A internacionalização da propriedade das usinas brasileiras - OpAA23

Page 1

www.revistaopinioes.com.br

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade sugarcane, sugar, ethanol & bioelectricity jan-mar 2010

a internacionalização da propriedade das usinas brasileiras ownership internationalization of Brazilian Mills




a internacionalização da propriedade das

índice

usinas brasileiras 05 10 12

16 20 24 28 30 33 36 40 81

Editorial da Edição: Eduardo Pereira de Carvalho Diretor da Expressão

Governo: Reinhold Stephanes Ministro da Agricultura

Ricardo de Gusmão Dornelles

Diretor de Combustíveis Renováveis do MME

Consultores & Especialistas: Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da FEA da USP

Plinio Mário Nastari Presidente da Datagro

Júlio Maria Borges

44 46 50 52 55 59 62

Diretor de Corporate Finance da KPMG no Brasil

Raul Gabriel Beer

Assessor em Fusões e Aquisições

Ismael Perina Junior Presidente da Orplana

Sergio Leme dos Santos

Presidente da Dedini Indústrias de Base

Carlos Roberto Liboni Consultor Independente

Ensaio Especial: Maurílio Biagi Filho

Pedro Isamu Mizutani

Presidente da Cosan - Açúcar e Álcool

Martinho da Mota Silveira Neto

Diretor de Açúcar e Bioenergia da Bunge

Mário Lindenhayn

Presidente da BP Biofuels Brasil

Marcelo Weyland Barbosa Vieira

Diretor de Açúcar e Álcool da Adecoagro Brasil

Igor Montenegro Celestino Otto Diretor Executivo do Grupo USJ

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo Diretor Comercial da Usina Alta Mogiana

Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial do Grupo Balbo

Bancos:

Presidente da JOB Economia e Planejamento

Paulo Guilherme de Menezes Coimbra

Usinas

64 67 70 72 75 78

Alessandro Baldoni

Vice-presidente da Morgan Stanley Dean Witter

Guilherme Campos e Nicolás Vergara

Superintendente e Consultor de Riscos do Banco Santander

Allan Simões Toledo

Vice-presidente do Banco do Brasil

Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú-BBA

Umberto Grohmann Ortolan

Gerente Sênior de Projetos do Banco Rabobank

Luciano Medeiros Prado

Superintendente de Agronegócios do Banco Votorantim

Membro do CDES da Presidência da República

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - Ribeirânia - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - opinioes@revistaopinioes.com.br - Diretor de Operações: William Domingues de Souza - wds@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4660 - Coordenação Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - vrds@revistaopinioes. com.br - 16 3965-4606 - Suporte de Vendas: Priscila Boniceli de Souza Rolo - pbsc@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4696 - Patricia Curtarelli Soares- pcs@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4616 Marcelo Castilho Bento - mcb@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4698 - Auristela Malardo - am@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4698 - Estrutura de Operações Comerciais: Nicole Xavier de Souza - nxs@revistaopinioes.com.br - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@revistaopinioes.com.br - Assistente do Editor Chefe: Patrícia Curtarelli Soares pcs@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4616 - Freelancer da Editoria : Priscilla Araujo Rocha - par@revistaopinioes.com.br - Assistente do Diretor de Operações: Matheus Alves Viana da Silva mav@revistaopinioes.com.br - 16 3965-4661 Correspondente na Europa: Sonia Liepold-Mai - sl-mai@T-online.de - +49 821 48-7507 - Correspondente na Índia: Marcelo Gonçalez mg@revistaopinioes.com.br - Correspondente em Taiwan: Wagner Vila - wv@revistaopinioes.com.br - Jornalista Fotográfica na Ásia: Marcia Maria Ribeiro - mmr@revistaopinioes.com.br Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Jacilene Ribeiro Oliveira Pimenta - jrop@revistaopinioes.com.br - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Fotografias: Acervo pessoal Foto da Capa: Paulo Altafin - www.pauloaltafin.com.br - 19 8111-8887- Foto Índice: Arquivo - Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 8.500 exemplares - Veiculação: Comprovada - Home-Page: www.revistaopinioes.com.br - Rediagramação da Nova Opiniões: Agência UmZeroUm - SP - 11 3849-4579 - Tradução para o Inglês: BeKom Comunicação Internacional - Fone: 11 6398-0825


editorial

Opiniões

ados meios internacionalização de produção de açúcar e etanol no Brasil The internationalization of sugar and ethanol production means in Brazil

Há, hoje, uma presença crescente de capitais estrangeiros no setor. Nada de novo. Nos 478 anos da história da cana no País, isso já ocorreu muitas vezes. Não indo longe, lembro a presença da Dreyfus desde 2000, seguida pela entrada da Tereos, os passos iniciais da Cargill, as iniciativas importantes da ADM, da Bunge, da BP, da Nobel, da Abengoa, de George Soros, de indianos e outros, em passado mais recente.

Nowadays, foreign capital is increasingly present in the industry. That is nothing new. In the 478-year history of sugarcane in the country, this happened often before. Without looking back too far, I remember the presence of Dreyfus since 2000, followed by the entry of Tereos, the initial steps of Cargill, the important initiatives of ADM, Bunge, BP, Nobel, Abengoa, George Soros, the Indians and others, in the recent past.

" Vale apontar, porém, que capital estrangeiro por si só não é apólice de seguro contra soberba, quebras, pobre gestão e fraco desempenho. Basta olhar nosso entorno. " Eduardo Pereira de Carvalho Diretor da Expressão Director of Expressão

E o sistema financeiro internacional, no período pré-crise, identificando e apoiando quase uma dúzia de projetos de investimentos no setor, nem todos, por enquanto, histórias de sucesso. Paralelamente, capitais nacionais de monta também decidiram aí investir. A presença relevante da Cosan (e seu espetacular lance com a chegada da Shell), São Martinho e Guarani, no mercado de capitais, completa o presente quadro, em adição à preanunciada nacionalização da Brenco pela ETH. Tal discussão envolve, além de razões de ordem econômica, muitas de natureza política. Não entro nessa seara. O País é, reconhecidamente, um dos grandes receptores de investimentos diretos de capitais estrangeiros, presentes em praticamente todos os campos e setores de nossa economia, com benefícios das mais variadas ordens.

And also the international financial system, in the pre-crisis period, identifying and supporting almost a dozen investment projects in the industry, of which not all have, for the time being, become success stories. In parallel, large amounts of Brazilian capital were also earmarked for investment in the industry. The important presence of Cosan (with its spectacular move involving Shell), São Martinho and Guarani, in the capital market, finishes off the current scenario, in addition to the pre-announced nationalization of Brenco by ETH. This matter involves, apart from economic reasons, a number of political issues. I will not address them here. The country is undoubtedly one of the biggest beneficiaries of direct foreign investments in just about all areas and industries of the economy, enjoying a variety of benefits. Why is this not so in the areas of ethanol and sugar? In the last 30 years we built – considering the 100 million tons of sugarcane crushed at the end of the seventies, to the prac-

5


editorial Por que não no álcool e açúcar? Construímos, nos últimos 30 anos – dos cem milhões de toneladas de cana esmagadas, no final dos anos 70, aos práticos 600 milhões de toneladas dessa última safra –, a mais eficiente, dinâmica e inovadora máquina de cultivo e transformação industrial de açúcar e álcool de que se tem notícia em todo o mundo. Até alguns anos atrás, a união do empreendedorismo caboclo (por vezes com sotaque italiano) com o decisivo apoio governamental foi capaz de criar toda essa riqueza. Hoje, não mais. Por quê? Insuficiência de EBITDA, de geração de caixa, de criação de excedente. Os volumes dos investimentos e a natureza da operação tornaram-se extremamente intensivos em capital, tanto no campo quanto na indústria. Os volumes de recursos necessários para sua continuada expansão – no mundo das commodities, fator indispensável de sobrevivência – cresceram de forma antes inimaginável. E o fluxo de caixa normal da atividade, mesmo em anos conjunturalmente favoráveis, não permite mais o autofinanciamento de seu crescimento, mesmo com o uso alavancado dos modernos instrumentos creditícios, financeiros e comerciais. É necessário injeção de novos capitais de fora, uma vez que grande número dos atuais proprietários de usinas está com praticamente todo seu patrimônio (e, por vezes, muito mais) comprometido com as operações existentes. Vem daí fortíssima razão econômica para a entrada de recursos externos. Entendamos bem: dinheiro externo ao setor, seja estrangeiro, seja do mercado nacional de capitais, seja de outras áreas de nossa economia. Não é o único motivo. Tais capitais trazem consigo, muitas vezes, novas tecnologias, novos modelos de governança, novos métodos de gestão, novos mercados. Provocam fertilização cruzada. Todos reconhecemos seus fantásticos resultados potenciais. Melhorias contínuas de performance, de eficiência, de inovação e as consequentes ondas de renovações resultantes. Não se trata de substituição dos atuais empresários. Continuam eles a ter papel relevante. O setor continuará pulverizado, por maior e mais acelerado que seja o processo de concentração. Há algo inerente à atividade que permite a sobrevivência de unidades isoladas e de menor tamanho relativo. Onde o nível de excelência da gestão prepondere. Onde a qualidade das terras seja excepcional. Onde a dificílima integração campo-indústria seja modelar. Onde o nível tecnológico, especialmente no campo – muito mais difícil de ser gerido do que na indústria –, seja de primeira. E onde o nível de capitalização – ponto essencial – seja adequado. Nada impedirá, no entanto, a continuidade do processo de concentração, por todas as razões mencionadas. Os investimentos estrangeiros são parte integrante desse quadro. Como Darwin nos dizia, com enorme sabedoria, sobreviverão os mais aptos, ou melhor, aqueles mais capazes de se adaptar às novas condições. O setor é exemplo de enorme resiliência. Vale apontar, porém, que capital estrangeiro por si só não é apólice de seguro contra soberba, quebras, pobre gestão e fraco desempenho. Basta olhar nosso entorno. Sem essa consolidação, a péssima comercialização interna do etanol – um de nossos grandes problemas, dada a grande pulverização da produção – permanecerá como um importante obstáculo ao pleno desenvolvimento do setor.

6

Opiniões tically 600 million tons processed in the past harvest – the most efficient, dynamic and innovative plantation and industrial transformation apparatus of sugar and ethanol of which the world had ever heard. Until a few years ago, the combination of “native” entrepreneurship (at times with an Italian accent), with incisive governmental support, was capable of creating all this wealth. Not any more. Why? Insufficient EBITDA, cash generation, generation of surplus. Investment volumes and the nature of operations have become highly capital intensive, both in the agricultural and industrial phases. The required volume of funds for continuous expansion – in the world of commodities an essential survival factor – grew as never before thought possible. A normal cash flow from activities, even in years with unfavorable economic scenarios, no longer allows self-financing of their growth, even when resorting to the use of modern credit, financing and trade leveraging tools. What is needed is the injection of new foreign capital, given that a large number of current mill owners have all their equity (and at times even a lot more) tied up in current operations. Hence, the strong economic need for new foreign funds. Let us be quite clear about this: these are external funds, whether from abroad or from the local capital market, or other sectors of the economy. But it is not the only reason. Such capital is often associated with new technologies, new governance models, new management models, new markets. It brings about cross-fertilization. We all can see the fantastic potential results. Continuous improvement of performance, efficiency, innovation and the subsequently resulting waves of renovation. This is not about replacing the current entrepreneurs. They continue playing a relevant role. The industry will continue in a decentralized state, regardless of how big or fast the concentration process will be. There is something inherent in the activity that allows the survival of isolated units of smaller relative size. The degree of management excellence is what stands out. Land quality is extraordinary. The integration of the agricultural and industrial parts stands as a reference model. The technological level, especially in agriculture – which is more difficult to manage than the industrial part – is first class, in which the level of capitalization – an essential aspect – is adequate. However, nothing will prevent the continuity of the concentration process, for all the reasons mentioned. Foreign investments are an integral part of this scenario. As Darwin would say, with extraordinary wisdom, the most apt will survive, or rather, those best equipped to adapt to new circumstances. The industry stands out for its huge resilience. One should observe, however, that foreign capital in itself is no insurance policy against presumptuousness, bankruptcies, poor management and low performance. It suffices to look around. Without this consolidation, the so poorly performed distribution of ethanol – one of our major problems given the decentralization of production – will continue being an important obstacle for the industry’s full development.





governo

investimentos externos na cana-de-açúcar:

parceria nas oportunidades Foreign investments in sugarcane: partnership in opportunities

" perde-se um pouco do romantismo de épocas passadas, mas não se deve perder nem negligenciar a memória dos empreendedores que possibilitaram ao nosso País a atual imersão nesse promissor e fantástico mundo da energia renovável e limpa " Reinhold Stephanes Ministro da Agricultura Minister of Agriculture

O setor sucroalcooleiro, já chamado de sucroenergético, constitui-se um enorme manancial de oportunidades. E o sucesso atual da economia brasileira o potencializa. Ter alcançado “grau de investimento”, na avaliação das agências internacionais de risco, colocou o Brasil no foco dos investidores, e o agronegócio tem recebido especial atenção, numa onda de fusões, aquisições e criação de novas empresas que transcende o setor de cana-de-açúcar, embora seja ele um dos principais protagonistas desse movimento. É muito bom constatar esse interesse internacional por uma atividade que tem merecido significativo apoio do governo brasileiro e que se propõe ser um participante ativo na necessária mudança da matriz energética mundial. A transformação do etanol em uma mercadoria comercializada internacionalmente (commodity) é objetivo do próprio setor, de forma que a ampliação do potencial de investimento deve ser considerada bem-vinda. Os investimentos na produção de cana, açúcar, etanol, energia da biomassa e alcoolquímica nos últimos cinco anos são surpreendentes. Desde 2005 e até 2011, 115 novas unidades foram (ou estão sendo) instaladas. Fato que exige investimentos de, aproximadamente, US$ 40 bilhões. Tamanho fluxo de recursos somente se viabiliza se for clara a sustentabilidade econômica dos projetos. É isso que permite a busca da sustentabilidade social e ambiental requerida pelo mercado e pelos governos que estão se propondo a tornar mais limpa a matriz energética de seus países. Ao despertar a atenção de investidores internacionais, o setor comprova o enorme potencial e con-

10

The sugar and ethanol industry, now referred to as the sugar-based energy industry, is a tremendous source of opportunities. The current success of the Brazilian economy enhances it even further. To have achieved “investment grade” in the assessment of international credit rating agencies has placed Brazil on the investor map. Agribusiness has received special attention, in what is a wave of mergers, acquisitions and the creation of new companies that transcends the sugarcane industry, albeit the latter is one of the main protagonists of this movement. It is also good to see the international interest in an activity that has received the deserved support from the Brazilian government that intends to play an active role in the required change of the world energy matrix. The transformation of ethanol into a product sold internationally (commodity) is an objective of the industry itself. Therefore, growing the investment potential should be welcomed. Investments in the production of cane, sugar, ethanol, energy from biomass and ethanol-based chemistry in the past five years have been surprising. From 2005 and until 2011, 115 new units were/ will be installed, requiring investments of approximately US$ 40 billion. Such an impressive flow of funds is only feasible if projects’ economic sustainability is clear. It is what allows seeking social and environmental sustainability required by the market and by governments that propose to make their countries’ energy matrix cleaner. In awakening the interest of international investors, the industry provides proof of this tremendous potential, attracting important partners, while al-


Opiniões segue importantes parceiros, permitindo antecipação de metas e maior segurança no desenvolvimento do Programa Nacional de Agroenergia. Facilita-se a abordagem de mercados externos, pela diversidade da experiência internacional na comercialização de mercadorias por parte dos novos investidores, facilita-se acesso à logística de transporte e a modernos mecanismos de proteção de preços, obtêm-se tecnologias ainda não disponíveis internamente, assim como se viabilizam investimentos em pesquisa de novas tecnologias e produtos. Agiliza-se o saneamento de empresas importantes que, embora operacionalmente eficientes, foram infelizes em decisões de fontes de financiamento, diante da crise financeira internacional. O fluxo de novos capitais na atividade deve ser visto, também, como um passo subsequente da intensa profissionalização que se constata, há alguns anos, e que permitiu a abertura de capital de grupos nacionais produtores de açúcar e etanol. O ambiente de negócios se moderniza e se fortalece, deixando um passado típico de empreendimentos familiares que, embora exitosos, têm agora que se adaptar à evolução dos negócios e das próprias famílias. Perde-se um pouco do romantismo de épocas passadas, mas não se deve perder nem negligenciar a memória dos empreendedores que possibilitaram ao nosso País a atual imersão nesse promissor e fantástico mundo da energia renovável e limpa. Uma fonte que pode garantir a existência humana de forma mais digna, com melhor qualidade de vida. Uma energia que se fundamenta no trabalho e no desenvolvimento econômico e social de regiões promissoras, mas ainda em processo de desenvolvimento. Energia limpa e pacífica, que mais pacífica fica quando incorpora parceiros de todas as partes do mundo. Conhecedores que são dos objetivos de sustentabilidade do projeto brasileiro de produção de agroenergia, em que as exigências sociais e ambientais estão fortemente amparadas em leis, e sendo esses investidores originários de regiões que ampliam a cada dia as exigências nesse mesmo sentido, é de se supor que seus compromissos com esse requisito de sustentabilidade sejam também bastante grandes. Assim como seus interesses em terceiros países, eventuais consumidores futuros, certamente, dificultarão que nossos produtos sejam objeto de barreiras comerciais discriminatórias, que impeçam o desenvolvimento desses mercados. Significativos fluxos de investimentos internacionais só acontecem em negócios e momentos especiais. A globalização da economia mundial tem proporcionado ondas temporárias em alguns setores e regiões. No caso atual, não parece ser isso o que está acontecendo. Trata-se de investimentos que se consolidam já há vários anos, que certificam uma atividade promissora e que, juntamente com o capital nacional, certamente contribuirão para o efetivo aproveitamento das oportunidades que podemos vislumbrar para o setor.

lowing anticipating goals and providing more safety to the development of the National Agro-energy Program. Access to foreign markets is facilitated through the diversity of international experience obtained by new investors in trading goods, access to transportation logistics and to updated price protection mechanisms is facilitated, one obtains technologies not yet available in the domestic market, and new investments in new technology and product research are made feasible. One accelerates the recovery of important companies that, albeit operationally efficient, unfortunately, and in view of the international financial crisis, erred in making decisions about sources of financing. The flow of new capital to this activity should also be viewed as a subsequent step in the intensive professionalization that for several years has been in progress, having allowed Brazilian business groups that produce sugar and ethanol to go public, opening their capital. The business environment is modernizing and becoming stronger, leaving behind an entrepreneurism of typically family-oriented businesses, which, though successful, must now adapt to business evolution and even to that of families themselves. One loses a bit of the romantics of bygone ages, but one should not forget or neglect the memory of entrepreneurs who allowed our country to now immerge in this promising and fantastic world of renewable and clean energy. A source that may assure human existence in a more dignifying way, with better quality of life. Energy based on work and the economic and social development of promising regions, but still in the development process. Clean energy, used peacefully, becoming even more peaceful when aggregating partners from all over the world. Knowledgeable as they are of these sustainability objectives of the Brazilian agro-energy production project, in which social and environmental requirements are strongly anchored in legislation, and while such investors come from regions that every day increase such requirements, one should expect that their commitments to the sustainability requirement is also very strong. Like their interests in third countries, possible future consumers will surely make it difficult for our products to become the object of discriminatory trade barriers that prevent the development of these markets. Significant international investment flows only occur in business and on special occasions. The globalization of the world economy has resulted in temporary waves in some industries and regions. In the present case, this apparently is not so. We are faced with investments that have been consolidating over the years, warranting a promising activity that, in combination with Brazilian capital, will surely contribute to the effective use of the opportunities one may envisage for the industry.

11


governo

Opiniões

a internacionalização contribui para tornar o

etanol uma commodity Internationalization contributes to making ethanol a commodity

A internacionalização da propriedade é vista, por vezes, como uma ameaça à soberania nacional e é questionada pelos mais passionais. Numa área estratégica, como o setor energético, o debate ganha mais evidência. O slogan “O petróleo é nosso”, consagrado na década de 50, não deixa dúvidas: o País não pode prescindir da soberania sobre suas riquezas. Mas, se o debate no Brasil, muitas vezes, foi ideológico, não podemos afirmar que decisões de Estado estejam dominadas por esse viés em pleno século XXI. O conceito “segurança energética” evolui e não significa necessariamente posse, mas garantia de suprimento e diversificação das fontes.

Ownership internationalization is at times seen as a threat to national sovereignty and questioned by the most passionate. In a strategic field, such as the energy industry, the debate becomes more apparent. The slogan “The oil is ours”, generalized in the 50’s, leaves no doubt: the country cannot prescind from sovereignty over its riches. However, if the debate in Brazil quite often is ideological, one cannot state that decisions by the State are dominated by this bias, at a time well into the 21st Century. The concept “energy safety” evolves and does not necessarily mean ownership, but rather supply guarantee and diversification of sources.

" a internacionalização indica que as condições para o investimento, bem como o marco regulatório, se não são ideais, são, ao menos, satisfatórios na avaliação desses investidores " Ricardo de Gusmão Dornelles Diretor de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia Director of Renewable Fuels of the Ministry of Mines and Energy

O México é um caso emblemático. Lá, o petróleo é tema sensível para a opinião pública. O petróleo é monopólio do Estado em toda a cadeia de produção e comercialização, e há proibição expressa na Constituição a qualquer participação de empresas estrangeiras. A questão da internacionalização da propriedade, nesse caso, chega ao ponto de inviabilizar os investimentos que dariam ao México as condições para sustentar a sua independência energética no médio e longo prazo. Em 1999, quando se completou o processo de desregulamentação do setor sucroenergético no Brasil, praticamente não havia presença estrangeira. Em 2008, essa participação era de 12% e, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, hoje, mais de 15% do esmagamento de cana do Brasil pertencem a empresas estrangeiras.

12

Mexico is a typical case. There, oil is a sensitive issue for public opinion. Oil is a State monopoly throughout the production and distribution chain, and the Constitution expressly prohibits any participation by foreign companies. In this case, the issue of ownership internationalization reaches the point of rendering unfeasible any investments that would provide Mexico the conditions to sustain its energy independence in the medium and long term. In 1999, when the Brazilian sugar-based energy sector deregulation was completed, there was practically no foreign presence. In 2008, this participation was at 12% and, according to the Ministry of Agriculture, Cattle Breeding and Supply, currently more than 15% of cane crushing in Brazil is under the control of foreign companies.



governo A internacionalização indica que as condições para o investimento, bem como o marco regulatório, se não são ideais, são, ao menos, satisfatórios na avaliação desses investidores. Esses investimentos confirmam que o País respeita contratos, tem bons fundamentos macroeconômicos e grande potencial, pois refletem confiança no próprio mercado para produtos do setor e na capacidade de o Estado aperfeiçoar o marco regulatório vigente. É extremamente bem-vinda a possibilidade de se ter no Brasil a produção de etanol por grupos internacionais. Esses grupos, ao incorporarem as melhores práticas que já caracterizam o setor no Brasil, confirmam a sustentabilidade econômica, ambiental e social do negócio. Nesse processo, que inclui associações e fusões de empresas nacionais, como o histórico caso da Copersucar, da Cosan ou da Crystalsev, o setor profissionaliza a administração. Ao se tornarem cada vez mais empresas de energia, com apelo ambiental, ganham também a atenção dos principais players em nível global: as empresas de petróleo. A participação da Petrobras no Proálcool, criticada por muitos, dentro e fora da empresa, foi extremamente benéfica para o País. Permitiu a implementação de um programa de substituição de derivados de petróleo em escala nacional e para a empresa, hoje dona de uma reputação invejável lá fora por sua visão estratégica. A partir do boom do setor, com o aumento das exportações e do crescimento do mercado interno, a British Petroleum foi a primeira petroleira a entrar na produção de biocombustíveis ao adquirir participações em unidade no Brasil. A Petrobras Biocombustíveis também apresentou um plano de investimentos cuja estratégia passa pela construção e aquisição de participações em diversas unidades, sendo que, em 2009, efetivou a sua estreia como empresa produtora de etanol com a aquisição de 40,4% de uma unidade em Minas Gerais. Seguindo a tendência, com o olho no mercado internacional, a Shell anunciou sua parceria com a Cosan. Ao entrarem no negócio de produção de bioenergia no Brasil, essas empresas adotam estratégias visando participar do forte mercado interno de etanol, bem como a perspectiva de exportações para o mercado externo, auferindo, assim, ganhos de imagem decorrente da produção de energia renovável. O Brasil vê a bioenergia como vetor de desenvolvimento para países em desenvolvimento, capaz de ampliar a participação das fontes renováveis na matriz energética global. A internacionalização da propriedade das usinas brasileiras, nessa visão mais ampla, ganha importância ao contribuir para a "comoditização" do etanol. Agregamos, assim, nossas terras, nosso sol, nossa água e nosso know-how ao capital e à tecnologia de empresas brasileiras e estrangeiras que, trabalhando juntas, poderão alcançar mais rapidamente essa "comoditização", consolidando um mercado internacional que, sozinhos, levaríamos mais tempo para tornar realidade.

14

Opiniões Internationalization shows that conditions to invest, as well as the regulatory mark, albeit not ideal, are at least satisfactory in the assessment of these investors. These investments show that the country honors contracts, has good macroeconomic fundaments and great potential, given that they reflect confidence in the very market for the industry’s products and in the State’s capacity to improve the currently applicable regulatory mark. Brazil welcomes the possibility of having the production of ethanol under the control of international groups, which, when incorporating best practices that already characterize the industry in Brazil, confirm the economic, environmental and social sustainability of the business. In this process, which includes associations and mergers of Brazilian companies, as in the historical cases of Copersucar, Cosan and Crystalsev, the industry professionalizes management. Upon increasingly becoming energy companies, with an environmental appeal, they also attract the attention of the main global players: the oil companies. Petrobras’ participation in the “Proálcool” Program, criticized by many, inside and outside the company, was extremely beneficial for the country. It allowed the implementation of a substitution program for oil derivative products at the national level, and provided the company, which nowadays enjoys an enviable reputation abroad, its strategic vision. Following the industry’s boom, with the increase in exports and growth of the domestic market, British Petroleum was the first oil company to go into the production of biofuels, by acquiring equity in a mill in Brazil. Petrobras Biocombustíveis also submitted an investment plan whose strategy encompasses the construction and acquisition of participations in several units, whereas in 2009, it began to operate as an ethanol producer following the acquisition of 40.4% of a mill in the State of Minas Gerais. In line with this trend and with an eye on the international market, Shell announced a partnership with Cosan. By entering into the bioenergy production business in Brazil, these companies adopt strategies aimed at participating in the strong domestic ethanol market and look to exporting to foreign markets, thereby obtaining image gains on account of the production of renewable energy. Brazil views bioenergy as a development vector for developing countries, capable of expanding the participation of renewable sources in the global energy matrix. Ownership internationalization of Brazilian mills, from this broader perspective, becomes important because it contributes to making ethanol a commodity. We thus aggregate our land, sun, our water and our know-how to the capital and technology of Brazilian and foreign companies that, by working together, may more quickly achieve the transformation to the commodity stage, consolidating an international market that we alone would otherwise take much longer to make a reality.



consultores & especialistas

um campo

Opiniões

minado Minefield

" a experiência brasileira mostra que desequilíbrios cambiais perversos podem durar muitos anos, a ponto de modificar a estrutura produtiva "

Antonio Delfim Netto Professor Emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP Professor Emeritus of the School of Economics and Administration of the University of São Paulo

Não há, na teoria econômica, campo mais minado e sujeito a condicionamento ideológico do que a chamada política cambial. O que se pode dizer com razoável certeza é que não existe um sistema cambial (câmbio fixo, flutuação suja ou livre flutuação) que seja o “melhor” em qualquer situação. As experiências com o “padrão ouro” e a flutuação da taxa de câmbio nos anos 20 do século passado deixaram evidente que a política econômica das economias abertas tem de lidar com um famoso “trilema”: não é possível ter simultaneamente, 1. liberdade de movimento de capitais; 2. uma política monetária independente, e 3. uma taxa de câmbio que produza a acomodação do nível de crescimento econômico desejável com a menor taxa de desemprego possível. Esse fato pode ser surpreendido no debate (na Liga das Nações) entre Ragnar Nurkse e Gotfried Haberler, antes mesmo da criação do FMI, e o acordo de Bretton Woods (julho de 1944). Este adotou um sistema “misto”: taxas de câmbio ajustáveis periodicamente, sob a supervisão daquela instituição. Já nos anos 50 do século passado, os economistas (particularmente Robert Triffin) apontavam para os inconvenientes e as assimetrias criados por tal arranjo, particularmente que “o peso do ajuste recaia todo sobre o devedor” e só poderia ser liquidado com reservas construídas com a “moeda reserva” (o dólar americano). A solução proposta por Triffin (e muitos outros) passava pela internacionalização dos ativos das “reservas” de todos os países e, finalmente, na criação de um Banco Central Mundial. Curiosamente, depois de 60 anos, é isso que escondem as atuais discussões no G-20.

16

In economic theory there is no field with more landmines and subject to ideological conditioning than that of the so-called foreign exchange policy. What can be stated with reasonable certainty is that there is no foreign exchange system (fixed exchange rate, exchange rate dirty float or free float) that is “the best” in any situation. Experiences with the “gold standard” and the foreign exchange rate fluctuation in the 1920’s made it quite clear that economic policy of open economies has to deal with a famous “trilemma”: it is not possible to simultaneously have, 1. freedom of capital movement; 2. an independent monetary policy and 3. a foreign exchange rate that results in the conciliation of the wanted economic growth rate and the lowest possible unemployment rate. This fact was addressed in the debate (within the League of Nations) between Ragnar Nurkse and Gottfried von Haberler even before the IMF was created and the Bretton Woods Conference took place (July 1944). The latter adopted a “mixed” system: periodically adjustable foreign exchange rates, under that institution’s supervision. Already in the 1950’s, economists (particularly Robert Triffin) were calling attention to the inconveniences and asymmetries created by such mechanism, especially concerning “the weight of the adjustment falling entirely on the debtor”, which could only be settled with reserves built up as a “reserve currency” (the US dollar). Triffin’s proposed solution (and that of many others) encompassed the internationalization of assets as “reserves” of all countries and, eventually, the creation of a Global Central Bank. Curiously, after 60 years, this is what is hidden in the current debates within the G-20.



consultores & especialistas É para isso que trabalha a burocracia do FMI, na esperança de que será o tal Banco Central Mundial e herdará o poder de controlar a economia de todos os países. Como a política monetária e a taxa de câmbio dependem da política fiscal, a burocracia do Banco Central Mundial, do alto de uma falsa “ciência” (que inspira a política monetária), ditará a política econômica de cada um e de todos os países. No final e ao cabo – como costuma dizer um amigo meu –, um pequeno grupo de burocratas, (escolhidos sabe Deus como!) que se pretende portador de uma verdadeira “ciência”, usurpará boa parte do poder incumbente eleito pelo sufrágio universal. É cada vez mais evidente que os países são incapazes de controlar as “ondas” de movimentos especulativos dos capitais sem comprometer gravemente o crescimento econômico, o nível de emprego e impedir sua repercussão sobre a taxa de inflação. Como todo ativo financeiro, a taxa de câmbio, quando há liberdade de movimento de capitais, ajusta-se, instantaneamente, às “pressões do mercado”, enquanto os preços e os salários demoram a fazê-lo, o que impõe custos reais à economia. É pura mitologia pensar que isso pode ser corrigido simplesmente aumentando o grau de “abertura”. É também mítica a crença de que a taxa de câmbio estabelecida livremente pelo “mercado” é um fenômeno “natural” e que, portanto, qualquer intervenção governamental só poderia aumentar o desequilíbrio. De fato, com câmbio flexível e ampla liberdade de movimento de capitais, a política monetária e a taxa de câmbio são resultado de um ajuste simultâneo (que está longe de produzir o bem-estar social), feito através dos diferenciais das taxas de juros. A experiência brasileira mostra que desequilíbrios cambiais perversos podem durar muitos anos, a ponto de modificar a estrutura produtiva (as exportações e as importações) de forma definitiva, sem levar em conta a sofisticação produtiva e a diversificação do setor exportador, fatores indispensáveis para um crescimento econômico permanente e saudável. É por isso que, agora mesmo, enquanto alguns países fazem intervenção para limitar a apreciação de sua taxa de câmbio e reduzir seus efeitos sobre a estrutura produtiva, outros fixam o seu câmbio com relação ao dólar e outros ainda aumentam sua taxa de juros para atrair capitais e tentam limitar sua desvalorização. Há mais de 30 anos, tal situação já era visível, e os efeitos da excessiva mobilidade dos capitais eram tão perniciosos, que James Tobin propôs a criação da taxa Tobin, que deveria ser internacionalmente aceita e administrada por cada país e se aplicaria a todas as operações nominadas em outras moedas. Não há, portanto, motivo para sugerir que o ativismo governamental, defensivo, para influir no estabelecimento da taxa de câmbio, seja um “pecado capital”: trata-se de puro mito, sem suporte teórico ou empírico. No máximo, é um fruto ideológico. Se Tobin tivesse sido ouvido quando sugeriu, em 1972, “jogar um pouco de areia” no eficientíssimo e bem azeitado mecanismo de mobilidade (e de libertinagem) dos capitais, talvez se tivesse poupado a humanidade do sofrimento causado por um bom número de crises que interromperam o crescimento econômico.

18

Opiniões This is what the bureaucrats at the IMF seek to achieve, hoping that it would become such Global Central Bank and inherit the power to control all countries. Given that monetary policy and the foreign exchange rate depend on fiscal policy, the bureaucrats at the Global Central Bank, from atop of a false “science” (which inspires monetary policy), would dictate economic policy of each and every country. In the end and finally – as a friend of mine would say – a small group of bureaucrats (selected only God knows how!), the pretense detainers of a true “science”, would usurp a considerable chunk of incumbent power elected through universal suffrage. It is increasingly evident that countries are incapable of controlling “waves” of speculative capital movements without seriously compromising economic growth, the level of employment, and preventing the impact on the inflation rate. Like all financial assets, the foreign exchange rate, when there is freedom of capital movement, instantly adapts to “market pressures”, whereas prices and wages take longer, resulting in real costs to the economy. It is an outright myth to believe this can simply be corrected by increasing the degree of “opening”. It is also mythical to believe that the foreign exchange rate freely set by the “market” is a “natural” phenomenon and that therefore any government intervention would only increase the imbalance. In fact, with a flexible exchange rate and ample freedom of capital movement, monetary policy and the exchange rate result from a simultaneous adjustment (which is far from bringing about social well-being) accomplished through interest rate differentials. Brazilian experience shows that perverse foreign exchange imbalances may last many years, to the extent of changing the productive structure (exports and imports) in a definitive way, while not taking into consideration productive sophistication and diversification of the exporting sector, essential factors for permanent and sound economic growth. That is why even now, when some countries are intervening to limit the appreciation of their foreign exchange rate and reducing its effects on the productive structure, others are setting their exchange rate to the US dollar, while still some others are increasing their exchange rate to attract capital and attempt to limit its devaluation. This situation was predictable more than 30 years ago and the effects of excessive capital mobility were so damaging that James Tobin proposed the creation of the Tobin fee, which was intended to be internationally accepted and managed by each country and would apply to all operations nominated in other currencies. Thus, there is no reason to suggest that defensive government activism, aimed at influencing the setting of the exchange rate, is a “mortal sin”: this is an outright myth, not theoretically or empirically supported. At most, it is an ideological outcome. Had Tobin been heard when in 1972 he suggested “to throw some sand” into the highly efficient and well lubricated capital mobility (and salacity) mechanism, perhaps one might have spared humanity the suffering caused by a great number of crises that interrupted economic growth.



consultores & especialistas

a internacionalização ganhou força em

2009

Internationalization gained momentum in 2009

" Não faltam motivos para que a internacionalização da propriedade dos ativos de produção caminhe a passos largos. Dentre os cinco maiores grupos produtores, quatro são hoje de capital estrangeiro, ou tem sua participação. " Plinio Mario Nastari Presidente da Datagro President of Datagro

Em 2005, o tema da conferência internacional da Datagro, realizada todo mês de outubro, foi a internacionalização da produção e uso do etanol. Antevíamos que o etanol estava entrando, definitivamente, no universo dos combustíveis líquidos, deixando para trás a percepção de que se tratava de uma iniciativa exótica, peculiar do Brasil e dos EUA. Um interesse crescente pelo combustível limpo e renovável levaria não apenas à expansão do seu uso além das fronteiras tradicionais, mas também traria um interesse internacional pelo controle dos ativos de produção. Um interesse que deveria incluir, no final desse processo, as principais empresas de energia do mundo. Nos últimos três a quatro anos, ficamos com a impressão de que esse processo evoluiu num ritmo inferior ao considerado possível ou provável. Foram a crise de preços de 2007 e 2008 e a crise de liquidez iniciada em agosto de 2008, atingindo em cheio a indústria brasileira até meados de 2009, que serviram de catalisadores do processo de internacionalização do controle da indústria brasileira. Esse processo pode ser quantificado pelos levantamentos da Datagro sobre a proporção da cana processada para fins industriais que é controlada

20

In 2005, the theme at Datagro’s international conference, held each year in October, was the internationalization of the production and use of ethanol. We had predicted that ethanol was definitively entering the universe of liquid fuels, leaving behind the perception that it was just an exotic initiative, peculiar to Brazil and the USA. Growing interest in clean and renewable fuels would lead not only to the expansion of its use to beyond traditional borders, but arouse international interest in the control of production assets, an interest that, at the end of the process, would include the world’s main energy companies. In the past three to four years, we were left with the impression that this process developed at a slower pace compared to what was considered possible or probable. It was the price crisis of 2007 and 2008 and the liquidity crisis beginning in August 2008 that fully impacted Brazilian industry until the first half of 2009, acting as catalysts of the process of internationalizing control of Brazilian industry. This process is quantifiable based on surveys conducted by Datagro on the volume of sugarcane processed for industrial applications by foreign-


Opiniões Opiniões por empresas de capital estrangeiro. Em 2008, esse percentual era de 12,4%. Em 2009, evoluiu para 18,4%, e, em 2010, até fevereiro, com a associação entre Cosan e Shell, o percentual saltou para 22,9%. Não é pouco. Considerando que, na safra 2009/10, foram processadas no Brasil 590 milhões de toneladas de cana, isso significa que cerca de 135 milhões de toneladas de processamento já são controladas pelo capital externo. A Tailândia, segundo maior exportador de açúcar, depois do Brasil, deve processar em 2009/10 cerca de 70 milhões de toneladas. Portanto, o controle estrangeiro no Brasil equivale a praticamente o dobro de toda a produção tailandesa. É importante compreender por que isso ocorre. Em primeiro lugar, a entrada de capital externo não ocorreria se a intervenção do governo não houvesse caído para um nível considerado mínimo. De um ambiente em que o governo determinava quotas de produção e de comercialização, e também os preços da cana e dos produtos finais, açúcar e etanol, o Brasil evoluiu para um sistema praticamente todo liberado. Exceção feita à capacidade do governo de alterar a mistura de etanol anidro adicionado à gasolina, na faixa entre 20% e 25%, e a determinação do preço da gasolina nas refinarias, que, via de regra, não acompanha seu preço internacional. O segundo elemento que justifica o investimento externo é a existência de um dinâmico mercado interno, que cria uma importante base de demanda local, e também dá suporte à manutenção e ao progresso de igualmente relevantes indústrias de bens de capital e setor de serviços. O terceiro elemento é a perspectiva de ampliação de mercados de exportação, não apenas de açúcar, mas também de etanol. Um quarto provável elemento de relevância é a percepção de que o Brasil possui uma indústria que, embora já considerada competitiva, ainda não está otimizada, tendo à frente uma enorme capacidade de redução de custos no futuro pelo aproveitamento econômico do bagaço e palhas da cana. E, finalmente, a consciência de que o processo de diversificação iniciado com a produção mais intensiva de etanol há 35 anos ainda pode evoluir muito na direção não só da cogeração ou do etanol de celulose, mas também da transformação da sacarose. Não faltam, portanto, motivos para que a internacionalização da propriedade dos ativos de produção caminhe a passos largos. Dentre os cinco maiores grupos produtores, quatro são hoje de capital estrangeiro, ou tem sua participação. A presença de empresas de energia, iniciada com os investimentos da British Petroleum na produção de etanol, agora fica reforçada definitivamente com a associação entre Cosan e Shell. E certamente outras virão. É uma demonstração de que o etanol, iniciativa pioneira do Brasil, em teste desde 1925 e incrementada a partir da concepção e criação do Proálcool em 1975, entrou definitivamente no mundo dos combustíveis líquidos.

owned companies. In 2008, this percentage figure was 12.4%. In 2009, it had increased to 18.4%, and, in 2010, until February, with the Cosan/Shell association, the percentage had leaped to 22.9%. This is significant. Considering that in the 2009/10 harvest 590 million tons were processed in Brazil, this means that about 135 million of the tons processed are already under the control of foreign capital. Thailand, the second largest sugar exporter after Brazil, is expected to process approximately 70 million tons in the 09/10 harvest. Thus, foreign control in Brazil is practically equivalent to twice the entire production of Thailand. It is important to understand why this is happening. First, the entry of foreign capital would not occur had government intervention not fallen to a level considered minimal. From a scenario in which the government would set production and distribution quotas, along with the prices of sugarcane and of the end products sugar and ethanol, Brazil developed to a practically totally free system. The exception is the government’s capacity to change the anhydrous ethanol/gasoline mixture, in the range from 20% to 25%, and to set the gasoline price in the refineries, which usually does not follow the international price. The second element that justifies foreign investment is the existence of a dynamic domestic market, which creates important local demand, while supporting the maintenance and development of equally important capital goods manufacturers and the services industry. The third element is the perspective of expanding export markets, not only of sugar, but also of ethanol. A probable fourth relevant element is the perception that Brazil has an industry that, although already viewed as competitive, is still not optimal, being faced with a huge challenge to reduce costs in the future by making economic use of bagasse and sugarcane straw. Finally, there is the awareness that the diversification process, which began 35 years ago with the more intensive production of ethanol, may develop significantly in the direction not only of co-generation or ethanol from pulp, but also towards the transformation of saccharose. Thus, there is no lack of reasons for the internationalization of asset ownership to progress at a fast pace. Among the five largest producer groups, four nowadays are foreign-controlled or have foreign participation. The presence of energy companies, which began with British Petroleum’s investment in the production of ethanol, has now definitively been reinforced by the Cosan/Shell association. Certainly others will follow. This shows that ethanol, a pioneer initiative of Brazil, which has been tested since 1925 and expanded following the conception and creation of the Proálcool Program in 1975, has definitively entered the world of liquid fuels.

21




consultores & especialistas

Opiniões

obstáculos à globalização:

a inconsistência da política de comércio exterior Obstacles to globalization: the inconsistency of foreign trade policy

O Discurso: O produtor e o governo brasileiro têm defendido, nos últimos anos, a queda das barreiras e subsídios que vão contra as exportações brasileiras de açúcar e etanol. Em função dessa postura brasileira, a União Europeia foi obrigada pela OMC (Organização Mundial do Comércio) a reduzir vultosos subsídios à produção e exportação de açúcar. No caso do etanol, existe uma tarifa de importação nos EUA de, aproximadamente, US$ 143/m3 (US$ 0,54/galão), que o governo brasileiro e os produtores têm buscado eliminar. Essa tarifa representa, atualmente, cerca de 30% do preço do etanol nos EUA e 20% do preço do etanol na região Centro-Sul do Brasil. O que temos percebido dessas ações brasileiras relacionadas ao comércio internacional de commodities agrícolas é uma intenção economicamente saudável de liberalização do comércio, em busca de maior competição do lado da oferta e de benefícios ao consumidor final. A Prática: Estamos assistindo, nos últimos meses, a manifestações brasileiras contraditórias com as ações anteriormente referidas. 1. No caso do álcool combustível, por exemplo, desde setembro do ano passado, já se sabia que a safra seria menor que a esperada, que a produção de álcool seria menor que a de 2008 e que o consumo do produto no mercado interno estava crescendo a uma taxa significativa devido ao aumento da frota de carros flex. Sabia-se também que as condições compensatórias de redução de estoques e as menores exportações do produto não seriam suficientes para eliminar o déficit entre produção e consumo. Naquele momento, a elevada tarifa brasileira de importação de álcool de 20% poderia ter sido reduzida ou mesmo zerada, criando as condições para que as importações de etanol fossem feitas, no caso de altos preços internos justificarem tais importações. Os benefícios dessa medida seriam importantes: o abastecimento do mercado interno poderia ser feito com álcool a preços competitivos com a gasolina na bomba, e, ainda mais importante do ponto de vista estratégico, o álcool americano teria a oportunidade de ser exportado para o Brasil, criando o clima desejado por todos (assim parece) de que esse produto pode ser uma commodity internacional. Aprovar neste momento a redução da tarifa de importação do álcool no Brasil é uma medida que pode ser

The Discourse: Producers and the Brazilian Government, in recent years, have defended the dismantling of barriers and subsidies that are damaging to Brazilian exports of sugar and ethanol. Due to this Brazilian posture, the European Union was forced by the WTO (World Trade Organization) to reduce sizeable subsidies to the production and export of sugar. In the case of ethanol, there is an import tariff in the USA of approximately US$ 143/m3 (US$ 0.54/gallon), which the Brazilian Government has sought to eliminate. This tariff currently represents about 30% of the ethanol price in the USA and 20% of the ethanol price in the Center-South region of Brazil. What we have noticed in these Brazilian initiatives related to international trade of agricultural commodities is the economically sound intent to liberalize trade, to seek more competition on the supply side and benefits for the end consumer. The Practice: In recent months, what we have seen are contradictory Brazilian manifestations in relation to the initiatives referred to above. 1. In the case of ethanol fuel, for example, since the past month of September, one already knew that the harvest would be smaller than expected, that the production of ethanol would be smaller than in 2008, and that the product’s consumption in the domestic market was growing at a significant rate due to the increase of the “flex” fuel automobile fleet. One knew that the compensatory measures of reducing product inventories would not suffice to eliminate the deficit in production to meet consumption. At the time, the high Brazilian tariff of 20% on imports of ethanol could have been reduced or even eliminated, creating the conditions so that ethanol imports would take place in the event that high prices in the domestic market would justify such imports. This measure’s benefits would be very important: the supply of the domestic market could have taken place with ethanol at competitive prices in comparison with the gasoline price at the gas pump, and furthermore, what is even more important from a strategic point of view, is that US-produced ethanol would have had the opportunity of being exported to Brazil, bringing about the desired atmosphere wanted by all (it seems), signaling that this product could become an international commodity.

" no caso de o clima continuar chuvoso na região Centro-Sul do Brasil, impedindo a moagem de cana a partir de Abril/2010, teremos instalado o caos no abastecimento de açúcar e álcool no Brasil e no mundo " Júlio Maria Borges

24

Diretor da JOB Economia e Planejemanto Director of JOB Economia e Planejamento



consultores & especialistas inócua, pois estamos a, no máximo, dois meses de início da nova safra. Esta deverá representar um novo recorde de produção (se o clima o permitir) e, consequentemente, acarretará preços declinantes para o álcool, o que tira a viabilidade de sua importação. Ou seja, existe um risco de preços de mercado que pode inibir o negócio. 2. No caso da exportação de 500.000 toneladas de açúcar pela União Europeia, além do limite máximo anual, acordado junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo brasileiro está se posicionando contrário à exportação. Cabe lembrar que o mercado de açúcar está passando por um momento de estresse, o que não víamos há 29 anos. A oferta do produto é restrita. Temos déficit de oferta no mercado mundial e estoques baixos. O preço do açúcar, neste momento (cerca de 30 centavos de dólar americano por libra/peso em Nova York), é aproximadamente o dobro do preço requerido para viabilizar um novo projeto de usina de açúcar no Brasil. Para o resto do mundo, principalmente para quem compete com o Brasil, o estímulo para aumento de produção é enorme. Ou seja, o potencial de preços exageradamente baixos em futuro próximo não é desprezível. No caso de o clima continuar chuvoso na região Centro-Sul do Brasil, impedindo a moagem de cana a partir de Abril/2010, teremos instalado o caos no abastecimento de açúcar e álcool no Brasil e no mundo. Nessas condições, não é possível falar em teto para preços do açúcar no mercado internacional. As consequências desse cenário podem ser dramáticas do ponto de vista político, social e econômico. Do ponto de vista de comércio internacional, não podemos descartar o retorno de políticas nacionais de autossuficiência, como já ocorreu no passado. Nesse ambiente de oferta e demanda, a exportação adicional de açúcar pela União Europeia é bem-vinda. Primeiro, porque alivia no curto prazo a restrição de oferta do produto. E só alivia sem mudar as condições fundamentais do mercado, pois 500.000 toneladas em um mercado de 50 milhões é muito pouco para derrubar preços. Dessa forma, do ponto de vista de comércio exterior, o Brasil, sendo a favor da medida, estaria demonstrando uma atitude solidária com o melhor abastecimento mundial de uma commodity que embute riscos políticos e sociais elevados em situações de escassez. Finalmente, é razoável aceitar que a sustentação de qualquer atividade econômica requer que o produtor tenha condições de ter um retorno adequado para os investimentos feitos. O produtor de açúcar e álcool no Brasil foi duramente penalizado por preços baixos em 2007 e 2008. Os preços altos desta safra 2009-10 são necessários para compensar prejuízos do passado e repor margens de lucro necessárias à continuidade do negócio. Por outro lado, é necessária a adoção de uma estratégia comercial, entre outras, que tenha coerência no curto e médio prazo. Atuar na prática em prol do desenvolvimento dos mercados e agir com eficácia em defesa do comércio internacional mais livre deve ser a postura brasileira no negócio de açúcar e etanol, pois estamos entre os mais competitivos do mundo e temos o maior potencial de crescimento da oferta em escala mundial. Proteções comerciais desnecessárias ao produtor brasileiro de açúcar e etanol podem ter consequências estratégicas no médio e longo prazo que redundem em redução do comércio internacional, menor globalização da economia e, consequentemente, menor internacionalização da propriedade das usinas brasileiras.

26

Opiniões To approve the import tariff reduction for ethanol now may be innocuous, because we are at most two months away from the beginning of the new harvest. It is expected to break a new production record (the climate allowing) and consequently, will result in declining ethanol prices, eliminating the advantage of importing. In other words, there is a market price risk that may render the business undoable. 2. In the case of the export of 500,000 tons of sugar by the European Union, in excess of the maximum annual limit agreed to at the World Trade Organization (WTO), the Brazilian Government is taking up a position contrary to the intended export. One should bear in mind that the sugar market is facing stressful times, a fact that had not occurred in 29 years. There is a supply shortage of the product. We are faced with a supply deficit in the world market and low inventory levels. The current sugar price (about 30 US dollar cents per Pound of weight in New York), is approximately double the price needed to render feasible any new sugar mill project in Brazil. For the rest of the world, mainly for those competing against Brazil, the stimulus to increase production is huge. In other words, the potentially too low prices in the near future should not be underestimated. In the event that the rainy season shall be prolonged in Center-South Brazil, preventing the crushing of sugarcane beginning in April/2010, what one would have accomplished is the implementation of sheer chaos in the supply of sugar and ethanol in Brazil and around the world. Under such circumstances, one cannot talk of a price ceiling for sugar in the international market. The consequences of this scenario may become dramatic from the political, social and economic point of view. From the international trade viewpoint, one should not discard the return of nationalistic self-sufficiency policies, as already occurred in the past. In this environment of supply and demand, the additional export of sugar by the European Union is welcome. First, because it eases product supply restrictions in the short term. But it only eases them, not changing the market’s fundamental conditions, given that 500,000 tons in a market of 50 million is very little to bring down prices. Thus, from the foreign trade perspective, Brazil, being in favor of the measure, would show solidarity in better supplying the world with a commodity that entails high political and social risks in times of shortage. Finally, it is reasonable to accept that the sustainability of any economic activity requires producers to be in a position to achieve adequate returns on investments made. Producers of sugar and ethanol in Brazil were hard hit with low prices in 2007 and 2008. The high prices in the current 2009-10 harvest are needed to offset losses of the past and recompose profit margins needed to uphold the business. On the other hand, one must adopt a trade policy, among others, that is coherent in the short and medium term. To perform in practice for the purpose of developing markets and acting effectively in defending international trade is what should be the Brazilian posture in the sugar and ethanol business, since we are among the most competitive in the world and we have the largest potential to grow the supply on a global scale. Unnecessary trade protection for Brazilian sugar and ethanol producers may have strategic consequences in the medium and long term and result in the reduction of international trade, bringing about less globalization of the economy and hence, less internationalization of ownership of Brazilian mills.



consultores & especialistas

o écenário de continuação no processo de consolidação The scenario is the continued consolidation process

O setor sucroenergético apresentou, na última década, mudanças significativas. Entre elas, o forte crescimento na produção de cana e etanol devido ao aumento da frota flex-fuel, que deve representar mais de 50% da frota nacional até 2013. Isso somado ao fato de que, em algumas regiões, a venda de etanol já é superior à de gasolina. A utilização do etanol também vem ganhando importância mundial como fonte energética alternativa ao uso do petróleo e está se destacando no cenário internacional, onde muitos países estão desenvolvendo programas para mistura do etanol à gasolina, associados a políticas ambientais.

In the past decade, the sugar-based energy industry experienced significant changes. Among them, strong growth in the production of sugarcane and ethanol, due to the increase in the number of “flex-fuel” vehicles, which are expected to represent more than 50% of the Brazilian fleet by 2013. On top of that, in some regions, ethanol already sells more than gasoline. The use of ethanol is also becoming more important around the world as an alternative energy source for oil and is standing out in the international scenario, in which many countries are developing programs to mix ethanol with gasoline, in association with environmental policies.

" muitas companhias locais passaram a ser alvos de multinacionais, mas várias delas veem o momento como época de oportunidades para expansão, em muitos casos por meio de parcerias " Paulo Guilherme de Menezes Coimbra Diretor de Corporate Finance da KPMG no Brasil Corporate Finance Director of KPMG in Brazil

O uso de biocombustível deve apresentar crescimento relevante até 2020, o que é um fator positivo para a economia nacional, já que o etanol é o biocombustível que apresenta o custo mais atrativo, e o Brasil é o país mais competitivo em relação a custo e tecnologia. Também vale destacar a intensa movimentação de consolidação no setor sucroenergético e os investimentos em greenfield. O etanol, como fonte alternativa, vem provocando grande interesse de investidores nacionais e internacionais no Brasil, seja através de fusões e aquisições ou de projetos de greenfield.

28

The use of biofuel is expected to grow significantly by 2020, which is a positive factor for the Brazilian economy, given that ethanol is the biofuel with the most attractive cost and Brazil is the most competitive country with respect to cost and technology. One should also emphasize the intensive consolidation movement in the sugar-based energy industry and the investments being made in greenfield projects. Ethanol, as an alternative source, is arousing much interest in local and international investors in Brazil, whether in the form of mergers and acquisitions or greenfield projects.


Opiniões Quase diariamente, encontramos notícias de grandes empresas de petróleo, construtoras ou tradings relacionadas a fusões, aquisição ou joint ventures anunciando interesse em investir no setor. Um bom termômetro para avaliar a movimentação do setor e a atratividade do mesmo são as fusões e aquisições (F&A). Entre 2001 e 2006, o número de transações entre usinas variou entre cinco e dez ao ano. Já em 2007, as F&A atingiram um boom, com recorde histórico de 25 negócios. Apesar desses resultados positivos, a crise financeira de 2008 impediu uma maior aceleração nesse movimento de consolidação do setor sucroalcooleiro. Em 2008, o número de fusões caiu para 14, o que já reflete o início da turbulência econômica, e, em 2009, a queda foi ainda mais acentuada, com apenas 12 transações entre usinas sendo realizadas. Porém pode-se dizer que as transações ocorridas em 2009 foram maiores que a média histórica e que o setor apresentou uma retração menos acentuada que a média, sendo responsável por 2,6% do total de transações ocorridas em 2009, contra 2,1% em 2008. Quando a análise é feita pela participação de empresas internacionais no total de F&A, vemos que ela vem crescendo ano a ano, saindo de aproximadamente 40% entre 2003 e 2006, para 76% em 2007 (19 transações). Seguindo a mesma linha em 2008 e 2009, com oito transações em cada ano, 57% e 75%, respectivamente. Muitas companhias locais passaram a ser alvos de multinacionais, mas várias delas veem o momento como época de oportunidades para expansão, em muitos casos por meio de parcerias. Esse tipo de transação tem sido bem comum nos últimos anos e tem dado origem a grandes grupos. Além disso, alguns investidores internacionais apresentam vantagem sobre os grupos brasileiros, por causa da disponibilidade de caixa para aquisição, uma vez que as empresas nacionais apresentam alto grau de endividamento. Em relação ao perfil de investidores internacionais, é possível encontrar empresas de petróleo, alimentos, tradings, energia, private equities, construtoras, entre outras. Outro ponto que deve ser considerado no mercado é o movimento de empresas brasileiras fazendo aquisições fora do Brasil, o que também contribui para a internacionalização do setor e mostra a vocação brasileira em alguns setores de destaque, como o de óleo e gás e de mineração, no qual empresas nacionais passaram por processos de aquisição de players internacionais, mas se fortaleceram e passaram a fazer aquisições. Outro ponto importante é que a tendência de consolidação vem mudando a cara do setor. Se analisarmos os principais players do mercado, é possível verificar o aumento de produção e market share nas últimas safras. Diante de todos os indicativos, podemos afirmar que o cenário para o setor, nos próximos anos, é de continuidade no processo de consolidação, com a presença de players globais.

Almost daily, one finds news about large oil companies, construction companies or trading companies in connection with mergers, acquisitions or joint ventures, informing of their interest in investing in the industry. A good thermometer to assess the movement in the industry and its attractiveness, are mergers and acquisitions. Between 2001 and 2006, the number of transactions among mills varied between five and ten per year. In 2007, M&As peaked, at a historical record number of 25 deals. Notwithstanding these positive results, the financial crisis in 2008 prevented an acceleration of the sugar and ethanol industry consolidation movement. In 2008, the number of mergers decreased to 14, already having reflected the beginning of economic turbulence, and in 2009, the decrease was even more significant, with only 12 transactions among mills having taken place. However, one can state that the transactions concluded in 2009 were bigger than the historical average and that the industry went into a recession, albeit milder than the average, having been responsible for 2.6% of total transactions in 2009, in comparison with 2,1% in 2008. When the analysis is done considering the participation of international companies in total M&As, it shows that the figure is growing each year, increasing from approximately 40% between 2003 and 2006, to 76% in 2007 (19 transactions). By the same token, in 2008 and 2009, with eight transactions in each year, growth was, respectively, 57% and 75%. Many local companies became targets of multinationals, but several of them view the moment as the right one for expansion opportunities, often in the form of partnerships. This type of transaction has been quite common in recent years and has been the origin of large groups. Furthermore, some international investors have an advantage over Brazilian groups, given the availability of cash for acquisitions, since Brazilian companies have high debt levels. With respect to the profile of international investors, it is possible to find oil, food, trading, energy, private equity, construction and other companies. Another topic that should be considered in the market is the movement of Brazilian companies making acquisitions outside Brazil, also contributing to the internationalization of the industry and showing Brazil’s vocation in some important industries, such as oil and gas and mining, in which Brazilian companies were the object of acquisition processes by international players, grew strong and started making acquisitions. Another important aspect is that the consolidation trend is changing the industry profile. When one assesses the main market players one can see the increase in production and market share in recent harvests. In light of all these indicators, one can state that the scenario for the industry, in coming years, is of continuity in the consolidation process, with the presence of global players.

29


consultores & especialistas

Opiniões

o etanol de cana já é uma realidade na

estratégia das multinacionais Sugarcane ethanol is already reality in multinacional companies' strategy

Alguns anos atrás, a grande maioria das usinas brasileiras de açúcar e álcool era nacional. Exceções relevantes eram os grupos Dreyfus e Tereos, ambos da França. Hoje, estima-se que, em 2010, as empresas estrangeiras representem cerca de 20% da cana moída no CentroSul do País. Segundo a PricewaterhouseCoopers, metade das 112 fusões e aquisições de empresas que ocorreram no setor nos últimos 6 anos tiveram empresas multinacionais como compradoras. De 2000 para cá, a cana deixou de ser apenas mais um insumo para a produção de açúcar e se transformou em matéria-prima fundamental para a matriz energética. E alguns dos opositores originais do etanol de cana entenderam que era mais conveniente participar desse mercado agora e tomar posições relevantes do que continuar a combatê-lo. Isso abriu o mercado para empresas globais do agronegócio, do setor de energia, de petroquímica e até de logística, que passaram a se interessar pelo setor e a buscar participações em todos os elos da cadeia do etanol no Brasil. Mas não foram só elas: fundos de private equity, empresas relevantes de alguns países emergentes e novos empreendedores do setor de biotecnologia também. A crise financeira de 2008 inviabilizou alguns projetos cuja taxa de retorno dependia de preços mais altos e criou dificuldades para outros que ainda precisavam captar financiamentos. Houve casos também de prejuízos causados pelo uso de derivativos financeiros inadequados. Tudo isso incentivou a consolidação e facilitou algumas aquisições no setor. Nos últimos anos, o Grupo Dreyfus, tradicional trader de commodities, fez crescer a sua participação no setor, e o seu grande movimento recente foi a compra da Santelisa Vale. A Bunge, hoje a terceira maior exportadora de açúcar do mundo, comprou, entre outras, o controle da Moema.

Some years ago, most Brazilian sugar and ethanol mills were Brazilian owned. Important exceptions were the Dreyfus and Tereos groups, both of France. Currently, estimates are that in 2010 foreign companies will represent about 20% of crushed sugarcane in the Center-South of Brazil. According to PricewaterhouseCoopers, half the 112 company mergers and acquisitions that took place in the industry in the past six years had foreign companies as buyers. Since 2000, sugarcane ceased to be just another input in sugar production to become an essential raw material in the energy matrix. Some of the original opponents of ethanol understood that it was more convenient to participate in this market now and take up important positions, than to continue fighting it. This opened the market to global companies in agribusiness, energy, petrochemical and even the logistics industries, which became interested in agribusiness and began seeking participation in all links of the ethanol production chain in Brazil. But, not only them: private equity funds, important companies of some emerging countries and also new ventures in the biotechnology industry. The financial crisis in 2008 rendered some projects unfeasible, in cases when the rate of return depended on higher prices and created difficulties for others that still needed funding. There were also cases of losses caused by the inadequate use of financial derivatives. All this encouraged consolidation and facilitated acquisitions in the industry. In recent years, the Dreyfus Group, a traditional commodities trader, increased its participation in the industry and its biggest recent move was the acquisition of Santelisa Vale. Bunge, today the world’s third largest sugar exporter, among others, acquired the control of Moema.

" Esse é o novo mundo das usinas, que não podia passar longe da globalização. O etanol de cana já é uma realidade na estratégia das multinacionais, o que também ajuda a vencer a resistência ao produto em outros mercados e realimenta o seu interesse. " Raul Gabriel Beer

30

Assessor em Fusões e Aquisições Advisor for Mergers and Acquisitions



consultores & especialistas A ADM entrou no mercado em sociedade com o Grupo Cabrera, do ex-ministro da agricultura, e, por enquanto, segue uma estratégia de crescimento greenfields. Chama a atenção, no entanto, que a ADM é uma das maiores produtoras mundiais de etanol à base de milho. A British Petroleum controla a Tropical BioEnergia e tem planos ambiciosos nesse mercado. Há também rumores de que multinacionais estariam disputando duas usinas de um grupo nacional que passa por dificuldades financeiras. Em paralelo, despontaram algumas empresas nacionais com vocação e força para atuarem como agentes de consolidação, fazendo aquisições e desenvolvendo novos projetos green-fields. Note-se, porém, que algumas dessas empresas nacionais já têm, ou terão, em breve, participação estrangeira significativa no seu capital. A Cosan S/A é controlada pela Cosan Ltd., empresa controlada por brasileiros, mas com ações negociadas no mercado norte-americano. Ela tem atuado como forte consolidadora de usinas, mas também focou na ampliação da sua presença em outros elos da cadeia. Caso se confirme a operação anunciada recentemente com a Shell, apenas um pouco mais de metade do negócio da “Nova Cosan”, que então terá controle compartilhado entre capitais nacionais e estrangeiros, continuará a ser relacionado a moagem de cana e produção de açúcar e de álcool. E consolidando os ativos da Esso e da Shell, ela se transformará na terceira maior distribuidora no varejo de combustíveis do Brasil. Esse acordo traz escala e sinergias para essas operações de distribuição, mas, principalmente, viabiliza o acesso da Shell ao mercado e à tecnologia de produção de etanol de cana, além de permitir que a Cosan avance mais rapidamente na direção do etanol de segunda geração. Da mesma forma, a ETH, controlada pela Odebrecht, tem uma participação de 33% da japonesa Sojitz Corporation, empresa multinacional que atua na comercialização de commodities. Se confirmada a aquisição da Brenco, provavelmente mais alguns sócios estrangeiros dessa empresa podem se juntar à Sojitz como acionistas estrangeiros da “nova ETH”. Esse é o novo mundo das usinas, que não podia passar longe da globalização. O etanol de cana já é uma realidade na estratégia das multinacionais, o que também ajuda a vencer a resistência ao produto em outros mercados e realimenta o seu interesse. Empresas brasileiras crescem e consolidam o mercado e devem aumentar a sua atuação internacional, contando inclusive com o capital estrangeiro. Neste mundo globalizado, com empresas fortes – brasileiras ou estrangeiras –, o bom e velho “álcool” vendido nos postos de combustíveis brasileiros passou definitivamente a se chamar etanol.

32

ADM entered the market in partnership with the Cabrera Group, belonging to the former minister of agriculture, and, for the time being, follows a greenfield growth strategy. What calls one’s attention, however, is that ADM is one of the largest producers in the world of ethanol obtained from corn. British Petroleum controls Tropical BioEnergia and has ambitious plans for this market. There are also rumors that multinational companies are wrangling over two mills belonging to a Brazilian group in financial trouble. At the same time, some Brazilian companies with the vocation and power to act as consolidation agents stood out, making acquisitions and developing new greenhouse projects. One should notice, however, that some of these Brazilian companies have, or soon will have, significant foreign participation in their capital. Cosan S.A is controlled by Cosan Ltd., a company owned by Brazilians, but with shares traded in the North American market. Cosan has strongly acted as a consolidator of mills, but it also focused on expanding its presence in other links of the chain. In the event that the recently announced transaction with Shell is confirmed, only a little more than half the “New Cosan” deal, which will then have local and foreign controlling capital, will continue to have activities related to the crushing of sugarcane and the production of sugar and ethanol. Furthermore, by consolidating the assets of Esso and Shell, the company will become the third largest fuel retail distributor in Brazil. This agreement results in economies of scale and synergies in the distribution operation, but, more importantly, it makes feasible Shell’s access to the market and production technology of sugarcane ethanol, while allowing Cosan to more quickly advance in the direction of second generation ethanol. Similarly, ETH, controlled by Odebrecht, has a 33% participation of Japanese company Sojitz Corporation, a multinational company with activities in the commercialization of commodities. In the event that the acquisition of Brenco is confirmed, probably some additional foreign partners of this company may join up with Sojitz as foreign shareholders in the “new ETH”. This is the new world of the mills, which could not ignore globalization. Sugarcane ethanol is already reality in the strategy of multinational companies, and this helps to overcome resistance to the product in other markets, re-feeding their interest. Brazilian companies grow and consolidate the market and are expected to increase their international activities, while counting on foreign capital. In this globalized world, with strong companies – Brazilian and foreign – the good and old “alcohol” sold at Brazilian fuel stations definitively changed its name to ethanol.


Opiniões

internacionalização:

um modelo que pode aumentar a quantidade

de produtores Internationalization: a model that may increase the number of producers

" acredito que a opção de produção de cana seja terceirizada para produtores em maior quantidade, fazendo com que estes também ganhem escala e melhorem seu desempenho " Ismael Perina Junior Presidente da Orplana President of Orplana

Estamos assistindo, ao longo desses últimos anos, sob o efeito do fenômeno globalização, a uma verdadeira mudança no comportamento das empresas no Brasil e no mundo. Especificamente aqui no País, assistimos a grandes marcas sendo incorporadas por grandes redes internacionais. No setor sucroenergético, depois de uma entrada tímida de alguns grupos internacionais, nos últimos dois anos, assistimos a um aumento considerável nesse movimento. Certo ou errado? Pouco importa, pois a nova realidade se apresenta, e projeções de aquisições são cada vez mais comentadas. Temos de levar em conta que o grande acelerador desse processo foi a questão energética, principalmente a produção de etanol e energia elétrica. Certamente, outras formas que se viabilizarão em curto tempo criarão, nas unidades industriais, um verdadeiro complexo de geração de energias renováveis a partir de biomassa. Esses investimentos darão suporte a um novo modelo de produção, em que a matéria-prima, cana-de--açúcar, passará a ser valorada pela energia que contém e não mais pelo seu teor de açúcar. Finalmente, não só o caldo terá valor econômico, mas também as suas fibras, que serão levadas às usinas para processamento e, ao invés de penalizar o valor da matéria-prima, passarão a ser um agregador de preço. É bom lembrar que essas mudanças, e o caso específico da internacionalização, trarão aspectos positivos e negativos.

Over the past few years, as a consequence of the globalization phenomenon, we have been watching true change in the behavior of companies in Brazil and the world. Specifically here in the country, we have seen large brand names being incorporated by large international networks. In the sugar-based energy industry, following the timid entry of some international groups in the past two years, we are faced with a considerable increase in this movement. Right or wrong? It does not really matter, since the new reality is here, and comments about anticipated acquisitions are increasingly more common. One must take into consideration that the main accelerator of this process has been the energy issue, mainly the production of ethanol and electric power. Certainly other means that will become feasible in a short time period will bring about a true complex of renewable energy obtained from bagasse in industrial units. Such investments will support a new production model, in which the raw material, sugarcane, will be valued for the energy it contains and no longer for its sugar content. Thus, not only the juice will have economic value but also its fibers, which will be processed in the mills, and rather than depreciate the value of the raw material, they will be a factor of price aggregation. One should bear in mind that these changes, and specifically in the case of internationalization, will

33


consultores & especialistas Avaliando de maneira bem superficial o lado das unidades industriais, é certo que haverá o seu fortalecimento, através da formação de conglomerados, ganhos de escala e aumento do poder de fogo nas negociações. Mesmo com a produção acontecendo em diferentes unidades industriais, há grande possibilidade de redução de custos. O fato de serem empresas multinacionais contribui para diminuir a pressão sobre a entrada dos produtos brasileiros nos mercados dos países ricos. Certamente, as empresas com esse porte terão como administrar melhor os estoques, e isso, naturalmente, promoverá a diminuição da volatilidade dos preços, trazendo benefícios, tanto para os produtores como para os consumidores. Esses são alguns dos benefícios proporcionados. E não devemos nos esquecer de que, entre os aspectos negativos, que certamente virão, talvez os mais danosos sejam os efeitos da concentração, principalmente no tocante à diminuição de postos de trabalho e, consequentemente, menor distribuição de renda. Com relação a esse aspecto, é relevante lembrar que, além das aquisições que vêm ocorrendo com investimentos em novos projetos, parte desse problema será minimizado, e os números tendem a melhorar. Analisando do lado do produtor independente de cana-de-açúcar, no qual devo concentrar minhas atenções, acredito que passaremos por algumas modificações. A internacionalização das usinas, conjugada a um mix de produção mais diversificado, exigirá, talvez, o desenvolvimento de um modelo de pagamento, que, como disse anteriormente, contemple a energia contida na cana-de-açúcar. Acredito também que, como já vem acontecendo em algumas empresas multinacionais em operação, a opção de produção de cana seja terceirizada para produtores ou grupos de produtores em maior quantidade, fazendo com que estes também ganhem escala e melhorem seu desempenho, auxiliando inclusive no cumprimento dos prazos de eliminação da queimada. Dois aspectos serão bastante importantes para o produtor de cana. Primeiro, que os casos de inadimplência de unidades industriais com os produtores, fato que vem ocorrendo bastante nos últimos tempos, diminuirão consideravelmente. Essas empresas, por se tratar de grandes conglomerados, ao longo dos anos, têm mostrado sua pontualidade nos pagamentos. E, segundo, que os preços da matéria-prima serão valorizados, pois as empresas não venderão sua produção a qualquer preço como ocorreu em diversas fases nesses últimos três anos, principalmente pela crise vivenciada. É certo que outras dificuldades aparecerão, mas também o perfil dessas novas empresas será mais voltado para a produção industrial. Portanto talvez esse seja um modelo que possa aumentar a quantidade de produtores, proporcionando melhor distribuição de renda dentro da cadeia produtiva, fato que considero imprescindível para o desenvolvimento do setor e, por que não dizer, do Brasil.

34

Opiniões imply both positive and negative aspects. In superficially assessing the implications for industrial units, it is certain that they will be strengthened through the formation of conglomerates, the advantages of economies of scale and the increase in “firing power” in negotiations. Even with production taking place in different industrial units, there are actually good chances of reducing cost. The fact that they are multinational companies reduces pressures against the entry of Brazilian products in rich countries. Certainly companies of this size will know how to better manage inventory and this, of course, will bring about the reduction of price volatility, resulting in benefits both for producers and consumers. These are some of the benefits achieved. One should not forget that, among the negative aspects that will surely appear, perhaps the most damaging will be the concentration effects, mainly with respect to the decrease of jobs and hence, less income distribution. In this respect, it is important to remember that, apart from acquisitions that have been occurring with investments in new projects, this problem will partially be minimized, and the figures tend to improve. In assessing the implications for independent sugarcane producers, which should be the focus of my analysis, I believe we will experience some modifications. The internationalization of mills, in combination with a more diversified production mix, will perhaps require the development of a payment model that, like stated before, considers the energy contained in sugarcane. I also believe that, as has been occurring in several operational multinational companies, the alternative of outsourcing the production of sugarcane to larger numbers of producers or groups of producers should be adopted, allowing them to achieve economies of scale and improve performance, also contributing to comply with the dates set for eliminating the practice of burning sugarcane straw. Two aspects will be very important for sugarcane producers. First, that default rates of industrial units vis-à-vis producers, which have been quite high in recent times, will decrease quite considerably. These companies, being large conglomerates, over the years, have shown they pay on time. Second, that raw material prices will be valorized, given that companies will not sell their production at any price as happened on several occasions in the past three years, mainly due to the experienced crisis. Certainly other difficulties will appear, but also the profile of these new companies will be more slated to industrial production. Therefore, perhaps this will be a model that may increase the number of producers, allowing for better income distribution within the production chain, a fact I deem essential for the development of the industry and, quite frankly, of Brazil.



consultores & especialistas

Opiniões

etanol:

rumo à internacionalização Ethanol: on course to internationalization

O tempo é o senhor da razão! Passamos pelo Proálcool, enfrentamos as barreiras políticas e econômicas, tivemos os altos e baixos, recebemos críticas injustas, e às vezes até maldosas, mas o tempo está mostrando que o etanol está se tornando uma commodity internacional e de reconhecimento mundial como combustível limpo e renovável.

Time is the lord of reason! We went through the Proálcool Program, we faced political and economic barriers, we lived through ups and downs, we received unjust, and at times, malicious criticism, but time shows that ethanol, as a clean and renewable fuel, is becoming an international and worldwide acknowledged commodity.

" para que nos tornemos um player ainda mais forte, é necessário que a indústria nacional de equipamentos se capacite para oferecer soluções tecnológicas que permitam novos usos, além do automotivo, como a geração estacionária de energia elétrica " Sergio Leme dos Santos Presidente da Dedini Indústrias de Base President of Dedini Indústrias de Base

No mundo inteiro, escuta-se sempre a mesma frase: precisamos nos desvencilhar da dependência de combustíveis fósseis e buscar fontes de energia limpas. No entanto a prática tem ficado longe da teoria nesses anos todos, e 2010 pode ser o ano que represente o início da colheita de tantos anos de trabalho e esforço ilimitado de vários profissionais no Brasil e exterior. Porém, para que essa alternativa se torne uma commodity real e sustentável, é extremamente necessário que novos países sejam inseridos no mercado produtivo. Somente o Brasil como produtor de etanol não é suficiente para atender à demanda mundial. O conhecimento brasileiro para produção de etanol e as inovações tecnológicas ao longo das últimas décadas permitem que o País produza hoje o combustível a um preço extremamente competitivo em relação à gasolina, acrescido da vantagem de não emitir gases do efeito estufa, logo é uma opção compatível com a equalização do conflito entre mitigação do aquecimento global e competitividade.

36

Throughout the world, one always hears the same phrase: we need to free ourselves from the dependency on fossil fuels and look for clean energy sources. However, practice has kept a distance from theory all these years, and 2010 may be the year representing the beginning of the harvest of so many years of unlimited efforts of many professionals in Brazil and abroad. However, in order for this alternative to become a true and sustainable commodity, it is very much necessary that other countries be involved in the production market. Brazil alone as an ethanol producer is insufficient to meet world demand. Brazilian know-how to produce ethanol and technological innovations in the course of recent decades allowed the country to produce the fuel today at a very competitive price in comparison with gasoline, in addition to the advantage that it does not emit greenhouse gases, hence being a compatible option that equalizes the conflict between mitigation of global warming and competitiveness.



consultores & especialistas Cerca de 80% da produção brasileira já são destinados ao consumo interno, boa parte para atender ao mercado crescente de veículos flex fuel, que já respondem por 90% das vendas de automóveis no País. Além de automóveis, existe uma extensa lista de outros veículos que podem utilizar etanol (alguns, ainda em estudo), como motos, ônibus, aviões, isso sem incluir a emergente indústria alcoolquímica. Logo, mesmo que a produção de etanol aumente, a tendência é que boa parte dela seja voltada para o próprio mercado brasileiro. Os brasileiros são donos do conhecimento e da tecnologia para que o etanol possa ganhar o mundo e precisam assumir o posto de exportador nesse setor. As empresas brasileiras estão cada vez mais em busca de mercados produtores promissores, para expandir seu mercado de atuação. A Dedini é uma empresa que se tem voltado para a exportação: atualmente, entre 10 e 15% do faturamento da empresa correspondem a maquinário e equipamentos do setor sucroalcooleiro dedicados ao mercado externo. Para que nos tornemos um player ainda mais forte, é necessário que a indústria nacional de equipamentos se capacite para oferecer soluções tecnológicas que permitam novos usos, além do automotivo, como a geração estacionária de energia elétrica. A ampliação dos mercados consumidores e produtores de etanol é altamente benéfica para o Brasil. Estabelecendo novos mercados, abre-se todo um mundo de oportunidade de negócios para a indústria nacional, além de colaborar para programas importantes de desenvolvimento de outros países. A declaração da Agência Americana de Proteção Ambiental afirmando que o etanol produzido no Brasil é o mais avançado do mundo e menos poluente do que o etanol de milho (produzido nos EUA) e o biodiesel europeu é somente mais uma demonstração de que o País está no caminho certo e de que realmente temos tudo para nos transformarmos em uma verdadeira potência desse combustível. A decisão é um passo importante para que a barreira tarifária ao produto nos EUA seja derrubada. Porém, para atender a essa demanda internacional, os produtores nacionais devem investir para ampliar sua produção por meio de avanço tecnológico. Hoje em dia, já existe no País tecnologia agrícola e industrial capaz de aumentar a produtividade média em até 25%, proporcionando ganhos a todas as partes interessadas e fortalecendo o setor. A recente aliança firmada entre Shell e Cosan é outro ponto que mostra como os biocombustíveis estão ganhando cada vez mais força em território internacional. As duas empresas formam uma aliança estratégica histórica para o setor, quebrando paradigmas importantes e abrindo o setor para uma nova fase crescente e sustentável. O terreno já foi preparado para o crescimento do etanol, interna e externamente. Agora, cabe às empresas e ao governo se unirem para que essa semente germine e se transforme numa planta forte e produtiva.

38

Opiniões About 80% of the Brazilian production are already destined to domestic consumption, most of which to meet the growing demand of “flex fuel” vehicles, which already account for 90% of automobile sales in the country. Apart from automobiles, there is an extensive list of other vehicles that may use ethanol (some still being studied), such as, motorcycles, buses, airplanes, not to mention the emerging ethanol-based chemical industry. Therefore, even if ethanol production increases, the trend is that a major portion will be destined to the Brazilian market. Brazilians have the know-how and the technology for ethanol to conquer the world and they must take up the exporter role in this industry. Brazilian companies are increasingly in search of promising production markets to expand their field of activity. Dedini is a company that has focused on exports: currently, between 10 and 15% of the company’s revenues represent machinery and equipment for the sugar and ethanol industry destined for export. To become an even stronger player, it is necessary that the Brazilian equipment industry is able to offer technological solutions that allow new uses, apart from automobiles, such as stationary electric power generation. The expansion of ethanol consumer and production markets is highly beneficial for Brazil. Establishing new markets, a whole new world of opportunities unfolds for Brazilian industry, in addiction to cooperation opportunities in important development programs of other countries. The statement of the U.S. Environmental Protection Agency, whereby ethanol produced in Brazil is the most advanced in the world and less polluting than corn ethanol (produced in the USA) and concerning European biodiesel, is merely another demonstration that the country is headed in the right direction and that we really have all it takes to become a true powerhouse for this type of fuel. The decision is an important step in the elimination of the product’s tariff barrier in the USA. However, to meet this international demand, Brazilian producers must invest to expand their production through technological progress. Nowadays, there already exists in the country agricultural technology capable of increasing average productivity by up to 25%, providing gains for all parties interested in strengthening the industry. The recent alliance between Shell and Cosan is another issue that shows how biofuels are increasingly growing stronger internationally. The two companies have formed a historical strategic alliance in the industry, eliminating important paradigms and opening the industry to a new phase of growth and sustainability. The terrain has already been well prepared for the growth of ethanol, domestically and internationally. Now it is up to companies and the government to unite so that this seed may germinate and become a strong and productive plant.



consultores & especialistas

a desnacionalização do álcool?

apenas um passo a mais no processo evolutivo de

uma estrela

Denationalization of ethanol? Just another step in the evolutionary process of a star

“As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até mesmo do pior para o melhor.” Richard Hooker O brasileiríssimo e ex-“álcool”, hoje “etanol”, de doméstico à internacional player da matriz energética do futuro, já teria sido testado como carburante veicular em 1922. Cinquenta anos depois, apresentou-se como uma solução doméstica para os desafios brasileiros no petróleo, ou na sua falta, no início dos anos 70. Passou por chuvas e trovoadas para, no início deste século, tornar-se uma celebridade mundial. Claro que, como uma estrela em ascensão, tem sido cortejado pelos interesses mais atentos do set econômico internacional. Não sem antes passar por outras fases de um processo natural de transformação, por exemplo, as fusões e aquisições que se iniciaram com o case Cosan. Lembrando que esse interesse pelas commodities brasileiras e seus “parentes” mais próximos não é exclusividade do álcool, visto informação do IPEA de que, no setor primário, subiu de 2% para 14% sua participação de investimentos externos no Brasil, em pouco mais de 5 anos. Hoje, o etanol ocupa as tribunas como se sua “desnacionalização” fosse um risco de crime lesa-pátria. Concordo que muito dos argumentos são válidos e devem ser motivos de preocupação, especialmente no cenário econômico futuro, mas prefiro ver o fenômeno tentando observar o lado positivo. Se aturarmos nas possibilidades, teremos ganhos expressivos para o setor.

“Changes never occur without inconveniences, even in going from worst to best.” Richard Hooker It is the so very much Brazilian, formerly called “alcohol”, nowadays called “ethanol”, which from a domestic player evolved to be an international player of the energy matrix of the future, that supposedly was tested as vehicle fuel in 1922. Fifty years later, it presented itself as a domestic solution for Brazilian problems related to oil, or rather, the lack of it, in the early seventies. It went through ups and downs to, at the beginning of this century, become a global celebrity. Of course, being a rising star, it has been courted by the most attentive interests of the international economic jet set, while having previously been submitted to other phases of a natural transformation process, such as mergers and acquisitions that began with the Cosan case. One should bear in mind that this interest in Brazilian commodities and their closest “next of kin” is not exclusive of ethanol, based on information of IPEA (Applied Economic Research Institute), according to which, in the primary sector, its share of foreign investments in Brazil increased from 2% to 14% in a little more than 5 years. Nowadays, ethanol occupies all tribunes, as if its “denationalization” were an act of treason. I concur that many arguments are valid and should be reason for concern, especially in the future economic scene, but I prefer to look at the phenomenon from a positive angle. If we can put up with the possibilities, we may enjoy significant gains for the industry.

" sabendo que nossa capacidade de investir em tecnologia no Brasil tem 50 anos de atraso institucional, é bom contar com a ajuda dos novos parceiros "

Carlos Roberto Liboni Consultor Independente Independent Consultant

40


Opiniões Esse movimento traz, de forma imediata, alguns benefícios claros. O primeiro é a oxigenação da gestão típica dos negócios, através da experiência acumulada desses grandes players das commodities no cenário internacional, no poder de investimento do neointeressado Big Oil e no influxo de capitais decorrente. Há muito, o setor procura, com tenacidade, colocar o produto como uma commodity internacional. Não é de hoje. Tão grande é a dedicação quanto são as dificuldades. Protecionismo, receios da fragilidade na infraestrutura, cultura são obstáculos realmente difíceis de transpor. Nesse quesito, a “desnacionalização” ganha de goleada, pois recebe a força de lobby, infraestrutura disponível para distribuição e grande credibilidade de um setor multinacionalizado. Vejo ações coincidentes, como a da EPA, Environmental Protection Agency, reconhecer no seu standard RFS2 a superioridade sustentável do etanol da cana, criando expectativas de consumo de 45 bilhões de litros de biocombustível ainda em 2010; e da CARB, California Air Resource Board, que fala em 24 bilhões de litros no consumo do Estado americano, como reflexos de um novo conceito do setor. Essa credibilidade certamente vai alavancar a consolidação do etanol como commodity, aumentando a presença brasileira no cenário econômico internacional pela expressão de sua liderança na tecnologia e na produção. Some-se a isso o ganho do Brasil no aspecto tecnológico. Mesmo líder do etanol de primeira geração, o País está ainda longe dos progressos alcançados pela tecnologia dos países avançados, de olho na segunda geração da futura commodity. Sabendo que nossa capacidade de investir em tecnologia no Brasil tem 50 anos de atraso institucional, é bom contar com a ajuda dos novos parceiros. Para ilustrar essa distância, enquanto o Presidente Lula, de forma louvável, inaugura um centro de pesquisa para a segunda geração do etanol em Campinas, a Coskata, americana, já está licenciando sua tecnologia para produção da commodity. Portanto, é outro enorme alívio saber que a Shell traz duas companhias do grupo, à frente dessas pesquisas, para o guarda-chuva da joint venture com a Cosan, conforme recente divulgação na imprensa nacional. Prefiro, afinal, enxergar o Brasil como um futuro investidor na produção da nova commodity fora do País, agregando o valor da transferência de tecnologia, imbatível nos nossos técnicos e gestores, a vê-lo com alguém que perde os anéis para não entregar os dedos. Como já comentado, penso que há que se cuidar dos riscos. Não esquecer, por exemplo, que o futuro cobrará a conta em forma de remessas de lucros, a propósito, isentas de tributos na transferência para as matrizes dos investidores. Independente dos inconvenientes de uma mudança dessa natureza na estrutura do setor, dos receios que provoca nos trabalhadores e das polêmicas que se criam na sociedade, essas mudanças, além de inexoráveis, poderão ser altamente benéficas para os negócios, se soubermos trabalhar suas variáveis com otimismo e um pouco mais de boa-fé.

This movement immediately provides some evident benefits. The first is the oxygenation of typical business management, through the accumulated experience of these major players in commodities in the international scene, followed by the power to invest of the neo-interested party “Big Oil” and the resulting influx of capital. For quite some time the industry has tenaciously been seeking to position the product as an international commodity. And not only recently. Dedication is just as big as are the difficulties. Protectionism, concerns about infrastructure fragility and culture are truly obstacles difficult to overcome. In this respect, “denationalization” is by far the winner, given that it is supported by a strong lobby, infrastructure available for distribution and lots of credibility of what is a “multinationalized” industry. I see initiatives occurring in parallel, such as that of the EPA - Environmental Protection Agency, which, in its standard RFS2, acknowledges the sustainable superiority of ethanol from cane, creating consumption expectations of 45 billion liters of biofuel even in 2010; the initiative of CARB - California Air Resource Board, which refers to consumption in that state of 24 billion liters. Both reflect a new concept for the industry. This credibility will surely leverage the consolidation of ethanol as a commodity, increasing Brazilian presence in the international economic scene through the manifestation of its leadership in technology and production. In addition, one should mention Brazil’s gain from a technological point of view. Even being the leader in first generation ethanol, the country is still far from the technological progress of developed countries, looking to the commodity’s second generation. Knowing that our capacity to invest in technology in Brazil is institutionally outdated by 50 years, it is good to count on the assistance of the new partners. To illustrate this gap, while President Lula, in a commendable way, inaugurates a research center for second generation ethanol in Campinas, the U.S. company Coskata is already licensing its technology for the production of the commodity. Therefore, it is also reason for relief to know that Shell is bringing two companies to the group, which are leading this research, placing them under the Cosan joint venture umbrella, according to recent media reports. In summary, I prefer to view Brazil as a future investor in the production of the new commodity outside the country, aggregating value through the transference of technology, which is firmly detained by our technicians and managers, rather than see it in the hands of someone willing to lose the rings rather than the fingers. Like I commented above, I believe one must look at the risks. For instance, not forget that the future will submit the payment bill in the form of profit remittances, which, by the way, are tax exempt when made to investors’ home offices. Irrespective of the inconveniences of change to how the industry is structured, the fears change brings about in workers and the controversies it creates in society, such change, apart from being inevitable, may be highly beneficial for business if we know how to deal with its variables optimistically and with somewhat more good faith.

41




usinas

a cana-de-açúcar brasileira ganha

holofotes internacionais Brazilian sugarcane under international spotlights

Os diferenciais competitivos do mercado sucroenergético brasileiro ganharam a atenção do mundo a partir do momento em que o país se consolidou como um dos maiores players do setor. Utilizando-se de matéria-prima renovável e de alto desempenho energético, essa indústria conquistou os holofotes nacionais e internacionais por fazer parte da solução nesse novo cenário de desenvolvimento sustentável. As técnicas utilizadas no Brasil para produção de açúcar e etanol, por meio da cana-de-açúcar, são tão eficazes que a aplicação em outros continentes, como a África, já está sendo estudada. A África do Sul, por exemplo, já dispõe de avançados estudos para a produção de biocombustíveis a partir da cana-de-açúcar, com tecnologia semelhante à brasileira, mas adaptada às realidades locais.

Competitive differentials of the Brazilian sugarbased energy market caught the attention of the world the moment the country consolidated itself as one of the largest players in the industry. Using renewable high energy performance raw material, this industry came under the Brazilian and international spotlights for being part of the solution in this new scenario of sustainable development. Techniques employed by Brazil in producing sugar and ethanol from sugarcane are so effective that its application in other continents such as Africa is already under consideration. South Africa, for example, has already done advanced studies on the production of biofuels from sugarcane, with technology similar to that of Brazil, but adapted to local realities.

" com um desenvolvimento consolidado e promissor, torna-se natural o interesse de companhias multinacionais e de investidores estrangeiros pelo mercado sucroenergético brasileiro " Pedro Isamu Mizutani Presidente da Cosan - Açúcar e Álcool President of Cosan - Sugar and Ethanol

A transferência tecnológica mostra que o trabalho pioneiro implementado pelo Brasil pode agregar valor e fornecer soluções de abastecimento limpo para diferentes regiões do mundo. Além disso, delegações de países como Japão, Suécia, Arábia Saudita, Holanda, Alemanha, México e Estados Unidos visitam frequentemente o País para conferir a qualidade de nossa produção. Iniciativas como essas mostram que as vantagens do Brasil vão além do fato de estar localizado em uma região com clima favorável. O setor soube aproveitar seu potencial humano e tecnológico para o desenvolvimento de soluções adaptadas à nossa realidade, incluindo a flexibilização na produção das usinas, que podem ter predominância tanto de etanol como de açúcar, de acordo com a demanda de mercado. Além disso, a energia elétrica produzida por meio do bagaço e da palha da cana-de-açúcar pode reforçar a matriz energética brasileira, em especial no período de estiagem de chuvas, como uma fonte competitiva e renovável.

44

The transference of technology shows that the pioneer work implemented by Brazil aggregates value and provides clean supply solutions to different parts of the world. Furthermore, delegations from countries such as Japan, Sweden, Saudi Arabia, Holland, Germany, Mexico and the United States frequently visit the country to check on the quality of our production. Initiatives such as these show that the advantages of Brazil go beyond the fact that the country is located in a region with a favorable climate. The industry knew how to make use of its human and technological potential for developing solutions adapted to our reality, including flexibilization in the production of the mills, which can predominantly produce either ethanol or sugar, according to market demand. In addition, electric power produced from bagasse and sugarcane straw can reinforce the Brazilian energy matrix, particularly in the dry season, as a competitive and renewable source.


Opiniões Com um desenvolvimento consolidado e promissor, torna-se natural o interesse de companhias multinacionais e de investidores estrangeiros pelo mercado sucroenergético brasileiro. Afinal, os produtos utilizam tecnologia de ponta, implementada de maneira muito eficaz por grandes players, como a Cosan. Nos últimos anos, o mercado externo tem reconhecido o etanol brasileiro como uma importante fonte de energia limpa, sustentável e economicamente viável. Em 2008, o Grupo Cosan foi uma das companhias a fechar um acordo de distribuição para a Suécia, no primeiro embarque de etanol com a verificação de critérios de sustentabilidade. A operação comercial foi resultado de um contrato pioneiro firmado entre as usinas brasileiras Alcoeste, Cosan, Guarani e NovAmérica — hoje integrante do grupo Cosan — com a empresa sueca Sekab, a maior compradora de etanol brasileiro na Europa. É importante ressaltar ainda que as usinas foram capazes de atender às exigências do consumidor europeu, sem alterar as práticas correntes de suas operações. A produção com critérios de sustentabilidade foi um item fundamental também para firmar, no ano passado, uma importante parceria com a Mitsubishi no fornecimento de etanol para utilização na produção de EBTE, agente oxigenante que faz a gasolina queimar de maneira mais completa e limpa. O etanol, nessa composição, substitui o metanol, dando um caráter mais limpo e sustentável ao produto final, sem abrir mão de performance. Além do etanol, o açúcar brasileiro também desempenhou um importante papel no fornecimento mundial, em especial após a quebra de safra da Índia. Grande produtor, consumidor e exportador, o país passou a importar o produto, cujos estoques estavam em níveis baixos em todo o mundo. Atenta a essa necessidade de abastecimento, a Cosan exportou, no primeiro semestre de sua safra, 12,7 milhões de toneladas do produto, volume 26,4% superior ao mesmo período da safra anterior, tendo a Índia como destino principal, seguida de Arábia Saudita e Rússia. Tantos acontecimentos positivos só nos fazem ter certeza de que sairão ganhando as companhias que atuarem de maneira integrada e com foco em soluções inovadoras e ágeis, sempre com atenção ao elemento humano, agilidade com disciplina e desenvolvimento do potencial de segurança em suas operações. Com essa postura, além do respeito pelo trabalho pioneiro desenvolvido por profissionais brasileiros, os players nacionais não precisarão temer o investimento estrangeiro, que tem tudo para alavancar ainda mais esse negócio. Como detentoras de uma técnica apurada e que promove resultados eficientes, as empresas brasileiras têm tudo para trabalhar em parceria com possíveis investidores estrangeiros, compartilhando dos benefícios de uma produção limpa, renovável e alinhada com as preocupações ambientais de nossos dias.

With a consolidated and promising development, the interest of multinational companies and foreign investors in the Brazilian sugar-based energy market is only natural. After all, the products use state-of-the-art technology, efficiently implemented by major players such as Cosan. In recent years, the international market acknowledged Brazilian ethanol as an important source of clean, sustainable and economically feasible energy. In 2008, the Cosan Group was one of the companies that closed a distribution deal with Sweden, for the first ethanol shipment that had to meet sustainability criteria. This trade deal resulted from a pioneer contract celebrated by the Brazilian mills Alcoeste, Cosan, Guarani and NovAmérica — today belonging to the Cosan Group – with Swedish company Sekab, the largest buyer of Brazilian ethanol in Europe. It is important to point out that the mills were capable of meeting the European consumer requirements, without changing their ongoing operational practices. Production following sustainability criteria was an essential item also in the celebration, last year, of an important partnership with Mitsubishi, to supply ethanol for use in the production of EBTE, an oxygenant agent that makes gasoline burn in a cleaner and more complete way. In this composition, ethanol replaces methanol, providing the end product a cleaner and more sustainable characteristic, without altering performance. Apart from ethanol, Brazilian sugar also played an important role in international supply, notably after the Indian harvest failed. Being a large producer, consumer and exporter, India began importing the product, whose inventories were at low levels throughout the world. Alert to this supply need, Cosan in the first semester of its harvest, exported 12.7 million tons of the product, a volume 26.4 % higher than in the same period of the previous harvest, with India as the main destination, followed by Saudi Arabia and Russia. All these positive events only reassure us that companies performing in an integrated way, with focus on innovative and quick solutions, always alert to the human element, with disciplined expediency, and capable of developing the safety potential of their operations, will always enjoy a leading edge. With this posture, apart from the respect for the pioneer work performed by Brazilian professionals, the national players need not fear foreign investment that can greatly contribute to even further leverage the business. In the capacity of holders of a matured technique that brings about efficient results, Brazilian companies are well equipped to work in partnership with possible foreign investors, sharing the benefits of a clean and renewable production, in tune with the environmental concerns of our time.

45


usinas

Opiniões

as empresas internacionais no setor sucroalcooleiro International companies in the sugar and ethanol industry

A indústria sucroalcooleira foi a primeira a se desenvolver em maior escala no País, ainda nos tempos da colônia, a partir dos estados do Nordeste, onde a cana-de-açúcar, transplantada da Índia, encontrou um habitat favorável. No século passado, o crescimento da produção no Centro-Sul, em áreas planas, com solo mais rico, fez de São Paulo o estado líder no setor, com a cultura presente em quase todos os estados do País. O Brasil se tornou líder mundial no fornecimento de açúcar, complementando essa produção com álcool destinado à indústria local.

The sugar and ethanol industry was the first to develop on a grand scale in the country, still in colonial days, beginning in the Northeastern states, where sugarcane transplanted from India found a favorable environment. In the past century, growth in production in the Center-South, on leveled terrain, with rich soil, made São Paulo the leading state in the industry, but with this culture present in almost all states of the country. Brazil became the world leader in the supply of sugar, complementing the production with ethanol destined to the local industry.

" Há 105 anos no Brasil, a Bunge, lider na exportação de produtos agrícolas do País, planeja se tornar um dos principais players do setor sucroalcooleiro. A empresa, que nasceu em 1818, dispõe de estruturas comerciais e de distribuição nos principais mercados mundiais. " Martinho da Mota Silveira Neto Diretor de Açúcar e Bioenergia da Bunge Director of Sugar and Bioenergy of Bunge

Por se tratar de um segmento agroindustrial antigo, a expansão foi ocorrendo por meio da formação de empresas familiares, com a maior parte delas controlando apenas uma usina de beneficiamento e produzindo o açúcar não refinado, ficando o abastecimento do consumo interno do produto final a cargo de poucas marcas. A necessidade de uma organização mais abrangente para a conquista do mercado mundial levou à formação de entidades coletivas, como a Copersucar, a Cristalserv e outras que assumiram essa tarefa. A expansão do processo de produção de álcool combustível, a partir do Proálcool e, mais recentemente, da preocupação ambiental, vem levando a um grande crescimento do setor, com o início do processo de consolidação e a formação de grupos maiores, reunindo várias usinas. O lançamento dos carros flex e o apoio do governo Lula ao uso do combustível renovável, visando tornar o etanol uma commodity internacional, atraíram para o setor o interesse de grandes grupos nacionais e multinacionais.

46

Given that it is an old agroindustry segment, expansion occurred through the constitution of family businesses, most of which controlled only one processing mill that produced raw sugar, with the supply of the end product for domestic consumption being done under few brand names. The need for a more encompassing organization to access the world market resulted in the creation of collective entities, such as Copersucar, Cristalserv and others that assumed this task. The expansion of the ethanol production process, beginning with the Proálcool Program and, more recently, environmental concerns, is bringing about large growth in the industry, with the starting of the consolidation process and the formation of larger groups, combining several mills. The launch of “flex cars” and the support of the Lula government for use of renewable fuel, seeking to make ethanol an international commodity, attracted the interest of large Brazilian and multinational groups to the industry.



usinas Essa tendência foi reforçada por fatores como as oscilações de mercado, necessidade de dispor de estruturas mais amplas de comercialização, apoio financeiro e tecnológico, o que está levando a uma reestruturação significativa do setor, para aumentar sua competitividade internacional na comercialização de açúcar e álcool e garantir o abastecimento interno. Com isso, está em curso um processo de consolidação, formando-se alguns grupos de maior peso, alguns constituídos por empresas de capital majoritariamente brasileiro, e outros de capitais externos, particularmente de empresas com larga experiência em commodities agrícolas. A Bunge, que há 105 anos está presente no Brasil e lidera a exportação de produtos agrícolas do País, é uma das organizações que vêm dando passos significativos para se tornar um dos principais players do setor sucroalcooleiro. A experiência de uma empresa, que nasceu em 1818 comercializando internacionalmente e dispõe de estruturas comerciais e de distribuição nos principais mercados mundiais, é um fator importante na segurança do investimento que vem sendo feito no País, para atender ao mercado interno e também às exportações de açúcar e etanol. Além das vantagens logísticas e comerciais resultantes de sua experiência mundial e de sua estrutura e solidez financeira, a empresa traz também uma importante contribuição no setor da sustentabilidade, tanto do ponto de vista ambiental como social. A Bunge é mundialmente compromissada com o desenvolvimento sustentável, e, entre seus princípios, estão o de contribuir para o desenvolvimento social e econômico das comunidades onde atua, buscar alto nível de performance ambiental, adotar as melhores práticas efetivas, baseadas na ciência. Fazem parte do compromisso promover essas práticas na cadeia de suprimentos, com parcerias para aplicação de práticas sustentáveis e um diálogo construtivo com os públicos de relacionamento. No caso específico do setor sucroalcooleiro no País, que vem se desenvolvendo em áreas onde não era tradicional, esses compromissos são ainda mais amplos e envolvem cuidados especiais, por exemplo, com a posse da terra por meio de escrituras definitivas, sem litígio, influência, presença ou demanda de natureza indígena, verificando as escrituras com georreferenciamento. Assim, gera valor, empregos, renda e riquezas para as comunidades e para o País, utilizando as melhores tecnologias operacionais, incluindo uso primordial de colheita mecanizada de cana crua. Outros aspectos fundamentais de atuação da empresa são a valorização da mão de obra local e o repúdio às práticas de trabalho inseguro ou penoso, exploração de mão de obra infantil e situações análogas ao trabalho escravo na cadeia de fornecimento. Certamente, a presença de uma empresa global, que convive com percepções e demandas peculiares em diversas partes do mundo e com práticas socioambientais como as definidas pela Bunge, ao lado dos processos internos de contratação, treinamento, segurança e gestão profissional, pode contribuir na construção de uma imagem sólida para o setor, representando um ganho para o País, que se soma às perspectivas de crescimento das exportações e da produção interna.

48

Opiniões This trend was reinforced by factors such as market oscillations, the need for broader commercialization structures, financial and technological support, which are resulting in a significant re-structuring of the industry, increasing its international competitiveness in the commercialization of sugar and ethanol, and warranting the supply to the domestic market. Thus, a consolidation process is in progress, forming some heavyweight groups, of which some are mostly controlled by Brazilian capital and others by international capital, particularly companies with large experience in agricultural commodities. Bunge, which for 105 years has been present in Brazil and leads exports of the country’s agricultural products, is one of the organizations that has been taking big steps in becoming one of the main players in the sugar and ethanol industry. The experience of a company that originated in 1818, trading commodities internationally, and that has trading and distribution structures in place in the world’s main markets, is an important safety factor for investments being made in the country, to meet the needs of the domestic and export markets of sugar and ethanol. Apart from the logistic and commercial advantages of its worldwide experience and its structure and financial soundness, the company also makes an important contribution in the field of sustainability, both from the environmental and social points of view. Bunge is internationally committed to sustainable development and among its principles are to contribute to social and economic development in communities in which it has activities, to seek a high level of environmental performance, and to adopt better effective practices, based on science. This commitment also entails promoting these practices in the supply chain, with partnerships to apply sustainable practices, while also maintaining a constructive dialogue with its interfacing publics. In the specific case of the sugar and ethanol industry in the country, which has been developing in areas in which it lacked tradition, such commitments are even broader and require special care, for instance, as concerning land ownership reflected in definitive deeds, without litigation, influence, presence or demands of indigenous nature, checking the deeds by using georeferencing. The company thus generates value, jobs, income and wealth for communities and the country, using the best operational technologies, including the preferential use of mechanized harvesting of raw sugarcane. Other essential aspects of the company’s activities are the valorization of local labor, the repudiation of unsafe or extremely wearisome labor practices, the exploitation of child labor and situations that characterize slave labor, throughout the supply chain. Certainly, the presence of a global company, facing peculiar perceptions and demands in various parts of the world and which adopts social and environmental practices as defined by Bunge, along with internal hiring, training, safety and professional management procedures, may contribute to building a steadfast image of the industry, representing gains for the country, which add to the growth outlook of exports and domestic production.



usinas

a BP e sua visão do

etanol brasileiro BP and its view of Brazilian Ethanol

" a conversão do etanol em uma commodity permitirá o desenvolvimento de mecanismos para atuação em mercado futuro, estabelecimento de preços de referência globais e construção de melhores mecanismos de hedge " Mário Lindenhayn Presidente da BP Biofuels Brasil President of BP Biofuels Brasil

O mundo está à procura de soluções eficientes e competitivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas. Parte desse esforço está na busca de fontes de energia de baixo carbono que sejam seguras, competitivas e apresentem escala elevada. Em combustíveis, há uma opção competitiva disponível: o etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil. O Brasil é pioneiro na produção de etanol. Nos últimos 40 anos, o País adotou o combustível em sua matriz energética, desenvolveu mercado de veículos adaptados ao combustível e consolidou uma base relevante de produção e exportação. Do ponto de vista da BP, o etanol apresenta consideráveis sinergias com o seu negócio. A BP acredita que o país é estratégico e planeja investir significativamente nesse mercado até o final da década. Iniciamos nossa atuação no setor em 2008, quando adquirimos 50% de participação na joint venture Tropical Bioenergia, que produzirá 435 milhões de litros de etanol por ano. O objetivo estratégico da BP é ajudar a impulsionar o negócio de biocombustíveis a partir de cana-de-açúcar no Brasil, buscando elevar sua produtividade, oferecer novas tecnologias e converter o produto em uma commodity global. Acreditamos que é perfeitamente possível conci-

50

The world is in search of efficient and competitive solutions to reduce greenhouse gas emissions and mitigate climate change impacts. A part of this effort lies in looking for low carbon energy sources that are safe, competitive and available on a large scale. For fuels, such competitive option is available: ethanol from sugarcane produced in Brazil. Brazil pioneered the production of ethanol. In the past 40 years, the country adopted the fuel in its energy matrix, developed a market for vehicles adapted to this fuel and consolidated an important production and export base. From BP’s vantage point, ethanol entails considerable synergies with its core business. BP believes the country is strategic and therefore plans on investing quite considerably in this market by the end of the decade. We began our operations in this industry in 2008, when we acquired a 50% stake in the joint venture company Tropical Bioenergia, which will produce 435 million liters of ethanol per year. BP’s strategic objective is to assist in boosting the biofuel business based on sugarcane in Brazil, seeking to increase productivity, offering new technologies and making the product a global commodity. We believe it is quite possible to conciliate what


Opiniões liar o que existe de melhor em produção de etanol no Brasil com aquilo que a BP tem a contribuir, a partir de sua experiência de cem anos nos mercados de petróleo, gás e combustíveis. No processo de conversão do etanol em commodity global, o Brasil terá que aperfeiçoar suas práticas de saúde, segurança e meio ambiente. A Tropical foi concebida desde o início para operar com padrões elevados a esse respeito. Por isso a empresa fez investimentos durante seu primeiro ano de atuação e atingiu um índice de mecanização próximo de 100%. Nos padrões de segurança, a usina apresenta um índice RIF (recordable injury frequency) bem abaixo da média do setor. A BP acredita que a indústria de biocombustíveis deverá crescer exponencialmente. Exatamente quanto dependerá de muitas variáveis, incluindo o progresso da tecnologia e o desenvolvimento de políticas específicas. Muitas estimativas projetam que a participação dos biocumbustives na matriz de combustiveis será próxima a 20% em 2020. Dentro da BP, nós acreditamos que uma penetração de 30% entre 2030 e 2050 é possível, com o nível correto de investimento em tecnologias avançadas e desenvolvimento de infraestrutura. A BP investe no desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração, que poderão ser disponibilizados ao mercado brasileiro, tais como biodiesel, etanol lignocelulósico e biobutanol, uma nova molécula que permitirá abrir os mercados de combustíveis que ainda não consomem etanol. A conversão do etanol em uma commodity permitirá o desenvolvimento de mecanismos para atuação em mercado futuro, estabelecimento de preços de referência globais e construção de melhores mecanismos de hedge. Isso possibilitará elevar a capacidade de financiamento e assegurar o retorno dos investidores. É dessa forma que operam tanto o mercado de petróleo quanto o de açúcar. Também nessa área, acreditamos poder contribuir para o desenvolvimento da indústria. Temos atuado em conjunto com a Unica, tanto nos Estados Unidos como na Europa, na construção de uma visão mais alinhada sobre o setor e suas práticas, tanto em relação ao que existe hoje, quanto, e principalmente, em relação ao potencial futuro. Os biocombustíveis da cana atenderão com destaque a vários dos critérios de sustentabilidade em discussão pelos legisladores. A vitória recente do etanol da cana-de-açúcar nos Estados Unidos, com o reconhecimento do EPA (agência ambiental americana) de 61% de redução na emissão de gases do efeito estufa, foi um primeiro passo, mas muitos outros temas ainda requerem atenção. Considerando esse cenário, vemos que a BP e o setor sucroalcooleiro brasileiro apresentam importantes complementaridades. Essa parceria resulta em algo mais que a soma isolada das partes: a conversão do Brasil em um fornecedor global estratégico de energia limpa e sustentável.

best there is in terms of ethanol production in Brazil with what BP has to contribute based on its experience of 100 years in the oil, gas and fuel markets. In the process of making ethanol a global commodity, Brazil will have to improve its practices in health, safety and the environment. The company Tropical was conceived from the onset to operate with high standards in this regard. That is why the company made investments during the first year of activities, having reached a mechanization index of almost 100%. In terms of safety standards, the company has a RIF (recordable injury frequency) index well below the industry average. BP believes that the biofuel industry will grow exponentially. Just how much will depend on many variables, including technological progress and the development of specific policies. A great number of projections foresee that biofuels will make up approximately 20% of the fuel matrix by 2020. At BP, we reckon a penetration of 30% between 2030 and 2050 is possible, with the adequate level of investment in advanced technologies and infrastructure development. BP is investing in the development of second generation biofuels that may become available in the Brazilian market, such as biodiesel, lignocellulosic ethanol and biobuthanol, a new molecule that will allow opening markets that as yet do not consume ethanol. Making ethanol a commodity will allow developing mechanisms to perform in a future market, establish global reference prices and create better hedging mechanisms. This will make it possible to increase the financing capacity and assure investors ROICs. This is how both the oil and the sugar markets operate. Also in this field we believe we may contribute to developing the industry. We have performed jointly with UNICA (the Brazilian sugarcane industry association), both in the United States and in Europe, in building a view more aligned with the industry and its practices, in relation to what exists today, but more importantly with respect to future potential. Biofuels from sugarcane will mainly meet the several sustainability criteria being debated by legislators. Sugarcane ethanol’s recent victory in the United States, involving the approval by the EPA (the US Environmental Protection Agency) of a 61% reduction in greenhouse gas emissions, was a first step, but many other issues still require attention. Considering this scenario, we see that BP and the Brazilian sugar-based energy industry have a number of important complementarities.This partnership results in something that is more than the sum of the isolated parts: the transformation of Brazil, making it a global strategic supplier of clean and sustainable energy.

51


usinas

Opiniões

capital internacional: oportunidade de consolidação da liderança brasileira em biocombustíveis International capital: consolidation opportunities for Brazilian leadership in biofuels

" O Brasil precisa aproveitar a enorme disponibilidade de capital internacional para desenvolver mais rapidamente esse tremendo potencial de nossa agricultura. É uma grande oportunidade para potencializar a excelência de nossos operadores, líderes incontestes da agroindústria mundial. " Marcelo Weyland Barbosa Vieira Diretor de Açúcar e Álcool da Adecoagro Brasil Director of Sugar and Ethanol of Adecoagro Brasil

O investimento estrangeiro na indústria sucroalcooleira não é propriamente uma novidade, pois já tivemos importantes produtores como a Sucrerie Française e a Deltec, com usinas em São Paulo e no estado do Rio. Mas o monopólio das exportações de açúcar exercido pelo Instituto do Açúcar e do Álcool acabou afugentando esses investidores, que se desfizeram de seus ativos no Brasil. Após a desregulamentação do setor com o fim do IAA, a estabilização de nossa economia e sua maior abertura e, mais recentemente, o crescente interesse mundial na produção de biocombustíveis, vemos a volta do capital internacional investindo em nossa indústria. Ela é a mais competitiva do mundo, pelo ambiente favorável e pela longa capacitação de nossos agricultores. A combinação ideal de clima adequado com solos de boa qualidade e topografia favorável à mecanização não existe em nenhum outro lugar do planeta numa extensão tão grande como no Centro--Sul do Brasil. Nosso mercado interno, que permite ao produtor um bom mix de produtos com açúcar, etanol e cogeração, leva-nos a ser os produtores de menor custo. Falta a nossa indústria uma boa estrutura de capital. Tradicionalmente, esse setor foi dominado pela empresa familiar, e seu foco na acumulação de patrimônio leva à busca contínua de expansões incrementais sem uma adequada capitalização. Décadas de alta inflação e instabilidade na economia exacerbaram essa tendência. Como é da natureza da produção de commodities a volatilidade de preços, a falta de crédito para formação de estoques reguladores e a fragilidade financeira de um grande número de produtores geram recorrentes crises em períodos em que a oferta

52

Foreign investment in the sugar and ethanol industry is not exactly a novelty, given that we have had important producers such as Sucrerie Française and Deltec, with mills in São Paulo and Rio de Janeiro states. However the sugar export monopoly of the Sugar and Ethanol Institute (“IAA”) scared off these investors who got rid of their assets in Brazil. Following the industry’s deregulation with the extinction of the IAA, the stabilization of our economy and its increased opening and, more recently, the growing global interest in the production of biofuels, what we see is the return of international capital investing in our industry. It is the world’s most competitive, given the favorable environment and the long-lasting qualification of our farmers. The ideal combination of good climate, proper soil quality and topography favoring mechanization is inexistent anywhere else in the world, spreading over an area the size of CenterSouth Brazil. Our domestic market that allows producers a good mix of sugar, ethanol and co-generation, makes us the lowest cost producers. Our industry lacks a good capital structure. Traditionally, this industry has been dominated by family-run businesses and its focus on wealth accumulation results in a continuous quest for incremental expansion without adequate capitalization. Decades of high inflation and economic instability have exacerbated this trend. Given the nature of the production of commodities, with price volatility, the lack of credit to finance regulatory inventory and financial fragility of many of the producers, recurring crises are caused in times when supply exceeds demand. In addition, succession in older companies results in



usinas excede a demanda. Além disso, a sucessão nas empresas mais antigas leva a um controle pulverizado, gerando a perda de interesse no negócio dos minoritários que não participam da gestão. Tudo isso levou, nos últimos anos, a um grande número de fusões e aquisições no setor. Essa tendência à consolidação da indústria, que não é peculiar da agroindústria, mas de todos os setores das economias emergentes, levou a um crescimento as empresas de gestão profissional focadas na rentabilidade do negócio, através de novos projetos e de aquisições. Os ganhos de escala geram competitividade e permitem acesso a capital internacional com custos muito mais baixos que os do mercado brasileiro. Esse novo tipo de empresa açucareira atraiu a atenção de investidores estrangeiros, interessados na crescente demanda por alimentos e no enorme potencial do mercado mundial de biocombustíveis no longo prazo. Temos visto críticas de políticos da esquerda vendo nesse movimento uma ameaça à agricultura familiar. Mas as novas empresas que se expandem não têm foco na aquisição de terras, crescendo através do arrendamento, principalmente de áreas de pecuária de baixa produtividade. A produção de cana-de-açúcar não é uma atividade adequada para propriedades familiares, por precisar de escala para mecanização das operações, uma exigência da legislação ambiental, que prevê o fim da queimada da palha antes da colheita. E a colheita manual se torna mais cara à medida que o país cresce e o custo da mão de obra se eleva. Empresas internacionais têm um forte direcionamento para requisitos de sustentabilidades das operações, com um padrão alto de responsabilidade social, sem os quais o acesso a capital de grandes investidores não é facilitado. O Brasil precisa aproveitar a enorme disponibilidade de capital internacional para desenvolver mais rapidamente esse tremendo potencial de nossa agricultura. É uma grande oportunidade para potencializar a excelência de nossos operadores, líderes incontestes da agroindústria mundial. A grande novidade é a entrada de grandes traders de commodities e empresas de combustíveis, que passam a integrar a produção com a logística e a comercialização do produto, tornando o produto brasileiro muito mais competitivo internacionalmente. E a participação de grandes empresas internacionais em nosso negócio certamente facilitará, em alguma medida, a abertura de novos mercados para nossos produtos. Temos as condições naturais para sermos os produtores de menor custo: temos empresas com excelente gestão operacional, temos liderança na tecnologia – falta-nos disseminar os conceitos de foco no resultado final, na capitalização da empresa, no retorno total do investimento. A participação de grandes empresas de capital nacional ou internacional, baseadas em boas equipes locais, mas com um foco muito maior no resultado final do negócio, traz um novo padrão de excelência que, a longo prazo, vai disseminar-se por toda a nossa indústria, consolidando nossa posição de liderança mundial na produção de energia renovável.

54

widespread ownership, causing loss of interest in the business on the part of minority shareholders, who take no part in running a company. In recent years this scenario resulted in a great number of mergers and acquisitions in the industry. This trend towards consolidation of the industry, which is not peculiar only to agroindustry, but rather to all industries in emerging economies, resulted in the growth of professionally managed companies with focus on a business’ profitability, achieved through new projects and acquisitions. Economies of scale bring about competitiveness and allow access to international capital at much lower costs than in the Brazilian market. This new type of sugar producing company has attracted the attention of foreign investors, interested in the growing demand for food and in the huge market potential of the world’s biofuels market in the long term. We have seen criticism from leftist politicians who in this movement see a threat to family-run agricultural businesses. However, the new emerging companies are not focused on acquiring land, but rather on growing through the leasing mainly of low-productivity areas used for cattle breeding. The production of sugarcane is not an adequate activity for family-owned properties, given the need for economies of scale in the mechanization of operations, a requirement of environmental legislation, which foresees an end to the burning of sugarcane straw prior to harvesting. Manual harvesting is becoming more expensive with the country’s growth and the increasing cost of labor. International companies are strongly oriented towards operations’ sustainability requirements, with a high standard of social responsibility, lacking which, access to capital of major investors is not easily achievable. Brazil needs to take advantage of the enormous availability of international capital to more quickly develop this tremendous potential of our agriculture. It is a great opportunity to potentialize the excellence of our operators, the unchallenged leaders of global agroindustry. The important novelty is the entry of major commodity traders and fuel companies that start to integrate production with logistics and distribution, making the Brazilian product much more competitive internationally. The participation of large international companies in our business will certainly, to some degree, facilitate the opening of new markets for our products. We have the natural conditions needed to be the low cost producers: we have companies with excellent operational management, and we are leaders in technology – what we lack is disseminating the concepts involving the focus on the bottom line, on company capitalization, on ROIC. The participation of large Brazilian or internationally controlled companies, in combination with good local teams and increased focus on a business’ final result, brings about a new standard of excellence that in the long term will spread throughout our industry, consolidating our leading position in the world production of renewable energy.


morra Opiniões

adapte-se ou

Adapt or die

“As pressões que atuam sobre as organizações são bastante anunciadas: concorrência global terrível; clientes cada vez mais exigentes; escassez de recursos (humanos, financeiros, materiais, naturais); saltos astronômicos na tecnologia. O tema que unifica essas pressões é a mudança – a mudança implacável, multifacetada, impiedosa e cegamente rápida.” Essa é uma constatação de Geary Rummler e Alan Brach, em seu festejado livro Melhores Desempenhos das Empresas. Somem-se a essas pressões, as novas necessidades da sociedade, de sustentabilidade e de preços ainda mais baixos, que demandam o contínuo crescimento da escala e a melhoria permanente dos processos de produção. Então, veremos que não serão soluções simplistas e respostas superficiais que tornarão possível vencer os desafios a nossa frente e, especialmente, este que é a internacionalização das empresas do setor sucroenergético brasileiro. O capitalismo no Brasil amadureceu. A estabilidade econômica foi alcançada, aliando inflação baixa, crescimento da renda e do PIB, o fortalecimento do mercado interno, a queda dos juros e o aumento das reservas cambiais. No momento, o câmbio ainda é um obstáculo à competitividade, pois dificulta a expansão das exportações, mas essa também é uma externalidade de uma moeda mais forte. O mercado de capitais se firmou por aqui, e os papéis brasileiros fazem parte do portfólio dos investidores em todo o mundo, emergindo para a condição de economia desenvolvida. Agora, a sequência óbvia de uma economia desenvolvida e globalizada é a internacionalização das companhias dos principais segmentos da atividade produtiva. Essa internacionalização deve ser entendida de maneira ampla, tanto com a expansão das fronteiras das empresas de capital genuinamente nacional, quanto com a entrada de novos competidores estrangeiros, seja individualmente ou através de parcerias com empresas brasileiras. Já vimos isso acontecer em mercados importantes como consumo, telecomunicações, alimentos, bebidas, produtos da linha branca, minérios, aços, dentre outros. Em boa parte dos casos, empresas estrangeiras atuaram consolidadoras do mercado brasileiro, mas também tem acontecido o contrário, em que companhias brasileiras estão consolidando o mercado externo. Ainda restavam dois grandes setores nacionais, o sucroenergético e o de construção civil. Agora não mais.

“Pressures affecting organizations are well publicized: global competition; increasingly demanding clients; lack of resources (human, financial, material and natural); huge leaps in technology. The common theme that unites these pressures is change – merciless, multilayered, unrelenting and blindingly fast.” This is an observation of Geary Rummler and Alan Brach, in their acclaimed book Companies’ Best Performances (Brazilian Edition’s title). Additionally to these pressures there are new needs of society, relative to sustainability and continuously lower prices, that require constant growth of scale and improvement of production processes. Therefore, we will see that it will not be simplistic solutions and superficial answers that will make it possible to overcome the challenges ahead and, in particular, this one, which is the internationalization of companies of the Brazilian sugar-based energy industry. Capitalism in Brazil has matured. Economic stability has been achieved, combining low inflation, growth of income and GDP, the strengthening of the domestic market, the decline in interest rates and the increase of foreign exchange reserves. Currently, foreign exchange is still a barrier to competitiveness, since it hinders the growth of exports, but it is also an externality of a stronger currency. The capital market hereabouts has stabilized and Brazilian securities are a part of investors’ portfolios around the world, emerged to the status of developed economy. Now, the obvious sequence of a developed and globalized economy is the internationalization of companies in the main segments of productive activity. This internationalization must be understood in a broad sense, both in the context of the expansion of the frontier of genuinely Brazilian-controlled companies, and as it relates to the entry of new foreign competitors, whether individually or through partnerships with Brazilian companies. We have seen this happen in important consumer markets, telecommunications, food, beverages, home appliances, mining, steel, among others. In most cases, foreign companies performed in a consolidation role in the Brazilian market, but the contrary also occurs, when Brazilian companies consolidate the foreign market. There were still two large untouched Brazilian industry sectors: the sugar-based energy industry and civil construction. Not any longer.

" O capitalismo no Brasil amadureceu. Agora, a sequência óbvia de uma economia desenvolvida e globalizada é a internacionalização das companhias dos principais segmentos da atividade produtiva. " Igor Montenegro Celestino Otto Diretor Executivo do Grupo USJ Executive Director of the USJ Group

55


usinas Nos últimos tempos, temos visto especialmente uma movimentação crescente de empresas estrangeiras investindo no segmento sucroenergético no Brasil, como as francesas Tereos e LDC, a espanhola Abengoa, a inglesa BP, e, por último, a anglo-holandesa Shell. O que não estamos vendo é o inverso, ou seja, a expansão de companhias brasileiras rumo ao mercado internacional, como fizeram com sucesso a Vale, a Gerdau, a Ambev e a JBS Friboi. As companhias do segmento sucroenergético se orgulham de possuir os menores custos de produção do mundo e a melhor tecnologia disponível. Mas as glórias do passado não vão garantir o sucesso no futuro. Novas matérias-primas, novos produtos e novas tecnologias estão sendo desenvolvidos neste momento, com bilhões de dólares de investimento, nos EUA, na Europa e na Ásia. Não há nada parecido acontecendo no Brasil. Os investimentos em inovação, por aqui, ainda são muito tímidos e estão concentrados em poucos centros de pesquisa privados e públicos. A nossa dianteira tecnológica está prestes a ser perdida. A estrutura acionária e de capital das empresas, os modelos de gestão dos negócios e o nível de profissionalização do setor sucroenergético tradicional também estão muito atrasados em relação à maior parte dos novos concorrentes que chegaram ou que ainda estão por chegar. Mas isso não quer dizer que nós vamos ver uma rápida concentração do segmento de açúcar e etanol. O setor sucroenergético é bastante fragmentado no Brasil e está capilarizado em regiões geográficas profundamente diferentes. Os negócios, em sua grande maioria de origem familiar, representam a razão de ser de muitas famílias e de diversas regiões. Culturas seculares fortemente arraigadas prendem muitas dessas famílias aos seus negócios. O profundo conhecimento da atividade também diferencia o empreendedor tradicional, que ainda consegue extrair desse modelo a sua competitividade. Portanto, novas companhias internacionais ainda vão ter que conviver por algumas décadas com as empresas familiares. E muitas dessas empresas familiares estão se profissionalizando rapidamente, para estarem preparadas para concorrer em um mercado mais dinâmico. O perfil da companhia nacional que vai manter-se firme na concorrência com as empresas internacionais será aquela que investir em inovação e novas tecnologias, que profissionalizar a gestão, que implantar a governança corporativa, que organizar a sua estrutura de capital, que melhorar a qualidade dos serviços, que prestar atendimento de excelência aos clientes, que desenvolver produtos diferenciados, que melhorar a qualificação e a motivação dos seus profissionais, que fizer crescer a produtividade do negócio reduzindo seus custos, que conseguir ampliar a base de clientes e aumentar a sua penetração internacional, inclusive investindo em outras regiões do planeta. Os requisitos são muitos e vão representar uma transformação radical nessas organizações. A mudança não é simplesmente uma nova opção, mas talvez a única saída possível para quem quiser sobreviver. O processo evolucionista da natureza defendido por Charles Darwin, abrange todos os seres vivos, bem como as suas organizações, porque estas também são vivas e sujeitas à evolução. Para chegarmos até aqui, como pessoas e como sociedade, foram necessárias sucessivas e bem-sucedidas mudanças evolucionárias. Essa evolução pode ser resumida na adaptação de gerações após gerações ao meio ambiente em que viveram. Tanto na vida quanto nos negócios, somente há uma chance de vencer: adaptando-nos melhor e mais rápido ao ambiente do que os concorrentes.

56

Opiniões Recently one has particularly noticed a growing movement of foreign companies investing in the sugar-based energy industry in Brazil, such as French companies Tereos and LDC, Spanish company Abengoa, British company BP, and, lastly, Anglo-Dutch company Shell. What one is not seeing is the contrary, i.e., the expansion of Brazilian companies in the international market, as were the successful cases of Vale, Gerdau, Ambev and JBS Friboi. Companies in the sugar-based energy industry are proud of the fact that they have the lowest production costs in the world and the best available technology. However, bygone victories will not warrant success in the future. New raw materials, new products and new technologies are currently being developed, with billions of dollars in investments, in USA, Europe and Asia. Nothing of sorts is taking place in Brazil. Investments in innovation, hereabouts, are still quite timid and concentrated in few research centers, private and public. Our technological edge is about to be lost. Companies’ shareholder and capital structures, the management models and the level of professionalization in the traditional sugar-based energy industry are also much outdated in relation to most new competitors that have already arrived or are about to do so. However, this does not mean that we will see rapid concentration in the sugar and ethanol industry. The sugar-based energy industry is highly fragmented in Brazil and spreads across very different geographic regions. Industry businesses are mostly family-run, providing many families of different regions their livelihood. Deeply rooted century-old cultures make these families cling to their businesses. Deep-rooted knowledge of the activity also differentiates the traditional entrepreneur, who is still capable of extracting his competitiveness from this model. Therefore, new international companies will still have to co-exist for some decades with family-run businesses. Many of these family businesses are rapidly professionalizing, to be prepared to compete in a more dynamic market. The profile of the Brazilian company that will be firmly set to compete with the international companies will be that of a company that invests in innovation and new technologies, professionalizes its management, implements corporate governance, organizes its capital structure, improves the quality of services, provides excellent services to clients, develops differentiated products, improves and motivates its staff, raises the company’s productivity by reducing costs, is capable of expanding the client base and increases international penetration, also by investing in other regions around the world. The requirements are numerous and will represent radical transformation for these organizations. The change is not merely a new option, but perhaps the only way out for who seeks to survive. Nature’s evolutionary process, defended by Charles Darwin, encompasses all living beings, as well as their organizations, because these too are alive and subject to evolution. To get to here, as individuals and as a society, successive and successful evolutionary changes were necessary. This evolution may be summarized in the generation after generation adaptation to the environment in which they lived. As in life and in business, there is but one chance to win: to better and more quickly adapt to the environment, in comparison with competitors.



usinas Há um ditado popular que diz: “Adapte-se ou morra”. Não há nada mais verdadeiro. Somente através do redesenho do modelo de negócio e de gestão de uma companhia será possível promover adaptações necessárias ao novo e mutante ambiente organizacional, proporcionando mais força e agilidade para vencer a concorrência. Ação e inércia são forças que se equivalem. As condições de vida impostas pela sociedade contemporânea tendem a levar o ser humano mais para a inércia do que para a ação, quando estamos falando em mudança. A zona de conforto, que acolhe e acomoda as pessoas em seus pequenos universos de segurança, é a mesma que lhe impede o desenvolvimento. Porém não há mais lugar seguro, nem mesmo nas zonas de conforto. É claro que a mudança não é indolor e nem pacífica, mas o processo de mudança é uma variável constante, tanto na vida quanto na natureza em geral. A ação tem que vencer a inércia. O objetivo das companhias sucroenergéticas nacionais será, então, promover as mudanças estruturais necessárias à adaptação e à sobrevivência no novo ambiente de negócios, colocando essas empresas na rota do alto desempenho. O objetivo será sempre alcançar o nível de sofisticação do empreendedorismo dos líderes, mas mantendo a agilidade e a flexibilidade que eles não possuem. E fazer isso não pela disputa da liderança, mas pela perenização do negócio. Uma vez atingido esse objetivo, novas e desafiadoras responsabilidades vão criar outros objetivos ainda maiores. O desafio está a nossa frente, e o papel das companhias e de seus colaboradores — papel irrecusável, por sinal — é decidir precisamente em que lugar do futuro eles querem viver.

58

There is a popular saying: “Adapt or die”. Nothing is more true. Only by redesigning the business and management model of a company will it be possible to bring about the needed changes to the new and changing organizational environment, providing more strength and agility to beat the competition. Action and inertia are equivalent forces. Life conditions imposed by contemporary society tend to take an individual more towards inertia than to action, in terms of change. The comfort zone, which includes and accommodates people in their little comfort universes, is the same that prevents development. However, there is no longer a safe place, not even in the comfort zones. Naturally, change is not painless or pacific, but the change process is a constant variable, both in life and in Nature in general. Action must beat inertia. The objective of Brazilian sugar-based energy companies will thus be to promote structural changes needed to adapt and to survive in the new business environment, setting these companies on course to high performance. The objective will always be to achieve the entrepreneurial level of sophistication of the leaders, while maintaining agility and flexibility they lack and accomplishing this not for the sake of competing for leadership, but rather for eternalizing the business. Once this objective is achieved, new and challenging responsibilities will create other even greater objectives. The challenge lies ahead of us, and the role of companies and their staff – actually an irrefusable role – is to decide exactly in what place of the future they want to live.


os desafios

Opiniões

da internacionalização do setor sucroenergético

The challenges of the internationalization of the sugar-based energy industry

" Uma das razões pela vinda dessas empresas se deve à estabilidade da economia brasileira, e não apenas pelo horizonte setorial. Essas empresas, acima de tudo, estão apostando no futuro do Brasil. " Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo Diretor Comercial da Usina Alta Mogiana Commercial Director of Usina Alta Mogiana

O setor de açúcar e álcool brasileiro está vivendo uma grande transformação, com grandes players internacionais adquirindo ativos com um apetite formidável. A primeira fase desse movimento começou através da entrada de grandes trading companies, sendo seguidas por produtores de açúcar e álcool de outros países. Esse processo de consolidação ainda persiste, mas com um novo ingrediente: o interesse dos grandes produtores de petróleo no etanol. O anúncio da fusão Shell/Cosan passa a ser um divisor de águas nesse movimentado mercado, e mudanças profundas devem ocorrer a partir disso. Em primeiro lugar, outras empresas de petróleo terão que rever sua estratégia de entrada no Brasil, pois a grande oferta de ativos à venda atualmente deve diminuir, à medida que as usinas se capitalizam. Isso pode acelerar o processo de fusões e aquisições em curso, concentrando ainda mais o setor em poucas mãos. Também teremos uma divisão clara de estratégias: alguns grupos apostarão na diversificação através da distribuição de combustíveis, investimentos em logística, desenvolvimento de derivados de petróleo através da fermentação alcoólica e etanol de segunda geração. Outros produtores, por outro lado, continuarão seu crescimento orgânico, focados na atividade de produção de açúcar, etanol e energia elétrica. Qual estratégia será a melhor delas? Difícil dizer, principalmente porque essa decisão depende também de escala de produção, e não apenas de vontade própria. Há alguns anos, acreditava-se que a escala era importante para diminuir os custos. Ocorre que, a partir de um determinado tamanho, os custos de produção ficam praticamente estáveis. Por outro lado, a escala permite um acesso diferenciado ao mercado de capitais, além da possibilidade de liderança em pesquisa e desenvolvimento, o que ainda é pouco visto no setor. Entretanto somente grandes empresas poderão replicar a estratégia da Cosan e da ETH/Braskem em derivados de petróleo, pois os valores envolvidos serão enormes para fazê-lo. A resposta talvez esteja na associação com empresas químicas ou com centros de pesquisa, possibilitando

The Brazilian sugar and ethanol industry is experiencing major transformation and big international players are acquiring assets with formidable appetite. The first phase of this movement began with the entry of large trading companies, followed by producers of sugar and ethanol from other countries. This consolidation process is still in progress, but it has a new ingredient: the interest of large oil producers in ethanol. The announcement of the Shell/Cosan merger stands out as a divisor of waters in this dynamic market, and far-reaching changes are subsequently expected. First, other oil companies will have to review their entry strategy in Brazil, given that the current abundant offering of assets for sale is expected to diminish, to the extent that mills capitalize. This may accelerate the merger and acquisition process in course, further concentrating the industry in the hands of a few. We will also see a clear division of strategies: some groups will bet on diversification through the distribution of fuel, investments in logistics, development of oil derivative products obtained by ethanol fermentation, and second generation ethanol. Other producers, on the other hand, will continue their organic growth, focusing on the production of sugar, ethanol and electric power. Which strategy will prove the best? It is difficult to say, mainly because this decision also depends on the production scale and not only on one’s intentions. Some years ago, one believed that scale was important to reduce costs. However, beginning at a certain size, production costs remain practically stable. On the other hand, scale allows differentiated access to the capital market, in addition to the possibility of leading in research and development, a fact still widely overlooked by the industry. However, only large companies may replicate the Cosan and ETH/Braskem strategy with respect to oil derivative products, given that the amounts involved will be so very large. Perhaps the answer lies in the association with chemical companies or research centers,

59


usinas o desenvolvimento de novas tecnologias em conjunto. E em relação ao valor das empresas, o que muda? No dia do anúncio da fusão da Cosan, os outros papéis de usinas não tiveram seus valores alterados, enquanto a primeira viu suas ações subirem mais de 10%. Isso indica que, necessariamente, os outros ativos não subirão de preço em um primeiro momento, por alguns motivos: primeiro, porque outros concorrentes talvez não sigam o exemplo da Shell e, segundo, porque as pesquisas de desenvolvimento que os mesmos conduzem atualmente podem trazer resultados desapontadores. Dessa forma, continuam valendo os critérios de valuation tradicionais, como o fluxo de caixa descontado e os múltiplos de EBITDA futuros. Regra geral, vejo como positiva a chegada de empresas de fora no País. A concentração da produção em grandes grupos estrangeiros dará uma maior visibilidade ao setor externamente, e isso pode abrir muitas portas. Além disso, essas organizações podem melhorar a percepção da sociedade em relação ao setor, pois possuem códigos de conduta empresarial e ambiental muito rígidos. Não podemos nos iludir, entretanto, ao imaginar que esse crescente interesse sinaliza anos memoráveis pela frente. Uma das razões pela vinda dessas empresas se deve à estabilidade da economia brasileira, e não apenas pelo horizonte setorial. Essas empresas, acima de tudo, estão apostando no futuro do Brasil. A estabilidade proporcionada pelo regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, aliada às perspectivas de crescimento, fizeram com que entrássemos na mira de investidores de outros países. Apesar dos fundamentos sólidos da nossa economia, cada vez mais seremos reféns da taxa de câmbio local e dos preços do petróleo no mercado internacional a longo prazo. Como esses mercados são muito voláteis, as estratégias comerciais e financeiras terão um papel crucial na competitividade e no crescimento das usinas no futuro. Por fim, destaco a crescente importância na adequação da alavancagem financeira das usinas, sendo a abertura de capital uma ferramenta cada vez mais procurada por aqueles que desejam crescer com maior velocidade, ou que apenas precisem capitalizar a empresa sem a necessidade da sua venda a um terceiro. Não podemos nos esquecer de que, na grande maioria das empresas, atualmente, os acionistas não possuem liquidez para a venda de suas ações, e a abertura de capital poderia ser uma boa solução a esse entrave, além de ser um caminho mais condizente com o dinamismo do mercado de capitais brasileiro. Em poucos anos, poderemos ter o equivalente a 200 milhões de toneladas de cana de capacidade em bolsa, o que seria fantástico. Tal volume traria uma infinidade de operações financeiras mais sofisticadas de financiamento, proporcionadas pela visibilidade que o mercado de capitais proporciona. Essas vantagens já foram sentidas pelos grupos estrangeiros, pois todos eles já são listados em alguma bolsa ou estão em pleno processo de abertura de capital. Conclui-se, portanto, que definitivamente estamos entrando em uma fase de muitas mudanças, sendo a principal delas o apetite externo por nossos ativos, trazendo grandes transformações e desafios à nossa maneira de conduzir uma estratégia de longo prazo vencedora. A partir de agora, as referências passam a ser outras, alguns degraus acima do que estamos acostumados. Aqueles que não conseguirem acompanhar esse processo serão alvo de aquisições daqui para frente. É bom ficarmos de olhos bem atentos em relação a tudo isso.

60

Opiniões allowing the joint development of new technologies. What changes with respect to the value of companies? The day the Cosan merger was announced, other mill shares’ value did not change, whereas the former’s increased by more than 10%. This shows that not necessarily other assets will increase in price in an initial moment, due to several reasons: first because other competitors may perhaps follow Shell’s example and second, because development research they currently conduct may bring disappointing results. Thus, the traditional valuation criteria, such as discounted cash flow and multiple future EBITDAs, remain applicable. As a general rule, I see the arrival of foreign companies in Brazil positively. The concentration of production at large foreign corporate groups will provide the industry more international exposure, and this may open many doors. In addition, these organizations may improve the perception of society in relation to the industry, given that they abide by strict corporate and environmental codes of conduct. One should not, however, be eluded to think that this growing interest signals memorable years ahead. One of the reasons why these companies are coming is because of the stability of the Brazilian economy, and not only the industry’s horizon. These companies, above all, are betting on the future of Brazil. The stability afforded by the inflationary target policy, floating foreign exchange rate and fiscal responsibility, combined with the growth outlook, placed us in the aim of investors from other countries. The good fundaments of our economy notwithstanding, we are increasingly hostage to the local foreign exchange rate and oil prices in the international market in the long term. Given that these markets are very volatile, the commercial and financial strategies will play a crucial role in the competitiveness and growth of mills in the future. Finally, I emphasize the growing importance of adapting financial leverage in the mills, whereas going public and opening the capital is a tool increasingly used by who wants to grow faster or simply needs to capitalize the company without the need to sell it to a third party. One should not forget that in most companies shareholders currently lack liquidity to sell their shares, and so going public may be a good solution for this obstacle, apart from being a more coherent alternative given the dynamics of the Brazilian capital market. In a few years we may have some 200 million tons of sugarcane capacity in the stock exchange, which would be fantastic. Such volume would result in innumerous more sophisticated financing operations made possible by the visibility afforded by the capital market. These advantages have been identified by foreign groups, given that all are traded in some stock exchange or are fully engaged in the process of going public. One can therefore conclude that we are definitively entering in a phase of many changes, in which the main one is international appetite for our assets, resulting in great transformation and challenges to how we conduct a winning long term strategy. From now on, references will change, and they will be a few steps higher than what we were used to. Those who will not keep pace with this process will become targets for acquisitions from now on. We should be watchful with respect to all this.



usinas

foi descoberto o

Brasil The discovery of Brazil

" Não precisamos nos preocupar com a vinda do capital estrangeiro interessado em participar do crescimento do setor sucroalcooleiro. Seja qual for a velocidade, prevalecerá o conceito alicerçado no princípio de que nós temos muito mais do que o álcool a oferecer. " Jairo Menesis Balbo Diretor Industrial do Grupo Balbo Industrial Director of the Balbo Group

Depois de quase 500 anos, o Brasil colhe os melhores frutos de seu primeiro ciclo econômico, aquele que inaugurou no mundo a economia de escala, para baratear o acesso de todos ao açúcar de cana. Das páginas de testamentos das famílias abastadas aos frascos das boticas, ele passou a ser distribuído a granel por todos os mercados. Logo, vieram os derivados mais conhecidos. Agora, as centenas de subprodutos resultam mais da competência e do talento brasileiro para desenvolver tecnologia adequada do que do tamanho da produção. Não há, no planeta, cenário melhor para despertar interesses de todas as nações – afinal, ninguém vive sem energia. E, cada vez mais, ninguém poderá viver sem energia alternativa. É justamente essa que tiramos dos canaviais, a mais limpa, barata e renovável, quando gerada aqui. No século XVI, essa planta deslocou, do Oriente para o Brasil, o eixo da mais moderna rota de comércio de então. Neste começo do século XXI, a mesma cana – inacreditável – é a matéria-prima capaz de substituir, com a alcoolquímica e a sucroquímica, a que parecia inabalável dependência do petróleo e seus subprodutos. Imagine a humanidade atrelada exclusivamente às fontes fósseis, finitas e de custos ascendentes, para suprir suas necessidades de sobrevivência. O etanol não vem para assumir essa exclusividade do mercado, mas demonstra que está aí para contribuir com a matriz energética mundial, com sua característica renovável, de custos descendentes e de grande gerador de postos de trabalho cada vez mais qualificados. O conhecimento dessas propriedades agregadoras de valor da cana-de-açúcar está na raiz das nossas empresas. É, também, um dos fatores determinantes para chegarmos a mais de sessenta anos de atividades, nas mãos da terceira geração, conservando as características que as originaram. Essa perseverança se traduz na solidez do grupo, que traz consigo a consciência de que, quando se come uma maçã, alguém plantou a macieira, como ensinava o pioneiro Attílio Balbo. Complementa essa consolidação permanente nossa participação na Copersucar, um autêntico conví-

62

After almost 500 years, Brazil reaps the fruit of its first economic cycle, the one that inaugurated economies of scale in the world, making access to sugarcane economically affordable to everyone. From the pages of testaments of well-off families to drugstore flasks, sugar started being distributed in bulk to all markets, soon followed by the most commonly known derivative products. Nowadays, hundreds of sub-products result more from Brazilian competence and talent in developing adequate technology than from production volume. Nowhere in the world is there a better scenario to awaken interests of all nations – after all, nobody lives without energy. In addition, and to an increasing extent, nobody lives without alternative energy. This is precisely what we extract from the sugarcane plantations, the cleanest, cheapest and renewable energy when it is produced here. In the 16th Century, sugarcane moved the axis of the most modern trade route of that time from the Orient to Brazil. In the early years of the 21st Century this same plant – unbelievably – is the raw material capable of replacing – through the chemistry of ethanol and sugar – what appeared to be the steadfast dependency on oil and its sub-products. Imagine humanity tied exclusively to fossil sources, finite and increasingly costly, to meet the needs for survival. Ethanol is not going to assume this role of exclusiveness in the market, but it shows that it is here to contribute to the global energy matrix, with its characteristics of renewability, decreasing costs and as a major generator of increasingly qualified jobs. Knowledge about these value-aggregating proprieties of sugarcane lies at the root of our companies. It is also one of the determinant factors that have made us experience more than sixty years of activities, now in the hands of the third generation, while still preserving its originating characteristics. It is this perseverance that translates into the group’s soundness, which bears in it the awareness that when someone eats an apple, someone planted the apple tree, as we learnt from pioneer Attílio


Opiniões vio de empresas e empresários que buscam continuamente a eficácia e os melhores padrões de administração e produção. Somos uma empresa familiar que se tornou referência mundial na busca e na qualidade de todos os produtos e subprodutos que a cana-de-açúcar pode oferecer, porque respeitamos a natureza onde ela é cultivada e a diversidade única dessa matéria-prima. Essa dedicação, baseada no investimento em tecnologia, permite-nos obter, em larga escala, o açúcar e o álcool, mas, principalmente, a conquista de nichos de mercado com derivados importantes, como nosso pioneirismo com cogeração da energia elétrica a partir do bagaço; o açúcar e o álcool orgânicos; o plástico biodegradável; a cera de cana; a levedura, com alto teor proteico. Cada um é o vértice de um leque de novas oportunidades de aproveitamento da cana. O planejamento estratégico de nossas empresas sinaliza que, no curto prazo, eles responderão pela metade de seu faturamento. Essa diversificação é um grande atrativo, mas ela só se consegue com investimento, primeiro, na educação do trabalhador, no seu aprimoramento, e, finalmente, na tecnologia que vem dessa filosofia. Não precisamos nos preocupar com a vinda do capital estrangeiro interessado em participar do crescimento do setor sucroalcooleiro. A eventual queda da barreira americana ao etanol do Brasil pode até acelerar o ritmo desses investimentos. Mas, seja qual for a velocidade, prevalecerá o conceito alicerçado no princípio de que nós temos muito mais do que o álcool a oferecer. É natural que aconteça a internacionalização, e, mais ainda, deve ser motivo de orgulho para os brasileiros. Eles estão aqui para investir no País que detém a mais avançada tecnologia de produção de energia limpa e de subprodutos de origem natural. Nós, desse segmento, sempre soubemos e divulgamos esse privilégio nacional, mas, parece, o mundo ouviu e entendeu antes. Foi preciso um presidente dos EUA vir ao Brasil para anunciar que a solução estava aqui, para os olhos do mundo saírem dos poços do conflagrado Oriente Médio e pousarem nos verdes campos deste lugar. Como detemos a tecnologia, a matéria-prima rende mais aqui do que rende lá, por isso não devemos temer concorrência. Assim como a cana e a natureza, a terra não é um bem de todos, mas um bem para todos. Não nos interessa o tamanho, mas a competência, que nos sobra graças a anos e anos de investimento com visão empresarial. A consolidação das empresas do setor deve muito a essa visão. Não estivéssemos nessa vanguarda, talvez nem nos procurassem. Por isso vemos com bons olhos a entrada de novos parceiros de outros países. Afinal, se pregamos o mercado livre e aberto para a livre iniciativa, não precisamos ter preconceito de origem. Como negar a ousadia de empresas como o Grupo Cosan e a Shell, que se fundem para melhor distribuir o álcool combustível por todos os continentes? Assim, o capital estrangeiro junta-se ao nacional para interligar suas missões de produzir e distribuir o que há de mais moderno para os consumidores. É uma jornada de mão dupla, mas, quando aqui chega, o capital estrangeiro nos encontrará um passo à frente: além de desejarmos atraí-lo, queremos, principalmente, conquistar novos mercados para o que sabemos fazer. Temos consciência de que nosso setor faz muito mais do que produtos made "in" Brazil. Fazemos made "by" Brazil. Essa é a marca do nosso etanol e de seus derivados.

Balbo. This permanent consolidation is complemented by our participation in Copersucar, truly a co-existence of companies and entrepreneurs seeking efficacy and the best standards in management and production. We are a family-run business that became a global reference in the quest and quality for all products and sub-products derived from sugarcane, because we respect Nature where sugarcane is grown and this raw material’s unique diversity. This dedication, based on the investment in technology, allows us to produce sugar and ethanol on a large scale, but, more importantly, to conquer market niches with important derivative products, such as our pioneership in the co-generation of electric power from bagasse; organic sugar and ethanol; bio-degradable plastic; sugarcane wax; yeast with high protein content. Each is a vertex of multifold opportunities to make use of sugarcane. Our companies’ strategic planning signals that in the short term they will account for half their revenues. This diversification is a great attraction, but can only be achieved through investment, first, in worker education, in his/her improvement and, finally, in technology that derives from this philosophy. We need not worry about the influx of foreign capital interested in participating in the sugarcane industry’s growth. The possible collapse of the U.S. barrier against ethanol from Brazil may even accelerate the pace of such investments. But, regardless of speed, the concept that will prevail is the one anchored in the principle that we have much more than ethanol to offer. It is only natural that internationalization take place, and, furthermore, that it be the reason of pride for Brazilians. Foreigners are here to invest in the country that has the most advanced production technology for clean energy and for sub-products of natural origin. We, of this industry, have always known of and publicized this national privilege, but it seems the world heard of it and understood it before we did. It took the coming of a U.S. president to Brazil to announce that the solution was here, in order for the eyes of the world to look beyond the war-torn wells of the Middle East and rest their sights on the green fields of this place. Since we have the technology, the raw material is more productive here than there, which is why we need not fear the competition. Like sugarcane and Nature, the Earth is not an asset of everybody, but rather for everybody. We do not care about size, but rather about competence, of which we have enough, thanks to all these years investing with an entrepreneurial vision. The consolidation of companies in the industry owes a lot to this vision. Were we not in this pioneer position, perhaps we would not even have been consulted. That is why we welcome the entry of new partners from other countries. After all, if we advocate free and open initiative for all, we need not be biased as concerns origin. How should one deny the audacity of the Cosan Group and Shell, merging to better distribute ethanol fuel to all continents? Thus, foreign capital combines with Brazilian capital to interlink their missions of producing and distributing what is the most state-of-the-art for consumers. It is a two-way effort, but when it gets to Brazil foreign capital will find that we are a step ahead: apart from attracting it, what we want even more is to conquer new markets for what we know how to do. We know that our industry does much more than just products “made in Brazil”. What we do are products “made by Brazil”. This is the “brand” of our ethanol and its derivative products.

63


bancos

Opiniões

a internacionalização melhora a atratividade da indústria Internationalization improves industry attractiveness

" A internacionalização é extremamente positiva para o setor. As empresas de fora aportam os recursos iniciais da aquisição, novos recursos para expansão e investimento em tecnologias e processos, além de novas linhas de financiamento de instituições estrangeiras. " Alessandro Baldoni Vice-presidente da Morgan Stanley Dean Witter Vice-president of Morgan Stanley Dean Witter

O setor sucroalcooleiro no Brasil vive hoje um momento de forte interesse por parte de empresas e investidores estrangeiros. Essa perspectiva positiva guarda algumas semelhanças e muitas diferenças com a última onda de atratividade, no período entre 2006 e 2007. Naquela época, a motivação principal era o etanol, que havia conquistado atenção global e desencadeou uma série de premissas otimistas sustentadas pela euforia. As previsões eram de que, em pouco tempo, ele seria uma commodity global, adotada em boa parte do mundo. Com isso, foram anunciados por volta de 90 projetos de novas usinas, quase todas com capacidade para produzir somente etanol e voltadas para a exportação. A maior parte dos projetos estava concentrada na região Centro-Oeste, em especial no estado de Goiás, e contava com forte participação de empresas estrangeiras, seja como controladoras ou como investidoras minoritárias em projetos conduzidos por grupos tradicionais brasileiros. O problema é que aquela região era e permanece carente de infraestrutura para escoamento do produto. Isso seria resolvido com os alcooldutos que seriam construídos, ligando Goiás aos portos do Sudeste. Os investidores e empreendedores tinham a intenção de vender etanol no Centro-Oeste até que a infraestrutura de exportação estivesse pronta, alguns anos mais tarde.

64

The Brazilian sugar and ethanol industry today faces a moment of strong interest of foreign companies and investors. This positive prospect bears some resemblance and many differences with the previous attractiveness wave, in the period from 2006 to 2007. At that time, ethanol was the leading character, since it had caught global attention and triggered a series of optimistic assumptions supported by euphoria. Forecasts were that within a short period of time it would become a global commodity, being adopted in many places around the world. Accordingly, approximately 90 projects of new mills were announced, almost all of which dedicated exclusively to the production of ethanol for export. Most projects concentrated on Brazil’s Midwestern region, particularly the State of Goiás, and entailed a strong stake of foreign companies, whether as a controlling or minority interest, in projects carried out by traditional Brazilian groups. The issue is that the region at the time lacked and still lacks the proper infrastructure for product flow. This could be solved with the construction of ethanol pipelines connecting the State of Goiás to the Southeastern ports. Investors and entrepreneurs intended to sell ethanol in the Midwest until the export infrastructure would be ready some years later.



bancos O que aconteceu foi que a região acabou se tornando fortemente superavitária, e os alcooldutos nunca ficaram prontos. Com isso, muitos projetos foram postergados ou até cancelados, e as perspectivas são de que ainda demore um pouco até que esse movimento de expansão retorne todo o capital investido. O momento atual é motivado pela forte alta do açúcar em 2009 e início de 2010, com a commodity atingindo o pico em três décadas. Ainda se acredita que o etanol vá se tornar uma commodity global, mas isso não vai ocorrer no curto prazo. Pelo contrário, ainda deve levar alguns anos para acontecer. Diferentemente daquela época, o atual contexto não está estimulando a construção agressiva de novos projetos. O movimento dos estrangeiros se dá na aquisição de usinas ou grupos existentes. Os negócios anunciados até agora, em geral, têm como protagonistas empresas que enfrentavam algum tipo de desconforto financeiro, o que melhora a liquidez do setor como um todo. O processo de internacionalização é extremamente positivo para a indústria sucroalcooleira. As empresas de fora aportam não somente os recursos iniciais da aquisição em si, mas também novos recursos para expansão e investimento em tecnologias e processos. Além disso, podem trazer para o Brasil novas linhas de financiamento de instituições estrangeiras. Os benefícios não se limitam ao capital. A presença de players que têm operações em várias partes do mundo também pode ajudar a acelerar a abertura de outros países ao etanol brasileiro, ajudando a acelerar o processo de internacionalização desse produto. Novos competidores com porte global também ajudam a desenvolver novas tecnologias que poderiam ajudar o setor a ser ainda mais eficiente, como o etanol de segunda geração. Eles também poderiam acelerar os investimentos em cogeração e até em logística, que ainda é um dos principais desafios do setor. É importante ressaltar que o processo de internacionalização não ocorre somente por aquisições diretas, mas também por meio do mercado de capitais. Hoje, temos apenas três empresas de capital aberto, e a maior parte do float delas é formada por investidores estrangeiros. A tendência é que a participação dos estrangeiros aumente, ajudando a consolidar o setor, e que essa consolidação leve novas empresas a abrirem o capital na bolsa. Investidores de ações de todas as partes do mundo têm elevado interesse em investir nesse setor, mas hoje se deparam com poucas opções. De modo que novas ofertas seriam certamente bem-vindas e, provavelmente, não enfrentariam dificuldades de colocação. O setor de açúcar e álcool deve passar por um movimento que já ocorreu em outros setores da economia brasileira, em que a consolidação, ajudada fortemente por players internacionais, deve forçar todos os participantes a serem mais produtivos e competitivos. Disso resultará uma indústria mais organizada e atrativa, que gerará um retorno sobre o capital investido mais alto que o atual.

66

What happened was that the region eventually recorded a strong surplus and the ethanol pipelines were never completed. As a result, many projects were postponed or even cancelled and the prospects are that perhaps it will take a bit longer until this expansion movement recovers all the capital invested. The current moment is driven by a strong increase in prices of sugar in 2009 and beginning of 2010, when the commodity reached an all-time threedecade peak. It is still expected that ethanol will become a global commodity, but not in the shortterm. It may rather take some years to happen. Unlike that time, the current environment fails to foster the aggressive construction of new projects. Foreign moves are restricted to the acquisition of existing mills or groups. The leading roles in business announced so far are performed by companies facing some kind of financial uneasiness, which improves the liquidity of the industry as a whole. The process of internationalization is extremely positive for the sugar and ethanol industry. Foreign companies bring in not only the initial proceeds of the acquisition itself, but also new funds for expansion and investment in technology and processes. Additionally, they may also bring to Brazil new financing lines extended by foreign institutions. Benefits are not limited to capital. The presence of players with operations in several parts of the world may also help speed up the opening of other countries to Brazilian ethanol, thus helping streamline this product’s internationalization process. New global competitors also help the development of new technologies that may render the industry even more efficient, such as second generation ethanol. They could also speed up investments in cogeneration and even logistics, which still looms as one of the industry’s major challenges. It is important to emphasize that the internationalization process results not only from direct acquisitions, but also from transactions in the capital markets. The industry records only three publicly-held companies in which foreign investors account for their major free-float. There is a trend towards increasing foreign interest, which would help consolidate the industry, and this consolidation is expected to prompt new companies into going public. Equity investors from all around the world have increased their investment interest in this industry, but few options lie before them. In this sense, new offerings would certainly be most welcome and would probably face no placement hurdles. The sugar and ethanol industry is expected to face a situation that has already been felt in other sectors of the Brazilian economy, where consolidation, strongly driven by international players, should push all participants into being more productive and competitive, enabling a more organized and attractive industry, which will generate a higher ROIC than currently recorded.


Opiniões

a internacionalização da propriedade das usinas:

um "bem necessário"

Internationalization of mill ownership: a "needed good"

O Brasil é um país que sempre se destacou pelo seu elevado potencial agrícola, característica explicada pelo clima favorável, disponibilidade de terras e pelos bons indicadores de produtividade atingidos ao longo dos últimos anos. O segmento sucroalcooleiro não ficou de fora, e o País se tornou o principal produtor e exportador de açúcar do mundo, além de atingir posição de destaque na utilização de etanol como combustível. Apesar do posicionamento favorável, nos últimos anos, grupos importantes do setor sofreram os impactos dos preços baixos praticados, associados ao incremento de alavancagem decorrente de maiores níveis de investimento e potencializados pela falta de liquidez por conta da crise financeira que afetou o mundo. Esse cenário que, por um lado, ajuda a deteriorar o valor dos ativos, por outro, torna-os ainda mais atrativos aos olhos de potenciais investidores, já que as perspectivas de longo prazo se mantêm positivas, e o Brasil segue sendo protagonista na produção de açúcar e etanol de cana, o mais competitivo do mercado. Esse processo de entrada de capital novo no setor pode ser analisado em dois momentos distintos. O primeiro é caracterizado pela oportunidade proporcionada pela necessidade iminente de manter os ativos operando, solucionando os problemas de curto prazo (fornecedores, governo, financiadores, etc), para garantir a existência das companhias e colocá-las novamente nos trilhos. O segundo momento, no qual deveremos entrar ainda em 2010, será caracterizado pela retomada dos investimentos, agora financiados com recursos adequados, consolidação dos grandes grupos no setor, readequação de estrutura de balanço e o reencontro com o mercado de capitais.

Brazil has always stood out for its high agricultural potential, a characteristic explained by favorable climate, land availability and good productivity indicators reached in recent years. The sugar-based energy industry was no exception and the country became the main sugar producer and exporter of the world, apart from having reached a frontline position in the use of ethanol as fuel. Notwithstanding this favorable position, in recent years important groups of the industry were adversely affected by the practiced low prices, associated with the increase in leverage resulting from higher levels of investment and exponentialized by the lack of liquidity brought about by the financial crisis that impacted the world. This scenario, which on the one hand helps deteriorate the value of assets, on the other hand makes them more attractive in the eyes of potential investors, given that the long term perspectives remain positive and Brazil continues being the protagonist in the production of sugar and sugarcane ethanol, the most competitive in the market. This new entry process of capital in the industry may be analyzed in two distinct moments. The first is characterized by the opportunity provided by the imminent need to maintain assets in operation, solving short term problems (suppliers, government, financiers, etc), to assure companies’ existence and to put them back on track. The second moment, which we will experience still in 2010, will be characterized by the rebounding of investments, now adequately financed, the consolidation of large groups in the industry, the realignment of

" a entrada de capital externo, além dos recursos financeiros, traz em sua bagagem a profissionalização da gestão, foco na sustentabilidade e a credibilidade para melhorar a imagem da indústria sucroalcooleira no exterior, ainda estigmatizada como problemática do ponto de vista socioambiental "

Guilherme Campos e Nicolás Vergara Superintendente e Consultor de Riscos do Banco Santander Risk Superintendent and Risk Consultant of Banco Santander

67


bancos A crise vivida pelas usinas mostrou também a importância da profissionalização da administração. Diante da necessidade de complexas reestruturações financeiras, o que se observa é uma grande dificuldade em concluir os processos, principalmente quando se trata de gestão familiar, algumas com elevado número de integrantes, nas quais a morosidade na tomada de decisões relevantes pesa contra as próprias companhias e agrava a situação de curto prazo. Por esse prisma, a entrada de capital externo no setor mostra-se como um “bem necessário”, na medida em que, além dos recursos financeiros, traz em sua bagagem a tão almejada profissionalização da gestão, maior foco na questão da sustentabilidade e a credibilidade necessária para melhorar a imagem da indústria sucroalcooleira brasileira no exterior, que ainda é erroneamente estigmatizada como problemática do ponto de vista socioambiental. Isso não quer dizer que o capital nacional não possa fazer parte desse processo, o que poderia ocorrer por meio de grandes grupos econômicos (não necessariamente do setor), quer dizer apenas que grandes multinacionais poderiam, com maior velocidade, dar maior visibilidade ao setor, formando o arcabouço necessário para desenvolver o mercado de etanol de maneira consistente, viabilizando seu crescimento em nível internacional. Nesse sentido, quem tem maior condição para assumir o papel de consolidador são grandes conglomerados internacionais envolvidos na cadeia, destacando-se: 1. as tradings, que se beneficiam de sua expertise na comercialização de commodities e do acesso a mercados internacionais e, 2. as petrolíferas, buscando diversificar suas fontes de combustíveis com foco em energias renováveis, o que também implicaria um maior esforço para desenvolver os mercados internacionais de etanol. Os entrantes devem prestar especial atenção à gestão agrícola, considerando que tem grande importância para o sucesso do negócio, ponto este em que os tradicionais proprietários de usinas possuem conhecimento desenvolvido, tornando as associações um caminho bastante interessante. Não podemos ignorar a existência de grupos nacionais com boa situação financeira durante e após a crise. No entanto, com o processo de consolidação e o surgimento de grandes grupos que passam a ter participação relevante no mercado, aqueles que inicialmente ficaram fora deverão sentir maior pressão para formar novos clusters de produtores, no sentindo de amenizar as adversidades inerentes à dinâmica cíclica da atividade frente aos novos competidores. A entrada de grandes grupos internacionais, a consolidação e o consequente fortalecimento do mercado são fundamentais para a retomada da credibilidade junto ao mercado bancário, afetada pelo colapso financeiro vivido pelo setor. Destaca-se aqui o grande interesse das instituições financeiras num setor de importância reconhecida para o País e com elevado potencial para colaborar para a mudança na matriz energética mundial.

68

Opiniões balance sheet structures, and renewed exposure to capital markets. The crisis faced by the mills also showed the importance of professionalizing management. In light of the need for complex financial restructuring, what one observes is the great difficulty in concluding processes, mainly when dealing with family-run businesses, some of which have a great number of family members, in which the slowness in making important decisions weighs against these very companies, making the short term situation even worse. From this perspective, the entry of foreign capital in the industry turns out to be a “needed good”, to the extent that, apart from financial resources, it brings with it the so much wanted professionalization of management, along with more focus on the issue of required sustainability and credibility to improve the image of the Brazilian sugar and ethanol industry abroad, which is still unduly marked as being a problem from the social and environmental point of view. This does not mean that Brazilian capital cannot be a part of this process. It could actually participate through large economic groups (not necessarily belonging to the industry). It simply means that large multinational corporations could more rapidly provide the industry visibility, forming the necessary framework to develop the ethanol market in a consistent manner, making feasible its growth at the international level. In this regard, the parties best suited to assume the consolidating role are large international conglomerates in the supply chain. Predominantly they are: 1. trading companies that benefit from their expertise in the distribution of commodities and their access to international markets and; 2. oil companies seeking to diversify their fuel sources while focusing on renewable energy, which also implies greater effort in developing international ethanol markets. New market entrants must pay special attention to agricultural management, considering its great importance for a business’ success, a subject in which traditional mill owners are very knowledgeable, making associations quite an interesting alternative to pursue. One cannot ignore the existence of Brazilian groups with a sound financial situation during and after the crisis. However, with the consolidation process and the forming of large groups that start having relevant participation in the market, those that were initially left out are expected to be pressured into forming new clusters of producers, in order to attenuate adversities inherent to the cyclical dynamics of the activity in light of the new competitors. The entry of large international groups, the consolidation and subsequent strengthening of the market are essential for regaining credibility in the banking market, affected by the financial collapse experienced by the industry. At this point, one should mention financial institutions’ great interest in an industry whose importance for the country is acknowledged and which has high potential to contribute to changing the world’s energy matrix.



bancos

a internacionalização da propriedade das usinas

e sua contribuição para o

mercado brasileiro

Ownership internationalization of mills and its contribution to the Brazilian market

" Mesmo com a crise, o setor sucroalcooleiro nunca deixou de ter atratividade. Manteve-se como importante provedor de fontes alternativas de energia, num cenário onde se vislumbra a escassez das fontes tradicionais, particularmente o petróleo. " Allan Simões Toledo Vice-presidente do Banco do Brasil Vice-president of Banco do Brasil

Nos últimos quatro anos, o setor sucroalcooleiro atravessou fases totalmente distintas. Vivenciou uma expansão bastante acelerada, passando por dificuldades originadas pelo ciclo de preços baixos do açúcar e etanol, agravadas pelos efeitos da crise internacional deflagrada pelo subprime norte-americano, cujos reflexos ainda estão sendo sentidos por diversas empresas de diferentes setores no mundo. Aliás, a questão do subprime fez com que muitas instituições financeiras restringissem a oferta de crédito no mundo, contribuindo para o aprofundamento da tensão nos mercados. No País, as instituições públicas, ao contrário, ampliaram a oferta de crédito e cumpriram seu papel de indutoras do desenvolvimento econômico. Essa postura esteve ancorada nos bons fundamentos da economia, o que contribuiu para que o Brasil fosse um dos países com melhor desempenho naquele período de turbulência. Mesmo com a crise, o setor sucroalcooleiro nunca deixou de ter atratividade. Manteve-se como importante provedor de fontes alternativas de energia, num cenário onde se vislumbra cada vez mais a escassez das fontes mais tradicionais, particularmente o petróleo. Além disso, tanto o etanol quanto a energia cogerada a partir do bagaço de cana são considerados fontes limpas, inseridas em contexto de crescente atenção às questões ambientais. Essa fonte de riqueza desperta em investidores de todo o mundo o interesse de participar desse importante mercado. Estrangeiros ou nacionais, novos investidores, ao direcionarem seus recursos para as usinas brasileiras, buscam, obviamente, rentabilidade.

70

In the last four years, the sugar and ethanol industry experienced completely distinct phases. It lived through an accelerated expansion and then faced difficulties originating from the low sugar and ethanol price cycle, in turn aggravated by the effects of the international crisis brought about by the U.S. sub-prime loan crash, whose reflexes are still felt by companies in different industries around the world. Actually, the sub-prime issue led to many financial institutions restricting credit offerings worldwide, contributing to the increase in market tensions. In Brazil, and contrary to the general trend, public institutions expanded credit availability, thus fulfilling their role as inducers of economic development. This posture was anchored in the economy’s good fundaments, contributing to Brazil having been one of the countries with the best performance during that turbulent period. Notwithstanding the crisis, the sugar-based energy industry never ceased to be attractive. It maintained its status as an important source of alternative energy, within a context in which one increasingly predicts the shortage of energy from more traditional sources, particularly oil. Additionally, both ethanol and co-generated energy from bagasse are considered clean sources, viewed in the context of growing attention to environmental issues. This source of wealth awakens in investors around the world the interest in participating in this important market. Whether foreigners or locals, such new investors, by directing their funds to Brazilian mills, are obviously seeking to make profit.


Opiniões Mas, além disso, desejam maior controle da produção e do destino das exportações de açúcar e etanol, assim como maior participação na cadeia produtiva. Trazem consigo também benefícios para o setor, tais como adoção de práticas de governança corporativa, melhor estrutura de capitais e profissionalização da gestão. Todos esses aspectos positivos contribuem para uma melhor percepção do risco do setor sucroalcooleiro. A capitalização reduz o custo de capital da empresa e possibilita o acesso a informações de forma clara e transparente, o que traz como consequência maior facilidade ao crédito e a estruturas mais adequadas de financiamentos. Com a manutenção das participações dos atuais proprietários das usinas no negócio, esses benefícios somam-se à experiência desenvolvida pelos produtores brasileiros ao longo de décadas de aperfeiçoamento do segmento, resultando na consolidação de competências que pode propiciar novo ciclo virtuoso ao setor. Por dispor de acesso à estrutura de comercialização dos grandes grupos multinacionais, investidores estrangeiros podem facilitar o ingresso do etanol e açúcar brasileiros em novos mercados e, assim, garantir presença mais efetiva e duradoura desses produtos no mercado internacional. No entanto, para se ter um comércio mais efetivo de nosso etanol, é preciso, primeiro, transformá-lo em commodity internacional e, depois, romper as barreiras protecionistas erguidas pelos países que se recusam a obter energia além de suas fronteiras. Dessa maneira, a ingresso de novos acionistas deve ser considerado como alternativa de reestruturação ou expansão de grandes empresas do setor sucroalcooleiro. Não se pode descartá-lo. Contudo vale destacar que resta intacto o capital intelectual, construído ao longo dos séculos pelos representantes desse setor, traduzido em uma grande habilidade agrícola, capacidade de manejo das usinas sucroalcooleiras em todo o território brasileiro e a tecnologia de primeira linha desenvolvida e, atualmente, exportada para diversos países. Foi esse patrimônio que levou o País a liderar com vantagem indiscutível esse segmento no mundo. É nesse patamar que o Brasil deve permanecer. O Banco do Brasil acredita no setor. É um dos bancos com posição destacada no financiamento a investimentos, notadamente no que se refere a repasse de recursos do BNDES e crédito rural. Historicamente tem apoiado, na área agrícola, a formação e custeio da lavoura de cana-de-açúcar; na área industrial, a modernização de plantas industriais e investimentos para a cogeração de energia elétrica, bem como a implantação de novos projetos, e, na área de mercado de capitais, assessoria para operações domésticas e internacionais de capitalização das usinas brasileiras. Nossa atuação voltada para originação e desenvolvimento de soluções tornou o Banco do Brasil um dos principais bancos assessores em negócios estruturados do setor sucroalcooleiro.

However, in addition, they look for more control over production and over the destination of sugar and ethanol exports, as well as more participation in the production chain. They also benefit the industry, for instance, by adopting corporate governance practices, a better capital structure and management professionalization. All these positive aspects contribute to a better perception of risk associated with the sugar and ethanol industry. Capitalization reduces a company’s cost of capital and allows access to clear and transparent information, consequently resulting in more credit availability and more adequate financing structures. When upholding the equity participation of current mill owners in the business, such benefits are enhanced by the experience developed by Brazilian producers in the course of many decades of improvements to the industry, resulting in the consolidation of competencies that may bring about a new virtuous cycle in the sector. Given its access to the distribution structure of large international groups, foreign investors may facilitate the penetration of Brazilian sugar and ethanol in new markets and, hence, assure the more effective and long-lasting presence of these products in the international market. However, in order to bring about more effective trade in our ethanol, one must first make it an international commodity, to then break down protectionist barriers set up by countries that refuse to source energy from beyond their borders. Thus, the entry of new shareholders must be seen as an alternative upon restructuring or expanding large companies in the sugar and ethanol industry. One cannot ignore it. However, one must emphasize that intellectual capital remains intact, built up over centuries by industry representatives, which reflects in broad agricultural qualification, in the ability of mills of the sugar and ethanol industry to operate throughout the country, and in first class technology developed and currently exported to several countries. It was this heritage that took the country to lead this industry in the world, with an unquestionable edge. Brazil should remain at this stage. Banco do Brasil believes in the industry. It holds a distinguished position in the financing of investments, notably as related to the passing on of funds from BNDES (National Economic and Social Development Bank) and agricultural credit lines. Historically, in the agricultural area, it has supported sugarcane planting and cost financing; in the industrial area, the modernization of industrial units and investments in electric power co-generation, as well as the implementation of new projects, while in the capital market area, it has provided advisory services in operations involving the domestic and international capitalization of Brazilian mills. Our activities, including the creation and development of customized solutions, made Banco do Brasil one of the main advisory banks for structured deals in the sugar and ethanol industry.

71


bancos

Opiniões

sucesso

gestão é fator primordial para o

Managment is an essential factor for success

É bastante interessante desenvolver o tema proposto pela revista Opiniões para este artigo – o de internacionalização da propriedade das Usinas brasileiras –, justamente no dia em que é anunciada a mais importante e emblemática transação já ocorrida no setor sucroalcooleiro: a joint venture entre a Cosan, maior indústria do setor, e a Shell, segunda maior petroleira do mundo. Para os otimistas, entre os quais me incluo, é a prova cabal de que o etanol renovável tem seu lugar assegurado na matriz mundial de combustíveis sólidos, sendo atualmente o bagaço de cana a mais promissora matéria-prima para obtenção de etanol de segunda geração.

It is quite interesting to develop the theme proposed by the Opiniões magazine for this article – ownership internationalization of Brazilian mills – on the very day that the most important and emblematic transaction ever to have taken place in the sugar and ethanol industry is announced: the joint venture between Cosan, the largest company in the industry, and Shell, the world’s second largest oil company. For optimists, which I too am, it is irrefutable proof that renewable ethanol has its assured place in the world matrix of solid fuels, whereas sugarcane bagasse currently is the most promising raw material to produce second generation ethanol.

" agora, uma coisa é garantida, e essa crise deixou clara: crescer em ritmo acelerado, num setor de altos e baixos, num mercado financeiro também de altos e baixos, é só para empresas de grande porte e com alta visibilidade, pois só estas têm garantido o acesso a mercado de capitais " Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú-BBA Commercial Director of Itaú-BBA

Para os menos entusiasmados, gostaria de citar um hilário comentário de uma analista de mercado de que os biocombustíveis, hoje, estão para as petroleiras como a ala das baianas está para escola de samba, ou seja, não fazem parte do enredo, mas, se não tiver, perde ponto. Com isso, o capital estrangeiro, que há 5 anos participava com apenas 6% do total de cana esmagada pelo setor, passa a atingir significativos 23%, com claro viés de alta. Por mais que a transação Shell x Cosan signifique uma maior concentração na distribuição de combustíveis no mercado interno, é inegável o potencial que essa associação pode trazer em termos de ampliação do comércio mundial de etanol, possibilitando maior acesso a mercados. Nessa mesma linha de expansão do comércio internacional, inserem-se o significativo aumento de posição da Bunge no setor – adquiriu o

72

To those who are less enthusiastic, I would like to quote a hilarious comment by a market analyst, according to which the oil companies today are like the Bahian dancers in a samba school, i.e., they are not a part of the plot, but if they are not present the samba school loses points in competition parading. Thus, foreign capital, which 5 years ago participated with only 6% of the total sugarcane crushed by the industry, now accounts for significant 23%, in what is an evidently upward trend. Even though the Shell x Cosan transaction implies a higher concentration in fuel distribution in the domestic market, the potential this association may unleash in terms of expanding world trade in ethanol, is undeniable, allowing increased access to markets. Along this same line of world trade expansion, one should see the significant improvement of Bunge’s ranking in the industry – it acquired the Moema



bancos Grupo Moema e mostra apetite para novos negócios – e o importante grupo indiano Renuka, que tem sido bastante ativo na análise de oportunidades de aquisição que tem surgido no mercado. Com certeza, grupos estrangeiros de grande porte e com facilidade de acesso a capitais têm se posicionado no pelotão da frente do setor, que podemos chamar de série A – uma referência apenas ao tamanho, já que estamos partindo dos maiores para os menores –, que se caracteriza pela presença de empresas com forte vocação consolidadora, onde o cacife para entrar é muito pesado. Merecem ainda estar nesse grupo a ETH, pois pertence a um dos mais admiráveis grupos nacionais, e a Dreyfus, com seus respeitáveis 38MM de tons de capacidade após aquisição de Santelisa Vale. Além disso, não podemos deixar de citar a Copersucar, com seu muito bem-sucedido modelo de consolidação da porteira para fora, onde escala, sem dúvida nenhuma, faz toda diferença. Esse modelo é uma alternativa muito interessante a ser levada em conta por empresas que estejam, de certa forma, isoladas. Abaixo desse pelotão, o dos acima de 20MM de tons, temos muitos nomes com excelente gestão e que vêm apresentando excelente performance. Essas empresas podem eventualmente entrar no jogo da consolidação de forma ativa, caso venham se associar ou atrair sócios capitalistas. Aguardamos do BNDES uma participação mais ativa no estímulo a movimentos estratégicos, permitindo, assim, que mais grupos nacionais participem desse pesado jogo da dita série A. Partindo do princípio de que a chave do negócio de commodities é custo baixo e que, a grosso modo, 60% dos custos estão na agricultura, quase 20% na comercialização, 12% na industrialização e 8% nos chamados custos administrativos, fica bastante claro onde se ganha o jogo numa primeira fase, ou seja, nos custos agrícolas e de comercialização. Gestão é fator primordial para o sucesso num setor altamente intensivo em gestão, e os maiores desafios para as empresas de grande porte e acelerado crescimento estão na parte agrícola. Nesta safra 09/10, por exemplo, com os dados que já possuímos até agora, podemos afirmar mais uma vez que tamanho continua não sendo documento, na medida em que temos entre os tops de rentabilidade – acima dos 30% medidos por margem EBITDA (Geração operacional de caixa antes de depreciação, impostos, dividendos e despesa financeira) –, empresas entre 3MM a 15MM de tons. Porém nada garante que essa situação permaneça no futuro, já que novas tecnologias estão chegando, e os modelos de gestão estão se aperfeiçoando. Agora, uma coisa é garantida desde já, e essa última crise deixou muito clara: crescer em ritmo acelerado, num setor de altos e baixos (felizmente mais altos que baixos), num mercado financeiro também de altos e baixos, é só para empresas de grande porte e com alta visibilidade, pois só estas têm garantido o acesso a mercado de capitais, que é a única fonte que possibilita um crescimento seguro e sem tropeços.

74

Opiniões Group and shows appetite for new business – and the important Indian group Renuka, which has been quite active in analyzing acquisition opportunities that have appeared in the market. No doubt large foreign groups with facilitated access to capital have taken up front positions in the industry, which we may refer to as the A series – a reference only to size, given that we are classifying them from the top downwards, from large to small –, in what is a characterization of companies with a strong consolidation vocation, in which the stakes to get in are very high. Also in this group one should classify ETH, since it belongs to one of the most admired Brazilian corporate groups, and Dreyfus, with its respectable 38 million tons capacity following the acquisition of Santelisa Vale. Furthermore, one may not forget Copersucar, with its successful “from the inside out” consolidation model, in which scale no doubt makes all the difference. This model is an interesting alternative to take into consideration by companies that, to a certain extent, are isolated. Ranking under this above the 20 million mark forerunner platoon, there are many names with excellent management, which have been performing very well. These companies may possibly enter the consolidation game in an active way, should they associate with, or attract, capitalist partners. Of BNDES (National Economic and Social Development Bank) one expects more active participation in fostering strategic movements, thus allowing more Brazilian groups to take part in this heavyweight game of the so-called A series. Based on the principle that the key to the commodities business is low cost, and that, in overall terms, 60% of the costs are in agriculture, almost 20% in distribution, 12% in production, and 8% are the so-called administrative costs, it becomes quite evident where the game is won in the first phase, i.e., in agricultural and distribution costs. Management is an essential factor for success in a managementintensive industry, in which the major challenges for large accelerated growth companies are in the agricultural part. For example, in the current 09/10 harvest, with the data available until now, one can once again state that size is not what matters, to the extent that among top performers in terms of profitability – above an EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) operational margin of 30% –, there are companies with an output of 3 million to 15 million tons. However, this situation is not warranted for the future, since new technologies are appearing and management models are becoming better. But there is one thing warranted from the onset, which this crisis made very clear: to grow at an accelerated pace, in an industry with highs and lows (fortunately more highs than lows), in a financial market also of highs and lows, is only for large companies with high visibility, because only they have guaranteed access to the capital market, the only source allowing safe growth without hurdles.


Opiniões

a internacionalização como ferramenta de crescimento e aumento de

produtividade

Internationalization as a tool for growth and increase in productivity

Nos últimos cinco anos, a indústria brasileira de açúcar e álcool tem experimentado uma forte expansão originada pela aceleração no crescimento do mercado de açúcar – em razão do crescimento do consumo nos países em desenvolvimento, da eliminação das exportações subsidiadas da Europa e da consolidação do Brasil como principal exportador mundial – e por uma explosão do mercado de etanol – em função dos carros flex no mercado brasileiro e da promessa dos biocombustíveis no mundo. Cabe ressaltar a recente aprovação do etanol brasileiro como biocombustível renovável de baixo carbono pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), fato que pode facilitar a entrada do combustível nos EUA. Todo esse crescimento cria, e continuará a criar, oportunidades rentáveis de investimento na produção e logística desses produtos, atraindo para o setor capital nacional e internacional. Este último, em especial, de maneira mais intensa, após a obtenção do grau de investimento para o Brasil.

In the past five years the Brazilian sugar and ethanol industry experienced strong expansion originated by accelerated growth of the sugar market (due to consumption increase in developing countries, the elimination of Europe’s subsidized exports, and the consolidation of Brazil as the world’s main exporter) and due to an explosion in the ethanol market (“flex cars” in the Brazilian market and the promise of biofuels in the world). One should emphasize the recent approval of Brazilian ethanol as renewable low carbon biofuel by the US Environmental Protection Agency (EPA), a fact that may facilitate the entry of the fuel in the USA. All this growth creates, and will continue to create, profitable opportunities to invest in the production and logistics of these products, attracting Brazilian and international capital to the industry, the latter specifically more intensively after Brazil obtained the investment grade rating.

" como um processo de seleção natural, o capital está disponível para investimento em empresas bem preparadas e eficientes e para aquisição e reestruturação operacional de empresas menos preparadas " Umberto Grohmann Ortolan Gerente Sênior de Projetos do Banco Rabobank Senior Project Manager of Banco Rabobank

Como um processo de seleção natural, esse capital está disponível para investimento em empresas bem preparadas e eficientes e para aquisição e reestruturação operacional de empresas menos preparadas. Dessa forma, buscando acesso a esse capital, os participantes do setor de açúcar e álcool vêm passando por um processo de transformação que engloba, entre outros: 1. Consolidação e ganhos de escala: O setor ainda é bastante fragmentado, mas os dez maiores grupos pos-

As a natural selection process, this capital is available for investment in well prepared and efficient companies and for the acquisition and operational re-structuring of less prepared companies. Thus, in seeking access to such capital, participants in the sugar and ethanol industry are experiencing a transformation process that encompasses among others: 1. Consolidation and gains in scale: The industry is still very fragmented, however the ten largest groups

75


bancos suem hoje volumes de moagem superiores a 10 milhões de toneladas de cana por safra, tendo os dois maiores volumes na faixa de 30-60 milhões de toneladas; 2. Desintermediação e integração vertical: Grandes grupos e associações têm feito incursões em logística (terminais, logística ferroviária, dutos e portos), vendas e distribuição, garantindo o escoamento da produção; 3. Profissionalização: Estrutura de gestão familiar ainda muito presente, porém sendo continuamente substituída por gestões profissionais. Universidades têm desenvolvido cursos de pós-graduação especialmente voltados para as necessidades do setor; 4. Formalização e transparência: Evolução marcante na quantidade de usinas auditadas por empresas de primeira linha com maior transparência para mercado, em particular credores. Ainda nesse ponto, cabe mencionar as reestruturações organizacionais que vêm ocorrendo, já visando deixar as empresas em condições de receber recursos externos (IPO, private equities, entre outros); 5. Acesso a mercado de capitais: Primeira onda de acesso ao mercado de capitais em 2007, com emissão pública de ações e instrumentos de dívida. Adicionalmente temos no mercado diversas empresas com forte possibilidade de acessar o mercado de capitais nos próximos dois anos. Essa transformação gera benefícios ao criar empresas de maior porte e mais capitalizadas, com capacidade de realizar investimentos necessários no Brasil e no exterior, no ritmo demandado pelos consumidores, com a segurança exigida pelos investidores. Nesse contexto, a internacionalização da propriedade de usinas brasileiras via multinacionais, fundos e outros investimentos diretos é fator complementar, porém fundamental, para viabilizar a velocidade com que essas transformações vêm ocorrendo, promovendo crescimento e produtividade. A internacionalização per si não cria grandes impactos em grupos de pequeno porte e usinas isoladas, no entanto o processo mais amplo de transformação em que está inserido cria, no longo prazo, dificuldades na manutenção de grupos com menor escala de produção e eficiência. Naturalmente, esse é um processo de transição que deve durar diversos anos, possibilitando que as usinas se preparem para competição nesse novo ambiente. É importante ressaltar que não existe nenhuma barreira para a criação de grandes empresas nacionais competitivas no mercado internacional, a exemplo do que ocorreu em outros setores, inclusive no agronegócio. Diversas empresas nacionais têm o potencial e a ambição de participar fortemente no processo de consolidação do setor e, internacionalmente, na expansão do refino de açúcar e comercialização/distribuição de açúcar e álcool. Esse processo vai depender do entendimento entre empresas nacionais do setor e de políticas públicas de incentivo à formação das multinacionais verde-amarelas. Até lá, os grandes movimentos de crescimento e consolidação do setor provavelmente ocorrerão impulsionados pelo capital internacional, como foram os casos de LDC/Santelisa Vale, Bunge/Moema e Shell/ Cosan. Bem-vindos à internacionalização, aos investimentos, ao crescimento e à produtividade.

76

Opiniões today process crushing volumes in excess of 10 million tons of sugarcane per harvest, with the two largest volumes in the range of 30-60 million tons; 2. Elimination of intermediation/vertical integration: large groups and associations have made inroads in logistics (terminals, railroad logistics, pipelines and ports), sales and distribution, assuring production flow; 3. Professionalization: Family-managed structures are still very present, but are gradually being replaced by professional management. Universities have developed graduate courses especially suited for the industry’s needs; 4. Formalization and transparency: Noteworthy development in the number of mills audited by first class companies for greater transparency for the market, particularly creditors. On this issue, one should also mention organizational re-structurings occurring so as to prepare companies for receiving funds from abroad (IPOs, private equity, and others); 5. Access to the capital market: The first capital market access wave occurred in 2007, with the public issuance of shares and the granting of loans. Additionally, in the market there are several companies strongly suited to access the capital market in the next two years. This transformation generates benefits by creating larger and more capitalized companies, equipped to undertake the investments necessary in Brazil and abroad, at the pace required by consumers and the safety demanded by investors. In this context, the internationalization of ownership of Brazilian mills by multinational companies, funds and other direct forms of investment is a complementary but essential factor in achieving the speed at which such transformations occur, resulting in growth and productivity. Internationalization as such does not cause major impact on small size groups and isolated mills, however the broader transformation process that takes place, in the long run creates difficulties for the survival of such groups with smaller production scales and lower efficiency. Naturally, this is a transition process expected to last several years, allowing mills to prepare for competition in this new environment. It is important to point out that there is no barrier to creating large Brazilian companies, competitive in the international market, as has occurred in other industries, including agribusiness. Several Brazilian companies have the potential and the ambition to strongly participate in the industry’s consolidation process and in the international expansion in sugar refining and the commercialization/distribution of sugar and ethanol. This process will depend on the understanding among Brazilian companies in the industry and public incentive policies for creating green and yellow (Brazil’s colors) multinational companies. Until then, major growth and consolidation movements in the industry will take place probably caused by international capital, as in the cases of LDC/Santelisa Vale, Bunge/Moema, and Shell/Cosan. Welcome to internationalization, investments, growth and productivity.



bancos

novas perspectivas

Opiniões

para o setor sucroalcooleiro New perspectives for the sugar and ethanol industry

" Só saberemos os principais resultados da internacionalização no futuro. No entanto, apesar das sequelas da crise, dos riscos da atividade e dos desafios pendentes, temos uma expectativa positiva para o setor devido à manutenção dos seus fundamentos. " Luciano Medeiros Prado Superintendente de Agronegócios do Banco Votorantim Superintendent for Agribusiness of Banco Votorantim

O processo de internacionalização provoca importantes mudanças no mercado de biocombustíveis, dando muito mais força e velocidade ao movimento de consolidação e verticalização. O aumento da fatia do capital estrangeiro, que já supera os 20% da moagem, com participação relevante em 4 dos 7 maiores players, é inevitável e tem provocado uma reação inicial favorável por parte do mercado financeiro. Além disso, o recente anúncio da joint venture da Cosan constitui um marco histórico, materializando um desejo antigo do setor: o ingresso vigoroso de uma gigante petroleira. Mas, afinal, o que move essas grandes multinacionais? Certamente, uma combinação de fatores, dentre os quais destacamos: Oportunidade: ativos altamente atraentes, com possibilidades de retorno, claro potencial de crescimento e consolidação – dada a elevada fragmentação; Acesso ao mercado: somos o país mais bem posicionado para atender à demanda mundial; Vocação: temos experiência, recursos naturais disponíveis e capacidade de expandir rapidamente a produção; Fundamentos macroeconômicos: somos, indiscutivelmente, o preferido do investidor estrangeiro. Além de contribuir para o amadurecimento do setor sucroenergético, podemos pensar nos seguintes efeitos da internacionalização: Capacidade de competir: elevação do grau de sofisticação na gestão de risco, inteligência de mercado, escala e competitividade, além de acesso a mercados; Infraestrutura: Acesso a tecnologia e investimento em infraestrutura com incentivo à biotecnologia; Sinergias: criação de valor através da integração;

78

The internationalization process brings about important changes in the biofuel market, affording the consolidation and verticalization movement much more power and speed. The increase in the share of foreign capital, which already corresponds to more than 20% of the crushed volume, with important participation in four of the seven major players, is inevitable and has provoked a favorable initial reaction on the part of the financial market. Furthermore, the recent announcement of the Cosan joint venture is a historical mark, which materializes an old intention of the industry: the vigorous entry of an oil giant. But, after all, what is it that drives these large multinational companies? Certainly a combination of factors, of which we highlight: Opportunity: highly attractive assets, with possibilities for ROIC, clear growth and consolidation potential (given the high degree of fragmentation); Market Access: we are the best positioned country to meet world demand; Vocation: we have experience, natural resource availability and the capacity to rapidly expand production; Macroeconomic Fundaments: undoubtedly we are the foreign investor’s preference. Apart from contributing to the sugar-based energy industry’s maturing, we may think of the following effects of internationalization: Capacity to Compete: increase in the sophistication level of risk management, market intelligence, scale and competitiveness, in addition to access to markets; Infrastructure: Access to technology and investment in infrastructure: incentive for biotechnology; Synergies: creation of value through integration;



bancos Transformação do Etanol em commodity: para amenizar solavancos nos preços e possibilitar a celebração de contratos (financiáveis) de longo prazo. Porém questões como ausência de um mercado internacional estabelecido, protecionismo, certificação, oferta contínua em grande escala por vários países, ciclicalidade e estrutura logística persistem como preocupações, que exigirão empenho máximo e maior coordenação do setor. Que mudanças visualizamos na percepção de risco do setor a partir do que foi descrito, do ponto de vista do mercado financeiro? A maioria dos agentes financeiros opera com regras parecidas para concessão de crédito ao setor, que levam em conta aspectos quantitativos e qualitativos e são baseadas nos seguintes pilares: Conceito: experiência em negócios, relacionamento, gestão e governança; Desempenho Operacional: agrícola e industrial, e Desempenho Financeiro: capacidade de pagamento, bancabilidade, acesso a capital e estratégia financeira. Ajustados pela complexidade, imprevisibilidade de resultados e heterogeneidade do segmento. Feita a consideração, acreditamos que a internacionalização pode afetar positivamente as seguintes métricas creditícias: Melhora na classificação de rating: geralmente, as operações de M&A (do inglês Fusões & Aquisições) são acompanhadas por medidas de saneamento financeiro: aporte de dinheiro novo e/ou pagamento das dívidas mais onerosas de curto prazo. Essa mudança na estrutura de capital tem conferido maior musculatura e fôlego financeiro às usinas. Em alguns casos, essa melhora é também fruto de um plano de capitalização envolvendo desmobilização de ativos; em outros, pelo fato de o novo controlador ter sua atividade preponderante fora do setor sucro, propiciando os benefícios da diversificação do risco. Gestão: commodity é custo. Portanto competência em gestão é vital. Mesmo reconhecendo diversos avanços na profissionalização de diversos grupos brasileiros, a crise colocou a questão em evidência, exigindo uma gestão mais dinâmica, própria de organizações empresariais em oposição às administrações familiares. Maior disciplina financeira: A crise de 2008 não foi indolor para o setor, marcado por uma depuração sob a forma de algumas recuperações judiciais. Austeridade financeira e planejamento com contenção dos excessos poderão evitar o ciclo vicioso observado na crise. Nesse sentido, a possibilidade de acesso a capital das múltis pode significar um diferencial. Só saberemos os principais resultados da internacionalização no futuro. No entanto, apesar das sequelas da crise, dos riscos da atividade e dos desafios pendentes, temos uma expectativa positiva para o setor devido à manutenção dos seus fundamentos. Com a volta da rentabilidade, melhores condições do mercado de capitais e pelo efeito positivo de várias reestruturações – operacionais, societárias e financeiras –, vislumbramos a normalização do crédito ao setor, agora não mais unicamente brasileiro, mas mundial.

80

Opiniões Transformation of Ethanol to a Commodity: to attenuate price oscillations and allow the celebration of (financeable) long term contracts. However, issues such as the lack of an established international market, protectionism, certification, continuous offering on a large scale by several countries, cyclicity and logistics structure persist as reasons for concern and will require maximum efforts and more coordination by the industry. What changes do we envisage in risk perception in the industry based on what was described, from the viewpoint of the financial market? Most financial agents operate with similar rules for granting the industry credit, which take into consideration quantitative and qualitative aspects and are based on the following pillars: Concept: experience in business, relationships, management and governance; Operational Performance: in agriculture and industrial, and Financial Performance: payment capacity, worthiness, access to capital and financial strategy, adjusted for complexity, unpredictability of results and the industry’s heterogeneity. Having said that, we believe internationalization may positively affect the following credit metrics: Rating improvement: in general, M&A (mergers and acquisitions) operations are in tandem with financial recovery measures: pay-in of new capital and/or amortization of the more costly short term debt. Such change in capital structure has provided mills more muscle and financial breathing capacity. In some cases, such improvement is also the result of a capitalization plan involving the demobilization of assets; in other cases, because the new controller’s activities are predominantly outside the sugar industry, it affords the benefits of risk diversification. Management: commodity is cost. Therefore, competence in management is vital! Even acknowledging several improvements in the professionalization of several Brazilian groups, the crisis evidenced the issue, which requires more dynamic management, characteristic of business organizations as opposed to family-run businesses. More financial discipline: The 2008 crisis was not painless for the industry, and was characterized by a clean-up in the form of Court-sponsored recoveries. Financial austerity and planning with the contention of excesses may prevent the vicious cycle one observed in the crisis. In this regard, the possibility to access multinationals’ capital may be a differential. We will only know the main results of internationalization in the future. However, notwithstanding the consequences of the crisis, the risks inherent to the activity, and the pending challenges, we have a positive outlook for the industry due to the upholding of its fundaments. With the return of profitability, better conditions in the capital market, and the positive effect of several restructurings - operational, corporate and financial -, we anticipate the normalization of credit for the industry, now no longer only Brazilian, but global.


ensaio especial

Opiniões

o novo

abc da cana A new "ABC" of sugarcane

Já não se pode negar que o panorama da produção de cana no Brasil mudou na passagem do século XX para o século XXI. Se, antes, os principais nomes do setor tinham tradicionais sobrenomes de imigrantes (Atalla, Balbo, Bellodi, Biagi, Ometto, Simioni etc.), agora, o alfabeto canavieiro começa com ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus... Por coincidência, são grupos estrangeiros de grande porte que, pela primeira vez em 500 anos, deixam claro que o setor sucroenergético brasileiro amadureceu a ponto de despertar o interesse de alguns dos mais poderosos players do agronegócio internacional. Em dez anos, a internacionalização do setor já chega a 25% da cana esmagada, mas as últimas aquisições de usinas brasileiras por multinacionais não deixam dúvidas de que vivemos um momento rico na história agrícola brasileira, justamente numa época de recordes na produção e no rendimento das lavouras mais comerciais. Nas últimas décadas, a cana foi uma das culturas que mais se expandiram no Brasil, ao lado da soja e do milho. O crescimento do potencial canavieiro deve-se não apenas ao açúcar brasileiro (40% do mercado mundial), mas ao crescimento do valor estratégico do etanol como combustível automotivo. Desde que o Governador Geral Martim Afonso de Souza apostou na plantação de cana no litoral brasileiro, a partir de 1532, os estrangeiros lutam para produzir açúcar e derivados no Brasil. Muitos colonos que aceitaram o desafio do plantio de cana tornaram-se senhores de engenho no Nordeste, a região de

There is already no way to deny that the sugarcane production outlook in Brazil changed with the passage from the 20th to the 21st Century. If before the main names in the industry comprised traditional immigrants’ surnames (Atalla, Balbo, Bellodi, Biagi, Ometto, Simioni, etc.), nowadays the sugarcane industry’s alphabet begins with ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus... Coincidently, these are large foreign groups that, for the first time in 500 years, make it quite clear that the Brazilian sugar-based energy industry has matured to the point of awakening the interest of some of the most powerful players in international agribusiness. After ten years, the industry’s internationalization already accounts for 25% of the crushed sugarcane, while the most recent acquisitions of Brazilian mills by multinational corporations leave no doubt that we are living an enriching moment in the history of Brazilian agriculture, characterized by record production and productivity of more trade oriented crops. In recent decades, sugarcane has been among the most expanding crops in Brazil, along with soya and corn. Growth in sugarcane potential is due not only to Brazilian sugar (40% of the world market), but also to growth of ethanol’s strategic value as automotive fuel. Ever since the governor-general Martim Afonso de Souza, starting in 1532, betted on sugarcane plantations along the Brazilian coast, foreigners have struggled to produce sugar and derivative products in Brazil. Many settlers who accepted the challenge of planting sugarcane became plantation

" a internacionalização parcial do setor sucroenergético brasileiro pode consolidar a vitória do etanol no mercado mundial " Maurílio Biagi Filho Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República Member of the Economic and Social Development Committee of the Office of the Presidency of Brazil

81


ensaio especial maior sucesso nos primeiros séculos da implantação da cultura no Brasil. Mas essa é uma história cheia de altos e baixos, não podemos negar. A guerra entre colonizadores portugueses e holandeses, por exemplo, teve um desfecho negativo para o Brasil no século XVII. Além de fundarem Nova York, os holandeses, derrotados militarmente em Recife e Olinda, implantaram canaviais e montaram engenhos na América Central. Desfalcado de capitais e gestores, o Nordeste perdeu mercados numa guerra comercial nem sempre favorável a nós, brasileiros. Tanto que nossa indústria canavieira precisou ganhar incentivos fiscais do Império e, depois, ficou décadas sob tutela da República, até a desregulamentação dos anos 1990. Até então, os grupos estrangeiros não tinham grande interesse em investir na cana devido ao controle estatal. Desde a extinção do IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool, a indústria canavieira nacional não vivia momento de tanta renovação. Só a história dirá se o que vivemos agora não é uma repetição de algo ocorrido há um século, quando capitais europeus vieram produzir açúcar no Brasil. Com a exceção da francesa Societé de Sucréries Bresiliennes - SSB, que se instalou em 1903 em Piracicaba, de onde comandou cinco engenhos centrais por algumas décadas, os capitais estrangeiros investidos no setor canavieiro na virada dos séculos XX/ XXI não tiveram sucesso. Culpa do protecionismo governamental? Talvez. No entanto, à sombra de centenas de usinas controladas por capitais nacionais, desenvolveu-se entre nós uma genuína indústria de equipamentos, cujos núcleos centrais estão firmemente estabelecidos em Piracicaba e Sertãozinho. A mudança no controle da indústria brasileira de açúcar e álcool é ditada pelo aumento da competição global. A partir do momento em que as mudanças climáticas determinaram o aumento do consumo global do etanol, cresceu o interesse dos grupos estrangeiros em realizar investimentos no Brasil, cujo mercado de combustíveis configura um laboratório sem igual no mundo. Não se pode negar que, até pouco tempo atrás, perdurava a certeza de que o setor permaneceria 100% nacional – e com muito orgulho. Apesar da venda de grandes grupos canavieiros para multinacionais, o setor sucroenergético ainda é majoritariamente nacional. É uma nacionalização que, graças ao Proálcool, adquiriu um colorido diferente a partir dos anos 1970, quando o setor passou a registrar uma forte presença de grupos nativos que, até algumas décadas antes, limitavam-se à pecuária. Se tudo continuar evoluindo a favor do Brasil no âmbito do agronegócio em geral, tenho certeza de que, no futuro, caberá a nós brasileiros agradecer às marcas globais que vieram nos ajudar a transformar o etanol numa commodity. Mais do que uma conquista das tradings ou um êxito do setor canavieiro, terá sido uma vitória nacional.

82

Opiniões owners in the Northeast, the most successful region in the initial centuries of sugarcane plantations in Brazil. However, this is history with many ups and downs one cannot deny. The war between Portuguese and Dutch colonizers, for example, had a negative outcome for Brazil in the 17th Century. Apart from founding New York, the Dutch, militarily defeated in Recife and Olinda, set up sugarcane plantations in Central America. Lacking capital and managerial capacity, the Northeast lost markets in a trade war that was not always favorable to us Brazilians. Proof hereof is that our sugarcane industry lost fiscal incentives in the days of Imperial Brazil and subsequently remained under the tutelage of the Republic until deregulation occurred in the 1990's. Until then, foreign groups were not much interested in investing in sugarcane because of State control. After the extinction of the Sugar and Ethanol Institute (“IAA”), the sugarcane industry had not lived through times of so much renewal. History alone will tell if what we experience today is not only a repetition of something that happened a century ago, when European capital was invested in sugar production in Brazil. Except for the French company Societé de Sucréries Bresiliennes (SSB), which was set up in 1903 in Piracicaba, from where, for several decades, it controlled five main plantation complexes, foreign capital invested in the sugarcane industry at the turn of the 20th to the 21st Century was mostly unsuccessful. Is government protectionism to blame? Perhaps. However, offstage of the hundreds of mills controlled by Brazilian capital, a genuine equipment producing industry was set up here, whose decision-making centers are located in Piracicaba and Sertãozinho. The change in ownership control of the Brazilian sugar and ethanol industry is dictated by the increase in global competition. From the time when climate change brought about the increase in global consumption of ethanol, the interest of foreign groups in making investments in Brazil grew, given that the country’s fuel market is an unparalleled test ground in the world. One cannot deny that until recently there prevailed the certainty that the industry would remain entirely under Brazilian control – of which we all were proud. Notwithstanding the sale of large sugarcane groups to multinational corporations, the sugarbased energy industry is still largely Brazilian controlled. It is a nationalization that, thanks to the “Proálcool Program” gained a different coloring beginning in the 1970's, when the industry started to show a strong presence of local groups that, until a few decades earlier, were only associated with cattle breeding. If all should continue developing favorably for Brazil in the overall context of agribusiness, I am sure that in future it will be up to us Brazilians to thank the global brands for having come to assist us in making ethanol a commodity. More than an achievement of trading companies or the success of the sugarcane industry, it will have been a victory of Brazilian industry.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.