Polo Automotivo

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Da cana ao carro

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Ao longo dos séculos, o desenvolvimento de Pernambuco foi fortemente incentivado pelo setor sucroalcooleiro, atividade que agora, por diversos motivos, perde força. Quis a dinâmica natural do capitalismo que, encravada na zona canavieira do Estado, na cidade de Goiana (a 60 quilômetros do Recife), surgisse uma nova, próspera e cobiçada indústria. A indústria automotiva. Inaugurada hoje, a fábrica da Jeep já estimula a atração de novos negócios que vão gerar emprego e renda, ao mesmo tempo que demandará ações efetivas do Poder Público, para evitar a desordem urbana. Cada Renegade saído da linha de montagem é o símbolo de um sonho concretizado por Pernambuco. É sobre esses e outros aspectos que trata este caderno especial.


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OPERAÇÃO A pleno vapor, Polo Jeep produzirá 250 mil veículos ao ano e irá gerar 9 mil empregos

Uma nova era para Pernambuco CONQUISTA Estado realiza antigo sonho e pavimenta um novo ciclo para sua economia

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as terras onde secularmente brotava cana-de-açúcar agora saem veículos no estado da arte da tecnologia automotiva. Numa região de baixa tradição industrial e sem histórico na fabricação de automóveis nasce a planta mais moderna do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo. O empreendimento de R$ 7 bilhões coloca Goiana (município da Zona da Mata Norte de Pernambuco) no mapa de um dos setores mais cobiçados Ednaldo do globo. InauGonçalves gurado hoje pelo presidente mundial da FCA, Sergio Marchionne, e pela presidente Dilma Rousseff, o Polo Automotivo Jeep – como foi batizado – vai azeitar a engrenagem econômica do Estado. O projeto chega carregado de simbolismo. É a primeira montadora inaugurada após a criação da FCA (fusão da italiana Fiat com a norte-americana Chrysler, no ano passado). Inaugura um cluster integrado por fábrica e um parque de 16 fornecedores. Reforça a entrada do grupo no mercado de SUVs compactos, com a fabricação do Renegade. Incorpora as 15 mil melhores práticas do setor trazidas no DNA das duas companhias. É a concretização de um sonho de Pernambuco, que se concretizou graças a incentivos fiscais oferecidos pelo governo federal, financiamento do Bando do Nordeste e BNDES e o empenho do ex-governador Eduardo Campos, que ofereceu um pacote de infraestrutura de R$ 700 milhões. “Esse foi o projeto mais complexo já fei-

to na história da companhia. Precisamos construir não só a planta, mas também um parque de sistemistas. Tivemos que lidar com governos, 200 fornecedores e 250 companhias integradas. A região não tinha tradição automotiva, o que demandou qualificação de pessoal e de empresas”, detalha o vice-presidente mundial de Manufatura da FCA, Stefan Ketter. Mesmo com todos os desafios, o executivo comemora a produção do primeiro carro pernambucano, em fevereiro, com apenas três dias de diferença em relação ao cronograma original. Com capacidade para produzir 250 mil veículos por ano e gerar 9 mil empregos quando estiver em plena operação, o Polo Jeep nasce num momento de crise do setor, que registrou queda de 7,1% nas vendas em 2014 e espera fechar o ano com redução de 13% nos emplacamentos. “A fábrica demonstra que as empresas continuam investindo, mesmo num cenário adverso, porque é preciso pensar a atividade a médio e longo prazo”, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. Segundo ele, a projeção de investimentos entre 2012 e 2018 é de R$ 75 bilhões. A montadora da FCA é a 65ª do País e incrementa o polo do Nordeste, com fábricas na Bahia (Ford) e no Ceará (Troller). “Uma das características do setor é espraiar o desenvolvimento. A região vai se beneficiar de um empreendimento moderno como este. A atividade congrega uma longa cadeia produtiva e muitas oportunidades”, reforça Moan, lembrando que o setor automotivo responde por 5% do PIB brasileiro e por 23% do PIB industrial. Em Pernambuco, a projeção é que o PIB avance 6,5% até 2020, turbinado pela fábrica de Goiana. O Polo Automotivo Jeep é um dos trunfos da FCA para viabilizar seu plano estratégico de negócios 2014-2018. A companhia se impôs a meta de quase dobrar as vendas, passando de 1 milhão de unidades para 1,9 milhão em 2018. A fábrica da FCA também é um valioso ativo de transformação social. O impacto mais direto é na geração de empregos. “Nem nos meus melhores sonhos imaginei que Goiana pudesse ter uma montadora de veículos. Nasci na cultura da cana vendo meu pai trabalhar e depois também entrei no corte. Hoje sou retoquista e revisionista da área de pintura da fábrica”, comemora Ednaldo Gonçalves.

Minha vida era pescar aratu para viver. Andava todo sujo carregando um balde. Agora visto a farda de Jeep e quando ando na cidade as pessoas me olham e me perguntam como faz para trabalhar aqui”. Pedro Santos, 21 anos, auxiliar de linha.

Parque já conta com 16 fornecedores Dezesseis empresas embarcaram com a FCA no projeto do Polo Jeep, em Goiana. Localizada numa região sem vínculo com o setor automotivo, a companhia precisou atrair um parque integrado de fornecedores para garantir ganhos logísticos e operacionais. O investimento no cluster foi de R$ 2,1 bilhões, metade bancado pela FCA na preparação da infraestrutura. Distribuídos em 12 prédios, os sistemistas são responsáveis por 17 linhas estratégicas de produtos utilizados pela montadora. “O supplier park vai fornecer 40% do conteúdo do Renegade. Outros 30% virão de fornecedores de outros Estados brasileiros e só 30% serão importados. No total, o carro terá um índice de nacionalização de 70%, bem acima da média de projetos em início de processo de produção”, compara o diretor de Gestão de Projetos Estratégicos da FCA, Antônio Damião. Ainda este ano, a companhia espera alcançar um índice de nacionalização de 80% (do valor do automóvel). A presença dos fornecedores dentro do complexo é um processo inovador, permitindo flexibilidade no abastecimento da fábrica, com a adoção dos sistemas “Just-in-time”e “Just-in-sequence”. Esses sistemas garantem a redução de custos e riscos logísticos. Estão no parque as multinacionais Adler Pelzer, Brose, Denso, Lear, Magneti Marelli (MM), Pirelli, PMC, Saint-Gobain e Tiberina, além da empresa brasileira Revestcoat. A Magneti Marelli tem a maior operação dentro da fábrica, com cinco unidades de fornecimento. Uma delas é a FMM (joint venture entre a MM e a Faurecia). A empresa produz painéis completos, consoles centrais, painéis das portas e pára-choques dianteiros e traseiros. O presidente da FMM, Serge Giannitrapani, diz que todo o complexo MM vai gerar 3.000 empregos até 2017. Hoje são 1.000 e a expectativa é dobrar esse número até o próximo ano. “Realizamos um plano de treinamento para garantir a qualificação da mão de obra, que é 80% local. Pelo menos 50 pessoas foram treinadas nas nossas unidades pelo País para funcionar como multiplicadores”, destaca. Outra empresa com destaque na geração de empregos é a Lear Corporation, fabricante de bancos automotivos. A unidade contratou 700 pessoas e espera dobrar esse número até janeiro de 2016.


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entrevista k Stefan Ketter

O vice-presidente mundial de manufatura da FCA, Stefan Ketter, chegou a Pernambuco em julho de 2013 com a missão de implantar um polo automotivo numa região sem tradição industrial. Hoje inaugura o empreendimento, enaltecendo a garra do povo pernambucano. JORNAL DO COMMERCIO – O que mudou na estratégia do grupo para que o projeto inicial de uma fábrica da Fiat se transformasse no Polo Jeep? STEFAN KETTER – Nós tínhamos a fábrica de Betim com uma capacidade de produção muito alta, fazendo três carros a cada minuto. Mas cogitamos aumentar a capacidade para acompanhar o mercado brasileiro e da América do Sul. A discussão era aumentar a capacidade com uma segunda planta. A definição de brand, de quais serão os carros, isso sempre é feito no último momento. Aconteceram muitas discussões e cogitações, mas foi decidido o brand quando tivemos certeza de quais eram os maiores potenciais de mercado, os melhores business case. E decidimos por Jeep. E em seguida o Renegade. JC – Um dos maiores desafios do empreendimento em Goiana foi erguer um polo que integrasse montadora e fornecedores. O se-

tor automotivo está em crise. Fechou com queda de 7,1% nas vendas em 2014 e há projeção de retração de 13% para este ano. Foi difícil atrair investimento dos sistemistas nesse cenário adverso? KETTER – Os fornecedores são parceiros nossos de mais longa data e foram escolhidos à mão. Eles tiveram a confiança, como nós também tivemos no projeto, de nos acompanhar nesse desafio. Não teve grande dificuldade. Eles também tiveram oportunidade de marcar presença no Brasil, a partir da implantação de uma fábrica tão moderna e com uma produção de carros num segmento de grande potencial de mercado. O parque é pensado a partir do que queremos ter do lado da fábrica e de uma estratégia logística. Quanto maiores e mais pesados os componentes, quanto mais a logística for custar, melhor é trazer isso para perto da fábrica. Como por exemplo pára-choques pintados, rodas, bancos. Manufaturar tudo isso ao lado é mais vantajoso. JC – O projeto do segundo parque de fornecedores está de pé? Qual a previsão de implantação, qual a localização e que empresas deverão encampar o projeto? KETTER – O segundo parque de fornecedores está em trabalho e muito rapidamente nós vamos fazer o lançamento. A localização ainda não posso adiantar, mas estará a cerca de 20 quilômetros da planta. Um exemplo são os fornecedores dos nossos fornecedores. Eles têm interesse que alguns componentes estejam locados perto deles. Outros são fornecedores estratégicos, como os de ferramentais, de manutenção de ferramentais ou, inclusive, de componentes de instalação de processos que querem marcar presen-

ça aqui. JC – Que tipo de revisão a FCA precisou fazer na sua estratégia logística para minimizar os problemas ocasionados pela falta da obra do Arco Metropolitano? KETTER – Não tendo o Arco, nós trabalhamos junto ao governo de Pernambuco para viabilizar rodovias estaduais no entorno. Temos uma estratégia de escoamento através de outros fluxos, que não são pela BR nem pelo inexistente Arco. Dá para sobreviver? Dá. É muito eficiente? Não. Mas a localização de Pernambuco foi escolhida não só pela logística do Arco, mas pela posição que tem no Brasil, além da proximidade com o Porto de Suape e do potencial do Nordeste.

JC – Depois de cumprir a missão de implantar o Polo Jeep aqui no Estado, qual será o próximo desafio do senhor no grupo? Vai seguir para implementar a fábrica da China? KETTER – Do meu destino ainda não tenho ideia. Primeiro, vou tirar férias (risos). Não muitos dias, mas pelo menos uma semaninha para dormir bem. Depois, veremos quais serão os desafios.

Ficamos muito surpresos com as pessoas de Pernambuco que nós conseguimos selecionar e trazer para a fábrica. Elas trouxeram não só um bom espírito, mas também muita garra. E essa garra pernambucana nos vem dando bons resultados.”

Rafael Bandeira/ExclusivaBR

“A garra pernambucana traz bons resultados”


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INTERFACE Sinergia entre homens e máquinas garante produtividade e cria clima futurista na fábrica

Parece filme de ficção científica VANGUARDA Mais moderna planta da FCA no mundo chama atenção pela tecnologia empregada

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Projeto pretende multiplicar o conhecimento O Polo Automotivo Jeep também vai colocar Pernambuco no mapa da inteligência global do setor. O Estado vai abrigar o quarto Centro de Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e Engenharia Automotiva do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo, juntando-se aos equipamentos de Betim (MG), Auburn Hills (EUA) e Turim (Itália). O espaço vai funcionar na antiga Fábrica Tacaruna, no Recife, desativada há mais de duas décadas. O orçamento do projeto está em discussão e a previsão é inaugurar dois anos após a doação do prédio à companhia pelo governo do Estado. O centro de P&D agrega valor ao Polo Jeep na medida em que raros empreendimentos congregam estrutura produtiva e inteligência num mesmo projeto. Além do complexo industrial, o Estado se beneficia do valor intangível do conhecimento tecnológico e da inovação. Serão 500 profissionais, sobretudo da área de engenharia, criando inovações no universo automotivo. Um carro é um mundo complexo, repleto de tecnologia embarcada e de cadeias conectadas. Dentro de um veículo existem milhares de linhas de códigos, que calculam combustível, que conectam o automóvel à fábrica, que atendem os comandos dos usuários. O espaço vai desenvolver pesquisa em todas as áreas de desenvolvimento de um veículo, desde softwares, passando por design, chassis, carroceria, interiores e eletroeletrônica. Num primeiro momento estará voltado para desenvolvimento virtual (modelagem e cálculo) e experimental (validações físicas). Para viabilizar a implantação do centro, o governo do Estado terá que enviar um projeto de lei à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), destinando o imóvel para doação. A gestão estadual também estuda um tratamento tributário diferenciado para o empreendimento, que não signifique isenção, mas seja atrativo aos investidores. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Thiago Norões, diz que o projeto de lei para doação da Fábrica Tacaruna está em fase final de elaboração. “Estamos focados na etapa técnica de detalhamento do memorial descritivo da área e do imóvel. Em paralelo, a Agência de Desenvolvimento Econômico de

MUDANÇA Valdomiro deixou o comércio e hoje trabalha com máquinas de última geração

Pernambuco (AD Diper) tem atuado para viabilizar o início de operação provisória do centro. Essa iniciativa se dá a partir da disponibilização de espaços temporários no Grande Recife para o funcionamento das diversas atividades que serão realizadas pelo equipamento”, observa. Hoje 180 profissionais contratados pela FCA já trabalham em estruturas provisórias no Grande Recife. Uma delas é o condomínio logístico Armazena 2, em Jaboatão dos Guararapes. Também está em reforma um imóvel na área de influência do Porto Digital, no Bairro do Recife, e a companhia procura, ainda, uma terceira locação, que poderá ser na Reserva do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho.

CRIAÇÃO Polo Jeep vai agregar dezenas de atividades ligadas à pesquisa, desenvolvimento e inovação

cenário futurista dá a sensação de que embarcamos num filme de ficção científica. Robôs soldam carrocerias de veículos, num bailado sincronizado de braços mecânicos. Homens supervisionam o trabalho desses “operários-máquina”. Mais à frente, outros robôs equipados com câmeras fazem o controle de qualidade da produção. A partir de um centro de comunicação é possível acompanhar o funcionamento da montadora. Os carros passam numa esteira indo da funilaria para a pintura, observados de dentro do escritório, por detrás de um paredão de vidro. Se as linhas estão em movimento é sinal que está caminhando tudo bem na produção. Estamos na era das indústrias inteligentes, dentro da fábrica mais moderna da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo, erguida no município de Goiana (Mata Norte de Pernambuco). O empreendimento reúne em um único sítio os 15 mil melhores processos, práticas e tecnologias acumuladas pelo grupo. O sistema de produção World Class Manufacturing (WCM) assegura a melhor interação entre homem e máquina. Aliado a isso, o desenho logístico permite mais eficiência no processo. O DNA da inovação está presente em toda indústria, desde a área de prensas até a montagem. O carro começa a nascer na área de prensas, considerada o coração de uma fábrica de automóveis. Bobinas de aço são estiradas, cortadas em chapas e prensadas para ir tomando forma das peças dos veículos (portas, tetos, capôs). As duas linhas de prensas da japonesa Komatsu são as mais avançadas tecnologicamente. Depois os veículos seguem para funilaria, setor mais tecnológico da fábrica concentrando 650 do total de 700 robôs da montadora. “Nosso diferencial é a linha de 18 robôs desenvolvida pela Comau instalados no piso e no teto, permitindo a aplicação de 100 pontos de solda me um minuto. Em outras indústrias os robôs estão apenas no chão. Por isso, a carroceria precisa passar por mais de uma estação para ser soldada”, explica o especialista de Manutenção, Renato Adolfo. Na pintura, se destaca a tecnologia primeless, que dispensa uma das camadas de pintura, além de reduzir o consumo de energia e a emissão de produtos químicos na atmosfera. Já na linha de montagem, um dos diferenciais é o sistema de acoplagem da carroceria no chassi conhecido como powertrain. Realizada de forma automática, evita a movimentação de muito peso pelos operários. O funcionamento da fábrica é acompanhado por executivos e profissionais num escritório aberto, que funciona como o cérebro do polo. Batizado de Communication Center o espaço não tem PCs nem telefones fixos. Nessa área de 11 mil m², o alto escalão da FCA se mistura com os funcionários, recebendo os resultados físicos de cada etapa de produção. De lá, problemas e mudanças de estratégia são decididos rapidamente. Do local é possível percorrer a pé os pontos essenciais do processo de produção da prensa a montagem. A sinergia entre homens e máquinas também é parte do conteúdo tecnológico do Polo Jeep, que implantou um sistema inovador de gestão de pessoas. Em toda a fábrica, profissionais são escolhidos para atuar como team leader. A missão dele é formar e coordenar equipes de até seis pessoas. “Nossa tarefa é resolver problemas, tomar decisões e manter a equipe unida. Fui treinado para saber resolver todos os problemas que surgirem na minha estação de trabalho”, diz Valdomiro Miguel, de 38 anos, que deixou anos de trajetória no comércio para se aventurar, com sucesso, na moderna indústria automotiva.


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CHANCE Costureiras industriais da americana Lear, empresa que veio na esteira da montadora

Polo muda a face de uma região OPORTUNIDADES Novo polo automotivo gera novos empregos, eleva a renda da população e transforma a realidada da Mata Norte. O desafio é evitar efeitos colaterais, como a favelização

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A VIDA MELHOROU Júlia e a

mãe, Alexsandra: as duas deixaram antigos empregos e conseguiram ser aproveitadas nas novas indústrias. “Estou com a vida que pedi a Deus”, comemora Alexsandra

á quatro meses Alexsandra Galdino, de 37 anos, mudou de profissão. Deixou o emprego de merendeira na rede estadual de ensino em Goiana para virar costureira industrial. A renda da família também ganhou reforço com o trabalho que conseguiu para a filha Júlia Ingryd, de 19 anos. As duas trabalham no Polo Jeep, na fábrica de bancos automotivos da empresa norte-americana Lear Corporation. Essa história de mãe e filha ajuda a entender, na prática, os impactos do polo na economia de Pernambuco. Estudo encomendado pelo governo do Estado às consultorias Ceplan e Diagonal Transformação de Territórios aponta que os R$ 7 bilhões investidos no cluster vão gerar um impacto de 6,5% no Produto Interno Bruto (PIB) pernambucano até 2020. O empreendimento também terá impactos na geração de empregos, na evolução da massa salarial, na receita dos municípios da região e no valor da produção. Numa outra ponta, o desafio é minimizar os resultados negativos gerados pelo aumento das demandas sociais. A implantação do polo terá influência direta nos municípios de Goiana, Igarassu e Itapissuma e indireta nas cidades de Abreu e Lima, Paulista Itamaracá, Araçoiaba, Condado, Itaquitinga e Itambé. “A chegada da Jeep é muito significativa para a economia. Estamos falando de melhoria na qualidade da produção industrial. Uma região onde predominava a cultura da cana-deaçúcar agora abriga a fábrica mais moderna do grupo FCA no mundo”, diz o economista da Ceplan Jorge Jatobá. Essa mudança de paradigma vai ultrapassar os limites da Zona da Mata Norte e reverberar na economia de todo o Estado. O polo vai alavancar a participação da indústria de transformação no PIB pernambucano. Enquanto em 2015 essa fatia é de 11%, em 2020 (ano projetado para o pico de produção da fábrica) será de 12,31%. A reconfiguração da economia também será sentida no mercado de trabalho. A Jeep e seu parque de fornecedores turbina os empregos na região. Pelas contas da Ceplan, só na fase de implantação do polo foram gerados 21 mil empregos e a expectativa é que o estoque chegue a 15 mil na fase de operação, nos municípios de Goiana, Itapissuma e Igarassu. “Na verdade, o ganho é maior do que a geração de emprego. Essa região vai se beneficiar da qualificação da força de trabalho e ter o emprego mais bem pago”, explica o economista Aldemir do Vale, também da Ceplan. Nas cidades de Goiana, Igarassu e Itapissuma, a massa salarial (soma dos salários pagos aos trabalhadores no ano) vai saltar de R$ 509 milhões em 2014 para R$ 2,2 bilhões em 2020. Aí voltamos ao exemplo de Alexsandra e Ingryd, que comemoram não só o aumento da renda familiar, mas da massa salarial. “Estou com a vida que pedi a Deus. Tiro mais como costureira industrial do que como merendeira e minha filha está empregada em serviços gerais. Minha meta agora é crescer junto com a Lear e colocar o nome da firma lá em cima”, diz a costureira. O município que sedia o Polo Jeep vai comemorar aumento de receita, mas também se depara com o avanço das demandas sociais provocadas pelo empreendimento. Já este ano, o incremento na receita será de R$ 62,8 milhões, com perspectiva de alcançar R$ 119,4 milhões em 2020. Por outro lado, a chegada da fábrica pressiona a infraestrutura de transporte, habitação, saúde e educação da cidade. “A FCA é bem sensível às questões de impacto socioeconômico, porque houve resultados negativos em Betim (MG) como favelização e gargalos de transporte. Estamos falando de um empreendimento de século 21 localizado numa região de monocultura da cana que remonta ao século 19. A companhia está contribuindo com uma região que estava fora do eixo de desenvolvimento do Estado e atenta aos possíveis problemas”, assinala o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Thiago Norões.


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Empresas locais são qualificadas FORMAÇÃO Setores de indústria e comércio se beneficiam com a nova cadeia econômica do Estado

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uem entra no Polo Jeep se depara nas linhas de produção com muitos carrinhos e racks metálicos utilizados no armazenamento e na movimentação de peças e materiais dentro das fábricas. Boa parte deles é fornecida pela empresa ítalo-brasileira Eurocontainers Brasil, localizada no bairro recifense do Curado. Comandada pelo jovem empresário Adolpho Mafra, 31 anos, o negócio é um exemplo emblemático de como as empresas locais podem se beneficiar da nova dinâmica econômica de Pernambuco. A chegada da montadora trouxe oportunidades para os setores de indústria e serviços, mas é preciso apostar em qualificação empresarial para não perder o bonde. Para capacitar as empresas, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e o Instituto Euvaldo

Lodi (IEL) criaram o Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF). A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que aporta R$ 1,2 milhão do investimento total de R$ 1,5 milhão. O restante é bancado pelas indústrias. “O trabalho começou em 2012. Levantamos demandas para identificar os tipos de produtos e a escala de fornecimento. Depois, iniciamos o processo de capacitação”, explica a superintendente do IEL em Pernambuco, Gilane Lima. Hoje 22 empresas estão sendo treinadas e a meta é chegar a 40. Os empresários recebem 129 horas de capacitação, em temas como gestão fiscal e financeira, responsabilidade ambiental, saúde e segurança no trabalho. O programa também inclui 200 horas de consultoria, utilizando a metodologia do Lean Manufacturing (manufatura enxuta). O conceito foi criado pela Toyota na Segunda Guerra Mundial para cortar desperdícios e aumentar a produtividade. “A cultura do Lean Manufacturing olha basicamente para os conceitos de zero desperdício, zero quebra, zero parada e controle do desenvolvimento das pessoas, da qualidade e da organização. Queremos desenvolver empresas que sejam sustentáveis, nas quais possamos confiar”, afirma o diretor de Gestão de Projetos Estratégicos da FCA, Antônio Damião. A Eurocontainers foi uma das empre-

sas que concluíram a qualificação e enxugaram a operação, para fornecer carrinhos e racks a cinco empresas do Polo: Jeep, Magneti Marelli, Adler, Tiberina e PMC. “Conseguimos reduzir nossos custos em até 40%, passamos a ter um processo produtivo mais assertivo e educamos nossos trabalhadores sobre seu papel, diz Mafra.

COMÉRCIO E SERVIÇOS

As empresas do Estado têm um terreno fértil para empreender também nos setores de comércio e serviços. A Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio) encomendou à Ceplan um diagnóstico das oportunidades. O estudo Perspectivas de Desenvolvimento e Oportunidades do Setor Terciário para o Polo de Desenvolvimento de Goiana aponta alternativas para as empresas que querem instalar ou melhorar seu negócio, numa região que recebeu investimentos da ordem de R$ 18,8 bilhões. “Há muito mais oportunidades do que dificuldades”, defende a sócia-diretora da Ceplan, Tania Bacelar. O presidente da Fecomércio, Josias Albuquerque, destaca que toda atividade empresarial traz risco. “Por isso a necessidade de se preparar e conhecer o mercado.” Entre as áreas potenciais para investimentos, o estudo aponta serviços de saúde, educação, turismo e transportes, alimentação, administração de imóveis e tantos outros.


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Temos um trem de oportunidades passando e o empresário pernambucano precisa subir nele. Mas para isso é necessário sair da zona de conforto, empreender, deixar o conservadorismo de lado”. Adolpho Mafra, 31

anos, diretor-geral da Eurocontainers.

EXEMPLO Eurocontainers concluiu capacitação, enxugou operação e já fornece para 5 empresas do Polo: Jeep, Magneti Marelli, Adler, Tiberina e PMC


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História da Jeep no Estado vem de 1966 REGISTROS JC publicou matérias sobre a inauguração da fábrica, em julho de 1966. Era a primeira indústria automotiva do Nordeste

Reprodução/Internet

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ob a bênção de Dom Hélder Câmara, Pernambuco inaugurava na tarde do dia 14 de julho de 1966 a primeira indústria automotiva do Nordeste, em Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana do Recife). Fabricante da marca Jeep, a Willys Overland do Brasil queria aumentar sua presença nacional, com uma segunda montadora no País. A primeira funcionava desde 1952, no município paulista de São Bernardo do Campo. A fábrica local ficaria dedicada à produção de Jeep, Rural e picape para atender aos mercados do Norte e Nordeste. A inauguração do Polo Automotivo Jeep em Goiana, dessa vez comandado pela Fiat Chrysler quase 50 anos depois, reaviva os laços e a história da marca no Estado. Naquela tarde de quinta-feira dos anos 60, o progressista Dom Hélder já alertava para a necessidade de descentralização dos parques automotivos no País e exaltava o empenho do povo nordestino. “Os técnicos que aqui vieram teriam naufragado na sua missão se não fosse a inteligência do trabalhador dessa região”, afirmou, defendendo que a inauguração da fábrica trouxesse outras para a cadeia. O Jeep produzido em Jaboatão ganhou o emblema Chapéu de Couro em homenagem ao Nordeste. O primeiro Jeep Chapéu de Couro foi doado a Dom Hélder para ser utilizado na Operação Inverno, iniciativa de ajuda aos desabrigados da enchente de 1966 no Estado. O Rio Capibaribe subiu 9,20 metros além de seu nível normal, deixando um rastro de 175 mortos e 10 mil desabrigadas. Além da enchente, o ano também foi nebuloso na política e nos esportes. Estávamos nos primeiros anos da ditadura militar e o Brasil deixava a Copa do Mundo da Inglaterra em 11º lugar, eliminado por Portugal no terceiro jogo. A inauguração da montadora pernam-

bucana era apontada como a redenção do município de Jaboatão, que perdia dinamismo econômico com o fechamento das usinas Jaboatão, Bulhões e Muribeca. A expectativa era que a indústria conseguisse atrair um parque de fornecedores e a cidade se transformasse numa espécie de São Bernardo do Campo do Nordeste, ancorada pelos incentivos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. A Sudene, aliás, viabilizou a implantação da montadora junto com o Banco do Nordeste. Nas décadas que se seguiram, a Willys foi mudando de dono (veja matéria ao lado). No início dos anos 80, a produção de carros na fábrica de Jaboatão foi suspensa. As carrocerias deram lugar à manufatura de uniformes e luvas. Hoje, no lugar da fábrica, funciona a Tecnologia em Componentes Automotivos (TCA), adquirida pela Fiat em 2010 e gerida pela Magneti Marelli.

Montei muito Jeep 51, no Posto São Cristóvão, na Rua da Aurora. O carro vinha desmontado dos Estados Unidos e desembarcava no armazém 3, no Porto do Recife. Vendia tudo muito rápido, não dava pra quem queria. Usineiros e fazendeiros eram os principais compradores naquela época”.

Geraldo Esteves, 82 anos, preparador mecânico dos carros dos netos corredores de Jeep Cross.

VESTÍGIOS

O agricultor Sebastião Domingos, de 74 anos, exibe com orgulho o Jeep Chapéu de Couro 1969. “Comprei de um primo meu há 39 anos e não vendo por dinheiro nenhum”, avisa. Seu Bacha, como é conhecido em Glória do Goitá (Agreste), onde mora, não lembra qual era a moeda da época, mas sabe que precisou vender 15 toneladas de mandioca para adquirir o veículo. “Esse bichinho foi muito útil carregando a produção do sítio para vender no Recife e também serviu aos vizinhos. Muita mulher foi ganhar nenê nesse carro”, recorda. Seu Geraldo Esteves, de 82 anos, lembra de uma passagem ainda mais antiga da história da Jeep em Pernambuco. Em 1951 ele trabalhou na Agência e Posto São Cristóvão, na Rua a Aurora, no Recife. No local, os carros da Willys eram montados e vendidos. “O veículo chegava desmontado dos Estados Unidos. As partes vinham embaladas em caixas de madeira e desembarcavam no Armazém 3, no Porto do Recife. O carro não dava para quem queria. Usineiros e fazendeiros compravam muito”, recorda. A história de amor pelo Jeep atravessou décadas. Seu Geraldo hoje é conhecido no universo das corridas de Jeep Cross como Vovô Pressão, porque azeita a mecânica dos carros dos netos corredores.

Arquivo Instituto Dom Hélder Câmara

MODELO Fábrica de Jaboatão foi a segunda da Willys no Brasil. Na foto acima, a planta de São Bernardo do Campo

LAÇOS Pernambuco já teve uma montadora da Jeep. Na época, controlada pela Willys

BÊNÇÃO Dom Hélder recebe a chave do primeiro “Chapéu de Couro” pernambucano

O Jeep desperta paixão por sua versatilidade na utilização. Não foi à toa que criaram o slogan: ‘se você vai a um lugar que só um Jeep pode te levar, pense duas vezes antes de ir’. Somos picados pelo mosquito aedesejeep e acometidos por uma doença incurável”, brinca Daniel Urbano, empresário que já reformou mais e 50 Jeeps.


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VOVÔ PRESSÃO Geraldo e seu antigo Jeep 51

A história do Jeep é marcada por duas grandes disputas: a Segunda Guerra Mundial e a briga das montadoras para fabricar um veículo que atendesse ao Exército Americano. Com a proximidade da guerra, o governo norte-americano convocou 135 companhias para desenvolver um automóvel robusto e versátil para os campos de batalha, mas apenas três apresentaram proposta: Bantam, Willys e Ford. A Bantam foi a primeira a apresentar um protótipo do carro, em 1939, mas por conta de problemas financeiros não conseguiu garantir escala de produção, permitindo que as outras duas concorrentes entrassem no páreo. Em julho 1941, a Willys apresentou o modelo do primeiro Jeep de fato, oferecendo um preço de US$ 730 e se comprometendo a entregar 125 veículos por dia ao Exército. A proposta deixou a Bantam sem condição de competir. Como prêmio de consolação, ganhou a encomenda dos trailers que acompanhavam os Jeeps no front. “Nesse começo da história, como nenhuma montadora conseguia atender sozinha a demanda do Exército, o Jeep foi um projeto militar e não uma marca empresarial”, observa Daniel Urbano, militar aposentado e empresário da oficina American Jeep, em Vitória de Santo Antão (Zona da Mata de Pernambuco). O governo americano determinou que a Willys repassasse o projeto do carro à Ford para que ela também fabricasse o automóvel. Assim, as duas monta-

Fotos: Heudes Regis/JC Imagem

Do campo de batalha ao estado da arte

doras deram conta da produção até o final da Segunda Guerra. Depois de 1945, a Willys começou a produzir exclusivamente o Jeep. Reconhecido não só nos campos de batalha, o Jeep foi considerado, em 1951, pelo Museu de Arte Moderna dos Estados Unidos, uma obra-prima automotiva mundial. Cobiçada, a marca passou pelo portfólio de várias empresas. Em 1953, o empresário Henry Kaiser comprou a Willys e adquiriu o Jeep. Por volta dos anos 80, a American Motor Company (AMC) era a dona da marca. Enfrentando dificuldade de mercado, em 1986 a AMC foi adquirida pela Chrysler Corporation. O resto da história recente é conhecida. No início de 2014 a Fiat adquiriu 100% da Chrysler e foi criada a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), com ações na Bolsa de Valores lançadas em outubro do ano passado. O modelo da vez agora é o Renegade, marcando a estreia da marca no segmento de SUVs compactos.

Vendi 15 toneladas de mandioca para comprar esse Chapéu de Couro a um primo meu. Não vendo esse Jeep por dinheiro nenhum”. Sebastião Domingos, 74 anos, agricultor.

ARRETADO Chapéu de couro era a marca do 1º Jeep local


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Academia e indústria juntas pela educação QUALIFICAÇÃO Polo começou com união entre a FCA e oito instituições de ensino de PE e PB

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omunidade acadêmica e mundo corporativo pensando juntos. Cento e quarenta cérebros arquitetando um cluster de referência internacional em educação automotiva. Foi assim que nasceu o Polo de Conhecimento Automotivo, uma parceria entre a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e oito instituições de ensino de Pernambuco e da Paraíba. A FCA entendeu que era indissociável instalar em Pernambuco a montadora mais moderna do grupo no mundo e um Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia Automotiva sem a formação de massa crítica. A academia foi convocada a acompanhar o movimento do mercado e preparar profissionais para a nova realidade econômica da região nos próximos 20 anos. “A ideia surgiu da vontade de compartilhar o conhecimento instalado no projeto da nova fábrica com a comunidade, contribuindo com o desenvolvimento social local. Os profissionais serão qualificados para atuar não só no setor automotivo, mas na atividade industrial em geral”, observa a responsável da FCA pelo Projeto Educacional em Pernambuco, Flávia Maciel. Um termo de compromisso entre a FCA e as instituições foi assinado em dezembro de 2014. O Senai foi uma das primeiras instituições a se integrar ao Polo. Começou formando 3.200 profissionais para trabalhar na construção da fábrica, em Goiana. Agora prepara a inauguração de três unidades com vocação para o setor automotivo. “Estamos aguardando um financiamento de R$ 49 milhões do BNDES e a aprovação do Ministério da Educação (MEC). Será a primeira exclusiva para a atividade no País. Queremos ser referência na América Latina”, afirma o diretor regional do Senai em Pernambuco, Sérgio Gaudêncio.

Única mulher na turma de 20 alunos que ingressaram em 2014 no curso de mecânica automotiva da escola do Senai de Santo Amaro, Cláudia Rodrigues, 17 anos, é uma das candidatas à faculdade. “Trabalhar no polo automotivo é o sonho dos alunos do curso. O setor está avançando no Estado com a presença da Jeep e dos fornecedores. Obter qualificação nessa área significa abrir possibilidades. Quando concluir o curso técnico, quero tentar engenharia na nova faculdade (prevista para inaugurar em 2017)”, acredita. Cláudia vai concluir o curso em setembro deste ano no Centro de Tecnologia Automotiva do Senai, que forma profissionais em parceria com várias montadoras, incluindo a FCA. Além da faculdade, o Senai também terá uma Escola em Goiana e um Instituto de Tecnologia Automotiva, em Igarassu. A escola vai oferecer cursos de eletrotécnica, eletromecânica, automação industrial e costura industrial. Já o Instituto vai trabalhar alinhado às demandas da indústria, ofertando consultoria a toda a cadeia automotiva.

MAPEAMENTO

A FCA desenvolveu um mapa das competências estratégicas necessárias ao negócio e detalhou o perfil de profissionais que vai contratar para o Centro de P&D e para o polo. Com esse desenho nas mãos, os representantes das universidades e institutos começaram a adequar suas estruturas de ensino. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) terá uma pós-graduação em Engenharia Automotiva, que será pioneira no Nordeste. A previsão é iniciar as aulas em maio. “A indústria automotiva é cheia de interdisciplinaridade e a UFPE está preparada para colocar sua estrutura de conhecimento para atender as demandas do Estado”, defende o coordenador de Transferência de Tecnologia da UFPE, Frederico Nunes. A UFPE já vinha acompanhando a implantação do polo, junto com a Universidade de Pernambuco (UPE). As duas instituições encaminharam alunos de engenharia para cursar uma especialização no Instituto Politécnico de Turim (Polito), na Itália. A iniciativa é uma parceria com o governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), que custeou as bolsas de estudo. Vinte alunos participaram do intercâmbio e todos foram contratados pela Jeep. Um deles foi o sertanejo de Afogados da Ingazeira, Diogo Almeida, 25. “Passei um ano e seis meses na Itália e foi uma experiência relevante para minha formação profissional”, comemora, dizendo que ocupa vaga na área de gestão de produtos da Jeep.

Estudar em Turim foi uma experiência enriquecedora. Nunca tinha saído do Brasil e passei mais de um ano em uma das melhores universidades de engenharia automotiva do mundo. É um privilégio que o meu primeiro emprego com carteira assinada tenha sido na Jeep”. Diogo Almeida, 25

anos. Engenheiro Mecânico


especial Jeep

OPORTUNIDADE Cláudia é a única mulher entre 20 alunos da sua turma do curso de mecânica automotiva do Senai de Santo Amaro

Um projeto construído para toda a vida Uma disciplina incomum entrou no currículo dos alunos da rede municipal de ensino de Igarassu (município localizado na Região Metropolitana do Recife). Os estudantes vão aprender a construir projetos de vida. Na prática serão encorajados a pensar sobre seu protagonismo na construção da cidade, do País e do mundo. A novidade faz parte de um convênio celebrado entre a prefeitura da cidade, a Jeep e os Institutos de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE) e de Qualidade no Ensino (IQE). Com nota geral de 3,9 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – bem abaixo de Pernambuco (4,7) e do Brasil (5,2) –, Igarassu foi selecionada pela Jeep para implementar os programas Qualiescola e Escola em Tempo Integral. O Qualiescola tem a proposta de reinventar a maneira de educar as novas gerações. “Os professores do 6º ao 9º ano serão qualificados para conduzir com maior eficiência o ensino-aprendizagem”, explica o presidente do IQE, Horácio Almendra. O programa vai beneficiar 6.675 alunos de 50 escolas, por meio da capacitação de 284 professores nos conteúdos de matemática, português e ciências. A secretária de Educação de Igarassu, Andreika Asseker, diz que só no Qualiescola o investimento da Jeep foi de R$ 3 milhões. O programa vai se estender até 2017, com a meta de aumentar a nota do Ideb de 3,9 para 4,2. A gestora também comemora a implantação da primeira escola de ensino integral na cidade. Em no-

Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Heudes Regis/JC Imagem

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PROTAGONISMO Programa beneficiará 6.675 alunos

vembro de 2014 foi aprovada uma lei complementar que implementa o modelo de educação integral no município. A Escola Cecília Vaz Curado, na periferia de Igarassu, foi a primeira a ser reformada para funcionar em sistema integral. O município conta com 45 escolas e 13 mil alunos matriculados. Pelas contas da secretária de Educação, o déficit no número de salas de aulas é de 30%. “O ICE entrou no projeto a pedido da Jeep para fazer um diagnóstico da situação educacional no município e para auxiliar na implantação do sistema de escola integral. O interesse da companhia transcende a fabricação de automóveis. A empresa quer deixar uma contribuição mais estruturada para a sociedade do entorno”, destaca o presidente do ICE, Marcos Magalhães. “O objetivo é construir legados, a partir da melhoria da qualidade de vida das comunidades do entorno da fábrica”, reforça Rosangela Coelho, gerente de Comunicação e Sustentabilidade do Polo, lembrando que dos funcionários da montadora, 15% são moradores de Igarassu. É a educação reconhecida como parte da engrenagem.


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