Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br ISSN: 2177-6504
FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira
ano 16 • número 58 • Divisão F • dez-fev 2020
o futuro do reflorestamento no Brasil
índice
o futuro do reflorestamento no Brasil
ensaio especial:
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Edson Antonio Balloni Engenheiro florestal
bioeconomia:
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Luiz Carlos Estraviz Rodriguez
Professor de Economia e Planej Florestal da Esalq-USP
políticas públicas:
22
silvicultura 4.0:
19 6
Professor de Pós-Graduação na UF-PR e Esalq-USP
macrovisão estratégica:
8
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Lineu Henrique Wadouski Consultor florestal
recuperação de áreas de RL: Erich Schaitza
Pesquisador da Embrapa Florestas
p&d tecnológico:
14
José Otávio Brito
Diretor Executivo do IPEF
Professor de Engenharia Ambiental da PUC-Curitiba
27 30 32 34
Paulo Henrique Müller da Silva
Pesquisador do IPEF, resp melhoramento genético
24
Ana Gabriela Monnerat Carvalho Diretora-geral da ArborGen
Gleison dos Santos, Franciele Oliveira e Gustavo Baesso
Respectivamente, Diretor Cientifico da SIF, Coordenadora operacional de Fisiologia e Coordenador operacional de Melhoramento do projeto de tolerância à seca
José Maria de Arruda Mendes Filho Diretor da Lacan Participações
corymbia:
38
Eduardo José de Mello
Vice-presidente de Melhoramento Genético da FuturaGene
Diretora da Práxis Assessoria Socioambiental
empreendimentos florestais:
transformação genética:
variabilidade genética: Antonio Rioyei Higa
Rafael Küster de Oliveira
Maria José Brito Zakia
Teotônio Francisco de Assis Diretor da Assistech
acácia:
40
Augusto Arlindo Simon
Gerente de Silvicultura da Tanac
pínus:
43
Ananda Virgínia de Aguiar Pesquisadora Embrapa Floresta
teca:
46
Fausto Hissashi Takizawa
Diretor de Pesquisa e Rel Institucionais da TRC
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Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Ismael Perina Junior • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Julio Maria M. Borges • Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Martinho Seiiti Ono • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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variabilidade genética
a chave do futuro
As espécies arbóreas têm sobrevivido há milhares de anos em função de sua diversidade genética, que é aqui entendida como “a quantidade total de variações genéticas observadas tanto entre populações de uma determinada espécie, como entre indivíduos de uma população dessa espécie”. O termo engloba a variação entre alelos de um mesmo gene, que é a variabilidade genética. As espécies arbóreas apresentam maior variabilidade genética dentro de populações do que entre populações. Assim, assegurar a variabilidade genética intrapopulacional deverá ser um objetivo central de qualquer programa de reflorestamento comprometido com a adaptabilidade às mudanças climáticas e a oferta de múltiplos serviços ecossistêmicos. Na leitura deste artigo, é importante, também, entender o que seria o “reflorestamento no Brasil”.
Neste artigo, irei usar a terminologia adotada pela FAO nos levantamentos dos recursos florestais ao redor do mundo, segundo a qual reflorestamento é o “reestabelecimento de uma floresta através do plantio e/ou semeadura em uma área ocupada originalmente por floresta”. Isso significa que reflorestamento não inclui áreas de regeneração natural, mas incluem plantações de eucaliptos, pínus, acácias, teca, seringueira, araucária, paricá, etc. Essas plantações, estabelecidas principalmente nos últimos 50 anos no Brasil, e que hoje ocupam uma área de aproximadamente 10 milhões de hectares, têm como principal finalidade atender às demandas das indústrias de celulose, papel, painéis, siderurgia, madeira serrada, madeira roliça, resina, látex, etc. Mas, quando falamos de futuro, devemos incluir, também, os reflorestamentos, visando à recuperação de Reservas Legais, que, de acordo com as metas da Proveg – Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Decreto No 8.972/2017), deverão atingir uma parcela significativa da meta dos 12 milhões de hectares a serem recuperados até 2030.
As áreas ocupadas atualmente pela agricultura e plantações florestais no País poderão ser duplicadas apenas com o aproveitamento das áreas de pastagens degradadas. Mas e o aumento da produtividade por área? "
Antonio Rioyei Higa Professor de Pós-Graduação na UF-PR e Esalq-USP
Apesar de a Proveg incluir a regeneração natural, a reabilitação ou a restauração ecológica, consideramos que uma área significativa desses doze milhões de hectares deverá ser recuperada por meio de reflorestamentos ou pelo uso de sistemas agroflorestais, com espécies-chaves da tipologia florestal local, principalmente em áreas que não têm bancos de sementes no solo ou fragmentos florestais adjacentes. Então, dentro dessa ótica, no futuro, teremos dois tipos de reflorestamento no Brasil: 1) Plantios monoespecíficos ou mistos, seminais ou clonais, com espécies florestais de rápido crescimento, para atender às demandas das indústrias.
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Opiniões 2) Plantios mistos com espécies florestais nativas, ou até incluindo algumas espécies florestais exóticas, para recuperação de Reservas Legais. No entanto, apesar das diferenças nas finalidades, a sustentabilidade futura desses reflorestamentos no Brasil dependerá de vários fatores em comum, dentre os quais destacamos as mudanças nos ambientes de plantio. Os reflorestamentos estão se deslocando para terras mais baratas e, consequentemente, para ambientes de baixa fertilidade, mais secos ou com ocorrência de geadas severas e imprevisíveis. Isso implica a necessidade de o mercado disponibilizar sementes e/ou mudas adaptadas aos novos ambientes de plantio atual e futuro. Nessa última década, experimentamos também eventos climáticos extremos, como as “secas quentes”, que vêm causando mortalidades ao redor do mundo. Analisando as discussões recentes nas mídias nacional e internacional em relação ao uso da terra para produção de alimentos e fibras, observamos que o Brasil é um dos poucos países que poderão contribuir de forma significativa para a expansão da área de plantio, necessária à segurança alimentar no mundo. As áreas ocupadas atualmente pela agricultura e plantações florestais no País poderão ser duplicadas apenas com o aproveitamento das áreas de pastagens degradadas. Mas e o aumento da produtividade por área? Será interessante observar as reações em relação à possível redução da produtividade agrícola na próxima safra brasileira, interrompendo uma sequência histórica de evolução nessas últimas décadas. Caso essa informação seja confirmada, será preciso avaliar cuidadosamente as causas. É bem possível que o clima será responsabilizado. Mas será que a natureza não está indicando que o “material genético plantado precisa ser mais bem adaptado às novas situações a que essas áreas estão e estarão sujeitas”? Os modelos de clima futuro, mesmo com suas incertezas e variações regionais, apontam para chuvas mais concentradas e temperaturas mais elevadas. Os efeitos nos reflorestamentos poderão ser mais drásticos, em função da duração do ciclo. Enquanto as culturas agrícolas são colhidas quatro meses após o plantio, as culturas florestais demandam vários anos ou décadas. Assim, devemos observar se está havendo variação nas produtividades das plantações florestais com finalidades industriais nas áreas tradicionais de plantios e quais as possíveis causas dessas variações. Recentemente tem-se falado que precisamos evoluir para a “Floresta 4.0”. Mas como aplicar essa nova ideia nos reflorestamentos, de forma que eles possam atingir os objetivos? Ou seja, como aumentar a produtividade das plantações com finalidades industriais e garantir a sustenta-
bilidade das plantações com finalidades ambientais? Silvicultura 4.0 é baseada em análises de grande quantidade de dados coletados nas áreas de plantios e na rede de internet. Apesar de essa ideia ser muito atrativa, tem-se a impressão de que a aplicação, hoje, seria para poucos do setor florestal. Aparentemente, poucos reflorestadores conhecem o ambiente de plantio com detalhe, ou seja, poucos têm suas áreas divididas em unidades de produção baseadas em mapas de solos e de clima detalhados e resultados de testes de espécies/ procedências/progênies ou clonais distribuídos nessas unidades de produção. Com exceção dos reflorestadores integrados às indústrias locais/regionais, poucos reflorestamentos são devidamente manejados para agregar valor aos produtos a serem gerados. No caso dos futuros reflorestamentos visando recuperar as Reservas Legais, temos uma situação mais grave. Apesar de o Código Florestal ter sido aprovado em 2012, e a Proveg ter estabelecido 2030 como prazo para atingir a meta de doze milhões de hectares, pouco se tem feito para cumprir essa meta. No entanto, caso o governo decida cumprir a legislação, não teremos sementes ou mudas para atender à demanda. Quase a totalidade das sementes de espécies florestais nativas é coletada de poucas matrizes marcadas nos poucos fragmentos florestais existentes nas regiões onde os passivos ambientais são significativos. Muitas vezes, sementes são coletadas em regiões bioclimáticas diferentes dos locais de plantios. O conceito de “zonas de coleta e uso de sementes de espécies nativas em reflorestamentos visando à revegetação florestal” ainda é ignorado pela maioria dos reflorestadores. Além disso, a minoria dos lotes de sementes de espécies florestais nativas tem base genética adequada para conservar a biodiversidade da tipologia florestal que está sendo restaurada. Em resumo, nos parece que a chave para termos reflorestamentos futuros sustentáveis e bem-sucedidos é a conservação da diversidade genética das espécies usadas. Essa recomendação é válida, também, para reflorestamentos industriais, pois a maioria das plantações está sendo realizada com poucos clones, no caso das florestas clonais, ou com sementes com base genética restrita, no caso das demais espécies. Para finalizar, é preciso sempre lembrar que biodiversidade inclui a diversidade genética intraespecífica e que essa é a principal ferramenta para enfrentarmos as adversidades futuras do ambiente de produção, principalmente as mudanças climáticas, o alto custo dos insumos, as mudanças no mercado, a exploração de novos fármacos ou produtos. E, para enfrentar esses desafios, será preciso um profissional preparado para essa nova realidade. n
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macrovisão estratégica
Opiniões
aspectos favoráveis e fragilidades do sistema florestal brasileiro O início do processo de ocupação e consolidação do território brasileiro ocorreu com o deslocamento para oeste e norte de grandes contingentes humanos em busca de ouro e diamantes, seguido pela fixação de parte dessas populações ao longo das trilhas e caminhos pioneiros, consolidando a presença portuguesa e brasileira em todas as regiões e ampliando o território brasileiro, inicialmente delimitado pelo Tratado de Tordesilhas. Esse processo definiu nossas novas fronteiras e afirmou nossa soberania como nação ao consolidar a incorporação dessas extensas áreas no planalto central e na Amazônia, de valor incalculável pela biodiversidade, solos férteis, clima ameno e topografia favorável.
Com uma área de 490 milhões de ha de florestas nativas e 7,8 milhões de ha de plantadas, o negócio florestal tem faturamento bruto superior a US$ 28 bilhões, gerando ocupação para mais de 7 milhões de brasileiros, direta e indiretamente e pelo efeito renda. "
Lineu Henrique Wadouski Consultor florestal
Na atualidade, a necessidade de preservação pela limitação da exploração econômica desse território rico e frágil se depara com as legítimas demandas sociais de uma população de mais de 200 milhões de habitantes, que não compreende com clareza o seu potencial econômico e estratégico. Para atender aos anseios da população, principalmente a amazônica, é necessário promover o desenvolvimento de uma economia “verde”, baseada em um amplo leque de atividades originadas nos diversos biomas brasileiros, cuja vastidão, complexidade e magnitude da contribuição à economia nacional ainda não são valorizadas em sua integralidade,
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principalmente contribuições ligadas aos serviços ambientais, cuja importância é de difícil avaliação por parcela considerável da população brasileira, que não tem como prioridade a limitação do uso com sustentabilidade ambiental, o que impõe a difícil tarefa de conciliar preservação com o desenvolvimento pleno, para proveito das atuais e futuras gerações. Com uma área total de florestas nativas de 490 milhões de ha e plantadas em 7,8 milhões de ha, o negócio florestal tem faturamento bruto superior a US$ 28 bilhões, gerando ocupação para mais de 7 milhões de brasileiros, direta e indiretamente e pelo efeito renda. A economia florestal brasileira está ainda muito aquém do seu potencial. A despeito da magnitude dos números, uma comparação com países de economia florestal mais robusta mostra que há enorme espaço para o crescimento,
macrovisão estratégica dado o diferencial a nosso favor da maioria dos indicadores do negócio florestal, principalmente pelas taxas de crescimento das florestas plantadas, que hoje suprem a quase totalidade das necessidades da indústria de base florestal, incluindo a geração de energia e a secagem de grãos na agricultura, contribuindo decisivamente para reduzir a pressão sobre as florestas nativas. Temos que considerar a estratégica contribuição econômica e ambiental das formações naturais, incluindo as áreas preservadas por obrigação legal nos plantios florestais e na agricultura, que são os pilares da manutenção da biodiversidade e dos serviços ambientais, como a produção de água limpa e abundante, estabilidade térmica e redução da poluição atmosférica. Para a construção de um cenário atraente ao desenvolvimento de uma “economia verde”, há necessidade da implantação de ações que tenham como foco a integração dos diversos sistemas de monitoramento e vigilância já existentes, para que os resultados sejam rápidos, precisos e efetivos na identificação de ameaças e situações que requeiram pronta resposta do Estado brasileiro, como no caso recente de incêndios florestais, provocados por atores que agem na clandestinidade e a quem não interessa o desenvolvimento harmônico e dentro da legalidade; políticas públicas realistas de fácil comunicação, tanto para os atores diretamente envolvidos como ao conjunto dos brasileiros, transmitindo uma clara noção da importância estratégica do uso e da preservação dos recursos naturais; a estruturação de um programa intensivo e abrangente para tratar dos graves conflitos fundiários com delimitação das áreas devolutas e regularização da posse da terra; a criação de equipes multidisciplinares para atender à transversalidade e à complexidade dessas tarefas, envolvendo representantes governamentais, da iniciativa privada, de ONGs e universidades/institutos de pesquisa; reforço das estruturas de comando e de controle responsáveis pelo ordenamento e fiscalização das operações, tanto estaduais como federais, para coibir o uso dos recursos naturais por vias ilícitas, as ameaças às populações locais e a agentes governamentais e a exploração ilegal em parques nacionais, reservas ambientais e terras indígenas; desenvolver mecanismos que permitam aos produtores rurais plantar florestas com fins econômicos e ecológicos, que resultem na produção de madeira e na recuperação dos mananciais, na captura de carbono da atmosfera, na redução do desmatamento e no aumento da biodiversidade local. Outro ponto crucial, e que é a maior fragilidade do negócio florestal no Brasil, tem como causa a inexistência de um programa de P&D de longo prazo, com metas claras, para o desenvolvimento da silvicultura de espécies nativas nos diversos biomas.
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Pesquisas com espécies nativas são conduzidas desde o século XVII, porém esse conhecimento acumulado sobre as diversas espécies necessita ser consolidado, identificar as lacunas existentes e possibilitar a eleição de linhas de pesquisa prioritárias, com otimização do uso dos recursos, sempre escassos. Temos que compreender que o sucesso da silvicultura de espécies exóticas no Brasil, como o pínus e o eucalipto, não aconteceu por acaso. Foram décadas de investimento conjunto – empresas e universidades, em pesquisa e desenvolvimento. Esse exemplo de sucesso que, em menos de 40 anos, multiplicou por três o incremento volumétrico dessas espécies deve fundamentar a criação de um programa de P&D com árvores nativas, baseado nas diversas espécies brasileiras em cada um dos biomas, que apresentam elevado potencial de retorno social ao fixar as populações nas suas regiões de origem, incentivando a conservação dos recursos florestais, bem como retornos econômicos ao gerar renda e desenvolvimento com o estabelecimento de cadeias produtivas locais. Áreas possivelmente prioritárias seriam as pesquisas em processos de colheita, seleção e armazenamento de sementes e produção de mudas; uso da biotecnologia, programas de melhoramento genético, técnicas de clonagem e micropropagação; modelos de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); modelos para promover a regeneração natural sem/com manejo e mercado para produtos madeireiros e não madeireiros. Isso posto, há que se observar que o Brasil tem, na comunidade internacional, sempre tão preocupada com a integridade de nossas florestas, importantes parceiros que, todavia, precisam dar uma contribuição mais efetiva em retribuição ao incalculável valor dos serviços ambientais que prestamos ao preservar, por força de lei, mais de 65% do nosso território, com ênfase para a região amazônica, que deve preservar 80% das áreas naturais. O pagamento por serviços ambientais, por exemplo, seria de grande valia para financiar um amplo leque de ações em P&D. Outro ponto fundamental diz respeito à alternância de comando e das lideranças das diversas organizações e governos, que possibilita o arejamento, a revisão e a alteração das estratégias. Essa deveria ser uma prática constante nos organismos multilaterais e nos bancos de fomento e desenvolvimento nacionais e internacionais e nas ONGs que desenvolvem políticas ambientais e projetos de financiamento nos países-membros. O cenário atual mostra estruturas formadas há mais de 30 anos – RIO 92, cujo comando permanece o mesmo, gerando uma homogeneidade de atitudes, ações e programas que já não trazem mais resultados conectados com as demandas reais das populações nacionais. n
recuperação de áreas de RL
Opiniões
uso de eucalipto em RLs na Mata Atlântica No começo do século XX, as regiões Sul e Sudeste brasileiras eram cobertas, em grande parte, por florestas exuberantes, mas, com a ocupação agrícola, de uma maneira muito rápida, essas florestas foram sendo substituídas por agricultura. Colonizadores viam a floresta como uma fonte de madeira valiosa, pronta para ser cortada e para financiar o desenvolvimento agrícola trazido pelas culturas de café, grãos e pecuária. Governantes, universidades, instituições de pesquisa, extensão rural e bancos incentivavam a substituição da floresta, oferecendo aos proprietários crédito, tecnologias e planos estratégicos de desenvolvimento da produção, impactando negativamente florestas nativas dentro de propriedades. Muito pouco se falava do valor da floresta como provedora de serviços importantes, como proteção de água e solos, manutenção da biodiversidade e, consequentemente, de equilíbrio na natureza, de beleza cênica, captura de carbono, entre outros. Todo esse processo ocorreu, e ocorre nos domínios da Mata Atlântica, à revelia de leis como o Código Florestal, que, já em 1965, determinava a manutenção de Áreas de Preservação Permanente em topos de morro, pendentes acentuadas e matas ciliares, e a manutenção de uma Reserva Legal florestal adicional correspondente a 20% da área de cada propriedade, a ser manejada para conservação e produção com florestas nativas. Essa exigência se aplicava a todas as propriedades, com algumas flexibilizações de uso em relação a propriedades da agricultura familiar.
Com o novo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012), a exigência de Reserva Legal diminuiu, pois essa área em uma propriedade passou a ser 20% da propriedade menos a área já ocupada por Áreas de Preservação Permanente. Mesmo assim, há um grande número de propriedades ainda com obrigação de recuperar áreas de Reserva Legal. Na primeira década dos anos 2000, tive a oportunidade de trabalhar em um grande projeto do governo do Paraná, financiado pelo GEF, o Paraná Biodiversidade. Nele, trabalhavam, em dedicação exclusiva, 60 técnicos de extensão e outras 20 pessoas da área ambiental do governo. O foco do projeto era promover a conciliação entre agricultura e conservação da biodiversidade em uma área de 2 milhões de hectares, distribuída em 3 regiões diferentes do estado. Talvez a principal atividade do projeto tenha sido a promoção de articulação entre os setores ambientais e produtivos, uma vez que atividades de conservação e agrícolas eram planejadas por extensão e instituto ambiental em uma mesma mesa, e, a partir daí, o projeto decidia que incentivos daria para
a possibilidade de se usarem espécies de rápido crescimento (eucalipto, acácias, bracatinga, taxi-branco, etc.) talvez seja o mecanismo mais eficiente de indução de proprietários com passivos legais por insuficiência de Reserva Legal. "
Erich Schaitza Pesquisador da Embrapa Florestas
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recuperação de áreas de RL agricultores melhorarem a qualidade ambiental de seus negócios. Ao todo, o projeto investiu US$ 30 milhões em extensão, educação ambiental, estruturação de parques e em incentivos para que agricultores desenvolvessem uma agricultura mais sustentável. Financiávamos diferentes estratégias de restauração florestal em matas ciliares e em reservas legais: • Ao longo de rios, nas florestas exclusivamente de proteção, priorizou-se o isolamento de áreas e regeneração natural. Em áreas ocupadas por pastagens mais agressivas ou em que não havia disponibilidade natural de sementes, foram adotados métodos de facilitação ou plantios de mudas, mas sempre com nativas; • Nas áreas de Reserva Legal, de uso misto de produção e conservação, plantios com Eucalyptus, plantados como facilitadores, colonizadores e geradores de renda no curto prazo, misturadas com espécies secundárias e clímax, de crescimento mais lento. Essa diferença de estratégia se devia principalmente ao fato de agricultores aceitarem restaurar margens de rios sem ganhos econômicos, pois percebem a importância da proteção à água, mas de não aceitarem trocar renda por conservação no caso da Reserva Legal, em 20% de sua área agrícola. Depois desse preâmbulo todo, vem a opinião dada no artigo. Sou totalmente a favor de se usarem eucaliptos na restauração de reservas legais, uma vez que cumpre três funções importantes nesse processo: • Traz uma perspectiva de retorno financeiro no curto prazo para produtores rurais e, por isso, é aceito por eles; • Estabelece condições para a regeneração de outras espécies em seu sub-bosque ou para que outras espécies plantadas conjuntamente cresçam à sua sombra; • E, muito importante, marca rapidamente a conversão do uso da terra, de agricultura ou pastagem, para uma área florestal. Um exemplo muito interessante dessa estratégia está descrito no documento “Implantação e Manejo de Florestas em Pequenas Propriedades no Estado do Paraná: Um Modelo para a Conservação Ambiental, com Inclusão Social e Viabilidade Econômica”, o qual descreve como uma equipe multidisciplinar formada por técnicos das Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura, Instituto Ambiental e Emater do Paraná trabalharam com pesquisadores da Embrapa, para desenhar um sistema de recuperação de reservas legais aceitável para agricultores. O sistema silvicultural com Eucalyptus foi desenhado de forma que ele fosse retirado gradualmente, promovendo regeneração natural, sem danificar linhas ou blocos de nativas consorciados. Em geral, 1100 plantas de Eucalyptus e 500 árvores nativas,
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Opiniões
plantadas em espaçamento de 2 x 3 m, compartilhavam um mesmo hectare, com previsão de desbaste das primeiras já a partir de 4 anos e retirada total aos 20 anos, visando à produção de lenha e madeira para serraria. Talvez o Eucalyptus não seja a melhor espécie para ser usada como facilitadora no processo silvicultural de restauração, mas certamente, na região do projeto, era o melhor facilitador social para a conversão de áreas agrícolas em florestas, pelas perspectivas de geração de renda já a partir do quarto ano. A previsão inicial era a de que as árvores nativas fossem plantadas como um banco de conservação genética, com coletas regionalizadas de espécies nativas importantes para a região. Dessa forma, cada Reserva Legal seria parte de um processo maior de conservação genética. 187 produtores efetivamente instalaram e registraram suas reservas legais no Instituto Ambiental do Paraná. Alguns plantaram as espécies nativas, outros não, mas o que aprendemos lá e em outras áreas é que a regeneração natural sob Eucalyptus é abundante e diversificada. Os pesquisadores da Embrapa envolvidos no projeto retornaram à área e acompanharam a regeneração natural e o crescimento das florestas, quantificaram a produção de carbono da biomassa aérea e conversaram com produtores. De modo geral, os resultados foram positivos, tanto do ponto de vista dos produtores quanto do crescimento das florestas. Quem tiver interesse, pode ler sobre isso nas publicações “Regeneração natural em sub-bosque de Corymbia citriodora no Noroeste do Estado do Paraná” , ou no capítulo do livro “Serviços ambientais em sistemas agrícolas e florestais do Bioma Mata Atlântica”, intitulado “Sistemas mistos de espécies florestais nativas com eucalipto em propriedades rurais familiares na região Noroeste do estado do Paraná” . Hoje, com o desafio das mudanças climáticas e com compromissos nacionais de se reflorestarem 12 milhões de hectares, a possibilidade de se usarem espécies de rápido crescimento (não precisa ser eucalipto, poderiam ser acácias, bracatinga, taxi-branco, etc.) talvez seja o mecanismo mais eficiente de indução de proprietários com passivos legais por insuficiência de Reserva Legal. E com uma vantagem, temos conhecimento silvicultural para levá-lo adiante. Nosso desenvolvimento agrícola foi pautado em apoio governamental, financeiro, técnico e conjuntural. Se queremos restaurar florestas naturais, apoios semelhantes têm que ser estabelecidos, e a aceitação do uso de espécies de rápido crescimento como forma de financiamento da produção deve ser aceito universalmente. n
FELIZ NATAL E UM ANO NOVO REPLETO DE REALIZAÇÕES
Gostaríamos de agradecer pela cooperação bem-sucedida no ano de 2019 e desejar um Feliz Natal a todos os nossos clientes e parceiros do segmento. Desejamos que os desafios do próximo ano se transformem em oportunidades de crescimento e realizações, assim como tem sido para a Ponsse nesses 50 anos de existência.
A longger's best friend
Praia de Ponta de Mangue | Maragogi | Alagoas | Fone/Fax 82 3296-3200 3256-3200 reservas@miramarmaragogiresort.com
Diferente por Natureza
pesquisa e desenvolvimento tecnológico
Opiniões
jeito brasileiro de fazer florestas
Não se pode imaginar qualquer previsão sobre o futuro do reflorestamento no Brasil sem uma mínima abordagem sobre a questão tecnológica que se encontra atrelada a essa atividade. Inegavelmente, uma elevada parcela do sucesso que o nosso País alcançou nesse campo, especialmente aquela conduzida de forma intensiva para finalidades econômicas, é por causa do desenvolvimento que alcançamos no campo da tecnologia florestal. Isso é altamente reconhecido, inclusive, no âmbito internacional, visto o interesse despertado por outros países na busca de informações sobre o “jeito brasileiro de plantar árvores”. Se tudo isso é fato, não podemos negar que ainda nos deparamos com grandes e importantes desafios para podermos continuar numa marcha de constante evolução. Há um certo consenso de que, atualmente, os novos ganhos estão a exigir esforços muito maiores do que no passado. O leque de variáveis e influências aumentaram muito, bem como se elevaram os níveis de especificidades e exigências para se manter a atividade florestal, de forma econômica e socioambiental adequada. A visão geral do “basta plantar e colher” de longe ficou para trás, não sendo mais possível, sobretudo, imaginar colocar “tudo num mesmo balaio”. Já virou bordão a afirmativa de que estamos tendo problemas com a produtividade florestal em razão das variações climáticas, que está faltando água e que as árvores estão secando, que as pragas
A visão geral do 'basta plantar e colher' de longe ficou para trás, não sendo mais possível, sobretudo, imaginar colocar 'tudo num mesmo balaio'. "
José Otávio Brito Diretor Executivo do IPEF - Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais
“estão soltas”, que estamos afunilando os plantios em torno de poucos clones, que ainda existe um gap tecnológico nas práticas silviculturais, especialmente nos quesitos mecanização e automação, etc., etc. Sim, os fatos parecem ser esses mesmos, porém há que se ter a devida cautela para ponderá-los, considerando a existência de diferentes nuances regionais.
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Diga-se que, ao longo dos últimos 10-15 anos, ocorreu uma certa “acomodação tecnológica” da silvicultura no Brasil. Nas regiões com tradição no plantio de árvores, muitas decisões foram tomadas no simples conceito de “se está dando certo, para que se preocupar”. Ao mesmo tempo, em se considerando as chamadas novas fronteiras de expansão das plantações, houve uma exagerada generalização de conceitos e práticas, por causa da simples e pura transferência de tecnologia das áreas tradicionais. Hoje, reconhece-se que tais decisões não foram totalmente corretas para garantir a continuidade do mesmo grau de sucesso tradicionalmente apontado para o plantio de árvores em nosso País. Com isso, mais recentemente, percebe-se um incremento na busca por novas informações, resultados e orientações tecnológicas, que possam corrigir ou reorientar alguns aspectos da forma de se plantar árvores. Conforme comentado, há elementos mais específicos e externalidades que precisam ser mais bem estudados e conhecidos. De uma forma ampla, porém, há uma impressão de que o “calo ainda não apertou, para valer”, pois os números que se apresentam no setor, no geral, são expressivos em termos de vantagens competitivas. Isso se considerando especificamente a produção silvicultural e sem entrar no mérito da questão econômica atrelada aos processamentos e destinações dadas à madeira obtida. Mas aí vem a pergunta: E o futuro? Hummm! Bola de cristal? Não!
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Há que se lembrar que, na década de 1960, quando possuíamos apenas 500 mil hectares de florestas plantadas e uma produtividade de 15 metros cúbicos/ ha/ano, houve uma convocação geral para a busca de soluções na direção da melhoria da produtividade e da qualidade da nossa silvicultura. E uma fortíssima e positiva contribuição para isso foi emanada de ações no contexto do desenvolvimento tecnológico. Mas é preciso lembrar que esse desenvolvimento não teria sido alcançado sem o efetivo suporte da pesquisa, que, concomitantemente, se estabeleceu de forma expressiva. Independentemente de qualquer aspecto e sem menosprezo a outros importantes fatores, foi ela quem respondeu, com altíssima eficácia, à demanda tecnológica para se produzir madeira em quantidade e com qualidade, que fez com que o Brasil se tornasse um player mundial no setor. Evidentemente, não se pode esquecer que tudo isso estava baseado num plano político estratégico emanado do governo, com diretrizes claras e de longo prazo, devidamente acordadas com o setor privado. Por sinal, parece-nos estarmos diante de uma nova oportunidade para que tudo isso possa se repetir. A pesquisa e o desenvolvimento tecnológico no setor de florestas plantadas têm especificidades difíceis de se observarem em outras áreas da atividade econômica no Brasil. Uma delas, de altíssima
e positiva relevância, é o modelo de integração e cooperativismo entre os diferentes atores que nele atuam. Em especial, o setor detém o pioneirismo, talvez em escala mundial, na construção de uma forma diferente de produção de conhecimento, que evoluiu na aproximação dos que a geram, representados pelas universidades e institutos de pesquisa, com as necessidades daqueles que se dedicam à chamada “indústria de árvores”. Já há décadas, o setor aboliu o chamado “modelo”, segundo o qual chegar a uma inovação demandaria uma trajetória linear: primeiro a pesquisa científica, seguida de uma etapa de desenvolvimento e depois de inovação propriamente dita, de formas distintas e não rapidamente conectadas com o segmento produtivo. Ainda hoje, o setor conta com um forte elenco de componentes estruturais dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, que permite que os resultados obtidos sejam, na prática, rapidamente absorvidos. Contudo há que se continuar, ou mesmo incrementar, o apoio e o estímulo de ações em tais áreas, mantendo-as como importantíssimos protagonistas, sem os quais não se pode acreditar que tenhamos sucesso na solução das questões, e os desafios que estão e, certamente, continuarão a envolver o jeito brasileiro de “plantar, fazer crescer e produzir árvores”. n
bioeconomia
Opiniões
o futuro do reflorestamento frente a uma nova bioeconomia Exercícios de futurologia envolvem vieses ao elaborar os argumentos que justificam as especulações que fazemos. Se a especulação envolve projeções sobre o desempenho de um setor que provê insumos para a indústria – como o setor de florestas plantadas industriais e o reflorestamento em pequenas ou grandes propriedades –, é esperado que os vieses venham da forma como enxergamos os fatores que afetam a demanda pela matéria-prima produzida.
Assim sendo, para começar, me parece oportuno definir para quão longe no tempo estamos fazendo as previsões. Seguindo uma tendência geral, usarei aqui o ano de 2050 como referência. Também me parece necessário explicitar três blocos de fatores que considero os mais impactantes na demanda futura por reflorestamentos no Brasil. Esses três blocos explicitam o viés da minha opinião sobre o futuro do reflorestamento no País. O primeiro bloco formador se pauta nos argumentos do sociólogo-economista norte-americano Jeremy Rifkin (www.foet.org/). O trabalho desse influente consultor, e conselheiro dos governos chinês e alemão, mostra que vivemos uma transição para a Terceira Revolução Industrial (https://youtu.be/ QX3M8Ka9vUA).
Um cenário, de certa forma otimista para o reflorestamento no Brasil, será ainda mais bem-sucedido se crescente for o estímulo para que indústrias e florestas plantadas se tornem negócios independentes. "
Luiz Carlos Estraviz Rodriguez Professor de Economia e Planejamento Florestal da Esalq-USP
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bioeconomia Nessa transição, os seguintes avanços se observam nos três elementos que alavancaram as revoluções anteriores: 1) nos meios de comunicação, a massiva interconexão digital de coisas e pessoas, 2) nas fontes de energia, o câmbio para novas fontes de origem não fóssil, e 3) nos meios de mobilidade, a conversão para mecanismos de transporte artificialmente inteligentes e automatizados. No segundo bloco, levo em consideração 1) o aumento da população, 2) as mudanças na redistribuição demográfica e composição etária, 3) o consequente efeito dessas tendências sobre a ocupação da terra e sobre o uso do solo cultivável, devido às atuais demandas industriais, e 4) sobre as novas indústrias que se consolidarão (biocombustíveis, biorrefinarias e biomateriais, principalmente os que virão como alternativas ao plástico). Esse é um bloco de complexas relações que certamente impõem crescente pressão pelo aumento da produção em países com significativa parcela das suas terras destinadas à agricultura. Mais especificamente, o aumento em extensão, a elevação da produtividade e a reabilitação de áreas degradadas serão inevitáveis para atender a uma população que passará dos atuais 7,38 bilhões de habitantes (16% na África, 13% nas Américas, 60% na Ásia, 10% na Europa e 1% na Oceania) para 9,77 bilhões em 2050 (26% na África, 12% nas Américas, 54% na Ásia, 7% na Europa e 1% na Oceania), dos quais um em cada seis habitantes terá, em 2050, mais de 65 anos de idade. Como terceiro e último bloco, formador de uma visão de futuro, considero as vantagens competitivas do Brasil e a expectativa de que os produtos de origem florestal continuarão na pauta dos mais exportados pelo País. Acho, inclusive, que a participação desses produtos no valor das exportações do agronegócio nacional será maior do que a apresentada atualmente. Hoje, esse valor é superado apenas pelo complexo soja, carnes e açúcar-alcool. Se considerarmos que as fibras de origem celulósica não encontrarão substitutos em grande escala e que o consumo de embalagens (corrugados e cartões) e de papéis absorventes (toalhas de papel, lenços, higiênicos e guardanapos) manterá a tendência de crescimento, me parece razoável prever que, em termos de valor das exportações, os produtos florestais representarão, em 2050, mais do que os atuais 12% do total gerado pelo agronegócio brasileiro. Isso significará, inclusive, mudar a forma como a celulose bruta (54%), madeira (27%) e papel (18%) irão compor a participação no agronegócio. Retomando, portanto, o exercício de previsão de como o reflorestamento no Brasil terá que atender às demandas geradas pelas tendências de uma nova economia em 2050, me parece razoável dizer que
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1) a área será muito maior do que a atual, 2) o setor terá mais pequenos e médios produtores, 3) parcela significativa das terras hoje degradadas no Brasil terão se convertido para reflorestamentos; e 4) a produtividade média por hectare reflorestado será maior. Justificam-se essas afirmações pelos argumentos já apresentados: a menor dependência de combustíveis fósseis, promovendo a viabilidade de florestas energéticas; a maior dependência de fontes renováveis de energia e de biomateriais, estimulando a criação de novos usos para a biomassa florestal; processos produtivos digitalmente interconectados que melhor atenderão a demandas autonomamente planejadas por modelos de inteligência artificial em redes mundiais autônomas de transações, evidenciando ainda mais a lógica da nucleação da produção de fibras em países como o Brasil; uma população da qual 70% viverão integrados a um mercado demandante de embalagens e papéis absorventes na África (2,53 bi), Índia (1,66 bi), China (1,36 bi) e Américas (1,21 bi), mantendo forte a demanda por fibras de origem celulósica; e a produtividade das nossas florestas plantadas, que crescerá aliada à competitividade do agronegócio brasileiro, mantendo custos e margens economicamente atraentes para os nossos produtores florestais. Esse cenário, de certa forma otimista para o reflorestamento no Brasil, será ainda mais bem-sucedido se crescente for o estímulo para que indústrias e florestas plantadas se tornem negócios independentes. A verticalização e a vinculação da produção industrial ao plantio da matéria-prima florestal não são saudáveis para a consolidação de um eficiente e eficaz setor de reflorestamento. A vinculação das atividades reflorestadoras à indústria torna o produto final desse esforço um item de custo. Por outro lado, se as atividades reflorestadoras fossem um fim econômico em si para os responsáveis pela sua gestão, formas mais eficientes e competitivas de produção surgiriam. Basta lembrarmo-nos de que minimizar custos gera estratégias menos atraentes do que maximizar lucros. Enfim, como mensagem final que potencializa o cenário positivo para o reflorestamento brasileiro de 2050, creio ser importante dizer que a indústria já cumpriu com o seu papel de criar a extensa base produtora de matéria-prima que hoje temos. A gradual transição para um modelo em que as áreas produtoras de matéria-prima se profissionalizam como negócios independentes levará a ganhos em todos os níveis, e o Brasil crescerá ainda mais como potência florestal mundial. Mas esse parece ser tema para uma outra oportunidade, não é? n
silvicultura 4.0
Opiniões
o que seria e como alcançar a
floresta 4.0
Atualmente, há muitas discussões sobre a revolução tecnológica das cadeias globais de valor: a indústria 4.0. A sua versão para as cadeias de valor florestais é chamada de Floresta 4.0. Para refletirmos sobre como alcançar a última, parece-nos que um ponto de partida razoável seria explorar o conceito de indústria 4.0 em si. Esse conceito ganhou fama a partir da Hannover Messe de 2011, a principal feira mundial de tecnologia industrial. Surgiu, naquele mesmo ano, como uma iniciativa estratégica do governo alemão para a transformação computacional da indústria. A premissa do programa é a de que o advento da internet das coisas (IoT) abriria as portas para a Quarta Revolução Industrial. As três revoluções anteriores seriam a mecanização (impulsionada pela máquina a vapor), a produção em massa (impulsionada pela eletricidade e linhas de montagem) e a automação (impulsionada pelos dispositivos eletrônicos e computadores). Mas como a IoT impulsionaria uma nova revolução industrial? Essencialmente, a IoT maximizaria a cooperação numa ”indústria inteligente”
(smart factory), pois as máquinas se comunicariam, em tempo real, com os humanos e entre elas mesmas. Contudo boas decisões geralmente exigem informações contextuais propícias. Portanto, em conjunto com a IoT, os ”sistemas ciberfísicos” (CPS) estariam no cerne da indústria inteligente. Segundo o conceito de CPS, toda a indústria seria digitalizada, de tal modo que cada objeto e processo receberia um ”irmão digital”. Os CPS analisariam dados, fariam simulações, antecipariam falhas, indicariam melhorias e até responderiam no mundo físico. Imagine agora que os CPS estivessem integrados à IoT. Ou seja, receberiam dados em tempo real de praticamente tudo que estivesse acontecendo na indústria física, tal como enviariam informações contextuais para as máquinas e as pessoas dessa indústria. Considere agora que os CPS de todas as indústrias da rede global de valor estivessem conectados à IoT, assim como os serviços de logística, os serviços de infraestrutura (como água e energia) e os consumidores finais. O resultado disso tudo seria uma cadeia de valor inteligente. Dentre seus maiores benefícios, permitiria a personalização de produtos e ainda de forma rápida e barata. Acima de tudo, asseguraria a hegemonia econômica e tecnológica da Alemanha.
A Quarta Revolução Industrial deverá ampliar a possibilidade de se gerar, transmitir e integrar dados. Contudo como transformar dados em conhecimento ainda dependerá da combinação entre a 'boa e velha pesquisa científica', com o conhecimento prático dos especialistas. "
Rafael Küster de Oliveira
Professor de Engenharia Ambiental da PUC-Curitiba
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silvicultura 4.0 Antes do programa alemão, outros países já faziam pesquisas de inovação industrial com base na IoT ou CPS. Não obstante, a indústria 4.0 foi o conceito que popularizou. Apesar da sua enorme repercussão, é difícil explicar o que realmente significa. Presume-se conhecer algumas de suas principais tecnologias. Além da IoT e do CPS, vale destacar o Big Data, computação em nuvem, manufatura aditiva (impressão 3D), inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada, blockchains e cobots. Contudo se trata de tecnologias muito promissoras da Terceira Revolução Industrial. Portanto cabe questionar se estaríamos realmente beirando a Quarta Revolução ou apenas vivenciando os desdobramentos da Terceira. Afinal, qual seria o limiar entre as duas? Para complicar ainda mais esse questionamento, alguns argumentam que o escopo dessa revolução é algo muito maior. Nesse sentido, Klaus Schwab, o fundador do Fórum Econômico Mundial e autor da obra A Quarta Revolução Industrial, ressalta que ondas de novas descobertas ocorrem simultaneamente em áreas que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis à computação quântica. Para Schwab, a Quarta Revolução Industrial contemplaria a fusão tecnológica entre os domínios físicos, digitais e biológicos, enquanto que a indústria 4.0 estaria limitada à fusão entre os dois primeiros domínios. Feita as devidas considerações, cabe questionar o que seria a floresta 4.0 e como alcançá-la. Sem sombra de dúvida, a silvicultura é a etapa da cadeia de valor florestal que mais diferencia a floresta 4.0 da indústria 4.0 “convencional”. Logo, focaremos na silvicultura 4.0. Para simplificar ainda mais, proporemos o seguinte questionamento: Como a IoT e os CPS revolucionariam a silvicultura atual? Um dos principais prognósticos para o futuro da silvicultura de precisão é a obtenção de dados florestais detalhados por meio de múltiplos sensores. A IoT possibilitaria transmitir, em tempo real, os dados desses sensores para os CPS. Seguindo o raciocínio do programa alemão da indústria 4.0, os múltiplos dados florestais alimentariam os CPS. Dotados de uma floresta “gêmea” digitalizada, esses supermodelos florestais analisariam os dados e, em seguida, retroalimentariam as pessoas e as máquinas (como um harvester ou um feller buncher) com informações para o manejo florestal. Essas pessoas e máquinas poderiam, então, tomar decisões de forma mais rápida e mais descentralizada. É difícil prever em que extensão os CPS seriam capazes de simular a complexidade inerente às florestas, mesmo que se trate de um plantio clonal. Pois, até os dias de hoje, os modelos de simulação florestal funcionam, na melhor das hipóteses, como abstrações mais ou menos grosseiras da realidade.
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Opiniões Certamente, qualquer floresta é mais complexa que qualquer linha de produção industrial. Embora os CPS silviculturais talvez não sejam tão precisos quanto aqueles industriais, serão essenciais para a silvicultura 4.0. Afinal de contas, não adiantará gerar múltiplos dados florestais detalhados se não tivermos ferramentas para analisá-los. Mas de onde virá o conhecimento silvicultural para embasar esses supermodelos florestais? Essa resposta é simples: da boa e velha pesquisa florestal. Curiosamente, os países que lideram as pesquisas sobre a IoT e CPS – como a Alemanha, a China e os Estados Unidos – também são grandes referências mundiais no que se refere ao monitoramento e à experimentação florestal. Na Europa, por exemplo, publicou-se recentemente uma série de estudos sobre o efeito da diversidade de espécies arbóreas sobre a produtividade, qualidade da madeira e uma gama de funcionalidades florestais (um assunto que eles denominam: BFF – Biodiversidade e Funcionalidade Florestal). Contemplaram-se múltiplas escalas espaciais, chegando-se até quase todo o continente europeu. Para tanto, foi necessário cruzar os resultados de múltiplos inventários e experimentos florestais espalhados pelo continente por meio de ferramentas de estatística e modelagem. Um objetivo central foi o de fomentar conhecimento silvicultural para florestas mistas. Ressalta-se que essas pesquisas de BFF só estão sendo possíveis porque os inventários e experimentos florestais já existiam. No futuro, esses estudos de BFF talvez possibilitem aprimorar os CPS florestais europeus. Por fim, quais seriam as contribuições da floresta 4.0 no Brasil? Talvez a mais importante seria integrar a cadeia produtiva como algo jamais visto, de tal modo que as atividades silviculturais sejam “personalizadas” em função das preferências do consumidor final. De quais produtos florestais o consumidor realmente precisa? E quais as exigências dele em relação aos impactos socioambientais desses produtos? A floresta 4.0 possibilitará maximizar o valor dos produtos florestais para o cliente, e ainda de forma eficiente. Porém, para que o setor florestal brasileiro atinja tal patamar, será preciso investir fortemente em ecossistemas de inovação (afinal, essas tecnologias não cairão do céu) e em capital humano (capacitação humana para tirar máximo proveito das novas tecnologias). A Quarta Revolução Industrial deverá ampliar exorbitantemente a possibilidade de se gerar, transmitir e integrar dados. Contudo como transformar dados em conhecimento ainda dependerá da combinação entre a “boa e velha pesquisa científica”, com o conhecimento prático dos especialistas. n
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políticas públicas
incentivo para as florestas do futuro Parece-nos essencial iniciarmos este artigo pela definição de política pública, que vem a ser um conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos com a participação, direta ou indireta, de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado direito de cidadania. E é interessante notar que, desde o primeiro código florestal de 1934, as florestas já eram consideradas importantes para além da propriedade rural, conforme o que dispunha o Art. 1º: “As florestas existentes no território nacional, consideradas em conjunto, constituem bem de interesse comum a todos os habitantes, do país, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que as leis em geral, e especialmente este código, estabelecem”. Para atender às demandas da sociedade atual, o momento exige uma nova abordagem em relação às florestas de produção, daí surge o conceito das florestas multifuncionais, que devem prover serviços ecossistêmicos e garantir a manutenção da biodiversidade e de processos ecológicos, para além de produtos voltados para consumo humano. Para se compreender o momento atual do papel das florestas na sociedade, é importante resgatar a evolução da percepção sociedade em relação às florestas (e todas as demais formas de vegetação nativa) ao longo do tempo:
está surgindo uma 3ª categoria de florestas – a das florestas plantadas com nativas, com fins ambientais e também econômicos, ou florestas multifuncionais, que podem vir associadas com espécies exóticas "
Maria José Brito Zakia
Diretora da Práxis Assessoria Socioambiental Coautora: Natalia Guerin, Consultora florestal
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Fase 1 (de 1934 até 1986): A floresta na propriedade rural estava a serviço da propriedade. • A floresta protegia a água (daí o interesse comum do povo) e solo ou produzia madeira para a propriedade; • Não se pensava em conservação da biodiversidade; • O desmatamento era incentivado, mas havia obrigação de se respeitar limites. Entretanto, as propriedades já desmatadas (legalmente) estavam rigorosamente dentro da lei; • A partir de 1986, o desmatamento deixa de ser incentivado. Nesse período, a silvicultura já estava consolidada em relação a espécies exóticas. A ecologia da restauração começa a ganhar espaço. Fase 2 (de 1986 a 2000): A floresta na propriedade rural passa a ser vista como elemento ambiental e de conservação da biodiversidade. • Começam a aparecer novas interpretações ao Código Florestal, principalmente após a promulgação da Constituição Federal em 1988. Entretanto, o foco das políticas públicas estava nas florestas em pé, e não na recomposição, exceto em Áreas de Preservação Permanente, principalmente de zonas ripárias; • Em 1991, a Política Agrícola traz, pela primeira vez, a necessidade de recomposição da Reserva Legal; • Neste período, a restauração ecológica passa a ser uma realidade e nos anos 1990 surgem as primeiras aplicações dos conceitos de ecologia da paisagem.
Opiniões Fase 3 (de 2000 a 2012): A Reserva Legal passa a ser ambiental e surge a obrigação de sua recomposição. • A propriedade deve estar a serviço da floresta, mas ainda mantém sua função de prestadora de serviços à propriedade; • A Reserva Legal passou ser tratada pelo decreto que regulamenta a lei dos crimes ambientais. A ecologia da restauração, a silvicultura e a ecologia de paisagem começam a nortear os projetos de recomposição; • A recomposição e conservação florestal passam a ser instrumentos das ações de mitigação das Mudanças Climáticas. Fase 4: A partir de 2012 e em fase de consolidação. • A atividade florestal econômica que existe desde a fase 1 era focada essencialmente em plantios de árvores exóticas (Pínus e Eucalipto). Surge então a discussão das florestas nativas plantadas voltadas para produção, sem perder de vista seu caráter ambiental; • A restauração ecológica evoluiu dissociada da silvicultura e para fins de produção de madeira, especificamente, a ausência de aplicação de técnicas silviculturais resultou em fracassos no campo. Surge o termo “Silvicultura de Nativas”, que evidencia a importância e a necessidade da combinação de técnicas silviculturais e da restauração quando se almeja conciliar a produção, conservação e manutenção de processos ecológicos. • A atuação dos órgãos ambientais é mais enfática e, neste momento, procura normatizar as ações de restauração e produção de modo a garantir a manutenção de processos ecológicos e conectividade da paisagem. Desse modo, tanto plantios voltados para recomposição de áreas legalmente protegidas, quanto nas áreas de uso econômico, há uma preocupação com os aspectos ambientais da propriedade.
Um bom exemplo está no Programa Remanescentes, previsto na Política Estadual de Mudanças Climáticas do estado de São Paulo. Historicamente, pode-se dizer que saímos da fase dos códigos florestais (1934 e 1965), que dura até 1988. com a promulgação da Constituição, para um sistema jurídico de proteção, conservação, restauração da vegetação nativa e recentemente apoio às florestas plantadas, seja com exóticas ou nativas. No processo histórico, o marco legal ficou dividido entre normas para contemplar o reflorestamento com espécies exóticas (tanto incentivo como limitações) e marcos para tentar conter o desmatamento ilegal. No momento em que se quer plantar espécies nativas, essa atividade fica envolvida pelas restrições impostas aos plantios e as restrições impostas ao uso de nativas . O que está surgindo é uma 3ª categoria de florestas – a das florestas plantadas com nativas, com fins ambientais e também econômicos, ou florestas multifuncionais, que podem vir associadas com espécies exóticas. Os desafios por uma nova silvicultura fizeram com que a FAO envidasse esforços para uma nova definição. Recentemente a FAO vem trabalhando para uma nova definição para florestas, introduzindo o conceito de florestas multifuncionais. O diagrama em destaque foi traduzido e modificado a partir do diagrama apresentado por Hans Thiel, em 2018. Há, portanto, um arcabouço jurídico adequado para os desafios e necessidades futuras, bem como há metas ousadas, porém, exequíveis e há ainda a previsão dos instrumentos necessários, inclusive financeiros. No entanto ainda não há o ambiente institucional e procedimentos administrativos claros que viabilizem a concretização dos planos florestais estabelecidos. n
FLORESTAS NATIVAS
PLANTAÇÕES FLORESTAIS
PRIMÁRIA
ALTERADA
COM MANEJO
Florestas de espécies nativas onde não existem indicações visíveis/claras de atividades humanas e os processos ecológicos não foram alterados de forma significativa.
Floresta nativa em via de regeneração natural e onde existem sinais visíveis de atividade humana.
Florestas sob manejo silvicultural intensivo que pode incluir regeneração natural assistida, roçadas, adubações, desbastes, podas, corte seletivo, entre outras atividades.
FLORESTAS PLANTADAS <–––> PLANTIO DE ÁRVORES Floresta estabelecida por meio de plantação, de semeadura ou condução de rebrotas onde as árvores plantadas representam pelo menos 50% do volume no momento do manejo. Mais nativas Menor Pouco Mais ampla Maior Seletivo
Nº de espécies Mais exóticas Intensidade de manejo Maior Uso de insumos Muito Base genética Mais reduzida Uso de regeneração natural Menor aproveitamento Total (corte raso)
FUNÇÕES E VALORES Produzir madeira, fibras e combustíveis Produzir produtos florestais não madereiros Conservar a biodiversidade Regular o regime hídrico Conservar o solo Prevenir desertificação Estabilizar dunas Sequestrar carbono Servir como sumidouro de carbono Servir para a recreação, preservar valores culturais Restaurar paisagens Fortalecer resiliência da população rural
Florestas Plantadas Multifuncionais
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empreendimentos florestais
Opiniões
o futuro do setor florestal O Brasil tem 7,8 milhões de ha plantados com eucaliptos, pínus e outras espécies florestais! Chegaremos a 10 milhões de ha? A 15 milhões? A 20 milhões de ha? Com toda a certeza! Mais do que nunca, a consciência ambiental e a constante procura por produtos de madeira plantada colocam o Brasil em posição de destaque para atender ao mercado interno e ao mundo. O uso de papéis, chapas e outros produtos da madeira certificados já é uma realidade irreversível. A nova geração já está condicionada e escolhendo produtos certificados, o que implicará uma demanda cada vez menor da madeira nativa que, gradativamente, perde espaço, fica com menor oferta, dado o rigor da comprovação de origem, além de se tornar pouco competitiva quanto aos custos. O uso da madeira nativa será considerado um nicho, e a oportunidade será para a madeira de floresta plantada. A floresta plantada terá um papel muito importante no novo contexto mundial. O reflorestamento será utilizado para atender a metas dos países na redução de emissão de carbono.
O mundo passou por transformações profundas em relação aos detentores de florestas reflorestadas. Nos últimos 40 anos, simplesmente, trinta e nove dos maiores detentores de florestas são novidade. "
José Maria de Arruda Mendes Filho Diretor da Lacan Participações
Coautores: Luiz Augusto Candiota e Guilherme Ferreira de Oliveira - Diretores da Lacan Participações
O Brasil, por exemplo, tem uma meta de reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030 e, pelo grande conhecimento no setor e área disponível, poderá ajudar outros países a atingir as suas metas também. Um novo grande vetor de crescimento será o uso de floresta plantada para projetos de geração de energia com biomassa para consumo interno e exportação para a rede de distribuição.
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Além disso, a biomassa de madeira pode ser utilizada para a produção de pellets, combustível renovável em grande expansão no hemisfério norte. Alguns estados do Brasil, bola da vez para plantios florestais, continuam despertando interesses e atraindo investimentos. Na última década, o Mato Grosso do Sul foi o estado que mais cresceu em plantios florestais, sempre ocupando o lugar das pastagens degradadas. Outros estados despontam para as próximas décadas, ocupando também áreas não utilizadas para a agricultura intensiva, além do crescimento dos plantios já consagrados na produção de madeiras plantadas. Uma marca registrada para as próximas décadas será o trabalho técnico de alto nível visando à condução da brotação para o segundo e até para o terceiro ciclo. Já superamos a fase de apenas uma rotação para as florestas clonais de eucaliptos. A conscientização dos operadores das máquinas de colheita de que eles têm dupla função, ou seja, de colher a boa floresta disponível, bem como ser o “plantador” do próximo ciclo, é fundamental para o sucesso das produtividades seguintes. Aliando-se ainda à execução de excelentes práticas silviculturais já conhecidas, bem como à eficiência no controle de qualidade de todas as operações e insumos florestais, continuaremos tendo florestas
empreendimentos florestais de alta produtividade a custos bem competitivos no segundo e até no terceiro ciclo da floresta plantada de eucalipto. As experiências comerciais das florestas plantadas já deixaram marcas muito claras de como o mercado atua e suas sutilezas. O pínus exige, no mínimo, dois a três compradores distintos para se obter o máximo retorno de uma mesma árvore; já o eucalipto, no seu ciclo tradicional de 6 a 8 anos, deverá estar plantado numa distância que atenda a um grande consumidor. Não basta apenas plantar. É preciso identificar a tendência, a vocação do mercado na região de plantio. O brasileiro já aprendeu que plantar florestas sem um consumo definido na região poderá “micar” com a floresta em pé! Uma das evidências do futuro promissor do setor florestal brasileiro é o exemplo de ser um empreendimento sustentável. Como destaque, temos que, para cada hectare plantado, há praticamente um hectare de mata nativa preservado ou em recuperação. Atitude há tempos incorporada no setor florestal. A pesquisa florestal foi e continuará sendo a grande retaguarda para o sucesso do empreendimento florestal. A identificação de clones com alta capacidade de adaptação, excelente produção e qualidade da madeira adequada ao uso; a identificação de pragas e doenças, bem como seus controles, darão sustentação ao técnico para a implantação das novas e modernas técnicas silviculturais que registrarão o futuro promissor das florestas plantadas.
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O mundo passou por transformações profundas em relação aos detentores de florestas reflorestadas. Nos últimos quarenta anos, simplesmente, trinta e nove dos maiores detentores de florestas são novidade. O ativo florestal passa a ser percebido, pelos maiores fundos de pensão, endowments e fundos soberanos do mundo, como uma reserva de valor e, também, um ativo de geração de fluxo de caixa e retorno mais interessante que os ativos financeiros. A mesma tendência tem ganhado força no Brasil nos últimos dez anos, com a entrada maciça de investimentos dos investidores institucionais, com visão de longo prazo, no mercado de reflorestamento. O Brasil, entrando na normalidade de juros reais mais baixos e civilizados, deverá presenciar uma verdadeira revolução na migração de ativos por parte dos maiores detentores de poupança do País, notadamente os investidores institucionais, que miram investimentos de longo prazo. Assim, tudo indica que ativos florestais, de qualidade, com a produtividade brasileira e com a previsibilidade de geração de retorno de médio e longo prazo, tendem a ser cada vez mais cobiçados e demandados por aqueles que procuram investimentos seguros, sustentáveis e geradores de fluxo de caixa. Investimentos florestais seguem uma lógica totalmente diferenciada dos ativos financeiros tradicionais, portanto tornam-se uma alternativa interessante de diversificação, combinando segurança e retorno de longo prazo. É a floresta plantada gerando valor, conforto, bem-estar e cultura para o homem! n
transformação genética
Opiniões
um dos deveres do melhoramento:
ampliar a tolerância a geada
Quando se comenta sobre tolerância a geadas, lembro-me de uma das questões das inúmeras provas que fiz durante minha graduação: “Por que o Eucalyptus grandis de Coffs Harbour NSW/Austrália não suporta a geada que ocorre na região Sul do Brasil? Apesar de ocorrerem várias geadas anualmente na região de origem da espécie”. A resposta está relacionada ao desafio brasileiro e com o que ocorre na Austrália. A região de Coffs Harbour é de clima subtropical e independente do maior número de geadas por ano (são geadas chamadas de “branca” (white ou hoar frost), por causa da deposição do vapor d’água congelado sobre as folhas. A resposta está relacionada a alguns fatores, como a amplitude térmica das geadas que ocorrem em vários locais do Brasil, ou seja, não era apenas considerar o número de geadas, mas a intensidade delas. Parece intuitivo, mas na prática não é “tão” simples.
Na minha opinião, a tolerância a esse fator biótico é dever dos programas de melhoramento genético que atuam em condições subtropicais. O melhoramento é a maneira mais eficaz de lidar com a maioria dos estresses que ocorrem nos plantios comerciais de qualquer cultura de importância econômica. Apesar de eficaz, demanda tempo e trabalho. Acredito que o melhoramento clássico seja fundamental, e não estou descartando a biotecnologia (engenharia genética), que pode e deve auxiliar no processo, afinal de contas, já são conhecidos genes e rotas metabólicas que atuam nas tolerâncias das plantas. O melhorista precisa contar com as várias áreas do conhecimento para entender o processo e ter capacidade de utilizar o ferramental disponível.
quanto maior o leque de opções para o melhorista, maior a chance de obter êxito, mas é claro que não podemos perder o foco e muito menos a base genética "
Paulo Henrique Müller da Silva
Pesquisador do IPEF, responsável por melhoramento genético
Outro ponto importante: a inclusão de uma das mais plantadas espécies de eucalipto do mundo, o E. grandis. A espécie apresenta incremento médio anual imbatível em condições ambientais adequadas, porém possui características que devem ser melhoradas, inclusive a tolerância a geada. Responder à pergunta da prova foi fácil, mas, na “vida real”, existe a necessidade de muito trabalho e a junção de várias áreas (climatologia, fisiologia, nutrição, manejo, etc.).
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transformação genética Vou opinar sobre o clássico, que utiliza a diversidade obtida com a evolução e que atua em combinações que não ocorreriam espontaneamente. Um ponto positivo para o melhoramento clássico são os bons resultados obtidos no nosso país e países vizinhos, nas instituições públicas e privadas, em relação à melhoria da tolerância ao frio. O primeiro passo é conhecer o ambiente. Temos ótimas condições de solo e precipitação para produção florestal. No entanto temos grande amplitude térmica nas geadas da região Sul do Brasil e também nos países vizinhos, como Argentina e Uruguai. Para exemplificar: implantamos um experimento em Curitibanos (SC), uma parceria Ipef e UF-SC, observamos grandes amplitudes térmicas diárias na média de 24 °C − a maior foi de 32,9 °C no ano de 2018. No estudo conduzido em Curitibanos, discutimos que uma geada isolada pode causar maiores danos às plantas que a ocorrência de várias geadas em sequência, pois, com a queda da temperatura abrupta, a planta não tem tempo de se “preparar” para tolerar o congelamento. A escolha do material genético (gênero, espécie, procedências, etc.) é fundamental, mas devemos lembrar que a tolerância é uma das várias características de interesse. Entre os eucaliptos, podemos destacar algumas espécies, Eucalyptus benthamii, E. dunnii, E. nitens e E. viminalis, que pertencem ao mesmo subgênero das duas principais espécies trabalhadas no Brasil. Existem muitas outras espécies, inclusive de outros gêneros, com tolerância ao frio, e nosso portfólio de espécies deve ser ampliado. Mas cabe ressaltar que é um trabalho de longo prazo e que pode ser conduzido por instituições de pesquisa. No Ipef, temos essa linha de trabalho que facilita o acesso ao germoplasma. A facilidade se deve, principalmente, ao tempo necessário para fazer a seleção e também à ocorrência do florescimento. É inviável buscar material na origem e imaginar que será inserido rapidamente nos programas de melhoramento, já que não trabalhamos com culturas anuais. As quatro espécies destacadas apresentam boa tolerância ao frio, mas existem diferentes níveis de tolerância e de outras características entre elas. O Eucalyptus nitens e o E. viminalis deixam a desejar quanto ao crescimento na maioria dos locais. O que é comumente observado, pois espécies com tolerâncias aos estresses apresentam menor produtividade que as outras, como o E. grandis. As quatro espécies destacadas apresentam algumas características não interessantes, como enraizamento “ruim” e também florescimento mais tardio do que as mais difundidas no Brasil. Características que dificultam a adoção comercial e o melhoramento do material. Gosto do E. dunnii, talvez a espécie de menor tolerância a geada das quatro destacadas. A espécie apresenta bom crescimento e qualidade de madeira
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Opiniões adequada para várias finalidades. Existem inúmeros programas de melhoramento da espécie. Tive a satisfação de conhecê-los em várias empresas e também na Embrapa, bem como no Inta (Argentina), sendo, entre as espécies destacadas, a mais melhorada. O programa cooperativo de melhoramento do Ipef, em parceria com a empresa Palmasola, implantou a população em Santa Catarina, e um dos motivos foi o ambiente propício para seleção de material tolerante a geada e a ocorrência de florescimento, além de se tratar de uma excelente empresa parceira. Um ponto forte e que trabalhamos no Ipef é a hibridação; temos o híbrido com E. urophylla, que gerou indivíduos muito bons, com potenciais de se tornarem clones comerciais para diferentes regiões do País. O E. dunnii também apresenta bom crescimento em regiões mais quentes. O E. benthamii despertou minha atenção pela alta tolerância ao frio, apesar da região de origem não ser as com as ocorrências das geadas mais fortes da Austrália, ou seja, se considerássemos apenas a similaridade climática, a espécie não seria escolhida. É importante, para nós, melhoristas, não ficarmos presos a alguns conceitos preestabelecidos, ou seja, não sermos “preconceituosos”. A população implantada pelo programa de melhoramento cooperativo está também em Santa Catarina, na empresa Klabin, pelos mesmos motivos da população de E. dunnii. Qual estratégia escolher para o melhoramento? O primeiro passo é ter base genética, fundamental para qualquer programa de melhoramento. O segundo passo é trabalhar com o avanço da geração de melhoramento via seleção recorrente e, em paralelo, com maior intensidade de seleção, podendo selecionar material em condições de geada (de ampla amplitude térmica). Se a espécie pura não atender à demanda do produto final (produtividade e/ou qualidade da matéria-prima), podemos trabalhar na hibridação, quando tivermos espécies compatíveis. Muitos híbridos simples podem atender à demanda comercial e ser clonados em larga escala. No entanto, a partir da segregação obtida com os híbridos, podemos definir diferentes linhas de trabalho, como estabilizar o híbrido com novos cruzamentos, com as espécies parentais ou mesmo uma terceira espécie. Também é possível, a partir dos híbridos, pensar em populações sintéticas com o objetivo de juntar, em um único indivíduo, características de diversas espécies. O mais importante é destacar que as estratégias podem ser conduzidas paralelamente e que não são concorrentes. Acredito que sejam complementares, pois quanto maior o leque de opções para o melhorista, maior a chance de obter êxito, mas é claro que não podemos perder o foco e muito menos a base genética. n
transformação genética
a realidade da transgenia no Brasil Até meados do século passado, parte considerável da comunidade acadêmica acreditava que a fome ocorreria em escala global de forma inevitável, trazendo prejuízos enormes aos seres humanos, especialmente aos mais pobres. O economista britânico Thomas Malthus (1766-1834), por exemplo, alertou que a produção agrícola estagnada ou aumentando lentamente (escala aritmética) e o crescimento acelerado da população (escala geométrica) provocariam a escassez de alimentos de forma intensa e duradoura. Esse cenário levaria ao surgimento de conflitos sociais, guerras, pandemias e outras catástrofes. O cenário mudou apenas na década de 1950 com a chamada Revolução Verde, que enterrou a teoria de Malthus por meio do desenvolvimento acelerado de: 1) melhoramento genético e sementes melhoradas, 2) mecanização da produção, 3) fertilizantes e agroquímicos, 4) gerenciamento profissional da produção. A partir desse ponto, o uso de ciência e tecnologia aumentou significativamente a produção de alimentos e afastou o fantasma de uma epidemia de fome.
Norman Borlaug (1914-2009), o pai da Revolução Verde, obteve resultados extraordinários atuando no melhoramento genético do trigo e propagando os avanços tecnológicos da agricultura. Em 1970, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento ao seu trabalho. Estima-se que a Revolução Verde tenha evitado a morte prematura de 1 bilhão de pessoas. Em nosso País, a adoção de tecnologia intensiva possibilitou aumento médio de 300% na produção de grãos (kg/hectare), de 1980 até hoje. O desenvolvimento tecnológico foi fundamental para transformar o Brasil em grande exportador de alimentos. Na década de 1980, o incremento médio anual do eucalipto girava em torno de 20 metros cúbicos por hectare. Hoje, a produtividade é de 35 metros cúbicos, podendo chegar a 50 metros cúbicos por hectare em alguns estados. Esse avanço é resultado da adoção de ciência e tecnologia pelo setor. Embora a agricultura e a silvicultura sejam mais produtivas hoje, os desafios da produção e da distribuição de alimentos e de madeira se renovam. O aumento da área plantada com monocultivos favorece pragas
Um único clone chega a representar 50% da área reflorestada em locais extremamente importantes para o abastecimento industrial. Não é difícil imaginar o desastre que aconteceria se esse clone apresentar problemas "
Eduardo José de Mello
Vice-presidente de Melhoramento Genético da FuturaGene
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Opiniões e doenças já existentes e abre portas para o aparecimento de outras até aqui secundárias. A sustentabilidade da eucaliptocultura brasileira, nesse cenário, depende, cada vez mais, do resultado do trabalho dos melhoristas que atuam no desenvolvimento de novos clones. Mas acelerar a produção de novos clones é especialmente difícil nessa espécie, já que, ao contrário de outras culturas, que conseguem produzir duas ou mais colheitas em um ano, o eucalipto leva, em média, 6 anos. O tempo necessário para a obtenção de um clone comercial, produtivo e seguro para o silvicultor é de 15 a 20 anos, e a presença de um clima mais hostil, de novas doenças e de pragas, requer um tempo de resposta mais rápido. Diante da dificuldade de lançar novos clones, uma consequência comum é o intenso uso de poucos clones em extensas áreas de plantio de eucalipto. Um único clone chega a representar 50% da área reflorestada em locais extremamente importantes para o abastecimento industrial. Não é difícil imaginar o desastre que aconteceria se esse clone apresentar problemas de susceptibilidade a insetos, doença ou deficiência hídrica. Nas últimas décadas, o melhoramento de espécies agrícolas, em especial milho e soja, tornou-se mais ágil e eficiente ao adotar ferramentas mais modernas. Seleção assistida por marcadores moleculares, transgenia e, mais recentemente, edição gênica foram incorporadas definitivamente e prometem gerar novos cultivares em menos tempo. Para o setor florestal, avançar nesse sentido ainda é um desafio, já que não dispõe de ferramentas moleculares eficientes para acelerar o programa de melhoramento, a despeito de trabalhos promissores que estão sendo conduzidos. Na transgenia, a FuturaGene, empresa de biotecnologia da Suzano, deu um passo importante com o desenvolvimento e aprovação do uso comercial para o primeiro eucalipto geneticamente modificado. Esse eucalipto apresenta produtividade superior ao clone original e foi aprovado pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional em Biossegurança) em 2015. Derivados desse clone estarão disponíveis para a realização de plantios em maior escala nos próximos anos. A edição gênica ainda não é uma realidade para o eucalipto, embora alguns laboratórios já tenham obtido protocolo inicial para trabalhar com essa espécie, o que abre uma janela de possibilidades. Essa tecnologia é extremamente poderosa e deverá trazer resultados inimagináveis num futuro não muito distante. Além do eucalipto geneticamente modificado visando ao aumento da produtividade, também estamos trabalhando com outras características importantes para a eucaliptocultura, como a tolerância a herbicida e a resistência a insetos.
Essas duas características estão presentes em quase a totalidade de cultivares agrícolas de milho, soja e algodão, representando mais de 95% do mercado mundial de sementes transgênicas. Experimentos de campo com eucalipto tolerante a herbicida e resistência a lagartas já foram instalados no Brasil, e os resultados iniciais são excepcionais. Nos próximos três anos, diversas análises serão realizadas visando garantir que esses eucaliptos geneticamente modificados são seguros ao meio ambiente e ao ser humano. A metodologia científica aplicada nessa fase de estudos regulatórios foi especialmente desenhada para verificar se a planta geneticamente modificada apresenta a mesma segurança quando comparada com a planta original não modificada. Todos esses estudos são regulados pela CTNBio, reconhecida mundialmente pela competência e seriedade na regulação e garantia da biossegurança no desenvolvimento de produtos biotecnológicos. O potencial da biotecnologia, no entanto, não para por aí. Diversas outras características úteis podem ser intensificadas ou modificadas nos cultivares mediante transformação ou edição gênica. No setor de produção de celulose, a modulação da produção de lignina deve trazer significativa vantagem industrial e ambiental. Descobertas recentes abrem caminho para o desenvolvimento de madeira muito mais fácil de ser processada, gerando redução no consumo de energia e produtos químicos. Essas novas tecnologias não visam reduzir os teores de lignina, mas sim facilitar a sua remoção. Em escala laboratorial, já existem eucaliptos geneticamente modificados com essas características, e alguns já estão em fase de prova de conceito no campo em pequena escala. O abastecimento da população com alimentos, madeira e fibras é um desafio que se renova todo ano. Em 2050, teremos uma população mundial de 10 bilhões de pessoas, o que, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), nos exigirá aumentar a produção de alimentos em 70% e a produção de madeira em 300%. Parece consenso que a maneira mais sensata de atingir essa produção é aumentar a produtividade nas áreas plantadas já existentes, preservando o que ainda resta de ecossistemas naturais. Para isso, precisamos de ciência, tecnologia e inovação. A biotecnologia é uma das ferramentas fundamentais para vencer esse desafio de forma segura e sustentável. Mas outras frentes de trabalho também avançam, desenvolvendo agroquímicos mais eficientes e seguros, mecanização e sistemas mais inteligentes e autônomos e processos de gerenciamento que otimizam o uso dos recursos. Talvez estejamos iniciando uma nova Revolução Verde, aprendendo com os erros do passado e direcionando a humanidade para dias melhores. n
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transformação genética
Opiniões
adaptabilidade de eucalyptus à seca Recentemente, grandes variações climáticas têm sido observadas em todo o mundo, dentre as quais, eventos de seca têm se destacado. Nesse contexto, a alta frequência de escassez hídrica nos últimos cinco anos no Brasil comprometeu grandes áreas de cultivo de Eucalyptus. Registre-se também que a seleção de genótipos de eucalipto tolerantes à deficiência hídrica tem sido prática recorrente no setor florestal, principalmente devido aos eventos de seca que ocorreram no final de 2014 e no início de 2015, provocando perdas de aproximadamente 150.000 hectares de florestas plantadas somente no estado de Minas Gerais. Tais prejuízos, em particular, chamaram a atenção de diversas empresas florestais pela proporção atingida, servindo como um alerta ao setor. Em busca de materiais mais tolerantes a condições de limitada disponibilidade hídrica, criou-se o projeto “Tolerância à Seca”, resultado de uma parceria público-privada entre a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e 15 grandes empresas do setor florestal brasileiro.
A seca é um estresse multidimensional e afeta diversos processos importantes; no entanto as plantas podem sofrer diversos ajustes de caráter morfológico, fisiológico e metabólico, buscando reduzir os impactos desse estresse. Sendo assim, compreender os impactos da seca no crescimento, no desenvolvimento e na produtividade de plantas, em particular Eucalyptus e Corymbia, é de extrema importância, principalmente para o melhor uso de materiais genéticos com características de tolerância à seca. Nos primeiros dois anos desse projeto, a principal estratégia usada na identificação dessas características foi investigar os mecanismos adotados pelos diferentes clones de eucalipto previamente selecionados, de acordo com o grau de tolerância ao déficit hídrico em casa de vegetação.
O projeto 'Tolerância à Seca', é resultado de uma parceria público-privada entre a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e 15 grandes empresas do setor florestal brasileiro. "
Gleison dos Santos, Franciele Oliveira e Gustavo Baesso
Respectivamente, Diretor Cientifico da SIF, Coordenadora operacional de Fisiologia e Coordenador operacional de Melhoramento do projeto de tolerância à seca
Esse projeto apresenta duas vertentes, sendo a primeira relacionada ao melhoramento genético clássico, através do cruzamento de plantas (hibridação) com característica de interesse econômico das empresas participantes e considerados tolerantes à seca. As plantas resultantes desses cruzamentos estão sendo cultivadas em locais com acentuada deficiência hídrica (Bocaiúva e Buritizeiro, MG, e Inhambupe, BA), a fim de selecionar, no futuro, os clones mais promissores. Já a segunda vertente está relacionada à Fisiologia & Nutrição, cujo objetivo é identificar bioindicadores de tolerância à seca, bem como os mecanismos adotados por esses materiais com características contrastantes (tolerantes e sensíveis), através de uma abordagem morfológica, anatômica, fisiológica, metabólica nutricional e molecular.
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Nesse sentido, três experimentos foram realizados na UFV com o objetivo de gerar o maior número de informações e também selecionar variáveis que permitissem discriminar os genótipos quanto à tolerância à seca. Os resultados mais promissores estão sendo avaliados nas progênies em condições de campo, a fim de validar os possíveis bioindicadores encontrados em casa de vegetação. Espera-se que as características constitutivas (características intrínsecas) encontradas nos materiais sofram pouca influência do ambiente; entretanto outros aspectos possivelmente apresentarão respostas distintas ao déficit hídrico,
transformação genética devido à interação genótipo x ambiente, através da capacidade das plantas de ajustarem-se a essas condições ambientais, também conhecida como plasticidade fenotípica. A identificação e a seleção desses caracteres usados como biomarcadores facilitarão a seleção precoce de materiais mais tolerantes à seca, acarretando economia de recursos humano e financeiro, traduzindo-se na maior eficiência de uso do tempo na obtenção de materiais tolerantes a potenciais cenários de seca recorrentes. Dessa forma, entender quais os mecanismos utilizados pelas plantas diante de efeitos climáticos, principalmente deficiência hídrica, permitirá explorar melhor o potencial produtivo desses materiais. Embora muitos estudos tenham sido realizados para compreender a tolerância à seca, pouco tem sido explorado sobre os possíveis potenciais bioindicadores que podem ser utilizados em casa de vegetação e até mesmo em campo, particularmente para eucalipto. Portanto identificar esses bioindicadores de tolerância à seca em eucalipto auxiliaria grandemente na seleção precoce em programas de melhoramento genético, através da obtenção de clones tolerantes. Cabe mencionar que o ciclo de rotação para o eucalipto é de sete anos, e, dessa forma, a antecipação da observação de caracteres de tolerância podem minimizar, ou mesmo elimi-
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nar, os riscos com perdas decorrentes de extremos climáticos cada vez mais frequentes. Na parte do projeto relacionada ao melhoramento clássico, foram produzidas, até o momento, mais de 400 famílias híbridas, e plantadas, em campo, mais de 70.000 candidatos a clones, muitos deles formados por até quatro ou cinco diferentes espécies. O fato de o projeto Tolerância à Seca ter mais espécies na formação de alguns dos seus híbridos possibilitará maior potencial de adaptação e estabilidade dos materiais genéticos gerados às variações ambientais que se apresentam nos dias de hoje. Em campo, os materiais genéticos produzidos já apresentam alto potencial de crescimento e tolerância à seca, com várias plantas candidatas a clone, com mais de 5 metros de altura aos 6 meses de idade, sob déficit hídrico. Na foto, um material de híbrido de (E. urophylla x (E. camaldulensis x E. grandis)) x (E. longirostrata). A partir desses resultados promissores, não temos dúvidas de que a iniciativa “tolerância a seca” será um ponto de virada no cultivo de Eucalyptus em áreas de déficit hídrico, possibilitando maior sobrevivência, produtividade e geração de valor para essas regiões, que, geralmente, estão entre as mais necessitadas de desenvolvimento e de emprego no nosso país. n
Opiniões
busca de clones transgênicos resistentes a
herbicida
O melhoramento genético florestal, por meio de técnicas clássicas, apresenta algumas etapas complexas e demanda uma equipe técnica com conhecimento em genética para se ter uma visão ampla das estratégias a serem seguidas, visando a um programa eficiente. Assim, devem-se conhecer técnicas de polinização controlada e metodologias de análise dos descendentes. Existe a necessidade de uma grande área para testes de campo e tempo necessário para análises de crescimento e características de qualidade da madeira. Ocorre ainda uma certa escassez de conhecimento mais aprofundado sobre os parentais recomendados para os cruzamentos e o crescente aumento da ocorrência de pragas e doenças. Dessa forma, a seleção de um novo clone para plantio comercial é um processo lento, repleto de desafios e pode levar de 15 a 20 anos.
Assim, a biotecnologia no setor florestal vem sendo utilizada como uma ferramenta no auxílio ao desenvolvimento de programas de melhoramento genético clássico, através da utilização de técnicas, como cultura de tecido, marcadores moleculares, embriogênese somática, transformação genética, entre outras. Neste artigo, vou dar ênfase à transformação genética. Desde o início dos anos 2000, essa técnica começou a ser empregada, no Brasil, por algumas empresas do setor florestal. Acreditava-se, nessa época, que sua utilização/adoção seria mais fácil e rápida seguindo o exemplo da agricultura. Entretanto não foi isso que ocorreu e, atualmente, ainda não se planta eucalipto transgênico no Brasil.
Atualmente, existem diversos testes de campo em andamento, e espera-se que, em breve, ocorra a solicitação para liberação comercial de alguma linhagem com essa característica. Certamente, será um grande avanço tecnológico para o setor florestal "
Ana Gabriela Monnerat Carvalho Diretora-geral da ArborGen
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transformação genética Atualmente, sabemos que alguns fatores dificultaram e ainda atrapalham o seu desenvolvimento e utilização, como a dificuldade de transformação do eucalipto, em que cerca de 30% a 40% dos clones comerciais ou pré-comerciais (fase final de seleção de um programa de melhoramento genético) são transformáveis e, ainda assim, com taxas de transformação baixas, variando entre 0,5% e 5%. Esse fato dificulta o desenvolvimento de materiais transgênicos, uma vez que o custo para transformação em laboratório é elevado e, muitas vezes, não se consegue transformar os melhores clones plantados comercialmente. Um outro fator relevante foram os genes escolhidos para trabalhar. No início dos anos 2000, foram testados genes ligados à rota metabólica da lignina, que visavam à sua redução ou à alteração da química da lignina para que fosse mais fácil a conversão da madeira em celulose. Ressalto que a alteração da química da lignina foi pouco explorada e, na minha experiência, foi dos poucos genes que vi funcionar, entre todos os testados ao longo de quase 20 anos – talvez, a relação floresta-indústria esteja muito fraca quando o assunto é melhoria da qualidade da madeira em fábricas de celulose –, enquanto os ganhos potenciais nessa melhoria são elevadíssimos. Na sequência, vieram genes ligados à resistência a geadas, crescimento das árvores, déficit hídrico, aumento de densidade básica da madeira, entre outros. Todos esses genes foram testados em campo, com experimentos chegando a 5, 6 anos de idade. Entretanto nenhum deles apresentou ganho econômico que justificasse sua utilização em plantios comerciais, apesar de termos, no Brasil, uma linhagem liberada comercialmente, transformada com um gene de crescimento. Mais recentemente, copiando o exemplo de sucesso da agricultura, os investimentos se voltaram a genes de resistência a herbicidas. Assim, ganhos operacionais na silvicultura são priorizados em relação a ganhos nas fábricas – ganhos provavelmente menores, ressalve-se. Testes de campo com alguns desses genes estão em andamento e apresentando resultados promissores. A resistência aos herbicidas pode ser testada em idades precoces (pouco tempo após o plantio, até cerca de 1 ano de idade), e, na sequência, as linhagens que apresentam maior tolerância são testadas em blocos maiores e em diferentes tipos de manejo. Os ganhos esperados são silviculturais, com redução na quantidade de operações florestais em casos que seja possível um manejo que
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Opiniões deixe a floresta “no limpo” mais tempo. Ganhos em produtividade também podem ser obtidos em casos de deriva de herbicida em que as árvores são, de certa forma, prejudicadas com relação ao crescimento. Atualmente, existem diversos testes de campo em andamento, e espera-se que, em breve, ocorra a solicitação para liberação comercial de alguma linhagem com essa característica. Certamente, será um grande avanço tecnológico para o setor florestal. Quando o assunto é eucalipto transgênico, não podemos deixar de citar outros desafios, como a regulamentação para manipulação de indivíduos transgênicos e os sistemas de certificação florestal. O sistema regulatório brasileiro, apesar de apresentar certas dificuldades de tempos em tempos, vem funcionando. Isso quer dizer que é possível trabalhar com plantas modificadas em suas diversas fases: importação de plantas, quarentena, laboratório, viveiro, testes de campo e a tão sonhada liberação para plantio comercial. Mas, sendo realista, todas essas fases demandam um rigoroso controle por parte da empresa, em que todo trabalho depende de autorizações do órgão regulador, a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e é fiscalizado pelo Ministério da Agricultura e, em algumas ocasiões, pelo Ibama. Nessa fase, entra-se novamente no fator custo, pois demanda que a empresa que trabalhe com OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) tenha um setor regulatório interno, com alguns funcionários dedicados a essas atividades, visando obter todas as permissões necessárias e os controles internos de manipulação das plantas. Um outro desafio a ser citado são os sistemas de certificação florestal, como FSC e PEFC. Tais sistemas de certificação são extremamente valorizados pelas áreas comerciais das empresas de celulose e papel, devido à sua importância em mercados de exportação, principalmente a Europa. E nem o FSC nem o PEFC autorizam plantio de florestas comerciais com OGMs. Vem-se tentando, ao longo dos últimos anos, criar um diálogo com ambos os sistemas de certificação, mas o avanço real, até agora, foi a autorização para plantios de testes de campo com OGMs fora das áreas do escopo de certificação. Dessa forma, a busca por materiais genéticos transgênicos continua, e acredito que, em breve – cerca de 4 a 5 anos −, poderemos ter produtos no mercado, para plantio comercial e até para venda de forma mais ampla, beneficiando também plantadores de floresta independentes, que poderão ter acesso a esses produtos. n
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corymbia
a hora e a vez dos híbridos Corymbia Desde que o conceito de florestas clonais foi introduzido no Brasil, entre o final da década de 1970 e início de 1980, os clones híbridos de Eucalyptus reinaram absolutos na formação de florestas como fonte de matéria-prima para as mais distintas atividades industriais. Apesar do grande salto de produtividade verificado ao longo das últimas décadas, consequência dos avanços no melhoramento genético e nas técnicas de manejo, uma série de eventos bióticos e abióticos tem dificultado a manutenção dos crescentes aumentos na produtividade florestal. Dentre esses fatores, destacam-se os insetos introduzidos nos últimos anos no País, bem como várias doenças, que têm causado danos econômicos às plantações de eucalipto. O recrudescimento de situações críticas de déficit hídrico, geadas e ventos, além de problemas como o “distúrbio fisiológico”, também têm afetado a produtividade dos plantios em distintas regiões do País. Soluções vêm sendo permanentemente buscadas para o enfrentamento desses desafios e para manter crescentes os níveis de produtividade.
Pelo menos na siderurgia a carvão vegetal, há uma forte tendência de substituição dos clones híbridos de Eucalyptus por clones híbridos de Corymbia. "
Teotônio Francisco de Assis Diretor da Assistech
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Nesse sentido, o desenvolvimento de genótipos adequados no gênero Eucalyptus tem sido o caminho mais indicado. Entretanto os híbridos entre espécies do gênero Corymbia estão se tornando uma alternativa aos eucaliptos na produção de matéria-prima para diversos segmentos da atividade industrial. Isso decorre principalmente do seu alto potencial de crescimento, da sua resistência à maioria das pragas e doenças atuais, da resistência ao “distúrbio fisiológico”, da maior tolerância ao déficit hídrico, da resistência ao vento e da alta densidade da sua madeira. Até o início da década de 1980, plantava-se muito C. citriodora para carvão vegetal, sobretudo em razão das características da sua madeira serem altamente favoráveis para a produção desse insumo siderúrgico. As espécies de Corymbia vieram a perder espaço para os clones de urograndis, mais produtivos e homogêneos, e acabaram sendo substituídos por esses híbridos nos plantios das empresas. Quando foi introduzida a espécie C. torelliana, na década de 1970, devido à coincidência de florescimento e à afinidade entre essa espécie e C. citriodora, vários híbridos espontâneos começaram a aparecer nos plantios puros de ambas as espécies. O alto vigor dos híbridos chamou a atenção e se iniciou um processo de hibridização entre essas espécies, por polinização controlada.
Opiniões O potencial de crescimento dos híbridos era muito alto, mas sua propagação clonal em escala operacional esbarrava no baixo enraizamento desses híbridos, com a tecnologia de clonagem da época. Nos últimos anos, devido aos progressos verificados na sua clonagem, o interesse pelos híbridos de Corymbia cresceu consideravelmente. O uso da miniestaquia, junto com a exploração do efeito materno, utilizando C. torelliana como genitor feminino, com a exploração da máxima juvenilidade, utilizando brotações dos lignotubers e com o uso de estufins nos minijardins clonais, estão tornando realidade a clonagem desses híbridos em escala operacional. Com isso, os híbridos de Corymbia voltaram a ser uma alternativa de alto valor estratégico. Em razão da alta densidade da sua madeira, em torno de 600 kg/m³ aos 7 anos, e da baixa relação cerne x alburno, os híbridos entre espécies de Corymbia são excelente alternativa na produção de carvão vegetal de alta qualidade. Além da alta densidade, outras características do carvão, importantes no processo de fabricação do ferro-gusa, como alta resistência mecânica e alta granulometria, também estão presentes nesses híbridos. A produtividade volumétrica de madeira tende a crescer com o uso de novos clones selecionados e, aliada à excelente qualidade da sua madeira e carvão, deve transformar, em breve, os híbridos de Corymbia na matéria-prima mais utilizada na produção de carvão vegetal no Brasil. Há até bem pouco tempo, as espécies e híbridos de Corymbia eram considerados pouco adequados para a produção de celulose. Contudo os fatores positivos já mencionados, relativos aos eventos bióticos e abióticos, além da alta densidade da sua madeira, têm sido os fatores mais atrativos na busca de clones híbridos de Corymbia para a produção de celulose. Recentemente, esses híbridos começaram a ser mais bem estudados e já fazem parte dos programas de melhoramento genético para essa finalidade. Embora sua madeira apresente, em média, menores valores de rendimento em celulose, há variabilidade genética capaz de proporcionar a obtenção de características adequadas para celulose kraft e para celulose “solúvel”. Essa variabilidade possibilita selecionar clones de boa qualidade da madeira e com potencial para obter produtividades em níveis semelhantes àqueles observados nos clones de Eucalyptus. Como a densidade da madeira de todas as espécies de Corymbia é alta, seu uso promoverá significativa redução do consumo específico de madeira nas indústrias de celulose. Os híbridos de Corymbia também possuem alto potencial para outros usos, como a produção de energia de biomassa, madeira para serraria e tratamento preservativo. Para energia de biomassa, além do bom crescimento e da alta densidade, quando
comparada com os clones de eucalipto, sua madeira apresenta menores teores de umidade no mesmo tempo de secagem. Todos esses fatores são importantes no aumento da produtividade energética, que é diretamente proporcional ao crescimento e à densidade da madeira e inversamente proporcional à umidade. Como madeira serrada, apresenta baixa propensão a rachaduras e tem aptidão para a fabricação de pisos, pois sua madeira tem dureza adequada a essa finalidade. Também é excelente para a fabricação de móveis de exteriores, como jardins e decks, além de madeira estrutural, forros e aberturas. São também adequadas ao tratamento preservativo. Possuem madeiras de alta durabilidade natural, que pode ser incrementada via tratamento químico. Também possui menor retratilidade e menor tendência ao fendilhamento. Embora tenha menor relação cerne/alburno, o que pode aumentar o consumo de produtos preservativos, e sua alta durabilidade natural compensa essa característica. Como pontos negativos, os híbridos de Corymbia possuem porcentagem de casca mais alta do que os híbridos de eucalipto e podem formar bolsas de kino na madeira. Entretanto, tem sido observada significativa variabilidade nessas características, indicando a possibilidade de que possam ser alteradas via melhoramento genético. Os clones híbridos de Corymbia mais conhecidos são provenientes de cruzamentos entre C. torelliana e C. citriodora. Contudo, resultados de introduções recentes mostram que outras espécies de Corymbia apresentam potencial para hibridação superior ao C. citriodora. O crescimento das espécies C. maculata, C. variegata e C. henryi é significativamente superior ao de C. citriodora. Isso indica que o potencial para novos híbridos entre essas espécies, em cruzamentos com C. torelliana e outros híbridos de Corymbia, pode superar, em muito, o que já se conseguiu até hoje com os híbridos de C. torelliana x C. citriodora. Depois de serem os materiais mais utilizados nas plantações florestais do Brasil, os híbridos de eucalipto já começam a ter a companhia dos híbridos de Corymbia. Pelo menos na siderurgia a carvão vegetal, há uma forte tendência de substituição dos clones híbridos de Eucalyptus por clones híbridos de Corymbia. É importante considerar que os híbridos de Eucalyptus estão em processo de melhoramento genético há mais de 40 anos, enquanto o melhoramento baseado em híbridos de Corymbia está apenas em fase inicial. Portanto ainda há muito a se ganhar em termos de adaptação, crescimento e qualidade da madeira. Não se imagina que híbridos de Corymbia possam substituir por completo os híbridos de eucalipto, mas certamente vão, cada vez mais, ocupar espaço nas futuras plantações florestais do Brasil. n
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acácia
Opiniões
acácia: um gerador de riqueza Em 2018, completou um século a introdução da acácia negra (Acacia mearnsii) no Rio Grande do Sul. Plantada comercialmente a partir de 1928, tendo sido trazida da África do Sul em função do elevado teor de tanino na casca, essa árvore de porte médio, originária da Austrália, rapidamente se expandiu. Enquanto a indústria do couro demandava in natura toda a casca que houvesse, a madeira logo substituiu, com vantagem, outras madeiras, principalmente nativas, na geração de energia industrial ou doméstica. A fabricação de carvão ajudou a consolidar a cadeia produtiva. Com o passar dos anos, iniciou-se a industrialização da casca com produção e exportação do tanino, ao mesmo tempo em que as propriedades da madeira, com alto poder calorífico, alta densidade e baixo teor de lignina, tiveram usos industriais diversos. A despeito do menor volume produzido por hectare na comparação com outras florestas cultivadas, a possi-
bilidade de uso múltiplo sempre manteve a espécie como opção economicamente viável. Paralelamente, as caraterísticas silviculturais fizeram da acácia negra a espécie preferida de muitas propriedades de pequeno e médio porte. Destaca-se a possibilidade de consórcios com a pecuária pela boa luminosidade no interior da floresta, associada à fixação significativa de nitrogênio atmosférico por leguminosas. A floresta consegue manter vegetação rasteira sempre verde em seu interior e permite, a cada ciclo, um solo revigorado para a agricultura de subsistência no ano de reforma. O próprio volume individual menor sempre facilitou as operações de colheita, geralmente com pouca mecanização. A Tanac, fundada em 1948, compra casca e madeira descascada no mercado para atender a cerca de 50% de suas necessidades industriais. Da casca, são produzidos taninos para o setor coureiro, taninos modificados para diversas finalidades (floculantes para tratamento de efluentes industriais e água potável), aditivos para alimentação animal,
Os primeiros plantios clonais indicam um aumento em 50% no incremento. Assim, em um determinado sítio com produtividade em torno de 17 m³/ha/ano, será possível atingir 25 m³/ha/ano com todas as vantagens daí advindas. "
Augusto Arlindo Simon Gerente de Silvicultura da Tanac
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Com coragem e competência os desafios acabam virando rotina. Assim pensamos. Assim fazemos.
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acácia adesivos e outros; e, da madeira, são produzidos cavacos para celulose e pellets para geração de energia. Importantes alterações nos mercados têm ocorrido com necessidade constante de pesquisa e inovação, com o lançamento de novos produtos, majoritariamente de exportação. O mercado global, dessa forma, acaba refletindo também na oferta de matéria-prima e com os produtores enfrentando também suas próprias condições. Flutuação da área plantada, aumento do tamanho médio das plantações, maior profissionalização e mecanização das atividades, concorrência cada vez maior com outras atividades e culturas no meio rural se mesclam com eventuais vantagens e desvantagens nos últimos anos. Considerando-se esse cenário, é imperioso buscar maiores volumes de madeira e casca, aliado à redução possível nos custos de produção. Como em qualquer cultura, a produtividade é função do manejo e do material genético utilizados em cada área. Em relação ao manejo, recomendações e ajustes na experiência prática dessa floresta, que já cobriu quase 200.000 ha no estado, majoritariamente com produtores independentes, não têm sido um problema importante na acacicultura. Resultados de testes e constatações de resultados em plantios comerciais, considerando espaçamento, fertilização, idade de corte, preparo de solo, etc., em geral, têm sido bem assimilados. Em relação ao material genético, ainda são largamente plantadas sementes comuns, “catadas” por formigas quenquéns para junto de seus ninhos nas florestas. Os plantios da empresa são realizados com mudas de sementes provenientes de Áreas de Produção de Sementes, com duas ou três gerações de seleção. Têm sido conduzidos trabalhos de melhoramento e identificação de materiais superiores, tanto a partir de sementes originadas dos plantios comerciais quanto de novas importações da Austrália. Sem importantes interações negativas entre crescimento e os indicadores de qualidade de casca e de madeira, crescimento, forma e sanidade têm sido foco na seleção de progênies. Em 2006, iniciou-se um trabalho de reprodução a partir do enraizamento de estacas que tem sido conduzido pela empresa e, atualmente, também por viveiro comercial contratado. Os primeiros plantios clonais indicam um aumento em 50% no incremento. Dessa forma, em um determinado sítio com produtividade de sementes comuns em torno de 17 m³/ha/ano, será possível 25 m³/ha/ano com todas as vantagens daí advindas. A meta estabelecida é ainda superior, baseada em resultados experimentais. Essa expectativa, a partir de testes clonais iniciais em alguns sítios, tem garantido a sequência dos trabalhos de identificação de novos clones e o desenvolvimento da melhor técnica.
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Ao longo dos últimos anos, as escolas da UF-PR, da Esalq-USP e da UF-SM têm estudado e colaborado para os resultados já obtidos. A espécie apresenta grande dificuldade de resgate de material vegetativo a partir de árvores adultas, associada, até o momento, a baixos percentuais de enraizamento. Como cultura de pequena expressão na comparação com os gêneros Pinus e Eucalyptus, por importante que sejam os investimentos para melhorias no processo, o ritmo de desenvolvimento é menor. Tem-se trabalhado também com reprodução por micropropagação em laboratórios independentes na busca principalmente de identificar novos clones que associem maior capacidade de enraizamento com alta produtividade. Paralelamente, iniciou-se um trabalho de manejo diferenciado nas Áreas de Produção de Sementes e estabelecimento de Pomares Clonais de Sementes com materiais conhecidos de produtividade superior às sementes comuns. Ao desafio do aumento de produtividade, somam-se dois aspectos importantes em relação à legislação e à burocracia: sendo cultura minoritária em nível de Brasil, a falta de agroquímicos florestais ou registrados para a espécie e, estando as plantações no Rio Grande do Sul, a necessidade de licenciamento ambiental para todo e qualquer empreendimento. O simples fato de ser a silvicultura a única atividade extensiva licenciável no meio rural traz custos extras e, principalmente, a impossibilidade de realização de plantios em determinadas regiões, em detrimento de qualquer outra atividade. Fazendo frente às dificuldades, a acacicultura sempre se sustentou a partir de dois eixos principais, que são os seus diversos produtos e as dezenas de milhares de produtores de várias regiões do estado. Dessa forma, a realidade dos mercados nacional e mundial e os desafios locais para a produção têm sido contornados. Produtos oriundos de florestas plantadas, utilizados na maioria dos casos em substituição a químicos ou de origem fóssil, estão tendo, cada vez mais, visibilidade nos diferentes mercados. Por outro lado, o desenvolvimento da cadeia produtiva é base sólida para o futuro, cuja sustentabilidade é facilmente percebida nos municípios e nas propriedades cultivadas há décadas. Destaca-se também a inédita certificação de manejo florestal de pequenos produtores que se somou, em 2019, aos 16 anos da certificação da principal empresa consumidora. Com perspectiva de maior demanda para produtos cuja origem sejam florestas certificadas, se confirma o interesse de quem produz e que poderá vender matéria-prima com esse importante diferencial. Segue, dessa forma, a acacicultura como importante atividade, contribuindo para a geração de riqueza no estado do Rio Grande do Sul. n
pínus
Opiniões
silvicultura intensiva com pínus no Brasil Plantios comerciais de pínus no Brasil tiveram início, no Sul e no Sudeste, com Pinus elliottii e P. taeda. Essa atividade foi impulsionada pelos incentivos fiscais para reflorestamento, concedidos pelo Governo Federal, no período de 1966 até 1986. A atuação do Prodepef (Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal), nos anos 1970, foi valiosa nesse contexto. Plantios de pínus em caráter experimental, exploratório ou comercial, em várias regiões do País, constituíram as bases para a elaboração do zoneamento ecológico para plantios florestais. Ficaram, assim, definidas as zonas preferenciais para o plantio das espécies subtropicais (P. elliottii e P. taeda) e tropicais (P. caribaea, P. oocarpa e outras). As pesquisas em melhoramento genético, envolvendo testes de procedências e progênies, possibilitaram a identificação das procedências mais produtivas e, posteriormente, de progênies e indivíduos de alto valor genético, propícios para multiplicação e estabelecimento de plantios comerciais de alto desempenho.
Além disso, é o segundo maior produtor mundial de resina de pínus, apesar de níveis modestos de melhoramento genético nesse segmento. No aspecto da conservação de germoplasma, há, no Brasil, uma das maiores coleções ex-situ de pínus do mundo. Isso resultou do esforço conjunto entre instituições de pesquisa, universidades, órgãos ambientais e empresas do setor florestal. A disponibilidade de variantes genéticas para geração de produtos específicos ou para prosperar em ambientes diversos viabilizou a expansão dos povoamentos de pínus e aumentos expressivos na sua produtividade. Desde os anos 1960, a produtividade média dos pínus passou de 18 para 30 m3/ha/ano. Há casos, em sítios especiais, com rendimentos em madeira alcançando 45 m3/ha/ano ou mais. O uso múltiplo de pínus, com valor agregado e melhorias tecnológicas da madeira, permitiu ganhos expressivos nos processos industriais. Esses avanços trouxeram vantagens em relação a países tradicionais produtores de madeira e outros produtos de pínus. Contribuíram, para isso, as condições favoráveis de clima e solo no País, bem como as circunstâncias socioeconômicas, como a disponibilidade de mão de obra e de terras a preços acessíveis. O setor florestal responde por 6,9% do PIB industrial brasileiro (Ibá, 2019). Nesse cenário, os pínus ocupam 1,64 milhão de hectares.
Desde os anos 1960, a produtividade média dos pínus passou de 18 para 30 m3/ha/ano. Há casos, em sítios especiais, com rendimentos em madeira alcançando 45 m3/ha/ano ou mais. "
Ananda Virgínia de Aguiar
Pesquisadora Embrapa Floresta
Coautores: Jarbas Yukio Shimizu e Valderes Aparecida de Sousa, ambos Pesquisadores da Embrapa Florestas
A rede experimental instalada a partir de meados do século XX possibilitou ao Brasil alcançar um patamar tecnológico capaz de dar sustentabilidade aos empreendimentos florestais com pínus. O Brasil é considerado referência na produção de madeira de pínus para indústrias de celulose, papel, painéis e embalagens.
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pínus A maioria se localiza em Santa Catarina (34%) e no Paraná (42%). Pinus taeda é a espécie mais difundida nos estados do Sul, em altitudes acima de 500 m, e em partes de São Paulo e Minas Gerais, em altitudes de 900 m ou mais, como fonte de madeira para celulose de fibra longa, madeira serrada, chapas laminadas ou de fibra e para biomassa energética. Pinus elliottii é plantado em menor extensão do que P. taeda, por causa do menor incremento volumétrico e da sua madeira, que apresenta alto conteúdo de resina. Assim, sua madeira não é utilizada nas indústrias de celulose no Brasil. Por outro lado, ela gera, além de madeira para fins estruturais, resina de alto valor comercial. A área adequada para P. elliottii coincide, em grande parte, com a de P. taeda. Porém ele tolera melhor os sítios sujeitos a alagamentos e a baixas altitudes. Ele pode ser plantado desde o litoral da região Sul, podendo se estender até os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde a temperatura seja amena e sem déficit hídrico. Outras espécies estratégicas para o planalto sulino são P. patula e P. greggii, observando-se seus requisitos ecológicos para atingir o pleno desenvolvimento. Dentre as espécies tropicais, P. caribaea var. hondurensis é a mais plantada, tendo em vista o seu rápido crescimento, a madeira de grande utilidade para usos múltiplos e a possibilidade de se extrair resina em escala comercial. Outras espécies promissoras em regiões tropicais são P. caribaea var. bahamensis, P. caribaea var. caribaea, P. tecunumanii, P. oocarpa, P. kesiya e P. maximinoi. De maneira geral, não há perspectiva de que as áreas plantadas com pínus aumentem significativamente nos próximos anos. Tampouco deve haver redução marcante na área dedicada aos pínus, dada a demanda de matéria-prima para gerar produtos específicos, como celulose de fibra longa, madeira leve para marcenarias, chapas compensadas e muitos outros produtos. Enquanto, no Sul, áreas dedicadas ao pínus tendem à redução para dar lugar aos eucaliptos, no Sudeste e no Centro-Oeste tem havido aumento nas áreas de pínus destinadas à extração de resina. Concorrem para essa tendência a expansão dos plantios de pínus tropicais nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rondônia. Programas de melhoramento genético de pínus mais arrojados têm sido desenvolvidos com P. taeda para produção de madeira, basicamente para o segmento de celulose e papel. Assim, ainda que várias características, como retidão do fuste, densidade da madeira e características dos nós, sejam consideradas nessa matéria-prima, a mais valorizada tem sido o incremento volumétrico.
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Opiniões No entanto, para atender ao segmento de madeira sólida, que valoriza alta resistência físico-mecânica e homogeneidade nas características da madeira, é necessário implementar medidas diferenciadas, voltadas ao melhoramento genético e ao desenvolvimento de sistemas de manejo, para otimizar a taxa de conversão volumétrica de toras para madeira serrada. O Brasil é um dos maiores fornecedores de resina de pínus no mercado internacional, e a demanda continua em alta. A produção atual ainda é sustentada por povoamentos com baixo grau de melhoramento genético. Há, portanto, grandes oportunidades para o melhoramento genético nesse segmento, tanto em produtividade quanto em qualidade do produto. No melhoramento genético de pínus, enfatiza-se a importância de se desenvolverem genótipos do tipo 1) para superar os demais em nichos ecológicos específicos; ou 2) para manter alta produtividade em uma ampla gama de condições ambientais, minimizando-se os efeitos da interação genótipo x ambiente. Cada um deles oferece oportunidades para maximizar a produtividade e a qualidade dos produtos, desde que sejam implementadas medidas apropriadas para a sua utilização. Após décadas de plantios comerciais sem maiores problemas fitossanitários no Brasil, os povoamentos de pínus vêm mostrando sintomas preocupantes, como a clorose (amarelecimento da copa), o ataque da vespa-da-madeira, o descascamento da haste por macacos e outros fatores que ameaçam os empreendimentos florestais. Uma forma de reduzir essas ameaças é pelo aumento na diversidade genética, com a introdução de espécies distintas e de material genético de outros programas de melhoramento. Aliado a isso, é importante adotar práticas culturais, como manutenção da vegetação natural na área e restringir certas operações a períodos apropriados em cada região. Medidas para contornar ou prevenir situações arriscadas, ou para maximizar a produtividade, incluem altos custos, tanto financeiros quanto humanos, e longo prazo, que dificilmente poderão ser atendidos por uma só entidade ou empresa. Nesse contexto, os arranjos cooperativos entre universidades, instituições de pesquisa e empresas constituem a forma mais efetiva para atender às demandas do setor florestal. Essa forma de atuação torna possível implementar tecnologias inovadoras na cultura de pínus para alçar a produtividade e a qualidade dos produtos a um patamar ainda não atingido e um grande salto para a economia do País. n
teca
Brasil: importante player mundial na produção de teca de plantações A primeira experiência brasileira para plantações puras de teca, com finalidade comercial, ocorreu em 1959, através da iniciativa do professor Helládio do Amaral Mello. Nessa experiência, a espécie já mostrou seu potencial como produtora de madeira nobre. A partir de 1971, aconteceram as primeiras plantações em escala comercial no Mato Grosso, entretanto foi a partir do início da década de 1990 que se deu a maior aceleração da expansão em área plantada de teca no País, multiplicando a área em mais do que 4,5 vezes, e, segundo dados da Ibá, já são 93.957 hecatares. O Brasil possui a maior da área plantada de teca na América Latina e, em breve, será o maior exportador de madeira dessa espécie oriunda de plantações. Segundo estatísticas oficiais de exportação de produtos agropecuários
brasileiros, nos últimos 10 anos, somente a exportação de toras saltou de pouco menos de 10 mil metros cúbicos para mais de 140 mil metros cúbicos anuais, sendo a Índia o principal comprador mundial de toras. No Mato Grosso e Pará, estão mais de 80% da área e mais de 60% são resultados de investimentos estrangeiros e que, em plantações de menor escala, despertaram interesse e impulsionaram produtores rurais e empreendedores locais a também entrarem na atividade como forma de complementar e diversificar a renda. O seu ótimo crescimento e a alta qualidade estão relacionados à temperatura anual média entre 22 ºC e 27 °C, 1.500 a 2.500 mm de precipitação, com estação seca definida de até 5 meses, solo fértil com pH neutro a levemente ácido, profundo, bem drenado e sem impedimento físico.
a teca já tem seus passos trilhados rumo a outro exemplo de sucesso da silvicultura brasileira "
Fausto Hissashi Takizawa Diretor de Pesquisa e Relações Institucionais da TRC Agroflorestal
As plantações apresentam grandes amplitudes na produtividade, com IMA entre 4 m3/ha/ano e 28 m3/ha/ano e média de 15,5 m3/ha/ano; estão em regiões sem restrições climáticas para o ótimo crescimento da espécie, reflexo da grande variabilidade das condições edáficas e de tratos culturais em diferentes níveis, como o controle de ervas daninhas, fertilização, desbaste e desrama.
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Opiniões Nos dias atuais, a adoção da silvicultura clonal da teca no Brasil é predominante nos novos empreendimentos, tem se mostrado superior em forma do fuste, tolerância a doenças, crescimento volumétrico e diamétrico. O emprego de materiais geneticamente superiores permitiram um salto tecnológico, ampliando a capacidade da espécie em ocupar uma variabilidade maior de condições edáficas, justificando uma menor densidade inicial do povoamento, propiciando maiores e melhores respostas às melhorias dos tratos culturais, em especial à fertilização e à adoção de diferentes regimes de desbastes, e também despertou maiores investimentos e iniciativas do seu melhoramento genético. A produtividade registrada em certos plantios clonais somada à adoção de melhorias no manejo já superam 30% de ganho, sem contar o ganho na uniformidade, padronização e sanidade do povoamento, precocidade para o corte final, qualidade do fuste e da madeira. Foram vários os fatores e acontecimentos que criaram este ambiente atrativo para a teca no Brasil durante esse período: a) Declínio do suprimento de madeira de teca de origem nativa, em função da exploração excessiva e do desmatamento; b) Restrições crescentes ao consumo de madeira sem a garantia de legalidade, resultados da regulamentação da União Europeia sobre a madeira (EUTR); c) Ampla adaptação da teca às regiões tropicais fora de sua área de origem, incluindo o Brasil, e viabilidade técnica testada e comprovada para plantações puras ou até mesmo integradas com certas culturas agrícolas; d) Madeira conhecida no mercado internacional, de uso múltiplo, alto valor, sendo uma das mais valiosas dentro da sua categoria; e) Disponibilidade de solos aptos em condições competitivas para empreendimentos de teca em larga escala; f) Ótima reputação internacional do know-how da silvicultura brasileira, em especial do eucalipto, aplicado às plantações de teca. Os princípios básicos da silvicultura da teca no Brasil já se encontram estabelecidos: produção de mudas via propagação vegetativa, material clonal com superioridade genética, preparo de solo, fertilização, controle de ervas daninhas, desrama e desbaste. Grande parte das informações já podem ser encontradas em diversos estudos das principais faculdades de engenharia florestal e centros de pesquisas da Embrapa ligadas às principais regiões produtoras, com cases de sucesso de viabilidade econômica da teca como componente florestal no consórcio com a pecuária.
Entretanto a busca pela otimização dos recursos e a manutenção da competitividade têm exigido do setor de teca avançar além do nível básico, trilhando o caminho da silvicultura do eucalipto. O País já possui 3 certificados de manejo florestal de teca pelo FSC, caminhando para ampliar em mais duas áreas certificadas; em breve, estará disponível a regulamentação que tornará possível a proteção de cultivares da teca, evidência dos investimentos no melhoramento genético da espécie; sem dizer as diversas iniciativas em pesquisa de manejo dos vários empreendimentos em parcerias com as faculdades de engenharia florestal e centro de pesquisa da Embrapa. Dentre os principais desafios para maior avanço da teca, podemos citar o alto custo de implantação e manutenção: seu ciclo de produção é longo, cujo retorno financeiro acontece no corte final; ampliação e realização de oportunidades no mercado doméstico e outros mercados não Índia; alto custos logísticos, sendo um dos maiores dentre os países produtores; necessidade de inovação e disseminação da tecnologia de produção de madeira de teca; barreiras regulatórias e burocráticas na adoção das inovações para a cultura da teca − como exemplo, podemos citar a falta de registro de vários defensivos para as culturas florestais não tradicionais com suporte fitossanitário insuficiente. Aqueles empreendimentos e plantações que não acompanharem esse salto tecnológico, tanto na aplicação de materiais genéticos superiores quanto na melhoria das práticas silviculturais, poderão ficar muito abaixo da produtividade média do setor e dificilmente encontrará sustentabilidade. Dificilmente a madeira de teca de plantações atingirá os altos valores da madeira de teca de origem nativa, entretanto a madeira de teca de plantações continuará se destacando pelas características de beleza, resistência, durabilidade e estabilidade dimensional; ela já garantiu seu lugar no mercado e seus empreendimentos mantêm boa atratividade para investimentos. Os investimentos em plantações de teca continuam fluindo, entretanto numa escala menor do que a vivenciada em períodos anteriores, pois a situação da economia mundial atual passou por mudanças, e o momento atual é de realização das primeiras plantações, validação das premissas iniciais, depuração daquelas situações muito abaixo da média e foco no novo cenário das oportunidades propiciadas pela silvicultura clonal aplicada à teca. Além disso, tem sido crescente o interesse de produtores rurais, em especial os ligados à pecuária, na inclusão da teca como componente florestal com o objetivo de complemento e diversificação de renda. Portanto a teca já tem seus passos trilhados rumo a outro exemplo de sucesso da silvicultura brasileira. n
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ensaio especial
Opiniões
isto é silvicultura ? Cada vez mais, os ciclos florestais são diminuídos, e os plantios florestais, concentrados em grandes empresas. Tudo isso é normal e necessário, tendo em vista o foco do negócio das grandes empresas de celulose e papel e de madeira processada (MDF, MDP, etc.), que, cada vez mais, buscam aumentar a produtividade de polpa por unidade de área, diminuindo a idade das florestas. Investimento em pesquisas genéticas, preparo do solo, adubação, etc., elevaram a nossa produtividade do eucalipto e do pínus a níveis imbatíveis internacionalmente, fazendo com que produzíssemos a celulose mais barata do mundo. Tudo isso faz do Brasil o país com a maior produtividade florestal do mundo, mas... isso é silvicultura? Em minha opinião, não é. Os plantios de eucaliptos das grandes empresas são, na verdade, uma agricultura de ciclo longo, onde se produz um único produto para um único destino. Existe uma semelhança com os plantios do agronegócio: grandes áreas, grandes colheitadeiras, caminhões 9 eixos e até mais, e já inventaram uma fábrica de mudas, para a qual tenho lá minhas dúvidas.
... Tudo isso faz do Brasil o país com a maior produtividade florestal do mundo, mas... isso é silvicultura? Em minha opinião, não é. "
Edson Antonio Balloni Engenheiro florestal
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Dúvidas à parte, tudo isso está correto para os propósitos que foram desenvolvidos, tenho até orgulho de ter participado desse desenvolvimento, mas, mais uma vez, afirmo que isso não é silvicultura. A própria instituição que representa o setor em nível nacional mostra que não somos silvicultores e sim “fabricantes” de árvores, uma linha de montagem de árvores, ou seja, Indústria Brasileira de Árvores. Essa instituição faz um trabalho importante junto aos órgãos governamentais, às universidades, à imprensa, defendendo o setor e mostrando sua importância para a sociedade; entretanto, como não poderia deixar de ser, o foco não é a silvicultura e sim a agricultura de árvores. A floresta de regime único atende perfeitamente aos interesses das grandes empresas, pois a análise econômica do seu negócio é na ponta da indústria. Mas essa mesma floresta feita por pequenos e médios produtores, que precisam que ela dê resultado lá no campo, vale a pena? Eu já escrevi uma vez na edição nº 42 de dez-fev-2016 que uma árvore de primeiro desbaste de pínus teria o valor de um repolho, e que isso não remuneraria nem os custos de implantação feitos pelo produtor. Hoje, é possível que tenha melhorado e que, com uma árvore, talvez se compre um repolho mais uma cenoura. Continua não valendo a pena plantar árvores nesse regime de manejo que seria direcionado a meia dúzia de grandes consumidores, os quais determinam os preços no mercado.
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ensaio especial Esse sistema está desestimulando o pequeno e o médio produtor, fazendo com que muitos façam a conversão de suas áreas florestais para a agricultura. Isso não é nada bom para a imagem do setor para a sociedade. Eu diria para aqueles que já possuem florestas ou os que desejam plantá-las − está muito difícil novos produtores entrarem no mercado − que o façam pensando numa floresta multiprodutos. A floresta feita dessa forma se aproxima da silvicultura de fato, ou seja, aquela que usa a maioria dos atributos de uma floresta, que, mesmo homogênea, cria diversidade em seu ambiente e agrega valor às árvores, protegendo o produtor, inclusive, de possíveis adversidades do mercado, isto é, desde que bem manejadas, se o mercado não está bom e o recurso não é necessário de imediato, deixe a floresta crescer que vai continuar agregando valor ao produto. Outro fator fundamental para o sucesso do negócio florestal é que as florestas multiprodutos, desde que logisticamente bem localizadas, geram um parque industrial diversificado, que, num circulo virtuoso, atrai novos segmentos da cadeia produtiva, agregando ainda mais valor à madeira e, consequentemente, à floresta. Nesse caso, a presença das grandes empresas é fundamental para que os desbastes gerem alguma receita ao produtor, desde que os preços remunerem ao menos os custos da operação, sobrando algum para a madeira em pé. Diferentemente do setor de celulose e papel, que necessita de milhões de dólares por tonelada instalada, as indústrias de madeira sólida, mesmo as de alta tecnologia, necessitam de investimentos muito menores para sua instalação. Enquanto uma fábrica de celulose precisa de US$ 1,5 milhão a US$ 2 milhões por tonelada instalada, as pequenas e médias serrarias precisam de US$ 1 mil a US$ 100 mil por tonelada instalada, sendo essas últimas de alta tecnologia. Essas indústrias de pequeno e médio porte são as que permitem ao produtor remunerar o capital investido a taxas atraentes, fazendo com que a floresta plantada e manejada se transforme, de fato, em um plano de aposentadoria confortável ao pequeno e médio produtor, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, com centenas de produtores que se frustraram com seus “planos de aposentadoria”. O futuro da floresta multiprodutos está no aumento da produção de toras de maior diâmetro em detrimento da produção de madeira de polpa. Para isso, a mudança do regime de manejo, desde o aumento dos espaçamentos de plantio até a execução de desbastes pré-comerciais, é condição fundamental para agregação de valor à floresta.
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Opiniões Considerando o tema proposto, ou seja, o futuro do reflorestamento no Brasil, certamente a concentração das áreas florestais nas mãos das grandes empresas deve aumentar, reduzindo as áreas destinadas ao multiproduto. Com isso, a oferta de toras no mercado com diâmetros maiores, destinadas a serrarias e a laminação, deve diminuir, fazendo com que os preços desses grandes venham a aumentar. Toras com diâmetros acima de 35 cm, cuja oferta no mercado atual já é pequena, devem diminuir ainda mais. Isso indica que os produtores independentes que manejarem suas florestas de forma correta certamente terão suas rentabilidades bastante aumentadas. Outro fator importante, ligado ao futuro do setor florestal, é que está havendo uma entrada importante de recursos de TIMOs, comprando ativos florestais em diferentes regiões do País. Desses investimentos, muito pouco tem sido destinado ao plantio de novas áreas, concentrando-se na aquisição de ativos que estejam em produção. Apesar de serem diversas empresas com esse mesmo objetivo, ou seja, visando a uma alternativa de investimento a diferentes investidores, esse negócio, em sua grande maioria, não tem muito compromisso com o futuro das florestas plantadas no País, já que tem prazos definidos de entrada e saída do negócio. Com isso, a preservação do material genético não tem nada a ver com esse negócio; caberia, sim, às empresas verticalizadas e às instituições públicas manter o material que, estrategicamente, garantiria a continuidade de nossos plantios, os quais, num futuro muito próximo, deverão ser expandidos para as regiões tropicais. A certificação florestal que, há mais de 20 anos, vem trazendo avanços importantes na área ambiental e social, traz também preocupação, principalmente ao pequeno produtor, cuja madeira produzida com esses selos tem um valor diferenciado; ele não participa desse diferencial, pois não tem a menor condição de certificar suas florestas. Entendo, inclusive, que dois dos pilares da certificação, que é ser socialmente justo e economicamente viável, nesse caso, são injustos com o produtor. O “negócio certificação” deveria buscar alternativas que atendesse a quem não tem a menor condição de contratar uma consultoria para dar suporte ao complicado processo de obtenção do selo. Enfim, o resumo dessa história é que haverá uma concentração cada vez maior dos plantios florestais nas mãos das grandes empresas e das TIMOs e uma redução de pequenos e médios produtores cujas terras serão convertidas para a agricultura ou arrendadas para as grandes empresas. n
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