O GASOMETRO 6

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Na- Se linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 5 - Ano 1 | terça-feira 09 de Dezembro de 2014

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O ATENTADO de JAMES MASON

“Quadrilha de Banditti da Aldeia de Corte do Pinto AS CAIXAS DE SOCORROS

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Lince volta a Mértola pág 8

Programa de reintrodução do Lince Ibéricoem Portugal entra em fase decisiva, com dois animais soltos numa grande área cercada, onde permanecerão durante algumas semanas. 09 | Dezembro | 2014

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editorial Novos TEMPOS Um mês cheio de emoções fortes, ou talvez não, foram casos e mais casos, a Legionela, o Orçamento de Estado o Sócrates que abafou tudo e todos, só sendo superado pelos tablóides desportivos, o Benfica que já não vai à Champions, o Bruno de Carvalho que anda calado, enfim tanta coisa e tão pouco. Estudos e mais estudos e todos apontam no mesmo sentido, a CMM pouco tem a perder, pois tudo está já perdido, perdeu o senso comum quando começou a expulsar pessoas da sua página (sua? nossa, pois é de todos os contribuintes), perdeu quando abateu vários eucaliptos na zona de Protecção da Tapada Grande, e perdeu quando é considerada a autarquia menos transparente do distrito de Beja, menos transparente e segundo outro estudo, este da Controlinveste, baseado em dados da Pordata e do INE, com sinal vermelho no que respeita à maioria dos temas abordados, entre eles, (Bancos e Serviços, Cultura e Entretenimento, Lojas e Restaurantes). Como está noticiado na página 8 deste jornal vão ser libertados Linces em Mértola, esperemos que a autarquia esteja à altura de um projecto desta envergadura, uma autarquia que tem demonstrado sucessivamente falta de objectivos ambientais bem estruturados, senão veja-se o sistemático corte de eucaliptos a seu mando, ou ainda a sistemática falta de cumprimento de leis impostas e publicadas em Diário da República, que visam a defesa do ambiente. Esperemos pois que estejam à altura de honrar os compromissos que assumem de forma honesta e sem atirar as culpas a terceiros, já vi muitos comentários nas redes sociais que apontam que estas espécies serão abatidas rapidamente, é uma zona de caça “Capital da Caça” da qual a Câmara Municipal tanto se orgulha, esperemos que os caçadores tenham um espiríto aberto e compreendam que os animais têm a sua própria cadeia alimentar e que se ela não for interrompida (geralmente pela mão do homem) as várias espécies podem co-existir, o aparecimento de uma não quer dizer o desaparecimento de uma outra, mas sim o equilíbrio nas espécies um equilíbrio natural. Para que estes projectos tenham seguimento é necessário um grande envolvimento de toda a população residente, existe a necessidade da autarquia promover colóquios e sessões de esclarecimento para que todos saibam lidar com o assunto, é preciso sensibilizar, os caçadores, os agricultores a população em geral, espermeos pois o desenvolvimento do projecto, e espero dentro de alguns anos poder ver Linces na Serra de São Domingos. Abraço a todos e até ao próximo “O Gasómetro”. 2

Foto: António Peleja

Cante Património Imaterial da Humanidade

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cante alentejano, um canto colectivo sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia, foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). "Para nós é o expoente máximo do canto alentejano, estamos com uma alegria do tamanho do mundo", conta Carlos Paraíba, um dos elementos do grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que viajou de autocarro para Paris para assistir à reunião da Unesco. Após a inscrição do fado, em 2011, e da dieta mediterrânica, em 2013, na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade, este é o terceiro elemento português ali inscrito, facto que nos deve encher a todos de orgulho. O presidente do Turismo do Alentejo destaca o "reconhecimento único" num "dia de fortes emoções, depois de um percurso de quatro anos

que valeu mesmo a pena". "Portugal e os alentejanos têm de estar muito orgulhosos por esta classificação que terá certamente repercussões ao nível turístico", lembra António Ceia da Silva. É importante agora separar as águas, a reboque desta elevação de certo irão aparecer muitos grupos que de certo vão tentar aproveitar esta árvore das patacas. Nunca devemos esquecer que o Cante é expontâneo nasce do nada, muitas vezes de uma reunião de amigos, ou à volta de um petisco encostados ao balcão de uma qualquer tasca. O Cante não tem casa, o Cante tem muitas casas, sempre se espalhou de norte a sul de Portugal através das vozes dos seus intervenientes, nas ruas, em teatros, nas tabernas, em suma onde menos se espera. Esperemos que a partir de agora o Cante continue vivo como sempre na garganta de todos os que o sentem como seu. Parabéns a todos os que sentem o Cante na alma.

Câmara de Mértola é a menos “transparente” do distrito

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Câmara de Beja segundo o Indice de Transparência Municipal (ITM) é a autarquia com melhor classificação. Apesar de ter piorado o seu desempenho continua a se a que na região apresenta melhor classificação. A Câmara Municipal de Mértola é considerada segundo este mesmo estudo a menos transparente classificando-se no último lugar o 14º. Comparativamente com o último ano de 2013, e se considerarmos a classificação dos 308 municípios do país, somente cinco municípios do distrito de Beja asseguram uma evolução positiva, melhorando o

s e u l u g a r n e s t e r a n k i n g : A l m o d ô v a r, Alvito, Serpa, Ferreira do Alentejo e Cuba. Refira-se que o ITM, é liderado pela Câmara de Alfândega da Fé, afere o grau de transparência de cada câmara municipal em função de um trabalho de análise do seu site na Internet. Nessa análise são considerados o volume e a informação prestada aos munícipes sobre a estrutura da autarquia, o seu funcionamento e actos de gestão, entre outros tópicos. Segundo uma fonte da Associação Cívica Transparência e Integridade, “áreas de elevado risco de corrupção, como a contratação pública e o urbanismo, suscitam uma particular atenção dos autores” do índice agora divulgado. 09 | Dezembro | 2014


Notas para a estudo do território mineiro de S. Domingos

As Caixas de Socorros Miguel Bento

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exploração mineira – industrial de S. Domingos determinou em todo o seu vasto território de influência, formas muito peculiares relativamente à Questão Social, com particular destaque para as denominadas Caixas de Socorros. Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que apesar de estas estruturas de apoio social terem tido uma maior expressão na localidade de Mina de S. Domingos, o que se compreende pelo facto de ter sido esta a localidade com maior número de habitantes desse mesmo território, e até do Concelho de Mértola, importa referir que foram constituídas Caixas de Socorros em praticamente todos os povoados da margem esquerda, já que quase todos eles foram marcadas por um modo de vida operário e industrial, propício ao surgimento deste tipo de organizações, de molde a fazer frente a alguns dos riscos sociais mais sentidos, nomeadamente os associados à perda do rendimento do trabalho. No que a este ponto concreto diz respeito, o do território mineiro, pode-se afirmar que a “mina”, enquanto estrutura social muito particular, se fez sentir, e nalguns casos ainda faz, desde Corte Pinto a norte, até Mesquita, a sul. Este último lugar, da Freguesia de Espirito Santo e já na margem direita do Guadiana, estava ligado à mina pelo atividade do porto fluvial do Pomarão. De todas as localidades, aquelas que de algum modo tinham uma ligação menos intensa com a exploração mineira, foram Corte Sines e Vale do Poço. Isso deve-se em primeiro lugar à distância física das zonas de mineração e transformação, mas também ao facto de só após os anos vinte do século passado, a “Serra de Mértola” ter sido retalhada em glebas e entregues às famílias da margem esquerda do Concelho, e só a partir de então se ter constituído este último aglomerado, em torno da “fábrica” de moagem. Assim, e se numa primeira fase esses camponeses eram oriundos das freguesias de Corte Pinto, Santana de Cambas e Mértola, numa segunda, foi gente proveniente da Serra do Algarve, sobretudo dos Concelhos de Alcoutim e Tavira, e que por vezes, eram em simultâneo mineiros, mas que apesar de tudo, mantiveram formas de vida da cultura mediterrânica, assente nas culturas cerealíferas de sequeiro e na criação de gado. Assim se justifica, e ao contrário do que sucedeu em toda a margem esquerda, que em Vale do Poço nunca tenha surgido qualquer estrutura de apoio social, e em Corte Sines, isso só tenha acontecido já em pleno Estado Novo (1940), enquanto nas outras localidades, as Caixas de Socorros tenham 09 | Dezembro | 2014

sido criadas no final do Séc. XIX, e sobretudo durante o primeiro quartel do séc. XX. As referidas Caixas, eram nem mais nem menos do que estruturas de apoio social, de natureza previdencial e mutual, isto é, procuravam, de uma forma antecipada, e compartilhada entre os seus associados, gerir mecanismos de apoio à privação material (mas não só), decorrente de riscos como os acidentes de trabalho, a doença ou a invalidez. Numa segunda fase, sobretudo no período pósprimeira República, tiveram um importante papel no domínio do apoio às esposas e filhos dos operários detidos por motivos politico-sindicais, mas também no combate ao analfabetismo, e mais tarde, a partir da década de trinta, no apoio a algumas despesas em torno dos rituais da morte, como o funeral Livro de "Deve e Haver" do Centro Operário Democrático Moreanense de 1915 - Registo dos Subsídios pagos pela Caixa de Socorros durante o mês de Outubro ou o luto, tendo então surgido as Sociedades de Caixões. eles eram de influência operária. Assim aconteceu Sendo organizações de matriz classista, o em Fernandes, Corvos, Moreanes, Alves, Bens, seu surgimento esteve ligado aos movimentos Pomarão e Mesquita. operários anarco-sindicalistas do final do séc. A partir dos anos trinta, sobretudo com o XIX até aos anos vinte do século passado, com desmembramento do sindicato mineiro e da a constituição de Sociedades Cooperativas em greve de 1932, surgiram os denominados Grupos Mina de S. Domingos (1896), Corte do Pinto (também conhecidos por Montepios, Mútuas ou (1913), e Santana de Cambas (1924), e de Caixas), organizações informais, que localidade a Mutualidades em Mina de S. Domingos (1906) e localidade, agrupavam os mineiros e com as suas Pomarão (1911). Nos anos trinta foi constituída Caixas, faziam frente aos impactos de uma pobreza a União Mutualista de Cambas e a Associação avassaladora. Assim aconteceu em Mina de S. de Socorros Mútuos do Departamento de Domingos (onde há registo de dois desses Grupos, Engenharia de Mina de S. Domingos, embora um deles que agrupava mineiros residentes na estas, já fora do controle do movimento operário. Zona do Bairro Alto e Violeta), Montes Altos, Uma segunda vaga dessas Caixas de Socorros, Picoitos, Moreanes e Sapos. surge com a implantação da I República (1910), Dentro do associativismo mineiro de natureza enquadradas nos centros republicanos, que à social, este é talvez o mais sui-géneris exemplo de exceção do Centro Republicano 5 de Outubro, organização protetora, e que foram, em particular a (Mina de S. Domingos) controlado, numa primeira partir dos anos trinta, focos de organização sindical fase, por uma elite de quadros superiores e médios e política, embora e neste período, já com alguma da mina, embora de inspiração republicana, todos influência do Partido Comunista Português. 3


Alonso Gomes & Cª A Empresa de Navegação por vapor para o Algarve e Guadiana 1870-1905

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lonso Gomes nasceu e viveu em Mértola, destacando-se na atividade mineira. Através desse trabalho, descobriu e explorou a sua mina de manganésio, na freguesia de Alcaria, situada bem dentro dos limites do Concelho.

redondas diárias entre Mértola e Vila Real de Santo António, exceptuando os Domingos. No entanto essa exceção perdia a regra, sempre que a mala do correio entre Lisboa e o Algarve seguisse pelo Guadiana. Pelo trabalho assegurado nesta carreira, teria igualmente um subsídio anual do Estado, no valor de 4.000,000 reis. Te n d o A l o n s o G o m e s r e q u e r i d o Fica desde então estabelecido, que os subsídios Diploma do descobrimento legal da mina vigoram durante o período de validade do d e m a n g a n é s i o d a C r u z d o P e s o , n a contrato, conforme publicado no Diário do Freguesia de Alcaria, Concelho de Mértola; Governo, Nº 241, de 26 de Outubro de 1874. Para fazer face ao acordo com o Estado, ainda Alonso Gomes deveria ter imaginado anos nesse mesmo ano de 1874, foi comprada uma antes, que tendo a mina a trabalhar, o difícil não segunda unidade de maior porte, destinada à seria tirar o minério da terra, mas sim retirá-lo de ligação entre os portos da costa Algarvia, sendo Mértola, abrindo perspectivas de mercado, no país batizado “Gomes 2º”. e no estrangeiro. Daí que optou por antecipar a Dois anos mais tarde a frota é fundação de uma Companhia de Navegação, que lhe facilitasse o transporte do minério. Por esse a u m e n t a d a c o m m a i s u m n a v i o , o motivo deu os primeiros passos, com a aquisição “Gomes 3º”, seguindo-se a alteração do do primeiro navio, o “Gomes”, em 1870, para nome do primeiro vapor para “Gomes 1º”. estabelecer uma carreira regular no rio Guadiana, Com a entrada ao serviço do “Gomes IV”, entre Mértola e Vila Real de Santo António. fica com carácter definitivo a representação Como este tráfego de mercadoria e passageiros em Lisboa a cargo do Despachante Oficial foi bem sucedido, o Governo achou que havia Alberto B. Centeno & Cª, que passa a integrar condições para aumentar e melhorar essa ligação, a sociedade, participando na compra dos confirmado pelo acordo entre ambas as partes, navios seguintes. Enquanto isso é decidido em 6 de Outubro de 1874. Esse acordo previa o que no Porto, a representação será da estabelecimentodeumserviçodenavegaçãoregular, responsabilidade da firma José de Sousa entre Lisboa e portos no Algarve, com escala em Faria, com sede no Nº 85 do Muro dos Sines, além do serviço fluvial já iniciado. Ficava Bacalhoeiros, actuando na qualidade de agentes. assim Alonso Gomes obrigado perante o Reino, Com o alargamento natural da actividade, a de dois serviços dentro das seguintes condições: Companhia leva os navios a escalar outros portos nacionais, incluindo uma linha regular para o rio Douro. Esse maior fluxo de escalas 1º- Carreira de Lisboa nos vários portos, serve para dar resposta aos acordos entretanto firmados com a Empreza para o Algarve Nacional de Navegação, que recebia os passageiros e as mercadorias de cabotagem em Com vapores de pelo menos 200 toneladas e transito para as Colónias em África, mantendo um mínimo de 40 passageiros, em 1ª e 2ª classes contrato similar com a Companhia Francesa e 60 em 3ª, com saídas regulares de Lisboa todos Charguers Reúnis, relativamente a portos os dias 1 e 16 de cada mês. Para a efetivação com destino no Brasil e em Moçambique. deste serviço, teria a comparticipação do Estado Depois da compra do “Gomes 5º”, do “Gomes através de um subsídio anual de 10 contos de reis. VI”, do “Gomes 7º” e do “Gomes VIII” e também muito por causa dos naufrágios de que foram vitimas, a Companhia começa a entrar em 2º- Carreira de Mértola declínio, situação agravada pela deterioração do estado de saúde de Alonso Gomes, que viria a para Vila Real de Santo falecer em 1904. No decorrer de 1904 e durante o ano de 1905, por via das dissidências dos sócios António da Companhia e por indiscriminada ausência de entendimento, o seu legal representante Alberto Vapor com dimensões que permitisse a B. Centeno decidiu-se pela venda dos navios navegação no rio Guadiana, com lotação para ainda a operar, até à final e completa dissolução 100 passageiros a distribuir por 3 classes. Viagens da empresa. 4

Os navios “ Gomes “ e - ou “ Gomes 1º” Porto de registo: Lisboa, 26.11.1876 Construtor: Hugh Parry & Genros, Ginjal, 1867 ex “Princípe D. Carlos” - 1867-1876 Armavaemescuna,cascodeferro,movidoporrodas. Tonelagens: Tab 78,- to > Tal 45,- to Comprimentos:Ff33mt>Pp21mt>Bc3,7mt>Ptl2,-mt Ignora-se qual o destino.

Postal de Mértola com o “Gomes 1º” fundeado no Guadiana Detalhe do postal anterior

“ Gomes 2º ” Porto de registo: Lisboa, 10.02.1875 Construtor: Roberts & Cº., Seacombe, Inglaterra, ?? ex “Ballina” - Irish Sea Passenger Steamers, ??-1875 Armava em iate, casco de ferro, proa direita e popa redonda. Tonelagens: Tab 78,- to > Tal 166,- to 09 | Dezembro | 2014


O “Açor” ex “Gomes 2º” na Horta - postal da Armada Comprimentos: Pp 41,50 mt > Boca 5,80 mt > Pontal 3,00 mt Adquirido por Alberto B. Centeno, nome “Algarve”, 1885-1886 Ve n d i d o à A r m a d a - A l f â n d e g a Lisboa, nome “Açor”, 1886-1934 Vendido para demolição em 1934

“ Gomes 3º ” Porto de registo: Lisboa, 21.10.1876 Construtor: Winsford, Colchester, Inglaterra, 1875 Aquisição directa ao estaleiro pelo preço de 2.400 libra. Convés com salto, casco de madeira, movido por rodas. Tonelagens: Tab 56,- to Comprimentos: Ff 25,0 mt > Boca 3,60 mt > Pontal 1,60 mt Em Julho de 1910, o casco do navio encontravase encalhado na praia de Vila Real de Santo António, à venda para demolição.

Construtor: Burrel & So, Dumbarton, Escócia, 1883ex “Toreador” - Baird & Brown (W. Cunlife - W. Yeoman), 1883-86 Tonelagens: Tab 435,- to > Tal 310,- to Comprimentos: Ff 55,90 mt > Boca 9,00 mt > Pontal 4,00 mt Naufragou após encalhe nas pedras Sorlingas, devido a denso nevoeiro em 09.07.1888. Os 18 tripulantes salvaram-se.

Vendido a J. Soares Franco, 16.02.1905-06.03.1905 Ve n d i d o a J o ã o F o n s e c a e S á , 06.03.1905-Dezembro de 1905 Vendido à Emp. Nac. de Navegação, nome “Lobito”, 1906-1909 Naufragou após encalhe no Sul da Ilha do Maio, em Cabo Verde, em 04.02.1909. Não há registo de vitimas.

“ Gomes VI ” Porto de registo: Lisboa, 26.04.1889 O “Lobito” ex “Gomes VI” no Construtor: John Elder & o., Glasgow, Escócia, 1875 ex “Barnsley” - Manchester, Sheffield & s e r v i ç o d e c a b o t a g e m e m A n g o l a Lincolnshire, 1875-1889 Tonelagens: Tab imagem editada por Eduardo Osório , Luanda 575,- to > Tal 327,- to Comprimentos: Pp 56,40 mt > Boca 8,20 mt > Pontal 4,60 mt

“ Gomes IV ” Porto de registo: Lisboa, Maio de 1884 Construtor: Dobson & Charle, Grangemouth, Inglaterra, 1882 ex “Strathcarron” - 1882-1884 Tonelagens: Tab 420,- to > Tal 292,- to Comprimentos: Pp 47,40 mt > Boca 4,90 mt > Pontal 3,20 mt Vendido a José de Sousa Maciel (Empreza de Navegação do Rio de Janeiro), em 1901. Mudou o nome para “Murupy”, tendo ainda navegado por mais de 20 anos.

“ Gomes 5º ” Porto de registo: Lisboa, 04.01.1887 09 | Dezembro | 2014

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“ Gomes 7º ” Porto de registo: Lisboa, 1891 Construtor:HallRussel&Co.,Aberdeen,Escócia,?? ex “Banchory” - Grampian Steamship Co., Ltd., ??-1891 Tonelagens: Tab 576,- to > Tal 372 to Comprimentos: Ff 53,20 mt > Boca 7,90 mt > Pontal 4,40 mt. Naufragou após encalhe na barra do rio Douro, em 01.03.1893, salvando-se a tripulação. “ Gomes VIII ” Porto de registo: Lisboa, 01.05.1893 Construtor: Edwards Shipbuilding Co. Ltd., Newcastle, Ing., 1891 ex “Montague” - Merchant Banking Corp., 1891-1893 Tonelagens: Tab 645,- to > Tal 485,- to Comprimentos: Ff 53,90 mt > Boca 8,50 mt > Pontal 4,30 mt Naufragou após encalhe no baixo Chaldrão, meia milha a Norte das Berlengas devido a nevoeiro cerrado, em viagem do Porto para Lisboa, sob o comando do Capitão Manuel da Costa. O navio transportava 32 passageiros que se salvaram, havendo contudo a lamentar a morte de 1 tripulante.

O “Gomes VIII” a entrar na doca do primitivo porto comercial de Viana do Castelo

Documentos O título de transporte, vulgarizado como conhecimento de embarque

O bilhete postal com o aviso da chegada do navio, avisando ter espaço disponível para meter mercadoria, sistema adaptado por muitas companhias e que foi prática comum durante muitos anos.

A publicidade através dos vespertinos, publicitando a chegada dos navios, quantas vezes enchendo por completo as páginas dos principais jornais.

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ED I Ç Ã O: A N T Ó N I O PA CH E CO F ON TE: N AV I O S E N AV E G A D O RE S PU BL I CA ÇÃ O D E “ RE I M A R” ETI QU ETA S: CO M PA N H I A S PO RT U G U E SA S 09 | Dezembro | 2014


Última grande greve dos mineiros Mina de São Domingos Valentim Adolfo João (30 de Março de 1902-29 de Janeiro de 1970) foi um destacado dirigente do Sindicato dos Mineiros (primeiro da Mina de São Domingos, depois de Aljustrel).

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Não tenho vagar amor para te dar atenção tenho muito que fazer na minha Associação

narcosindicalista, participou em 1932 na última grande greve dos mineiros da Mina de São Domingos, tendo sido o último destes a ser libertado das prisões políticas da ditadura, nos anos 60, neste caso, do forte de Peniche. Preso em 1924 por lançamento de bomba. Delegado ao Congresso Operário de 1925. Membro do Grupo de Propaganda e Estudos Sociais da Mina de S. Domingos (1923/33). Participa na Conferência Anarquista do Sul de 1925 – UAP Relativamente a Valentim Adolfo João há uma referência em José Correia Pires, no livro ““Memórias de um prisioneiro do Tarrafal” (1975), em que este anarquista conta a sua fuga do Algarve, nas vésperas do 18 de Janeiro de 1934, a caminho de Espanha. De Beja passa à Mina de São Domingos e à fronteira. “Na fronteira descalceime, arregacei as calças e com a companhia de um camarada de nome António Patrício, irmão do velho militante anarquista Valentino Adolfo João, excelente camarada e envolvido mais tarde no atentado a Salazar, esteve preso mais de uma dezena de anos e faleceu há cerca de três. Valentim Adolfo João estava fixado a umas dezenas de quilómetros da fronteira e fui dirigido a ele. Ali o encontrei feito agricultor, vivia com a mulher e filhos numa barraca de vime. Já nos conhecíamos por correspondência, mas quando o vi, cabeleira ao alto e desenvolta, lembrei-me da «Cabana do Pai Tomás», e Valentim dava na verdade uma excelente figura de romance. Fazia a sua sementeira e era um autêntico camponês. Fiquei ali um dia e uma noite e recordo-me que ele gozava ali de bom ambiente, nessa noite fomos visitados por uma patrulha da guarda fiscal ou os chamados «carabineiros», que decerto modo me vieram a ser úteis para a minha introdução em Espanha!…”

É meu desejo transformar esta pobre sociedade que semeia a iniquidade para nos escravizar temos muito que lutar com força audácia e valor para extinguirmos a dor a miséria e o sofrimento e por isso neste momento não tenho vagar amor Se a vida fosse a sorrir se de encantos fosse o viver e se num breve alvorecer a luta nos redimir então poder-te-ei garantir imorredoira afeição mas enquanto a escravidão produzir mal e desgosto não posso fugir do posto para te dar atenção Esta fotografia pessoal de Valentim Adolfo João foi conservada por Emídio Santana, que a entregou ao Arquivo Histórico-Social

“Quando do atentado contra Salazar, em 1933, Valentim Adolfo João, na altura presidente do Sindicato dos Mineiros de Aljustrel, foi acusado pela PVDE (aquela que viria a ser a PIDE) de ter fornecido o dinamite. Sabe-se hoje que os fascistas aproveitaram esse acontecimento para perseguirem e prenderem muitos democratas. A partir daí, Valentim Adolfo João andou com um nome suposto (José Dias) até 1946, data em que foi reconhecido em Setúbal. Condenado a 28 anos de prisão, foi libertado quase no fim da década de 1960/1970, já completamente destruído. Veio a morrer por volta de 1971. É seu Também o escritor Modesto Navarro que irmão, o sr. Patrício, que nos diz estas décimas encontrou o irmão, Patrício, em Aljustrel, já na em Aljustrel, explicando que, na altura em década de 70, escreve sobre Valentim Adolfo que Valentim Adolfo João as fez, organizava o João no seu livro “Poetas Populares Alentejanos”. sindicato com outros mineiros. Apesar de várias inexactidões (o atentado a Namorava uma moça com a sua idade, Salazar foi em 1937 e não em 1933 como refere Modesto Navarro. Valentim Adolfo João morreu dezanove anos, e um dia ela queixou-se da pouca em Janeiro de 1970 e não em 1971), eis o texto de atenção que lhe dedicava: – «Passa-se uma Modesto Navarro com umas “quadras” atribuidas noite, passa-se outra, e tu sem apareceres…» Ao que Valentim Adolfo João respondeu: a Valentim Adolfo João. 09 | Dezembro | 2014

Olha para todo o mundo verás tanta dor tanta desgraça eu amo a beleza, amo a graça amo o bem-estar profundo o capital iracundo procura nos perverter mas nós havemos de vencer apeando os comodistas e amando os idealistas tenho muito que fazer Sociedade corrompida teus erros são vis e sicários aleivosos, argentários que nos negam o direito à vida e eis porque minha querida distraio a atenção e para acabar a escravidão eu prego por toda a parte construindo um baluarte a minha associação” (Texto retirado da obra “Fado Operário no Alentejo, séculos XIX – XX” de Paulo Lima, 2004, ed. Tradisom, Vila Verde, pp. 90 e 91. 2) 7


Primeiros Linces vão ser libertados em Mértola na próxima semana Programa de reintrodução do Lince Ibéricoem Portugal entra em fase decisiva, com dois animais soltos numa grande área cercada, onde permanecerão durante algumas semanas.

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epois de anos de esforços e de avanços e recuos, os primeiros linces ibéricos criados em cativeiro a serem reintroduzidos em Portugal deverão ser libertados dentro de uma semana, no concelho de Mértola. É o primeiro passo de um plano para soltar oito animais em território nacional, de onde o lince tinha praticamente desaparecido ao longo do século XX. A espécie Lynx pardinus é endémica da Península Ibérica – ou seja, só existe em Portugal e Espanha e em mais lugar nenhum do mundo. Mas a sua população foi minguando até restarem pouco mais de uma centena em Espanha e quase nenhum em Portugal no princípio década passada. É um animal considerado em “perigo crítico” de extinção, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza. Nos últimos anos, vários linces criados em cativeiro em Espanha e Portugal foram libertados em território espanhol. Agora é a vez de Portugal, que pela primeira vez o fará em solo nacional. Se tudo correr como o previsto, no próximo dia 16 de Dezembro, terça-feira, dois linces serão alvo de uma “soltura branda”, ou seja, serão libertados numa zona cercada, com cerca de dois hectares. Aí permanecerão durante algumas semanas, para se adaptarem à vida selvagem. Quando os técnicos que os irão monitorizar estiverem seguros de que os animais estão prontos para uma vida completamente independente, então serão por fim soltos na natureza. O principal elemento necessário para o sucesso da reintrodução do lince é o coelho bravo, o seu principal alimento. Uma variante da doença 8

hemorrágica viral, que afecta ciclicamente os coelhos, provocou drástica redução da sua população nos últimos anos. Sem coelhos, não há hipótese de os linces se fixarem em território nacional. O Ministério do Ambiente sempre garantiu que os linces só seriam libertados quando a situação dos coelhos fosse comprovadamente favorável. O PÚBLICO solicitou mais detalhes, mas o ministério remeteu quaisquer esclarecimentos para um momento mais próximo do dia da libertação, argumentando que a data poderia ser alterada. Em Mértola, porém, há sinais de que a situação melhorou. “A percepção que temos é a de que houve uma ligeira recuperação em relação ao ano passado”, afirma António Paula Soares, presidente da Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, que representa os donos de zonas de caça. Quercus pede "justificação técnica" Em 2013, praticamente não houve caça ao coelho na região. A doença hemorrágica viral dizimou os animais. Mas este ano tem havido uma maior actividade cinegética, embora a população de coelho bravo esteja ainda longe dos números de há dois anos. António Soares acredita que “as coisas estão bem encaminhadas”. A associação ambientalista Quercus estranha que a libertação ocorra agora. “Gostaríamos de conhecer a justificação técnica”, afirma Paulo Lucas, dirigente da Quercus. “Estava prevista para Janeiro ou Fevereiro, estranhamos a pressa”, completa. O que mais preocupa a Quercus é haver poucos incentivos para que os proprietários melhorarem o habitat do lince. Os prémios anuais de 10 a

100 euros por hectare, conforme o tamanho da propriedade, não são atractivos, segundo a associação. “A libertação em si do lince é um fogacho. A reintrodução de uma espécie é uma corrida de longo prazo”, diz Paulo Lucas. Outras associações têm manifestado preocupações quanto à libertação dos linces. Em Julho, a Federação Portuguesa de Caça e a Confederação Nacional de Caçadores Portugueses criticaram vários aspectos do processo, manifestando o temor de que haja uma espécie de competição com o lince pelo coelho bravo e maior ingerência do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em matérias de gestão que estão hoje na esfera dos gestores cinegéticos. O período de caça ao coelho termina no final do ano. O Ministério do Ambiente, segundo António Soares, comprometeu-se a avançar com a libertação dos linces apenas após o fim do período das montarias, que se estende até Fevereiro. Isto significa que os primeiros linces deverão permanecer dois meses na área cercada, que fica numa zona de caça turística de Mértola. A Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza garantiu dois mil hectares de terrenos favoráveis para os linces, através de contratos com proprietários da região. Foi também lançado um “pacto” para a preservação da espécie, envolvendo gestores de caça, investigadores, organizações não-governamentais, representantes da agricultura e instituições oficiais, no qual diz-se que “a presença do lince ibérico não implicará a criação de limitações ou proibições” nos sectores cinegético, agrícola e florestal. in “Público” 09-12-2014 09 | Dezembro | 2014


estórias com história

José António Estevão

Sem Mina e Sem Natal — ... Anda comigo ... Diz-me o Tói da Gregória ... — Vamos ali para os lados do telheiro á procura de barro ... — Barro? ... mas barro para quê?

burro ... fácil, ... mas também não tinha jeito ... e desisti... ... Um rolo de barro mais ou menos cilíndrico amassado com as mãos e estava feito o corpo do Numa corrida fui ao largo do poço a casa do bicho, ... Tói, confessar-lhe a minha incapacidade de não conseguir moldar um burro com o barro ... ... mais um rolinho fininho para o rabo, ... mas o raio do rabo não queria agarrar ao corpo e ... e lá estava o Tói todo besuntado e peganhoso teimava em cair, ... mas lá consegui, ... ... ficou até ás pestanas do encarnado do barro, ... um pouco arrebitado e quase na vertical, ... mas ... .... e disfarçadamente satisfeito reparei que os Agora era a cabeça, .. mais um naco de barro bonecos do Tói não estavam melhores que o meu quase esférico arredondado nas palmas da mão, ... burrinho "engalinhado", ... e fazer mais as orelhas na lateral, ... que também não seguravam ... mas lá insisti e prendeu uma, Aquele São José estava pior e mais mal enca... embora quase no alto da cabeça . rado que o Carrusca bêbado, .. ainda por cima marreco, ... aleijado, com um ombro descaído, ... ... Vinda da rua chegava a minha mãe de enfusa uma perna mais curta e mais grossa que a outra, ao quadril com água do poço ... ... nariz desproporcionado, parecendo picado por um enxame de vespas, ... barriga maior que a do ... — ... Olha lá, ... bonita, ... bonita sim senhor, Caxitra ou do Risota ... … a galinhita tá a tomar jeito, ... com mais um retoque na crista, e mais as patinhas ... e mais a ... ...um dó d ‘alma ...! Com este elogio da minha mãe, ... rapidamente compreendi que a continuar ... o meu burro de barro chegaria ao fim a cacarejar ...

.... E que dizer da Nossa Senhora, ...

... e ainda faltava a ovelha e mais a vaca e mais a ...

... mas coitada, mesmo! ... ... oh valha-me Deus, ...

..coitada ...! ...

... Se fosse tempo delas, .. fazia a vaca com uma ... parecia a "Mela", ... muito mal amanhada, — O Natal está a chegar e tenho de fazer o fava e uns pauzinhos de fósforo, ... era muito mais sem cabelo, parecendo zarolha, pescoço comprido presépio lá em casa, ... e as figuras faço-as moldadas em barro. — Deixa-te disso, ... faz antes uma árvore de natal, ... Embora eu não soubesse bem o que era uma árvore de Natal, mas tinha ouvido uma prima do Toninho Américo que morava em Beja, falar com entusiasmo da sua linda árvore de Natal coloridamente decorada e iluminada ... ... Mas o Tói já tinha visto uma arvore de Natal em Mértola quando foi levar a metade da vacina do tétano ... — ... Não pode ser, ! ... ... a arvore de Natal é feita com ramo de pinheiro, ... e aqui na aldeia só temos carrasqueiros, estevas e chaparros ... ... E lá fomos e recolhemos o barro vermelho que foi dividido pelos dois... — Tu fazes os animais, ... eu as pessoas .. ... e comecei cheio de entusiasmo a fazer o 09 | Dezembro | 2014

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e grosseirão, mamas desalinhada e descaídas até mas vão com cuidado, ... á zona do umbigo, ... mãos que pareciam duas talochas, ... bochechas de politico agnóstico ... ... e pediu os 5 escudos que o mestre sapatei… uma desgraça …!Uma verdadeira desgraça! ro acabara de receber de um freguês, por umas "tombas" cosidas numas botas, ... ... a pobre coitada estava ainda mais feia que aquelas noites de Inverno com as trovoadas que Chegados á papelaria da Mina, ... vêm do lado de Espanha e que a minha mãe "acode" aflita pela Santa Bárbara ... — ... Queremos uma folha de papel lustrado, .... amarelo . Sem querer cometer pecado, ... imaginei o menino Jesus ao ver aqueles pais desgraçados que — ... Papel lustrado, ... só tenho branco, preto lhe calharam em sorte, fugir assustado mesmo sem e vermelho ... cueiros do conforto da sua cama de palhinhas na manjedoura improvisada do presépio. . . — ... Leva o vermelho, ... disse eu ao Tói ...também é bonito e normalmente irrita muita ... Não podendo evitar, soltei grande gargalha- gente. ... ... da, ... e claro o Tói não gostou! — ... A folha custa um cruzado, ... Mas a tia Catrina a mãe do Tói, mulher perspicaz e desenrascada, vendo que a coisa não tomava — ... Olha, só 4 tostões, diz o Toi admirado — ... jeito, teve uma ideia ... Então dê-me mais 4 pastilhas elásticas "gorila" ... — .... Olhem, ... não se ralem, ... estão ali O Tói de cada vez que vinha á Mina ia carreainda os bonecos de massa de jornal com que gado com pastilhas elásticas, ... porque na Corte vocês fizeram o teatro de marionetas na escola, do Pinto não havia. ... eu vou costurar e vesti- los e vão ver que até vão parecer Santos do Céu ... Eu não gostava muito de mastigar aquela coisa que parecia borracha, ... gostava mais dos ... quanto ao burro, ... vou pedir á Luísa Colaço caramelos "vaquinha", daqueles que se agarravam aquele de loiça que ela tem em cima da cómoda aos dentes e obrigava a língua dentro da boca a lá em casa, ... e a vaca logo se vê ... andar aos pinotes ...

A aldeia ficou sem homens ...! Dos mineiros apenas ficaram os velhos, sofrendo no corpo o tufo engolido de uma vida nas catacumbas da mina, ... ... e os mineiros mortos, enterrados na terra de talisca das sepulturas do cemitério da aldeia ... ... aqueles que um dia entraram na escuridão do inferno para arrancar as pedras negras, ... e nunca mais viram a luz do dia ... Nas tabernas vazias já não se ouvia cantar ... ... e o meu pai foi mais um dos mineiros que também foi embora, ... para longe , ... ... para uma França que ficava para além do fim do mundo ... — ... E teve sorte, .... dizia um caixeiro viajante, ... — se tivesse que ir a "salto" era bem pior! ... A aldeia não parecia a mesma, ... As mulheres, de semblante inconformado, pareciam viúvas tristes ... ...Ir ao "pago" á Mina deixou de ter graça, ...a cooperativa fechou, ... as coletividades antes cheias de vida e diversão pareciam locais de velório, ..

— ... Pede o bezerro á tua irmã, aquele que a Quando chegámos á aldeia para fazer a estrela Até a rotina de amassar e cozer o panito no vaca pariu ontem á noite ... "brilhante", já a Nossa Senhora estava condigna- forno acabou, ... faltava o meu pai para trazer a mente vestida, ... com um lindo manto azul escuro lenha do campo ... ...olha, .. e trás também a vaca, ... sempre de veludo ... e agora sim, ... aquela Nossa Senhora temos leite fresco .... pelo menos até aos Reis .... parecia uma verdadeira Santa do céu ... ... Olhando para o cepo de Natal a arder na minha ladeira, ... o calor não era o mesmo, ... Diz o tio Zé Maurício, gozando com a situação, ... A túnica do São José é que o Tói torceu o com o meu pai a contar-me um conto, ...tínhaenquanto batia na sola duma bota sentado á mesa nariz, ... e a tia Catrina notou ... mos de chegar as cadeiras para trás para não nos da sua oficina de sapateiro ... queimar-mos .... — ...A túnica do S. José não te agrada? ... — ... Não façam caso...! ... diz a tia Catrina …E a minha mãe avisou- me: ... resmordendo com a graçola desbocada e parva .... pois, ...era o que havia, ... tirei de umas do marido ... ceroulas velhas de flanela do teu pai ... ... podes por na mesma o sapatinho na chaminé, ... mas de manhã só vais encontrar as meias de linha — ... Vão, ... vão buscar o musgo ali na bar... E não tardou, ... o presépio estava pronto e que a avó acabou de fazer com as 4 agulhas, ... reira ao pé da nossa cerca junto do barranco, ... por acaso bem bonito ... há lá muito e bonito ... ...e olhando uma fotografia que o meu pai man.... Até a tia Catrina parecia orgulhosa, con- dou junto a uma torre enorme de "pernas abertas", ... E lá fomos, colhemos e trouxemos as "man- vidando quem passava para espreitar aquela ... mostrando o sobretudo novo que comprou para tas" de musgo viçoso numa alcofa e começámos a representação do nascimento do Menino, ... e não substituir a velha samarra que levara e que já não construir o nosso presépio, ... onde nem faltavam se cansava de dizer: ... foram os moços pequenos tapava o frio, ... vendo um chão de um branco os pequenos lagos com latas de conserva cheias sozinhos que o fizeram, ... o meu Tói e aqui o estranho, ... lamentava aflita o sacrifício daquele de água disfarçada pelo musgo ... Zezinho... frio que o pobre pai devia estar a passar ... Enquanto a tia Catrina continuava a fazer os Na casa do Toi já ficou montado o belo presépio, mantos e as túnicas para vestir os bonecos, ... símbolo desta época Natalícia ... Mas, ... reparámos que faltava a estrela, ... e um presépio sem estrela, desorientaria os Reis Magos ... e teria de ser uma estrela brilhante ...

Mas, ...

.... e a tua prenda de Natal só vai chegar com o teu pai em Agosto do ano que vem... ... e se Deus quiser ... !

Pensei, : ...ainda com as ideias demasiado Este ano na minha casa, o Natal era diferente confusas e sem perceber muito bem o que estava a e mais triste ... acontecer á aldeia e ás famílias da minha aldeia... ... mas, ... as lojas dos Senos da aldeia só tinham A Mina estava a acabar, ... os mineiros foram papel de embrulho e papel pardo . ...mas que malvado Natal este ...!!! obrigados a abandonar a aldeia, ..as famílias e os ... Na Mina havia uma espécie de papelaria, amigos ... e procurar vida longe... e poderia ser que lá houvesse papel brilhante... ... mas porque teria de ter sido tudo assim? ... ??? ... tão longe que a saudade já doía antes te — Então vão á Mina, ... diz a mãe do Tói ... terem abalado ... ... Malvado Natal ... este ...! 10

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A Lenha bom garfo O Combustível na casa dos Mineiros

PÉZINHOS de COENTRADA

momentos de poesia Antónia Fernandes Correia

Vou escrever o que alguns sabem E que a mim me marcou A lenha um bem essencial, escasso, E pelo mesmo se lutou Também era das Mulheres Essa tarefa tão árdua Ir a Espanha procurar O que neste lado rareava Partiam em grupos a fio Enfrentando o seu penar Para a Espanha chegar O Chança tinham que passar

Ingredientes:

Enregeladas lá iam Afim da sua missão A lenha iam buscar Para também cozer o pão

12 pezinhos de porco pequenos 2 cebolas 5 cravinhos Sal q.b. 5 dentes de alho 6 colheres (sopa) de azeite Coentros q.b. 1 colher (sopa) bem cheia de farinha maisena 3 colheres (sopa) de vinagre

Regressavam cansadas Com a lenha bem presa O feixe seguro nas suas cabeças

Preparação:

Quando à fronteira chegavam E pelos Carabineiros encontradas A lenha levavam para as Cazilhas escoltadas

Arranje, chamusque e lave bem os pezinhos de porco. Descasque as cebolas e espete-lhes os cravinhos.

A Portugal regressavam Seus lamentos a falar O Chança passavam de Mãos a abanar

Numa panela, junte os pezinhos, as cebolas e água até cobrir bem, tempere com um pouco de sal, leve ao lume e deixe cozer até que os pezinhos fiquem macios. Vá retirando a espuma que se vai formando.

Vida dura a dos Mineiros E da Esposa também Cuidar do lar e dos filhos E do Marido também

Escorra os pezinhos (reserve o caldo da cozedura), deixe-os arrefecer e retire-lhes os ossos mais salientes.

Tempos idos de sofrimento Que jamais se irão esquecer Também Elas nossas Mães Foram vítimas do poder

Descasque os dentes de alho, deite-os para um almofariz, junte um pouco de sal grosso e esmague bem até obter uma pasta.

Homenagem às nossas Mães Também Elas sofreram na Imparável exploração da mina.

Aqueça o azeite num tacho, adicione a pasta de alho, deixe alourar, junte bastantes coentros picados grosseiramente, mexa e retire do lume.

Domingos Teixeira Bairro-Alto Mina de s. Domingos Domingo 12 de Outubro 2014 09 | Dezembro | 2014

vivemos de histórias e mitos , pensando que não é real , mas sem ficar aflitos , afirmo que é verdade crucial, nas profundezas da terra , para garantir o sustento, mineiros de S. DOMINGOS, Lutavam como na guerra, de pique como instrumento ... Na luta, desenfreada, não lembravam quanto ao perigo, nem mesmo pensando em mais nada, que traziam a morte, consigo, e tantas vezes ela vencia, nessa luta derradeira, sua vida pertencia, ao fundo dessa barreira, barreiras desse minério negro como a própria morte, e findavam no cemitério, sempre que lhes faltava a sorte, que desgosto , que agonia, sofriam os que cá ficavam, nada mais na vida havia, todas as esperanças findavam, Haviam aqueles que ficavam, para a sua inteira vida, e de muletas findavam , numa tristeza esquecida, muita pena todos tinham, sem nada puder fazer , mas as penas se avizinham , e ficam até morrer ........

Adicione depois a farinha previamente dissolvida no vinagre e 2,5 dl do caldo de cozer os pezinhos, mexa, adicione os pezinhos, leve novamente ao lume, deixe apurar o molho até ficar espesso, retire do lume e sirva. 11


O ATENTADO de JAMES MASON “ Quadrilha de Banditti da Aldeia de Corte do Pinto”

James Mason

N

a encosta a sul do Eremitério de São Domingos, encontrava-se o único campo cultivado de todo o território mineiro, talvez explorado pelo Eremitão sob a proteção da "Santa Madre Igreja". No mesmo 12

espaço apenas existia umas ruinas de casa rural, sinais evidentes de um perfeito deserto. O jazigo tinha proprietários e propriedades confinantes. Os proprietários foram vendendo as suas terras na área pretendida, originando um grande senhor terrenamente, os Mason & Barry. Os vizinhos eram gente humilde dos Montes Altos e de Corte do Pinto: Manuel Lourenço, Manuel Francisco Vargas, Manuel Francisco Magro e os herdeiros de João Félix. James Mason encontrava-se em Portugal desde os meados de 1858, colocando-se ao serviço da industria mineira, impulsionando o sector das pirites neste País e preparando a exploração da Serra 09 | Dezembro | 2014


de São Domingos, de acordo com as conceções mineiras. A partir de Janeiro de 1859, estabelece o arrendamento definitivo da concessão, impulsionando doravante a exploração do minério a partir do primeiro ano de lavra. Estimulou o crescimento de uma primeira povoação mineira com todos os requisitos necessários para não só ali habitarem os mineiros, como também toda a logística humana especializada, oriunda da Inglaterra, os engenheiros e diversos funcionários. Em julho de 1860 foi vitima de um atentado, não consumado, perpetrado por uma Quadrilha de Banditti da Aldeia de Corte do Pinto. O atentado foi preparado por José Félix e José Félix Mourinho, o "Chato", ambos envolvidos no movimento da Patuleia(movimentos de revoltas populares como o liderado pela jovem Maria da Fonte) e fugitivos do Limoeiro e do Forte do Bugio. Os dois tornaram-se célebres pelos atos criminosos, apoiados pelas populações autóctones e por amigos em várias povoações das duas margens do Guadiana, personificando um tipo de banditismo descrito por, (E. J. Hobsbawn e Gorge Rudé, Revolucion Industrial y Revuelta Agraria. El Capitán Swing. Madrid, 1978. Também descrito pelo primeiro autor em, "Rebeldes Primitivos", estudo sobre as formas arcaicas dos movimentos socias nos séculos XIX e XX) João Félix era pedreiro e fabricante de tijolos em Corte Do Pinto, onde tentou fazer passar a James Mason, tijolos de fraca qualidade. As suas relações com a Mina encontravam-se também relacionadas com divergências nos limites das

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propriedades na zona da concessão, na qualidade de herdeiros de João Félix. Os problemas sociais não treinaram aqui, pois a gestão do pessoal era um grande problema nos meados do século XIX. Em conjunto com os mineiros portugueses, ( Alentejanos e Algarvios), trabalhavam piemonteses, andaluzes, castelhanos e asturianos, os últimos oriundo das explorações mineiras espanholas. De notar que as suas proveniências foram influenciadas pelas empresas de Huelva e pelas sociedades onde já trabalhara James Mason.

Fontes: ( Imagens de autoria desconhecida: Centro de Estudos da Mina de São Domingos e Google ) http://cemsd.minadesdomingos.com/ http://aespeciaria.blogspot.pt/2012/01/ sublevacao-popular-da-maria-da-fonte.html http://ct1end.netpower.pt/cs4b_bugio/historial_bugio.htm Extratos de texto: Mineração do Baixo Alentejo da Autiria do Pro. Jorge Custódio. ( Arranjo e edição de António Pacheco)

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CARTOON

CANTE (2014) - Ilustração: Helder Peleja 14

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