estoque de nutrientes, por meio da ciclagem de nutrientes e do equilíbrio entre entradas e saídas de nutrientes, e c. manutenção das interações interespecíficas entre os organismos - flora e fauna, macro e microorganismos, por meio da biodiversidade, que cumprem funções, tais como, dispersão de sementes, polinização, predação, competição, mutualismo, simbiose e herbivoria. O solo e a água constituem os mais importantes recursos biofísicos para o manejo sustentável das plantações florestais. A manutenção de sua qualidade ao longo das sucessivas rotações é um componente chave da sustentabilidade. Um aspecto importante da dinâmica de nutrientes em microbacias é a quantificação dos impactos da produção florestal sobre a ciclagem geoquímica de nutrientes, levando em conta o capital de nutrientes do solo, as entradas naturais e artificiais e as saídas naturais e as resultantes da exportação, via colheita. O balanço entre essas entradas e saídas constitui um dos indicadores mais importantes da sustentabilidade. Geralmente, a colheita de produtos florestais representa a principal saí-

da de nutriente do ecossistema, mas é uma atividade inevitável e a razão da própria silvicultura. Nas plantações florestais são toleráveis determinados desbalanços nutricionais temporários, mas, ao longo do ciclo silvicultural, deve ser mantido um equilíbrio dinâmico entre as entradas e as saídas de nutrientes do sítio. O conjunto de diretrizes e ações em prol da silvicultura sustentável deve ter como objetivos fundamentais: a. instaurar um processo de progressiva restauração da biodiversidade; b. melhorar as condições de desenvolvimento vegetal, e c. reduzir a exposição do solo às intempéries climáticas. Assim, as condições estruturais e funcionais da bacia hidrográfica são mais eficazes, contribuindo para a preservação e restauração de processos ecológicos essenciais à estabilidade do potencial produtivo da floresta e das funções básicas do ecossistema na bacia hidrográfica, em longo prazo. As principais práticas conservacionistas, que predispõem à produção sustentável, são: 1. o planejamento adequado do uso da terra, por meio da concepção de ações sistêmicas na bacia hidrográfica; 2. a locação adequada da rede viária, respeitando a fisiografia do terreno e a rede de drenagem da bacia hidrográfica; 3. a conservação ou o aumento da diversidade biológica dentro da bacia hidrográfica, por meio da conservação ou da restauração florestal das APPs e RLs, com espécies nativas; 4. o uso de materiais genéticos adaptados às condições climáticas e edáficas do sítio; 5. o cultivo mínimo, ou seja, o preparo de solo restrito às linhas ou covas de plantio, mantendo os resíduos culturais sobre o terreno; 6. a adequação do espaçamento de plantio, que equilibra a competição entre plantas por fatores de crescimento e determina o ritmo e a regularidade de recobrimento vegetal do terreno; 7. a manutenção e a restauração sistemática da fertilidade do solo, por meio da reposição de nutrientes, via adubação mineral e/ou orgânica; 8. o uso de sistemas de colheita florestal de impacto restrito sobre o solo, que prevejam a redução da exportação de nutrientes e o manejo adequado de equipamentos florestais, e 9. o manejo integrado de pragas e doenças, com objetivo de racionalizar o uso de agrotóxicos e, conseqüentemente, reduzir o risco de contaminação. É fundamental que as diretrizes e as ações técnico-científicas de manejo florestal presumam garantias contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Ou seja, devem aplicar o Princípio da Precaução, segundo o qual a ausência da certeza científica formal e/ ou a existência de um risco de dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever esse dano. É melhor prevenir do que remediar. É dentro desse escopo que se apresenta o estabelecimento de uma política ambiental preventiva para a silvicultura, baseada em diretrizes e ações conservacionistas, que prevejam a produção sustentável de produtos florestais e de serviços ambientais.



Sustentabilidade Ivone Satsuki Namikawa Fier

Coordenadora de P&D, Qualidade e Ambiência Florestal da Klabin Florestas de hoje e para o futuro

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É especialmente oportuno aprofundar os temas da silvicultura no Brasil neste momento. O Brasil possui a maior base de florestas plantadas do mundo, é o país que mais cresce em florestas e é, portanto, peça-chave da resposta que o mundo dará ao desafio da sustentabilidade a partir das atividades florestais. A Klabin acaba de dar mais um eloqüente sinal da maturidade que o setor conquistou no país: suas florestas no Paraná completaram 10 anos certificadas pelo FSC - Conselho de Manejo Florestal. Por mais cinco anos, a chancela do FSC permitirá o avanço das diversas atividades florestais da Klabin, que exemplificam o conceito de uso múltiplo e sustentável dos recursos naturais. O uso múltiplo da floresta e o manejo da paisagem são os conceitos direcionadores das nossas atividades florestais e responsáveis diretos pelo êxito da empresa. É uma conquista que remonta à década de 60, quando foram trazidos da Europa pesquisadores que desenharam a paisagem da Fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba: ali surgiram as florestas plantadas entremeadas por vastas áreas de matas nativas preservadas, formando o modelo de mosaico, que se tornou a marca da Klabin. Essa trama florestal - única no mundo, permite a proteção de corredores de biodiversidade, favorecendo a existência de uma rica fauna em seu habitat natural. Um dado exemplar traduz a eficiência do modelo: para cada 100 hectares de florestas plantadas que possui, a Klabin preserva 83 hectares de matas nativas. Nesse impressionante manancial, a Klabin atua para monitorar a biodiversidade, por meio de parcerias com universidades, reintroduzindo espécies e aumentando sua população. Os resultados são expressivos: 629 espécies da fauna podem ser encontradas nas florestas da Klabin no Paraná, sendo 75 ameaçadas de extinção. No seu Criadouro Científico, são realizadas pesquisas acadêmicas, ações de reprodução de espécies de ocorrência regional e projetos de educação ambiental, a exemplo do Programa Caiubi, que atinge 2 mil educadores e 150 mil crianças no estado. Água e solo também constituem objeto de atividades importantes da Klabin. O fluxo hídrico e a qualidade da água são monitorados e regulados e há um permanente esforço para a redução do uso, reutilização da água e não contaminação de água de fontes, nascentes, córregos e lençóis freáticos. Nos cuidados com o solo, investimos nos mais modernos equipamentos de colheita disponíveis no mundo, que reduzem o impacto sobre o solo e permitem o reaproveitamento dos resíduos florestais. Cascas, galhos e copas são transformados em biomassa, usada como insumo para geração de energia limpa. Além disso, florestas planta-

das bem conduzidas são recursos naturais renováveis que absorvem do meio ambiente os gases causadores do efeito estufa. Também fomentamos a pesquisa científica e a multiplicação do conhecimento, em parceria com importantes centros acadêmicos. Desse esforço, resulta a descoberta de novas espécies, dados que são aplicados nas ações de conservação dos ecossistemas e na publicação de livros científicos. O segundo conceito direcionador das atividades de silvicultura da Klabin é o uso múltiplo das florestas, capaz de garantir benefícios sociais e ambientais, a partir da correta geração de produtos madeireiros e não-madeireiros. De nossas florestas, saem, por exemplo, as toras que abastecem o Pólo Madeireiro de Telêmaco Borba, que conta com 30 indústrias e gera mais de 3 mil empregos. Em Santa Catarina, contribuimos com a indústria de base florestal, que tem 265 empresas e gera benefícios diretos a 35 mil pessoas. Nosso Programa de Fomento Florestal abrange mais de 82 mil ha no PR, SC e SP, fazendo com que 16 mil produtores rurais, em 76 cidades, tenham uma alternativa de renda, com a plantação de árvores de pínus ou eucalipto. Da mesma forma, o Programa Matas Legais, desenvolvido em parceria com a ONG Apremavi, estimula o planejamento da propriedade rural, com a diversificação de atividades produtivas e o cumprimento da legislação ambiental. No setor de produtos não-madeireiros, a Klabin mantém o Programa de Fitoterapia, desenvolvido em Telêmaco Borba, o primeiro do mundo certificado pelo FSC. O programa resultou na criação de 50 produtos intermediários, derivados de 60 espécies, e o Programa de Apicultura, que em 2007 colheu mais de 6 mil toneladas de mel. Essas iniciativas, ações e seus resultados contam capítulos dos mais importantes dos 109 anos de história da Klabin, das atividades florestais no mundo e seguem como um impulso constante de evolução em direção ao futuro.


Opiniões

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Silvio Frosini de Barros Ferraz

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP Manejo sustentável da microbacia O conceito “manejo sustentável da microbacia” tem bases teóricas bem definidas e é bastante aceito no setor florestal brasileiro, especialmente no ramo de produção de papel e celulose a partir de plantios homogêneos. No entanto, existe uma dificuldade na implementação desse conceito na prática, o que nos leva a refletir um pouco sobre o tema. O manejo de florestas evoluiu muito nos últimos 30 anos, em produtividade florestal e na adoção de técnicas de baixo impacto ambiental. Ainda assim, o aumento das exigências ambientais e a perspectiva de aumento da área plantada têm levado a uma busca pelo tão sonhado manejo sustentável de plantios florestais. Sob o ponto de vista ambiental, a sustentabilidade do manejo florestal exige, além do aumento da produtividade florestal, a preservação dos processos ecológicos mínimos, que garantam a integridade do ecossistema, envolvendo a retenção da biodiversidade local, a ciclagem de nutrientes e o equilíbrio hidrológico da microbacia. É consenso que a unidade ecossistêmica de planejamento deva ser a microbacia, e com base nessa tese o Promab/Ipef - Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias do Instituto de Pesquisas Florestais, tem monitorado microbacias em várias regiões do Brasil, com o objetivo de desenvolver indicadores hidrológicos que dêem suporte ao manejo sustentável da floresta. Dessas pesquisas, já se conhecem os principais efeitos do manejo florestal sobre a geração e regime de fluxo e química da água, além do desenvolvimento de indicadores hidrológicos do manejo florestal. Apesar da existência de uma base conceitual para o manejo florestal sustentável, da evidência dos efeitos do manejo e do desenvolvimento de bons indicadores, o passo seguinte ainda precisa ser dado, o qual consiste no planejamento e no estabelecimento de um sistema de manejo florestal baseado na microbacia, que garanta a integridade do ecossistema. Refletindo sobre esse próximo passo, podemos nos questionar sobre o que falta para que se atinja um manejo florestal mais sustentável da microbacia? Em um primeiro momento, vem-nos à lembrança a falta de investimento na área ambiental, pois esta área é normalmente vista como geradora de custos e não de receitas. Isto é possível, mas a meu ver, qualquer investimento nessa área, sem a devida mudança de atitude, seria um desperdício, pois não atingiria o objetivo final, que é o aumento da sustentabilidade. A mudança de atitude a que me refiro, traduz-se em algumas posturas básicas, mas difíceis de serem implementadas, como a de se enxergar não somente o ciclo produtivo da floresta, mas também encarar o meio ambiente como um parceiro da produção e não como um ônus a ser carregado. Essa parceria de longo prazo exige planejamento e melhoria contínua dos processos, apoiada em progra-

mas de monitoramento, onde falhas possam ser detectadas e corrigidas. O monitoramento hidrológico, por exemplo, é um instrumento importante para o aprimoramento do manejo florestal, em busca da sustentabilidade, pois se pretendemos melhorar a relação entre a atividade produtiva e o meio ambiente, ou mesmo atingir um determinado patamar de sustentabilidade, será necessário acompanhar a evolução de alguns indicadores hidrológicos e, quando necessário, corrigir a rota. Enquanto a busca pela sustentabilidade não fizer parte da postura das pessoas, nenhum tipo de monitoramento ambiental fará sentido, pois não haverá planos e metas a se atingir e, assim sendo, não haverá interesse em conhecer e minimizar os erros e, portanto, corrigi-los. Não buscaremos nada além do que atender às exigências legais e de mercado e os investimentos em meio ambiente serão sempre vistos como custos, inoportunos, mas necessários. Muito se ouve falar sobre microbacia, porém pouco se tem feito para implementar esse conceito, pois sua real importância como unidade de planejamento e gerenciamento, que está intimamente relacionada a essa mudança de horizonte, ainda é pouco compreendida. O conceito de microbacia como unidade de manejo somente será adotado quando houver uma conscientização de que o meio ambiente é parceiro da produção florestal, e aí, então, se sentirá a necessidade de monitorá-lo, para se buscar a sustentabilidade sonhada. Por outro lado, como ainda não temos o conceito de sustentabilidade fazendo parte efetivamente do planejamento da produção florestal, a utilização da microbacia como unidade de manejo é encarada como um aumento do custo de produção, ignorando que o retorno do investimento ocorrerá em médio e longo prazos. Desse modo, o termo “manejo sustentável da microbacia” deve ser refletido com maior profundidade, para não se correr o risco da superficialidade de uso do conceito, sem seu necessário aprofundamento. Porém, sem deixar de reconhecer o esforço de diversas empresas e instituições de pesquisa, no sentido de avaliar, monitorar e buscar a melhoria do manejo florestal em direção à sustentabilidade, fica aqui um alerta para que se reflita sobre o tema e se envide esforços para uma mudança de visão sobre o manejo florestal. Ao refletirmos sobre a sustentabilidade da microbacia florestal, podemos pensar que a conceituação teórica está muito à frente da realidade econômica, mas será que não estamos subestimando nossa capacidade de enxergar o futuro?

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Silvicultura de Precisão Bernardo Francisco Duarte de Castro Diretor Executivo da Arvus

Panorama da silvicultura de precisão no Brasil Oportunidades e exigências do mercado externo, dificuldades de aquisição de novas terras no Brasil, pressões sociais e ambientais e a busca incessante pela melhoria nos processos corporativos, a fim de reduzir os tempos de retornos sobre os investimentos, pressionam as equipes de operações silviculturais, na busca por soluções de problemas, cujas ferramentas e procedimentos tradicionais não conseguem mais atender. Neste contexto, fica cada vez mais nítida a necessidade da quebra de paradigmas em muitas atividades florestais, de maneira a se atender tais requisitos e se alcançar tais metas. A silvicultura de precisão é um conjunto de tecnologias e procedimentos cada vez mais disponível e aplicável a diversas etapas do cultivo de madeira, e desponta como alternativa inevitável para o aumento da eficiência da silvicultura. Sistemas embarcados: Para a aplicação florestal, sistemas embarcados podem ser definidos como dispositivos eletrônicos instalados nas máquinas ou nos implementos. São geralmente compostos por sistemas de medição - monitoramento, sistemas de processamento e de atuação. A integração destes sistemas, fazendo-os atuar de forma inteligente, é realizada por um computador de bordo, que pode agregar a função de registrar informações sobre a operação, usando ou não um GPS. Em geral, a geração de informações relevantes, inclusive para setores gerenciais, exige a combinação dos dados de grupos de máquinas de trabalho, bem como o tratamento estatístico dos dados registrados por um período mais longo. Sistemas de processamento de informações fazem este papel e podem gerar relatórios resumidos sobre a operação, mapas temáticos e interfaces com sistemas de gestão corporativos ERPs. A silvicultura de precisão: É um conjunto de procedimentos e tecnologias que permite o tratamento espacialmente localizado da cultura em questão. É uma ferramenta que tem o objetivo de proporcionar um cultivo customizado para cada unidade de área, como uma fazenda, um talhão ou mesmo um lote imaginário de alguns metros quadrados. Para todas as operações florestais, praticamente, é possível imaginar uma versão de operação de precisão. Um exemplo clássico é a aplicação de adubos a taxas variáveis conforme mapas de reco-

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mendação georeferenciados, de acordo com a necessidade de adubo daquela área que proporciona grandes economias em insumos. Benefícios da silvicultura de precisão: Podem ser citados três principais benefícios: • Economias em insumos, devido à racionalização da aplicação destes; • Aumentos de produtividade, pois o tratamento de cada unidade de área está respaldado por informações específicas daquela área, e • Aumento de eficiência operacional, permitindo: redução da freqüência amostral de atividades de controle de qualidade, redução de tempos de calibragem/ajustes de máquinas, redução de custos, com supervisão e apontamento de serviços e insumos A adoção da silvicultura de precisão impacta positivamente diversos setores da empresa, como: operacional, planejamento, pesquisa, suprimentos e controle de qualidade. Silvicultura de precisão no Brasil: Operações florestais integrais com silvicultura de precisão já são encontradas hoje e os níveis de adoção da tecnologia estão em crescimento. O potencial e os retornos são muito grandes, o perfil das empresas produtoras é adequado, mas algumas barreiras precisam ser superadas, para a sua massificação. A busca por soluções idealizadas é uma das barreiras encontradas. Muitas empresas trabalham na comprovação prática dos resultados proporcionados por alguns sistemas. Apesar da grande cooperação técnica e a troca de informações entre as empresas, períodos longos de avaliações criteriosas do desempenho dos sistemas são etapas inevitáveis em cada uma delas. Outra barreira é a grande resistência encontrada com relação à reformulação de custos de produção da implantação das florestas. Como uma atividade ou um tipo de investimento recente, a silvicultura de precisão não se enquadra nos inflexíveis planejamentos de custos das empresas, o que torna excessivamente moroso o processo de decisão de investimento. Prestadoras de serviço mostram-se, em geral, resistentes à implantação dos sistemas, devido à superestimação de dificuldades operacionais, bem como o receio quanto ao registro de informações. A adoção das tecnologias deve ser sempre justificada, através dos ganhos proporcionados em diversos setores das empresas florestais, bem como das contratadas, e não apenas a instalação de peças sofisticadas em uma máquina ou trator. Uma vez comprovados os retornos proporcionados, todo esforço deverá ser válido para a sua implantação, desde a aceleração da reformulação de plano de custos da empresa até o total suporte à operacionalização dos sistemas, do ponto de vista de pessoas e processos, com planejamento, conscientização e treinamento. Desta forma, a silvicultura de precisão poderá promover grandes evoluções na silvicultura brasileira.



Silvicultura de Precisão Maria José Brito Zakia

Gerente Geral de Sustentabilidade da VCP

Planejamento do manejo integrado da bacia hidrográfica

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Por que usar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento? E o que quer dizer integrado? Depois que convivi com profissionais da área do direito ambiental, as palavras passaram a ter um novo fascínio para mim. Desta forma, a cada palavra, acho oportuno dizer como ela é entendida neste texto. Entendo que planejamento é um processo que leva ao estabelecimento de um conjunto coordenado de ações, visando atingir determinados objetivos. Quanto à palavra integrado, refere-se a cada uma das partes de um todo. A definição parece óbvia e facilmente compreendida, mas estão ocultas duas questões cruciais: conjunto estabelecido por quem e objetivos determinados por quem, para quem e por quê?

Um empreendimento florestal não é suficiente para garantir o manejo de uma bacia hidrográfica, pois existem outros proprietários, outros empreendimentos, existem muitos outros usuários deste sistema. A primeira questão importante no planejamento é estabelecer alguns limites e o primeiro destes é o territorial - o que equivale ao “todo” do conceito de integrado. Pode-se planejar um município, um bairro, uma paisagem e/ou uma bacia hidrográfica. Se haverá várias ações, é de se esperar que haverá várias pessoas e instituições envolvidas, cada um com seus interesses, todos legítimos e com algum viés. Neste caso, é fundamental que um fio condutor una toda esta pluralidade. A água tem sido um ótimo fio condutor, pois todos a percebem como algo de fundamental importância. E a água é produzida na bacia hidrográfica, que é uma unidade territorial facilmente delimitada e que é um sistema em funcionamento. Se é um sistema, pode ser compreendido e as ações levadas a efeito podem ser avaliadas, por meio da produção de água - quantidade e qualidade. Se planejam-se ações sobre um sistema, a execução do planejado é o manejo de um sistema, o chamado manejo sistêmico. Ou seja, o planejamento e a sua execução levam em conta todo o sistema e não as partes isoladas. Como engenheiros florestais, estamos acostumados a fazer um planejamento sistêmico, mas com forte tendência a priorizar fatores bióticos e abióticos. Aí está o nosso viés.

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Com relação às atividades fundamentais que as empresas florestais devem adotar para o manejo de bacias hidrográficas, são consideradas como perfeitamente corretas as seguintes recomendações: 1. Trabalhar em microbacias; 2. Adequar desenho e densidade de estradas e carreadores; 3. Adotar o cultivo mínimo no preparo de solo; 4. Deixar restos da cultura após a colheita; 5. Não queimar; 6. Proteger os cursos d’água e das nascentes, com a vegetação natural da área; 7. Utilizar de forma adequada os defensivos agrícolas; 8. Manter mosaicos da própria plantação, ou seja, não pode haver corte raso contínuo em áreas, cujas dimensões devem variar dependendo dos locais; 9. Planejar, dentro do empreendimento, a existência de uma cobertura florestal nativa de, pelo menos, 30% da área da propriedade, incluindo nesse percentual as Áreas de Preservação Permanente - APPs e Reservas Legais RL, em nascentes e cursos d'água;


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10. Considerar os aspectos estruturais ou espacial, da paisagem, em termos de: a. Complexidade do arranjo espacial dos fragmentos de habitat, considerando a distribuição de tamanho dos fragmentos ou o isolamento de fragmentos de um mesmo tipo; b. Densidade e complexidade dos corredores de habitat, que dependem, entre outros, da freqüência e do tipo de interações na rede de corredores ou do tamanho da malha formada por esta rede, e c. Permeabilidade da matriz; e 11. Monitoramento permanente. No entanto, um empreendimento florestal não é suficiente para garantir o manejo de uma bacia hidrográfica, pois existem outros proprietários, outros empreendimentos, existem muitos outros usuários deste sistema. Portanto, o planejamento de bacias hidrográficas exige (ressalto ser esta uma exigência e não uma opção) diálogos e arranjos institucionais, que busquem a construção de objetivos comuns e a execução de várias atividades. Gosto de chamar à atenção para a questão da recomposição de matas ciliares - todos são a favor (uma rara unanimidade), mas, não acontece. Como é possível que algo que todos desejam não aconteça? O mesmo se sucede quanto à conservação de água. Aqui, entram os diálogos e arranjos institucionais - e neste caso, a delimitação do território é fundamental - para cada bacia hidrográfica, de preferência, para cada microbacia.

Gostaria de retomar algo que escrevi, numa edição passada da Revista Opiniões, sobre as Políticas Públicas que pressupõem: 1. A existência de um conteúdo que oriente os recursos humanos e materiais, na busca de determinados resultados, de forma que não possa ser confundida com um ato isolado. Apresenta uma estrutura relativamente permanente e oferece referência para os atores em seus processos de tomada de decisão, e 2. Tem como um de seus postulados basilares a existência de convergência entre o conteúdo da política, os interessados - stakeholders, e os mecanismos disponíveis para sua execução. Contrariando o senso comum, uma Política Pública não precisa ser liderada pelo Poder Público, mas é fundamental sua participação. Para nós, florestais, a “novidade” está em incluir no nosso modo de pensar as questões humanas e ter o homem como parte da estratégia de conservação de água e solo. Conservação com o homem e não apesar dele. O diálogo e os arranjos institucionais é o que difere o manejo de bacias hidrográficas de uma Política Pública. Ou seja, a base para uma política pública eficiente pode estar nos princípios do planejamento sistêmico de uma bacia. Hoje, o planejamento de bacias tem se distanciado de Políticas Públicas, por não incluir o fator humano, e estas, por vezes, falham, por não terem um território bem definido. É hora de conciliar.

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Silvicultura de Precisão Celso Trindade

Diretor da Geraes Qualidade e Meio Ambiente

Controle de Qualidade das atividades silviculturais O controle de qualidade na atividade florestal vem sendo praticado desde o início da década de 80, baseado em um trabalho pioneiro, da antiga Champion Florestal, atual International Paper. Hoje, sua prática está bastante difundida na maioria das empresas florestais. Este modelo utilizava equipes de qualidade externas à área vistoriada e gerava muito atrito entre a área de qualidade e a operacional. No início de 1987, evoluímos para o sistema onde os próprios executores realizariam estes controles. Na ocasião, este trabalho foi denominado de autocontrole ou autogestão. Em função da demonstração de sua eficácia, desde 1987, temos trabalhado com o, hoje denominado, conceito do Controle Estatístico de Processo - CEP. Quando são observados desvios de conformidade, a própria equipe detecta e age preventiva ou corretivamente, com ações implementadas tão logo quando detectadas. No processo de auditorias externas da área, as correções eram realizadas após a ocorrência do fato, com prejuízos para as organizações. Observamos situações, onde a equipe passou pela fazenda no momento em que o preparo de solo estava sendo realizado. Fizeram a avaliação do que foi possível e, tempos depois, quando retornaram à fazenda, a plantação já havia sido concluída. A equipe detectou, então, um desvio de espaçamento de cerca de 20% de erro, como o restante das operações já haviam ocorrido, este erro teve que ser absorvido pela empresa. O controle da operação permite conhecer o processo e ter previsibilidade sobre o mesmo, dando garantia da qualidade das atividades. As informações colhidas nos controles, além de serem uma excelente ferramenta para tomada de decisões diante desvios de conformidade, devem contribuir para compor um importante banco de dados, que auxiliará a fazer inferências frente a resultados obtidos - produtividade, facilitando a rastreabilidade e desencadeando ações gerenciais de melhoria das operações. A título de exemplo, para programarmos o controle de uma determinada operação ou atividade, utilizamos uma ferramenta conhecida como "5W+1H", do inglês: What (o que); Where (onde); Who (quem); When (quando); Why (por que) e How (como)? Mesmo executando o controle de processo, a maioria das empresas ainda não percebeu a potencialidade de seu uso como alavanca para o processo de melhoria contínua a ser utilizado pelos grupos de qualidade, na resolução de problemas. Alguns gestores ainda têm

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como foco principal a descoberta do erro, com punição da pessoa que o cometeu, perdendo oportunidades de que tal ferramenta seja incorporada de forma positiva à cultura da empresa. Atualmente, grande parte das empresas utiliza o sistema de equipes de auditores, que, mesmo não sendo o mais adequado, ainda contribui para melhoria. Os dados da qualidade são relatados e usados em nível gerencial, mas, infelizmente, as ações de correção e prevenção ainda são incipientes. Desde 1985, temos observado inúmeros ganhos com o trabalho do controle da qualidade, como, por exemplo: aumento da sobrevivência dos plantios; maior homogeneidade dos mesmos; ajustes nos procedimentos recomendados; criação de indicadores de qualidade; desenvolvimento de metodologias/mecanismos de controle; uso de ferramentas da qualidade na solução de problemas, e maior transparência das empresas prestadoras de serviços, mediante os resultados apresentados. A necessidade de controlar a qualidade fez com que fossem criados vários instrumentos e formas de avaliação, como: medidores de profundidade de gradagem e subsolagem; medidores de estouramento de solo; adequação de distribuidores de fertilizantes; uso de dosadores graduados/balanças nas aferições de equipamentos; uso de limitadores de profundidade nas plantadeiras; uso de gabaritos nas mesmas, para garantir distância de aplicação; aumento da capacidade das plantadeiras, para receber a dose de gel recomendada; utilização de espaçadores acoplados em tratores, para melhorar a distância entre plantas; utilização de válvulas dosadoras para reduzir perda de água na irrigação e controle dos bicos de pulverização; dentre outros. Alguns erros têm sido observados durante a implementação do controle de qualidade, tais como: resultados usados para perseguir área/ pessoa auditada; manipulação dos resultados por má fé ou medo; resultados não utilizados como ferramenta de gestão pela gerência ou direção da empresa, e resultados não utilizados para implementar programas de melhoria contínua pelos grupos de trabalho. Esta falta de foco da maioria dos gestores tem reduzido a oportunidade de ganhos mais expressivos. Pensamos que, no futuro, as empresas possam aplicar plenamente o CEP, como ferramenta de trabalho, inserindo o mesmo em sua cultura, devendo esta busca ser responsabilidade de todos, mas com apoio total da direção das organizações. A prática da qualidade deve ser incorporada em cada um, de forma a possibilitar que todos possam crescer em responsabilidade e atingir níveis superiores de qualidade, desta forma todos ganhariam em sustentabilidade - empresa, funcionários, fornecedores, clientes e sociedade.



Silvicultura de Precisão Aristides Ribeiro

Professor de Meteorologia Florestal da Universidade Federal de Viçosa Monitorando o tempo e o clima a favor da silvicultura

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O potencial produtivo das florestas plantadas em regiões tropicais, especialmente no Brasil, é muito superior a outras regiões do globo, com poucas exceções. A alta competitividade do país no setor florestal baseia-se nas condições ambientais favoráveis e na eficiência da tecnologia empregada, fruto de consistentes investimentos em pesquisa e desenvolvimento das empresas, em conjunto com as universidades. O ganho na produtividade deu-se, por um lado, pela melhoria no manejo florestal, mas, sem dúvida, também, pelo melhoramento genético e pela opção de implantação de plantios clonais. A restrição da base genética imposta por esta prática torna a silvicultura uma atividade de risco, face às incertezas climáticas.

As adversidades climáticas são o maior desafio para manter a alta produtividade atingida pelas empresas florestais no Brasil. Portanto, as adversidades climáticas são o maior desafio para manter a alta produtividade atingida pelas empresas florestais no Brasil. Uma das principais informações para a tomada de decisão no setor florestal refere-se ao tempo meteorológico e ao clima. Pode-se entender tempo como sendo o estado da atmosfera em determinado instante e local, ou seja, uma fotografia dos elementos meteorológicos em um determinado momento. Dentre os elementos meteorológicos, podem-se destacar a temperatura e a umidade do ar, a velocidade e a direção do vento, a radiação solar, a pressão atmosférica, a chuva, etc. O clima refere-se à condição média do tempo, ou seja, trata-se dos valores dos elementos meteorológicas mais prováveis de ocorrer em determinada região. Além de dados observacionais, medidos por estações meteorológicas, que caracterizam o tempo e o clima, existem modelos computacionais capazes de prever as condições meteorológicas futuras. As previsões computacionais utilizando modelos atmosféricos são úteis para prognósticos de curto prazo, em intervalos que variam de 24 horas a uma semana de antecedência. Uma previsão de tempo para 24 horas, por exemplo, pode apresentar mais de 90% de exatidão, diminuindo este valor, quanto maior for o intervalo de antecedência. A previsão de clima pode ser de médio ou longo prazo. Assim, este prognóstico pode ser realizado

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para a próxima estação do ano, computadas em meses; ou para longo prazo, como no caso das mudanças climáticas globais, feitas para dezenas a centena de anos. Diferentemente das previsões de tempo, a previsão climática é útil para determinada região, não sendo local. O grau de exatidão da previsão meteorológica depende também da região do globo em que se faz este exercício, uma vez que o tempo e o clima dependem da maior ou menor persistência das forçantes, que determinam o estado da atmosfera. Com a confirmação inequívoca das mudanças climáticas globais em curso, o conceito tradicional de clima começa a mudar. Não se pode mais entender que uma média da série histórica de dados meteorológicos - normais climatológicas, série dos últimos 30 anos de dados, seja o valor mais provável, a partir de onde se verificam flutuações interanuais. As previsões das mudanças devem ser considera-


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das em face da duração temporal do ciclo de produção de espécies florestais, utilizadas em plantios comerciais (~ 5-14 anos). Várias empresas florestais têm investido na instalação de redes de observação meteorológica, devido à importância destas informações para o planejamento e manejo florestais. Outro caminho trilhado por empresas do setor é a utilização de dados meteorológicos obtidos por rede pública, com a manutenção de um mínimo de estações próprias. A troca de informação entre diferentes órgãos seria uma forma viável de diminuir os custos de manutenção dessas redes. Várias empresas também têm investido no desenvolvimento de sistemas de tomada de decisão, que geram produtos específicos para a gestão de suas florestas.

Esses sistemas são ferramentas computacionais integradas ao banco de dados da empresa e que utilizam informações do solo, clima e do material genético. A utilidade da base de dados obtida pelo monitoramento contínuo dos elementos meteorológicos pode ser dividida em dois diferentes arranjos - dados diagnósticos e prognósticos, que se correlacionam às respectivas aplicações.

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Silvicultura de Precisão José Henrique Ferreira

Diretor Comercial da Brisa Consulting

A tecnologia da informação e a gestão florestal moderna Alguns anos atrás, os investimentos em Tecnologia da Informação - TI, nas empresas de base florestal eram bastante modestos. A administração das florestas destas empresas estava normalmente vinculada a um departamento industrial, que possuía todo o foco de investimentos. A aquisição de softwares até a compra de equipamentos eram colocadas em segundo plano em relação às demandas das plantas industriais. Era uma situação comum nessa época, a adaptação de sistemas voltados à gestão de processos fabris para controlar as informações oriundas dos povoamentos florestais. Outra situação muito comum era a criação de ferramentas desenvolvidas dentro das próprias organizações para resolver, mesmo que de forma pouco satisfatória, as demandas por informação dentro destas empresas, pois mesmo nesses casos a prioridade de atendimento das equipes de TI internas continuava sendo a indústria. Essa prática levou a uma lenta evolução dos ambientes computacionais das empresas, estruturas vitais para atender à demanda por informação dos seus usuários. Há cerca de vinte anos, iniciou-se um processo de valorização dos ativos florestais, transformando-os em unidades de negócio que poderiam apresentar resultados tão ou mais satisfatórios que os processos industriais aos quais eram vinculadas. Esta mudança, na forma como as florestas eram tratadas até então, trouxe profundas alterações nos processos de gestão das empresas do setor. Impulsionadas pelo crescimento do mercado e acirramento da concorrência, os responsáveis pela condução destes negócios viram-se obrigados a elevar os investimentos em recursos de TI, para aumentar a competitividade dos mesmos. Essa necessidade fez surgir empresas especializadas no desenvolvimento de soluções para gestão florestal que, apostando no desenvolvimento desse mercado, investiram recursos nesse aprendizado, projetando, em parceria com especialistas da área florestal, soluções (softwares) adequadas às necessidades do mercado florestal, influenciando na disseminação de novos e eficientes conceitos de gestão. Para se ter uma idéia dessa evolução, hoje, com o advento de recursos tecnológicos, é possível mapear, através da rastreabilidade das informações, toda a cadeia produtiva, do viveiro até a comercialização ou industrialização dos produtos florestais.

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Em função desses acontecimentos, atualmente vivemos uma nova realidade. Com o surgimento da internet de alta velocidade e a conseqüente redução de distâncias, o investimento em recursos de TI passou a ser obrigatório e fator preponderante para se garantir o mínimo de competitividade e se alcançar os objetivos das estratégias de gestão das empresas. A Gestão Florestal Moderna: O pilar de sustentação dessas soluções é o conceito de gestão florestal baseado no melhor uso dos recursos naturais e produtivos. O planejamento e controle da execução das atividades é peça fundamental dentro deste modelo: "gestão de ativos mais gestão de custos mais gestão finaceira é igual a criação de valor". Para criar valor, dado um diagnóstico inicial, as empresas necessitam mapear e modelar seus processos, focando nos objetivos do negócio de forma integrada, compartilhando informações, otimizando processos e assim oferecendo maior eficiência e agilidade nas tomadas de decisões. No segmento florestal, esse movimento irá retornar em forma de controle sobre os custos de formação das florestas, gestão de ativos florestais, custos de colheitas e principalmente gestão sobre receitas, maximizando a geração de caixa, e conseqüentemente criando valor para a organização, seus proprietários e investidores. A base central do modelo de gestão florestal está no controle da formação dos ativos florestais, isto é, controle de custos. Monitorar os gastos desde a produção da muda, passando pelo preparo do solo, implantação e manutenção das florestas até a árvore formada, pronta para uso comercial, e atividades ligadas à colheita e transporte. A evolução tecnológica (software e hardware) gerou ganhos para aplicação de metodologias de controle de custos, como a ABC - Activities Based Cost, que até então era complexa demais para se colocar em prática. A escolha de um modelo de custeio, associado às melhores práticas de TI, propicia às empresas florestais uma excelente capacidade de tomada de decisão, baseada em informações obtidas a um nível de detalhe nunca antes imaginado e consolidadas em intervalos de tempo cada vez menores. A gestão atual requer um modelo capaz de filtrar, num mar de informação, aquela que fará a diferença frente à concorrência, colocando a empresa num alto nível de excelência de organização e qualidade. A escolha do melhor modelo de sistema de gestão florestal, seja ele informatizado ou não e, que esteja alinhado com o momento atual da economia mundial, exige entender a evolução da gestão e seus conceitos, além de aliá-los à cultura da própria empresa, para compor um modelo totalmente integrado e voltado para processos. Para isso, é preciso rever posições que até então eram tidas como corretas e repensar antigos conceitos, usando o que está ao nosso alcance: Tecnologia da Informação.


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Proteção Florestal Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da Unesp-Botucatu Manejo integrado de pragas em povoamentos florestais Com o aumento expressivo da área plantada com espécies florestais no Brasil, principalmente, eucalipto e pínus, tem-se constatado aumento na ocorrência de pragas nativas e exóticas. O melhor caminho para resolver esse problema é o manejo integrado de pragas. A agricultura teve grande aumento de produtividade após a 2ª Guerra Mundial. Uma parte significativa dessa produtividade foi baseada no uso de agrotóxicos, principalmente inseticidas químicos. Entretanto, o uso indiscriminado e abusivo desses compostos gerou uma série de problemas, como a resistência das pragas aos inseticidas, contaminação ambiental, etc. A resposta a esses problemas surgiu na década de 1970, com a proposta do Manejo Integrado de Pragas - MIP. O MIP é uma filosofia baseada no uso de técnicas para manipulação do agroecossistema, visando manter os insetos na condição de não-praga, de forma econômica e harmoniosa com o meio ambiente. Dessa forma, não é necessária a erradicação da praga no campo, o que é quase impossível, mas apenas manter a praga em níveis baixos, possibilitando a convivência com o inseto no campo. Para várias culturas agrícolas, o MIP foi estudado e implementado junto aos produtores. O MIP é baseado em um tripé: Avaliação do ecossistema, envolvendo monitoramento de pragas e inimigos naturais; a tomada de decisão - controle ou não-controle, e escolha do método de controle, buscando, se possível, a

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integração entre eles. Os principais benefícios do MIP são a redução no uso de inseticidas químicos, pela utilização apenas nas áreas com infestação da praga ou pela possibilidade de uso de métodos alternativos ou pela integração entre os métodos, satisfazendo uma questão-chave no processo de certificação florestal. Além disso, reduzem-se os riscos das pragas tornarem-se resistentes aos inseticidas e de desequilíbrio ambiental, pois a população de inimigos naturais é preservada no campo. Tudo isso leva, conseqüentemente, à redução de custos no processo de produção. No caso de florestas plantadas ainda não há MIP florestal, basicamente por falta de mais pesquisas básicas, principalmente quanto à quantificação de danos, relacionada à infestação da praga, o que é chamado de nível de dano e de controle. Uma das complicações é a altura das árvores, que dificulta a avaliação da infestação. A outra é a grande extensão de áreas plantadas, o que dificulta o monitoramento. Entretanto, temos alguns exemplos de MIP florestal no Brasil. O primeiro é o monitoramento de formigas cortadeiras, que envolve o sistema de amostragem, em faixas ou transectos, e contagem e medição dos ninhos das formigas cortadeiras e avaliação de danos. Após isso, os dados são analisados e é feita a recomendação (controle ou não-controle) e a forma desse controle (qual tipo de formicida, quantidade estimada e forma de aplicação). Posteriormente, é feita a avaliação da aplicação, ou seja, o controle de qualidade do processo. O monitoramento de formigas cortadeiras que, na verdade, pode ser considerado como MIP, tem possibilitado otimização na operação de controle e redução de custos, pois se aplica formicida apenas nas áreas necessárias e tem-se controle da quantidade a ser usada, evitandose desperdício. Outro programa interessante é o monitoramento de cupins em plantios de eucalipto. Os cupins são um tipo de praga de difícil previsão de ocorrência, pois são subterrâneos, ou seja, não visíveis ao produtor ou operador. Seus danos são a destruição do sistema radicular ou o anelamento do caule das mudas novas. A maioria dos empreendimentos florestais faz controle preventivo, através do tratamento de mudas por imersão em solução inseticida. O programa de monitoramento de cupins, apesar de não poder ser considerado como MIP, pois ainda não há tomada de


Opiniões

Ricardo Malinovski

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decisão, baseado no grau de infestação, atinge os principais objetivos do manejo de pragas. O monitoramento de cupins avalia a presença ou ausência de cupins-praga em uma área, através de instalação de iscas de papelão no solo. Após 30 dias, essas iscas são avaliadas e é feita a recomendação, baseada apenas na presença da praga. Mesmo assim, a redução do uso de inseticidas químicos é expressiva, sendo, em média, acima de 60%, variando de, aproximadamente, 50% até 100%, em algumas regiões da Bahia, ou seja, esse programa tem demonstrado que os cupins são pragas pontuais, com possibilidade de determinar precisamente os focos de infestação para controle. Um terceiro exemplo é o MIP da mosca do viveiro, em viveiros de eucalipto. A mosca do viveiro é formada, na verdade, por diferentes espécies de moscas da família Sciaridae, que colocam seus ovos no substrato e suas larvas alimentam-se da estaca de eucalipto, impedindo seu enraizamento. As perdas podem passar de 90% de estacas, em viveiros com alta infestação. O controle sempre foi baseado em aplicação de inseticidas químicos, com aplicações semanais ou até mais freqüentes, com resultados insatisfatórios ou extremamente caros e impactantes. O programa de MIP para a mosca do viveiro teve que ser iniciado do zero, inclusive com a identificação das espécies, que, hoje, se sabe, são três distintas.

Com o estudo da biologia do inseto, para o conhecimento da duração e fases do ciclo de vida, determinou-se a melhor fase para o controle. Em seguida, foi desenvolvido o sistema de monitoramento da praga, para avaliar com precisão as infestações nas casas-de-vegetação - CV, e também determinar o nível de controle da praga. Nesse caso, a amostragem foi baseada na contagem de adultos da mosca capturada em armadilhas adesivas amarelas, distribuídas nas CVs. Depois, foram avaliadas as opções de controle, desde controle cultural, até seleção de inseticidas químicos de baixa toxicidade. Como resultado final, recomenda-se a escolha criteriosa da fonte de matéria orgânica do substrato para as mudas, pois o substrato é a mais provável fonte das infestações, eliminação adequada do resto de substrato e, quando necessário, a aplicação do inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis var. israelensis, específico no controle de moscas e mosquitos. Novamente, teve-se redução de custos e praticamente a eliminação da necessidade de uso de inseticidas químicos, reduzindo impactos ambientais no viveiro e risco de contaminação dos funcionários envolvidos. Esses exemplos demonstram que é possível o desenvolvimento de programa de MIP em plantações florestais na região tropical, atendendo às exigências impostas pelo mercado, através das certificações florestais.

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Proteção Florestal Guilherme de Andrade Lopes

Coordenador Técnico do PCCF do Ipef

Política de uso de agroquímicos adotada pelo FSC O FSC - Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal, é uma organização internacional não-governamental, sem fins lucrativos, com sede em Bonn, Alemanha, fundada em 1993, por representantes de entidades ambientalistas, pesquisadores, produtores de madeira, comunidades indígenas, populações florestais e indústrias de 25 países. Trata-se do mais reconhecido selo verde do mundo, com presença em 81 países e em todos os continentes. Está estruturado em três câmaras, representando os setores social, ambiental e econômico, com igual peso nas deliberações, conferindo equilíbrio de forças e poder de voto entre as três partes. A área mundial certificada pelo FSC atualmente é de 103 milhões de hectares. Desse total, 54% refere-se às áreas de florestas plantadas. O Brasil detém 5,3% da área certificada no mundo, ou seja, 5,4 milhões de hectares, e 2,5% das áreas certificadas de florestas plantadas, ou seja, 2,6 milhões de hectares. O FSC tem por objetivo difundir o uso racional dos recursos naturais, garantindo a sua existência no longo prazo e promovendo o bom manejo florestal. Para atingir esse objetivo, foi criado um conjunto de regras reconhecidas internacionalmente, chamadas Princípios e Critérios, que conciliam as salvaguardas ecológicas com os benefícios sociais e a viabilidade econômica, e são os mesmos para o mundo inteiro. Dentre essas regras, existe a que regulariza o uso de produtos químicos para o controle de pragas e doenças das florestas plantadas, que de forma semelhante a qualquer outra cultura agrícola, porém em menor intensidade, necessitam de cuidados especiais para que seja assegurada a produtividade esperada. Na sua última versão, publicada em maio de 2007, a Política de Químicos do FSC incluiu, na lista de produtos com restrição de uso, alguns muito conhecidos e tradicionalmente utilizados no setor de florestas plantadas para o controle de pragas e doenças como, por exemplo, a sulfluramida, usada na forma de iscas granuladas, para o controle de formigas cortadeiras. Essa lista foi elaborada pelo FSC, com base nos ingredientes ativos de

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todos os produtos utilizados com freqüência em áreas florestais e viveiros certificados em todo o mundo, e será revisada e atualizada regularmente. Se algum produto for adicionado a uma nova lista, seu uso deverá ser descontinuado seis meses após a sua publicação. Fatores específicos, como tipo de solo na área de aplicação, distância dos cursos de água, taxa, método e freqüência da aplicação, podem reduzir o risco associado à aplicação dos produtos e estes poderão ser analisados na consideração de solicitações de uma derrogação temporária, mecanismo previsto na Política de Químicos do FSC e que concede a prorrogação do uso para o produto químico recém incluído na lista, por um perío-do determinado. As derrogações normalmente são emitidas para um período de cinco anos, podendo ser ampliadas de acordo com os requisitos destacados na norma, não sendo permitida extensão da derrogação depois do vencimento do prazo de cinco anos. Exceção vale para o caso de se demonstrar que um programa para identificar produtos ou técnicas alternativas tenha sido totalmente implementado, mas que tenha falhado ao identificar uma alternativa aceitável no tempo disponível. No Brasil, logo após a publicação da última versão da Política de Químicos do FSC, em maio de 2007, houve uma mobilização por parte das empresas florestais brasileiras, no sentido de se criar um grupo de trabalho para tratar o assunto, com o apoio de instituições de ensino e pesquisa, empresas químicas, certificadoras e demais partes interessadas.


Opiniões

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Para atender a essa necessidade de propor uma profunda revisão da Política de Químicos do FSC, o que possibilitaria a retirada de produtos da lista, dentre outras metas, em agosto de 2007, foi formalmente criado o PCCF - Programa Cooperativo em Certificação Florestal, vinculado ao IPEF Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Havia um prazo máximo de seis meses, desde a publicação da lista, em maio de 2007, para que os processos de derrogação fossem protocolados, e uma série de requisitos fossem cumpridos, dentre os quais a descrição técnica dos produtos químicos, manejo adotado pelas empresas para a sua utilização, necessidade demonstrada da sua utilização, pragas e doenças alvo, métodos para o seu monitoramento e controle, procedimentos de segurança, medidas mitigadoras para prevenção de riscos ambientais e para saúde humana, e apresentação de propostas de estudos para análise de viabilidade técnica e econômica para a adoção de métodos e produtos alternativos. Além disso, deveria ser implementada e conduzida por um período de, no mínimo, 45 dias, uma consulta pública que pudesse identificar as impressões que os vários segmentos da sociedade têm com relação ao uso desses produtos químicos no controle de pragas e doenças. Cumpridos todos esses requisitos, foram solicitadas as derrogações

para: Sulfluramida, Fipronil, Deltamethrina, Triadimenol, Epoxiconazole, Fenitrothion, Pendimethalin e Alfa-cipermetrina. Esses processos encontram-se ainda em análise pelo FSC e a expectativa é de que sejam publicados ainda antes do final do ano de 2008, sendo permitida a continuidade do uso desses produtos, enquanto esses processos não forem julgados. O PCCF/IPEF continua trabalhando no atendimento às informações complementares solicitadas pelo FSC, além de cumprir com as demais metas previstas para o programa. As 28 empresas que integram atualmente esse programa entendem que, uma vez articuladas, pode ser mais fácil organizarem-se e somarem esforços no sentido de se atualizarem sobre todos os assuntos que envolvem a certificação, nos escopos do FSC e do Cerflor, este que corresponde ao Sistema Brasileiro de Certificação, em todas as instâncias, e de buscarem metas comuns, tendo o programa como mediador nesse processo. É importante salientar, no entanto, que as empresas devem definir estratégias para articulações políticas com os agentes das duas outras Câmaras do FSC, a Ambiental e a Social, discutindo, com imparcialidade, as questões de interesse do sistema FSC de certificação e mantendo, dessa forma, o equilíbrio nas deliberações entre as Câmaras, o que contribuirá cada vez mais para o fortalecimento da credibilidade da certificação em todo o mundo.

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Proteção Florestal Pedro Jacob Christoffoleti

Professor de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas da Esalq-USP Manejo integrado de plantas daninhas em povoamentos florestais O sucesso econômico de um empreendimento florestal comercial de madeira só é alcançado se a implantação e a formação inicial da floresta são feitas de forma tecnicamente correta, utilizando boas práticas agrícolas, pois povoamentos florestais homogêneos são culturas de longo prazo e pequenos erros em sua implantação resultarão em severos efeitos na lucratividade final. Dentre as práticas culturais de implantação, destaca-se que o manejo integrado de plantas daninhas tem importância fundamental. Ele envolve a construção de um plano estratégico durante a implantação e formação inicial da floresta, incorporando diversas ferramentas, em sintonia com os objetivos do silvicultor. Aplicações de medidas de controle das plantas daninhas devem ser executadas no momento adequado, nas intensidades corretas e utilizando as medidas de controle mais apropriadas. Os métodos são os mais variados possíveis e tem-se verificado uma grande evolução dos mesmos. Na área florestal, entretanto, a prática do controle de plantas daninhas praticamente se restringe aos métodos de controle manual, mecanizado e/ou químico. A escolha do método de controle considera diversos fatores como mão-deobra, necessidade de equipamentos, período efetivo de controle e riscos de contaminação ambiental. Os herbicidas têm sido a opção mais utilizada, devido à sua praticidade, rapidez, menor custo e baixo risco de contaminação ambiental, quando utilizados de acordo com as recomendações de boas práticas. Antes do plantio de um povoamento florestal uniforme, é imperativo que sejam removidas plantas daninhas de propagação vegetativa, bem como reduzido o banco de sementes. As operações realizadas com este objetivo são, normalmente, executadas através da integração de métodos mecânicos e químicos, utilizando herbicidas de ação total - não seletivos. No entanto, a tendência da silvicultura atual é a implantação através da técnica de plantio direto, onde o herbicida dessecante assume um papel muito importante no processo. Na reforma das áreas de eucalipto, onde não há a recondução da rebrota das plantas, além da eliminação da infestação daninha já mencionada, também é necessária a eliminação da brotação das cepas da cultura anterior, mecanicamente ou através da aplicação de herbicidas de ação total, e de translocação eficiente, aplicado no toco, logo após o corte ou sobre as brotações, em fase inicial de desenvolvimento. Após a implantação dos povoamentos florestais homogêneos, a maioria dos sistemas de produção no Brasil utiliza herbicidas pré-emergentes

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na linha de plantio, observando aspectos relacionados como seletividade para a cultura, espectro de controle das plantas daninhas, residual e impacto ambiental. A eficácia dos herbicidas residuais utilizados depende não somente das características físico-químicas do herbicida, mas também dos atributos do solo, dos fatores ambientais e das práticas adotadas nos sistemas de produção dos povoamentos. Estes fatores afetam o comportamento dos herbicidas e, como conseqüência, sua eficácia e controle das plantas daninhas e seu impacto no meio ambiente. Portanto, a tomada de decisão quanto à molécula a ser utilizada, o momento de aplicação e a dose, deve ser fundamentada no conhecimento das características físico-químicas do produto, atributos do solo, nas condições climáticas, no sistema de produção adotado e na interação destes fatores. O controle em condições de pós-emergência das plantas daninhas, após a implantação do povoamento florestal, é feito através de capinas manuais ou herbicidas, aplicados em jato dirigido, evitando atingir a folhagem da cultura. É fundamental que a aplicação seja feita de forma a evitar deriva à folhagem e ao colo das plantas cultivadas, pois a deriva pode provocar efeitos fitotóxicos de redução de crescimento. Durante o primeiro ano de estabelecimento da cultura, é recomendável a manutenção de faixa de 2 a 3 m na entrelinha da cultura, que traz as vantagens de: reduzir a compactação do solo, proteção do solo contra a erosão, aumento da biodiversidade, redução do ataque de pragas e menor consumo de herbicida. Nesta técnica é importante que seja considerado o desenvolvimento radicular da cultura na entrelinha e a interferência direta que pode ocorrer com o sistema radicular da planta daninha. O manejo de plantas daninhas após um ano da implantação da floresta pode ser executado por beneficiar o sistema de produção, facilitando o combate à formiga, reduzindo o risco de incêndio e o potencial de infestação na próxima rotação e, melhorando o aproveitamento das adubações tardias, no entanto, coloca em xeque a questão da biodiversidade. O objetivo principal do manejo integrado de plantas daninhas é evitar a interferência negativa com os povoamentos florestais homogêneos no aproveitamento dos recursos de crescimento disponíveis. O herbicida desempenha um papel fundamental neste processo, porém a racionalidade de seu uso e o impacto ambiental devem ser levados em consideração no momento do planejamento e utilização. Em conclusão, a melhor prática de manejo de plantas daninhas é a implantação adequada da cultura em todos os seus aspectos culturais, para que a floresta domine, rapidamente, os nichos ecológicos existentes e não permita o desenvolvimento e a interferência das plantas daninhas.


Opiniões

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Reginaldo Gonçalves Mafia

Pesquisador do Centro de Pesquisa da Aracruz Celulose

Manejo integrado de doenças: um exemplo de sucesso do setor Atualmente, em função da maior conscientização da população mundial e dos riscos eminentes ocasionados pelas mudanças climáticas, o mercado consumidor pressiona, cada vez mais, o setor primário por uma evolução nos conceitos de produção. Sendo assim, o emprego do manejo integrado de doenças, desenvolvido como alternativa técnica inovadora e eficiente, constitui-se em fator estratégico de competitividade e de sustentabilidade, considerando as exigências contidas nos princípios e critérios das principais certificações e as demandas das diferentes partes interessadas da cadeia produtiva e da sociedade em geral. O setor florestal brasileiro experimentou um grande crescimento. Segundo dados da Abraf, somente os investimentos do setor de celulose e papel, nos últimos 10 anos, foram da ordem de US$ 12 bilhões. Os projetos já iniciados, ou recém-implantados, representam um acréscimo no consumo de madeira da ordem de 10 milhões m³/ano. Entre 2005 e 2007, houve um acréscimo de 10,1% na área plantada com eucalipto, o que totalizou, no final do ano passado, aproximadamente 3.750.000 hectares. Atualmente, ampliar e garantir a proteção florestal, por meio de uma maior integração entre o melhoramento genético e o manejo florestal, considerando diferentes condições edafoclimáticas e os riscos de mudanças climáticas globais, constituem-se nos maiores desafios da gestão das florestas plantadas. Existem várias definições para manejo integrado. Todavia, considerando os aspectos epidemiológicos das doenças e as características do processo produtivo florestal, podemos definir este conceito como sendo a adoção de medidas que, ao serem aplicadas de forma integrada, visam prevenir a ocorrência de doenças, por meio da eliminação das fontes de inóculo e da redução das condições favoráveis à incidência e ao desenvolvimento dos patógenos. O eucalipto, assim como as demais culturas que conhecemos, é hospedeiro de inúmeros patógenos, alguns dos quais são capazes de comprometer o crescimento, a qualidade das florestas e da madeira e, em condições específicas, causar a morte das plantas. A principal tecnologia adotada para o controle de doenças consiste na seleção e no plantio de materiais genéticos resistentes. A adoção desta estratégia permite minimizar o uso de agrotóxicos e o risco de perdas econômicas. Para alcançar estes objetivos, é fundamental integrar o programa de melhoramento genético com os estudos de proteção florestal. Além do uso da resistência genética, é importante adotar um sistema eficiente de monitoramento, visando detectar, rapidamente, os problemas e avaliar a eficiência das medidas de controle adotadas. É importante manter um bom nível de treinamento das equipes operacionais, bem como realizar a gestão do risco fitossanitário.

Neste último caso, todas as operações envolvidas na movimentação de potenciais veículos de dispersão de patógenos devem seguir procedimentos, com o objetivo de reduzir o risco de disseminação de doenças. O manejo integrado também deve ser adotado no viveiro. A produção de mudas, em função das condições ambientais exigidas para a propagação de plantas, é a fase mais crítica no manejo de doenças, considerando a necessidade de realizar o plantio somente com mudas sadias e de boa qualidade. Por este motivo, nesta fase do processo de produção, deve-se adotar uma ampla variedade de medidas, tais como: uso de matrizes sadias, preferencialmente micropropagadas, substrato e água livres de inóculos de patógenos, desinfestação de bandejas e tubetes, emprego de canteiros suspensos nos viveiros, controle da irrigação e outras medidas de manejo. Adotando-se estas estratégias de manejo integrado, minimiza-se o uso de agrotóxicos. Todavia, a utilização destes insumos pode se tornar indispensável em situações específicas, visando à obtenção de resultados economicamente sustentáveis. Nestes casos, é fundamental selecionar produtos químicos ou biológicos menos tóxicos, os quais devem ser empregados conforme a real necessidade de intervenção e de controle, considerando a tecnologia de aplicação e as características do sistema, compreendido entre planta, ambiente e agente patogênico, em cada etapa do processo produtivo. Considerando os futuros desafios da atividade florestal, é importante que as pesquisas considerem a necessidade de: conhecer o efeito potencial das mudanças climáticas; aumentar a segurança fitossanitária, considerando os riscos de novas doenças; e melhor uso da resistência genética e da biotecnologia, bem como os demais riscos inerentes da atividade florestal. Do ponto de vista estratégico, tais conhecimentos podem ser gerados através de pesquisas pré-competitivas, realizadas de forma cooperativa entre empresas florestais, universidades e institutos de pesquisa, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico, para a formação de profissionais e para a sustentabilidade do setor produtivo florestal.

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Proteção Florestal Ronaldo Viana Soares e Antonio Carlos Batista

Professores de Controle de Incêndio Florestal da UF-Paraná

Silvicultura preventiva: uma alternativa para o controle de incêndios As áreas de plantações florestais têm se expandido muito nas últimas décadas, impulsionadas pela demanda, cada vez maior, por produtos florestais. Essas extensas áreas estão sob contínuas ameaças de agentes causadores de danos, como pragas, doenças, estiagens, inundações e incêndios. A proteção florestal é, portanto, um dos mais importantes aspectos a ser tratado dentro das atividades silviculturais, considerando-se a proteção da planta em todas as fases de sua vida, até mesmo antes de serem plantadas, representando até 90% de toda atividade silvicultural. Depois do povoamento ter sido estabelecido, os incêndios florestais constituem-se na principal e mais freqüente ameaça, com potencial de destruição total de uma floresta, dependendo das características ambientais, da espécie em questão e do manejo adotado. A silvicultura preventiva é uma das formas de prevenção mais adotadas nas áreas de florestas plantadas em todo mundo, com o objetivo de reduzir o risco e os danos causados pelos incêndios. Silvicultura preventiva é o manejo de plantações florestais ou florestas nativas, com o propósito de modificar a estrutura do material combustível disponível, a fim de satisfazer os objetivos da proteção contra os incêndios, associando esta proteção ao melhoramento da produção e à qualidade do ambiente. O objetivo é modificar a estrutura da massa florestal, para dificultar a propagação do fogo, através da sua diversificação, da quebra da continuidade linear dos combustíveis no seu perímetro ao longo de estradas, divisores de água, assim como conservando ou favorecendo a alternância das espécies. A diversificação da massa florestal deve ser feita respeitando-se a paisagem e as características da região, assim como os habitats da vida silvestre nela incluídos.

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Todos os métodos de controle de incêndios estão baseados na eliminação ou redução de, pelo menos, um dos elementos do triângulo do fogo. Uma das formas mais efetivas de prevenir a ocorrência e propagação de incêndios é a atuação sobre os combustíveis florestais, alterando as características que favorecem a combustão, tais como quantidade, teor de umidade, continuidade, arranjo e compactação. O manejo do material combustível é, portanto, o ponto fundamental da silvicultura preventiva. Existem quatro maneiras básicas de modificação e tratamento de combustíveis florestais: Eliminação: consiste em eliminar o combustível presente na área ou alterar seu potencial de crescimento. Pode-se alcançar este propósito através de queima controlada ou uso de herbicidas; Reordenação: consiste na modificação da estrutura da vegetação no terreno, visando reduzir o risco de incêndio, através da alteração na continuidade horizontal ou vertical do combustível, por meio de podas e desbastes e redução do tamanho dos resíduos, para promover uma decomposição mais rápida; Translado: retirada do combustível da área para utilização como lenha e carvão ou simplesmente a sua eliminação; Conversão: modificação da cobertura vegetal do povoamento, mediante uso de espécies menos inflamáveis, intercalando espécies coníferas e folhosas, estabelecendo cortinas de vegetação com espécies que dificultem a propagação do fogo. Existem diversas técnicas ou procedimentos que podem ser usados no manejo dos combustíveis. A definição da técnica mais adequada a ser empregada vai depender das características da área florestal, da finalidade dos plantios e dos recursos disponíveis. As principais técnicas de manejo dos combustíveis nos cultivos florestais são: construção de aceiros, uso de herbicidas, manejo silvo pastoril, queima controlada, poda, desbaste, compactação, fragmentação e diversificação de vegetação. A construção e a manutenção de aceiros são as técnica mais conhecidas e adotadas nas plantações florestais. Entretanto, a diversificação da vegetação, alternando espécies de diferentes níveis de inflamabilidade, é uma técnica que vem demonstrando ótimos resultados na proteção contra os incêndios e também na melhora do habitat para a fauna silvestre. A adoção das técnicas de silvicultura preventiva em um povoamento florestal aumenta a margem de segurança contra a ocorrência e propagação de incêndios florestais, principalmente nas áreas de interface entre os plantios florestais e as áreas urbanas. Portanto, são importantes aliadas no planejamento da proteção contra incêndios. No entanto, por si só, não substituem um bom sistema de proteção, ou seja, as técnicas de silvicultura preventiva devem fazer parte do sistema e não o substituir.




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