Como você está vendo o nosso futuro? - OpAA62

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 16 • número 62 • Divisão C • Nov-Jan 2020

como você está vendo

o nosso futuro?


CSC (CALDEMA SAND COLLECTOR)

GRELHA ROTATIVA

COR


Caldema é licenciada pela Foster Wheeler para

RPO PRINCIPAL EM MONTAGEM

Caldeiras de Leito Fluidizado Borbulhante (BFB) e Caldeiras com Queima Sobre Grelha.

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1ª fase

2ª fase

PRODUÇÃO DE VAPOR (t/h)

300

300

PRESSÃO DE VAPOR (kgf/cm²g)

25,5

85,5

TEMPERATURA DE VAPOR (ºC)

400

525

EFICIÊNCIA DO PCI (%)

88,6

88,3

www.caldema.com.br


índice

Como você está vendo o nosso futuro? Editorial de abertura:

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Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias Ministra da Agricultura

Ensaio especial:

8

Evaristo Eduardo de Miranda Chefe-geral da Embrapa Territorial

Produtores:

10 13 16 18 20 24

Marcelo Mancini Stella

Vice-presidente Comercial, Logística e Energia da Atvos

Luciano Zamberlan

Gerente de Processos de Etanol na Raízen

Carlos Daniel Berro Filho Diretor Agrícola da Biosev

Abel de Miranda Uchôa

Entidades de produtores:

26 28 31

Diretor Executivo Agrícola da Usina São João de Araras

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Diretor do Grupo Alto Alegre

Diretor Executivo da Unica

Mário Campos Filho

Presidente da SIAMIG-MG

Pedro Robério de Melo Nogueira

Presidente do Sindaçúcar-AL e da Novabio

Especialistas:

Diretor Geral da SJC Bioenergia

Humberto César Carrara Neto

Eduardo Leão de Sousa

34 36 39 42

Miguel Ivan Lacerda de Oliveira

Diretor de Biocombustíveis - Ministério Minas e Energia

Guilherme Bellotti de Melo

Consultor de Agronegócio do Itaú-BBA

Martinho Seiiti Ono

Diretor da SCA Etanol do Brasil

Alexandre Enrico Silva Figliolino

Consultor-sócio da MB Agro e Consultor da XP

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com nJornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com nTratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues, Careca - LuisCar.rodrigues@gmail.com - 16 988213220 nFinalização: Douglas José de Almeira nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais sob a responsabilidade de seus próprios autores nFoto da Capa: Acervo da Raizen n Foto do Índice: Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - 16 99213-2105 nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 98111-8887- paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas nFotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais e comprovantes de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 4.500 exemplares nExpedição Revista digital: 23.400 e-mails cadastrados - Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nAuditoria de Veiculação e de Sistemas de controle: Liberada aos anunciantes a qualquer hora ou dia, sem prévio aviso nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br n

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Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Ismael Perina Junior • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Julio Maria M. Borges • Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Martinho Seiiti Ono • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano


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editorial de abertura

um cenário promissor Na agricultura, existe o tempo de plantar, o tempo de chover e o tempo de colher. Neste momento, estamos no tempo de plantar. Plantar políticas públicas que visem ao desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro, com foco no aumento da produtividade, a partir da adoção de modernas técnicas de produção e do aumento da conectividade no meio rural. Temos um amplo campo para expandir a presença do agronegócio brasileiro no mundo. Queremos avançar para além dos atuais 7% de participação brasileira no comércio internacional. Para isso, contamos com o setor sucroenergético, que produziu 33,2 milhões de litros de etanol, 29 milhões de toneladas de açúcar e 620,7 milhões de toneladas de cana, na safra 2018/2019, e caminha para superar esses números na safra 2019/2020. Essa produção contribui para reforçar a presença do Brasil no exterior. Nos primeiros nove meses deste ano, já são 12,7 milhões de toneladas de açúcar e 1,1 bilhão de litros de etanol exportados, gerando divisas superiores a US$ 4 bilhões. E, à frente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), trabalhamos para expandir ainda mais a participação do setor sucroalcooleiro nas exportações brasileiras.

Em recente viagem à China, acertamos a criação de um grupo de trabalho para discutir o comércio de açúcar e de etanol entre nossos países. A China já importa açúcar brasileiro. Entre janeiro e setembro deste ano, 1,1 milhão de toneladas de açúcar brasileiro foram vendidas para os chineses. E temos a promessa de mais recurso chinês para o setor. A Cofco, maior processadora de alimentos da China, pretende ampliar seus investimentos no Brasil, no setor de açúcar. Os investimentos externos voltados para a ampliação e a diversificação da produção nacional serão sempre bem-vindos. O agronegócio brasileiro, que responde por 21% do PIB nacional e por 20% dos empregos, está se preparando para receber o capital externo. E o Governo Federal tem feito a sua parte, trabalhando para modernizar a nossa legislação e dar segurança jurídica aos investidores internacionais. Temos levado adiante as reformas necessárias para melhorar o ambiente de negócios no País e alavancar a nossa economia, gerando empregos e renda para os brasileiros.

Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias Ministra da Agricultura


Opiniões Mas a melhor notícia vinda da China é o interesse no etanol brasileiro. Com preocupação ambiental, os chineses já decidiram que, a partir do próximo ano, vão começar a adicionar etanol à gasolina para reduzir as emissões e dar mais qualidade ao combustível. Abre-se, portanto, um grande mercado para o etanol brasileiro. Podemos propor parcerias, não apenas no comércio do combustível renovável, cuja produção a partir da cana-de-açúcar emite 85% de CO se comparado ao combustível fóssil, mas, ²sobretudo, no desenvolvimento de tecnologia de veículos elétricos a etanol, com o uso de células de combustível. Ou seja, teríamos um veículo movido a eletricidade que não necessitasse de uma tomada para seu abastecimento. Ainda em relação ao etanol, negociamos com o setor sucroalcooleiro a ampliação da cota de importação do combustível com tarifa zero. O limite passou de 600 milhões de litros para 750 milhões, mas com regras claras para reduzir a entrada do produto no Brasil durante a safra do etanol na região Nordeste. De 31 de agosto de 2019 a 29 de fevereiro de 2020, poderão ser importados, no máximo, 200 milhões de litros com alíquota zero. Na entressafra, serão duas cotas de 275 milhões: de 1º de março de 2020 a 31 de maio de 2020 e de 1º de junho de 2020 a 30 de agosto de 2020. Negociamos essa solução também com o governo dos Estados Unidos, país que hoje é, ao mesmo tempo, o principal destino do nosso etanol e nosso principal fornecedor do combustível.

Essa foi uma forma de mantermos a reciprocidade no comércio bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos. Entendemos que os acordos internacionais, sejam eles bilaterais ou multilaterais, são um importante instrumento para elevar a qualidade dos nossos produtos. Após o período de 12 meses, vamos negociar com os Estados Unidos um amplo acordo que contemple não apenas o comércio de etanol, mas, sobretudo, um melhor acesso ao mercado de açúcar daquele país. No âmbito da melhoria da qualidade dos produtos brasileiros, a partir de dezembro, será implementado o RenovaBio - Política Nacional de Biocombustíveis, cujo objetivo é incrementar a produção de combustíveis renováveis, que emitem menos poluentes que os fósseis. Com essa política de governo, certamente estaremos abrindo a possibilidade de ampliação do etanol brasileiro internacional, com um produto ambientalmente sustentável. O programa vem ao encontro de uma importante ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: a adoção de políticas públicas que promovam o crescimento da agropecuária brasileira e protejam o meio ambiente. Não são posições antagônicas. Ao contrário, sabemos dos efeitos das mudanças climáticas no setor. O RenovaBio vai exatamente valorizar as melhores práticas do setor. Por fim, diante do promissor cenário desenhado, acreditamos que as perspectivas do setor sucroenergético são as melhores possíveis. O Brasil é, hoje, o terceiro maior exportador de produtos agrícolas, sendo o açúcar um dos pilares desse posto, juntamente com o café, a soja e o suco de laranja. Reconhecemos que, nos últimos anos, o setor enfrentou dificuldades, devido a políticas públicas equivocadas adotadas por governos passados. Reafirmamos, porém, a disposição do Governo Federal de revisar essas distorções. n

Na agricultura, existe o tempo de plantar, o tempo de chover e o tempo de colher. Neste momento, estamos no tempo de plantar. " Fernando

Cerradinho Bionergia

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ensaio especial

o futuro da

esperança

Qual o futuro da agropecuária, da Amazônia ou do setor florestal ou da agroenergia no Brasil? Como refletir sobre o futuro da mecanização, da automação, da comunicação ou da pesquisa genética na agropecuária brasileira? Qualquer reflexão sobre o futuro do setor agroflorestal, dos profissionais, das tecnologias ou das empresas envolvidas implica pensar na perspectiva do tempo. Com ou sem esperança? O objeto de reflexão deste artigo é difícil de enxergar na quarta dimensão: a esperança. Como em muitas das opiniões aqui reunidas, eu vejo o futuro da agricultura e do setor florestal com esperança. Muita gente não. É possível pensar no futuro sem esperança? Pode haver progresso sem esperança? Esta revista comunica esperança. A esperança é um sentimento tão espalhado e compartilhado que, talvez, seja difícil explicar claramente do que se trata. Ela é um fenômeno propriamente humano e, por isso, infinitamente complexo, ao misturar sentimentos e razão. Ela permeia a atuação profissional e determina o futuro ao influenciar nas decisões e escolhas de pessoas, equipes e empresas. Depois de todas as análises técnicas e econômicas, dos cenários e prognósticos, as decisões pessoais e empresariais são influenciadas pela esperança, seja num clima otimista ou pessimista. A esperança impulsiona a ação e é um antídoto ao imobilismo. Não basta “a esperança em dias melhores”. Ninguém pode reduzir a esperança à espera passiva, e até crédula, da chegada de um futuro capaz de corrigir o presente. Esperar imóvel por dias melhores é não ter esperança. Pior ainda é ignorar o futuro. Outra ameaça ao futuro está em pensar apenas no presente, viver apenas no presente.

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O presentismo nega o progresso e hipoteca o futuro. Sinal dos tempos, ele é pregado atualmente por muitas lideranças, como uma atitude de sabedoria oriental: viver no presente, ignorando a inexorável marcha do tempo. O presentismo é um veneno. A verdadeira esperança é sempre uma reflexão sobre o tempo. Sobre o tempo passado, como campo das experiências vividas e sobre o tempo futuro, como um horizonte de expectativas. Dessa reflexão resultam, certamente, muitos dos artigos aqui reunidos. A verdadeira esperança no futuro não resulta de um otimismo ingênuo. A reflexão sobre o tempo passado, presente e futuro não prega a resignação, mas é animada (ganha alma) pela esperança. Essa reflexão confia no progresso, na capacidade de progresso das pessoas, comunidades e povos. Quem, nas empresas, nos laboratórios, nas fazendas ou nas famílias, cumpre esse papel e exerce essa reflexão? A noção de progresso tem um papel determinante na construção da esperança como sentimento. O progresso é um horizonte coletivo que se cultiva. A ideia de progresso está intimamente ligada a um grau de esperança. Ela está estampada em nossa bandeira. Segundo Henri Bergson, “o homem não pode exercer sua faculdade de pensar sem se representar um futuro incerto que desperta nele seu medo e sua esperança”. Esse filósofo e diplomata francês, laureado como Nobel de literatura em 1927, diferente de Platão e René Descartes, que usavam a geometria como modelo para fazer da metafísica uma ciência, adotou a biologia, a psicologia e a sociologia como fundamentos de seu pensamento filosófico. E deu muita atenção à esperança.


Opiniões A crise da esperança que atravessamos vem, em parte, da falta de recuo diante dela mesma. Isso leva muitos a dois excessos: o abandono da esperança ou, pelo contrário, o encerramento em uma credulidade infantil. A esperança é intimamente ligada ao julgamento que fazemos do futuro, como demonstrou René Descartes (Les passions de l’âme). A esperança se transforma rapidamente em temor, e até em desespero, quando a probabilidade de que nossos desejos se realizem é pequena. Nessa perspectiva, o abandono da esperança é um refúgio contra a decepção das expectativas não obtidas. O eclipse da esperança nas sociedades e nas empresas atravessadas pela incerteza, a valorização apenas do instante presente, o único ao nosso alcance, conduzem à apatia política e social por falta de projeção ou pela morte do idealismo. É a morte da inovação e da criatividade. Quando manifestar a esperança torna-se um tabu, a própria esperança fica entregue ao campo religioso, o único capaz de oferecer um horizonte de expectativas para além da política. A esperança no futuro da agropecuária nacional e das instituições, empresas e atores que constituem seus diversos setores não é apenas a soma de expectativas positivas individuais. Está em jogo, nos dias de hoje, o desafio de refundar a esperança coletiva, como um sentimento a ser levado no seio da atividade política no sentido amplo do termo. Mesmo quando a esperança coletiva fica travada, a esperança individual resiste. A tradição cristã dá muito valor a três virtudes que vêm de Deus: fé, esperança e caridade. A esperança, segunda virtude teologal, tem como símbolo a âncora. Já nos primeiros séculos, os cristãos desenhavam e esculpiam âncoras nos túmulos, manifestando a esperança na ressurreição do falecido. Os cristãos assimilavam a forma da cruz com a da âncora, uma espécie de cruz invertida. A simbologia da âncora ultrapassa o campo da fé.

A verdadeira esperança no futuro não resulta de um otimismo ingênuo. A reflexão sobre o tempo passado, presente e futuro não prega a resignação, mas é animada (ganha alma) pela esperança. "

Evaristo Eduardo de Miranda Chefe-geral da Embrapa Territorial

A âncora, essa pesada massa de ferro, é capaz de reter o barco diante das inconstâncias do mar e da deriva. Essa é a função da esperança na vida. Símbolo de firmeza, a âncora evoca solidez, segurança, tranquilidade e fidelidade. No meio da mobilidade do mar, a âncora é estável, imóvel, fixa e constante. A âncora lembra a capacidade de manter a calma, a lucidez e a firmeza diante de turbilhões dos sentimentos e dos atos da vida. A correnteza e as marés não arrastam os barcos quando estão bem ancorados. O mesmo ocorre com quem tem esperança. A última garantia dos marinheiros nas tempestades era a âncora. Para quem tem a impressão de que não há mais esperança, além do símbolo da âncora, cabe a imagem do eclipse. Durante um eclipse solar ou lunar, o astro não desaparece. Está apenas encoberto, velado, aguardando ser descoberto, esperando para brilhar e iluminar em plena luz. Basta remover o véu. Não é necessário saber tudo para encarar o futuro. Basta saber selecionar o que realmente está dotado de valor. É possível entrever, com infinita esperança, para além do véu do cotidiano. Eu vejo o futuro com esperança. Basta remover o véu. Como diz o dito popular: “a esperança é a última que morre”. E, como dizia um amigo, arcebispo emérito de Teresina, já falecido: “e, ainda assim, estrebucha muito antes de morrer”. Haja esperança! n


produtores

Opiniões

perguntas atuais para

futuras decisões de negócio

Por ser uma indústria secular, o setor sucroenergético tem o privilégio e o desafio de ter passado por transformações significativas em todos os três níveis que estruturam seu sistema agroindustrial – o cultivo dos canaviais; a produção de açúcar, etanol e energia e a comercialização desses produtos. O contexto atual aponta perspectivas concretas de novas rupturas em decorrência de uma agenda mundial em torno da mobilidade e dos combustíveis.

A mecanização reduziu o trabalho manual e trouxe ganhos sociais e produtivos inquestionáveis. Testemunhamos a extinção das queimadas, que reduziu os impactos ambientais. A transição de um modelo econômico linear para uma economia circular movimentou políticas públicas, linhas de financiamento e até mesmo redirecionou o modelo de negócio. Redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia definiram os indicadores que são acompanhados atualmente pelas empresas e promoveram a competitividade de forma sustentável no setor e em toda a cadeia produtiva. Presenciamos diversos ciclos de crescimento da produção do etanol, com o aumento da demanda e a sua importância no mercado nacional e internacional, diretamente relacionado à necessidade de substituição do petróleo e maior adesão aos biocombustíveis. A primeira fase de crescimento se deu a partir de 1975, com o início do Proálcool e a adoção da mistura de etanol anidro à gasolina, expandindo-se fortemente

a reinvenção de um setor, muitas vezes, não significa apenas a necessidade de se modernizar, mas de sobreviver. "

Marcelo Mancini Stella Vice-presidente Comercial, Logística e Energia da Atvos



produtores com o lançamento de veículos movidos exclusivamente a etanol hidratado a partir de 1979. Em 2003, inicia-se uma segunda fase, que coloca o Brasil na vanguarda mundial do uso de biocombustíveis, com a chegada dos veículos flex-fuel. O crescimento da demanda de combustíveis renováveis no Brasil e no mundo vem sendo cada vez mais influenciado pelas determinações de redução de emissão de gases de efeito estufa. O Protocolo de Kyoto, em 1997, e o Acordo de Paris, em 2015, são marcos que influenciaram globalmente novas regulamentações. Tais compromissos continuarão a impulsionar os países a buscar alternativas para a construção de uma matriz de combustível mais limpa, representando uma oportunidade de abertura de novos mercados para o setor sucroenergético. No mercado interno, a estruturação bem-sucedida do RenovaBio será determinante para o fortalecimento e a expansão do setor ao incentivar a produção e o uso de biocombustíveis, promovendo a descarbonização do transporte. Ao atingirmos os patamares de produtividade, sustentabilidade e competitividade projetados, assistiremos à expansão da utilização de etanol para além do equivalente ao cumprimento das metas compulsórias. Comercialmente, o setor também foi marcado por ciclos. O primeiro, com a entrada de novos atores estrangeiros e brasileiros. Depois, com a geração de energia a partir do bagaço de cana. Hoje, há a utilização de digital e Big Data. Além da redução de custos, ganho de eficiência, maior controle das emissões de gases de efeitos estufa, as decisões comerciais também serão impactadas positivamente. O comportamento dos preços do etanol e açúcar é influenciado pela oferta e demanda local e global, além da qualidade, clima, política cambial, pragas, solo, doenças, logística e dezenas de outros fatores. São elementos com centenas de combinações possíveis, o que ilustra a complexidade na precificação do setor sucroenergético. Com análises feitas a partir de um banco de informações integrado e estruturado, seja intra ou interprodutores, teremos um novo aliado para definir estratégias de mercado, dar respostas mais rápidas para adequar o planejamento logístico e para definir o mix de produtos. Nos próximos anos, teremos uma exigência crescente por um combustível ainda mais neutro, com processos e produtos mais sustentáveis de ponta a ponta. Isso significa identificar soluções em toda a cadeia, inclusive no escoamento da produção, ampliando a utilização de modais de menor emissão. A substituição do diesel no ciclo de produção de cana e na distribuição dos produtos continua sendo uma das oportunidades para

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reduzir a pegada de carbono no ciclo do etanol. A resposta está no próprio processo, com o uso de biometano produzido a partir da biodigestão de vinhaça. O modelo de produção a partir da cana-de-açúcar possibilita identificar saídas dentro de sua própria estrutura. Temos que trabalhar com um cenário longínquo, mas não improvável, da extinção de emissão de gases poluentes e de efeito estufa decorrente da mobilidade humana. Mais ainda, com a premissa de que as soluções deverão passar por combustíveis renováveis. O etanol apresenta-se naturalmente como protagonista nessa trama, o que posiciona o Brasil como um candidato à liderança dessa revolução. Em um cenário em que há prevalência de veículos com motores de combustão interna, teremos o aumento de participação do etanol na mistura de gasolina. Por ser uma estratégia exequível, relativamente simples de ser implementada e com resultados imediatos, pode ser uma opção, ainda que transitória, para regiões que caminham para a eletrificação da frota. Há outro quadro que se mostra promissor com o lançamento de modelos híbridos movidos por motor elétrico e abastecidos com etanol, apresentados como os “carros mais limpos do mundo” por utilizarem somente recursos renováveis. Em locais onde não há fonte limpa de geração de energia para alimentar os veículos elétricos ou onde não há infraestrutura adequada para o carregamento de baterias, esta é uma alternativa efetiva em relação aos veículos puramente elétricos. Em um terceiro contexto, que representa o grande salto para o setor, está a utilização do etanol como fonte de hidrogênio para alimentar células a combustível. Os veículos elétricos com células a combustível têm baixíssimo impacto ambiental, sem emissão de material particulado e tendo como subproduto apenas vapor d’água. Já em estágio de desenvolvimento em várias montadoras, a propulsão por células de combustível permite que a bateria do carro elétrico seja substituída pelo tanque de etanol. De fato, a reinvenção de um setor, muitas vezes, não significa apenas a necessidade de se modernizar, mas de sobreviver. Inclusive para uma indústria consolidada, é fundamental buscar hoje respostas para perguntas sobre desafios que nem mesmo se concretizaram e soluções para obstáculos futuros. Como será a utilização dos biocombustíveis e da bioenergia? Que mercados prevalecerão? Como tornar os produtos e a cadeia produtiva integralmente sustentáveis? O etanol se tornará uma commodity global? n


Opiniões

o caminho das

possibilidades

Perguntas são fundamentais quando pensamos no futuro. Como serão as coisas? Como chegaremos lá? Estaremos vivos para experimentar o novo? Questões que certamente vêm sendo feitas desde que o mundo é mundo. Desde que uma inovação – que, em algum momento distante da história, nem era chamada de inovação – mudou para sempre os caminhos que nos trouxeram até aqui. Iniciativas que vêm passando por evoluções continuamente e que interferem e vão continuar interferindo nas nossas vidas. A literatura científica, por exemplo, revela que as leveduras são os organismos que mais cedo foram domesticados. Os primeiros vestígios de atividade de produção de pão e cerveja surgiram na civilização egípcia, o que significa que estamos falando de algo que vem sendo utilizado há quase 5.000 anos. Mas como um microrganismo milenar pode ser tão atual e importante para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do que vem pela frente? A resposta é: biotecnologia, um catalisador decisivo para nos colocar na rota de evolução de tantos negócios e que também impactam o setor sucroenergético. As leveduras são os microrganismos responsáveis por transformar o açúcar em etanol através da fermentação (a palavra levedura tem origem no termo latino levare, que significa “crescer ou fazer crescer”).

o caminho para as possibilidades é quase infinito. Evoluir faz parte do ser humano, e ciência e tecnologia são os componentes fundamentais que impulsionarão grandes transformações. "

Luciano Zamberlan Gerente de Processos de Etanol na Raízen

Com aprimoramentos tecnológicos, estamos falando da possibilidade de produzir cerca de 3% a mais de etanol com tecnologias drop in, ou seja, de fácil aplicação, sem mudança da estrutura industrial de fermentação existente, e de 50% a mais de etanol utilizando a mesma área plantada através do etanol de segunda geração, o E2G. Os avanços que vemos hoje no campo e, mais especificamente, no setor sucroenergético, com iniciativas como a da melhoria constante de algo tão antigo como uma levedura, nos faz crer que a biotecnologia está para o agronegócio assim como a Internet das Coisas está para os avanços tecnológicos.


produtores E, de acordo com um estudo de 2016 da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), “a biotecnologia industrial poderá impulsionar o crescimento econômico, além do desenvolvimento social brasileiro”. Segundo esse mesmo levantamento, “o potencial de incremento desta área de atuação à economia brasileira é de um fluxo anual de riquezas de aproximadamente US$ 53 bilhões nos próximos 20 anos”. Um dos grandes destaques aqui no Brasil são os aplicados no desenvolvimento de biocombustíveis, produzidos a partir de biomassa renovável e que tem grande potencial para substituir uma boa parcela dos combustíveis derivados de petróleo e gás natural utilizados em motores a combustão. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), cerca de 45% da energia e 18% dos combustíveis consumidos no Brasil já são renováveis e, por seu pioneirismo no uso de biocombustíveis, o Brasil alcançou uma posição de referência no desenvolvimento de alternativas renováveis de energia como opção às fontes fósseis. Posição privilegiada que será reforçada a partir da implementação de um programa tão importante para o setor como o RenovaBio. Mas, para se tornar essa referência global, é necessário investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e é aqui que a biotecnologia aparece, para entregar produtos com maior qualidade e maior eficiência produtiva. É possível produzir mais e gerar produtos com maior valor agregado. As leveduras – sempre elas – são de suma importância para uma ampliação produtiva e, consequentemente, tornar o processo mais sustentável. Um exemplo é o E2G. Produzido a partir de biomassa da cana-de-açúcar e do milho, é possível diminuir o acúmulo de subprodutos provenientes do processo produtivo, extraindo mais combustível da mesma matéria-prima. Mas esse processo só foi possível por meio dos avanços biotecnológicos, já que o método de fermentação é basicamente o mesmo do etanol comum, exceto por um detalhe: os microrganismos responsáveis por transformar o açúcar em etanol não conseguem fazer essa conversão com pentoses, substância resultante da estrutura fibrosa da cana, ou seja, no bagaço. Seu aperfeiçoamento permitiu, assim, que o processo de fermentação também fosse viável na aplicação em substratos da cana, reutilizando matéria que antes seria descartada e, hoje, já é utilizada na geração de energia e compõe produtos acessíveis ao consumidor final, como perfumes e outros de linha cosmética. As possibilidades permitidas pela tecnologia no campo abrem, inclusive, espaço para ideias e projetos vindos de quem já dominava outros gramados. É o caso do ex-jogador de futebol Mathieu Flamini,

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Opiniões francês que jogou por clubes como Arsenal e Milan e que deixou o esporte para investir em uma empresa responsável por produzir ácido levulínico a partir de biomassa. A substância é um composto orgânico derivado da degradação da celulose e que vem sendo visto como um potencial precursor para a indústria do biocombustível. E por que ela é tão atrativa para os mais diversos setores da economia e cabeças que pensam além, como Flamini? Pois, a partir da biotecnologia, é possível transformar, através de microrganismos, moléculas de carbono em uma infinidade de produtos, inclusive adoçantes e plástico verde. E aí pouca coisa é tão poderosa quanto a cana-de-açúcar como uma fonte de carbono renovável utilizada na produção de energia, combustível, alimentos, fármacos e muitos outros. No agronegócio brasileiro, eletricidade tem sido obtida através da queima de materiais orgânicos, como bagaço de cana, casca de arroz e cavaco de madeira. Seu potencial de transformação por meio da biotecnologia faz da cana-de-açúcar um grande passo além do petróleo, podendo, teoricamente, substituir qualquer derivado do combustível fóssil. E, a partir do momento em que esse movimento passar a ser feito em uma escala de grandes proporções, podemos dizer que mais uma revolução industrial poderá surgir. Dessa vez, a partir dos avanços da biotecnologia, que também poderá estar associada às inovações tecnológicas, uma vez que já é possível, por exemplo, encontrar no mercado dispositivos de IoT sendo utilizados para verificar o desempenho de leveduras. São ondas de evolução da biotecnologia com horizontes bem definidos e em que estamos vivendo um primeiro estágio, onde já é possível ver os benefícios desses avanços já sendo utilizados, como é o caso do E2G. Em um segundo estágio, podemos encontrar aplicações em fase de testes que começam a chegar ao mercado e possuem um alto valor agregado, como é o caso do esqualano, substância encontrada na natureza, mas que já é reproduzida pela indústria, e suas moléculas começam a ser encontradas em cosméticos, pois contribuem para a elasticidade, o brilho e a hidratação da pele. Assim como em um horizonte não tão próximo do consumidor, mas que já são uma realidade para a indústria, estão as possibilidades em fases de prototipagem, como é o caso da matéria-prima para a produção de embalagens PET desenvolvidas a partir do açúcar. Sua produção ainda opera em forma de piloto para que a indústria avalie sua viabilidade para início da produção em grande escala. Enfim, o caminho para as possibilidades é quase infinito. Evoluir faz parte do ser humano, e ciência e tecnologia são os componentes fundamentais que impulsionarão grandes transformações. n


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o caminho da

alta produtividade

Para refletirmos e olharmos para o futuro, temos que fazer a seguinte pergunta: a agroindústria é sustentável sob os cenários de preço de açúcar, etanol e energia atuais e futuros? A resposta pode vir de formas distintas, mas certamente três temas centrais estarão presentes: aumentar a produtividade agrícola, reduzir custo de produção (com maior a eficiência) e aumentar receitas (novos produtos e mercados). A alta de produtividade agrícola passa por ações como melhoramento genético e biotecnologia, com as novas variedades, maior capacidade de produção, perfilhamento, brotação de soqueira, adaptação a mecanização e solos do cerrado, somado ao início da transgenia. Essas evoluções serão suficientes para mudarmos os patamares de produtividade de cana-de-açúcar na velocidade necessária? Qual o nível de investimento que esses programas de melhoramento recebem? Sabemos que o desenvolvimento de uma nova variedade de cana-de-açúcar leva um período muito maior que o melhoramento de culturas como soja e milho e que, após produzida, a nova variedade leva um tempo maior para alcançar áreas comerciais. Esses são desafios importantes a serem superados, para que se aumentem os investimentos de forma a gerarmos continuamente genética de elevadas produtividades.

As práticas agrícolas seguem em evolução. Temos destaque para a adubação orgânica, com o sistema de aplicação de vinhaça localizada, que agora atinge todas as áreas agrícolas, e a utilização da torta-de-filtro no plantio, práticas associadas às tecnologias que aumentam a atividade microbiológica do solo. Outro importante elemento de prática agrícola é a proteção de cultivos, que deve priorizar o desenvolvimento de novos herbicidas, inseticidas, fungicidas e outras tecnologias de proteção e produção utilizando produtos biológicos. O avanço tecnológico em máquinas agrícolas, principalmente na colheita, deve continuar, para garantir cada vez mais uma operação que não reduza a produtividade dos canaviais. Por exemplo, hoje a colheita não pisa mais sobre a touceira de cana devido à integração com sistemas de GPS, de forma que o canteiro em que está plantada a cana permanece sem compactação, aumentando a produtividade e a longevidade do canavial. As pesquisas devem continuar buscando alternativas que diminuam o trânsito de máquinas sobre o talhão e a consequente compactação e buscar colher mais linhas ao mesmo tempo, por exemplo.

Nosso futuro estará na nossa capacidade de lidar com nossos desafios como setor, principalmente no aumento da produtividade agrícola, na redução do custo de produção (aumento da eficiência) e no aumento de nossas receitas. "

Fernando Cerradinho Bionergia Carlos Daniel Berro Filho Diretor Agrícola da Biosev


Opiniões O aumento da eficiência operacional e redução de custos (R$/t) se divide em: a) custo da terra (arrendamento e parceria); b) custo de produção (plantio/tratos); c) custo de CTT (Colheita, Transbordo e Transporte); e d) custo industrial. Começando com o custo da terra, este é estreitamente relacionado com a região e com o ambiente de produção, de forma que reduzir esse custo está relacionado a buscar terras em locais onde a demanda não seja muito grande, desde que não avance em locais de ambientes de produção muito restritivos. Com base nisso, um aprendizado importante que tivemos nos últimos anos foi sobre a adaptabilidade de produção da cana-de-açúcar no cerrado, desde que respeitados alguns itens básicos de manejo, como a correta correção da acidez desses solos por meio do uso de corretivos (calcário/ gesso/fosfato), uso de sistemas de irrigação plena ou semiplena (para canas de terço final de safra) e salvamento para as canas de meio de safra. Vale destacar que a entrada da cana-de-açúcar nas fronteiras de cerrado diminui o custo da terra, mantendo ou até aumentando a produtividade agrícola quando comparada a regiões tradicionais. Seguindo para os custos mais relacionados à operação, o custo de produção (plantio/tratos) ganhou eficiência através de uma associação de técnicas que merecem destaque. O preparo reduzido diminui custos e interfere menos na estrutura natural dos solos, gerando melhores condições de produção. Com o plantio em sistemas de meiosi, temos um menor consumo de mudas e consequente redução significativa com transporte de muda. Podemos mencionar também a receita adicional com a produção de leguminosas, como soja e amendoim, uso intensivo de torta-de-filtro e vinhaça para adubação em substituição à compra de fertilizantes minerais e aumento da longevidade dos canaviais, proporcionado por uma série de melhorias nas condições da produção, resultando em menor taxa de reforma, possibilitando mais colheitas de um mesmo plantio. Novas tecnologias de plantio estão sendo desenvolvidas buscando criar a “semente” de cana, para padronizar as dimensões das estruturas de propagação vegetativa (gema) e, assim, revolucionar a eficiência dessa operação. O CTT ganhou em eficiência e redução de custo com auxílio de elementos como sistematização, blocagem e aumento dos tiros médios, programas de treinamento e monitorias a campo, sistemas de acompanhamento de colheita em tempo real, através de computadores de bordo, telemetria e demais tecnologias. Assim como no agrícola, a indústria vem aumentando sua eficiência operacional e reduzindo custos com treinamentos, gestão em tempo real de indicadores via sistemas, adoção de novas tecnologias industriais e, principalmente, contínua automação de seus processos.

Aumentar a receita das unidades produtoras é um fator de grande importância quando estamos refletindo sobre o nosso futuro; dessa forma, algumas merecem destaque: • A rotação de cultura com leguminosa no plantio de meiosi, normalmente soja ou amendoim, gera uma receita extra para o produtor; • A torta-de-filtro e a vinhaça podem ser comercializadas em substituição ao fertilizante mineral ou ser usadas em uma planta de biogás, e este biogás pode ser utilizado na própria operação ou comercializado; • A palha da cana pode ser utilizada como fonte de biomassa para que as caldeiras produzam vapor e consequentemente energia elétrica adicional; • Na indústria, podemos agregar receita das mais diferentes formas, utilizando levedura e bagaço para fabricação de produtos para alimentação animal, ou aproveitar a celulose, açúcar e etanol como matéria-prima de uma infinidade de novos produtos que podem ser produzidos em fábricas anexas; • Indo adiante, temos novos projetos e novas tecnologias surgindo, como a produção de cana de biomassa, seja para aumentar a produção de energia elétrica, seja para a produção de etanol através da celulose ou do milho. Dessa forma, as opções são muitas, cabe a cada unidade produtora entender seus potenciais, suas limitações, o contexto em que estão inseridas e, uma a uma, buscar as opções que façam mais sentido. Nosso futuro estará na nossa capacidade de lidar com nossos desafios como setor, principalmente no aumento da produtividade agrícola, na redução do custo de produção (aumento da eficiência) e no aumento de nossas receitas. Nosso País tem enorme aptidão agrícola, nossas instituições e empresas de pesquisa serão cruciais para o desenvolvimento das novas tecnologias e precisam receber investimentos. As políticas do País com o setor, através de estratégias de crescimento econômico em conjunto, a exemplo do RenovaBio, serão muito importantes, traçando planos de longo prazo para que o investidor tenha segurança em colocar seu capital nesse plano de longo prazo. Um setor que produz alimento, combustível e energia limpa, sustentável, gerando empregos no campo e na indústria, empregos esses que impulsionam a economia do interior e o crescimento sustentável do País. Uma produção que respeita o meio ambiente, que aduba sua lavoura com seu próprio subproduto industrial, que reaproveita tudo. Ao analisarmos todos esses fatores, concluímos que o negócio de cana-de-açúcar é bom para o País e para o mundo e que, com alguns ajustes de rota, importantes, o nosso futuro tem lugar reservado. n

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produtores

Opiniões

os sobreviventes do amanhã Os séculos de existência do setor sucroenergético retratam histórias grandiosas, cheias de grandes evoluções. Essa realidade pode ser facilmente percebida a partir dos primeiros registros, iniciando com os engenhos banguê de tração animal, passando pela evolução industrial dos engenhos a vapor, à introdução de novas variedades ao controle do Estado (IAA), o nascimento do Proálcool, assim como a introdução à economia de mercado (fim do IAA), chegando hoje às modernas unidades de produção, sempre suportadas pela capacidade do industrial e do produtor para superar as adversidades, buscando melhores custos em atendimento da demanda interna e externa. A evolução salta aos olhos. No que se refere ao papel do Estado, é preciso encontrar cada vez mais o caminho do equilíbrio econômico e com menos intervenção estatal. O setor caminha para cada vez mais seguir com maior independência e autonomia, ou seja, está sabendo sobreviver do mercado, ainda que seja um papel difícil para um setor de transformação tão forte como esse. As principais economias mundiais têm setores com essa força, com uma presença equilibrada do Estado, que sabe atuar para criar as condições para o próprio mercado crescer e ser competitivo. O setor sucroenergético brasileiro tem essa capacidade e, há muito, está sabendo se posicionar como vanguarda e pioneirismo no mercado internacional. Com olhar atento ao presente, as empresas nacionais que atuam no processamento da cana-de-açúcar estão vivendo uma revolução. Na medida do possível, estamos utilizando em nossos processos as novas tecnologias disponíveis no mercado, que incluem, entre outras, conectividade avançada, drones no uso agrícola, equipamentos autônomos, o conceito do 4.0 na gestão agrícola e industrial, tudo isso somado a grandes investimentos em capital humano, fundamental para suportar essa transformação no campo. Esses são os requisitos básicos, mas que são essenciais para as transformações necessárias aos ajustes e nas reduções de custos, de curto e médio prazo, com forte impacto na racionalização da mão de obra.

estamos utilizando em nossos processos as novas tecnologias disponíveis no mercado, como conectividade avançada, drones, equipamentos autônomos, o conceito do 4.0 na gestão agrícola e industrial, tudo isso somado a grandes investimentos em capital humano, fundamental para suportar essa transformação no campo. "

Abel de Miranda Uchôa

Diretor-geral da SJC Bioenergia

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Entendo que, por esses elementos tão evidentes, a revolução chegou às nossas portas. Mas precisamos levar essa realidade para o conhecimento de toda a sociedade, extrapolando as fronteiras. Estamos na Era da Comunicação, ou da Informação, como desejarmos chamar. A sobrevivência do setor vai ser radicalmente definida pela nossa capacidade de Comunicar e Diversificar, duas vertentes criadoras dessa nova era: Comunicar: Evoluir de maneira rápida, sem precedentes, como esses séculos de tantas histórias vencedoras e inovadoras que o setor canavieiro soube construir. Nesse sentido, devemos ter estratégias arrojadas e inovadoras para explicar e demonstrar ao consumidor e à sociedade em geral a importância estratégica da produção de combustíveis renováveis, da geração de empregos, do balanço e da extração de carbono, tão necessário ao novo mundo e que o setor vem realizando. Diversificar: Estamos na Era da Revolução Industrial dos sites canavieiros, hoje ativos nos 12 meses do ano, processando cana-de-açúcar, milho e sorgo, e produzindo etanol, açúcar, energia (bagaço, vinhaça, gás metano), biodiesel, proteína (ração), levedura (ração), gás carbônico (carbonatação e envase), água, etc. Estamos fortalecendo o crescimento para novas indústrias de transformação dentro do site, o que reduz radicalmente os custos dos produtos primários, nos mantendo de forma competitiva no mercado global cada vez mais exigente no que se refere às novas práticas que levem em conta a sustentabilidade e o respeito às comunidades e às futuras gerações. Se considerarmos a energia elétrica, um dos veículos da transformação, senão o maior, vale um comentário à parte. Com poucos detalhes, podemos dizer que a reengenharia em processo, como coluna a vácuo, caldeiras de leito fluidizado, turbinas de alta performance e a queima do bagaço e da vinhaça vão incrementar fortemente nossa capacidade teórica de produção e de geração. Não se pode esquecer da eficiência da gestão. Entendo que, olhando para o futuro, aqueles que atentarem para esse aspecto serão os sobreviventes do amanhã. n


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tempos difíceis

Incerteza, a palavra que melhor identifica o momento. No cenário mundial, disputas entre grandes potências econômicas, com lideranças temperamentais cujos reflexos têm ação imediata e intensa em todo o comércio mundial. Brexit, no Reuno Unido e o Mercado Comum Europeu, tensão entre produtores de petróleo no Oriente. Internamente, um governo que se propôs a ser disruptivo e liberar as amarras para o crescimento e o desenvolvimento do País vive às turras com o Legislativo, com o Judiciário, e, sem o apoio da mídia, não consegue imprimir direção nem velocidade às propostas inovadoras, além de ser constantemente solapado pelas mal proferidas palavras de seu líder máximo e pelos reflexos ainda deletérios do aparelhamento da máquina pública promovida pelos governos anteriores. Esses cenários, mundial e local, refletem, de uma maneira geral, em todos os setores da economia, mas, de forma mais pragmática e intensa, nos setores e/ou empresas mais fragilizados por crises passadas, ou com saúde financeira mais debilitadas. Esses organismos têm reações mais lentas e respondem menos aos poucos estímulos positivos que ainda vêm do mercado.

Existe, ainda, um grande espaço de crescimento de produção e produtividade de milho no Brasil, bem como potencial para incremento de extração de etanol desse grão. "

Fernando

Cerradinho Bionergia

Humberto César Carrara Neto Diretor Executivo Agrícola da Usina São João de Araras

Nosso setor, fundamentado em 3 produtos finais − etanol, açúcar e energia elétrica −, sofre influência do cenário mundial, seja pelos preços internacionais da commodity açúcar, seja pelas variações do preço de outra commodity, o petróleo, cujo valor impacta diretamente nos pregões internos do etanol, e, finalmente, a energia elétrica, que tem seus preços vinculados à demanda,

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Opiniões

que, por sua vez, é dependente de crescimento econômico, além da políticas de incentivo do governo. O setor sofreu no passado e ainda é impactado pelo controle desastroso do preço dos combustíveis, políticas erráticas de incentivo e de incremento de produção, de custos de produção em ascensão e preços de commodities na contramão, de margens apertadas, de pouco investimento em renovação e modernização. Assistimos a uma elevação de endividamento, baixa agregação e distribuição de valores na cadeia, movimentos de consolidação e até o desaparecimento de algumas empresas. Recente levantamento publicado pela agência FC/A mostra que o fosso entre as companhias saudáveis e as menos saudáveis aumentou, ou seja, diante do cenário pífio de recuperação, o “fluxo de dinheiro novo” flui preferencialmente para os grupos que já estavam fortalecidos com boa estrutura de dívida. Ou seja, quem vinha bem ficou melhor; quem vinha aos trancos, não melhorou. Um sinal evidente de que o ciclo de dificuldades ainda não parou. Ainda poderemos ver mais consolidações, mais desaparecimento de empresas. Aprendemos nas academias de gestão que preservar a saúde empresarial é analisar cenários, identificar riscos e oportunidades, munir-se de estratégias mitigadoras dos primeiros e potencializadoras do segundo, mas, convenhamos, os cenários não são nada facilitadores.


Vejo, portanto, um cenário desafiador para recuperar e manter a saúde físico-financeira das empresas fragilizadas por longo período de intempéries. É mister olhar com muito cuidado os custos de produção, mas com visão de produtividade, custos por unidade produzida. Não enxergo muita ajuda vindo do mercado de açúcar e energia elétrica, ao menos no médio prazo, porém do etanol pode vir um ponto de ancoragem para nosso negócio atravessar mais uma tempestade. Recentemente, em viagem de capacitação no exterior, junto com colegas executivos do setor, fomos conhecer e aprender a cadeia do etanol de milho americano, e, das experiencias vividas e compartilhadas, trouxe algumas conclusões. Não existe uma planta com maior capacidade de transformar a energia solar em matéria-prima do que a cana, muito embora o casamento cana-milho possa representar uma importante estratégia para a produção de etanol continuamente, durante quase o ano todo, desvinculando a produção de etanol do ciclo safra da cana. Existe, ainda, um grande espaço de crescimento de produção e produtividade de milho no Brasil, bem como potencial para incremento de extração de etanol desse grão. Pudemos observar, nas plantas norte-americanas, o quanto a pesquisa aplicada pode alavancar a produção e desenvolver novos produtos e novos mercados.

A cadeia de produção de etanol de milho e coprodutos é mais curta; de certa forma, desvinculada do ciclo de produção do grão, torna-se mais leve e seus coprodutos propiciam uma economia circular no seu entorno. As plantas processadoras de cana-de-açúcar têm energia térmica e elétrica para suprir uma planta de milho anexa e também uma boa parte de seu ativo fixo que pode ser diluído na cadeia do milho. Aprendemos também que o Brasil tem uma invejável infraestrutura de distribuição de etanol, uma política consolidada de precificação e um mercado forte e crescente de demanda. Existem ameaças? Sim, mais fortes no cenário externo, como outros combustíveis renováveis, mudanças nos hábitos de mobilidade urbana, mas existe também espaço para mistura de combustível renovável/fóssil, criando possibilidade de exportação de etanol. Portanto temos uma oportunidade adiante, mas cuidar de nossos ativos, renovar, modernizar, digitalizar, incentivar a pesquisa aplicada é essencial para mantermos a nossa máquina em condições de efetuar essa viagem, além de participarmos efetivamente e desfrutarmos desse cenário, caso contrário podemos assistir ao desfile da calçada, aplaudindo, se tivermos forças, saudosos de um tempo de mercado protegido e autoguiado. n

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como vejo o nosso futuro Em cada usina, fazenda ou escritório das startups, nas empresas de insumos modernos e nas de máquinas e implementos, o futuro é feito todo dia. Afinal, é no trabalho de hoje que se prepara o futuro. No trabalho de hoje, o entusiasmo e a imaginação criativa permitem visões do futuro que estimulam os caminhos do amanhã. Há os que projetam o futuro com os olhos da “popa”, os que usam a sua experiência como guia aos que projetam e os que sempre veem no futuro a realização dos seus sonhos. Há também os que sempre “chamam” o governo e os que não acreditam em mudanças. A forma de olhar o futuro é, portanto, muito pessoal, e o melhor modo de aproveitar as competências é trabalhar em equipe, bem coordenada e com liberdade. Mesmo assim, a maioria é a que se impõe. O nosso futuro sucroenergético terá muito a cara do Brasil, que segue, hoje, um caminho nunca antes trilhado. Procura romper com as amarras da intervenção estatal e privatizar, buscar o mercado internacional e o capital externo será muito bem-vindo. Isso dependerá da volta da confiança no País, em plena democracia, pressupondo alternâncias do poder. Nosso futuro seria, pois, otimista em termos da governança do País, mesmo em um mundo que dá demonstrações de volta do populismo, com força. Pressupõe-se a volta do Brasil com PIB crescente, a + 3% ao ano, com efetivo crescimento da classe média em número e em renda per capta. Seria excelente termos um fato: O Brasil, após o sucesso do carro flexível híbrido da Toyota, viu um processo de vendas crescentes desse tipo de veículo por todas as outras marcas concorrentes e a queda das vendas de veículos movidos somente a gasolina.

“O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, é inalcançável. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes, a oportunidade.” Vitor Hugo

Luiz Carlos Corrêa Carvalho Diretor do Grupo Alto Alegre

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O sucesso brasileiro dessa categoria de veículos se espalha pelos países açucareiros ao mesmo tempo em que, no mundo, o etanol será pelo menos 10% de cada litro de gasolina consumido. O açúcar, após anos de queda de consumos per capita, mas com população crescente, encontrará um patamar de 25 kg/capita de demanda anual. Se limitarmos esse futuro em 10 anos, como será? Qual seria o foco de desenvolvimento? E serão possíveis rupturas tecnológicas? O que o setor precisaria trabalhar para alcançar essas metas? Em primeiro lugar, vale ressaltar as condições geopolíticas que seriam o quadro geral das possibilidades futuras: a guerra comercial entre EUA e China refluindo; as tensões no Oriente Médio seguirão; as dificuldades europeias com relação à sua economia seguirão; o Brasil, muito pressionado à face de sua importância para atender à oferta de alimentos e de energia renovável, com sustentabilidade, crescendo 3% ao ano! E sendo aceito no mundo consumidor... Com esse pano de fundo, entre 2020 e 2030, com os primeiros 5 anos mais difíceis e globalmente os ciclos de commodities seguindo com sua volatilidade. Um ponto importante na revisão institucional global das grandes instituições como a OMC, por exemplo, é como irão atuar ou se serão enfraquecidas. Buscou-se mantê-la (OMC) com a importância atual (obviamente menos definidora do que já foi no comércio mundial) para essa visão prospectiva. Nessa linha, considerou-se o recuo da Índia e de outros países nos subsídios ao açúcar, com sua substituição por um modelo de açúcar/etanol como se faz no Brasil. Considera-se, assim, que o etanol começa a, de fato, se tornar commodity.


Opiniões Com relação ao setor produtivo, o que se espera é foco em produtividade, tanto em termos do uso de tecnologias como em manejo voltado a ganhos de produção por área cultivada e redução nos custos da produção. O ponto de partida do que será novo é a lei do RenovaBio, que se inicia em janeiro de 2020 e tem a qualidade de permitir previsibilidade de demanda (10 anos com aval do CNE – Conselho Nacional de Energia) de etanol e valorização das externalidades do etanol e outras bioenergias, via prêmio pelas menores emissões de carbono, assim como pela eficiência tecnológica. De uma forma clara, desde o final da década de 2.000, a produtividade medida pelas toneladas de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) por hectare caíram, grosso modo, de 12 toneladas para 10 toneladas na região Centro-Sul brasileira. A mesma queda (relativa) aconteceu no Nordeste do País. Esse resultado quebrou os ganhos ocorridos desde a década de 1980 no complexo canavieiro, ao contrário do que se viu na área de grãos e pecuária, que seguiu crescendo. Minha aposta, mesmo em momento de um grande e crescente número de empresas em situação de recuperação judicial é que o setor está em processo de buscar a produtividade perdida, com crescimento do investimento em tecnologia e com as expectativas positivas da saída de um ciclo muito negativo a um outro, bom em preços. As variáveis a serem avaliadas são o petróleo e seus impactos nos preços da gasolina e do etanol, a atuação dos governos que hoje subsidiam pesadamente o açúcar (Índia e outros) e que deverão reduzi-los pela pressão de vários países na OMC – Organização Mundial do Comércio, e o crescimento dos mercados. Outra questão fundamental a ser realçada é a curva de aprendizado em algumas importantes novas regiões produtoras, que, nas últimas 3 safras, já demon‑straram resultados superiores ao estado de % CRESCIMENTO AO ANO Ton Cana/ha

1,40% 0,40%

1,80%

Área Colhida

1,40%

AÇÚCAR

Milh ton / Bilh lts

KG ATR/tc

Ton ATR/ha

ETANOL

São Paulo como um todo. É o caso dos estados de Goiás e de Minas Gerais. Outro aspecto a salientar é a entrada de etanol anidro como aditivo da gasolina na China, Índia e outros países, além das possibilidades do carro híbrido flexível nos países dos trópicos, também sendo muito impactante o aumento da mistura do etanol na gasolina norte-americana, indo do E10 (10% anidro na gasolina) ao E15. Para refletir essa visão, vale colocar índices conservadores nos ganhos de produtividade voltados à recuperação do espaço perdido e o crescimento, após algumas safras, da área canavieira no Centro-Sul. Em síntese, espera-se que os ganhos e a área cresçam, em 10 anos, da seguinte forma: Essas curvas permitem observar que o etanol atingiria uma oferta de 40 bilhões de litros apenas dos canaviais, adicionando-se a isso o que viria do etanol de milho (acima de 4 bilhões de litros) e do etanol de segunda geração. O açúcar também atingiria números crescentes, mantendo, grosso modo, o share brasileiro na oferta mundial. As novidades, em escala, viriam das expectativas dos ganhos de produtividade da cana e do seu casamento positivo com a cultura do milho, além do desenvolvimento positivo da tecnologia do etanol de segunda geração. Nesses 10 anos, fundamentais mudanças deverão ocorrer tanto no Brasil (reformas fundamentais para economia) como nas aberturas com o mercado externo (acordos comerciais) e no equilíbrio da atual guerra fria EUA/China. Entre essas questões, o crescimento do veículo híbrido, ao invés do que se fala sobre o elétrico convencional, deverá ser outro fator muito positivo ao meio ambiente e aos combustíveis renováveis como o etanol. Peso relevante nisso tudo será reforçar as instituições de P&D no setor, com maior participação privada. n

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entidades

Opiniões

o futuro pautado pelo

consumidor

“Estamos trabalhando juntos e em coalizões mais amplas para promover políticas que são benéficas para o meio ambiente, enquanto consideramos os imperativos comerciais específicos de nossas cadeias de suprimentos, incluindo agricultores, pecuaristas e outros produtores.” Essa declaração de intenções faz parte das prioridades da Sustainable Food Policiy Alliance, aliança criada por Danone, Nestlé, Mars e Unilever, nos Estados Unidos, com o intuito de liderar a transformação da indústria de alimentos. A coalizão entre as grandes empresas é apenas um dos muitos exemplos do movimento global em resposta às grandes transformações que a sociedade moderna está vivenciando. É notório que os consumidores não estão mais olhando apenas o produto, mas também a postura das empresas em relação à força de trabalho, aos seus fornecedores, ao meio ambiente e às mudanças climáticas. Trata-se de uma questão de sobrevivência e de bottom line.

Pesquisas no mundo todo apontam que os consumidores dão preferência a produtos e serviços de empresas éticas, transparentes e compromissadas com a sustentabilidade de suas condutas, produtos e cadeia de suprimentos. Aqui no Brasil, a Nielsen ouviu 21 mil pessoas e comprovou a preocupação com sustentabilidade e boas práticas: 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto no meio ambiente; 30% dos entrevistados estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos; 58% não compram produtos de empresas que realizam testes em animais. Exemplo prático desse novo pensamento é o aplicativo Giki, disponível no Reino Unido, que ajuda o consumidor a escolher, na gôndola, os produtos que sigam os preceitos de mínimo impacto no meio ambiente e ética. Ou seja, com um clique, a indústria perde um consumidor antes fiel.

nos tornamos a quarta fonte mais importante da matriz brasileira, com o benefício de ter baixíssimo impacto ambiental; adotamos a fertirrigação e o controle biológico, diminuindo o uso de defensivos; reduzimos o consumo de água, via uso de circuitos fechados e adoção de sistemas de limpeza de cana a seco. "

Eduardo Leão de Sousa Diretor Executivo da Unica

Nesse novo contexto social, os produtores brasileiros que querem manter e ampliar suas posições nas cadeias globais de valor têm que estar em dia com suas práticas. E é o que o setor sucroenergético tem feito nas últimas décadas. Revolucionamos nossa forma de produzir. Atualmente, 98% da colheita da cana-de-açúcar no Centro-Sul é feita de forma mecanizada, sem queima prévia; a cultura ocupa apenas 1,2% do território nacional; a expansão dos canaviais, que está mapeada via imagens de satélites, ocorreu


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em que mais do que dobramos a produção de aliprioritariamente sobre pastagens degradadas e não mentos e biocombustíveis, o aumento total da área sobre biomas sensíveis, conforme determinado no agrícola plantada não chegou a 50%. Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar; Todas essas práticas sustentáveis garantiram passamos a gerar energia elétrica a partir de bioreconhecimento de agências e certificadoras intermassa e nos tornamos a quarta fonte mais impornacionais. Somos o país com o maior número de tante da matriz brasileira, com o benefício de ter empresas com o certificado Bonsucro, 62 usinas de baixíssimo impacto ambiental; adotamos a fertircom um total de 109 no mundo todo, atendendo a altíssirigação e o controle biológico, diminuindo o uso www.meggittsensing.com com mos padrões ambientais, sociais e econômicos. meggitt.com de defensivos; reduzimos o consumo de água, via Logo Secmil-V2 2020, com o RenovaBio em vigor, vamos uso de circuitos fechados e adoção de sistemas segunda-feira, 10 de dezembro deEm 2018 18:10:10 dar continuidade ao ciclo de aperfeiçoamento, com de limpeza de cana a seco. É importante ressaltar o reconhecimento da eficiência energética por meio que, nesse processo. foi feito um grande inves10/08/2017 17:56:33 do CBIO. Ou seja, a capacidade do produtor de fatimento em capacitação e atualização da mão de bricar mais energia limpa com menor emissão de obra do campo. gases causadores do efeito estufa no ciclo de vida. Nos últimos anos, o setor sucroenergético amgitt.com Quanto mais eficiente o produtor, maior a quantidapliou significativamente sua produção, sem expanwww.meggittsensing.com gitt.com de de CBIOs emitidos e, por consequência, maior dir, na mesma proporção, as áreas plantadas nem ca@meggitt.com renda advinda desses títulos. comprometer a produção de alimentos. Os ganhos Seja para nos mantermos entre os líderes exforam principalmente por meio de aumento de prode açúcar, atendendo às demandas de dutividade. Desde o ano 2000, o crescimento do 10/08/2017 portadores 17:56:33 sustentabilidade dos nossos compradores, seja volume de cana-de-açúcar plantada e processada para ampliarmos nossas exportações de biocomno Brasil permitiu uma expansão da produção do bustíveis, auxiliando países a reduzirem emisetanol da ordem de 170%. Nesse mesmo período, sões de gases de efeito estufa, ou, ainda, para houve um aumento da produção de açúcar de 120%, fornecer aos brasileiros produtos que atendam a e o de grãos, para alimentação humana e animal, seus anseios e preocupações, o setor sucroenermais do que dobrou, com aumento de 110%. gético estará pronto. Reinventando-se constanteImportante ressaltar que a maior parte do avanmente, com comprometimento com a sociedade ço de produção se deu basicamente por meio de gae o meio ambiente. n nhos de produtividade, já que, no mesmo período,

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entidades

Opiniões

a conexão

deve ser sempre com o

Acredito que este texto a ser lido por você, leitor, será o artigo mais importante da minha trajetória como líder setorial. Depois de anos de atuação com inúmeros desafios e algumas conquistas importantes, me dou o direito de ser provocativo, o que poderá incomodar algumas pessoas.

consumidor

Inicialmente, gostaria de fazer duas perguntas. A primeira refere-se ao tema ambiental, você acredita que o ser humano é causador das mudanças climáticas ou aquecimento global? Já a segunda refere-se ao açúcar: você acredita que é possível conciliar o uso de açúcar (sacarose) na dieta em busca de uma vida saudável? É obvio que diversas outras perguntas poderiam derivar dessas duas, por exemplo, poderia perguntar sobre o carro elétrico; contudo vou ficar somente com essas duas. Mas, antes, é necessário contextualizar as grandes transformações por que o mundo e o Brasil estão passando, numa velocidade exponencial.

chegou a hora de olhar para fora, fazer a conexão com a sociedade, mostrar a ela que o nosso propósito se encaixa naquilo que ela procura. "

Mário Campos Filho Presidente da SIAMIG - Sindicato da Fabricação do Álcool de MG

É de extrema urgência a todos os empresários e gestores de negócios a reflexão e a busca desse entendimento, sobretudo em função da tecnologia, que a sociedade está vivendo, que tem mudado hábitos e transformado negócios já consolidados. E, se você não tem menos de 22 anos, já adianto, é um grande desafio entender esse futuro e você pode estar tomando uma decisão completamente equivocada neste momento. A transformação tecnológica e as inovações disruptivas têm mudado sobremaneira a forma como vemos e como agimos em sociedade. Com um aparelho na palma da sua mão, é possível fazer quase tudo relacionado à vida moderna, inclusive uma ligação.


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entidades Essa transformação já está chegando de uma forma muito rápida no agronegócio, com grande evolução e um enorme campo de oportunidades, e os resultados já estão aparecendo. Da mesma forma, o conceito de consumo consciente, seja a ideia minimalista de apenas consumir o necessário, seja a chamada consciência ambiental, tem moldado, de forma expressiva, os negócios pelo mundo. O conceito de bioeconomia, economia circular, a luta por uma causa têm crescido de forma significativa pelos quatro cantos do planeta. As preocupações sociais com o forte crescimento dos conceitos de igualdade, inclusão/diversidade e equidade têm levado a grandes reflexões nas altas cúpulas das empresas globais e de governos e têm mudado a forma de atuação das empresas, deixando de ser apenas agentes de produção econômica para serem agentes de promoção do bem-estar social. E, por trás dessa grande transformação, está o ser humano. Ele é o driver dessa transformação, é o colaborador, o consumidor, o cidadão em geral. E o que esse cidadão, esse novo consumidor quer? Ele quer a mobilidade na palma da sua mão e a experiência de se sentir mais humano. Ele quer ser inserido em uma economia de confiança e possui uma consciência na busca por um mundo melhor. Esse consumidor praticamente decretou o fim da posse, porque ele valoriza muito mais o que ele é e cada vez menos o que ele tem. Pode ser contraditório, mas essa transformação tecnológica e disruptiva traz as pessoas para o centro da decisão, com o seu empoderamento e a humanização das relações. Cada vez mais, as empresas terão que se preocupar com os 3Cs, cliente, colaborador e comunidade, de forma conjunta. E como esse mundo irá se conectar? A conexão entre tudo isso está no propósito, simplesmente a razão de ser. Propósito, uma simples palavra, mas com uma capacidade enorme de transformação se bem usada. E, na sua opinião, qual o propósito do setor sucroenergético brasileiro? Com a sua resposta, nós conseguiremos fazer essa conexão entre as pessoas? Na minha opinião, o propósito do setor é produzir alimento e energia limpa e renovável, de forma competitiva, para o Brasil e para o mundo, gerando emprego e renda para os brasileiros. Essa é a nossa razão de ser e o que deveria nos mover em direção ao futuro. Imagine cada colaborador do setor entendendo a sua função de alimentar o mundo e produzir energia para mover os carros e os aparelhos eletrônicos das pessoas. Imaginem o orgulho de uma comunidade ao saber que a sua cidade ajuda a reduzir a fome na África ou mesmo auxilia a manter um ar de melhor qualidade para respirarmos. Imagina o seu cliente satisfeito de ter encontrado

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o seu produto próximo a ele, com um preço justo e de boa qualidade. Essa é a conexão tão necessária para encararmos essa transformação. Para isso, precisaremos mudar. Chegamos até aqui com relativo sucesso, um grande parque produtivo, vasta área de cana, sistemas logísticos consolidados, uma diversificação imprescindível para atravessar as turbulências intrínsecas às commodities e um grande mercado consumidor. Mas será o suficiente para construirmos o futuro? Infelizmente, não. O setor sucroenergético brasileiro tem como característica o olhar para dentro, muito normal para um segmento muito complexo, com tamanhas incertezas de produção e preço. Mas, agora, chegou a hora de também olhar para fora, fazer a conexão com a sociedade, mostrar a ela que o nosso propósito se encaixa naquilo que ela procura. Voltemos às perguntas do início do texto. Vejamos a primeira. Somos produtores de energia renovável e limpa, uma opção ao combustível fóssil e altamente imprescindível ao Brasil e a alguns países do mundo para fazer a transição para a economia de baixo carbono. Você, acreditando ou não nas mudanças climáticas, saiba que boa parte da sociedade acredita e quer pagar por essa mudança. A utilização cada vez maior do etanol e da bioeletricidade de cana se dará a partir da capacidade do setor de se conectar com esse mundo do consumo consciente e preocupado com o meio ambiente. Esse é o desafio. Não é você que escolhe o consumidor, é ele que o irá escolher, portanto conecte-se a ele. Da mesma forma, quando falamos sobre açúcar, a primeira ideia que vem à mente das pessoas é a questão da obesidade. Mal sabem elas que o açúcar, no sentido geral, é imprescindível à sociedade e está presente inclusive no primeiro alimento nosso, o leite materno. Quantos povos ao redor do mundo sofrem com a falta de comida, de energia para o corpo humano. O açúcar ainda tem muito que adoçar o mundo. E para aquelas pessoas que têm opção? Mais uma vez, como vamos fazer essa conexão, é um grande desafio. Convido a todos a visitar a área de açúcares especiais de um supermercado classe A, veja a transformação que podemos fazer: demerara, orgânico, fit, etc... É só conectar com o propósito das pessoas, seremos novamente escolhidos. Aos poucos, o interesse por exercícios físicos está aumentando, o que possibilita novas mudanças de hábitos; equilíbrio é a palavra do momento. Portanto o futuro do setor sucroenergético dependerá sobretudo das pessoas, são elas que definirão o nosso caminho de produção, sua produtividade e eficiência; são elas que pensarão e planejarão o setor, levando-o a fazer essa tão almejada conexão com a sociedade brasileira e mundial. Só depende de nós. n


Opiniões

para qual futuro estamos nos movendo? No Brasil contemporâneo, o desenvolvimento para o futuro da atividade agropecuária, nela incluídos os biocombustíveis e a bionenergia, está receptivo aos avanços tecnológicos que, de forma acelerada, são disponibilizados e harmonizado com eles. Contudo esse engajamento não deverá desconsiderar aspectos relevantes, como as vantagens qualitativas nacionais frente a outros países desenvolvidos, tampouco irrelevar a necessidade de inclusão social, de sustentabilidade, de desenvolvimento nacional integrado e interiorizado e de oferta de oportunidades para uma legião de jovens que são ofertados ao mercado permanentemente. Por esse contexto, vejo o nosso futuro de forma auspiciosa, inclusive quando registramos quando iniciamos esse processo e em que grau estamos. Mostrou-se evidenciada, nesse trajeto, que não foi muito longo, a determinação empresarial para evoluir no aumento da produção e oferta de energia e biocombustíveis, a busca permanente de aumento de produtividade e o permanente compromisso com a sustentabilidade. Eventos e conquistas nem sempre vêm acompanhados de políticas públicas convergentes e estimuladoras. Houve períodos em que a memória, sem muita dificuldade, ainda destaca uma assimetria de políticas públicas e esse permanente objetivo de desenvolvimento abraçado pelo setor sucroenergético. É fato que, atualmente, dispomos de um arranjo regulatório legal voltado para o equilibrado progresso qualitativo dos biocombustíveis e da bioenergia, representado pelo Programa RenovaBio – Política Nacional dos

Não se trata de ufanismos momentâneos, mas a certeza de que o futuro do ambiente para os combustíveis e a energia não deixará de considerar a pronta eficiência dos biocombustíveis. "

Fernando Pedro Robério de Melo Nogueira

Cerradinho Bionergia Presidente do Sindaçúcar-AL e Presidente do Conselho de Administração da Novabio

Biocombustíveis, que irá, na sua dinâmica de operação, a partir de 2020, possibilitar a universalização das conquistas de eficiência até então contabilizadas para todos os produtores, além de comprometer esse sistema de produção e comercialização com uma permanente evolução de indicadores de eficiência, produtividade e sustentabilidade e, com isso, fazer chegar ao consumidor final a partilha nesses ganhos pela oferta de um menor custo de energia e combustível nacional. Esse arranjo regulatório está disciplinado em Lei, Decreto e outros Normativos infralegais e não confere a esse programa benesses fiscais sob a forma de renúncia fiscal, novos tributos ou mesmo aporte de subsídios do erário atual, já bastante esgotado. A principal ação requerida pelo setor ao Poder Público, desde o final de dezembro de 2018, está representada na inadiável manutenção do cronograma de implantação do RenovaBio a partir de janeiro de 2020, ainda que, em paralelo, outras ações governamentais se façam necessárias para uma melhor consolidação desse projeto. Assim, o futuro é visto como promissor a partir desse programa, mesmo com as novas formas de motorização elétrica nos veículos, situação em que os biocombustíveis


entidades encontrarão um ambiente favorecido na eficiência e na sustentabilidade desses veículos através dos carros híbridos – elétricos e biocombustíveis. Ademais, nesses misteres, cabe uma reflexão nacional sobre a opção única de motorização elétrica nos veículos ou o alinhamento dessa tecnologia de ponta com a motorização a combustão a partir de combustíveis renováveis. O futuro promissor não é simplesmente adotar por osmose essa revolucionária forma de motorização oferecida pelos carros a eletricidade, mas inserir a supremacia do Brasil na produção eficiente e sustentável de biocombustíveis nessa nova onda. Estaremos, assim, proporcionando o futuro economicamente adequado dos biocombustíveis, que se permitiram superar os obstáculos do passado e, pelas suas características qualitativas, oferecer um futuro que não é excludente quando confrontado com essas novas tecnologias de motorização. Com outro enfoque e, não menos importante, não considero racional renunciarmos a esse esforço nacional brasileiro de 40 anos do carro movido a etanol, com a inclusão social pelo emprego que ele carrega no seu trajeto, a universalização da renda em milhares de municípios brasileiros, a economia de divisas sobre o petróleo importado evitado. Afinal de contas, não é desprezível a necessidade de implantação de um programa nacional de desenvolvimento a partir da realidade atual brasileira de desalento e foco na geração de emprego e renda para a formação de maior poupança nacional. A constatação, mais uma vez, de que a visão do nosso futuro está contida na moldura de um conteúdo de desenvolvimento positivo estável e continuado repousa de forma sistematizada na constatação precisa do que precisamos corrigir e realizar a partir dos fundamentos positivos sobre os quais estamos amparados: • Existe espaço para crescimento de eficiência e de produtividade; • A autossustentabilidade do setor é inquestionável; • A extensa cadeia produtiva desconcentra riscos e dilui os esforços de produção; • A capacidade gerencial do setor já demonstrou resiliência nas dificuldades, determinação e confiança no que se propõe desenvolver; • O compromisso social com seus colaboradores assegura importância para a manutenção do tecido social de muitas regiões do País; • A certeza dos benefícios socioambientais na saúde da população pela menor emissão de gases nocivos pelo sistema de transporte; • A constatação científica da melhor qualidade para o meio ambiente e as emissões de gases estimuladores do efeito estufa, do veículo movido a etanol ou do híbrido elétrico a etanol, quando considerado no conceito amplo e correto do ciclo de vida; • A inserção e o alinhamento com os compromissos que o governo brasileiro assumiu em acordos

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Opiniões internacionais sobre o clima confere responsabilidade social e política de grande visibilidade ao setor; • Por fim, a transversalidade com outras tecnologias de motorização assegura aos biocombustíveis uma coexistência pacífica e promissora nesse segmento, sem segregação e somatizando efeitos. Poucas atividades econômicas e produtivas nacionais, talvez raras, trazem consigo a flexibilidade de convivência com os movimentos na espécie que estão a serem defendidos por outras nações no mundo; também a rotulagem de um programa criado, desenvolvido e aprimorado com tecnologia brasileira, como o fato de se observar uma certa conveniência de alguns países em colocar em dúvida, passionalmente, para a comunidade internacional, os fundamentos mais robustos do inquestionável valor do etanol produzido em terras brasileiras, nos confere um ambiente muito firme de convicção sobre a superação desses obstáculos e o estabelecimento do espaço legitimamente reservado aos biocombustíveis e à bioenergia no mundo que está sendo construído. O começo com direcionamento firme desse futuro promissor deve ser abraçado sem retornos e ciclotimias pelos brasileiros, notadamente o Poder Público e a ferramenta estão postos, o RenovaBio. As medidas e as ações que deverão ser aplicadas, sem perder o compromisso da nova ordem nacional, de maior liberdade econômica, menor custo Brasil e compromisso nacional com as políticas planetárias pela sustentabilidade. As ideias estão postas, algumas já aprovadas, outras em regulamentação. A base de produção está disponibilizada, ainda que com algumas defecções nessa caminhada. As perdas, que foram muitas e significativas no trajeto até aqui, tiveram, em fatores exógenos às empresas, a sua principal motivação. Evitar políticas governamentais erráticas e descontinuadas. Possibilitar um planejamento de longo prazo e progressão da produção com simetria aos mercados a serem conquistados e criar um ambiente de motivação individual, permanecendo comprometidos com os fundamentos positivos e benéficos básicos do setor, se criará o caminho que nos levará ao futuro que estamos vendo. Estamos na frente de um processo validado pela sua eficácia, construído e consolidado na sua trajetória de quatro décadas e acreditado quando demonstrado frente aos demais sistemas de produção de energia e combustíveis hoje conhecidos. Não se trata de ufanismos momentâneos, mas a certeza de que o futuro do ambiente para os combustíveis e a energia não deixará de considerar a pronta eficiência dos biocombustíveis. O Brasil se afirmará nesse capítulo. É para esse futuro que estamos nos movendo. n


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Opiniões OpiniõesOpiniões


especialistas

graça e oportunidade A palavra “graça” tem muitos significados. Um deles é “benevolência”: Isso é uma graça que espero alcançar por meio da sua bondade. Pode significar também “encanto”, quando afirma o poeta: (...) que coisa mais linda, mais cheia de graça.... Pode significar “agradecimento”, como na ação de graças, no momento da contemplação de tudo aquilo de bom que acontece em nossas vidas. No sentido teológico, “graça” é dom ou um presente de Deus. O ano de 2019 está terminando, e, mais do que nunca, estou convicto de que somos verdadeiramente abençoados. Sempre me senti abençoado por estar à frente do Departamento de Biocombustíveis no Ministério de Minas e Energia nesses anos. Já temos muita história para contar, sobre o que e como foi feito para se construírem as bases de uma política pública que está sendo um divisor de águas para o setor sucroenergético. Mas tudo tem seu tempo, e ainda vai chegar o momento certo de dar um testemunho pessoal sobre todo o processo de construção do RenovaBio. Nos princípios, valores e visão de futuro, tenho plena convicção da nossa posição inicial que traçamos para o programa.

Já temos muita história para contar, sobre o que e como foi feito para se construírem as bases de uma política pública que está sendo um divisor de águas para o setor sucroenergético. "

Miguel Ivan Lacerda de Oliveira Diretor do Dpto. de Biocombustíveis da Secretaria de Petróleo e Gás de Ministério de Minas e Energia

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Mas nem sempre prevaleceu o entendimento inicial em um determinado aspecto. Muitas vezes, alguns “profetas” chegaram a anunciar que não havia saídas para colocar o programa de pé. Mas, por quê, apesar de tudo, as coisas têm acontecido, e o RenovaBio está-se encaminhando para a plena vigência no ano que vem? Muitos já me ouviram comentar que o RenovaBio tem acontecido pela convergência plena daquilo que chamo de “graça e oportunidade”. Em várias ocasiões, quando não se esperava um desfecho adequado, eis que tudo se acertava de modo quase sempre surpreendente. Desde o momento em que apresentamos o conceito do RenovaBio para a sociedade, há quase três anos, pudemos contar com o apoio de especialistas das mais diversas áreas, que emprestaram “de graça” seus talentos para sustentar o programa que nascia.


Opiniões O grupo de especialistas, que se comunica até hoje, conta com 116 voluntários. São agentes públicos e privados que, juntos, com seu notório saber, têm pensado e formatado com o Governo Federal essa inovadora política pública. Em 2019, já publicamos o decreto que regulamentou o programa e fundamentou a sua governança. Com o CNPE, aprovamos o segundo ciclo de metas para o RenovaBio, consolidando o compromisso para a descarbonização da matriz de transportes no Brasil. A ANP, parceira fundamental, publicou as regras para o desdobramento das metas que o CNPE estipulou para o ano de 2020 para as distribuidoras e já regulamentou o processo de certificação. Mais de 100 processos de certificação estão sendo avaliados na Agência, numa demonstração clara de dedicação e espírito público. A Embrapa, nossa parceira de primeira hora, outra, sem a qual não teríamos avançado, realizou treinamentos sobre a RenovaCalc em vários lugares no País e também nos Estados Unidos. Atualmente, estamos trabalhando com o Serpro para concluir o sistema de lastro para a emissão dos CBIOs. Ao tempo em que este artigo for publicado, se tudo acontecer como tem sido com o RenovaBio, já estarão publicadas as regras de emissão, registro, custódia e comercialização dos CBIOs. Estamos confiantes de que teremos plenas condições de fazer desse novo mercado de CBIOs o mais dinâmico e bem-sucedido mercado de carbono no mundo. Pretendemos, por meio do compromisso assumido pelo mercado financeiro

e dos agentes econômicos, contar com um mercado saudável, maduro, acessado por investidores de todos os segmentos e países, em um curto intervalo de tempo. Bom, o título deste artigo é “Graça e oportunidade” e, agora, explico essa escolha. O que acontece quando há clientes que desejam comprar um produto que ninguém tem no mercado? Ou ainda, o que fazer quando o cliente já sente a necessidade de um produto, mas ele mesmo não tem a ideia exata sobre o que poderia satisfazer a essa necessidade? Muita coisa aconteceu no mundo e no Brasil no ano de 2019. Aqui, houve mudança de governo, trabalhamos muito para completar toda a regulamentação do RenovaBio e avançamos mais no processo de implementação deste que é o maior programa de descarbonização do mundo. Enquanto isso, lá fora, ativistas do clima, capitaneados por uma jovem adolescente sueca, iniciaram um movimento cujo objetivo é chamar a atenção dos agentes políticos para a ação efetiva no combate às mudanças climáticas. Percebam que há uma maravilhosa convergência de oportunidades. Estamos, no Brasil, desenvolvendo um produto novo, que tem por base justamente a contabilização da quantidade de emissões evitadas que caracteriza o serviço ambiental que o agronegócio brasileiro, na produção de bioenergia, realiza em prol da sociedade. Do outro lado, há uma insaciável demanda por esse serviço que é prestado pelos biocombustíveis brasileiros: a descarbonização do planeta. É ou não uma grande graça para nós? n

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especialistas

Opiniões

ventos favoráveis e a

volta do crescimento

Ao longo dos últimos anos, o setor sucroenergético vem enfrentando um ambiente desafiador que acabou gerando o que podemos chamar de letargia de investimentos. Estimativas do Itaú-BBA, com base em amostra do próprio banco, indicam que, nos últimos quatro anos-safras, o nível de inversões totais no setor, quando avaliado de maneira consolidada, foi insuficiente para manter a qualidade dos canaviais e cobrir a depreciação industrial e de bens e equipamentos agrícolas. No entanto os sinais para os próximos anos são animadores e, uma vez materializados, poderão pavimentar o caminho para a volta do crescimento do setor.

Essa apatia nos volumes de investimentos tem ocorrido porque parte das usinas apresentam saúde financeira bastante debilitada e, por conseguinte, não possuem capacidade para realizar tais investimentos. Esse grupo de players é caracterizado por apresentar uma menor liquidez e rentabilidade, que se traduzem em uma baixa capacidade de realizar a renovação de canavial, reposição da depreciação dos ativos industriais, máquinas e equipamentos agrícolas. O conjunto de grupos econômicos que goza de uma situação financeira bastante sólida – resultado de uma combinação da excelência operacional e baixo nível de endividamento – e que

os sinais para os próximos anos são animadores e, uma vez materializados, poderão pavimentar o caminho para a volta do crescimento do setor "

Guilherme Bellotti de Melo

Consultoria de Agronegócio do Itaú-BBA



especialistas está em plenas condições de voltar a investir optou por encontrar formas de serem mais eficientes com seus ativos (reorganização da colheita, redução de gastos com mudas no plantio, otimização das plantas industriais, entre outros). Bem verdade que alguns já deram sinais de expansões incrementais, seja através de alguma aquisição de canavial, seja de investimento em cogen, biogás e destilarias (incluindo etanol de milho). Porém ventos favoráveis parecem começar a soprar de várias direções. A primeira delas diz respeito à trajetória mais positiva para os preços do açúcar que, no curto prazo, deve ocorrer a reboque de um déficit global substantivo (na casa dos 10 milhões de toneladas) que deverá, finalmente, trazer alívio para cotação da commodity. No médio e longo prazo, espera-se que a efetivação dos mandatos de etanol da Ásia poderá servir como grande absorvedor de ATRs, trazendo um equilíbrio mais estrutural para esse mercado, servindo também para contrabalancear os efeitos deletérios de subsidios à produção e proteção tarifária presentes em tais países. Do lado do etanol, a implementação do programa RenovaBio – que possui como principal pilar o estabelecimento de metas de redução de emissões de carbono para o mercado de combustíveis – deverá reduzir a incerteza em relação ao papel do etanol na matriz de ciclo Otto brasileira ao trazer luz ao tamanho do mercado futuro de etanol e, ao mesmo tempo, em implementar o sistema para o reconhecimento monetário das externalidades positivas da utilização de biocombustíveis. No âmbito econômico, o endereçamento do problema fiscal do País combinado com as reformas microeconômicas (que passam pela lei do distrato, terceirização, cadastro positivo, abertura comercial, entre outras) devem contribuir para um crescimento mais sustentável da economia brasileira ao longo dos próximos anos e, portanto, influenciar positivamente o consumo de combustíveis de ciclo Otto. Outro efeito positivo é que tais reformas ajudam a ancorar as expectativas de sustentabilidade de dívida pública e, portanto, abrem espaço para que testemunhemos níveis estruturalmente baixos de juros no longo prazo e, com isso, reduzir o custo de capital do setor. Entretanto, a despeito desses fatores positivos que se descortinam para o setor, a nossa expectativa é a de que o crescimento virá em ondas. Em um primeiro momento, em que os sinais de aumentos de preços do açúcar e dos impactos do RenovaBio ainda não cheguem plenamente ao setor, a tendência é que os investimentos sejam puxados pelos grupos com

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boa musculatura financeira e se concentrem na expansão de canaviais & ganhos de produtividade agrícola e na modernização dos próprios ativos industriais, com foco em aumentar a utilização da capacidade industrial instalada e melhorar a eficiência. As oportunidades de aumento da área de cana tendem a ser impulsionadas pela fraqueza financeira de outras usinas vizinhas, que também poderão “desaparecer” ao longo do caminho. É válido ressaltar que o interesse por canaviais deverá se ater às áreas que ainda apresentam boas condições agrícolas. Paralelamente, devemos seguir observando a expansão da capacidade de produção de etanol de milho em plantas localizadas, principalmente na região Centro-Oeste do Brasil. As estimativas do Itaú-BBA indicam que, até 2025, teremos 4,6 bilhões de litros de etanol produzidos a partir do grão (volume três vezes maior que o importado anualmente). E isso é importante, pois, se, atualmente, tais plantas abastecem prioritariamente os mercados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, à medida que esses novos projetos entrarem em maturação, provavelmente parte de tal oferta será direcionada ao mercado do Centro-Sul. Em um segundo momento, quando os sinais positivos de preços, de fato, forem sentidos pelas usinas, e os projetos passarem a apresentar retorno sobre o capital atrativo e menor risco (inclui-se aqui toda a discussão sobre a adoção de carros elétricos, híbridos e célula de combustível), devemos voltar a ver interesse pela aquisição de ativos industriais em boas condições por parte dos grupos mais saudáveis, o que poderia contribuir para acelerar a consolidação do setor. Não podemos descartar também a hipótese de termos a volta de investidores/players internacionais interessados em participações acionárias diante do aumento esperado da atratividade do negócio no Brasil. Projetos greenfield de usinas de cana-de-açúcar, no entanto, ainda nos parecem um pouco distante e tendem a ocorrer apenas quando estivermos próximos de encher a capacidade industrial atual e as oportunidades de fusões & aquisições se esgotarem. Assim, a nossa perspectiva é que um cenário mais positivo esteja se descortinando estruturalmente para o setor, e paulatinamente devemos voltar a ser testemunhas do crescimento das usinas sucroenergéticas. Esse processo tende a ocorrer em ondas, e o resultado será um segmento formado por grupos de usinas mais saudáveis (operacional e financeiramente) e com níveis de retorno que criem valor para o acionistas. n


Opiniões

a terceira oportunidade Neste ano, completamos 40 anos do lançamento do Proálcool. O etanol no Brasil viveu, ao longo desse período, muitas oscilações, com momentos de euforia e outros de decepções. A criação e o uso do álcool (atual etanol) como combustível automotivo ocorreram em um ambiente altamente dependente da importação de petróleo e com preços exageradamente elevados. A indústria canavieira, de forma pioneira, lançou o novo combustível e conquistou os consumidores na década de 1980, com a venda de todos os carros de ciclo Otto movidos a etanol hidratado. Automóveis movidos 100% a etanol hidratado e a gasolina, sendo comercializados, inicialmente, com adição de 10% de etanol anidro, revolucionaram o mercado brasileiro, com enorme repercussão internacional. Mas, na década seguinte (1990), as montadoras voltaram a produzir automóveis movidos a gasolina, tornando o mercado de etanol hidratado restrito aos carros antigos. Paulatinamente, a adição de etanol anidro a gasolina foi aumentando, até chegar ao nível atual de 27%. No início deste século, a partir de 2003, tivemos o ressurgimento do etanol hidratado, dessa vez com o lançamento dos carros com motores flex-fuel. Mais uma vez a engenharia brasileira se destacou, desenvolvendo motores automotivos com total flexibilidade para funcionarem indistintamente com etanol hidratado ou gasolina, ou ainda com combinação de ambos os combustíveis em qualquer proporção. A euforia de um mercado crescente pelos biocombustíveis no Brasil e o cenário otimista de que outros países também passariam a utilizar em larga escala a adição de etanol anidro à gasolina geraram fortes expectativas de impulsionar também as exportações.

Estamos vivendo a terceira oportunidade de consolidar o etanol como um produto viável, sustentável e de uso estável e perene: o lançamento do RenovaBio, previsto para janeiro de 2020. "

Martinho Seiiti Ono Diretor da SCA Etanol do Brasil

Vimos uma avalanche de investimentos. Inauguraram-se mais 100 novas unidades avançando-se em novas fronteiras agrícolas, especialmente o Centro-Oeste brasileiro. Com investimentos realizados, mais uma vez, tivemos frustradas nossas expectativas. No Brasil, o congelamento de preço da gasolina, eliminando a competitividade do etanol hidratado e, no mercado internacional, sem a materialização das expectativas de alta demanda, o que se viu foi o fechamento de muitas unidades produtoras, aquisições por novos players e algumas fusões entre grupos. Portanto já tivemos duas oportunidades frustradas de termos um mercado de etanol consolidado e sustentável no longo prazo. Estamos vivendo a terceira oportunidade de consolidar o etanol como um produto viável, sustentável e de uso estável e perene: o lançamento do RenovaBio, previsto para janeiro de 2020. O que esperar do futuro? A grande diferença desse lançamento em relação a outras duas oportunidades é que, desta vez, o programa vem com digitais do Governo Federal, através da lei n° 13.576, de 26 de dezembro de 2017, que define os compromissos da cadeia produtora de biocombustíveis, do governo e das distribuidoras de combustíveis.


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O engajamento de todos os elos que produzem, regulam, fiscalizam e oferecem os biocombustíveis ao consumidor final, com definição clara das metas atribuídas a cada qual, gera um respaldo muito superior aos que se verificaram nos movimentos anteriores, em que o risco do sucesso ficou apenas com os produtores. O RenovaBio vem respaldado e busca atender compromissos internacionais assumidos pelo País nas Conferências do Clima. Encontra-se também perfeitamente alinhado ao momento e tendência em que a sociedade mundial deseja mudanças de comportamento, com forte questionamento sobre o uso da energia fóssil diante dos inúmeros estudos sobre a energia que usaremos no futuro. Recuperação e preservação do meio ambiente tem sido a palavra de ordem. Aqui, no Brasil, a participação do etanol hidratado no ciclo Otto tem sofrido oscilações constantes, conforme se pode observar na figura em destaque, em consequência de diversos fatores: tamanho da safra, preço do açúcar no mercado internacional, taxa de câmbio, tributações, preço da gasolina e tantas outras variáveis que afetam diretamente a competitividade do etanol. Acima de tudo, pretende-se que, com o RenovaBio, tenhamos um mercado de etanol hidratado crescente e previsível, sem vivermos novamente com essas gangorras que causam insegurança aos produtores. Com as metas de CBIOs que as distribuidoras precisarão cumprir anualmente, prevemos seu maior interesse em comercializar os biocombustíveis, garantindo maximizar a participação desses produtos, para minimizar a necessidade de aquisição dos CBIOs nos anos subsequentes. Nessa linha, é compreensível que as distribuidoras passem a contratar mais o etanol hidratado, buscando volume e participação de mercado que garantam o cumprimento de suas metas de descarbonização. Imaginamos também um mercado de etanol hidratado menos refém dos preços, cuja paridade percentual, ou a diferença de preços em relação à gasolina, seja o único fator determinante para a escolha do combustível. DEMANDA HISTÓRICA DE HIDRATADO NO BRASIL CRESCIMENTO 4,1% aa

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Temos um país com dimensões continentais, porém com infraestrutura de abastecimento de combustíveis instalados em todos os recantos, com terminais, tanques, postos e bombas instaladas, tornando fácil a oferta do etanol hidratado. Porém 85% do etanol hidratado é comercializado em apenas 5 estados (SP, GO, MG, PR e MT), devido ao ICMS ser menor que o da gasolina. Nessa linha, imaginamos que, no futuro, teremos a expansão de demanda em outros estados, pela pressão que a sociedade exercerá naturalmente por uma tributação mais competitiva do etanol hidratado em relação à gasolina. Com essa mudança de competitividade, os produtores terão um mercado potencial enorme, com demanda muito maior que a atual. Pensar que mais 22 estados passem a consumir etanol aos níveis dos 5 estados que se sobressaem atualmente abre oportunidades significativas de investimentos que, certamente, serão sustentáveis economicamente. O crescimento sustentável ambiental e economicamente da participação dos biocombustíveis em nossa matriz energética certamente incentivará novas oportunidades de investimentos. Investimentos pulverizados e diversificados na produção de biocombustíveis (etanol de cana, de milho, biodiesel, biogás e biometano), em novas fronteiras agrícolas ainda inexploradas, apresentam enorme potencial. Acelerar a interiorização do desenvolvimento, gerar empregos com a manutenção do homem no campo, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros e agregar valor a nossas commodities são fatores que não podem ser menosprezados. Paralelamente, investimentos fortes na melhoria logística também são oportunidades de negócios, tais como malhas ferroviárias, extensão dos dutos, novas capacidades de armazenagens e terminais de abastecimento. Precisamos evoluir em novos modelos de comercialização. Visualizar o mercado com horizonte previsível, criando instrumentos de liquidez e de hedge que garantam aos participantes e aos especuladores oportunidades de negócios, como já ocorre com outras commodities. O Brasil é líder disparado no uso de energias renováveis, especialmente no segmento de transporte, mesmo com todas as adversidades que tivemos nos últimos 40 anos. Surge, agora, um programa inovador, mais abrangente, calibrado e ajustado à realidade ambiental que a sociedade mundial exige. O Brasil tem a oportunidade única de consolidar a produção e a utilização dos biocombustíveis de forma econômica, social e ambientalmente sustentável, potencializando o uso de nossas fontes de riquezas agrícolas. n

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tenho uma visão realmente positiva do setor Como observador atento de décadas do setor sucroenergético, não tenho a menor dúvida em relação a externar minha visão positiva e otimista do futuro do setor, pelo menos no médio prazo, já que, num mundo altamente disruptivo como o que vivemos, fica cada vez mais difícil emitir parecer por períodos muito longos. Gosto de comparar a crise longa que o setor viveu com uma epidemia tipo gripe espanhola, que, com certeza, provocou muitas mortes, mas, por outro lado, teve sobreviventes com características genéticas apreciáveis e que foram suficientemente fortes para resistir a um flagelo de tal magnitude. No caso das empresas sucroenergéticas, não tenho a menor dúvida de que os sobreviventes são empresas extremamente resilientes e fortes que souberam, de alguma forma, fazer a lição de casa necessária para suportar esta e outras crises que, com certeza, virão. Tenho acompanhado a verdadeira revolução agrícola em marcha nas empresas com adoção intensa de tecnologia, GPS, piloto automático, biofábricas, MPB, meiosi, cantose, drones, VANTs, novas variedades, inúmeros softwares que ajudam a implantação, manejo e CTT, além do controle de qualidade de todas as tarefas executadas nos canaviais, para citar alguns exemplos. Não tenho dúvida de que, num curto intervalo de tempo, vamos recuperar as produtividades da década passada e, com certeza, superá-las. As indústrias vencedoras do setor têm alto nível de eficiência e flexibilidade de mix. Produzem muita energia elétrica e estudam mais subprodutos que possam trazer um maior valor de faturamento por tonelada de cana moída, agregando muito valor. Vejo com otimismo muito grande também as transformações em relação a reforçar a governança corporativa das empresas com a separação entre propriedade e gestão, a

formação de Conselhos de Administração com membros independentes, o tratamento sério que vem sendo dado à questão de sucessão, preparando herdeiros para serem bons sócios ou, se forem aptos, bons gestores, e a elevação do nível profissional das pessoas responsáveis pela condução dos negócios nas empresas incomparavelmente melhor que na década passada. As empresas têm que se perenizar, lembrando que ninguém é imorrível − só José Sarney −, portanto cuidar da sucessão é obrigação de todo empresário responsável, senão prepare a empresa para a venda. Outro ponto muito importante e onde estamos vendo uma evolução fantástica é a diversificação das fontes de financiamento do setor, com a entrada muito importante do mercado de capitais como alternativa muito significativa. Com grande satisfação, estamos vendo várias empresas de diversos portes acessando mercado via CRAs e debêntures de infraestrutura que têm caído no gosto do investidor pelo fato de serem incentivadas. Lembramos que, para acessar o mercado, é muito importante mostrar resiliência a crises e boa governança corporativa, na medida em que, na sua maioria, são operações de prazos longos. Não temos dúvida de que: 1) na medida em que o setor melhorar seu nível de geração de caixa com a recuperação dos preços do açúcar; 2) o etanol mantenha-se firme em relação à sua competitividade em relação à gasolina e sua participação no ciclo Otto mantenha-se nos atuais níveis; 3) o RenovaBio se materialize e vire realidade; 4) programas de etanol misturado à gasolina se tornem realidade na Ásia; 5) novas tecnologias de carros híbridos e a célula de combustíveis incluam o etanol como fonte energética, o ciclo de consolidação já em marcha se acelere, e isso torne realidade um setor sucroenergético nacional robusto, resiliente, profissional, sustentável em todos os seus aspectos, responsável social e ambientalmente, admirado pelo nosso povo, e que aquela imagem totalmente ultrapassada dos senhores de engenho, dos usineiros caloteiros fique definitivamente para trás, fazendo parte de um passado bem remoto. n

tratamento sério vem sendo dado à questão de sucessão, preparando herdeiros para serem bons sócios ou, se forem aptos, bons gestores "

Alexandre Enrico Silva Figliolino Consultor-sócio da MB Agro e Consultor da XP para agronegócio

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