Opiniões
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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, milho, sisal, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade ano 19 • número 71 • Divisão C • Fev-Abr 2022
o novo desenho
da produção da cana e do milho 1
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instruções IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG • First of all, before any action, please touch in the flag of your language. • Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue. • Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma. • Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache. • Para que obtenha o melhor aproveitamento dos recursos que a Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões pode lhe oferecer, solicitamos que assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao chegar no final, o video das instruções será iniciado novamente.
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Acervo: CerradinhoBio - Eduardo Penna
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EDITORIAL DE ABERTURA: 10. Haroldo José Torres da Silva, Pecege-USP ENTIDADES: 14. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, ABAG e Canaplan 16. Mário Campos Fº, Fórum Nac Sucroenergético e Siamig PRODUTORES: 18. Carlos Daniel Berro Filho, Raízen 22. José Olavo Bueno Vendramini, Tereos 26. Luís Gustavo de Almeida Nunes, Alta Mogiana CIENTISTAS: 28 Raffaella Rossetto, IAC/APTA/SAA 32. Hugo Bruno Correa Molinari, Embrapa Agroenergia 36. Danilo Eduardo Cursi e Luciana Chaves Castellani, CTC 40. Paulo Alexandre Monteiro Figueiredo, Unesp-Dracena 42. Raul Oswaldo Castillo, ISSCT e Cincae ESPECIALISTAS: 44. Marcos Fava Neves, FEA-USP-RP e EAESP/FGV-SP 48. Eduardo Marques Meneghetti, Basf - América Latina 50. Jaime Finguerut, ITC 52. Marco Antonio dos Santos, Rural Clima 54. Humberto César Carrara Neto, Consultor especialista 56. Valmir Barbosa, Datagro Alta Performance 58. Celso Albano de Carvalho, Pecege-USP
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Sua próxima viagem de carro Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista. Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, em espanhol, em francês e em alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições. É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir. ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO: 01. Haroldo José Torres da Silva, Pecege-USP 02. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, ABAG e Canaplan 03. Mário Campos Fº, Fórum Nac Sucroenergético e Siamig 04. Carlos Daniel Berro Filho, Raízen 05. José Olavo Bueno Vendramini, Tereos 06. Luís Gustavo de Almeida Nunes, Alta Mogiana 07. Raffaella Rossetto, IAC/APTA/SAA 08. Hugo Bruno Correa Molinari, Embrapa Agroenergia 09. Danilo Eduardo Cursi e Luciana Chaves Castellani, CTC 10. Paulo Alexandre Monteiro Figueiredo, Unesp-Dracena 11. Raul Oswaldo Castillo, ISSCT e Cincae 12. Marcos Fava Neves, FEA-USP-RP e EAESP/FGV-SP 13. Eduardo Marques Meneghetti, Basf - América Latina 14. Jaime Finguerut, ITC 15. Marco Antonio dos Santos, Rural Clima 16. Humberto César Carrara Neto, Consultor especialista 17. Valmir Barbosa, Datagro Alta Performance 18. Celso Albano de Carvalho, Pecege-USP
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Aqui não tem Agora também para adensamento de 4 ruas em espaçamento alternado.
www.fcntecnologia.com.br +55 19 99604-0736 • +55 19 98159-0609 Rua Antonio Frederico Ozanan, 2293 13417-160 - Piracicaba - SP
milagre, tem tecnologia ! O que pode ser mais agradável para um produtor do que ouvir a seguinte frase: " Você pode dobrar a sua produção e baixar seus custos pela metade " Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas. O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada para as duas ruas laterais. O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".
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Esta operação reduz o trabalho da colhedora pela metade, colocando o dobro da cana no elevador. Outra vantagem: para fazer o posicionamento de retorno, a colhedora passa a ter um raio de curva 3 vezes maior, reduzindo o número de manobras, o tempo, a complexidade dos movimentos e o pisoteio. Em função da sua produtividade, um "engordador " atende a duas colheitaderas. Assim, seu uso dobra ou triplica a massa de cana colhida. O CORT-I-CANA, copia o relevo do solo – independente da ação do operador – permitindo corte bem rasos, e auxilia na abertura de aceiros de colheita evitando o esmagamento da cana. O TCH limite para adensamento passa a depender da capabilidade da colhedora, pois a mesma passará a enfrentar um canavial com TCH dobrado. O uso de tratores com piloto automático facilitará sobremaneira a operação em áreas georeferenciadas. Temos agora também uma opção para o adensamento de 4 ruas em espaço alternado. O que você acha da ideia de ligar agora para a FCN e pedir uma visita? Se desejar se adiantar, solicite o envio de uma Planilha de Pay-back pelo e-mail Felix@fcntecnologia.com.br. Agora, aperte o botão do Play da página ao lado e assista ao vídeo que mostra a CORT-I-CANA em ação. Aguardamos seu contato.
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Índice
editorial de abertura
inflação de custos e o impacto na safra 21/22 1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO: A safra 21/22 apresentou movimentos antagônicos no que se refere à determinação da rentabilidade do setor sucroenergético. Por um lado, os preços dos produtos finais – nominalmente, açúcar, etanol e energia elétrica – atingiram os máximos patamares históricos. Por outro, os custos de produção foram pressionados pela conjunção de 5 grandes vetores: 1) escassez de oferta de insumos químicos agrícolas – fertilizantes e defensivos –, com fortes reflexos no custo de produção da matéria-prima; 2) ruptura nas cadeias de suprimento, com o colapso na logística global e forte pressão nos custos de movimentação de cargas; 3) condições climáticas desfavoráveis para a produtividade da cana-de-açúcar, em que pese a crise hídrica, a ocorrência de geadas e incêndios; 4) retomada da demanda de petróleo mais célere do que a oferta, o que culminou no aumento do preço de combustíveis e lubrificantes – pressionando o custo relacionado à mecanização agrícola; e 5) manutenção de uma taxa de câmbio desvalorizada. Ao mesmo tempo que o crescimento do preço do petróleo pressionou os custos do setor, ele também contribuiu para uma significativa recuperação do preço do etanol. Na esteira dessa elevação, o preço do açúcar no mercado internacional também foi favorecido, uma vez que a oferta potencial de açúcar por parte dos produtores brasileiros se reduziu, dada a destinação de parte relevante da matéria-prima para o biocombustível. Dessa forma, uma vez que a moeda brasileira permaneceu desvalorizada ao longo do ano
de 2021, a remuneração dos dois principais produtos do setor sucroenergético findou por elevar-se substancialmente. Nesse contexto, o objetivo deste documento é apresentar uma análise da safra 21/20 do setor sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil, com ênfase no custo de produção da cana-de-açúcar, além de apresentar uma visão sobre as tendências e perspectivas para a próxima safra (22/23). 2. DADOS E AMOSTRA: Os dados e estimativas de produção para a safra 21/22 são oriundos de Unica (2022), ao passo que os indicadores técnicos e de custos são derivados do “Levantamento de Custos de Produção de Cana-de-açúcar, Açúcar, Etanol e Bioeletricidade”, realizado pelo Pecege, no âmbito do Projeto “Compara Usinas”. A amostra contém informações de trinta e nove grupos econômicos, representando 80 unidades agroindustriais, tendo processado 192 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o equivalente a 37,1% do total da moagem dos estados analisados. 3.RESULTADOS: Produção e produtividade: A safra 21/22 na região Centro-Sul do Brasil foi marcada por dois movimentos que culminaram numa queda expressiva de moagem de cana-de-açúcar, quais sejam, 1) a diminuição de 10,3% na produtividade agrícola; e 2) a redução de 3% da área colhida de cana-de-açúcar, em que pese a competição com culturas anuais, especialmente, milho e soja. No que tange ao primeiro fator, destacaram-se os efeitos climáticos adversos da estiagem durante o ciclo produtivo, em especial a seca prolongada, com uma restrição hídrica severa, as baixas temperaturas
A safra 21/22 apresentou movimentos antagônicos no que se refere à determinação da rentabilidade do setor. Por um lado, os preços dos produtos atingiram os máximos patamares históricos. Por outro, os custos de produção foram pressionados pela conjunção de poderosos e negativos vetores. "
Haroldo José Torres da Silva Gestor de Projetos do Pecege-USP
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Coautoria: Beatriz Ferreira e Peterson Felipe Arias Santos, Analistas Econômicos do Pecege-USP
Opiniões registradas em junho e julho de 2021, com episódios de geadas em certas áreas de produção, sobretudo em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, além da ocorrência de incêndios intensos em várias áreas. Conjugando-se esses efeitos, a região Centro-Sul do Brasil deverá encerrar a safra 21/22 em 31 de março de 2022, com um processamento de cerca de 525 milhões de toneladas de cana, um volume 13,3% inferior ao da safra anterior. Adicionalmente, no que se refere à qualidade da cana-de-açúcar, ela sofreu um impacto menos severo, com queda de 1,5% ante o ciclo anterior. Congregando-se os efeitos da queda da produtividade agrícola (t/ha) (-10,3%) com os da qualidade da matéria-prima (kg de ATR/tonelada) (-1,5%), obteve-se uma produção de 9,76 toneladas de ATR/ha, na média da região Centro-Sul, resultando em uma redução de cerca de 12% ante a safra anterior. Dessa forma, indubitavelmente, a safra 21/22 foi marcada por eventos climáticos que impactaram a produção canavieira, resultando no menor nível de produtividade agrícola das últimas dez safras.
Produtividade Agrícola (t ATR/ha)
12,00 11,50 11,00 10,50 10,00 9,50 9,00 8,50 8,00
Toneladas de ATR/hectare
Idade Média
4,00 3,90 3,80 3,70 3,60 3,50 3,40 3,30 3,20 3,10 3,00
Idade Média (anos)
EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA MÉDIA NO CENTRO-SUL
*ATÉ JANEIRO/2022
Custos de produção da cana-de-açúcar: A expressiva queda na produção de ATR total pressionou, invariavelmente, o custo médio de produção do setor sucroenergético na safra 21/22. Dada a estrutura majoritariamente fixa da produção agrícola, a queda da produtividade implicou redução do efeito de escala. Além dessa dinâmica, outros vetores impactaram de forma significativa o custo agrícola, quais sejam, o preço do diesel, dos insumos agrícolas, do ATR e da mão de obra rurícola. Sobre eles, destacam-se os seguintes pontos: Preço do diesel: O preço do óleo diesel apresentou uma elevação de 25% na safra 21/22 comparativamente à anterior. A combinação da recuperação do preço internacional do petróleo e a manutenção da moeda brasileira desvalorizada ante o dólar pesaram na elevação expressiva dessa rubrica, impactando o custo das operações mecanizadas. Preço dos insumos agrícolas: Em um movimento global, os preços dos insumos agrícolas elevaram-se substancialmente ao longo de 2021, com
destaque para os fertilizantes. No Brasil, conjuntamente à moeda desvalorizada (fraqueza do real), a remuneração do setor de grãos incentivou seus produtores a anteciparem as aquisições destinadas à safra 21/22, resultando em aumentos abruptos dos preços dos fertilizantes, especialmente do fosfato, no primeiro trimestre de 2021. Na sequência, fatores exógenos influenciaram negativamente os preços do potássio e do nitrogênio, com destaque para as sanções econômicas à Belarus, dificultando o escoamento do cloreto de potássio (KCl), e eventos naturais extremos que alteraram a dinâmica da cadeia global de gás natural – um dos principais insumos para a produção de nitrogênio –, pressionando os preços da amônia e da ureia. Nesse sentido, nos portos brasileiros, os preços médios anuais da ureia, MAP e KCl teriam se elevado, respectivamente, 84,4%, 66,1% e 44,5% entre 2020 e 2021. Em função desse movimento ascendente nos preços dos fertilizantes sintéticos, os quais respondem por quase 50% do custo com os insumos agrícolas utilizados na manutenção do canavial, os produtores procuraram alternativas para minimizar esses impactos, em que pese a expansão da utilização de adubos orgânicos (por exemplo, esterco de bovinos e cama de frango). Em menor grau, os defensivos químicos também passaram por um processo de encarecimento em função de diversas restrições nas cadeias de produção, levando os produtores a expandir a utilização de insumos biológicos. Ainda assim, não foi possível escapar completamente do aumento de preços. Materializando essa situação, por exemplo, os tratos culturais de cana-soca apresentaram um aumento nominal de 35,2%, passando de R$ 31,92/t na safra 20/21 para R$ 43,17/t na safra 21/22 (veja a Tabela 2). Preço da mão de obra rurícola: além do reajuste anual dos salários, observou-se um importante efeito-substituição no setor. Dada a elevação da rubrica de maquinário – em especial, do diesel –, algumas usinas optaram por intensificar as operações realizadas por rurícolas, como o plantio e a catação manual. Preço do ATR: vis-à-vis a elevação do preço dos produtos finais do setor sucroenergético, nominalmente, açúcar ; e
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Índice
editorial de abertura
Opiniões
etanol, houve aumento do preço da matéria-prima. Considerando os dados do Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana-SP), o preço de fechamento do ATR na safra 20/21 foi de R$ 0,7783/kg de ATR. Em contrapartida, o preço acumulado até janeiro/22 foi de R$ 1,1957/kg de ATR, sinalizando um aumento de 53,6% no preço do ATR na safra 21/22 ante à anterior. Os altos valores de açúcar e etanol elevaram o preço da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, o qual atingiu o maior valor real das últimos dez safras, sendo adquirida pelas usinas a um preço de R$ 170,4/t, conforme pode ser verificado na Tabela 1. 1. COMPARATIVO CUSTO PRODUÇÃO CANA PRÓPRIA SAFRAS 20/21 e 21/22 • ATÉ JAN/22 • INCLUINDO CUSTO TERRA DESCRIÇÃO
R$/TON
US$/TON
20/21
21/22
Tratos Culturais de Cana-soca
31,92
43,17
5,90
8,04
Colheita-Transbordo-Transporte
27,73
34,66
5,13
6,46
Arrendamentos¹
18,79
30,76
3,47
5,73
Outros Custos Agrícolas²
20/21
21/22
1,06
1,34
0,20
0,25
Custo Operacional Efetivo (COE)
79,49
109,93
14,69
20,48
Depreciações³
26,35
36,44
4,87
6,79
105,84
146,37
19,57
27,26
7,24
8,43
1,34
1,57
113,08
154,80
20,90
28,83
Custo Operacional Total (COT) Remuneração do Capital Fixo Custo Total Agrícola (CT)
Além de pressionar o preço pago pela cana-de-açúcar comprada de terceiros, a elevação do preço do ATR impactou o custo do arrendamento de terras, o qual saltou de R$ 18,79/t na safra 20/21 para R$ 30,76/t na safra 21/22 (vide a Tabela 1). No que tange à última rubrica, ela também foi afetada pela elevação dos valores fixados nos contratos de arrendamento, em t/ha, em decorrência, principalmente, da competição por áreas com outras culturas, em especial o avanço de grãos sobre as áreas de cana-de-açúcar. 2. EVOLUÇÃO DO PREÇO PAGO PELA CANA-DE-AÇÚCAR EM SP POSTA ESTEIRA CONSECANA SECO•DEFLACIONADO IGP-M•ATÉ JAN/22 SAFRA
M-PRIMA
PREÇO
VALOR CANA
VALOR CANA
CONSECANA
NOMINAL
REAL
Bienio
kgATR/t
R$/kg ATR
R$/t
R$/t
12/13
135,57
0,4728
64,1
147,5
13/14
133,42
0,4572
61,0
130,8
14/15
136,44
0,4763
65,0
135,1
15/16
130,51
0,5552
72,5
135,0
16/17
133,03
0,6839
91,0
161,6
17/18
136,59
0,5901
80,6
142,9
18/19
137,87
0,5826
80,3
131,5
19/20
138,56
0,6579
91,2
139,7
20/21
144,71
0,7783
112,6
131,7
21/22
142,54
1,1957
170,4
170,4
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Adicionalmente aos impactos mencionados sobre o custo de produção, na área de manutenção automotiva, houve um incremento no preço de diversos itens, dentre eles, óleo lubrificante, acessórios/ peças e pneus, os quais apresentaram um aumento de 18,62%, 10,89% e 28,94%, respectivamente, em 2021, comparativamente ao ano anterior. Considerando esses aspectos, o custo total de produção da cana própria saltou de R$ 113,08/t na safra 20/21 para R$ 154,80/t na safra 21/22, representando um incremento de 36,9%, conforme destaca a Tabela 2. Trata-se de um aumento nominal expressivamente superior à inflação oficial acumulada em 2021, mensurada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), de 10,06%, evidenciando que o custo de produção de cana-de-açúcar aumentou mais que proporcionalmente o nível geral de preços da economia brasileira. O custo da cana própria na safra 21/22 foi de R$ 154,8/t, enquanto o preço pago pela cana de terceiros foi cerca de 10% superior (R$ 170,4/t), revertendo uma tendência da última década. Enquanto o aumento do preço do ATR divulgado pelo Consecana-SP representou um ganho de receita para os fornecedores de cana, sob a óptica das usinas implicou um aumento de custo. Dessa forma, na safra 21/22, as usinas com maior participação de cana própria foram capazes de capturar os preços recordes de açúcar e etanol com menor pressão de custos. Em outras palavras, a geração de caixa se beneficia, em momentos de preços elevados das commodities, tal como o atual, com destaque para as usinas com maior participação de cana própria. Por fim, o aumento contínuo dos custos no setor sucroenergético, ao iniciar um processo de redução das margens do setor, deve incentivar estratégias que já vinham sendo adotadas, especialmente após a pandemia de Covid-19. Investimentos em diversificação devem continuar a ser realizados pelas usinas sucroenergéticas, aproveitando-se do caixa gerado em função dos preços, buscando garantir melhor rentabilidade da atividade no futuro. Por outro lado, deve ser notado que a capacidade de financiamento do setor deve se reduzir em meio à alta das taxas de juros no Brasil. n
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Índice
entidades
irrigação de cana-de-açúcar: “Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade.” Sêneca Quando se pensa em investimento, vem logo a preocupação com endividamento e com anos passados. Há dez anos, André Lara Resende escreveu que “a alavancagem excessiva, o abuso do crédito, é provavelmente a forma mais evidente de turbinar a demanda. Quase todas as políticas teoricamente questionáveis, mas que resistem, no tempo e em toda parte, ao ataque da racionalidade, podem ser entendidas como tentativas veladas de estimular a demanda”. O agronegócio canavieiro passou 60 anos sob forte intervenção do governo, via IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool, autarquia federal que nasceu com Getúlio Vargas. A fala de André serve ao pesado financiamento pelo IAA para a modernização do setor, que não se tornou crise à face da criação do Proálcool, no início da década de 1970, assim como dos financiamentos, já sem a intervenção de governo, na década de 2000, com a forte subida dos preços de energia no mundo, a valorização das energias renováveis e o lançamento dos veículos flexíveis. Muitos se endividaram com o retorno, no Governo Dilma, da intervenção na área de combustíveis, congelando os preços da gasolina e prejudicando o etanol de maneira inaceitável.
imagine uma nova região, com bons solos e topografia e com água disponível e logística, com irrigação full, produzindo 130 t/ha e 140 kg ATR/t cana em um raio médio de 20 km e 10 cortes como média. Seriam mais de 18 t de ATR/ha.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Presidente da ABAG e Diretor da Canaplan
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um novo tempo
2020 foi o primeiro ano da lei para biocombustíveis no Brasil – RenovaBio (aprovado no governo Temer) –, na esteira global do processo de descarbonização, onde o carbono passa a ser outra variável no processo produtivo setorial. Além de ter que realizar elevada produtividade e um canavial longevo, somam-se à qualidade da cana-de açúcar os feitos da redução das emissões de carbono na produção do etanol, entre outros biocombustíveis, que gera prêmio. Pela lei federal, tem-se metas decenais avaliadas a cada ano, permitindo maior segurança nos investimentos, em ritmo de transparência e equilíbrio na demanda dos biocombustíveis no tempo. Uma das razões da relevância do Brasil no novo contexto do século XXI é sua reserva de terra ainda agriculturável, através de processos de recuperação de solos degradados e, importante, sem desmatamento ilegal. Esse potencial de ampliação da área plantada é bastante significativo, mas, deve-se citar, com uso de moderna tecnologia que enfrentará as variações de clima. Também nossa capacidade de inovação no campo se tornou um ativo que estimula o investimento nas atividades do agronegócio brasileiro. Houve o sucesso da domesticação do cerrado, seguido pelo sistema de plantio direto na palha, agora somada à iLPF.
Opiniões A cana-de-açúcar saiu das regiões tradicionais e expandiu sua presença em novas áreas onde sofre com as variações do clima. Mesmo resiliente, tem sofrido reveses de seca, com geadas e incêndios. Um olhar aos limites físicos das áreas brasileiras, somando conhecidos déficits hídricos nas áreas produtivas, imediatamente traz componentes importantes ao futuro setorial: 1. É fundamental ter a confiança do consumidor brasileiro no etanol, o que pressupõe menor volatilidade de oferta do produto a cada safra. 2. É preciso, portanto, ter um sistema produtivo que seja “antiquebra” de produtividade, com estabilidade da oferta. 3. Um processo produtivo qualificado, de baixa emissão de CO2 e uso atento da tecnologia já dominada em países que cultivam a cana-de-açúcar. Esses aspectos citados impõem a um país continental como o Brasil uma melhor logística e avaliação de ações públicas essenciais a atrair os investimentos que visem à estabilidade com elevada produtividade, em novas áreas produtivas. As regiões que se vêem com muito potencial, até pela qualidade dos solos, com raras exceções, são áreas que mostrarão déficits à cultura canavieira, que demanda água para boa resposta produtiva por um longo período. Como dito por Sêneca, “sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”. A irrigação emerge como a tecnologia que se espraiará pelos canaviais futuros, com elevadas produtividades em longevidade e com enorme potencial de redução das emissões de CO2 e de prover estabilidade da oferta. E o que se pode falar dessa estratégia ao setor? Uma primeira constatação, na crítica de André Resende, é que o estímulo à demanda já está dada via lei. O que se deve buscar é produtividade, qualidade e longevidade, com prêmio por menores emissões. Outra constatação é que será preciso romper os limites das regiões tradicionais, com tecnologias que entreguem o potencial produtivo que dê sustentabilidade aos investimentos. Enquanto nas áreas tradicionais se tem resultados muito interessantes com a irrigação, mas ainda em escala menor, em regiões secas no Centro-Sul, em campos com cana irrigada, a produtividade é bastante elevada, o que gera confiança. As questões que envolvem a irrigação indicam ruptura com o modelo tradicional de produzir. Exemplos como os da Usina Bevap, em Minas Gerais, assim como os da área canavieira de Juazeiro/Petrolina, são extremamente favoráveis em termos de produtividade e da estabilidade da oferta de canas.
Também, como função da produtividade, há nítida redução de emissões de CO2. Há uma postura nas regiões canavieiras tradicionais de que a irrigação significa investimentos bem maiores e, em anos mais chuvosos, menores diferenças de resultados em relação às áreas de sequeiro. O problema é que, nos últimos anos, há alguns fatos: • seca em 3 safras seguidas; • dificuldades, por seca, de plantio da cana de 18 meses; • quebras pronunciadas de produtividade; • envelhecimento do canavial; • dificuldade em ter mudas qualificadas. Como olhar o futuro, em convite de expansão da cana? Nesse caso, a algumas condições cabem comentários: • A existência de fonte de água e a aprovação de outorga são essenciais; • Pequenas áreas represadas ajudam, assim como o sistema de irrigação a ser utilizado. Quanto menores as perdas de água, mais eficaz o modelo; quanto menor o volume de água convertido em maior volume de canas, melhor; • Quanto mais integrados o sistema e o uso de insumos, melhor. Outro aspecto a evoluir nas relações comerciais entre as empresas de irrigação e os produtores de cana diz respeito à forma de negociação: é somente investimento (CAPEX) ou se pode ter um sistema de leasing dos equipamentos? Seja o que for esse desenvolvimento, é preciso estar preparado para as oportunidades que surgirão ao Brasil no campo dos biocombustíveis, que requerem escala. Agora, em clara sinergia com leguminosas e milho, o potencial é, de fato, enorme. Imagine-se uma unidade que inicie o seu processo de irrigação como de “salvação” para aprender esse novo mundo; em seguida, complementar, com mais lâminas de água. Somente nesse caso, a produtividade é de 3 dígitos, com uma longevidade de 7 a 8 cortes. Agora, imagine uma nova região, com bons solos e topografia e com água disponível e logística, com irrigação full, produzindo 130 t/ha e 140 kg ATR/t cana em um raio médio de 20 km e 10 cortes como média. Seriam mais de 18 t de ATR/ha. Esse novo tempo já começou, a bordo dos novos trilhos de trens, do capital externo em parceria com o nacional, gerando emprego, renda e balança comercial ao Brasil. É fundamental preparar-se para essa nova fase quando se olha para as metas (2031) do RenovaBio. n
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entidades
a arte de driblar as
adversidades extremas
Seca severa, geada brusca e grande quantidade de incêndios no Brasil. Chuvas “mortais” na Europa e inundações “relâmpagos” nos Estados Unidos. Fenômenos extremos já são percebidos em todo o mundo e são fortemente creditados pelos cientistas às mudanças climáticas. E, se tem um dos setores mais atingidos por esse “caos” climático da natureza, é a agricultura, que tem arcado com perdas de lavoura, aumento no custo de produção e necessitado de investimentos para controlar e prevenir danos ainda maiores. O setor sucroenergético sentiu, drasticamente, no ano passado, o que os extremos climáticos podem provocar na produção e, hoje, carrega um custo muito mais pesado e tem que implementar medidas de recuperação e prevenção a prováveis riscos ambientais no futuro. A seca prejudicou o desenvolvimento dos canaviais; as geadas agravaram o estado da cana que estava para ser colhida e principalmente as rebrotas, além de intensificar a propagação do fogo nos meses de agosto e setembro de 2021, afetando grandes áreas plantadas, com impacto nas próximas safras. Nesse cenário complexo, com menor quantidade de cana, a oferta de etanol ficou bem restrita comparada à safra 20/21, ocasionando uma forte queda do share do biocombustível no mercado nacional. De outro lado, isso contribuiu para que o produto tivesse bons preços na usina, com uma alta no preço médio nos 12 meses de 61,5% em comparação ao ano de 2020. O preço do açúcar no mercado
O crescimento da moagem de cana se reverterá numa produção que poderá chegar a 5 bilhões de litros de etanol, a 6 milhões de toneladas de açúcar e a 6 milhões de MWh, o que abastecerá 2,2 milhões de habitantes, mais de 10% da população de MG "
Mário Campos Filho Presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e da Siamig - Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG
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internacional bateu recordes em reais, puxado por uma soma de fatores, como da recuperação do preço em dólar, juntamente com a moeda nacional, mais desvalorizada. No mercado de energia, em função da severa seca, também foi possível verificar uma valorização dos preços, contudo nem todas as usinas conseguiram se beneficiar, devido à redução da biomassa disponível.
Opiniões Os produtores não puderam, porém, comemorar os preços melhores para seus produtos na atual safra, pois enfrentam uma das maiores altas dos custos de produção nos últimos anos, principalmente de fertilizantes, defensivos, diesel, maquinário e peças de reposição, acentuados, neste momento, pelo grande aumento da taxa de juros básica da economia, elevando o custo do dinheiro para capital de giro e financiamento. Os efeitos da pandemia, como a desorganização das cadeias de suprimento, o aumento da inflação e a alta do dólar, impactaram também, fortemente, os preços dos insumos, além de tornar alguns deles escassos. Nas rodas do setor, as conversas sobre o preço dos insumos ficaram muito comuns em 2021. Talvez, o maior exemplo seja do ácido sulfúrico usado na produção de etanol, cujos valores explodiram. Mas não foi o único, o efeito foi generalizado. A partir de abril, quando os balanços das empresas começarem a ser publicados, teremos uma visão mais clara de quem foi o ganhador na safra 21/22: se foi a alta do preço dos produtos ou a alta dos custos. Ficam, portanto, os aprendizados e a necessidade de olhar para frente. O primeiro desafio é recuperar o canavial. As chuvas, até o momento, se mostraram adequadas para o bom desenvolvimento da cana, mas os problemas enfrentados em 2021 ainda permanecerão nos próximos anos. A sequência de seca, geada e incêndios deixou muitas áreas com falhas e com atraso de desenvolvimento, sendo que muitas delas já foram replantadas, ou precisarão ser reformadas mais cedo. A mesma chuva que ajudou as áreas de cana, até agora, atrasou o cronograma de plantio, pressionando ainda mais o calendário do setor. O início da safra 22/23 está sendo muito discutido, com forte tendência de ser mais tardio. Outros desafios a serem enfrentados é na prevenção de riscos, como os investimentos na irrigação, seja de salvamento ou plena para o período mais seco. Apesar de tudo, a expectativa é de uma recuperação da moagem na safra 22/23, mas não alcançando, ainda, o recorde de 2020. Com a melhoria da condição financeira, o produtor deve olhar para todas essas medidas visando ao aumento da produtividade, de uma forma diferenciada para cada usina, de acordo com suas peculiaridades. Se tirarmos também o efeito climático, os resultados do canavial ao longo dos últimos anos estão progressivamente melhorando de forma generalizada pelo País. A manutenção da política de preços para derivados de petróleo no Brasil, o RenovaBio, as discussões sobre o futuro da mobilidade
sustentável no País, somadas aos grandes resultados do combate às reduções de subsídios ao açúcar em países concorrentes, têm gerado um ambiente positivo para investimento no setor. Minas Gerais, por exemplo, foi um dos estados mais atingidos pelos “extremos do clima” no ano passado, principalmente com os episódios de geada nas áreas de cana do Triângulo Mineiro, deixando um grande rastro de destruição. Com isso, mesmo apresentando um aumento da área de moagem em 2021, com potencial de 72,3 milhões de toneladas de cana, a safra mineira 21/22 não deverá passar dos 64 milhões de toneladas. Mas, com ganhos melhores no ano passado, os produtores mineiros se mostram otimistas com o futuro do setor e apresentaram, no final do ano de 2021, um plano de investimentos para o governador do estado, Romeu Zema. O grande desafio, hoje, é ter cana, e, para isso, o estado contará com forte investimento no aumento da área plantada e crescimento na produtividade, com investimentos anunciados de R$ 6 bilhões nos próximos oito anos. Até lá, a expectativa é se tornar o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, chegando a moer cerca de 95 milhões de toneladas/safra. O crescimento da moagem de cana se reverterá numa produção maior de etanol e açúcar, podendo chegar a 5 bilhões de litros de etanol e a 6 milhões de toneladas de açúcar. Além disso, a geração de energia tem um potencial de dobrar, alcançando os 6 milhões de MWh, o que daria para abastecer 2,2 milhões de habitantes, mais de 10% do total da população de Minas Gerais. A geração de novos empregos diretos e indiretos poderia alcançar 58 mil, que se somariam aos 167 mil atuais. Há também um grande potencial de produção de biogás/biometano, com investimentos que já estão sendo analisados no estado. A agricultura tem que mostrar seu valor, pois é um dos mais importantes setores da economia e influência, decisivamente, o desenvolvimento dos países. É preciso dar todo o apoio e valorizar esse segmento, um dos mais atingidos pela mudança climática e que se têm mostrado resiliente no drible desse fenômeno. Cada um tem que fazer a sua parte para conter esses extremos, contribuindo com o uso de produtos menos poluentes e sistemas mais sustentáveis. No Brasil, o consumidor já encontra disponível na bomba dos postos o etanol, biocombustível limpo e renovável, e poderá contar, num futuro próximo, com mais disponibilidade da energia verde. Não podemos desanimar frente às dificuldades, e o setor sucroenergético continuará dando sua grande contribuição ao desenvolvimento socioeconômico do Brasil, com sustentabilidade. n
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produtores
Opiniões
o novo desenho da produção da
cana-de-açúcar
O clima tem sido um fator bastante desafiador para a agricultura brasileira. Em algumas regiões, como Sudeste, Centro-Oeste e Matopiba, temos visto chuvas abundantes, onde o excesso de água chega a comprometer a produção. Ao mesmo tempo, outras localidades, como a região Sul, enfrentam a maior estiagem de sua história recente. Além do desafio climático, também estamos tendo que lidar com o retorno da inflação, a volatilidade do câmbio e a crise dos fertilizantes, que tem preocupado os produtores rurais de norte a sul do País. Em meio a tantas incertezas, acredito que precisamos focar em soluções que permitam impulsionar a inovação, potencializando novas oportunidades de crescimento e melhoria do agronegócio nacional. Pensando no setor sucroenergético e em estratégias que podem nos ajudar a projetar esse novo desenho da produção da cana-de-açúcar no Brasil, pretendo elencar w
a lavoura escolhida para testes da tecnologia de gotejo segue produtiva até os dias de hoje – estando atualmente em seu oitavo corte, entregando 30 a 40 toneladas a mais do que as áreas de sequeiro vizinhas. "
Carlos Daniel Berro Filho Diretor de Desenvolvimento Agronômico da Raízen
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aqui um conjunto de ações que têm contribuído para que a Raízen e seus parceiros produzam mais e melhor. Tenho certeza de que essas iniciativas podem servir de exemplo e contribuir para o desenvolvimento da agroindústria como um todo. Em primeiro lugar, considero que uma das práticas que têm feito muita diferença para nós, principalmente nos últimos anos, é o investimento no segmento de biológicos. As bactérias, utilizadas nos tratos culturais e no plantio da cana, têm potencial de substituir alguns defensivos agrícolas e colaboram, dessa maneira, para a economia de insumos e a ampliação da produtividade. Isso acontece tanto em toneladas de cana por hectare (TCH) quanto açúcar total recuperável (ATR) – medidas de produtividade e de qualidade da cana e sua capacidade na geração de subprodutos, respectivamente, além de levar mais sustentabilidade para os canaviais. ;
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produtores Significa dizer que o uso de ferramentas biológicas de manejo tem nos proporcionado um controle mais efetivo dos canaviais, com interferências químicas em menores proporções e, ainda assim, com mais eficiência no combate às pragas. A criação do CIA – Centro de Inteligência Agrícola – que acompanha os processos produtivos do plantio, o preparo de solo e colheita, o transporte de pessoas, o abastecimento de combustível dos equipamentos no campo e a manutenção automotiva – também se mostrou fundamental para uma gestão agrícola de excelência. Inicialmente, nós focávamos os trabalhos da central no corte, carregamento e transporte de cana (CCT), com a programação automática de caminhões da frota e o rastreamento, em tempo real, dos equipamentos. Com o passar do tempo, identificamos a necessidade de padronizar operações e apoiar o campo nas operações de plantio, preparo de solo, manutenção e monitoramento das ocorrências de incêndios nos canaviais. Na última safra, passamos a atuar em conjunto com a CCO – Central de Controle Operacional, responsável por receber dados de telemetria e informações de sensores de fadiga, fortalecendo o pilar de segurança da companhia. Essa atuação possibilitou aplicar ações corretivas, preventivas e preditivas da frota, como excesso de velocidade, controle de fadiga, entre outros. Com isso, desenvolvemos uma comunicação ativa entre as frentes de campo, pátio, balança, manutenção e transporte, garantindo maior eficiência e produtividade no gerenciamento das operações. Outra frente que tem ganhado destaque, tanto no mercado quanto na companhia, é a economia circular. Nos últimos anos, a Raízen tem investido fortemente na produção de energia por meio de fontes limpas e renováveis, como o bagaço de cana e outros resíduos da produção. Como é o caso do etanol de segunda geração (E2G), do biogás e da biomassa. Vale destacar ainda que o subproduto do processo produtivo da cana, a vinhaça, é utilizada como fertilizante em nossas áreas plantadas. Esse tipo de adubação orgânica é excelente, pois permite o reaproveitamento dos nossos resíduos e ainda garante a melhor adubação para o nosso canavial. Um caminho que também temos seguido é o de redobrar os cuidados com a nossa operação. Então, estamos aprimorando continuamente o controle de tráfego de equipamentos, para não sofrermos com questões relacionadas a pisoteio no canavial, a fim de que ele tenha
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Opiniões longevidade e não tenhamos que reformá-lo com uma frequência muito alta. Nesse sentido, o uso de GPS e a automação têm sido fundamentais. Importante mencionar ainda que, atualmente, mais de 700 mil hectares da Raízen contam com tecnologia de sensoriamento remoto, com drones que fazem o mapeamento do solo e auxiliam no manejo mais assertivo dos canaviais. Os equipamentos são responsáveis por fazer o mapeamento topográfico e o levantamento de falhas na brotação dos canaviais, ou seja, identificam quais acidentes no relevo impactam a produtividade, além de indicar as áreas que necessitam de mais cuidados, principalmente no que diz respeito ao controle de plantas daninhas. Mais uma das apostas da Raízen, principalmente em regiões de alto déficit hídrico, tem sido a adoção de sistemas de irrigação. O primeiro projeto foi implantado em 2013, na unidade Gasa, localizada em Andradina, noroeste do estado de São Paulo. Devido às severas estiagens que assolam a região, os canaviais desse munícipio geralmente permitem colheitas apenas até o quinto ano. Após esse período, a baixa produtividade torna inviável o prolongamento dos cortes. No entanto, a lavoura escolhida para testes da tecnologia de gotejo segue produtiva até os dias de hoje – estando atualmente em seu oitavo corte. Inclusive, esse canavial vem entregando 30 a 40 toneladas a mais do que as áreas de sequeiro vizinhas. Outra vantagem dessa ferramenta é a possibilidade de aplicar insumos também via sistema de gotejo. Atualmente, fertilizantes, insumos e vinhaça são aplicados utilizando a mesma estrutura da irrigação, acarretando redução nos custos dos tratos culturais. Por fim, vale mencionar uma outra iniciativa que foi desenvolvida para garantir otimização energética e aprimoramento operacional. Com o auxílio do projeto Controle Avançado, que é uma ferramenta de inteligência artificial, conseguimos aumentar a eficiência industrial em diversas variáveis de entrada e saída do processo produtivo de cada uma das unidades. A solução permite prever e agir na melhoria e na estabilidade da operação, considerando aspectos técnicos e balanço de massa e energia. Dessa forma, a ferramenta contribui para ganho potencial de açúcar e biomassa e aprimoramento do controle das caldeiras e dos turbogeradores. O software ainda simula o comportamento da planta para prever e agir na otimização da operação, considerando aspectos econômicos, técnicos, limitações de equipamentos, segurança e qualidade. n
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produtores
a nova dinâmica de produção de cana Dentro dos processos produtivos de cana-de-açúcar, existem áreas que possibilitam obter um maior resultado partindo de uma mesma quantidade de recursos investidos, dentro de um contexto de esforço e retorno. Aqui, destaco alguns tópicos de extrema relevância, como a qualidade nas operações agrícolas, o manejo varietal e as ferramentas de Big Data e a inteligência analítica. Esse último item, além de possuir impacto direto nos outros pontos citados, funciona como uma alavanca com grande valor de contribuição para o negócio e com um potencial ainda ilimitado. Qualidade de operações agrícolas: A segmentação das operações agrícolas é indispensável no processo de criação de equipes com alto grau de especialização e conhecimento em suas atividades, considerando as particularidades e as características de cada processo. Como exemplo, podemos citar as especificações de um processo de preparo de solo (velocidade de trabalho, umidade do solo, potência de tratores e regulagem de implementos) comparadas com os detalhes de uma operação de plantio mecanizado de cana (viabilidade e quantidade da muda, produtos e vazão de defensivos da cobrição, entre outros). Essa segmentação e alta especialização das equipes em seus processos, entretanto, gera um novo desafio: muitas vezes, as áreas não se enxergam dentro de um ciclo maior de atividades, onde o resultado de um processo está diretamente relacionado ao sucesso do processo subsequente, como é o caso, por exemplo, do impacto direto do preparo de solo na performance do plantio mecanizado. Nesse contexto, entra a qualidade agrícola, que possui a visão do processo de produção de cana como
já ficou claro que um time operacional capacitado, engajado e comprometido é o principal fator de sucesso relacionado à captura do potencial de qualquer nova tecnologia e inovação. "
José Olavo Bueno Vendramini Gerente de Desenvolvimento e Tecnologia Agrícola da Tereos
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um todo e é capaz de avaliar se uma operação apresentou uma performance condizente com o resultado agrícola esperado, por meio de métricas e metodologias claras e bem definidas. Ainda dentro da qualidade, destacamos a ampliação do escopo dessa área. O setor já possui um histórico de utilização de parâmetros de qualidade em plantio e colheita, que, de fato, são atividades-chave no resultado do negócio. Entretanto, a atuação da qualidade nos demais processos, desde o preparo de solo, quebra lombo, cultivo, aplicação de corretivos e composto e pulverizações, por exemplo, é um passo extra na busca por melhores resultados dentro de uma visão total do processo de produção de cana. Manejo varietal: Muitas vezes, observa-se um certo saudosismo em relação às variedades que já foram referência para o setor, agregando valor em produtividade, sanidade e performance de maneira geral. Contudo, é fundamental salientar que o nosso processo passou por uma série de mudanças, desde a mecanização, a expansão para ambientes restritivos, o aumento na janela de plantio, o novo complexo de pragas e doenças, entre outros.
Opiniões Dessa forma, é clara a necessidade de adoção de novos materiais, mais modernos e selecionados para o novo contexto, que possuam uma genética com maior potencial de performance nesse modelo de produção. No entanto, devido a suas particularidades de multiplicação e expansão, a cana dificulta a ampliação dessas novas variedades. Então, se faz indispensável a proximidade. Essa proximidade se dá desde a relação com as instituições de melhoramento genético para identificação, posicionamento e entendimento de variedades promissoras, bem como com a operação, fornecendo inputs quanto ao maior potencial e posicionamento desses novos materiais. Também contempla a formação de viveiros de alta sanidade e logisticamente condizentes com a regionalização das áreas. A proximidade para mostrar que o esforço aplicado na aceleração de materiais promissores é um compromisso de longo prazo, mas que trará retornos certos. Big data e inteligência analítica: As áreas de Big Data e inteligência analítica contribuem com interpretações direcionadas ao negócio sob diversos ângulos. Um exemplo é o da análise dos dados da qualidade agrícola, que permite mensurações e análises quantitativas de algo que, muitas vezes, era avaliado apenas qualitativamente,
deixando claro o impacto de uma operação realizada fora de padrões desejados. Outro caso é a avaliação do resultado de um censo varietal diversificado em diferentes ambientes, épocas de colheita e manejos, reforçando, com números e dados dotados de rigor estatístico, o potencial dos ganhos pelo uso de materiais com uma genética moderna. Além de possibilitar a análise e a criação de regras de negócio e cenários baseados no grande banco de dados à disposição das usinas, os dados permitem realizar planejamentos que abrangem diversos elementos. A caracterização das áreas quanto ao ambiente de produção, aos parâmetros climáticos, à produtividade, aos levantamentos populacionais de pragas, às análises físico-químicas de solos e aos relatórios de insumos até as operações agrícolas são alguns exemplos de possibilidades. Por fim, além do comprometimento e da confiança em relação aos processos e às ferramentas tidos como chave, é sempre importante destacar o papel das pessoas nesse fluxo. Além daqueles envolvidos diretamente nas atividades, é necessário promover o desenvolvimento das equipes como um todo, por meio de orientação e capacitação. Afinal, já ficou claro que um time operacional capacitado, engajado e comprometido é o principal fator de sucesso relacionado à captura do potencial de qualquer nova tecnologia e inovação. n
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produtores
o manejo “pré-seca” O cenário produtivo de cana-de-açúcar está constantemente em evolução, e a verticalização da produtividade é o foco dos produtores da cultura. Observamos que a agricultura simples aliada a potentes ferramentas tecnológicas contribuíram para a melhora significativa da produtividade nos últimos anos. Não menos importante, é o contato diário do técnico com a lavoura, uma vez que ele é ainda a maior fonte de informação para a melhor tomada de decisão e/ou ajuste de manejo nesse complexo sistema de produção. O preparo de solo e suas correções nutricionais, a rotação de cultura, a seleção e a alocação adequada da variedade de acordo com o ambiente de produção, a implantação da lavoura através de um excelente plantio, as estratégias ajustadas no manejo de plantas daninhas e os controles de pragas e doenças geram grande consumo de energia das equipes de planejamento e de execução das diversas atividades relacionadas ao cultivo de cana-de-açúcar. Boas práticas visando à ação de manejo a cada estágio de desenvolvimento da cultura tornaram-se comuns por meio de novos estudos de excelentes fisiologistas presentes nas instituições de ensino. Com todos esses fatores citados e executados com sucesso e muito capricho, há ainda o fator clima sendo protagonista dessa história, principalmente nos últimos anos, que nos fez estudar para desenvolver a busca de novas alternativas.
O Centro-Sul do Brasil é considerado um grande polo produtor de açúcar, etanol e energia, iniciando a colheita de cana-de-açúcar ocasionalmente entre os meses de março e abril e estendendo-se até meados de dezembro, de forma a garantir o máximo aproveitamento da janela climática. Pensando em qualidade de matéria-prima e operacionalização da mecanização, os meses de início e final de colheita ocasionam desconforto devido às condições de umidade do solo. Já nos meses do meio de safra, dispomos de condições perfeitas para execução da colheita e de maiores concentrações de açúcares, entretanto enfrentamos condições de intenso estresse hídrico. Assim, os dois principais desafios para otimização de uma safra de cana-de-açúcar são: 1. Iniciar e finalizar com uma matéria-prima contendo indicadores de açúcares (TPH) interessantes, o que é possível principalmente com o uso de maturadores químicos e/ou nutricionais nas janelas de meses com umidade no solo. 2. Atravessar o período de estiagem, com manutenção da produtividade (TCH), sendo este o principal e mais desafiador, que nos instiga a criar estratégias para mitigação dessa perda, que pode ser de até 20% (mesmo corte colhido em abril versus setembro) em anos de estresses hídricos mais expressivos. Dessa maneira, visando amenizar esses problemas, as pesquisas e os estudos contínuos da fisiologia e da morfologia da planta estão demonstrando um caminho bastante promissor,
nessa época, como mecanismo de defesa, a planta fecha os estômatos para minimizar a sua perda de água e as trocas gasosas com o ambiente e busca aprofundar o sistema radicular à procura de melhores condições de umidade para se manter ativa "
Luís Gustavo de Almeida Nunes Gerente de Desenvolvimento Agrícola da Alta Mogiana
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Opiniões pois condições ambientais desfavoráveis permitem que a planta altere seu metabolismo, reduzindo perdas e se preparando para passar esse período estressante (seca definida de maio a setembro), no qual o solo terá condição limitada de água armazenada. Nesse contexto, o conceito pré-seca, staygreen ou folha mais verde, destaca-se como uma importante ferramenta para minimizar a redução de produtividade, onde as principais aplicações são à base de potássio, fósforo, magnésio e aminoácidos, realizadas próximas da última chuva de outono – historicamente, na segunda quinzena do mês de maio em nossa região. Morfologicamente, nessa época, como mecanismo de defesa, a planta fecha os estômatos para minimizar a sua perda de água e as trocas gasosas com o ambiente, reduzindo o consumo energético, sendo esta uma das principais formas de manter as células hidratadas por um maior período e, consequentemente, um equilíbrio metabólico para manter as demandas de que precisa para passar a condição em que ela se encontra, mesmo que esse metabolismo não esteja no auge. Automaticamente, a planta tem um gasto energético mínimo e busca aprofundar o sistema radicular à procura de melhores condições de umidade para se manter ativa, com espessamento da parede celular e enrolamento de folhas e ferramentas morfológicas para retenção de líquidos. Nos aspectos fisiológicos, há toda uma síntese, tanto de aminoácidos, açúcares, entre outros. Toda vez que citamos as condições de estresse, a prolina e o glutamato são aminoácidos importantíssimos para esse período, facilmente encontrados em fontes de aminoácidos disponíveis no mercado. Além de toda a atividade antioxidante de enzima oxidante, estão a superóxido dismutase, a catalase e a peroxidase, que são enzimas que a planta sintetiza para amenizar o efeito de radicais livres, que acaba sendo tóxico para o desenvolvimento. Quando ela entra nesse período de estresse, naturalmente e até em uma tentativa de sobreviver, começam a ser sintetizados radicais livres, e, automaticamente, a planta precisa produzir enzimas que os degradam, daí a importância de entrar com estímulos, principalmente dos aminoácidos, que são precursores de boa parte dessas enzimas antioxidantes. Essa é a razão de a formulação conter aminoácidos em sua composição, nesse manejo de manutenção das folhas verdes.
O manejo deve fornecer os elementos necessários que participam de forma muito direta de todos esses processos fisiológicos, subsidiando, como se fosse uma matéria-prima, para que a planta tenha condições de trabalhar esses nutrientes e, assim, desenvolva todas suas atividades enzimáticas. Ainda, destacamos a função de alguns importantes elementos nesse conceito “folha verde”, como o fósforo (P), que atua no transporte de energia ATP. Com as condições hídricas inadequadas, esse transporte passa a ser limitado, provocando uma desarmonia hormonal, reduzindo a concentração de oxina na planta, de forma que se sobressaiam outros hormônios, principalmente o ácido abscísico, que sinaliza para a planta que os estômatos devem permanecer fechados. Outro importante elemento que podemos destacar é o potássio (K): além de ser responsável pelo transporte de carboidrato na planta, está ligado diretamente à atividade estomática dela, interferindo na taxa fotossintética. Entretanto, isso ocorre naturalmente em qualquer espécie vegetal, portanto a proposta é desenvolver na cana-de-açúcar, onde o potássio tem o objetivo de manter túrgidas as células-guarda nos estômatos, locais em que ocorrem todas as trocas gasosas para manter a turgidez dessas células-guarda e manter os estômatos abertos. E há, ainda, o magnésio (Mg), componente da clorofila, molécula imprescindível para realizar a fotossíntese, estimulando a planta com um elemento que compõe a molécula, participando diretamente em uma maior taxa fotossintética, principalmente para as folhas mais jovens e que tendem a permanecer mais ativas. Aminoácidos, sinais metabólicos, atividade fisiológica, sínteses hormonais e até mesmo atividade enzimática que passa a ser alta, principalmente as enzimas, possuem um papel de processo de desintoxicação ou antioxidação na planta para fornecer condições para essas células terem uma planta viva nesse período. Em suma, a normalidade climática da safra, por si só, nos traz muitos obstáculos para garantir a produtividade, a longevidade e a lucratividade do canavial, e, quando se somam a isso as frequentes incertezas climáticas, nosso papel como profissional do campo é ainda mais desafiador. Por isso, o constante aprendizado via experiências diversas e a implantação de novas estratégias em nosso dia a dia, em conjunto com o famoso “arroz com feijão”, são ferramentas infalíveis no aprimoramento e na inovação da tão tecnificada cana-de-açúcar. n
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cientistas
o cultivo conservacionista da cana-de-açúcar:
esperança ou atitude? Quando eu ainda era aluna do curso de agronomia da Esalq-USP, aprendi com meus mestres as noções de fertilidade do solo e da importância da análise do solo para fins de fertilidade, como forma de buscar subsídios para saber se o solo era fértil ou como poderíamos melhorá-lo de forma a torná-lo mais produtivo. Também aprendi, desde aquela época, que a cana-de-açúcar era uma cultura “conservacionista” porque, como permanecia no solo por, ao menos, 5 anos, não havia o revolvimento para o preparo e, por essa razão, as perdas por erosão eram baixas. Hoje, refletindo sobre essas duas considerações, percebo a simplicidade com que essas conjecturas foram tratadas e como, atualmente, o conhecimento se ampliou. Novos conceitos trouxeram um maior entendimento da responsabilidade econômica, social, ambiental e cultural da agricultura, de maneira que, hoje, a agricultura não é apenas uma atividade econômica, sendo muito maior a sua responsabilidade.
O solo não é apenas o meio para o crescimento das plantas, a cana entre elas. O solo é um patrimônio, com papéis ecológicos definidos e vitais para a vida na Terra. A Figura 1 resume, em 5 itens, os papéis ecológicos do solo. Todas as funções têm sua importância e se inter-relacionam. Por muitos anos, acreditamos que um solo fértil era aquele que tinha bons indicadores mostrados na análise do solo, como pH neutro, alta capacidade de troca de cátions - CTC, ausência de alumínio e manganês ou metais tóxicos, altos teores de macronutrientes e presença adequada de micronutrientes. Alguns requisitos físicos do solo também se agregavam minimamente à noção de solo fértil, como teor de argila, bom armazenamento de água, boa drenagem, solo profundo, ausência de impedimentos ao crescimento das raízes.
Ter esperança é uma atitude pacífica de quem espera. Não quero ter esperanças de que o cultivo de cana seja mais sustentável e conservacionista. Quero ter certeza. Esta convicção já tenho: dá para fazer agora e dá para fazer melhor. "
Raffaella Rossetto
Pesquisadora científica do Centro de Cana-de-açúcar do IAC/APTA/SAA
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Opiniões Mas a “vida biológica” do solo, representada pela presença da matéria orgânica, pela biomassa microbiana e macrofauna, e todas as inter-relações que ocorrem nesse microuniverso, eram pouco conhecidas e negligenciadas na agricultura do passado e, em muitas situações, ainda no presente. Com a cana não foi diferente. O solo é uma das principais reservas da biodiversidade. É moradia de bilhões de microrganismos e de centenas de espécies de organismos. As estimativas mostram que existe mais biodiversidade abaixo da superfície do solo do que acima dela. Um solo fértil é aquele que apresenta, então, não apenas uma boa análise físico-química, mas é aquele que será sustentável por muitos séculos, mesmo sob intensa agricultura. O conceito de fertilidade do solo atual envolve a idéia de solo saudável, que é aquele “capaz de funcionar como um sistema vivo, dentro dos limites do ecossistema e da forma de uso do solo, para sustentar a produtividade biológica, promover a qualidade do ar e da água e manter a saúde vegetal, animal e humana” (Doran & Safley, 1997). Recentemente, os colegas Anghinoni e Vezzani (2021) apresentaram o conceito de fertilidade sistêmica, onde se enfatiza a compreensão
do solo como uma entidade ou como um sistema vivo, resultante das relações entre seus componentes (partículas minerais, compostos orgânicos), que são enriquecidas e fortalecidas pelo fluxo de energia e matéria, desencadeado pelas plantas, e como o sistema de produção torna-se mais complexo se aumentarmos o número de espécies cultivadas, ou diminuirmos o preparo do solo, ou incluirmos animais ao sistema (integração lavoura pecuária, por exemplo); o número de relacionamentos e as funções resultantes no solo são intensificadas. O entendimento passa a ser baseado em uma abordagem sistêmica, e a percepção do solo, como um sistema vivo. Sendo assim, apenas a análise do solo para fins de fertilidade não representa o que está ocorrendo no solo, apenas colabora em parte para o entendimento. Assim, a qualidade do solo, que pressupõe a fertilidade sistêmica, precisa ser avaliada com novos indicadores. A Figura 2, na página seguinte, apresenta indicadores químicos, físicos e biológicos que contribuem para avaliar a qualidade do solo. A ciência do solo tem muito a avançar ainda, para encontrar métodos de análise que simplifiquem e permitam que esses indicadores possam fazer parte das análises de rotina. ;
Papéis Ecológicos do Solo
Meio Crescimento Plantas • Alimentos, Fibras, Energia
(Brady & Weil, 2010)
Reserva Biodiversidade • Bilhões microorganismos, Centenas de espécies Sequestrar e armazenas C na Matéria orgânica, contribuição no efeito estufa e mudanças climáticas, Ciclagem, Nutrientes Ciclo da água Filtrar, armazenar
Matéria prima e base para edificações
Figura 1. Os papéis ecológicos do solo
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cientistas A segunda premissa, aquela que dizia que a cana é uma cultura “conservacionista”, eu ainda acredito, avalio que tivemos grandes avanços, mas vejo que temos um caminho a ser percorrido na busca de um sistema de cultivo que amplie o respeito à natureza, que busque técnicas de manejo e conservação do solo que se aliam à mecanização e se entrelaçam com os conceitos de fertilidade sistêmica, solo saudável e qualidade do solo. O cultivo da cana-de-açúcar pressupõe a monocultura. O rendimento das operações em larga escala requer grandes áreas homogêneas com o cultivo da mesma planta, por muitos anos, no mesmo solo. Embora o cultivo de diferentes variedades numa mesma região apresente certa variabilidade genética, ela é ínfima perto do que seria necessário para um sistema estável. A biodiversidade é uma importante ferramenta para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. É fácil perceber que, quanto maior o número de espécies presentes em um determinado cultivo, maior será o número de interações tróficas entre seus componentes e, em consequência, é muito mais provável estabilizar comunidades de insetos ou obter tolerância a microrganismos patogênicos. Aumentar a biodiversidade no cultivo de cana é uma estratégia com ganhos ecológicos e ambientais que se reverterá em ganhos econômicos.
Opiniões Atualmente, nas áreas de reforma, existe uma grande oportunidade para o aumento da biodiversidade, introduzindo espécies de adubos verdes, como diversos tipos de crotalárias, nabo forrageiro, milheto, guandu, braquiária, soja, amendoim e, recentemente, milho. Que seja bem-vindo o milho ao nosso sistema de cultivo da cana. E, se viabilizarmos as culturas alimentícias cultivadas de maneira a intercalar com a cana, será um grande avanço a ser somado aos enormes êxitos da cana-de-açúcar para a sociedade brasileira. Ressalva apenas que o milho, por ser “parente” biológico da cana, também multiplica alguns indivíduos indesejáveis à cana, como espécies de nematoides. Então, mais uma vez, muito importante a biodiversidade. Precisamos alternar a presença das espécies de coberturas verdes e cultivos como milho, soja e outros. A propósito, o IAC estuda o feijão como cultura intercalar a ser cultivada com a cana. Teremos novidades nos próximos anos. Ter esperança é uma atitude pacífica de quem espera. Em agricultura, é deixar que alguém faça por nós o que deveríamos nos comprometer e por diversas razões não fazemos. E o tempo passa implacavelmente e cobra seu preço. Não quero ter esperanças de que o cultivo de cana seja mais sustentável e conservacionista. Quero ter certeza. Esta convicção já tenho: dá para fazer agora e dá para fazer melhor. n
INDICADORES DE QUALIDADE QÚIMICOS
INDICADORES DE QUALIDADE FíSICOS
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pH Matéria orgânica CTC Macronutrientes Micronutrientes Metais pesados Poluentes Pesticidas
INDICADORES DE QUALIDADE MICROBIOLÓGICOS
Textura Estrutura Estabilidade dos agregados Densidade do solo Compactação Infiltração Permeabilidade Condutividade hidráulica Capacidade de armazenamento de água • Temperatura
• C na biomassa microbiana • Atividade e diversidade microbiana • Presença de macrofauna • Atividade enzimática • Respiração microbiana • Genes atuando em processo
Figura 2. Indicadores de qualidade do solo
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cientistas
o início da era da
edição genômica
Nos últimos 25 anos, a adoção de técnicas biotecnológicas inovadoras tem impactado positivamente diversos setores do agronegócio brasileiro. A agricultura tem sido beneficiada com ganhos na produtividade e eficiência no uso de recursos agrícolas, relacionados, por exemplo, com a redução na aplicação de defensivos por hectare e a diminuição das perdas em virtude do ataque de insetos-praga, entre outras vantagens. Essas ferramentas biotecnológicas são amplamente empregadas nas culturas de soja, milho e algodão no Brasil, correspondendo a 95% da área total cultivada. Apesar do domínio em biotecnologia das grandes multinacionais nas principais culturas, na cana-de-açúcar, o cenário para uso de traits biotecnológicos consagrados só começou a mudar a partir do lançamento de uma variedade comercial transgênica resistente à broca-da-cana, desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira – CTC, em 2017.
Nos últimos anos, uma grande revolução tem acontecido na área de melhoramento genético por biotecnologia, com o desenvolvimento da técnica de edição de genomas pelas Dras. Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, premiadas com o Nobel em 2020. Vários centros de pesquisa no mundo têm estudado a técnica de edição genômica CRISPR/Cas para aplicação em diferentes culturas, pois apresenta inúmeras vantagens ─ a principal delas é o fato de não gerar organismos transgênicos. Afinal, o que é edição genômica? O genoma de uma planta ou de outro organismo possui informações que são hereditárias, ou seja, passadas de pai para filho. Essas informações podem sofrer alterações com o tempo por uma série de fatores e que, depois, podem ser passadas para próxima geração. Essas alterações são chamadas de mutações e são um processo natural.
No caso da edição genômica, é possível se utilizarem tesouras moleculares para cortar o DNA, de forma precisa e no local específico e gerar um organismo melhorado, muito semelhante ao processo que ocorre na natureza ... Uma grande vantagem dessa tecnologia é que o produto gerado por ela não é considerado transgênico "
Hugo Bruno Correa Molinari Pesquisador da Embrapa Agroenergia
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Opiniões No caso do melhoramento genético clássico, as mutações, quando resultam em características desejáveis, são utilizadas em cruzamentos para gerar organismos melhores. No caso da edição genômica, é possível se utilizarem tesouras moleculares, a grande descoberta das laureadas Emanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, para cortar o DNA, de forma precisa e no local específico e gerar um organismo melhorado, muito semelhante ao processo que ocorre na natureza. A técnica de edição genômica tem ganhado cada vez mais espaço na pesquisa agrícola, e, apesar de ser uma descoberta recente, ela tem promovido resultados surpreendentes e está sendo incorporada a várias culturas para melhorar diversas características, como tolerância a estresse abiótico, resistência a herbicidas, melhoria de características nutricionais, entre outros. Além dos ganhos com o melhoramento de uma cultivar/variedade, a obtenção de um organismo editado e, portanto, não transgênico, traz uma implicação de grande relevância para a pesquisa brasileira: a eliminação das etapas de aprovação regulatória, normalmente exigidas para os organismos geneti-
camente modificados. Essas etapas podem consumir recursos na ordem de 30-60% dos custos para a geração de uma nova variedade que, muitas vezes, são proibitivos para instituições públicas de pesquisa e pequenas empresas. Dessa forma, a tecnologia de edição genômica pode oferecer uma drástica redução de custos relacionados à geração de variedades com novos traits de interesse, em comparação com o melhoramento genético convencional ou com a transgenia. A adoção dessa tecnologia torna o mercado de cultivares/variedades mais justo e competitivo, uma vez que empresas públicas e nacionais estarão em condições de participação em cenários semelhantes, dependentes apenas do investimento em Pesquisa e Desenvolvimento. No contexto da agricultura brasileira, é fundamental que empresas públicas incorporem a tecnologia CRISPR/Cas de edição de genomas aos programas de melhoramento genético, seja ele vegetal, animal ou de microrganismos. Essa tecnologia é revolucionária por sua precisão, rapidez e, principalmen; te, pelo baixo custo.
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cientistas Na Embrapa, a partir do momento que a técnica de edição genômica ganhou destaque no cenário da pesquisa mundial, o tema tem sido discutido de maneira aprofundada. A diretoria executiva da Embrapa promoveu o desenvolvimento de projetos com a tecnologia CRISPR/Cas, por meio de edital comissionado com foco em edição genômica, e, desde 2018, a Embrapa Agroenergia juntamente com a Embrapa Soja, Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Arroz e Feijão e UMiP GenClima vêm desenvolvendo o projeto CRISPRevolution, para produção de variedades/cultivares de cana-de-açúcar, soja, milho e feijão editadas em relação a diversas características de interesse. Os primeiros eventos editados aprovados na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), no dia 10/12/2021, foram as variedades Cana Flex I e a Cana Flex II, que apresentam, respectivamente, maior digestibilidade da parede celular e maior concentração de sacarose nos tecidos vegetais. A Cana Flex I é fruto do silenciamento do gene responsável pela rigidez da parede celular da planta. Essa estrutura foi modificada e apresentou maior “digestibilidade”, ou seja, maior acesso ao ataque de enzimas durante a etapa da hidrólise enzimática, processo químico que extrai os compostos da biomassa vegetal. Já a segunda variedade, Flex II, foi gerada por meio do silenciamento de outro gene nos tecidos da planta, que ocasionou um incremento considerável na produção de sacarose. Os materiais Flex I e II editados estão em fase de multiplicação em casa-de-vegetação e, após a aprovação na CTNBio, serão plantados a campo. Em relação à cana-de-açúcar, cabe ressaltar que a utilização de qualquer ferramenta biotecnológica é um desafio à parte, pois, além de possuir um genoma grande e complexo, existe uma escassez de dados genômicos quando se pretende englobar outras variedades de importância. Somado a isso, as variedades com maior marketshare costumam ter baixa eficiência de transformação genética, e as técnicas de triagem para seleção das plantas editadas ainda apresentam limitações para adoção rotineira em programas de melhoramento. Entretanto, a equipe da Embrapa Agroenergia conseguiu realizar um grande feito, pois, ao identificar bons genes-alvos, conseguiu delinear uma estratégia
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Opiniões de silenciamento baseado em RNP (Ribonucleoprotein) – que não permite incorporação de DNA do complexo Cas/guia no genoma do organismo-alvo –, para selecionar as plantas editadas que foram consideradas não transgênicas pela CTNBio. Assim, desenvolvemos uma estratégia reproduzível para geração de plantas editadas de cana-de-açúcar que pode ser facilmente aplicada a outras variedades de importância ao setor sucroenergético. Uma grande vantagem do emprego dessa ferramenta é que o açúcar de uma cana-de-açúcar editada pode ser normalmente exportado por não ser considerado transgênico e, assim, alavancar ainda mais o setor com novas características de interesse. Apesar de a transgenia ainda continuar sendo uma importante estratégia para solução de problemas na agricultura e agregação de valor, a edição genômica feita com técnicas como CRISPR/Cas permite a manipulação do DNA de forma muito mais precisa, rápida e econômica quando comparada à transgenia. Isso tem permitido "democratizar" o uso da biotecnologia na agricultura, não somente do ponto de vista de mais empresas e instituições participando do desenvolvimento de produtos que chegam ao mercado, mas também permitindo que mais espécies de interesse sejam beneficiadas na solução de problemas agronômicos e de agregação de valor. O início da era da edição genômica se inicia com uma pesquisa 100% brasileira com a cana-de-açúcar, mas as pesquisas, no Brasil e no restante do mundo, apontam para um futuro de rápida adoção dessa técnica em todas as culturas. Os organismos editados são considerados seguros para a saúde humana e para o meio ambiente, da mesma forma que os organismos utilizados no melhoramento clássico. Dando continuidade aos projetos já iniciados na Embrapa, ainda em 2022, a empresa também deverá obter aprovação das primeiras cultivares de soja editadas com redução de fatores antinutricionais e, em breve, outras novas variedades/cultivares editadas de cana-de-açúcar, milho, soja e feijão para tolerância à seca. A edição genômica apresenta inúmeras possibilidades de aplicação, e a adoção dessa estratégia pela Embrapa representa um grande marco e, certamente, trará contribuições relevantes para o crescimento sustentável da agricultura no Brasil. .n
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cientistas
tecnologias para o aumento da eficiência de
seleção no melhoramento
Diferente de outras culturas de importância econômica, como o milho e a soja, a cana-de-açúcar, em especial, impõe desafios adicionais para o melhoramento genético. A razão principal se dá pela natureza poliploide das cultivares modernas, isto é, apresentam múltiplas cópias de cada cromossomo. Portanto, a compreensão da arquitetura genética das principais características, como produção de açúcar, produtividade e resistência a doenças, combinada com o emprego de modernas plataformas e técnicas de melhoramento são essenciais para garantir sucesso no desenvolvimento contínuo de cultivares superiores. As estratégias estabelecidas pelos programas de melhoramento são fundamentais para esse sucesso. Normalmente, criteriosos procedimentos são aplicados desde as etapas iniciais de escolha dos genitores, que dão origem às populações iniciais de seleção, até as etapas finais de desenvolvimento do produto, que darão origem às futuras variedades comerciais. Em nosso centro de desenvolvimento de tecnologia canavieira, o time do melhoramento trabalha em sincronismo com as áreas que possuem contato direto com os clientes, para direcionamento das ações direcionais a serem adotadas pelo programa. Atualmente, somos detentores de um dos maiores patrimônios genéticos da cultura da cana-de-açúcar, com um banco de germoplasma estabelecido no sul da Bahia com mais de 5.000 acessos.
Parte desse banco é formado por espécies do complexo Saccharum, de diferentes origens do mundo, e a maior parte contida por híbridos promissores oriundos do próprio programa de melhoramento. Dentre a população de híbridos melhorados, existem grupos de genitores caracterizados fenotípica e molecularmente para diversas características e específicos para as regiões de interesse do País. Desde 2015, implementamos ferramentas estatísticas para a estimativa de breeding values (BVs) para a seleção de genitores elites para cruzamentos. Essa ferramenta estatística só foi possível de ser implementada devido ao histórico de dados com mais de 15 anos de produtividade de famílias avaliadas em diferentes regiões edafoclimáticas do Brasil. Com as estimativas de BVs e utilização de dados genômicos para tal, é possível predizer quais as melhores combinações de parentais para cada uma das regiões onde são estabelecidos os nossos seis programas de melhoramento. Para garantir e sustentar os ganhos genéticos nas diferentes etapas de seleção, temos investido no desenvolvimento de ferramentas e tecnologias de fenotipagem e genotipagem, para aumentar a eficiência da seleção dos clones promissores, além
Diferente de outras culturas de importância econômica, como o milho e a soja, a cana-de-açúcar, em especial, impõe desafios adicionais para o melhoramento genético. "
Danilo Eduardo Cursi e Luciana Gonçalves Chaves Castellani Cientista em Biotecnologia e Gerente de Melhoramento Genético do CTC, respectivamente
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Opiniões de investir em plataformas para integração e análises dos dados gerados pelas referidas ferramentas e tecnologias. As fases iniciais do melhoramento, por exemplo, são etapas complexas, que exigem grandes áreas experimentais, o que, logisticamente, dificulta a obtenção de dados de campo com regularidade e qualidade. Nesse sentido, novas plataformas de fenotipagem de alto rendimento (highthroughput) vêm permitindo amenizar esses tipos de dificuldades, uma vez que diferentes componentes fenotípicos das plantas podem ser medidos precisamente com o auxílio dessas plataformas. Por exemplo, é possível utilizar sensores específicos acoplados a drones, satélites, entre outros veículos, para captação de imagens e outras informações que podem indicar o vigor, a quantidade de matéria verde, a quantidade de água, as reações a estresses bióticos e abióticos, dentre outras características das plantas sob análise. No programa de melhoramento, inúmeros esforços têm sido direcionados buscando identificar novas variáveis obtidas a partir dessas novas plataformas de fenotipagem, visando à melhoria na qualidade das medições em campo e, consequentemente, a mais assertividade no processo de seleção. Adicionalmente, os diferentes genótipos de cana podem ser mais bem estudados e avaliados através de abordagens moleculares, tal como a seleção genômica (SG), que pode ser aplicada para a seleção dos melhores clones, em termos de produtividade de açúcar e sanidade, por exemplo. Essa tecnologia tem como princípio básico o emprego de marcadores moleculares específicos distribuídos pelo genoma da planta que auxiliam a predizer a performance agronômica (e.g., produtividade e teor de açúcar) dos clones. Além disso, a SG permite a identificação mais acurada dos parentais a serem utilizados nas etapas de hibridação, tornando o processo mais assertivo, previsível e eficiente. Dentre as inúmeras vantagens na adoção dessa tecnologia,
destaca-se, principalmente, a possibilidade de redução do ciclo do melhoramento. Paralelo ao desenvolvimento de programas de melhoramento, temos empregado esforços no campo da biotecnologia, sobretudo na transformação genética das variedades-elite, que se baseia na introdução de genes de interesse, por exemplo, de resistência a pragas e a herbicidas em tais variedades. Possuímos protagonismo nessa área, com a geração da primeira cana geneticamente modificada com resistência à broca (Diatraea saccharalis). Essa praga é responsável por prejuízos na ordem de R$ 5 bilhões por ano às usinas, e o lançamento de variedades geneticamente modificadas resistentes a ela é, sem dúvida, de suma importância. Atualmente, há diversos estudos em andamento em nosso centro de tecnologia para transformação de genótipos-elite, com genes que conferem não só resistência à broca, mas também agregam outras características de interesse dos produtores. Décadas de expertise em biotecnologia com o programa de melhoramento genético fazem com que as variedades que têm sido lançadas sejam cada vez mais adequadas às necessidades dos produtores. Por fim, outra tecnologia que destacamos é a edição genômica, que, nos últimos anos, tem demonstrado grande potencialidade na modificação genética guiada do genoma de uma vasta gama de culturas de importância econômica, possibilitando a criação de variedades com características de interesse, tais como o aumento dos níveis de produtividade, qualidade nutricional e tolerância a doenças. De modo geral, essa ferramenta permite que regiões específicas do genoma das plantas sejam alteradas, seja por sua deleção parcial ou total, seja, até mesmo, pela inserção de novas sequências de DNA (genes, por exemplos), gerando uma nova cultivar. Na cana-de-açúcar, avanços do conhecimento sobre essa tecnologia estão em desenvolvimento em um site dedicado a isso, no Donald Danforth Plant Science Center, localizado em Saint Louis, nos Estados Unidos. Vale destacar que abordagens moleculares por si só não substituem o trabalho e o contato do melhorista no campo, mas o uso combinado dessas ferramentas, sem dúvida, pavimenta o caminho para o sucesso na obtenção de maiores ganhos genéticos. Com todas as tecnologias implementadas nos últimos anos, a expectativa é de que os ganhos genéticos sejam incrementados, de modo que variedades mais produtivas e com maior sanidade sejam rapidamente entregues para os produtores, atendendo, assim, aos gaps de mercado.n
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efeitos do estresse hídrico na cana-de-açúcar Nos últimos anos, o setor sucroenergético tem exibido uma competente expansão territorial por todo o País, o que tem propiciado o cultivo da cana-de-açúcar em ambientes mais restritivos, que, além de apresentarem baixa fertilidade natural, exibem chuvas irregulares, muitas vezes inferiores à necessidade mínima da cultura, que gravita em torno de 1200 milímetros anuais bem distribuídos. A água é considerada um solvente universal, que atua como veículo para as constantes trocas de solutos que ocorrem de maneira contínua nos organismos vivos. Também participa ativamente das reações de fotossíntese, respiração, divisão celular, dentre muitos outros processos metabólicos vitais. Porém, quando as plantas, principalmente as mais jovens, são expostas ao estresse hídrico, inúmeras reações são desencadeadas, provocando diferentes respostas fisiológicas nos tecidos e órgãos vegetais, conforme demonstrado na figura em destaque. A espessura das setas ilustra a magnitude dos processos. À medida que o potencial hídrico diminui, a planta se desidrata ainda mais, levando ao acúmulo de ácido abscísico e a demais solutos na planta, o que prejudica a abertura dos estômatos, poros que funcionam como local de entrada de gás carbônico, diminuindo a fotossíntese. A condutância, que representa a passagem de gás carbônico pelas fendas estomáticas, também diminui, impactando a formação de carboidratos pela planta. Enfim, sob déficit hídrico, principalmente acentuado, fenômenos como fotossíntese e expansão celular são duramente prejudicados.
Na cana-de-açúcar, é importante destacar que, após o plantio das mudas ou o corte dos colmos por ocasião da colheita, é iniciado o crescimento e o desenvolvimento das raízes e da parte aérea das plantas, a partir do intumescimento das gemas presentes nos segmentos do caule. Essas brotações são alimentadas pelas reservas nutritivas encontradas no material de origem, até que ocorra a autossuficiência nutricional do complexo vegetativo. Dessa maneira, é fundamental que a planta emita uma quantidade de folhas capaz de garantir um adequado suporte fotossintético para a produção de fotoassimilados, fundamentais no decorrer do ciclo de vida vegetal. Sendo assim, havendo umidade, mais gemas presentes abaixo do solo, e que estão contidas no rizoma, também brotarão. Por outro lado, havendo falta de umidade, essas touceiras passam a exibir um menor perfilhamento, quando comparadas com aquelas plantadas no período de maior disponibilidade de água no sistema solo-planta. Ainda, sob restrição hídrica, as raízes têm menores condições de formação e expansão, o que vai ser refletido na absorção de nutrientes, peças fundamentais para o cumprimento das incontáveis atividades funcionais. Nesse sentido, por muitas vezes, as unidades sucroenergéticas e os fornecedores da matéria-prima são obrigados a irrigar as lavouras; caso contrário, correm o risco de ter que renovar precocemente os canaviais.
quando as plantas, principalmente as mais jovens, são expostas ao estresse hídrico, inúmeras reações são desencadeadas, provocando diferentes respostas fisiológicas "
Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo Professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas da Unesp de Dracena
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Opiniões Na cana-de-açúcar, a transpiração tende a aumentar gradativamente nos seis primeiros meses de desenvolvimento, pois as plantas vão formando folhas cada vez mais largas e compridas. Então, quanto maior a superfície de exposição, maior a perda de umidade e, consequentemente, maior a necessidade de reposição da mesma. Contudo, lavouras cultivadas em boas condições de umidade têm maior possibilidade de aproveitamento dos insumos disponíveis, permitindo uma melhor produtividade agroindustrial. Em meados da safra, com o avanço do ciclo fenológico, déficits hídricos mais pronunciados podem levar as plantas à isoporização, representada pela desidratação intensa e irreversível dos parênquimas, principal local responsável pelo armazenamento da sacarose nos colmos. A isoporização, também conhecida como “chochamento”, geralmente ocorre mais intensamente em ambientes menos favoráveis, que apresentam solos mais arenosos e que possuem menor capacidade de armazenamento de água. A isoporização pode ser agravada pela incidência de ventos, que desidratam ainda mais os tecidos vegetais e intensificam a evapotranspiração, que representa a evaporação da água do solo mais a transpiração das plantas. No entanto, algumas estratégias podem minimizar os efeitos do estresse hídrico e das injúrias por dessecação das plantas. Uma delas é o fornecimento de etileno às plantas, por meio da aplicação foliar de etefon, ou ácido fosfônico, em lavouras com idade aproximada entre oito a dez meses. O resultado é uma menor incidência da isoporização dos colmos, pois o etileno estimula a atuação de genes que levam ao aparecimento de pelos radiculares. Esses pelos possuem maior capacidade de absorção de água e nutrientes, pois apresentam uma menor espessura de parede celular. Além disso, plantas de cana-de-açúcar tratadas com etefon desenvolvem maior número e dimensão de células buliformes, fundamentais na retenção de água nos tecidos foliares. Esse é um fato determinante para a cana-de-açúcar, pois folhas MUDANÇAS FISIOLÓGICAS DEVIDO À DESIDRATAÇÃO ACUMULAÇÃO DE ÁCIDO ABSCÍSICO ACUMULAÇÃO DE SOLUTOS FOTOSSÍNTESE CONDUTÂNCIA ESTOMÁTICA SÍNTESE PROTEICA SÍNTESE DE PAREDE EXPANSÃO CELULAR
-0
Água pura
-1 -2 -3 Potencial hídrico (MPa)
Plantas bem Plantas sob Plantas em hidratadas estresse hídrico climas áridos, moderado desérticos
abastecidas adequadamente com água sintetizam aproximadamente dez vezes mais sacarose, quando comparadas com aquelas afetadas pelo déficit hídrico. Outra importante alternativa quanto à proteção das plantas contra o estresse hídrico é o fornecimento de solutos protetores, como é o caso de prolina e glicinabetaína. Esses compostos protegem as plantas contra subprodutos tóxicos formados durante os períodos de escassez de água. Estudos têm demonstrado que produtos fungicidas à base de estrobilurinas, quando aplicados no início do período de grande crescimento e desenvolvimento da cana-de-açúcar, reduzem temporariamente o gasto de energia e promovem diversas alterações positivas quanto ao metabolismo, resultando em maior acúmulo de matéria seca, expressa em toneladas de colmos por hectare no canaviais. Na retomada do canavial após a ocorrência do estresse hídrico, é interessante o fornecimento de hormônios vegetais, como forma de estímulo para a formação de novas células. Também conhecidos como reguladores de crescimento, os hormônios vegetais mais utilizados são: auxinas, citocininas e giberelinas. Essa prática, ainda, não é tão presente nas lavouras canavieiras, mas tem aumentado cada vez mais, pois a presença dos hormônios em momentos adequados pode significar uma grande possibilidade de incremento para as plantas. Por fim, após um período de estresse hídrico e por ocasião da retomada de crescimento, de maneira geral, é importante que as plantas recebam uma nutrição foliar complementar, baseada principalmente em micronutrientes, pois muitos atuam como ativadores enzimáticos ou componentes celulares. Para isso, é fundamental o conhecimento das condições nutricionais das lavouras especificamente, e em todas as suas fases fenológicas. Dentre os muitos nutrientes importantes, devem ser destacadas as presenças do nitrogênio, essencial para a formação das proteínas, e do magnésio, elemento constituinte da clorofila, pigmento essencial para a fotossíntese. Mas é importante lembrar que o fornecimento de produtos às lavouras sempre deve ser realizado quando as plantas se encontram hidratadas e em condições mínimas de metabolização. n
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desafios da pesquisa científica na América Latina No Equador, a produção de açúcar ocorre nas regiões entre as latitudes 03°S e 00°30'N, da linha do Equador, e longitude 78°30' W. A maior parte da produção se concentra na área inferior do rio Guayas, próximo de Guayaquil, nas províncias de Guayas, Los Ríos e Cañar, onde apenas 2,5 horas médias por dia de radiação líquida (sol) são registradas durante o ano. As usinas têm período de colheita de seis meses, entre junho e dezembro, quando se colhem canas com idade de 12 a 13 meses, com média de moagem de aproximadamente 10 mil toneladas por dia. Outras pequenas áreas de produção estão localizadas nos vales interandinos, das províncias de Imbabura e Loja, em altitudes mais elevadas, de cerca de 800 a 1200m de altitude, com moagem média de cerca de 800 toneladas por dia. A indústria açucareira equatoriana é uma das mais modernas da América Latina. Atualmente, abrange uma área de cerca de 80.000 hectares de cultivo de cana-de-açúcar, produzindo, em média, 550.000 toneladas de açúcar e 30 milhões de litros de etanol. Essa indústria apoia mais de 40.000 trabalhadores e suas famílias. Melhorias no campo e na indústria são constantemente obtidas por meio da incorporação de novas tecnologias e equipamentos que permitem maior eficiência, tanto na produção da cana quanto na extração do açúcar. Além disso, produz-se energia por meio de cogeração e bioetanol, para apoiar grandes projetos ambientais do Equador.
O Centro de Pesquisa em Cana-de-Açúcar do Equador – CINCAE, foi criado pelas três maiores usinas do país, La Troncal, San Carlos e Valdez, com o objetivo de intensificar os recursos em pesquisa científica. Esse centro alcançou melhorias significativas em diversas áreas, como no controle biológico de pragas e manejo de doenças, estabelecimento de viveiros e fornecimento de mudas sadias, manejo de solos e recomendações de adubação, entre outras tecnologias. O objetivo principal do centro de pesquisa é a obtenção de novas variedades e o desenvolvimento de novas tecnologias. Desde o início das atividades, em 24 anos, o investimento em pesquisa científica realizado pelas três usinas rendeu diversos frutos, sendo muito importantes as contribuições tecnológicas no manejo integrado de pragas, diagnóstico e manejo de doenças, manejo de viveiros saudáveis, avaliação da resposta de clones e variedades à adubação com macro e micronutrientes, assim como atividades relacionadas à formação e ao treinamento de profissionais, por meio de seminários, dias de campo e publicações técnicas e científicas. Sem dúvida, a contribuição mais importante dos últimos anos foi a entrega de nove variedades de cana obtidas no Equador: ECU-01, EC02, EC-03, EC-04, EC-05, EC-06, EC-07, EC-08 e EC-09. Até dezembro de 2021, mais de 26.000 hectares de cana foram colhidos com essas variedades, com produções superiores às variedades importadas de outros países, como Ragnar, CC85-92, B76-78, entre outras.
A direção-chave das pesquisas científicas será levar em conta o genótipo, que precisa ter condições ou ambiente favorável para crescer, com o menor impacto possível, para evitar efeitos sobre o meio ambiente. "
Raul Oswaldo Castillo Presidente do Conselho do ISSCT - International Society of Sugar Cane Technologists e Diretor do Cincae
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Opiniões Desafios na produção de cana-de-açúcar no cenário de mudanças climáticas: As atividades humanas contínuas estão aumentando as emissões de gases do efeito estufa, aumentando a temperatura a uma taxa que resulta no derretimento das geleiras, nos padrões de chuva imprevisíveis e nos eventos climáticos extremos. O ritmo acelerado das mudanças climáticas combinado com a população global e o esgotamento dos recursos agrícolas ameaçam não apenas a safra de cana-de-açúcar, mas também a segurança alimentar global. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, em 2007, definiu os seguintes impactos principais das mudanças climáticas: • Aumentos na temperatura média resultarão em: 1) aumento da produtividade das culturas em regiões temperadas de alta latitude, devido ao prolongamento do período de cultivo (safra); 2) redução da produtividade das culturas em regiões tropicais e subtropicais de baixa latitude, onde o calor do verão já está sendo um fator limitante; e 3) redução da produtividade devido ao aumento das taxas de evaporação do solo. • Mudanças na quantidade e distribuição de chuva afetarão as taxas de erosão e a umidade dos solos, fatores esses que afetam negativamente a produtividade das culturas agrícolas. A precipitação aumentará em regiões de altas latitudes e diminuirá na maioria das regiões subtropicais de baixa latitude – algumas em cerca de 20%, levando a longos períodos de seca. • O aumento das concentrações atmosféricas de CO2 aumentará o potencial de algumas culturas, mas outros aspectos da mudança climática (por exemplo, temperaturas mais altas e mudanças de precipitação) podem compensar qualquer efeito benéfico de aumento dos níveis de CO2. • Os níveis de poluição do ozônio troposférico (ou ozônio ruim que pode danificar tecidos vivos e quebrar certos materiais) podem aumentar devido ao aumento das emissões de CO2. Isso pode acarretar temperaturas mais altas que compensarão o aumento do potencial das culturas resultante de níveis mais altos de CO2. • Mudanças na frequência e gravidade das ondas de calor, secas, inundações e furacões continuam sendo um fator-chave de incerteza que pode afetar potencialmente a agricultura. • As mudanças climáticas afetarão os sistemas agrícolas e podem levar ao surgimento de novas pragas e doenças.
O desafio é aplicar ferramentas tradicionais de melhoramento e biotecnologia para o desenvolvimento de cultivares adaptadas às mudanças climáticas. As culturas agrícolas podem ser modificadas mais rapidamente através da biotecnologia do que das técnicas convencionais, acelerando, assim, a implementação de estratégias para enfrentar as mudanças climáticas rápidas e severas. Cultivares biotecnológicas modernas, resistentes a pragas e doenças, têm se desenvolvido continuamente à medida que novas pragas e doenças surgem com as mudanças no clima. Variedades resistentes também reduzirão a aplicação de pesticidas e, portanto, a emissão de CO2. Tolerância a vários estresses precisa ser desenvolvida em resposta às mudanças climáticas: cultivares tolerantes à salinidade, à seca, ao frio, ao estresse por calor. A melhoria da resiliência da cana-de-açúcar a ambientes extremos causados pelas mudanças climáticas é esperada nos próximos anos. Portanto, a produção de açúcar, bioetanol e eletricidade a partir da cana-de-açúcar deve ser priorizada para atender às demandas crescentes da população mundial. A pesquisa em tecnologia tradicional e biotecnológica para mitigar o aquecimento global também deve ser iniciada para sustentar a utilização de novos produtos. Entre elas, está a indução de estruturas nodulares nas raízes de cereais não leguminosas para fixação de nitrogênio. Isso reduzirá a dependência dos agricultores de fertilizantes inorgânicos. Outra é a utilização do excesso de CO2 no ar por culturas modelos, como a cana-de-açúcar e o milho. Nessas culturas, as vias C4 podem assimilar e converter CO2 eficientemente em produtos de carbono durante a fotossíntese e produzir alimentos e energia. Ambas as culturas podem fornecer biocombustíveis para reduzir as emissões de carburantes fósseis, que estão aumentando a poluição na terra. No que se refere às pesquisas, os pesquisadores devem, com o apoio de indústrias e governos, buscar e desafiar uma produção sustentável da cana-de-açúcar. A direção-chave das pesquisas científicas será levar em conta o genótipo, que precisa ter condições ou ambiente favorável para crescer, com o menor impacto possível, para evitar efeitos sobre o meio ambiente. n
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especialistas
Opiniões
bioinsumos: o uso dos biológicos
permitindo a agricultura regenerativa
A alta na demanda por alimentos e o crescimento populacional trazem inúmeros desafios e oportunidades para a produção agrícola. Tornar as práticas agropecuárias mais eficientes ao mesmo tempo em que se preserva e, inclusive, se recupera o meio ambiente é o principal anseio da sociedade atual. As mudanças climáticas, a degradação dos solos e a perda da biodiversidade têm sido alguns dos danos ocasionados pelo mau uso da terra, o que torna imprescindível a restauração e a preservação do ambiente para enfrentar possíveis crises no ecossistema. Técnicas de manejo utilizadas sem discriminação podem impactar a fertilidade do solo e a resiliência das atividades agrícolas. Nesse sentido, a perda de solos produtivos traz grande prejuízo para a produção de alimentos e a segurança alimentar. Segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, existem cerca de 130 milhões de hectares de pastagens degradadas que precisam de restauração. Além disso, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) calcula que a temperatura média global do planeta pode sofrer um aumento entre 1,8 °C e 4,0 °C nos próximos 100 anos, configurando um impacto significativo para o meio ambiente e para a sociedade.
Isso significa que os esforços de conservação por si só não são suficientes para evitar o uso indiscriminado de recursos naturais e a perda da biodiversidade. Para tanto, temos visto, com certa frequência, a adoção de práticas agrícolas de regeneração, que são adotadas para se produzir mais com menos, ou seja, incrementar a produtividade e, ao mesmo tempo, utilizar menos recursos do nosso planeta – menos terra, água e energia; menos produtos químicos; menor emissão de gases de efeito estufa e menor risco de degradação do solo. Trazendo para um contexto mais recente, apesar de o agronegócio brasileiro ter alcançado recorde histórico nas exportações em 2021, movimentando mais de US$ 120 bilhões, os custos de produção nesse período configuraram aumento significativo. O balanço apertado de oferta e demanda global dos insumos agrícolas, a taxa de câmbio e o aumento dos preços do petróleo e gás natural foram alguns dos entraves de grande im; pacto nesse cenário.
Os produtores de defensivos e fertilizantes reduziram a oferta, e o produtor agrícola sentiu as consequências na pele. Nosso país importa cerca de 70% dos fertilizantes e 60% dos defensivos agrícolas que consome "
Marcos Fava Neves
Professor da FEA-USP-RP e da EAESP/FGV-SP e especialista em planejamento do agronegócio Coautoria: Vinícius Cambaúva, Engenheiro Agrônomo pela UNESP e Mestrando em Administração pela FEARP/USP
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especialistas Os principais países produtores de defensivos agrícolas e fertilizantes reduziram a oferta e o produtor agrícola brasileiro sentiu as consequências na pele. Vale lembrar que o nosso país importa cerca de 70% dos fertilizantes e 60% dos defensivos agrícolas que consome anualmente. Além disso, a continuidade da pandemia da Covid-19, com o surgimento de novas variantes em diversos países, intensificou ainda mais essa situação, limitando a distribuição de alguns produtos e afetando, de forma direta, diversas cadeias de suprimentos. Como resultado, os custos dos insumos chegaram a dobrar em alguns casos; destaque para a categoria de fertilizantes. Em relatório divulgado pelo Rabobank, os preços da ureia cresceram 150% entre janeiro e outubro do último ano, enquanto os do cloreto de potássio registraram alta de 206%. Esses números refletem uma piora na relação de troca entre insumos e produtos agrícolas, considerando que, quanto maior o índice, menor é o poder de compra do produtor brasileiro – e maiores terão que ser os preços pagos pela produção, para poder compensar o investimento. A alta demanda por insumos em virtude da expansão de área plantada, problemas logísticos pela falta de embarcações e contêineres e fatores geopolíticos também foram empecilhos que contribuíram para tal condição. Diante dessa instabilidade no mercado de insumos, uma boa estratégia a ser utilizada pelo produtor, para equilibrar os custos e ajustar o fluxo de caixa, é a diversificação no manejo. Novas tecnologias estão ganhando espaço rapidamente na produção agrícola para a mitigação desses riscos e a ampliação das práticas sustentáveis. O mercado de bioinsumos, chamados a serem protagonistas da agricultura do futuro, atingiu R$ 1,7 bilhão em negócios na safra 20/21, configurando aumento de 37% em relação ao volume comercializado na safra anterior, segundo pesquisa divulgada pela Spark Inteligência Estratégica. Tal crescimento apenas reforça a consolidação desses produtos como importantes ferramentas de manejo nas principais culturas agrícolas. Os insumos biológicos podem ser compostos e/ou fabricados com microrganismos, materiais vegetais, naturais e utilizados nos sistemas de cultivo
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Opiniões agrícola para combater pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade do solo e a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Esses produtos são caracterizados por otimizar o desenvolvimento, o crescimento e o mecanismo de resposta de animais, plantas e microrganismos. Os bioinsumos são complementares ao manejo convencional e possuem um grande diferencial de reduzir a exposição do trabalhador e consumidor a compostos químicos. Se baseia em um método de controle racional e sadio, por fazer uso de inimigos naturais que não deixam resíduos em alimentos, e também preservam o ecossistema, proporcionando o desenvolvimento de sistemas de produção cada vez mais sustentáveis. A tecnologia de alto padrão empregada pelos bioinsumos é importante aliada nos sistemas de produção com o nosso clima tropical, pois os microrganismos são capazes de otimizar o aproveitamento dos fertilizantes. Dessa forma, auxiliam o produtor a obter alta produtividade e rentabilidade, extraindo ao máximo o potencial dos insumos, ao mesmo tempo em que favorece a margem de lucro do negócio rural. Esse assunto estará em grande evidência nos próximos anos em todo o planeta, uma vez que os agricultores têm percebido a importância de conciliar a produção agrícola com a preservação do meio ambiente. Já é possível observar o avanço na adesão de produtos de base biológica para controle de pragas e doenças, além do aumento significativo da adoção de práticas de agricultura regenerativa, como o sistema de plantio direto na palha (SPDP). A agricultura regenerativa caminha em conjunto com a demanda mundial por tecnologias mais sustentáveis e que atendam às necessidades de produção alimentar com redução de impactos. Considerando o contexto atual de problemas com a disponibilidade e os altos preços de insumos tradicionais, da crise energética global, do aumento nos custos de produção dos alimentos e do não menos importante apelo por práticas de preservação do meio ambiente cada vez maiores, os bioinsumos devem ser um grande aliado da nossa agricultura. Sou um torcedor desse mercado, porque sei que ele tem muito a somar para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.n
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especialistas
o desenvolvimento enzimático no processo
produtivo do etanol de milho
A utilização de enzimas para a produção de açúcares e sua posterior fermentação é tão antiga quanto o próprio uso de enzimas no processamento industrial. Desde que a primeira amilase foi usada em substituição à hidrolise ácida para a quebra do amido até hoje, essas enzimas sofreram evoluções e estão gerações à frente, principalmente em termos de custo de produção e eficiência. Na busca por essa eficiência, essas enzimas foram sendo transformadas para trazer maior flexibilidade de condições de processo, atuando em faixas de pH e temperatura mais amplas, ou com maiores conteúdos de sólidos suspensos. Mas não só isso, essa transformação também atendeu a requisitos de rendimento, melhorando a sua performance de uma forma geral, isto é, produzindo mais etanol por tonelada de milho.
Atualmente, a busca por esse ganho tem trazido enzimas coadjuvantes para esse processamento. Enzimas que reagem com fragmentos de amido, que antes eram desperdiçados, têm sido incorporadas ao processo, atuando nesses fragmentos e liberando mais açúcares fermentáveis. Novas classes de enzimas, como celulases, hemicelulases e proteases também têm sido adicionadas aos processos enzimáticos para aumentar o rendimento de coprodutos, como o óleo de milho. Essa tendência segue forte com o aparecimento de novos produtores de enzimas chegando ao mercado, ampliando o espectro de possibilidades aos produtores, que possuem, cada vez mais, opções de enzimas para usar em sua produção, decidindo pelas mais adequadas, conforme a situação. Por exemplo, hoje, o produtor pode escolher entre preparados enzimáticos mais elaborados, que visam aumentar rendimento da produção de óleo de milho, ou enzimas mais simples, que trazem uma certa vantagem econômica, adequando ao momento do mercado e à realidade da planta. Assim, caso queira focar no rendimento da produção de óleo de milho, ou prefira manter esse óleo no farelo, é uma escolha do produtor, basta utilizar a(s) enzima(s) mais adequada(s) para atender ao seus interesses.
Ao olhar para um cenário de longo prazo, tendências como a sustentabilidade e a economia circular serão a regra no futuro, e a busca por matérias-primas alternativas para incorporar ao processo será uma constante. "
Eduardo Marques Meneghetti
Coordenador de Negócios em Enzimas Industriais da Basf - América Latina
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Opiniões Da mesma forma, hoje, o produtor tem a opção de dosar enzimas que ajudem no processo em geral, como redutores de viscosidade, ou que previnam incrustações, ou até enzimas que economizem outros insumos, como fósforo ou nitrogênio. Essas enzimas, gradativamente, têm ganhado espaço em escala mundial, porém ainda são pouco exploradas no mercado brasileiro. Com o avanço das tecnologias e do mercado, essas melhorias incrementais não serão mais satisfatórias, seja porque o ganho não é grande o suficiente para ser mensurado ou traduzido em vantagem econômica, seja porque simplesmente não são de interesse do produtor. Isso, somado ao aparecimento de novas tecnologias de processamento, tem ampliado a possibilidade de uso de enzimas em outras etapas ou outras frações de materiais, favorecendo a criação de enzimas que ajudem na melhoria da qualidade desses coprodutos. A tecnologia de separação de fibras, por exemplo, favorece a produção de grão de destilaria (DDG); com maior e menor conteúdo de fibras, somado ao uso de enzimas específicas, permitirá que o produtor controle o residual de amido, o conteúdo proteico e a quantidade de gorduras presentes em seu DDG, adequando à especificação que determinada cultura animal necessita. A qualidade do óleo também poderá ser controlada, e subprodutos desse óleo também poderão ser aproveitados. Componentes como as ceras ou ácidos graxos poderão ser segregados, aumentando a margem do produtor com coprodutos de maior qualidade. Com o aumento da inserção do DDG nos diferentes segmentos, outras necessidades irão surgir, como melhoria da digestibilidade e absorção de proteínas ou fibras, ou a remoção de possíveis impurezas indesejadas à determinada cultura. Esses são tratamentos que poderão ser feitos por meio do emprego das enzimas certas, com razoável facilidade. TENDÊNCIA DE CONTEÚDO DE FIBRAS, PROTEÍNA, ÓLEO E AMIDO RESIDUAL NOS GRÃOS DE DESTILARIA AO LONGO DOS ANOS
%
40
2000 2006 2008 2010 2012 2014 2016
35 30 25 20 15 10 5 0
Proteína
Gordura
FDN
Amido
Cinzas
Ao olhar para um cenário de longo prazo, tendências como a sustentabilidade e a economia circular serão a regra no futuro, e a busca por matérias-primas alternativas para incorporar ao processo será uma constante. Assim, enzimas que ajudem no aproveitamento da palha, da espiga ou de quaisquer outros materiais celulósicos surgirão, seguindo a tendência mundial de aumento de produção de etanol celulósico (E2G). Adicionalmente, tecnologias disruptivas estão sendo avaliadas, tecnologias que possam se utilizar de elementos ainda não explorados, não apenas para a produção de etanol, como com o E2G, mas utilizando, por exemplo, captura e transformação do gás carbônico proveniente da fermentação, ou do processamento de coprodutos da produção de etanol celulósico para a produção de polímeros, filmes, entre outras possibilidades. Outro ponto a observar é que, com o avanço exponencial dessas novas tecnologias, enzimas que eram essenciais ao processo estão perdendo seu protagonismo. Por exemplo, a chegada de leveduras modificadas para produzirem parte da glucoamilase dosada na fermentação tem, gradativamente, extinguido o mercado dessa enzima, que, em pouco tempo, deixará de ser um insumo adicional e estará completamente presente na levedura. Outro exemplo é o surgimento de milho geneticamente modificado para que já tenha uma alfa-amilase presente, reduzindo o uso dela no processamento do milho. Assim, percebe-se uma tendência de essas enzimas se tornarem menos necessárias no médio e longo prazo, enquanto o espaço para outras enzimas, mais específicas, vai se abrindo conforme o mercado se atualiza. Por fim, a busca por matrizes proteicas de origem não animal trará outras necessidades de mercado, possivelmente destinando parte do DDG e seus derivados antes utilizado exclusivamente na alimentação animal, seja para a alimentação humana, para a produção de cosméticos, ou para química em geral, demandando, com isso, mais enzimas e gerando mais possibilidades. Quanto mais os avanços tecnológicos se tornam presentes, mais caminhos vão se abrindo para que enzimas que hoje ainda não são utilizadas na indústria sejam empregadas em alguma transformação. n
FDN: Fibras em detergente neutro
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especialistas
um ano realmente desafiador Quando começo a escrever este artigo, vejo notícias incessantes sobre grandes chuvas, com enchentes, rios subindo 9-10 metros do seu leito, milhares de pessoas e negócios, plantações e animais de criação diretamente afetados, com a necessidade de deslocamento. Muitos perderam tudo, literalmente tiveram suas raízes arrancadas, inclusive as suas vidas... A maioria das pessoas, vendo essas notícias, ficam surpresas, como se a natureza (do clima, do regime dos rios) tivesse de ter limites, como se nós, humanos, parecêssemos ter falhado no controle dos rios, do clima. Como se nós não fôssemos parte da natureza e, ainda, sem entendermos direito como a vida (a nossa e de toda a biosfera) funciona, não tivéssemos nenhuma responsabilidade nesses eventos, ou que a natureza fosse como nós, controláveis. E o que isso tem a ver com o tema do nosso artigo? Tudo a ver. Tivemos, na região de produção agrícola, uma seca maior do que nos últimos 90 anos. Ninguém duvida, agora, que os eventos extremos do clima, mesmo por aqui, onde temos tantas vantagens, estão cada vez mais frequentes e intensos. Na nossa tendência humana de controle e simplificação, ficamos cada vez menos robustos, reduzimos nossas redundâncias, e isso na busca do ótimo, ou seja, do menor custo, no
atendimento imediato da demanda, no atendimento dos requisitos dos clientes em qualidade e estabilidade do fornecimento, em qualquer lugar do mundo. Nada errado nisso. No entanto, eliminar redundâncias, por exemplo, ter vários tipos de variedades aptas num determinado ambiente de produção ao invés de só uma, a “melhor”, ou controlar as pragas e doenças só com o melhor produto químico, ou, ainda, usar muito do mesmo adubo para “equalizar” os ambientes de produção, de forma a ter mais ou menos a mesma produtividade em regiões diversas, tudo isso reduz a nossa robustez, principalmente num ano desafiador como o de 2021. Redundância e robustez significam, por exemplo, ao invés de usar o solo só como suporte para as nossas plantas (especialistas e não generalistas) obterem a água e nutrientes, construir o solo, ou, se quiserem, regenerar o solo (como um ambiente ativo, vivo, em evolução), pois todas as nossas terras agricultáveis foram originalmente florestas, com grande produtividade e abundância de água (armazenada no solo), que se mantêm, apesar de ter havido grandes secas e enchentes. Observe que, ao longo dos rios, cheios de meandros e sujeitos a inundações e secas, há centenas ou milhares de espécies de árvores e gramíneas, que, de uma forma integrada com toda a biodiversidade (bactérias, fungos, insetos, minhocas, répteis, pássaros, mamíferos), estão ativamente se adaptando a esse ambiente, naturalmente variável.
... temos a cana-energia, que tem maior produção de biomassa (mais palha e mais matéria orgânica no solo), e até algumas variedades têm rizomas, que aumentam drasticamente o carbono (matéria orgânica) no solo e permitem mais de dez cortes, com produtividades crescentes. "
Jaime Finguerut Consultor do ITC - Instituto de Tecnologia Canavieira
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Opiniões É possível promover essa biodiversidade (ficar “antifrágil”: ficar mais forte com os choques inesperados), sem perder produtividade e sem ter prejuízo e ainda ter escala de produção? A resposta é sim! Num artigo recente de um dos maiores gurus da agricultura, com autores brasileiros e experimentos em regiões produtoras do grande agronegócio brasileiro, o Dr. Rattan Lal demonstra, com medidas de campo, que práticas relativamente simples, como plantio direto, resíduos da cultura no solo, fazendo rotação de culturas, podem regenerar totalmente o solo, como era quando havia cobertura de florestas. No entanto isso levaria décadas, e até lá? E pior ainda, parece que já estamos fazendo isso, o que falta fazer? Se olharmos em volta, podemos ver alguns exemplos que parecem radicais demais para serem lucrativos. A cana orgânica é um fato, funciona, porém demorou dez anos para ser totalmente implantada, ou seja, após os dez anos, nenhum uso de adubos, eliminação de produtos químicos, com total mecanização e aumento de produtividade e aumento da longevidade do canavial. Quem controla o canavial é o ambiente vivo, construído com as mudanças (radicais) nos tratos culturais e a formação de uma equipe que pensa diferente da maioria. Pode-se argumentar que a cana orgânica só tem sentido para a produção de produtos orgânicos (açúcar, etanol e seus derivados), que têm um mercado infinitamente menor do que aquele que hoje temos. É verdade. Mas não é impossível reproduzir esses experimentos bem-sucedidos nas condições econômicas da produção de commodities. Outros exemplos: temos a cana-energia, que tem maior produção de biomassa (mais palha e mais matéria orgânica no solo), e até algumas variedades têm rizomas, que aumentam drasticamente o carbono (matéria orgânica) no solo e permitem mais de dez cortes, com produtividades crescentes. Embora as variedades atuais tenham menor teor de açúcar no seu caldo, elas têm maior teor de fibra, o que é benéfico para a cogeração, e a sua mistura com as variedades convencionais não causa impacto na moagem, nem na cristalização do açúcar. Finalmente, temos também a integração cana-milho-boi já sendo feita. Nesse esquema, se faz a rotação da cana com milho, que é colhido e alimenta o gado estabulado. O esterco é compostado e retorna à lavoura junto com os resíduos da usina, com enorme incremento de carbono no solo.
Parece impossível? O que proponho é que todo investimento possível daqui para a frente seja feito visando ter robustez e resiliência (“antifragilidade”) no nosso negócio, fugir da variabilidade (e volatilidade) externa, ter centenas de loops de redundância, construir na lavoura um ambiente parecido com o dos banhados, as matas ciliares e outros ambientes naturais que são extremamente dinâmicos e robustos, mesmo eventualmente sem ter um solo extremamente fértil de início. Já temos bastante conhecimento das leis da natureza para ir, gradualmente, usando esse novo conceito, em que incentivamos os comportamentos que constroem e desincentivamos os que aumentam a nossa fragilidade frente aos choques e às mudanças incontroláveis. Não usar adubo nem insumos químicos, ambos cada vez mais caros, aumentar drasticamente a reserva de água no solo, de forma a depender menos das chuvas, cada vez mais imprevisíveis, enfrentar novas pragas cada vez mais agressivas e aumentar a produtividade não é possível de uma hora para a outra, no entanto exemplos concretos ao nosso redor, já citados, mostram o caminho a seguir. Construir solo, aumentar a biodiversidade, aumentar a redundância nos processos críticos, reduzir riscos, flexibilizar, ampliar as possibilidades, aprender com o inesperado. Pensar diferente, usar o conhecimento próprio e dos vizinhos bem-sucedidos... Veja o que a FAO (do inglês Food and Agriculture Organization, das Nações Unidas) diz da importância da construção de um solo saudável: A FAO diz que o solo saudável ajuda na/no: • Regulação de enchentes; • Regulação do clima; • Base para a infraestrutura humana; • Fornecimento de materiais de construção; • Fornecimento de alimento, fibras e combustíveis; • Habitat para organismos; • Sequestro de carbono; • Intensificação dos ciclos da natureza (água, carbono, nitrogênio, minerais); • Purificação da água (nascentes) e descontaminação; • Fonte de microrganismos (material genético) que são usados na fabricação de remédio; e • Manutenção de culturas locais (homem no campo). Certamente não conseguiremos em apenas uma safra recuperar os danos de 2021, mas temos um bom caminho pela frente. n
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especialistas
Opiniões
entre los Niños e las Niñas
A produção de cana-de-açúcar nos últimos anos vem sofrendo com inúmeras intempéries climáticas. Ora é excesso de chuvas, ora falta, e até mesmo geadas severas, que acabam ocasionando perdas realmente significativas não só ao produtor, mas a toda a cadeia sucroalcooleira. Desde o início da década passada, vemos notando uma maior incidência de La Niña, visto que, de 2010 até 2022, foram registradas 6 ocorrências –10/11; 11/12; 16/17; 17/18; 20/21 e 21/22. Já pra El Niño, foram apenas 3 ocorrências –14/15; 15/16 e 18/19, sendo a La Niña de 10/11 a de maior intensidade do período e o El Niño 15/16, o maior da história. E, em todos os anos quando ocorre La Niña, a região do Centro-Sul tem chuvas abaixo da média, quando se analisa todo o período de safra – agosto a julho. Motivo pela qual o Brasil vinha passando por uma forte crise hídrica, melhorando agora, nas últimas semanas, em boa parte da região Sudeste, devido às chuvas extremamente volumosas que estão ocorrendo. Principalmente nas cabeceiras dos principais rios que abastecem os mananciais da região. E essa maior incidência de La Niña tem um motivo. A ODP (Oscilação Decadal do Pacífico) numa fase negativa.
Essa ODP é um fenômeno de larga escala que ocorre no Oceano Pacífico, que, em média, dura de 25 a 30 anos. E tem fases positivas e negativas, sendo que, em fases positivas – entre as décadas de 1980 e 2000 –, observam-se mais ocorrências de El Niño, e, em fases negativas – entre as décadas de 1950 a 1970 e agora –, tem-se mais La Niña. Assim, mesmo com um avanço da tecnologia e de variedades mais produtivas, as condições climáticas ainda continuam sendo um grande entrave ao aumento de produtividade. Apesar de que, ano após ano, observa-se esse aumento, poderia ser bem maior se não fossem essas intempéries. Além da La Niña este ano, que “tira” um pouco a pressão de chuvas sobre o Centro-Sul, o fato de as águas do Oceano Atlântico estarem também com anomalias negativas desde a primavera de 2021 colaborou para que os corredores de umidade vindos da Amazônia, e, consequentemente, as frentes frias, não ocasionassem chuvas regulares sobre essa localidade do Brasil, vindo a chover bem, principalmente em São Paulo, berço do setor no País, somente no final de janeiro, quando essas águas voltaram a se aquecer, possibilitando, assim, que os corredores de umidade ficassem mais posicionados sobre São Paulo, norte do Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. No entanto, em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, as chuvas estão muito mais intermitentes, vindo a atrapalhar os tratos culturais e, até mesmo, o pleno desenvolvimento dos canaviais, visto que os vários dias seguidos com
as chuvas deverão se estender até meados de abril, mantendo, assim, uma condição bastante favorável ao desenvolvimento dos canaviais e permitindo que a colheita se inicie já no final de março, ganhando forças ao longo do mês de abril. "
Marco Antonio dos Santos Agrometeorologista e sócio-fundador da Rural Clima
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março, ganhando forças ao longo do mês de abril. E o outono deverá ser marcado por um tempo mais aberto e com pouquíssimas chuvas. Não será uma total ausência, mas chuvas bastante esparsas. Isso manterá uma condição bastante favorável ao pleno andamento da colheita. Por outro lado, essa ausência de chuvas poderá comprometer o plantio de inverno. Com relação ao frio, é fato que, devido à La Niña, as primeiras ondas de frio já poderão ser observadas no final de abril e ao longo do mês de maio. Mas frio não significa geada. Apesar de as ondas de frio estarem ocorrendo mais cedo neste ano, os modelos não sinalizam geadas ao longo dessa primeira metade do outono. E é bem provável que esse inverno não venha a ser tão rigoroso como foi o de 2021, quando foram registradas 3 grandes geadas, ocasionando a quebra de produção dessa safra 22/23. Falar agora na primavera/22 é muito cedo, e, em qualquer prognóstico que for feito, se poderá cometer um erro gigantesco, tanto para os fenômenos La Niña/El Niño quanto e, principalmente, para o regime de chuvas e temperaturas, já que há muitos detalhes meteorológicos e climáticos associados do que a La Niña isoladamente. n
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o desafio da recuperação da produtividade Desnecessário discorrer sobre a recuperação dos preços e, consequentemente, da remuneração advinda dele ao setor sucroenergético, mas o assunto em questão precisa ter esse cenário como pano de fundo. Os bons ventos comerciais sopraram sobre todos os produtos da cadeia, açúcar, etanol e energia, ventos que se originaram de diferentes fontes, porém e afortunadamente sopraram para cima e tudo indica que continuarão nessa direção na próxima safra. Desafortunadamente, os mesmos ventos também sopraram para o setor de insumos, fazendo com que os custos de produção e as dificuldades de reposição de ativos se contrapusessem ao vetor de alta das remunerações dos produtos, porém a resultante desses vetores alavancou nossa já sofrida cadeia e nos fizeram “respirar e sonhar” com safras melhores.
Houve, porém, dois “elementos”, na verdade “maus elementos”, que, apesar de terem contribuído um pouco para os resultados comerciais desta safra, podem trazer dissabores consideráveis para a safra 22/23. Eles são a seca e a geada, que assolaram os canaviais na safra 21/22. A seca dificultou enormemente o desenvolvimento das soqueiras e dos plantios de inverno; as geadas, na sequência, praticamente zeraram o pequeno desenvolvimento que a cultura conseguiu até julho e agosto e trouxeram uma soqueira já debilitada pela seca a uma mesma idade fenológica, ou seja, os canaviais reiniciaram seu desenvolvimento a partir das primeiras chuvas de verão. O que temos diante desse cenário não é um desafio operacional, comercial ou de suprimentos e originação. O desafio que nós temos agora é: como fazer esse canavial se desenvolver o máximo possível em poucos meses de chuvas e potencializar os resultados comerciais que ainda se mantêm no horizonte? Ponderando que o clima é imponderável e considerando que, apesar dos preços dos insumos, me parece ser consenso que os produtores irão nutrir adequadamente seus canaviais, só nos resta um vetor a ser “turbinado”, o da fisiologia, ou seja, descobrir como “abrir o apetite” dos canaviais, fazer com que as raízes e folhas absorvam os nutrientes oferecidos, fazer com
O desafio que nós temos agora é: como fazer esse canavial se desenvolver o máximo possível em poucos meses de chuvas e potencializar os resultados comerciais que ainda se mantêm no horizonte? "
Humberto César Carrara Neto Consultor especialista no sistema sucroenergético
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Opiniões que as células metabolizem o máximo dos elementos e, de forma mais eficiente, transformando-os em massa vegetal, carbono e energia. Como fazer esse canavial aproveitar ao máximo os parâmetros edafoclimáticos no menor tempo que terá para se desenvolver? A exemplo do que fazemos com equipamentos mecanizados, quando avaliamos o seu potencial de produção máximo, eliminando todos os tempos perdidos para que, comparado com o rendimento operacional prático obtido, saibamos a que distância estamos do potencial máximo (capacidade técnica X capacidade operacional), diversos estudos de desenvolvimento vegetativo já nos indicaram que estamos muito longe do aproveitamento máximo dessa gramínea chamada cana-de-açúcar. Portanto entendo que a equação está montada: como proporcionar um crescimento diferenciado para os canaviais que vêm debilitados por seca prolongada, depois tiveram suas folhas queimadas pelo frio, anulando todo o desenvolvimento vegetativo que conseguiram até ali, obrigando à nova rebrota e ainda disputando comida com as ervas daninhas? Para isso, temos que consultar e ouvir os fisiologistas, entender o papel dos aminoácidos,
dos ácidos orgânicos, dos hormônios de crescimento, sua forma de ação na planta, saber o que e em que momento oferecer para que consigam “turbinar” o crescimento vegetativo dos canaviais, buscar informações sobre metabolismo vegetal e como potencializá-lo. Parece-me que, diante de um cenário desafiador e diferente, não podemos continuar a fazer o mesmo, oferecer nutrição de uma só vez, através de uma única fonte e por uma única forma de absorção. Temos que rever o tempo da nutrição, rever a oferta de micronutrientes, suas fontes e formas de absorção (radicular/foliar), potencializar metabolismo da planta; buscar rapidamente informações sobre formas de atuação e impactos de ácidos húmicos e fúlvicos, aminoácidos e hormônios, pode ser uma rota a ser explorada e, quem sabe, a partir de uma dificuldade implementada por fatores climáticos, aprendamos a explorar melhor o potencial dessa planta. Bem, meus amigos, nesta jornada, eu só consigo chegar até aqui, na montagem do cenário, na equalização do problema e no levantamento das questões... Passo, agora, a ser “ouvinte”. Com a palavra, os fisiologistas e os nutricionistas. Microfones abertos a eles. n
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uma visão das políticas e tecnologias aplicadas no setor sucroenergético Nos últimos 20 anos, a produtividade do milho no Brasil cresceu cerca de 70%, da ordem de 3.000 para 5.000 kg/ha, enquanto, nesse mesmo período, a produtividade da cana cresceu cerca de 15%, de 68 para 80 t/ha em 2009, e depois caiu para 76 t/ha atuais. Nesse período, os acontecimentos mais marcantes no setor foram a expansão da mecanização da colheita da cana sem queima e a persistente crise relacionada à expansão da área e do número de usinas de cana, associadas a fatores externos. Mas gostaria de atentar para um fator interno. Muitas empresas e produtores fizeram a mecanização da colheita e do plantio apenas adquirindo máquinas, sem preparar o canavial, os operadores, os gestores, a manutenção e as tecnologias de produção nesse novo ambiente. No final dos anos 1980, já projetávamos a eliminação da queimada, a mecanização e a necessidade de pesquisa e desenvolvimento da produção nesse novo ambiente. Veja que não era simplesmente “colheita sem queima”, mas sim produção. Faço essa abordagem da colheita porque é usual nas usinas, há muitos anos, a colheita atrair muita atenção. Pois é a operação da entrega do produto, é de raciocínio lógico, de senso comum, é uma operação intensa, é a interface com a indústria e, especialmente, está perto do caixa. Porém, nos últimos anos, com a exclusividade da mecanização, envolvendo altos custos e complexidade, essa tendência cresceu. As atenções se concentraram na colheita.
Logo pela manhã, os diretores fazem ao seu gerente várias perguntas sobre a colheita, alguma sobre plantio e raramente sobre tratos, e o gerente faz o mesmo com os supervisores, os supervisores com seus líderes, até os estribos nos campos e o chão das oficinas. "
Valmir Barbosa Consultor Sênior da Datagro Alta Performance
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Logo pela manhã, os diretores fazem ao seu gerente várias perguntas sobre a colheita, alguma sobre plantio e raramente sobre tratos, e o gerente faz o mesmo com os supervisores, os supervisores com seus líderes, até os estribos nos campos e o chão das oficinas. Nas reuniões, gasta-se longo tempo discutindo detalhes da colheita e um tempo apressado e impaciente sobre tratos e plantio, pois a reunião “desvia para detalhes técnicos”. Passa o tempo e, na colheita, aparece a frustração com os tratos e o plantio do ano passado. E, ainda, muitas vezes, a frustração aparece não pelo inconformismo da baixa TCH, mas sim pelo baixo rendimento da colhedora. Essa baixa produtividade causa estranheza porque não condiz com a disponibilidade de tecnologias. Hoje, temos tecnologia de informação e de equipamentos para fazer mapeamento da fertilidade e da adubação de precisão.
Opiniões Temos tecnologias de controle de doenças, defensivos avançados, etc. Mas as ocorrências de doenças continuam pressionando extensas áreas. Temos, atualmente, herbicidas para todas as espécies de mato. Temos equipamentos de alta capacidade, com avançada tecnologia de geoposicionamento e controle da aplicação. Mas continuamos a ter grandes extensões de canaviais com muita matocompetição. Até mesmo canaviais inviabilizados pela ocorrência de mato. Temos máquinas com tecnologias embarcadas, com piloto automático, com bitolas ajustadas, com pneus de alta flutuação, com avançados computadores de bordo. Temos ofertas e investimentos em treinamentos de operadores. Temos tecnologias e técnicas de geoprocessamento, tecnologias de satélite e softwares muito avançadas para a elaboração de projetos de plantio. E, ainda assim, temos grandes extensões de soqueiras com muitas falhas. Ainda temos muitos talhões com manobras em cima da soqueira. Temos uma enorme e boa “caixa de ferramentas” para o plantio e, ainda assim, temos grandes ocorrências de plantios ruins e locais com baixa produtividade já no primeiro corte. Temos muita frequência de plantio com necessidade de replantio. Temos, nos lançamentos pelos programas de melhoramentos, portfólios com variedades cada vez mais produtivas e ricas. Os índices de atualização de variedades são progressivos. Mas frustrações com variedades em áreas extensas ainda são frequentes. E os teores de ART não evoluem. As perdas por frustrações ainda parecem maiores que os ganhos pela substituição. Temos inseticidas, equipamentos, softwares e aplicativos para todas as pragas. Mas as ocorrências, infestações e danos aumentaram e persistem. Para a gestão dos processos, temos ferramentas incríveis de AP, IoT, IA, etc. Mas, ainda assim, temos grandes extensões de canaviais muito ruins. E então?! O que aconteceu? Ou está acontecendo? Nos últimos anos, muitas novidades foram desenvolvidas, mas, em sua maioria, essas novidades são ferramentas, não são práticas agrícolas. No final da década de 2000, simultâneo ao crescimento da mecanização e do ambiente de palhada, tivemos o início de uma “dança de cadeiras” em todos os níveis, por causa da expansão e retração do setor. Com mudanças nos objetivos, no capital, na direção, na operação, na orientação, no conhecimento, etc.,
que inclui rotatividade de funções, sem respeitar as habilidades e os conhecimentos técnicos dos profissionais. Apenas habilidades e boas intenções não são suficientes. Isso me lembra o professor Nadir da Glória, que, muitas vezes, me disse que “de boas intenções, o inferno está cheio”. Com isso, soluções dos problemas habituais foram perdidas e soluções para os problemas novos não foram bem desenvolvidas. A rotatividade de pessoas cria um efeito oásis. Quando se tem uma liderança nova, é criada a expectativa de resultado diferente, como a visão de um oásis. Passa o tempo, e os problemas persistem, as tensões se manifestam, e o oásis esmaece. Um tempo foi perdido. O diagnóstico estava errado, trocar as pessoas não resolveu. Agora me lembro do sr. Maurílio Biagi pai, que dizia: “O administrador que espera encontrar homens prontos fracassará, pois, homens prontos não existem”. A pesquisa e o desenvolvimento agrícola como iniciativa das empresas de máquinas e de insumos são fundamentais, mas ficam incompletos se não houver pesquisas da parte dos agricultores, pois devem ser eles os geradores de demandas e das inovações integradas aos processos para a produção de cana. Ou interfaces entre as diversas práticas. A P&D dentro das usinas é muito produtiva porque, embora com orçamentos muito baixos, são direcionadas, integradas e diretamente aplicáveis. Houve um tempo melhor. Os centros de pesquisa como o Planalsucar, o Centro de Tecnologia Copersucar e o IAC deram grande contribuição. As universidades tinham recursos e prestaram enorme contribuição com seus laboratórios, parcerias e professores como consultores e pesquisadores. É sempre bom lembrar que a cana é a matéria-prima e, qualquer que seja o desenho, a cana precisa ser produzida. E sendo essa uma atividade agrícola, é bom observar a natureza da agricultura e do agricultor. A agricultura, por sua natureza, é a atividade humana que mais interação tem com o meio ambiente local. E o agricultor, independente do seu nível tecnológico e de suas ferramentas, precisa conhecer profundamente o ambiente local e as suas interações. O bom agricultor acredita que é preciso fazer as coisas certas, na hora certa e do jeito certo para ter uma boa lavoura. Então, enquanto tentamos construir protocolos muito inteligentes, é preciso estabilizar e formar pessoas e investir em P&D para fazer evoluir o processo agrícola. n
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fusões e aquisições e choques de cultura Fatores econômicos, sociais e conjunturais vêm influenciando sobremaneira o comportamento do setor sucroenergético e de suas indústrias e cadeias produtivas, desde 1970, com a criação do Proálcool, trazendo mais incentivos econômicos pelo Estado a partir de 1976, ocasionando o crescimento desse setor, que detém, atualmente, a posição de maior produtora e exportadora global de açúcar e de etanol, representando 26% da produção e um PIB estimado em US$ 40 bilhões (2% do PIB Nacional). E, apesar de uma força em geração de empregos e fomentador econômico, houve períodos que fizeram as empresas oscilarem entre crescer, se endividar, crescer e se endividar, sucessivamente, lastreados por períodos de hiperinflação e colapso do preço do petróleo, fim de subsídios ao setor e da intervenção estatal, pelo período de abertura comercial, pela liberação de preços do etanol, pela entrada no mercado de veículos full flex, pela crise global, pelo choque de custos e, posteriormente, pela retomada de investimentos. No gráfico em destaque, verificam-se três épocas distintas de fusões e aquisições da indústria sucroenergética brasileira. Identificadas como: 1ª onda, a consolidação e a centralização das economias agroindustriais; 2ª onda, o boom de crescimento, quando ocorreram entradas de novos agentes empreendedores, sendo uma fase do maior choque cultural entre as empresas novas e empresas tradicionais; e a 3ª onda, a crise do setor, que acabou provocando a saída de alguns desses agentes empreendedores, que não souberam interpretar a cultura empresarial do setor sucroenergético, “tão” grande e “tão” singular e complexo.
Meu primeiro mentor no setor era um "emissário" para assumir a usina comprada, ele dizia: 'A tarefa mais difícil que tenho encontrado nessa missão é a de comunicar ao usineiro que a usina não é mais dele' "
Celso Albano de Carvalho Gerente de Acesso à Mercados e Coordenador do Polo Educacional do Pecege-USP
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Entre 2007 e 2022, foram mais de 130 processos de aquisições minoritárias, majoritárias, jointventures e aquisições. Atualmente, o Brasil possui 422 indústrias de produção de açúcar, etanol e etanol de milho, dentre elas um grupo de 124, das quais 48 estão paradas e 76 em operação, em processo de recuperação judicial (103) e falidas (21). Melhores preços de matéria-prima e produtos industrializados, aliados ao fato de uma boa parte de agroindústrias canavieiras estarem mais estruturadas, vêm provocando uma nova onda de fusões e aquisições. O que me faz pensar em três situações mais claras a se destacar: a queda das tradicionais sem gestão; a quebra dos projetos greenfields de donos que não souberam entender o setor; e a fase de crescimento das capitalizadas. Lembro-me do meu primeiro mentor no setor sucroenergético, que se tornou um grande amigo, dotado de uma sabedoria peculiar e muita confiança demandada pelo seu líder maior, empresário gigante do setor sucroenergético, que conferiu a ele a responsabilidade de ser o “emissário” a assumir as usinas compradas. E ele, em sua sábia simplicidade, dizia: “A tarefa mais difícil que tenho encontrado nessa missão é a de comunicar ao usineiro que a usina não é mais dele”, lembrando situações inusitadas, como ter que ir até a sede da usina solicitar ao proprietário antigo que devolvesse o motor de popa de seu barco, ou móveis, objetos ou qualquer ativo que havia sido vendido no “pacote”.
Opiniões Esse tipo de situação já é coisa do passado. Atualmente, as maiores fusões e aquisições vêm ocorrendo junto a empresas que não souberam gerir adequadamente, ou não souberam entender a complexidade de conduzir uma usina/destilaria, ou que, por arrogância de terem vindo de outros setores econômicos, desconsideraram e não valorizaram os fundamentos básicos da gestão de uma empresa sucroenergética, como valores, transparência, confiabilidade, segurança, ética e, sobretudo, as relações sustentáveis por décadas. Muitas ocorrências de choque de culturas entre “quem compra e quem é comprado” vêm delineando um novo momento do setor sucroenergético. Situações de oportunidade em crescimento; de “espreitar” o desempenho do vizinho em Recuperação Judicial e adquirir sua empresa, sabendo aguardar o melhor momento; de se fortalecer, juntando em joint-ventures, e vários outros modelos. Sendo que não nos cabe indicar e evidenciar qual ou quais personagens são esses, mas sim o dever de procurar trazer algumas soluções sobre como saber conduzir esse processo de choque cultural entre tantas usinas vendidas e compradas. Geralmente, uma empresa é adquirida pelos motivos ativo (valor do negócio) e qualidade do time. Porém, é necessário observar seus dois motivos de compra, pois a maioria das empresas foca no ativo e se esquece das pessoas, o que gera perda de valor. É fundamental a adequada gestão de pessoas a partir do processo de fusão e aquisição, para que o artifício de integração seja bem-sucedido, pois, entre vendidas e compradas, o resultado inicial é o choque cultural, que, quando mal administrado, tende a provocar o fracasso da fusão ou aquisição. O choque cultural é a dificuldade mais preocupante, pois muitas fusões ou aquisições iniciam com preocupações no planejamento e no investimento de recursos em áreas como finanças, TI ou marketing, se esquecendo de fazer gerenciamento das culturas envolvidas; e alguns colaboradores passam a adotar comportamentos territoriais e enxergam a integração como uma verdadeira ameaça, ou até uma fonte de distração para o “real trabalho” que, na concepção deles, é o maior objetivo a realizar.
Nessa fase, a organização deve definir claramente a Visão, a Missão e os Valores, com significado para tudo isso; atentar para a imagem de suas lideranças; ter regras e identidade, rituais para fortalecer a nova cultura, feedbacks constantes e pesquisa do clima organizacional; registrar os princípios da nova cultura, identificando diferenças rapidamente e fazendo abordagem sistêmica, migrando todos para a nova cultura e mensurando seus resultados. A empresa, por si, deve atuar de modo que 1) seja feito um diagnóstico do momento atual e orientados os esforços da integração cultural; 2) seja elaborado um plano estratégico de integração cultural, alinhado com o plano estratégico de negócios da empresa, com recomendações e programas concretos, além de comportamentos desejados, os quais, ao serem compartilhados e vividos na nova companhia, irão apoiar a execução da estratégia e resultarão no alcance das metas de negócio; 3) que a comunicação seja feita com total transparência, e, assim que o processo de fusão for concretizado, é primordial que todos saibam os verdadeiros objetivos de mudança, de crescimento e de toda a estratégia de recepção do time da empresa comprada, valorizando colaboradores, inseridos no contexto do negócio, gerando maior adesão interna, maior confiança, motivação e entregas mais eficientes ─ os objetivos, as perspectivas, as expectativas geradas e as oportunidades originárias pelo processo de fusão e aquisição devem ser passados com otimismo e motivação, destacando oportunidades de aprendizados e crescimento profissional. Entendendo as diferentes culturas, é mais fácil identificar e perceber o melhor de cada cultura para formar a essência da que permanecerá, observando que, na essência, essas mudanças não sejam tão grandes ou agressivas quanto se especula. Assim, tão logo essas duas etapas sejam iniciadas, deve-se definir a nova cultura, sendo estabelecida e disseminada para toda a empresa, com estímulos claros de adequação e entendimento, pois, quanto mais rápido os colaboradores forem informados sobre os objetivos e a cultura da nova organização, mais rápido o retorno ao mercado, como uma empresa mais fortalecida e pronta para se tornar referência e alcançar vantagem competitiva. FUSÕES E AQUISIÇÕES NO SETOR SUCROALCOOLEIRO E, finalmente, as lideranças deverão 2000-2018 comunicar e celebrar a mudança, com 3ª ONDA 2ª ONDA 1ª ONDA CRISE BOOM clareza de que o resultado da fusão CONSOLIDAÇÃO E CENTRALIZAÇÃO das duas empresas é muito maior do 26 25 que essas empresas separadas, destacando o objetivo de crescimento e de 15 14 13 oportunidades, fortalecendo a cultura 11 10 8 7 7 9 7 organizacional, fazendo-se sentir a 5 4 4 4 3 4 1 “atmosfera” de engajamento no trabalho por um motivo inovador com 2000 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 2018 um grande potencial de sucesso.n
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a m i x o ó Pr içã ed
na r a i c n u n A iões n i p O a t s Revi -2200 3 7 7 9 9 16
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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, milho, sisal, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade ano 19 • número 72 • Divisão C • Mai-Jul 2022
a produção e a comercialização do etanol, do açúcar, do biogás, da bioetricidade e do carbono
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