OJORNAL 15/01/2011

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O JORNAL

Internacional

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Sábado, 15 de janeiro de 2011 | www.ojornalweb.com | e-mail: internacional@ojornal-al.com.br

Presidente da Tunísia foge do país Primeiro-ministro assume o cargo interinamente após um mês de protestos que forçaram a renúncia de Ben Ali TUNÍS - O presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, renunciou depois de 23 anos no poder em meio a protestos sem precedentes em várias cidades do país, incluindo a capital, Túnis. O primeiroministro Mohammed Ghannouchi anunciou em um pronunciamento na TV que assumiria o poder interinamente após Ben Ali abandonar o país. “De acordo com o artigo 56 da Constituição, assumo a partir deste momento o cargo de presidente interino”, disse Ghannouchi no palácio presidencial de Cartago. Ao lado dos líderes do Congresso, o novo presidente, de 69 anos, pediu unidade aos tunisianos de todas as correntes políticas. “Conclamo os tunisianos de todas os ideais políticos e regionais a demonstrar patriotismo e unidade” nesta hora, declarou. Ben Ali deixou o país depois de um mês de protestos contra corrupção, desemprego e inflação que deixaram oficialmente 23 mortos, número que, segundo fontes independentes, seria de 81. Há informações de que ele poderia ter fugido para a ilha de Malta, no Mediterrâneo, ou

para a França. O governo francês, porém, recusou-se a confirmar a informação. De Paris, partidos políticos da oposição tunisiana reivindicaram a realização de eleições livres no país. O antes todo-poderoso presidente tentou lutar contra o descontentamento popular por todos os meios, usando a repressão e depois fazendo concessões. Na quinta-feira, anunciou a redução do preço da cesta básica de alimentos e a intenção de deixar o poder no final do mandato, em 2014. Ontem, dissolveu o governo e prometeu a convocação de eleições antecipadas dentro de seis meses, e as autoridades impuseram estado de emergência com toque de recolher em todo o país entre 18h e 6h locais. Por sua vez, o Exército tomou o controle do aeroporto internacional de Túnis-Cartago fechando o espaço aéreo. O decreto do estado de emergência proíbe que mais de três pessoas se reúnam nas ruas, e as forças de segurança receberam a autorização de abrir fogo contra aqueles que desobedeceram suas ordens. Mas tudo foi em vão.

Nem mesmo a promessa de Ben Ali (no cartaz) de convocar eleições em seis meses conteve a fúria da população

Milhares de manifestantes voltaram às ruas ontem para pedir a demissão do presidente, com protestos na capital e em várias cidades dessa excolônia francesa da África do Norte, independente desde

1956. Os tumultos afetam o turismo, setor básico da economia tunisiana. Milhares de turistas europeus foram retirados nos últimos dias. Durante as manifestações, a polícia lançou bombas de gás

lacrimogêneo contra os manifestantes. Os protestos ocorreram apesar do discurso que Ben Ali fez na véspera na tentativa de diminuir a tensão em seu país. No pronunciamento, ele pediu à força pública que

não atirasse contra os manifestantes e anunciou que não desejava disputar um novo mandato em 2014. Em função dos distúrbios, o embaixador da Tunísia perante a Unesco, Mezri Hadad, apresentou ontem sua renúncia, vários dias depois de ter pedido ao presidente que “detivesse o banho de sangue contra os manifestantes”, segundo uma carta. AAlta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navy Pillay, pediu na quartafeira ao governo da Tunísia a realização de investigações “independentes” sobre o “uso excessivo” da força por parte de seus serviços de segurança. O ministro de Relações Exteriores Kamel Morjane afirmou ontem que um governo de unidade nacional em seu país “é possível e até seria normal”. “Com o comportamento de pessoas como Nejib Chebi (opositor), acho que é possível, até seria totalmente normal”, declarou o ministro por telefone. Chebi é o líder histórico do Partido Democrático Progressista (PDP), um grupo opositor autorizado na Tunísia, mas que não tem representação no Parlamento.

COSTA DO MARFIM

CONFIRMADO

Número de mortos chega a 247, diz ONU

João Paulo II vai ser beatificado em 1º de maio

Ao menos 247 pessoas morreram durante a violência na Costa do Marfim desde uma contestada eleição presidencial, disse ontem o departamento de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). O último balanço, divulgado na semana passada, era de 210 vítimas dos confrontos entre forças de segurança leais ao presidente Laurent Gbagbo e simpatizantes de Alassane Ouattara, apontado pela comunidade internacional como vencedor da eleição presidencial de novembro na Costa do Marfim. O porta-voz da ONU Rupert Colville disse que as novas vítimas incluem quatro civis e sete policiais mortos em confrontos no subúrbio de Abobo, em Abidjan.

CIDADE DO VATICANO O papa João Paulo II vai ser beatificado em 1º de maio em Roma, informou ontem o Vaticano. O pontífice Bento XVI aprovou um decreto que atribui um milagre a seu antecessor polonês. Isso significa que João Paulo II, que nasceu em 1920 e morreu em 2 de abril de 2005 após um pontificado de quase 27 anos, vai virar beato, último passo antes de ser santificado. A beatificação será feita em tempo recorde, inferior aos cinco anos habitualmente necessários para iniciar o processo. A rapidez se explica pela “imponente reputação de santidade da qual gozava o papa João Paulo II durant a sua vida, em sua morte e depois de sua morte”, explicou o Vaticano em um comunicado. O milagre atribuído a Karol Wojtyla é a cura aparentemente inexplicável da freira francesa Marie Simon-Pierre, que, desde 2001, sofria do Mal de Parkinson, a mesma doença que acometeu o primeiro papa polonês da história da Igreja Católica. Vários meses depois da morte de João Paulo II, a freira, que rezava continuamente ao pontífice, se curou da doença. Apesar de haver 251 supostos milagres por intercessão de Karol Wojtyla catalogados, o postulador da causa, o sacerdote polonês Slawomir Oder, elegeu entre eles a cura da freira francesa. Para permitir uma maior afluência de fiéis, os restos mortais de João Paulo II serão transferidos dias antes da beatificação da cripta da Basílica de São Pedro, onde está enterrado, para uma capela do templo vaticano. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse ontem que o caixão do papa polonês não será aberto, mas transportado diretamente da cripta até a capela de San Sebastián, que já está coberta com uma grande lona e onde já começaram os trabalhos de restauração.

A ONU afirmou ainda que outras 49 pessoas estão desaparecidas, incluindo 20 que desapareceram nesta última semana. A organização diz que a maioria dos mortos e sequestrados foram vítimas de membros das forças de segurança leais a Gbagbo ou de milícias ligadas a ele. Segundo a entidade, os assassinatos e sequestros aconteceram, em sua maioria, em operações regulares realizadas à noite, que tinham como alvo principal simpatizantes de Ouattara. Os aliados de Gbagbo rejeitam as acusações e afirmam que vários policiais foram mortos por simpatizantes armados de Ouattara. Mais de 20 mil pessoas já fugiram para a vizinha Libéria, temendo novos confrontos.

Partidários de Gbagbo atacam veículo da ONU na capital marfinense

Manifestantes bloqueiam saída da cidade em protesto contra aumento do preço do gás natural

CHILE

Brasileiros impedidos de sair de Punta Arenas SANTIAGO - Pelo menos cem brasileiros estão impossibilitados de sair de Punta Arenas, cidade chilena localizada no Estreito de Magalhães, na Patagônia. Todas as saídas foram bloqueadas pelos manifestantes que protestam contra o aumento do preço do gás natural. Os responsáveis pelos protestos estariam usando os estrangeiros, o que inclui brasileiros, como forma de pressionar as autoridades pela desistência do aumento. O embaixador do Brasil no Chile, Frederico Araújo, iria se encontrar ainda ontem com representantes do governo chileno para discutir maneiras de resolver o problema, segundo revelou a cônsul-geral do Brasil no Chile, Maria da Graça Carrion. A reunião iria debater uma estratégia para acalmar os ânimos na região. A distância atrapalha os esforços dos

diplomatas brasileiros para ajudar os compatriotas que lá estão. Punta Arenas está a mais de 3.000 km da capital Santiago. Para piorar, são terras de difícil acesso. Por causa da ação dos manifestantes, não é possível sair do município usando suas estradas. Os principais trechos de acesso a rodovias estaduais ou federais estão fechados. O aeroporto também não está funcionando. A única forma de sair é a pé, tarefa impossível ao considerar o isolamento da cidade em relação ao restante do território. Mesmo assim, ainda segundo Carrion, um cônsulhonorário está no local e auxilia os brasileiros. Os que lá estão não são somente turistas. Muitos moram na cidade. Alguns trabalham na Petrobras. “Pessoas de outras nacionalidades também não conseguem sair de Punta Arenas. Por volta de 1.800 argentinos,

além de canadenses, americanos e europeus”, afirmou a cônsul-geral Carrion. O CASO - Desde que a Enap (Empresa Nacional de Petróleo), a estatal chilena, anunciou que o gás natural em Magalhães subiria 16,8%, a comunidade da região se mobilizou para refutar fortemente o aumento, o que implicará em elevação do custo de vida para os habitantes. Os manifestantes estão brigados com o presidente Sebastián Piñera. Piñera havia assegurado em visita à região que o setor residencial de Magalhães seguiria recebendo o benefício de contar com subsídio do governo sobre o preço do gás. “O setor residencial de Magalhães tem um tratamento especial nos preços do gás natural, e esse preço não será alterado. Por essa razão, quero dizer que não há nada a temer”, disse Piñera pouco antes do estouro da crise.

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