Parentalidade & Fotografia

Page 1

PARENTALIDADE & FOTOGRAFIA

A todos que estão cuidando. Em memória daqueles que partiram.


PARENTALIDADE

pag.2


E FOTOGRAFIA

pag.3


APRESENTAÇÃO


A pesquisa “Parentalidade e Fotografia” se propôs, em um curto espaço de tempo, mapear a produção de fotógrafas e fotógrafos que abordasse a relação de cuidado entre o adulto e a criança. A partir do texto “Risco ou Cuidado?” 1, de Joan Tronto, a pesquisa estabeleceu três categorias “o cuidado é relacional”, “o cuidado é contextual” e “o cuidado é estrutural” e construiu uma imagem geral para cada uma delas.

Neste documento se encontra o resultado do processo e o caminho que percorremos.

Embora o nosso olhar tenha partido da busca por revelar e reconhecer as diversas subjetividades e práticas no ato de cuidar, o nosso caminho e destino nos mostrou que mais encobrimos do que desencobrimos. São 45 fotografias desenhando a imagem geral das 3 categorias e 27 fotógrafas e fotógrafos presentes com suas produções.


O CUIDADO


É RELACIONAL



pag.9



pag.11



pag.13



pag.15



pag.17



pag.19



pag.21



pag.23



pag.25



pag.27



pag.29



pag.31



pag.33



pag.35



pag.37


O CUIDADO


É CONTEXTUAL



pag.41



pag.43



pag.45



pag.47



pag.49



pag.51



pag.53



pag.55



pag.57



pag.59



pag.61



pag.63



pag.65



pag.67



pag.69


O CUIDADO


É ESTRUTURAL



pag.73



pag.75



pag.77



pag.79



pag.81



pag.83



pag.85



pag.87



pag.89



pag.91



pag.93



pag.95



pag.97



pag.99



pag.101


O CUIDADO


É UM Comum


“LUTE COMO...” é uma obra artística, uma série. Nasceu como mídia-tática, desenvolvida por Mariana Lacerda e Joana Amador, de e para a exposição coletiva ‘O QUE NÃO É FLORESTA É PRISÃO POLÍTICA’ na OCUPAÇÃO 9 DE JULHO em 2019-20.

A frase “LUTE COMO QUEM CUIDA” é também o título da campanha da COZINHA OCUPAÇÃO 9 DE JULHO para ações de solidariedade durante a pandemia.



LISTA FOTÓGRAFAS/OS

NOMES

PÁGINAS

Alexia Santi

99

Cia de Foto

13, 43, 61

Cidicley Fagner

81

Daniel Freitas

27

Elenilson Soares

55, 77, 79

Emiliano Dantas

53, 85

Erick Peres

21, 65, 87

Felipe Galdino

83, 89

Fernando Peres

25, 63

Ilana Bar

59

Laura Melo

67, 69

Malu Teodoro

17

Manu Rigoni

57

Marília Távora

35, 37, 49

Marina Sapienza

33

Mateus Sá

9, 11, 15

Natália Corrêa

91

Paula Basso

23, 51

Pedro Fonseca

29, 75, 101

Pio Figueiroa

97

Priscila Urpia

19

Priscilla Buhr

31, 45

Rafael Jacinto

47

Ricardo Peixoto

95

Rodrigo Garcia

73, 93

Thaneressa Lima

17

Wedson Atikum

41


FOTÓGRAFAS/OS POR CATEGORIA RELACIONAL

CONTEXTUAL

ESTRUTURAL

Cia de Foto

Cia de Foto

Alexia Santi

Daniel Freitas

Elenilson Soares

Cidicley Fagner

Erick Peres

Emiliano Dantas

Elenilson Soares

Fernando Peres

Erick Peres

Emiliano Dantas

Malu Teodoro

Fernando Peres

Erick Peres

Marília Távora

Ilana Bar

Felipe Galdino

Marina Sapienza

Laura Melo

Natália Corrêa

Mateus Sá

Manu Rigoni

Pedro Fonseca

Paula Basso

Marília Távora

Pio Figueiroa

Pedro Fonseca

Paula Basso

Ricardo Peixoto

Priscila Urpia

Priscilla Buhr

Rodrigo Garcia

Priscilla Buhr

Rafael Jacinto

Thaneressa Lima

Wedson Atikum

pag.107


A PESQUISA

Título Parentalidade e Fotografia: mapeamento da produção de fotógrafas e fotógrafos brasileiros* que aborda as relações de parentalidade.

Objetivo Geral Mapeamento da produção de fotógrafas/os que aborda as representações das relações de cuidado entre adultos e crianças, aqui chamadas de parentalidade.

Objetivos Específicos - Mapeamento de fotógrafas/os que abordam o tema da pesquisa; - Categorização das fotografias; - Curadoria das fotografias.


Considerações iniciais Mudanças de rumo *Inicialmente a pesquisa previa trabalhar apenas com fotógrafas/os pernambucanos, mas quando começamos a observar o campo e devido ao curto prazo que tínhamos, ampliamos nosso olhar para a produção de fotógrafas/os brasileiros.

Prazo O tempo de execução do projeto foi um grande definidor do ritmo e do resultado final da pesquisa.

Sobre o tema da pesquisa Com a ajuda do registro fotográfico, este trabalho busca ampliar o olhar sobre a complexidade e diversidade que envolvem as relações de cuidado entre as crianças e os adultos. Utilizamos o termo parentalidade para indicar essa relação específica de cuidado. O termo vem sendo usado desde os anos sessenta para marcar a extensão dos processos e a construção da relação de cuidado da criança pelos seus pais e mães. E, atualmente, vem marcando discursos e sendo propagado em redes sociais.

pag.109


AINDA SOBRE O TEMA DA PESQUISA

A pesquisa tem como ponto de partida o texto de Joan Tronto, (Risco ou Cuidado?)1, sobre o cuidado. O pensamento que permeia e estrutura este trabalho é baseado na percepção da pesquisadora de que o cuidado é um Comum. O Comum, os ‘commons’, designava, em períodos pré-industriais, “um aspecto do ambiente que era limitado, que era necessário à sobrevivência da comunidade, que era necessário a diversos grupos de formas diferentes, mas que, em um senso estritamente econômico, não era percebido como escasso”2. Nesse sentido, o cuidado seria um aspecto das relações humanas necessário à sobrevivência e necessário a diversos grupos de formas diferentes. Entender o ‘território’ do cuidado


enquanto um Comum seria entender a complexidade e as diferenças nas relações de cuidado e ir contra uma forma única, padrão, de cuidar. E, também, entender que o cuidado não pode se transformar em recurso a serviço de alguns, não pode virar mercadoria. Existem diversas formas de cuidar, de se relacionar, de existir neste mundo.

Nesse sentido, além de marcar a extensão dos processos e a construção da relação de cuidado das crianças pelos seus pais e mães, como pretende o termo parentalidade, as imagens fotográficas presentes nesta pesquisa estendem o conceito de parentalidade para qualquer relação de cuidado entre o adulto e a criança, seja numa relação direta de toque, num ambiente contextualizado para a criança ou num ambiente estruturado politicamente.

A ideia de trazer as discussões e conceitos para a dimensão da imagem se justifica pela intensificação da presença da imagem em nossas vidas através das redes sociais, inclusive imagens de vivências íntimas como a do ato de cuidar; pela busca por reconhecer as diversas subjetividades e práticas; e, pela necessidade de ampliar os repertórios visuais por meio dos registros fotográficos.

pag.111


Partida Este trabalho surge em decorrência de uma grande inquietação que vem acompanhando uma das pesquisadoras ao longo de sua vida de cuidadoramãe de uma criança. Questionamentos constantes a respeito da maneira como ela cuidava de seu filho exigiam explicações que a exauriam de uma maneira nunca antes experenciada. A necessidade de poder viver um pouco sem precisar se explicar tanto a lançou nesse lugar inquietante que é o da busca por um conceito, uma prática, uma forma de pensar o cuidado que nos distanciasse do preconceito. Pensar o cuidado enquanto um Comum se apresentou como um caminho possível. Foram muitos textos lidos, conversas conversadas, pensamentos pensados para chegar aqui. Pensar esses conceitos e práticas sobre o cuidado por meio da imagem pareceu um ponto de partida interessante.


Percurso da pesquisa Em busca das fotógrafas e dos fotógrafos e suas produções Ao propor a pesquisa já estava definido que trabalharíamos com a produção de fotógrafas/os a partir de seus perfis pessoal e/ou profissional da plataforma Instagram. A escolha pela plataforma se justifica por ela se basear no uso da imagem e por facilitar nosso acesso a momentos íntimos.

Utilizamos duas formas de busca para encontrar as/os fotógrafas/os que têm suas produções abordando o tema proposto. As duas buscas aconteceram de forma paralela. Uma delas foi a busca por fotógrafas/ os através do uso da ferramenta de pesquisa chamada hashtag (#fotografiadocumentaldefamilia, #fotografiadefamilia). A outra, por meio do contato com fotógrafas/os que conhecíamos e pedindo indicações de profissionais e de perfis de Instagram que trabalhassem o tema.

pag.113


AINDA EM BUSCA DE FOTÓGRAFAS/OS

Observando os perfis que encontramos com as hashtags acima, vimos que estávamos navegando em um nicho de mercado da fotografia. Observamos que o olhar diante do cuidado da criança era, em sua grande maioria, um olhar de fora da família. Pensando na ideia que permeia a pesquisa, achamos importante ampliar a busca para outras hashtags (#cuidado, #parentalidade, #família, #privatepublic) com o objetivo de encontrar outros olhares sobre o registro do cuidado da criança. No entanto, essas hashtags tampouco nos ajudaram.


Ao contrário do que aconteceu na busca pelas hashtags, o contato direto com fotógrafas/os nos levou a uma maior amplitude de olhares e realidades. Os perfis indicados nos levaram a outros perfis e assim fomos navegando. Tínhamos desde artistas visuais que trabalhavam com fotografia, a profissionais documentais de família, fotógrafas/os que registravam trabalhos com crianças, até fotógrafas/os que clicavam a sua intimidade no cuidado de suas crianças.

Algumas/uns fotógrafas/os indicadas/os não tinham suas fotografias sobre o tema no Instagram. Tivemos que pedir que compartilhassem conosco a sua produção.

Enquanto navegávamos nos perfis dos profissionais, estabelecemos que iríamos fazer uma primeira seleção de imagens. O critério principal foi a presença de criança na foto. A questão técnica teve o mesmo peso no momento da escolha que a questão de composição e de narrativa apresentadas nas fotografias.

Foram quase 400 fotos salvas e impressas analisadas. Até esse momento ainda não tínhamos conversado diretamente com os profissionais das fotos selecionadas.

pag.115


Como escolher quais fotos compor a pesquisa A pesquisa se guiou pela ideia de cuidado encontrada no texto “Risco ou Cuidado?” de Joan Tronto, em que a autora discute o que seria uma sociedade do risco e uma sociedade do cuidado, e tenta estabelecer entendimento sobre o ato de cuidar distinto da ideia de domínio e controle sugerida pela sociedade do risco. A partir do que a autora apresenta, estabelecemos três categorias para direcionar nosso olhar diante das fotos: “o cuidado é relacional”, “o cuidado é contextual” e “o cuidado é estrutural”. Em seguida, pensamos em como representar cada categoria com o universo de imagens fotográficas. Daí chegamos em algumas imagens gerais:


- na categoria “o cuidado é relacional” pensamos em duas imagens gerais: uma seria a imagem em que o adulto e a criança se relacionariam através do toque em um ambiente de intimidade, um ambiente de dentro. A outra imagem seria a do adulto com a criança na foto sem toque direto, também em ambiente íntimo, no interior de algum espaço;

- na categoria “o cuidado é contextual” consideramos duas imagens gerais: a primeira seria a da criança sozinha na foto em um ambiente que representasse o interior, a intimidade, um ambiente contextualizado pelo adulto no qual a criança estaria sendo cuidada. E a segunda seria a criança se relacionando com o adulto através do toque em um ambiente externo. O toque em um ambiente dessa natureza representaria a contextualização do mundo, pelo adulto, para a criança;

- na categoria “o cuidado é estrutural” escolhemos a imagem geral da criança sozinha em um ambiente público. O cuidado estaria representado pela estrutura que foi construída, mantida ou destruída pelos adultos cuidadores para a experiência de cuidado da criança em espaço coletivo, público.

pag.117


AINDA EM COMO ESCOLHER AS FOTOS

A primeira categoria foi a que gerou menos questionamentos tanto na concepção quanto no volume de fotos para compô-la. Achamos que a imagem geral do toque entre o adulto e a criança teve a força necessária para a construção da ideia do cuidado ser relacional. Já para a segunda categoria, optamos pela imagem geral da criança sozinha em um ambiente interior representando a contextualização de seu cuidado pelo adulto. A última categoria, a princípio denominada “o cuidado é democrático”, passou a se chamar “o cuidado é estrutural” por acharmos que definiria melhor as questões que a imagem geral trazia.


Ao definir a imagem geral de cada categoria revisitamos as fotos que havíamos coletado e separamos aquelas que atendiam à composição da imagem geral. Em seguida observamos como essas fotos dialogavam entre si. Estabelecemos um número de 15 fotos para cada categoria. Das 45 fotos escolhidas, observamos a quantidade de fotos por fotógrafa/o, e estabelecemos 3 fotos, no máximo, para cada uma/um. Nessa etapa tivemos que fazer novas escolhas porque havia fotógrafas/os com mais de 3 fotos.

Em seguida entramos em contato com as/os fotógrafas/os para apresentar o trabalho. Diante da necessidade de o relatório final estar disponível online, achamos razoável pedir a autorização da publicação das fotografias vinculadas à pesquisa. Não obtivemos o retorno de alguns quanto a autorização para a presença de suas fotografias em nossa pesquisa. Isso gerou a revisitação das fotos escolhidas. Por fim chegamos as que estão presentes aqui.

pag.119


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do prazo que tivemos para execução da pesquisa, e dos limites que estabelecemos durante seu percurso, contemplamos 27 fotógrafas/os com produções que trazem em suas composições aspectos do cuidado das crianças.

À medida que “saímos de casa”, saímos do ambiente privado, ambiente de intimidade, a presença da imagem do adulto na fotografia foi sendo traduzida de outra maneira. Os limites que contextualizou a forma de cuidar da criança dentro da casa estiveram representados pelos espaços e pelos objetos oferecidos pelos adultos às suas crianças. E ao “sair de casa”, ao ir para o ambiente público, a presença do adulto, agora de forma coletiva, continuou sendo traduzida pela estrutura que se organizava ao redor das crianças.


Observamos que, ao “sair de casa”, a presença da profissional mulher no ambiente público foi drasticamente reduzida.

Na tentativa de desencobrir realidades, práticas e subjetividades, vimos que nossos braços, diante do tempo disponível, foram curtos, e nosso olhar, diante das imagens que não alcançamos, foi cego. Talvez o algoritmo tenha nos atrapalhado e talvez ter estabelecido o contato direto com as/os fotógrafas/os tenha nos favorecido.

Observamos, também, maneiras diferentes de cada fotógrafa/o se relacionar com a sua produção fotográfica colocada à nossa disposição. Alguns estavam mais preocupados em consultar os pais e mães das crianças que estavam presentes nas fotos para poder liberá-las para compor a pesquisa. E outros estavam mais preocupados com a qualidade, em vários sentidos, da foto.

pag.121


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Agradecemos a todas/os as/os fotógrafas/ os que se disponibilizaram a nos enviar fotos e autorizaram sua veiculação, bem como àquelas/es fotografas/os que, por motivo de revisita das composições das categorias, tiveram suas fotos desvinculadas do projeto. Algumas fotos aqui presentes fazem parte de

REFERÊNCIAS

trabalhos autorais dessas/es fotógrafas/os.

1

“Risco ou cuidado?” de Joan Tronto. Disponível em https://issuu.com/

fundacionmedife/docs/riesgo_o_cuidado-

2

Agradecemos também pela grande ajuda ao indicarem outros profissionais e pelas ideias

issuu. Acesso em 31 de março de 2021.

trocadas sobre o tema.

“O Silêncio é um Comum” de Ivan Illich.

Obrigada.

Disponível em https://www.n-1edicoes.org/ textos/136. Acesso em 31 de março de 2021.

Olívia Morim


COORDENAÇÃO Olívia Morim PESQUISA Júlia Morim Olívia Morim Tiago Duque PRODUÇÃO Júlia Meira DESIGN GRÁFICO Cia Várzea REALIZAÇÃO Como Tu Cria INCENTIVO Lei Aldir Blanc - PE


PARENTALIDADE & FOTOGRAFIA

“(...), a margem é um local que nutre nossa capacidade de resistir à opressão, de transformar e de imaginar mundos alternativos e novos discursos.” Grada Kilomba em “Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Cotidiano“, página 68.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.