História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão

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Nada porám há mais cruel e bárbaro do que o procedimento que têm para com os filhos do prisioneiro, embora também da mulher que eles lhe deram. Se ele tem filhos, matam os meninos e, mil vezes mais ferozes do que os tigres, depois de os assarem, comem-nos como fizeram a seu pai. Se deixa grávida a mulher, esperam que ela dé a luz e fazem o mesmo ao recémnascido, tão grande é o desejo e a vingança que eles tem de acabar a raça de seus inimigos. Eis até que ponto de crueldade, o diabo, bárbaro algoz de tantas almas cegas, levou este povo pagão ao meio das trevas da infidelidade! Deus, porém, por sua infinita bondade, quando estavam mais enraivecidos, condoeu-se deles, fazendo-os conhecer quanto é abominável e diabólico este costume, tão contrário à vontade de Tupã, que muito terminantemente nos ordena amar nossos inimigos. O mesmo lhe fez ver muitas vezes o Sr. de Rasilly, especialmente na primeira assembleia que se fez, logo depois da nossa chegada à Ilha do Maranhão, onde esteve presente Japyaçu, com outros velhos, como já disse no capítulo 11. A tão bons e santos conselhos, respondeu Japy-açu assim:

“Bem sei que este costume é mau e contra a natureza, por isso também muitas vezes desejei destruí-lo. Como velhos, todos nós somos quase que iguais, e temos iguais poderes. Assim, quando acontece eu apresentar uma proposta na assembleia geral, embora seja aprovada por grande número de votos, basta só um em sentido contrário para fazê-la cair. Dizem ser muito antigo esse costume entre nós, não convindo por tanto alterar o que fizeram nossos pais. Só um Buruuicháue, como tu, é que tem poder de mandar acabar tão mau costume, e submettendo-nos à tua vontade, fazemos o que quiserdes.”

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