O DESCAMBÔ - POÉTICAS POLÍTICAS & OUTROS DESAFOROS - EDIÇÃO ZERO (2020)

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O DESCAMBÔ

POÉTICAS POLÍTICAS E OUTROS DESAFOROS

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O DESCAMBÔ POÉTICAS POLÍTICAS & OUTROS DESAFOROS

Edição zero DEZEMBRO 2020



O D’ESCAMBÔ O D’ESCAMBÔ O D’ESCAMBÔ POÉTICAS POLÍTICAS & OUTROS DESAFOROS

Esta edição celebra a diversidade humana criativa, a cultura de escambo e as diferentes redes colaborativas de criação, produção e distribuição de conteúdos e informação. Seus idealizadories acreditam em compreensões cooperativas {não-corporativas}, e em ferramentas de contestação criativa ante ao caos. Vamos juntes?

DEZEMBRO 2020 Edição zero

Mogi das Cruzes / São Paulo / SP

Editores: Math’eus Borges y K.iqui Calisto

www.descambofestival.com.br festivaldescambo@gmail.com

Todos os direitos reservados ©


Edição zero DEZEMBRO 2020


EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL

Ió, Saudações!

Antes que nada, agradecer e lembrar que para o quando deste Tempo, Houveram outras y outres antes dos outros. Depois, confessar que, quando sonhamos este projeto, nos pareceu afetiva a portunidade de reunir diferentes pessoas de distintos universos em torno de uma idéia comum: partilhar, coletivizar, e pensar. Como provocação: a cultura de escambo y as muitas maneiras de perceber o mundo y transformar... Mas, onde mora em verdade, o sentido de troca_ num mundo que funda coisas, almeja negócios? Que se pode fazer, quando o próprio Tempo se apresenta ante as portas do Império? Agir. Convocar. Manifestar.O D’escambô, é a utopia da experiência coletiva anticapitalista, é a fé no miocárdio das culturas.

YIÓ.

“ Math’eus Borges @aosprimatas


“ O DESCAMBÔ POÉTICAS POLÍTICAS & OUTROS DESAFOROS

Esta edição celebra a diversidade humana criativa, a cultura de escambo e as diferentes redes colaborativas de criação, produção e distribuição de conteúdos e informação. Seus idealizadories acreditam em compreensões cooperativas {não-corporativas}, e em ferramentas de contestação criativa ante ao caos. Vamos juntes? DEZEMBRO 2020 Edição zero Mogi das Cruzes / São Paulo / SP Editories: Math’eus Borges y K.iqui Calisto www.descambofestival.com.br

festivaldescambo@gmail.com

Todos os direitos reservados ©

EDITORIAL


Math’eus Borges //// 05 // 07 K-iqui Calisto // Manoel Mesquita Jr. //// 13 Bruna Thereza //// 15 Paulestinos //// 24 Jô Freitas //// 28 Ana Paula Lustosa // 30 Paulestinos //// 40 Miró da Muribeira //// 44 // 45 Tiago Mine // Beatriz Ataídio // // 48 Laura Figueiredo //// 56 Marcos Lemes // 58 // 60 Daniel Marques // Vandei Oliveira // 63 Verónica Gálvez Collado // // 64 Narany Mireya//// 65 Mateus Farias // // 68


PRELÚDIO DE CARNAÚBA K.IQUI CALISTO


RYKELVY (PRIMO) - CASA DO AVÔ ZÉ MARIA, FLORIANO, PIAUÍ - ANO, 2020


Antes que nada, agradecer e lembrar que para o quando deste Tempo, Houveram outras y outres antes dos outros. Depois, confessar que, quando sonhamos este projeto, nos pareceu afetiva a portunidade de reunir diferentes pessoas de distintos universos em torno de uma déia comum: partilhar, coletivizar, epensar. Como provocação: a cultura de escambo y as muitas maneiras de perceber o mundo y transformar... Mas, onde mora em verdade, o sentido de troca_ num mundo que funda coisas, almeja negócios? Que se pode fazer, quando o próprio Tempo se apresenta ante as portas do Império? Agir. Convocar. Manifestar. O D’escambô, é a utopia da experiência coletiva anticapitalista, é a fé no miocárdio das culturas. YIÓ.

Math’eus Borges @aosprimatas


Carnaúba, Fazenda Boiada - Floriano, Piauí - ano, 2020


Não sou fotógrafo, mas ouso fotografar na tentativa de fixar no tempo os vãos que minha memória acostumada não consegue abrigar. ‘Prelúdio de Carnaúba’ se forma em documentárioexperimento composto também por fotografias, no intuito de ser um presente na possibilidade de um registro-mergulho nas tradições pretas, caboclas, sertanejas da minha família piauiense. Esse registro nasceu da primeira vez que pude pisar na terra da qual pertenço (PI), depois de 25 anos

de vida. Mergulhando nas profundidades das minhas raízes por parte de pai, encontrei uma nova forma na construção de narrativa interna. Forte, acolhedora e doce. Meu avô Zé Maria é um encantado, me fez perceber outros sentidos da vida. Encontrei nele, aos 84 anos, a possibilidade de exercer em mim, agora, uma valentia cheia de sabedoria e lucidez. É imensa a coragem e a dedicação desse homem. É força acolhedora e repleta de amor. ”

K.iqui Calisto / @k.iqui


Rio Parnaíba - Barão de Grajaú / Divisa do Maranhão com Piauí / 2020


POR ELA PRÓPRIA Ela disse que faria,

de aprendizado... Pra ela E assim foi desde

ainda que não lhe

própria!

então: honestidade

desse alegria, mas tinha

E decidiu, a partir

consigo mesmo antes,

prometido que haveria

daquele episódio,

resultados depois.

silêncio.

que faria aquilo por

Achou que faria isso por

acreditar no que, de

ele, mas entendeu que

fato, poderia acalmar

era uma grande chance

seu coração.

Por Manoel Mesquita Jr.


Leminski manda em mim Todo dia Leminski me diz: Foda-se! E eu me fodo Todo.

Por Manoel Mesquita Jr.


Entre o VISÍVEL e o INVISÍVEL Bruna Thereza


Festa de S Benedito em Aparecida



A história da fotografia cruza o período

colonial

e

escravocrata,

cristalizando identidades, também negando-as e hierarquizando-as.

A intenção da fotografia em campo é uma escolha e o salto

possível para representações contracoloniais.

A fotografia se construiu através da noção de um outro que é exótico, diferente. Legitimou um sistema de

hierarquias

que

estabelecem

posições de poder e subalternidades.

“Estar em campo como pesquisadora

O invisível é a ampla dimensão

e com a câmera na mão me

simbólica, atlântica, diaspórica, social

distanciou da busca pelo que é

e histórica apagada violentamente

“bonito”. Entre o visível e o invisível, e fundamental na formação de a intenção da fotografia é também identidades de grupos e sujeitos. A uma construção social. O visível intenção da fotografia em campo é das apresentações em procissões e

uma escolha e o salto possível para

festas religiosas vai ser o “bonito”, ou representações contracoloniais. É o a resistência.

que busco como narrativa, hoje, ao fotografar.”



“ Não sou fotógrafo, mas ouso fotografar na tentativa de fixar no tempo os vãos que minha memória acostumada não consegue abrigar. ‘Prelúdio de Carnaúba’ se forma em documentário-experimento composto também por fotografias, no intuito de ser um presente na possibilidade de um registro-mergulho nas tradições pretas, caboclas, sertanejas da minha família piauiense. Esse registro nasceu da primeira vez que pude pisar na terra da qual pertenço (PI), depois de 25 anos

de vida. Mergulhando nas profundidades das minhas raízes por parte de pai, encontrei uma nova forma na construção de narrativa interna. Forte, acolhedora e doce. Meu avô Zé Maria é um encantado, me fez perceber outros sentidos da vida. Encontrei nele, aos 84 anos, a possibilidade de exercer em mim, agora, uma valentia cheia de sabedoria e lucidez. É imensa a coragem e a dedicação desse homem. É força acolhedora e repleta de amor.

” K.iqui Calisto / @k.iqui

Rio Parnaíba - Barão de Grajaú / Divisa do Maranhão com Piauí / 2020

Congada Divino 2019



Festade S Benedito em Aparecida


Festade S Benedito em Aparecida


Bruna

Thereza

Felicetti,

nascida em Mogi das Cruzes/ SP.

Cientista

Social

pela

Universidade de São Paulo. Educadora e pesquisadora em formação com foco em Antropologia. Atua de forma independente

com

artes

visuais.

@btfelicetti



Sej am os pre gui ços os em tud o, exc eto em am ar e em beb er, exc eto em ser mo s pre gui ço sos.

O Direito à Preguiça, Paul Lafargue.


Depois do fim. Recomeços. Por Jô Freitas Hoje eu vi crianças correndo na calçada, com chinelo nas mãos E não foi pela janela Pude ver o rosto inteiro das pessoas e a paixão nas mãos dadas dos casais E não foi pela televisão Foi dia das lagrimas lavarem o chão com a saudade dos pais, A única morte naquele dia foi a ”Saudade” Eu fui a primeira a matar Hoje corre livre Sorrisos Dialeto comum. Como diz Emicida “Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós” Eram olhos vivos. Antes quadrados pela tela do celular Hoje livres Era apenas um olhar. Pessoas ao invés de carros. Engarrafamento virou abraçamentos. Hoje Encontramos heróis, aqueles de carne, osso e suor É professor, enfermeiros, faxineiras e muito Doutor Deixaram suas máscaras no dia de ontem Não é mais sobre lavar as mãos É sobre lavar a alma


Saudade devora É lamina do tempo Já é outro momento Onde a tristeza não mora É hora de florir Saudade foi simbóra Amanhã é outro dia É tempo é, labuta, agora Nóis é pobre, mas tem alegria no viver Pudê cumê, vivê, sem carecê morrê. Mas, sobretudo Perceber que depois do fim Sempre há um recomeço. “Sei que nada será como antes amanhã ou depois de amanhã Resistindo na boca da noite um gosto de sol.” (Milton Nascimento)

@JOFREITASPOESIA



FEIRA TERRA-FLORESTA VIVA Ana Paula Lustosa


Feira Terra-Floresta Viva, nossa principal missão é de alimentar a cidade de si mesma, no Vivenciar, ouvir, dançar e comer nossa cultura. A feira é voltada para cultura local, cultura de gente da cidade, dos ribeirinhos e dos indígenas. Conheci a verdadeira Manaus através de contatos com as pessoas que participavam da feira, comecei a entrar verdadeiramente na cidade através do olhar do outro que me mostraram suas origens, seu trabalho e sua vida dentro do cenário amazônico. Em meio a tanto descobrir nesses encontros, reservava um tempo e momento para fotografar todo o movimento que me cercava no dia Feira. Com o acontecer das doze edições e a rotina de conhecer várias pessoas, comecei a receber convites para fotografar, em outros locais da cidade e do interior do estado do Amazonas.





“Trabalhar com a fotografia dentro da gastronomia dos caboclos, ribeirinhos e indígenas, é perceber que o alimento e a alimentação são associadas a diferentes dimensões da vida social, a aspectos técnicos, temporais, cosmológicos, cerimoniais e espirituais. Tenho o privilégio de acompanhar e registrar isso de perto.” @anapaula_apls


“Estar em campo como pesquisadora e com a câmera na mão me distanciou da busca pelo que é bonito . Entre o visível e o invisível, a intenção da fotografia é também uma construção social. O visível das apresentações em procissões e festas religiosas vai ser o “bonito”, ou a resistência.

A história da fotografia cruza o período colonial e escravocrata, cristalizando identidades, também negando-as e hierarquizando-as. A fotografia se construiu através da noção de um outro que é exótico, diferente. Legitimou um sistema de hierarquias que estabelecem posições de poder e subalternidades. O invisível é a ampla dimensão simbólica, atlântica, diaspórica, social e histórica apagada violentamente e fundamental na formação de identidades de grupos e sujeitos. A intenção da fotografia em campo é uma escolha e o salto possível para representações contracoloniais. É o que busco como narrativa, hoje, ao fotografar.


EU QUERIA SER ARTISTA.

Como eu queria poder ser artista! Poder ter essa sensibilidade do artista e deixar

fluir

minhas

sensações e admirações e tesões e angústias. Como eu queria poder dizer que não existe amor na minha cidade também. Ou que ela é toda amor, toda paixão, toda oportunidades. Eu queria ser artista e poder fazer arte tranqüilo, assim como os contadores, tranqüilos, preenchem suas planilhas; assim como os lavadores de carros, tranqüilos, lavam os carros; assim como os padeiros, tranqüilos, assam os pães. E aí eu diria também algo de melancolia, algo lindo e que faz o ouvinte chorar. E eu cantaria com uma voz linda, e dançaria com um corpo lindo de artista tranqüilo. Mas não existe nada pra mim. Não existe a arte, nem o amor, nem a cidade. A cidade não existe. E o artista não existe. Então eu não posso sê-lo.

Mas eu queria.


Por Manoel Mesquita Júnior, teatreiro, poeta e aprendiz de vivente.



Paulestinos são peregrinos que levam poesia visual em seus caminhos pelas cidades - principalmente São Paulo. São pioneiros do “lambelambe digital”, processo que une a colagem de cartazes com recursos de realidade ampliada. Colaborativo artístico agregador cultural, formado por Átila Fragozo e Renoir Santos.



Carnaval Deus largado pelas ruas de Recife não sabe se dança frevo ou vai atrás do maracatu será que Deus também tem dúvidas? nas ruas igrejas e povo Deus deixa beijar usar a roupa que quiser são quatro dias que Deus não tá nem aí aí, na quarta-feira de cinza Deus de ressaca perdoa quase todo mundo


Janela de ônibus é danado pra botar a gente pra pensar Ainda mais quando a viagem é longa Uma casinha branca lá no alto da montanha E eu perguntando: ‘quem mora lá?’ Um homem na BR olhando pro nada Uma mulher com um saco de capim na cabeça E o sol estralando nas suas costas E os políticos dando as costas Janela de ônibus é danado pra botar a gente pra pensar Igrejinhas minúsculas na beira da BR É, janela de ônibus é danado pra botar a gente pra pensar Ainda mais quando a viagem é longa.

Miró da Muribeira é poeta e nasceu em 1960

Não sou fotógrafo, mas ouso fotografar de vida. Mergulhando nas novãos Recife.profundidades Publicou diversos livros na tentativa de fixar no tempo os das minhas raízesde porforma independente com a uma colaboração que minha memória acostumada parte deou pai, encontrei nova forma de não consegue abrigar. ‘Prelúdioamigos, de na construção de narrativa entre eles aDeus (2015).interna. É uma das Carnaúba’ se forma em documentárioForte, acolhedora e doce. Meu avô Zé vozes mais inventivas da poesia independente experimento composto também Maria é um encantado, me fez perceber do Brasil. outros sentidos da vida. Encontrei nele, por fotografias, no intuito de ser um presente na possibilidade de um aos 84 anos, a possibilidade de exercer registro-mergulho nas tradições pretas, em mim, agora, uma valentia cheia caboclas, sertanejas da minha família de sabedoria e lucidez. É imensa a piauiense. Esse registro nasceu da coragem e a dedicação desse homem. primeira vez que pude pisar na terra da É força acolhedora e repleta de amor. ” qual pertenço (PI), depois de 25 anos

K.iqui Calisto / @k.iqui


Carolina, um oriki urbano. Por Tiago Mine A idéia desse texto é compartilhar algumas reflexões a respeito do trabalho literário de Carolina Maria de Jesus na obra o “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, publicado em 1960 . Quem já ouviu falar dessa autora com certeza se lembra dos adjetivos utilizados para apresentá-la: semi-analfabeta, mulher, negra, favelada, catadora de papel. Recebido na época como um relato-manifesto, um diário pessoal que denunciava as mazelas sociais, o racismo e a pobreza – traços do fracasso do projeto de nação brasileira e do conflito entre modernização e política social – pouco se diz da figura artística de Carolina e a potência estética de seu trabalho. Lida e relida, ainda nos dias de hoje, sob o estigma de um relato espontâneo sobre a dura vida nas favelas do Canindé e sob a marca do gênero e de sua condição social, raras vezes Carolina é apresentada como uma escritora, consciente de sua condição de artista pobre, ou mesmo poeta, como gostava de se definir.

1. Jesus, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10ª ed. São Paulo:Ática, 2014.


Carolina não cultivava apenas um gosto

Se os leitores de Carolina na década de 60

pessoal pelas letras. Longe da prática

buscavam nas suas palavras a lança da

espontânea de escritura, ao longo de

denúncia de uma América colonizada,

seus cadernos e anotações percebemos

que se lançava para um futuro a ser

uma escritora preocupada com a forma e

alcançado,

com a possibilidade de se ver publicada.

tamanho desta mesma América por

Afinal, ela mesma dizia: “é que estou

um viés ancestral. Como num famoso

escrevendo esse livro, para vendê-lo. Viso

oriki que diz assim: “Exu mata um

com esse dinheiro comprar um terreno

pássaro ontem com a pedra que ele

para eu sair da favela” . Não se trata de

atira hoje”, Carolina lida com o tempo

uma catadora que pelo golpe do destino

espiralar, retomando o ritmo percussivo

se fez escritora, mas de uma escritora

e sincopado das tradições perdidas.

que catava papel para sobreviver. Mais

Carolina impõe seu próprio ritmo diante

do que um simples diário em que

da cidade. É um ritmo das margens (do

Carolina relata os acontecimentos da

Tietê): escrever, andar, andar, catar papel,

cidade e da convivência dentro da favela,

carregar papel, vender papel, buscar

Carolina Maria de Jesus experimenta

água. Assim, sobrevivendo e fazendo

artisticamente o ritmo cortante de

viver os seus, Carolina estabelece em

uma rotina pelas ruas, imprimindo

seu ritmo diante da vida, o compasso

nas imagens o sincopado frasal de sua

de artista: “passei a noite assim: eu

própria

despertava

caminhada.

Pontuada,

com

Carolina

e

reconfigura

escrevia.

Depois

o

eu

períodos curtos, Carolina caminha na

adormecia novamente. Às 5h da manhã

rua, para, pensa, rememora, observa,

a Vera começou vomitar. Eu dei-lhe um

planeja, pragueja, sonha e retoma o

calmante, ela dormiu. Quando a chuva

fluxo. Carolina constrói uma ritmografia

passou, eu aproveitei para sair. Catei

poética a partir de sua própria vivência

um saco de papel” . “O texto é marcado

em confronto com a rua, a cidade, a

o tempo todo por algumas repetições

história e a própria instituição literária.

de frases que justapostos – o tempo narrativo

2. . Idem; (p. 27).

referenciando

um

tempo

empírico – constroem uma referência ao leitor: “saí para pegar água”, fui catar papel”, “comecei escrever”.

3. Idem; (p. 65).


Com esse recurso, Carolina marca o

Convidamos, à leitura dessa obra sob

tempo e oferta a repetição como ciclo.

aspectos que às vezes escapam a gente.

Quase uma prisão histórica. É o de novo

Além de uma narrativa crua, há uma

que se impõe como novidade. O golpe

mão empunhando com gesto poético

repetitivo de uma frase é o movimento

cada palavra, cada construção sonora,

rítmico de uma imagem, que sinaliza

cada imagem. Afinal, “ritmo e imagem

o gesto que descreve a mão. A mão

são inseparáveis. (…) só a imagem poderá

que empunha a caneta, que carrega

nos dizer como o verso, que é frase

o saco de papel, que enche a lata com

rítmica, é também frase que possui

água, que deita os filhos, que faz café,

sentido.” . Diante de nós mais que um

que acaricia a mão no sentido que fala

diário. É o gesto de quem, antes de nós,

um filósofo mexicano: “não só formam,

empunhou a caneta com a convicção

vencendo a resistência das coisas, como

de poder, além de carregar o peso da

também tocam, exploram (…) não só

história e cumprir com um destino vital,

acariciam

mas

contribuir na construção do mundo com

brigam (…) expressam de um modo

outros sentidos, objetos e significações

sensível e concreto as relações humanas

humanas – trocas, escambos e longas

(…) essa capacidade da mão (…) tem

caminhadas líricas.

ou

cumprimentam,

como base sua estreita vinculação com a consciência” . E há nas mãos, nas mãos

Sobre o autor: Tiago Mine (São Paulo,

de Carolina, nas negras mãos de Carolina,

1984) é poeta, pai, ator e professor.

a marca que a estigmatiza e naturaliza

Desenvolve a estética de sua poesia nas

dentro das relações de produção e

ruas, no meio-fio, entre a gesta do herói

reprodução da vida, das relações sociais

japonês e a profissão de flanêur do baixo-

de

que

equador. Autor de Flor de Arremesso

remontam o desenvolvimento do fiasco

(2020, Editora Urutau), Nas coxas – do

capitalista e constroem no Brasil uma

mundo flutuante (2017), Láudano (2014),

relação histórica de presente e passado

Suíte zero (2010) e outros livretos. Criador

com o futuro em disputa.

da performance PeiXeVértebra, integra

desigualdade

de

violência

o coletivo de artes Dolores Boca Aberta 4. I4 Vázquez, Adolfo Sánchez. Filosofia da Práxis. São Paulo: Expressão Popular, 2011, (p. 287).

Mecatrônica, mestrando em literatura na Universidade Federal de São Paulo.

5.. Paz, Octávio. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, (p. 118).


Carmen, lideranรงa da comunidade com a macaxeira que colheu da horta., 2020.


COMUNIDADE FEMINISTA MENINO CHORÃO Beatriz Ataídio


As Mulheres da Comunidade Feminista Menino ChorĂŁo, 2020..


A Comunidade Feminista Menino Chorão está localizada na beira da Rodovia Santos Dummont, na região do Campo Belo, em Campinas (SP). Foi fundada há cerca de 10 anos, com a chegada de mulheres oriundas da região norte e nordeste do país que ocuparam o território... A comunidade é conhecida por ser um espaço de acolhimento às mulheres em situação de violência e pelo movimento de luta ao direito à moradia.


“ “As

mulheres

aproveitaram

parte

do

terreno para criar uma horta com grande diversidade de alimentos e ervas. Agora, estão implantando uma roça em sistema agroflorestal no local. A possibilidade de ver as árvores crescendo até formarem uma grande floresta com frutas e alimentos têm sido a expectativas das mulheres da comunidade e dos coletivos parceiros. Essa será a primeira ocupação urbana com uma agrofloresta urbana”, conta Beatriz Ataídio, que registrou o cotidiano da comunidade (2020) / @ _biatrize


As Mulheres da Comunidade Feminista Menino ChorĂŁo, 2020.


BEATRIZ ATAĂ?DIO - LEGENDA - Colheita de macaxeira e batata doce. Agosto de 2020.



PESTO DE BETERRABA POR LAURA FIGUEIREDO / VEGAN CHEF

I NG REDI ENT ES 1 beterraba grande ou 2 médias 1 punhado grande de manjericão fresco (medida boa da palma da mão) 80gr. Castanha do Brasil descascada 350ml de azeite de oliva (para sabor menos intenso, usar 250ml de azeite de oliva e 100ml de óleo de soja, girassol ou milho) 1/2 dente de alho pequeno Pimenta de cheiro a gosto Sal a gosto

M ODO D E PR E PA R A R Bata todos os ingredientes no liquidificador com 1 pedra de gelo.


IDEAL COM massas, tubérculos ou cuscuz. Pode ser usado como pasta para pães, para tanto, utilize menor quantidade de azeite até que chegue no ponto pastoso (cerca de 150ml)

CON S ERVA R em geladeira, coloque o pesto em um vidro e cubra o com azeite, formando uma película de azeite sobre o pesto. Dura até 15 dias sob refrigeração, bem tampado e coberto com azeite

@MARIA.MORANGA


VIADO-19 Por Marcos Lemes

Passo correndo pelo portão com a chave da porta na mão. Entro em casa, tranco a porta. Verifico se tranquei mesmo. Mais

uma vez. E respiro. Finalmente respiro. Portas e

janelas trancadas, cortinas fechadas e ainda a incerteza de estar seguro.

A Da chacota. Da injúria. Do mijo. Da

bala. Viadoafeminido é alvo duplo. Da escola. Da rua. Do respiração se torna ofegante novamente. Viado é alvo. trabalho. Da família. Do pai.Ninguém quer ser pai de bicha afeminada. E tem sido assim todos os dias: correr pelas ruas e tentar chegar em casa sem ser atingido por pedras, lâmpadas, facas, cuspes; porque para o abandono, para o desprezo, para os xingamentos, para as piadas, no meu corpo e na minha alma, não tem mais espaço.



Homem sensível De duras palavras Não trava o quadril Onde quer que ele passa. Muitas são as perguntas: - Tu é homem ou é mulher? Desculpe amigo, sou o que quiser O que me der na telha Posso ser forte leão Ou doce abelha Pequena centelha Ou enorme fogaréu Do meu corpo faço templo

HOMEM SEXUALMENTE LIVRE! Por Daniel Marques

Feito de homem e mulher De masculinidade bruta E feminilidade astuta Ele é o que é!

Ou escandaloso bordel. Não entendo Porque tanta gente se espanta Com homem que dança De cabelo black e faz trança


Malemolência é pra quem tem Não é pros recalcado. Tem até quem o chame De efeminado ou homossexual Mas na real Quem é você pra julgar O Natural De cada ser humano? Deixa o mano Ser feliz. Metade ator, metade atriz Critica a felicidade alheia Mas na verdade é infeliz. Se fecha ou se liberta Tu só tem duas opção Engolir teu preconceito Ou lutar por emancipação. Será em vão Qualquer represália Contra repressão, muitas gargalhadas Pra afrontar os canalhas Que pensam que homem não dança Não se expressa Diga o que quiser Ei, vê se te amansa Não condena meu gingado

Eu vou ser feliz à beça.




ReparAção!

C

Por Verónica Gálvez Collado

omo diversas mulheres, hoje consigo manifestar que sobrevivi a situações opressoras e abusivas, a educação eurocêntrica branqueou minha ascendência mapuche, mas não apagou os vestígios do saber, e a minha orientação sexual proporcionou o movimento migratório que hoje experimento. Nascida no final da década de 1980, em terras frias e que balançam no sul da América Latina, meus primeiros passos acenderam o fogo do movimento, possibilitando assim, que hoje estivesse aqui dialogando com a cultura da mega metrópole Paulistana, cidade que reflete resultados de uma miscigenação entre povos das mais diversas origens. Fiquei surpresa com a diversidade de pessoas e as possibilidades que está cidade acolhe, também a desigualdade que existe entre as mesmas e entre nós. A conquista e as constantes re-conquistas de nossas corpas, de nossos imaginários, impuseram com força manifestações estéticas produzidas pela ideologia dominante para que fossem engolidas e devoradas por cada um e uma de nós, numa engrenagem que ativa a máquina do controle social e manipulação das massas. Máquina utilizada como tática de assimetria entre a cultura colonial, eurocentrista, em relação a toda diversidade já existente. Desse jeito, essa máquina ainda não falha, inclusive se aperfeiçoa com o passar do tempo camuflando-se entre as

classes, gêneros, raças e etnias, através de papéis sociais que ocultam o racismo normalizado e praticado pelas pessoas brancas e também as não-brancas - para usufruir das relações de poder. A minha corpa estuprável fica em tensão quando existe a camada do privilégio branco, consumo a cada dia através dessa máscara a abertura de portas, como também a oportunidade de abrir fissuras cristalizadas de nossos imaginários para poder criar possibilidades de transformação para a sociedade que vivemos. Ser aliadas/os ou cúmplices faz a diferença, cada um de nós é responsável e tem a escolha de criar outras direções para esta história. Ainda temos tempo para a reparação. Verónica Gálvez Collado: Lésbica, Imigrante e atualmente moradora em São Paulo. Formada em Artes Cênicas (Universidad ARCIS de Santiago de Chile), pós graduanda em Teatro do Oprimido e Processos Grupais na Psicologia Social (Faculdade Mozarteum de São Paulo FAMOSP). Atualmente é parte do grupo de teatro do oprimido Coletivo Garoa, e participante da articulação e base da Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais em São Paulo. @verito_igual_igual @astrapeiras @coletivogaroa @redemilbi


Dona Vera,

Se7enta e 8ito


VERA FRANÇA, Mulher que se negou a ser Maria das Dores – pernambucana em São Paulo, no alto de seus 78

anos,

desnudando

o corpo que é, senhora de si e considerada a matriarca das modelos nuas no Brasil, seguirá se despindo diante de nós, como ela mesma diz, até a morte(!),

Tendo sobre vivido à Covid-19 neste ano pandêmico.


Um pouco mais: “Desde criança, cultivo duas paixões: o desenho e o corpo - a primeira sempre mais tímida e escondida que a segunda. No ímpeto poético e político de experienciar a nudez, dona Vera França, modelo vivo há 59 anos, sempre foi uma referência para mim, como artista do corpo. Encontrar com ela numa of icina de modelo vivo, poder ouvi-la, e unir ambas as paixões ao desenhá-la, foi um dos grandes escambos que tive a oportunidade de viver. Partilho alguns dos rabiscos deste encontro entalhado pelo thempo em nossos corpos preenchidos do instante.” Narany Mireya @Corpusvulcânico


12 de abril de quarentena, 2020 / Grajaú – São Paulo

Carta aos endereços do passado Por Mateus Farias Estou aqui sentado, diante da mesinha

da miséria que tinham... Em suas cabeças,

de meu quarto, vestindo bermuda tactel,

um discurso político; em mim, um incômodo

regata sobreposta por um casaco de frio e

tomou conta de tal forma que me senti

pés descalços. É meu 25º dia de quarentena,

incapaz de freqüentar a sala – mesmo sem

domingo de páscoa... E dei de escrever esta

saber ao certo o porquê. Durante meses decidi

carta. Na tentativa de nomeá-la, encontro

carregar a dúvida comigo.

com uma inquietação: saber o para quem do

“Com seus pássaros... ou a lembrança de

que escrevo. A agitação íntima é tamanha

seus pássaros... com seus filhos.... ou a

que chega a bater quentura. Parece que o

lembrança de seus filhos... com seu povo... ou

desamparo criativo - o tal bloqueio artístico

a lembrança de seu povo... Todos emigram”.

que dizem existir - faz com que as células se

Vozes de Pernambuco, Maranhão, Paraíba,

movam mais rápido. Decido parar de pensar

Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Rio Grande

no destino da carta... Quem sabe as vias do

do Norte, Sergipe, Piauí, Haiti, Venezuela... Na

pensamento desbloqueiam? Mas em que

exposição tive a oportunidade de acolher e

pensar, então?

mediar a visita de grupos de EJA (Educação

É outono, época de friagem repentina. As

de Jovens e Adultos). Tantos nomes, tantas

mulheres de minha família reclamariam de

experiências. Ali, a recordação de que as

meus pés descalços no chão gelado– mesmo

gentes nasceram antes das letras: o tempo

que por trás da reclamação se esconda o

de vida não abafa a vontade de saber (mais)

cuidado. Ainda mais em São Paulo: terra de

sobre as palavras.

frio-abafadoecalor-friorento, onde se vive

A memória me belisca. Em pensamento, revejo

as estações todas num único dia. Por falar

Laís... Mulher, sertaneja, relutante em dizer o

em cuidado, me flagro de encontro com o

nome da cidade de origem no acolhimento,

assunto: a experiência de acolhimento entre

em uma das visitas.

pessoas nordestinas, como artista-educador

- Eu sou Laís, tenho 28 anos e sou da Heliópolis

d’O Pasquim 50anos, exposição do SESC

- De onde tu vem, Laís? – disse eu, percebendo

Ipiranga. Localizei um possível fio da meada

nela algum sotaque diferente do paulistano.

para o texto: É incrível o poder de aterramento

- Sou da Heliópolis, aqui pertinho... , mas vim

que as palavras têm.

da Bahia – respondeu, mirando baixo.

Lembro, como se fosse hoje, de quando me

- Posso te fazer uma pergunta, Laís? –

deparei com um dos desenhos de Jaguar

perguntei cuidadosamente.

na exposição: uma família sentada à mesa,

- Pode.

compartilhando 01 (um) pão entre seis

- Tu vem de qual lugar da Bahia?

pessoas. “O pão nosso de um dia sim, um

- Do interior, bem pequenininho – falou ainda

dia não, nos dai hoje...”, rezavam. A patota do

resistente em verbalizar.

Pasquim pretendia abordar a desigualdade

- Mas de qual interior? – insisti eu.

social, retratando o imaginário

- De Monte Santo – relatou tímida. - Sei, ali na região de Canudos? – questionei.


- Sim, é uma região histórica, bonita, muito importante... O céu de lá é lindo demais. –

velho

conto

do

nordeste

paradisíaco...

Recordo do choque de um amigo ao saber

disse ela, agora de olhos encontrados com os

que Teresina não é cidade litorânea. Chegou a

meus e a vista carregada de surpresa.

desistir da viagem programada – a aventura, a

Com Pedrina foi diferente... A experiência de

partir daquele instante, foi repensada e passou

oralizar sua terra teve gosto de revelação:

a valer menos esforço e gasto. Lembro também

“Alegrete do Piauí”. Em seguida, Carlos - de

daquele boy politizado que me convidou para

Campina Grande –, relatou que sua companheira

sair: “Gosto muito de pessoas com sotaque”.

pertence à mesma cidade da colega de sala.

O sudeste é auto-referente... Sotaque é algo

Não demorou muito até descobrirmos que,

reservado aos “de fora”. Relatou ser filho de

além de conterrânea, Pedrina é também prima

pernambucana, com certo tom de orgulho. Ao

de primeiro grau da esposa de Carlos.

questioná-lo a cidade, respondeu que jamais

-Tenho até o contato dela no zap-zap, tu duvida?

fez tal pergunta à sua mãe.

– disse Pedrina.

Ser sincero afeta, ao ponto da palavra doer

Reparo no ar de (re)inauguração de pensamento

quando dita ou escrita.O que esperam de

nas pessoas, quando perguntadas sobre seus

nós? Por que se espera de nós? Algumas

endereços do passado. O corpo entrega a

vezes chorei enquanto escrevia esta carta.

sensação de estreia. Quando foi a última vez

Falando em palavras: por tempos acreditei

que perguntaram isto à Laís e Pedrina? Por

profundamente

que o nome da cidade vazava da boca como

comunicação, torná-la mais acessível... Polindo

se não fosse dito há tempos?Quais histórias

meu sotaque, rearticulando a movimentação

são contadas no lugar das que não sabemos e

de minha mandíbula, domesticando os gestos

nem perguntamos? Que relatos são estes que

de minha língua. Só mais tarde consegui

a história oficial não conta?

diagnosticar o medo de ser pautado pela

Entre o fetiche e a hostilização. De lado a

diferença. No cinema, na tv, nas prateleiras de

lado. Ou não sabemos votar; ou somos os

livro e nos palcos de teatro... Artistas “de longe”

salvadores da eleição – como se o peso da

são poucos nos roteiros e elencos que retratam

edificação das grandes cidades já não pesasse

personagens e eventos do sudeste... Somos

em muitas dessas mãos. Anestesia social,

marcados demais, temáticos demais. Essa via

sintoma da impessoalidade normalizada. É

não é dupla: as narrativas que retratam nossos

preciso tencionar... Estar atento aos episódios

territórios ou ilustram realidades distantes

que o cotidiano apresenta – é ali que a vida se

ainda são amplamente protagonizadas pelo

desenrola. “Eaí, Ceará!”, “Fala aí, Bahia”, “Suave,

sudeste.

Paraíba?”. Repare: sujeitos freqüentam botecos

Volto a pensar na charge de Jaguar... Em

e padarias há meses e anos, sem jamais

retrospectiva, revejo os corpos magrelos, de

perguntar ou demonstrar interesse pelo nome

olhos arredondados, lamentosos, costelas à

de quem atende, mesmo que estes emigrantes

mostra. Qual a atualidade e a conveniência de

decorem, afetivamente, a cor do café e o salgado

nos atribuir um corpo faminto e miserável? Um

preferido de seus clientes. É quando um bloco

olhar carioca lançado sobre o que está distante

de sem-nomes é classificado por lugar.

de seu alcance. “Lugar de terra rachada”,

E o referencial exótico? Aquela pequena

sem reparar que as rachaduras dos prédios

possibilidade de ser reconhecido, naquele

escancaram a miséria nas esquinas urbanas;

que

precisava

facilitar

a


não precisa ir longe para vê-la. Um objetivo

quem” se tornou mais valioso do que o “para

possível: (im)plantara idéia da oportunidade

quem” do que escrevo. No fundo, as raízes

para (re)colher mão de obra – e ainda nos fazer

estão ali - e se forte me agarro a elas é porque

sentir devedores e culpados. Nossas cabeças

tanto preciso; esse entrelace me ampara. “Eu

foram medidas; a catalogação dos estigmas

num acredito em esperança porque já cansei

permanece atado aos corpos.

de esperar”, disse o maceioense Joaquim,

Reencontro a imagem do Pasquim - dessa vez,

em algum momento da visita. Não viemos de

acompanhado pelos grupos de EJA. “Pensou

lugar-nenhum. Não saímos de qualquer-lugar.

que eu ando só?”. A experiência conterrânea,

Nossa ascendência é anterior à estrada que

naquele ambiente, não representou apenas a

forma o caminho de vinda. Estamos cansados

possibilidade de acessar nossas identidades

de esperar pelas perguntas; a nossa sede é

de forma segura e com alguma profundidade;

também de palavras... Que possamos, então,

a breve intimidade ali gerada nos permitiu,

contá-las cada vez mais.

também, dignificar os retratos feitos sobre e por

Espirro!

nós... Conscientes das riquezas que nos foram

Acho que já é hora de calçar a chinela...

tiradas e mais cientes ainda das que estão longe de ser assimiladas e compreendidas. É dessas fortunas que precisávamos lembrar. Meu Deus, como é difícil despachar carta. Na tentativa de abrir mão desta, querendo deixá-la ir, um sorriso nasce no rosto e noto que o “com

Com cuidado e emoção, Mateus Farias @obrincador



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EXPEDIENTE EXPEDIENTE EXPEDIENTE Editories: Math’eus Borges e K-iqui Calisto // Arte e diagramação: Walace Lima // Ilustrações: Lucas Bandeira // Foto de Capa: Beatriz Ataídio // Colaboradories: Ana Paula Lustosa, Beatriz

Ataídio, Bruna Thereza, Daniel Marques, Jô Freitas, Kaique Calisto, Laura Figueiredo, Lucas Bandeira, Manoel Mesquita Jr., Marcos Lemes, Mateus Farias, Math’eus Borges, Miró da Muribeira, Narany Mireya, Tiago Mine, Paulestinos, Verónica Gálvez Collado, Vandei Oliveira // Gestão e idealização: O D’escambô // Contato: festivaldescambo@gmail.com // Acesse: www.descambofestival.com.br // Dezembro 2020 ]

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