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O fundamento da Renovação é adorar a Deus

RUMO AO BIMILENÁRIO DA REDENÇÃO - ADORAÇÃO A DEUS «O fundamento da Renovação é adorar a DEUS»

FFrei Pedro Bravo, oc

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No seu discurso ao RCC, em 2014, o Papa Francisco dirigiu-nos uma importante exortação profética e pastoral. Vamos segui-la ponto por ponto, agora e nos próximos artigos. Diz o Papa: «Vós, Renovação Carismática, recebestes o Espírito Santo, que vos fez descobrir o amor de Deus por todos os seus flhos e o amor pela Palavra. Voltai a este primeiro amor. Estai atentos à liberdade que o Espírito Santo nos deu. Não percais a graça de deixar que Deus seja Deus! E tudo isto com base na adoração! O fundamento da Renovação é adorar a Deus. Adorai a Deus, o Senhor!». Francisco relembra-nos assim o ponto fundamental da vida cristã, o primeiro mandamento dado por Deus: «Eu sou o Senhor, teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim. Não os adorarás, nem os servirás» (Ex 20,2s.5). Mandamento que, pela primeira vez, será formulado por Jesus de forma positiva: «Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto» (Lc 4,8). Esta é, de facto, a vontade do Pai, como disse à samaritana: «Acredita-Me, mulher: vai chegar a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois esses são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade» (Jo 4,21-24). Que signifca adorar? Em latim, “adorar” vem de boca: era o gesto de tocar com a mão direita, em oração, a pessoa ou o objeto sagrado, enquanto se pousava a mão esquerda na boca, em sinal de afeto e veneração. Nas línguas bíblicas (he. sackah; gr. proskunéô), signifca “inclinar-se”, “prostrar-se” em sinal de reverência diante dum superior, dando- -lhe as boas-vindas, manifestando-lhe disposição para o escutar, prestando- -lhe veneração e obediência e, apenas em relação a Deus, para O servir num culto de latria, adorando-O. A adoração pode expressar-se em pôr-se de joelhos, fazer uma genufexão ou prostrar-se por terra, gesto que, com Jesus, passa a ser exclusivo da adoração a Deus (cf. Ap 19,10). Que é adorar? Adorar é aquele tipo de oração, o primeiro, fundamental, a que o Espírito Santo nos incita. Ele mostra- -nos a importância da oração na vida cristã e ensina-nos que a oração não é só súplica e petição, mas sobretudo louvor, ação de graças e intercessão. No centro, porém, da oração, está Deus, não o que fazemos ou Lhe dizemos. Pela adoração pomos Deus no centro. Reconhecemo-l’O como único Deus, vivo e verdadeiro, «Criador e Salvador, Senhor e o dono de tudo o que existe, Amor infnito e misericordioso» (CatIgCat 2084), providente e bom, fundamento do nosso ser e de tudo quanto existe, fonte e meta da nossa existência, condutor e razão da nossa vida. A adoração é uma graça, um dom do Espírito Santo. Pela adoração, entramos em nós e descemos as escadas do tempo, para aí, no recolhimento e silêncio interior do espírito, numa atitude amorosa e crente de escuta e de obediência, em total respeito e submissão, além de todas as perceções, representações e sentimentos, aderirmos a Deus, num movimento simples,

todo feito de amor, abandonando-nos e perdendo-nos nele, mais íntimo que o nosso íntimo, oceano eterno, sem margens e sem fundo, que habita em nós, nos envolve e infnitamente nos supera, no qual vivemos e sem o qual não viveríamos. Pela adoração, esquecemo-nos de nós mesmos, voltamos ao amor primeiro, deixamos Deus ser Deus em nós, abrimo-nos à sua plenitude e ação, deixamo-nos conduzir pelo seu amor e confessamos, com Maria, que Ele fez grandes coisas em nós e que o seu Nome é santo. «A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo» (CIC 2097). Pela adoração, conhecemos a verdade, reconhecemos com gratidão que a ninguém mais devemos tanto como a Deus, confessamos que Ele é Tudo e que nós somos nada. E exclamamos: «O mundo inteiro é diante de ti como o grão de areia na balança. Mas Tu compadeces- -te de todos, pois tudo podes e fechas os olhos diante dos pecados dos homens, para que se arrependam. A todos Tu perdoas, porque são teus, Senhor, amigo da vida! (Sb 11,22-26). Pela adoração, morremos para nós próprios e aniquilamo-nos em Deus, para n’Ele renascermos, com renovada pureza e dignidade, com mais intensa grandeza e liberdade. Deixamos assim que Deus se imprima em nós, nos envolva e nos transforme em Si próprio. Pela adoração, começamos já a viver o céu aqui na terra, pois isso é o que lá faremos: louvar a Deus em gesto supremo de adoração (Ap 15,4). Por isso, é tão importante na nossa oração e no nosso dia-a-dia criar espaços de silêncio e de adoração. A isso nos ajudam o cântico em línguas, a lectio divina, a adoração ao Santíssimo, a qual podemos fazer não só na Igreja, mas também no nosso quarto ou onde quer que nos encontremos. Basta, para isso, pensarmos numa Igreja onde está o Santíssimo e, para aí voltados em espírito, adorarmos a Deus. Não deixemos passar um só dia sem adorar a Deus… e sem convidarmos os outros a fazê-lo. Tal é a Boa-nova, o Evangelho eterno, que somos chamados a viver e a evangelizar a todos: «Temei a Deus e dai-lhe glória. Adorai Aquele que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas!» (Ap 14,7).

Mário Pinto Batendo no peito: «Nós [os cristãos] somos cidadãos do Céu» (Fl 3, 20)

1. O reino de Deus e o reino do mundo. Nos Evangelhos, não há nenhuma outra revelação de Cristo mais crucial e decisiva do que a do «reino de Deus», do qual a humanidade em Adão e Eva se quis separar, por engano, para criar um outro reino igual («sereis como deuses»), mas que fcou constituído como um reino do mundo decaído e mortal. No reino de Deus, a lei é o amor de Deus, e o poder é o poder de Deus. Como dizemos a Deus Pai, na Missa: «Vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre!». Reino de Deus que, em muitas passagens dos Evangelhos, é também traduzido por «vida eterna», porque só em Deus se pode viver eternamente. A vida separada de Deus, a vida do mundo, só pode subsistir enquanto Deus esperar misericordiosamente pelo regresso arrependido e purifcado dos separados.

2. O reino de Deus é um reino de seres puros e purifcados. E quem, dos que pertencem ao reino do mundo, pode ser admitido no reino de Deus? Jesus Cristo disse: «Quem não acolher o reino de Deus como uma criança não entrará nele» (Mc 10.15). Isto quer dizer: quem não se tornar puro como uma criança, que é inocente, não entrará no reino de Deus. Portanto, todo o esforço virtuoso do cristão que deseja entrar no reino de Deus tem em vista, como condição necessária, a sua purifcação. Purifcação que, por nós devendo ser conquistada com todas as nossas forças ascéticas, contudo só pela graça misericordiosa de Deus nos é alcançável.

3. Pelo que respeita ao nosso contributo, recorde- -se a escada ascensional que Jesus defniu no discurso das bem-aventuranças, com os seguintes degraus: [1] mansidão; [2] humildade; [3] choro contrito e afito

pelos pecados próprios e dos irmãos; [4] justiça; [5] misericórdia. Só em seguida se obtém a [6] pureza, e depois a [7] paz de Cristo que se reparte. Por isso, Jesus resumiu a sua integral doação aos discípulos dizendo-lhes: «dou-vos a paz, dou-vos a minha paz».

4. Quanto à graça da nossa libertação do reinado do diabo, ela foi-nos conquistada pela vitória da santidade de Jesus na sua paixão dolorosa e cruenta, que justifcou a ressurreição gloriosa da sua humanidade. Pelo mérito da sua pureza, até ao sacrifício supremo e à sua ressurreição gloriosa, Jesus venceu (por nós) o poder daquele que (separado e separador de Deus, e por isso chamado diabo) teve (e agora já não tem) o senhorio sobre o mundo. Disto mesmo, e pelo desígnio do Pai Celeste, Jesus nos quis deixar um sinal-memorial da Sua Comunhão connosco, na nossa salvação, oferecido à nossa Comunhão com Ele no Sacramento eucarístico. Do seu Corpo ressuscitado glorioso, o pão do céu, e do seu sacrifício-sangue, que nos lava dos pecados, se o recebermos unindo-nos a ele com o nosso sacrifício-sangue.

5. O mundo ainda não está purifcado da sua culpa e decaimento; mas já está liberto do reinado do Diabo, daquele reinado que o mesmo Diabo prometeu compartilhar com Jesus na ocasião das tentações do deserto: «levando-o a uma alta montanha e mostrando-lhe todos os reinos da terra com a sua glória, disse-lhe: tudo isto te darei se prostrado me adorares». No seu enternecido discurso de despedida, Jesus foi mais claro sobre estes mistérios, anunciando a sua vitória em nosso favor: «Digo-vos estas coisas para que vós tenhais a paz em mim. No mundo tereis afições. Mas tende confança. Eu venci o mundo.» (Jo 15,33).

6. Caminhar para o reino de Deus. Ficou acima dito que o mundo já está liberto do reinado do diabo; mas isso não quer dizer que já esteja purifcado da sua culpa. Ora, esta é a opção ascética e mística, pessoal e social, que agora Deus pede a todo aquele que reconhece Jesus Cristo como Deus, Senhor e Salvador; e, arrependido dos seus pecados, aceita o «baptismo no Espírito» e se põe a caminho para a «vida no Espírito», praticando as virtudes dos mandamentos e recebendo as graças de Deus.

7. «Naquele tempo, aproximou-se de

Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os manda

mentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: "Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças". E o segundo é este: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além dele. Amá-lo com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse- -lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-lo.» (Mc 12, 28-34)

8. Conhecer e praticar com todas as

forças os dois primeiros mandamentos

da Lei de Deus já é estar perto do reino de Deus. O cristão sabe, pelos ensinamentos dos Evangelhos de Cristo, como cumprir os mandamentos na sua completude. E recebeu, pelo baptismo no Espírito, a «força do Espírito Santo» na in-habitação da Trindade Divina. Resta-lhe, segundo a tradição cristã, entrar numa caminhada longa contra si mesmo e as tentações, em sucessivas conversões e efusões do Espírito. Numa caminhada ascensional difícil e exigente, e não apenas numa «espiritualidade de simples manutenção». No Renovamento Carismático Católico, como em outros movimentos de espiritualidade cristã (por exemplo: nos Cursilhos, no Neocatecumento, na espiritualidade carmelita descalça, segundo Santa Teresa e S. João da Cruz), o testemunho dos cristãos é o de que a «subida ao monte», que é o caminho para o reino de Deus, é uma escada íngreme de sempre renovadas conversões sacrifciais e de, pela graça do Espírito, novas aproximações na vida em Deus.

9. Não basta, portanto, como catequese

e como evangelização, gastarmo-nos em dizer e em ouvir elogios ao que se narra em cada leitura que fazemos das

Sagradas Escrituras, em privado e na participação da Eucaristia, se isso não nos compromete. Mas, para nos comprometer, é preciso dizer como, muito exigentemente. E depois experimentar como, muito exigentemente.

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