Coletanea enapegs capa deitada

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Série Coleção ENAPEGS - Volume 6 - 245

o nosso “registro em cartório”, quando aqui chegaram os colonizadores portugueses, e em alguns momentos, em certas regiões e em curtos espaços de tempo, espanhóis, franceses e holandeses. Assim, o objetivo do presente texto é, com o intuito de relembrar, descrever ingredientes da história brasileira que ao longo de sua diacronia projetaram possibilidades de comando da produção que se aproximavam de práticas coletivas de decisão. Embora reconheçamos de imediato que alguns desses exercícios gerenciais, os quilombos, tiveram sua gênese no também Continente Aborígene, frente ao nosso, “batizado” de África, outras práticas gerenciais, como a jesuítica, apesar de estrangeira, interagiram com práticas autóctones, como ocorreu com o povo Guarani. Como já observado, práticas gerenciais comunitárias foram exercidas no Brasil entre o século XVI e o entrante XVIII. Os casos mais emblemáticos, por ordem cronológica, foram os seguintes: República Guarani, experiência ocorrida nas fronteiras da Argentina, do Brasil e do Paraguai que consistiu numa utopia que encheu os olhos dos intelectuais europeus, mesmo daqueles que eram críticos aos jesuítas, como Voltaire;33 Quilombo dos Palmares, movimento que ocorreu no Estado de Alagoas, tendo como líderes Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares e funcionando como exemplo de resistência ao escravismo colonial, bem como de um modo de vida comunitário mais tolerante com as diferentes etnias e os estratos sociais; Canudos, um feito descrito na obra clássica da literatura brasileira, Os sertões, de Euclides da Cunha – uma comunidade de sertanejos que desafiou o poder republicano do Exército positivista e dos coronéis Essa “experiência é antecipatória de duas maneiras. Antecipação de uma fé que se toma a sério, no dizer do papa Pio XII, ‘não deseja manter-se inerte no meio das ruínas’, para animar historicamente a realização de um mundo onde o homem seja irmão do homem. Antecipação de uma estrutura político-econômica que historiadores socialistas, como Karl Kautsky, apesar de sua ignorância ou de sua severidade, não hesitariam em colocar na pré-história do comunismo” (LUGON, 2010, p. 16). 33


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