Besouro vol. 2

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Lia Testa / PR

Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC SP), é professora de Literatura Portuguesa, Brasileira e História da Arte, na Universidade Federal do Tocantins (UFT). É autora do livro de poemas Guizos da carne: pelos decibéis do corpo (Publicações Iara, 2014). : palavras se incendeiam no ranger dos dentes: : palavras se incendeiam no roçar das horas: : palavras se incendeiam no rasgo do meu ventre: abrasiva mordida nesse lugar do não-dito língua de oco osso sem fundo uma constelação de linhas uma fala que fode e a boca goza gostoso por dentro por fora pelos lábios pelas guelras pelas ventanas valia per si viva a bailar-asi cantada dança do ruminar a fala-grito a fala mansa a fala de merda a fala rabuda a fala de pau a fala fodida a fala de pedra pluma pimenta & a do caralho a quatro

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Ayla Andrade / CE

1978, é assistente social, feminista e mãe. Sobra tempo para escrever e ela escreve. Já publicou em antologias como “Encontros e Desencontros”, “Antologia Massa Nova”, e “O Conto Fantástico do Ceará”, e quando quase acaba o fôlego ela também escreve no blog http://umaescadaparaonada.blogspot.com.br/

deriva se não importa a madrugada corrida os dias temperados as noites mornas é porque ontem sobramos tontos se me quedo assim na cama de outro molhada de outros tantos a eles pertenço se me quedo assim fugida de outros tempos a contemplar o que de nós virá é porque sem direção mas aprendi com você que à deriva mesmo à deriva se chega a algum lugar 4


entre o sexo, úmidas pra se despedir ele me beija forte. Enlace de carne morta. sempre seguido de um barulho que é seu e eu reconheço. reconheço muitas coisas desde então. muitos reconhecem. deslizo por sobre você as palavras que guardei para de manhã. segurei-as entre o sexo, úmidas para que delas se farte quando for noite. entre partir e me cortar entre tirar o que em mim é mansidão e o que em mim é furacão enquanto escorrem as palavras pelas minhas coxas ele veste a última camisa limpa vagueia pelo quarto admira o sol e se vai

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Nayara Fernandes / PI

É autora do poema “assas de pedra”, publicado no livro coletânea “Quebras – uma viagem literária pelo Brasil”. Tem poemas publicados nas revistas Germina, Mallarmargens, Escritoras Suicidas e The São Paulo Times.

pedra a dor de sentir dor mais que dores próprias em outros corpos arrepia o peito revolve os poros desmorona o estômago quando não mais arde oxida as artérias do peito quando não mais sangra interrompe o pulso da veia a dor de sentir dor mais que dores minhas enxergo pela derme sinto pelas pálpebras a dor de sentir dor mais que dores próprias é um erro em desacerto é ter sono no lugar dos olhos é ter fogo que queima em silêncio é ter uma alma sob um corpo enroupando todo o peso do mundo.

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Liv Lagerblad / RJ

Poeta e artista plástica por força do hábito. eventual compositora de canções. Publiquei o primeiro livro, que consiste em uma recolha de dez poemas, que leva o nome e o selo da coleção kraft, pela editora Cozinha Experimental. Tenho alguns quadros, poucos desenhos, muitos poemas nem sempre exatos nem sempre prontos. Alguns livros esperando por editora. Um diploma de belas artes por angariar que já vai se arrastando faz uns anos. Tenho poemas publicados pela web, na revista saúva, na revista modo de usar e na escamandro.

a linha sair da linha contornar o corpo com a linha talvez se enforcar na linha / dar linha depois cortar a linha / depois negar a linha seguir outra linha sair novamente da linha e não não voltar nunca mais para a linha aquela linha que não é bem uma linha mas sim uma maneira de pensar a linha ou um pensamento linear cíclico, circundante de certo aspecto que não chega a linha mas que se pretende linha adelgaça enquanto linha e adere impregna enquanto forma que se gostaria quiçá linha mas que não, não é uma linha

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Arianne Pirajá / PI

Sem etiquetas (esforço), sou o que sou, conterrânea desse poeta vampiro, Torquato. (Tris)Teresina, Terehell, de luz estourada e suor, muito suor. Escrevo, escrevo, escrevo. Exploro outras áreas também: pintura, ilustrações, e céu e de inferno” e adoro visitas. http://cheiadeceuedeinferno.blogspot.com.br

hay que tremer. pero sin perder las estruturas jamás no bem. Acredito até mais no ódio dentro do amor do que no amor, veja bem. Esses disparates, que são os homens e as mulheres. Passam cegos, sem tatear, derrubando tudo. Mas isso também é mentira. Não derrubam nada. Pelo pra fora. Perdão. Nunca consigo ser sincera demais. Antes de terminar destruo si-an-do em que mesmo eu pensava? Me peçam glória, eu aponto os prédios. Cansam em duas horas. Uma árvore vista de cima desaba isso em 15 minutos. Quanto vale um bocejo de-li-ci-o-saNiente, meu caro amigo. Essa vida não faz o menor sentido. E eu nem estou aqui para tentar mudar isso. Sinto muito. It’s all over. 8


(vintage) Chá e outras especiarias a convidaram a sair da cama. Qualquer coisa saudável para equilibrar os brindes da noite antiga. Aquele iluminar de porta aberta brilhou o quarto. Porta aberta. Sempre aberta. — Eu sou feia? — Não, você tem uma beleza antiga que me fascina. — Beleza antiga? — É. Se sentiu Brigitte Bardot sentada na privada. Comédias moveram seus dedos para incorporar a fantasia ao cabelo. Cantou Lindonéia solteira subindo as escadas. — Eu sou gorda? Às vezes acordo me sentindo feia. — Você é uma gata. Pensou na lua cheia da sua janela e nos uivos do seu coração. Lindonéia desapareceu no ardor da porta aberta. Ninguém precisa de lençol quando só restam duas estações. Quando ela voltar você vai estar sonhando, mas ainda me restará algum humor. Pessoas solitárias se divertem sozinhas, embora não seja o bastante. Aprendem cedo, derrubando portas. — Acorda, Lindonéia. O dia começou de novo.

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Lisa Alves / DF

Nasceu em 1981, é mineira (Araxá/MG) e radicada em Brasília. É curadora da revista Mallarmargens. Tem textos publicados em diversas revistas e páginas literárias. Tem poemas publicados em sete antologias lançadas no Brasil, Argentina e País Basco. Lançou em Agosto de 2015 seu primeiro livro de poesia “Arame Farpado” (pelo selo Coletivo Púcaro e Lug Editora).

a rosa vermelha A Rosa Vermelha brota à margem do ruído proletário, aguarda o húmus do tempo e o extermínio do verbo hipnótico, execra foices, suásticas e progressos a qualquer cotação, venera a dança sutil daqueles que meditam em movimento, não embolsa votos, preces ou dízimo de domingo, não dita cartilhas, manuais ou citações de conserva, está nas veias, nas raízes, no escudo espinhoso, é sem Estado, Pátria ou Partido. A Rosa Vermelha não brota em vasos água pura, solo fértil, liberdade e rituais da chuva. Rosa Vermelha é o Mito de toda Primavera.

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C i n z a s à S e d e x 10 Não cantarei às mulheres livres do mercado free. Lolitas. Não invejarei o corpo das Mulheres Frutas ou das seguidoras de Twiggy. Hoje o meu canto é como do Urutau. Ciudad Juárez [que não salvaram suas mães, suas mul de suas próprias covardias patriarcais. Hoje celebrarei Marisela Escobedo e seu grito de mãe rebelada [que nem o túmulo silencia e nem a pólvora cala. Ecos de Chihuahua clamam por Justiça – enquanto nós fazemos as unhas, outras fazem a cova.

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poemas das autoras

lia testa (PR),

ayla

fernandes

andrade

(CE),

nayara

(PI),

liv lagerblad (RJ), arianne pirajá (PI) & lisa alves

(DF).

desenhos

de

liv

lagerblad.

a composição da página 2 é uma releitura e composição de lucas rolim a partir das ilustrações de liv lagerblad.

o r g a n i z a ç ã o demetrios galvão

demetrios.galvao@yahool.com.br

lucas rolim

olucasrolim@outlook.com




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