Revista Odisseia Cultural - #1 (OUT/19)

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REVISTA

ODISSEIA CULTURAL SUA DOSE MENSAL DE CULTURA

1° EDIÇÃO OUTUBRO - 2019

PRIMEIRA EDIÇÃO

O PERFIL DO MÊS UMA ENTREVISTA COM O JORNALISTA CULTURAL FRANTHIESCO BALLERINI

"MANIFESTAÇÃO CULTURAL É MANIFESTAÇÃO CULTURAL" PAG. 4


O TIME ODISSEIA QUEM FAZ A REVISTA MENSAL DE CULTURA

EQUIPE Editores-chefes Aurora Maju Bianca Larissa Eduardo Freitas Isadora Bustamante Maylla Rodini Nathalia Magalhães Design e identidade Bianca Larissa Nathalia Magalhães Idealização Aurora Maju Bianca Larissa Eduardo Freitas Isadora Bustamante Maylla Rodini Nathalia Magalhães Capa e diagramação Eduardo Freitas Repórteres Maylla Rodini Fotógrafos Isadora Bustamante Redator Eduardo Freitas

SOBRE Criado em 2019, a revista Odisseia Cultural faz parte do Projeto Interdisciplinar: Entrevista de Perfil, dos alunos do 2° semestre de jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul. Formada por seis alunos, a missão do Odisseia Cultural é espalhar cultura pelos quatro cantos do país. Sempre voltado ao jornalismo cultural, buscamos trazer conteúdo original, desde entrevistas à mostras exclusivas com os principais nomes do cenário cultural atual. Um refúgio seguro, com sua dose de cultura. Embarque no monólito e venha conhecer mais sobre jornalismo cultural nessa Odisseia Cultural.

SUMÁRIO Equipe..........................................................PAG. 02 Sobre............................................................PAG. 02 Sumário........................................................PAG. 02 Perfil do Mês: Franthiesco Ballerini..............PAG. 03 Entrevista: Franthiesco Ballerini...................PAG. 04 Editoral..........................................................PAG. 09

Agradecimentos Universidade Cruzeiro do Sul Faculdades Integradas Rio Branco Franthiesco Ballerini Instagram @odisseiacultura Twitter @odisseiacultura

odisseiacultural.ga

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O PERFIL DO MÊS: UMA ENTREVISTA COM FRANTHIESCO BALLERINI por Eduardo Freitas Repórter: Maylla Rodini Fotos: Isadora Bustamante

O jornalista Franthiesco Ballerini conversa sobre sua formação, a publicação de seus livros e os atuais desafios da profissão num mundo cada vez mais digitalizado. No Perfil do Mês de outubro, entrevistamos o jornalista Franthiesco Ballerini. Autor de quatro livros referências no mercado cultural, Ballerini é graduado em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e doutorando em Comunicação Midiática, Processos e Práticas Socioculturais, com especialização em audiovisual e jornalismo cultural.

Nasceu em Lorena, interior de São Paulo, em 21 de fevereiro de 1981. De família italiana, desde jovem sempre gostou de escrever - e cursou jornalismo somente por isso. Quando ainda estava na universidade, foi repórter do Estadão e descobriu o jornalismo cultural pelo acaso enquanto cobria televisão. Durante nossa entrevista, Ballerini contou a nossa repórter Maylla Rodini sobre como foi seu processo de formação, como publicar seus livros mudou sua vida e os atuais desafios que a profissão enfrenta num mundo cada vez mais digitalizado, além de opinar sobre os recentes casos políticos envolvendo cultura no país.

A ENTREVISTA COMPLETA NA PÁGINA AO LADO

"AS PESSOAS ACHAM QUE CONSUMIR JORNALISMO PODE SER GRATUITO E TUDO BEM" PÁGINA 03


ENTREVISTA PINGUE-PONGUE COM FRANTHIESCO BALLERINI

Franthiesco Ballerini. O Perfil do mês de outubro. (Foto: Isadora Bustamante)

O jornalismo cultural sofreu muitas transformações com o passar dos anos. Para você, qual foi a principal mudança desde o período que você se formou? A principal mudança, não só no jornalismo cultural, mas em todas as outras áreas, é a digitalização. Essa ideia, desde a passagem dos anos 90 para os anos 2000, de que não é preciso mais pagar para ter acesso à boa informação. E essa ideia ficou tão sintomática no mundo que até estudantes de jornalismo, muitas vezes, não assinam jornais ou revistas. Por que? Porque tem acesso gratuito à informação na internet. Só que não é bem assim. Para você ter uma reportagem de fôlego, uma boa matéria, especialmente em cultura, você precisa ter equipe e isso custa caro. Então, acho que o grande problema hoje é isso: as pessoas acham que consumir jornalismo pode ser gratuito e tudo bem. E, com isso, você vai enfraquecendo cada vez mais as redações. Por exemplo, quando estava no grupo Estado, eu trabalhava numa equipe de vinte e cinco pessoas. Esse número foi caindo, caindo. E, num certo ponto, chegou até oito pessoas. E oito pessoas para fazer tudo numa editoria é um absurdo. Agora, cada vez mais pessoas têm acesso à internet e aos mais variados. Você acha que o jornalismo cultural nos jornais tradicionais está ficando escasso? E qual sua visão para a área daqui a alguns anos? Eu não acho que vai ter escassez de jornalismo. Nós estamos vivendo um ponto de virada. As pessoas — não aqui no Brasil, isso ainda vai demorar —, mas nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, as pessoas estão começando a se dar conta de que você tem que pagar para ter um bom jornalismo.

Quando você entra no site do The Guardian, que é um dos pilares do jornalismo mundial, e, no final você vê um anúncio pequeno, pedindo: “Colabore com o The Guardian”, isso é assustador. O The Guardian pede isso, quem dirá um jornal latino-americano. Mas já existe esse movimento de conscientização das pessoas. O The New York Times está tendo agora, nesse ano, um superávit de assinaturas online e isso é muito positivo. Espero que isso seja o reflexo para o mundo inteiro. Você já trabalhou na mídia impressa, no rádio, na televisão e, agora, na mídia online. Qual a diferença que você sente em se expressar em diferentes plataformas? A impressa permite mais profundidade, você pode refletir mais, pensar mais, ser mais sofisticado. No rádio, eu trabalhava num programa ao vivo, então, era muito no calor da hora e é preciso muito jogo de cintura com o apresentador. Na televisão, ao vivo é dificílimo. Ainda mais eu que trabalhava num programa popular, o Mulheres. Então, você tinha que entender muito bem o perfil do público, dando dicas de filmes e curiosidades bem específicas, porque você é muito refém de audiência. E, online, você tem o pouco de liberdade do impresso, com a diferença que você trabalha com textos menores, mas você pode colocar links e fotos, imagens que jogam o leitor para outras experiências ali e isso é bem legal.

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No Brasil, logo quando se pensa em cultura, as palavras "carnaval" e "futebol" vêm à mente. No entanto, como você escreve no seu livro "Jornalismo Cultural no Século 21": cultura não é só isso. Você acha que o jornalismo cultural pode ser bem executado e apreciado em nosso país? O jornalismo cultural brasileiro é bom. Está muito definhado hoje, mas é bom. E carnaval e futebol é o que menos se fala em cadernos culturais, futebol porque é esporte, mas carnaval se fala muito pouco. O jornalismo cultural brasileiro tem uma marca de ficar na cultura pop, especialmente depois do projeto da Folha nos anos 80. A cultura pop virou uma vitrine para os demais veículos. Mas ainda existe resistência, a revista Cult, a Piauí; sites como a Contracampo, Continente Cultural. Mas mesmo numa Ilustrada e num Caderno 2, no Globo, você tem matérias sobre teatro, sobre músicas. Existe uma boa qualidade de jornalismo cultural brasileiro, ainda que esteja sobrevivendo a duras penas.

Até a década passada, muitos jornalistas acreditavam que não existia cultura nas periferias. Hoje em dia, todos sabem que a periferia vive e respira cultura, porém, são poucos os eventos cobertos pela mídia tradicional, sendo esses mais visíveis na mídia independente. Você acha que, aos poucos, o termo “cultura” vai deixando de ser erudita e se tornando popular? Eu não concordo com essa divisão. A cultura é uma mistura, uma hibridização. Não tem cultura popular, erudita ou de massa. O que é “Deus e o Diabo na Terra do Sol”? É um filme erudito, porque tem direção de fotografia e de arte que são sofisticadíssimos. É popular porque fala da cultura popular, mas é um filme que tem que ser divulgado em massa. Até a periferia tem cultura de massa e elementos de cultura erudita. Quando um artista plástico vai pra Heliópolis e faz uma instalação, aquilo é cultura erudita. Manifestação cultural é manifestação cultural, independentemente da onde ela vem.

"MANIFESTAÇÃO CULTURAL É MANIFESTAÇÃO CULTURAL, INDEPENDENTEMENTE DA ONDE ELA VEM" Atualmente, um dos maiores perigos da internet são as fake news. E, com cada vez menos jornalistas nas redações e mais acúmulo de funções, você acha que a difusão de informações falsas sobre apresentações e expressões culturais dificulta o entendimento do grande público ao que a cultura pode oferecer? Eu acho que as fake news atingem menos o jornalismo cultural. O problema do jornalismo cultural não é a fake news, é a banalização. É você ficar muito refém daquilo que já é de massa, que não precisa de espaço da mídia. Um grupo exibidor de cinema me disse: “A imprensa dá um espaço imenso para filmes que não precisam dela para ter bilheteria. Enquanto os filmes brasileiros, os de arte, que precisam ter uma reflexão da imprensa, tem um espaço muito pequeno”. Então, acho que o jornalismo cultural brasileiro é muito refém disso. Especialmente nas áreas da música e cinema. Você vê sites inteiros, que eu não vou citar os nomes porque são todos colegas meus, que tem uma audiência imensa e só reproduzem séries e filmes americanos. Eu acho isso um sintoma empobrecedor, inclusive, para o brasileiro, para vocês (estudantes de jornalismo) e para quem estuda audiovisual, porque não vai ter emprego. Se você não fomenta um hábito de assistir essas coisas, lá na frente, você não vai trabalhar com isso.

Muitos acham que a função do jornalista cultural é apenas assistir filmes e ler livros. No entanto, existem muitos desafios que a profissão exige. Para você, qual o maior desafio que se pode encontrar? Eu acho que para sobreviver nessa área, é preciso estar sempre um passo à frente. Eu tive muitos colegas que se contentavam em assistir ao filme de manhã e produzir um texto depois. Uma hora isso não será um diferencial, sempre fui muito paranoico com isso. Quando cobri meu primeiro filme, decidi que queria continuar na área, então, fui fazer uma especialização em cinema e mestrado. Depois, fui escrever livros, o que é muito importante, mas eu acho que o grande diferencial hoje, e a tecnologia permite isso, é você colocar a mão na massa. O jornalista cultural de cinema têm que fazer algo na área, ele tem que fazer roteiros ou dirigir. Não precisa ser constante, porque o hábito da redação não permite. Assim como o jornalista que cobre teatro, não adianta só ver peça, acho que ele têm que trabalhar um pouco com dramaturgia, nem que tenha feito um curso de atuação. Mesma coisa para os outros. Ficar só na redação é muito ruim, tem que ter uma experiência prática.

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Em 2009, você publicou seu primeiro livro: “Diário de Bollywood”, o primeiro sobre o assunto no Brasil. Fazendo contraposição ao padrão Hollywoodiano, Bollywood é um universo de cores vibrantes, efeitos especiais exagerados e coreografias extremamente coordenadas. Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre a indústria de cinema indiana e qual foi o impacto que isso trouxe para sua vida? Mudou toda minha vida. Eu ainda trabalhava na redação, quando recebi um press release sobre uma pequena mostra de cinema indiano, em São Paulo. Até então, ninguém sabia o que era Bollywood aqui no Brasil. Eu entrevistei um indiano, que era o curador, e falei para ele: “Cara, me leva pra Índia, eu quero fazer uma reportagem sobre o cinema indiano” — fiquei seis meses planejando essa viagem. Era o ano do meu casamento, então, foi uma loucura. Eu fui o primeiro brasileiro a ir à Índia cobrir Bollywood, mas ainda não existia a ideia do livro. Quando eu voltei, escrevi matérias para a rádio Eldorado, todo o grupo Estado e para a revista Bravo!. Foi aí que alguns amigos do Projac me disseram de uma novela ainda em produção sobre a Índia - Caminho das Índias - e um amigo, de Los Angeles, disse sobre o filme "Quem Quer Ser um Milionário?". E como havia sobrado muito material, decidi procurar uma editora e a Summus topou. Foi meu primeiro livro e teve uma grande repercussão. Isso foi super importante porque abriu as portas para os meus outros projetos na área literária. No seu terceiro livro, “Jornalismo Cultural no Século 21”, você escreve sobre a existência de uma “supervalorização” das produções Hollywoodianas, concluindo que deveríamos procurar “reconhecer a cinematografia de outros lugares do mundo”. No Brasil, existe uma certa aversão às produções nacionais. Você acredita que é um mercado que precisa ser explorado no país, no mesmo nível que as telenovelas? Eu falo sobre isso em todos os meus livros, na verdade. Eu acho que existe um problema no Brasil, que é a falta de hábito. Eu dou muitos cursos de cinema e às vezes pergunto para os alunos: “Galera, vocês querem trabalhar com cinema nacional?”, e todo mundo responde: “Eu quero”. “E quantos filmes brasileiros vocês vão no cinema pra assistir?”. Nem Bacurau, que é o filme do momento, os estudantes vão assistir. Então, não adianta, só há uma indústria forte se você tem o hábito do público. A indústria das telenovelas no Brasil é muito forte, ao ponto de você ter uma indústria que não se limita a TV Globo, mas também outros canais, porque você tem o hábito do brasileiro. Você não tem isso com o cinema. Eu falo bastante dessa questão do hábito porque é muito importante. É uma das coisas que o Pierre Bourdieu, autor em que baseio toda minha linha de pesquisa, fala: essa questão de hábito.

O livro Diário de Bollywood, de Franthiesco Ballerini, publicado em 2009, foi fruto de uma intensa pesquisa de campo no país asiático - sendo o primeiro sobre o assunto em língua portuguesa. Ainda no mesmo ano, ele dirigiu e produziu um documentário chamado "Bollyworld", com entrevistas de atores e produtores famosos na cinematografia indiana. Diário de Bollywood, 2009, Ed. Summus - R$ 53,10 Documentário Bollyworld, 2009 - Disponível online Então, a probabilidade do cinema nacional se tornar um pilar aqui no Brasil, como Hollywood é para os Estados Unidos e Bollywood para a Índia, é inexistente? Não inexistente. Nada é inexistente. A probabilidade da gente morrer daqui a pouco é existente, embora menor esperamos. Mas, para mim, nos próximos quatro anos, é ínfima — muito pequena. Nós temos uma cinematografia de filmes maravilhosos ao longo desses anos todos. Mas não dá pra dizer o futuro do nosso cinema porque não dá pra dizer o futuro do cinema no mundo. Com essa coisa do streaming, tudo está mudando. Ninguém arrisca dizer se o cinema vai ser mesmo forte daqui a cinco, dez anos. O que a gente pode dizer é que filmes sempre vão existir e sempre vão ser produzidos, pois é uma linguagem que atrai o público. Agora, o quanto o Brasil vai se apropriar disso, em plataformas digitais, isso a gente não consegue dizer hoje.

Franthiesco Ballerini recebeu nossa equipe nos jardins das Faculdades Integradas Rio Branco. (Foto: Isadora Bustamante) PÁGINA 06


A repórter Maylla Rodini (direita) conversa com Franthiesco Ballerini (esquerda) sobre as telenovelas brasileiras serem um forte poder suave do país. (Foto: Isadora Bustamante)

No seu último livro, “Poder Suave – Soft Power”, você cita novamente Hollywood e seu poder de influência. No livro, você cria um debate de como os meios de comunicação podem nos influenciar e ainda serem mais eficazes que exércitos na subjugação de outros povos. Trazendo para o contexto brasileiro, você escreve que os poderes suaves do Brasil são: “o carnaval, a bossa nova e as telenovelas". Você acredita que parte dessa aversão às produções nacionais vem do estigma de que “tudo que vem de fora é melhor”? Sim, nós pensamos isso de algumas coisas. Mas, por exemplo, as telenovelas: nós sabemos que as nossas são as melhores do mundo. Não precisou de prêmio, nada de fora — é o hábito. A bossa nova se tornou um grande poder suave a partir do momento que os Estados Unidos abraçaram o gênero. Jacqueline Kennedy, os cantores que gravaram com Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E fez com que nós gostássemos também. A nossa imprensa abraçou isso. O carnaval caiu no gosto do mundo há anos. É inevitável ser um poder suave. E o brasileiro gosta, então o carnaval juntou as duas coisas: o prestígio mundial e o gosto popular brasileiro. São produções culturais brasileiras que tem o poder suave. Afinal, o que é poder suave? É quando você tem uma produção cultural que circula internacionalmente, e, que seduz público no mundo inteiro. Às vezes, sem nenhum incentivo do governo do país, como no caso de Bollywood, que não tem nenhum incentivo do governo indiano. Aqui no Brasil, a bossa nova e as telenovelas também não tiveram.

A telenovela é uma iniciativa privada e o carnaval, esporadicamente. Isso mostra como são poderes suaves eficientes porque, mesmo sem um incentivo do governo, funcionam muito bem. E, seriam expressões culturais ainda mais influenciadoras se o governo financiasse. Em agosto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) vetou diversos filmes com temática LGBT e, no mês passado, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), censuraram e pediram o recolhimento de livros que continham “conteúdo impróprio” para menores. Você acha que o momento que o país vive pode ser comparado a busca pela limpeza cultural após a subida dos fascistas ao poder? Só uma correção: não tinha conteúdo impróprio. No Estatuto da Criança e do Adolescente nada prevê que aquilo era impróprio. E a atitude, por exemplo, do prefeito carioca, fere o 5° Artigo da Constituição. E eu não acho que a gente chegou nesse ponto ainda, como na ascensão do fascismo nos anos 20. Mas nós estamos caminhando para lá. Eu acho, sim, que nós estamos num momento de censura igual, ou pior, do que nos anos 70, aqui no Brasil, na época da ditadura militar. E as pessoas não estão percebendo isso. E o problema das pessoas não perceberem isso é que tudo vai ganhando volume, até chegar num ponto que realmente vão se acostumar a não falar, a não ouvir o outro. E isso é grave. Mas existe resistência.

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Não é tão fácil controlar as redes sociais, mas também não é impossível. Nós temos exemplos como China, Cuba e Rússia, onde as mídias sociais e a internet são absolutamente controladas. Nós podemos chegar lá, então nós precisamos fazer resistência.Evidentemente, o jornalismo cultural, fora todos os outros, empobrece com tudo isso. Logo, logo, o leitor se acostuma a esse tipo de censura, a imprensa também e isso vira um hábito. Você não discute mais questões que são fundamentais. Aquele que é diferente, aquele que é o outro. E todo um processo de abraçar a diversidade começa a dar passos para trás.

Contexto No mês de agosto, o presidente Jair Bolsonaro afastou o diretor da Ancine, Christian de Castro, e disse que o novo representante da organização deveria ser um evangélico que soubesse recitar de cor "200 versículos bíblicos", que tivesse os joelhos machucados de tanto ajoelhar e que andasse com a Bíblia debaixo do braço. O presidente também disse que pretendia extinguir a agência caso um "filtro de conteúdo" - censura - não fosse implantado.

A entrevista com Franthiesco Ballerini também foi gravada para o OdisseiaTV. Ele falou sobre sua agência Ethos Comunicação & Artes e deixou um recado para os futuros jornalistas. (Foto: Isadora Bustamante)

Em 2017, você fundou a Ethos Comunicação & Arte, oferecendo cursos de cinema e artes. Como surgiu a ideia? A Ethos foi uma vontade de juntar as minhas duas experiências, que são: a imprensa e o mundo acadêmico. Então, ela virou uma agência onde eu ofereço cursos específicos, alguns com parceiros, como a Livraria da Vila e Reserva Cultural. Era um caminho natural, que apesar de parcerias e alguns funcionários, é focado naquilo eu que aprendi a fazer nos últimos quinze anos de experiência. E não vai muito além disso. O país tá crescendo a passos de tartaruga, isso se é que está crescendo, então, a Ethos está com o pé no chão e aos poucos vai galgando espaço. Algum projeto futuro? Ano que vem vou lançar meu quinto livro. Eu não posso falar muito sobre ele, mas é sobre cinema. E nos próximos vou fazer meu doutorado, então, vou voltar a fazer cinema. Curta e longametragem, que é algo que eu quero fazer faz um tempo.

Para finalizar, você tem algum recado para os jornalistas em formação que estão assistindo? Não desistam. O mercado está muito difícil, mas não desistam. Pensem em alternativas de formação e não abram mão de um emprego só porque ele não paga bem, ele pode ser uma boa porta de entrada para o mercado. Explorem bem essas portas. Sejam múltiplos, hoje, jornalista não é só quem escreve, é também quem fotografa, quem faz audiovisual. Isso é uma realidade muito maior hoje, de vocês, do que minha. E resistam. É importante haver resistência.

FRANTHIESCO BALLERINI FOI O PERFIL DO MÊS DE OUTUBRO

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EDITORIAL A ODISSEIA QUE FOI ENTREVISTAR FRANTHIESCO BALLERINI

No dia 25 de agosto, a equipe Odisseia Cultural partiu da estação São Joaquim rumo à Lapa. Seis estudantes de jornalismo, apresentados na contracapa desta edição, carregando uma mochila com duas câmeras, LEDs, tripés e tudo que uma boa equipe de filmagem preza. Parecíamos até um veículo sério, apesar de toda nossa ansiedade para nossa primeira entrevista oficial. Entre baldeações, plataformas baixas, túneis esquisitos e arrependimento por ter ouvido um camelô que nos deu as direções erradas, o medo de ser roubado com todos aqueles equipamentos debaixo de um sol escaldante. Não dava para voltar tudo aquilo, não de novo. Decidimos chamar dois Uberes, três em cada carro, um seguindo o outro, até a Faculdades Integradas Rio Branco. Só assim, depois de dez minutos de viagem, chegamos ao nosso destino, uma hora antes da entrevista. E aqui vai um agradecimento aos seguranças da portaria que permitiram nossa entrada para usar o banheiro. Não os julgaríamos caso não liberassem nossas entradas, afinal, nossas caras de horror ainda lembrando do túnel da estação nos fazia parecer loucos em fuga do hospício. E mais uma vez, obrigado por nos deixar entrar, usar o banheiro e beber água. Para não incomodar mais, decidimos ficar sentados na calçada. Observávamos cada carro, pensando: “Será que é ele?”, já mais relaxados da ansiedade. Mas só meia hora para às cinco – horário marcado para a entrevista – que ele surgiu, e, mesmo já tendo conhecido ele no semestre passado, o nervosismo subiu em todos nós. Respiramos fundo ao passar pelas catracas novamente. Tudo pronto. Franthiesco Ballerini, nosso ex-professor e entrevistado do mês, estava sentado e aguardando o início da gravação, quando um dos cartões de memória deu problema e ficamos ainda mais nervosos. “Volto já”, ele disse e, assim que sumiu, a correria entre nós seis começou. Xingando as cinco gerações futuras de quem havia feito aquele cartão, optamos por fazer a gravação com o celular e fotografar com a câmera e cartão funcionais. Ficamos mais calmos quando a entrevista começou e tudo aconteceu fluidamente. A entrevista foi um sucesso e, mesmo com os problemas técnicos, ficamos satisfeitos com os resultados apresentados nessa primeira edição da revista Odisseia Cultural. E esperamos que você, leitor, tenha ficado também. Foi uma experiência maravilhosa entrevistar Franthiesco Ballerini, perguntar coisas técnicas que sempre tivemos curiosidade durante as aulas. Uma real odisseia. Saímos de lá às 18h, já com o sol se pondo. E podemos dizer, cada minuto valeu, por isso, agradecemos, mais uma vez, Franthiesco por nos dar o prazer de ser o entrevistado do mês de outubro, na edição de estreia do Odisseia Cultural. - Equipe Odisseia Cultural PÁGINA 09


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