Primeira Infancia em primeiro lugar

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137 PRIMEIRA INFÂNCIA EM PRIMEIRO LUGAR Experiências e Estratégias de Advocacy

Poucos dias depois da divulgação da petição, o Senador Flávio Arns convidou a Rede para a primeira reunião, para discussão do seu projeto de lei. Durante a reunião contou que havia recebido mais de duas mil mensagens por email e que estava tendo grandes dificuldades, pois costumava responder a todos os e-mails que recebia, mas naquela semana isto estava sendo impossível. Isto mostrava que a nossa petição online tinha surtido efeito. Nas semanas subsequentes, a mobilização se fortaleceu e foi ganhando adeptos em todo o Pais. Pessoas em Minas Gerais comunicaram que estavam fazendo um abaixo-assinado contra o projeto, organizações em Recife realizaram uma reunião para discutir o assunto e conseguiram apoios importantes com os parlamentares do seu estado. Em São Paulo, organizações mobilizaram suas redes, como foi o caso da Aliança pela Infância e da Federação das Escolas Walforf. Então, descobrimos que a Rede Primeira Infância estava ligada a outras redes municipais, estaduais e até internacionais. Finalmente, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados convocou uma audiência pública extraordinária para discutir o projeto, agora em sua pauta. No dia marcado para a audiência representantes de organizações de todo o País compareceram. Foram entregues os abaixo-assinados e foi divulgado o resultado da petição online com milhares de assinaturas. Ao final, o relator do projeto na Câmara se comprometeu a elaborar um novo relatório sobre o projeto de lei, em conjunto com a Rede Nacional Primeira Infância e com os representantes dos dirigentes educacionais ali presentes. Uma grande vitória da Rede, com a participação de várias organizações que não faziam parte dela, mas, de algum modo, foram acessadas pelos conteúdos produzidos e participaram da mobilização. O que é interessante notar nesse processo de mobilização é que ele ganhou um impacto e uma proporção nunca antes imaginadas dentro da RNPI, mas isto somente ocorreu a partir do momento em que a mobilização ganhou vida própria e as decisões deixaram de ser tomadas dentro da Rede. A partir da segunda metade do processo, o trabalho da Secretaria Executiva se resumiu a articular as ações no Congresso Nacional e tentar registrar no site Primeira Infância tudo aquilo que estava ocorrendo no Brasil. Várias decisões foram tomadas horizontalmente pelas organizações em seus estados. Contudo, ocorreram falhas de comunicação, ruídos e descontentamentos, o que é normal em uma ação colaborativa. Em alguns momentos, faltaram regras, ou ao menos padrões de conduta, algo que existe dentro de uma organização específica ou dentro de uma rede. Ainda assim, esses problemas não se comparam àqueles ganhos que uma ação em rede horizontalizada pode proporcionar.

CONCLUSÃO As ferramentas de redes sociais da Internet podem catalizar processos sociais e mobilizações de uma maneira nunca antes imaginada. Mas para que isto ocorra é necessário alterar os comportamentos das organizações e buscar uma perspectiva horizontal onde ninguém se sinta dono de um público ou de uma pauta política. Em muitos casos, a migração para tecnologias sociais não acontece por acaso e é necessário investir em formação e capacitação dos membros dessas organizações. Não basta uma tecnologia para transformar o modo de operação de uma organização, é preciso alcançar mudanças de comportamento que desconstruam padrões hierárquicos e de competição dentro e fora das organizações e alimentem uma postura de colaboração. O resultado são organizações transparentes e que mobilizam mais pessoas a sua volta. O relato sobre ferramentas da web apresentado nesta edição (publicada entre 2010 e 2011) tem data de validade. Por outro lado, o trabalho de construção coletiva sobre ferramentas de Internet para organizações da sociedade está em aberto e disponível para edição em uma plataforma wiki. É um convite para o aprimoramento e a continuidade deste trabalho.


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