entrevista no jornal "i" 19.09.2013

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DBUBSJOB GBMDBP!JPOMJOF DPN Foi o Ăşltimo candidato, dos nove que estĂŁo a concorrer, a apresentar-se na corrida mas, segundo Nuno Cardoso, o seu regresso Ă câmara do Porto jĂĄ era pedido hĂĄ muito por quem o encontrava nas ruas da Invicta. Presidente da câmara entre 1999 e 2002 – substituindo Fernando Gomes Ă frente do executivo –, o engenheiro lamenta a mudança de rumo depois do Porto Capital Europeia da Cultura e afirma terse desfiliado do PS apĂłs sucessivas tentativas falhadas de liderar a candidatura ao Porto, em 2005 e 2009. No prĂłximo dia 29 de Setembro concorre como independente e pretende resolver a “emergĂŞncia socialâ€? da segunda maior cidade do paĂ­s. O seu slogan ĂŠ “Porto de Futuroâ€?. Como vĂŞ o Porto no futuro? Vejo-o outra vez Ă dimensĂŁo que sempre foi a dimensĂŁo do Porto. Sempre foi uma cidade liderante no paĂ­s. É isso que nĂłs queremos. Queremos um Porto que vĂĄ

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buscar os pergaminhos do passado e se relance no sÊculo XXI. Costumo citar a carta rÊgia da rainha D. Maria II em que ela honra a cidade, dizendo que Ê heróica e eterna. Foi presidente da câmara entre 1999 e 2002. Sentia que essa glória existia nessa altura? O que Ê que, na sua opinião, fez com que deixasse de existir? Vivemos nos últimos 24 anos dois ciclos: um, político, dominado por Fernando Gomes e concluído por mim, e outro liderado por Rui Rio. Foram períodos muito distintos. No primeiro período fizemos grandes conquistas para o Porto. Conseguimos criar um conjunto de infra-estruturas como o Metro do Porto ou o Parque da Cidade. Conseguimos acabar com as barracas em 2001. Houve um enorme progresso nesse período que culminou com a classificação do Porto como património da Humanidade e com o Porto 2001 Capital Europeia da Cultura. E quando parecia que podíamos arrancar para um sÊculo XXI cheio de glória, houve um travar às quatro rodas e uma perspectiva completamente dissonante da cidade. Considera então que os últimos 12 anos foram um período de contraciclo para a cidade? Foi uma mudança de rumo, mas não quero perder muito tempo com isso. O que nos mobiliza Ê o dia de hoje, o presente e o futuro. Mas tem de haver algum motivo para ter avançado agora com a sua candidatura... Tive a honra de liderar esta cidade durante dois anos e três meses, o que acabou por ser pouco tempo. Acabei com um nível de aceitação muito interessante. As pessoas gostaram da forma próxima como geria a cidade e acabåmos com apelos, jå então, para a formalização de uma candidatura independente. Mas nessa altura seria inadmissível, porque jå tinha recusado o convite do engenheiro Guterres para continuar. Sou eu que saio da corrida, cumprindo uma promessa que fiz à minha mulher de que o período na política seria apenas um mandato. Enquanto fui presidente da câmara, inscrevi-me no

Partido Socialista. Eu sou estruturalmente socialista desde criança, mas no partido só entrei em Abril de 2000 e fi-lo para tentar dar resposta a quem dizia que eu tinha dificuldades em gerir conflitos com o partido. Passei a ter um compromisso de militância e a tentar mudar por dentro o partido. Algum tempo depois conquistei a liderança da concelhia e os militantes de base achavam que eu devia ser o candidato à câmara logo em 2005. Isso

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não aconteceu devido a uma decisão centralista do partido. Em 2009, a história repete-se, com Lisboa a escolher Elisa Ferreira e a dar mais um pÊssimo resultado. Desta vez, eu não estive disponível para o partido. Foi por isso que avançou com uma candidatura independente? Como explica a sua candidatura? Foi um desígnio interior. Disse a mim próprio que tinha de resolver os problemas da cidade, atÊ porque todos os dias me cruzava com alguÊm que me incentivava a avançar. Foram tantos contactos que tive de passar 15 dias em reflexão e, após esse período, tive apenas de convencer a minha mulher de que tinha de fazer isto. No dia 6 de Junho, quando decidi avançar com a candidatura, estava completamente sozinho. Não havia nada organizado nem tinha noção da dificuldade do processo burocråtico de uma candidatura independente. Qual Ê a sua relação com o PS neste momento? Eu sou socialista e serei sempre. Uma coisa Ê a estrutura das lideranças dos partidos locais e nacionais... Acha que esses dois níveis do partido estão distanciados? A partir do momento em que me desfiliei, abdico de comentar a vida do partido. Des-


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se ou qualquer outro. O que eu digo ĂŠ que os partidos tĂŞm de perceber rapidamente que tĂŞm de relançar a confiança entre as pessoas e eles prĂłprios. A 29 de Setembro haverĂĄ resultados surpreendentes por parte das listas independentes. É preciso ĂŠ distinguir entre os vĂĄrios projectos. Aqui no Porto, as candidaturas sĂŁo todas diferentes. A nossa nĂŁo estĂĄ contra nenhum partido. Temos uma lista de cidadĂŁos provenientes de todas as ideologias polĂ­ticas e muitos atĂŠ deixaram de ser militantes dos seus partidos para integrarem esta lista. Para unir os cidadĂŁos, temos de estar fora dessa lĂłgica dos partidos e o Porto sĂł serĂĄ grande de novo se estiver unido. O Porto sĂł serĂĄ respeitado por Lisboa se estiver unido. Mas o PS jĂĄ acusou a sua candidatura de ter surgido para partir o eleitorado socialista e o eleitorado de Rui Moreira, de modo a favorecer LuĂ­s Filipe Menezes... SĂŁo acusaçþes irrelevantes de polĂ­ticos que estĂŁo formatados na polĂ­tica em que jĂĄ ninguĂŠm acredita. É essa polĂ­tica que eu quero evitar. É uma polĂ­tica baseada na mentira. Quis-se criar ruĂ­do. SĂł hĂĄ um substrato por trĂĄs dessa acusação: os partidos acham que sĂŁo donos dos votos e quem vem interferir com esses vectores

no terreno vem numa atitude agressiva de roubar votos. Foi isso que o fez recusar o convite do PS à câmara de Gaia? Esse projecto nunca fez sentido na minha vida. Nas autårquicas, os candidatos contam muito e as pessoas têm de ter a ver com os territórios onde concorrem. Eu sou contra a ideia do político mercenårio que pode ir a qualquer território. Não, as pessoas têm de estar vinculadas ao território. Nessa altura, agradeci o convite mas não aceitei. O que acha do desfecho da decisão do Tribunal Constitucional sobre a lei de limitação de mandatos? Parecia-me ser necessårio ter havido uma decisão hå mais tempo. Jå devíamos ter o quadro legal definido no início de Agosto. Acho deploråvel que isto tenha acontecido. Em relação à interpretação da lei, não faz sentido pronunciar-me. Fico feliz que todos os candidatos possam estar na corrida e que o povo tenha um leque total de escolha. Mal seria eu vir a ser presidente e depois ficar com o amargo de boca por ter sido escolhido e alguÊm ter sido previamente proibido de concorrer. Se for eleito vereador, estå disposto a apoiar um presidente que precise de viabilidade no executivo por não ter

maioria absoluta? É prematuro falar nisso. Ainda estamos no inĂ­cio da divulgação da nossa candidatura e nĂłs respeitamos o tempo regulamentar. E nĂŁo estamos a preparar a campanha hĂĄ um ano, como outros candidatos. Viemos para servir a cidade. A cidade precisa de uma intervenção urgente e de alguĂŠm que nĂŁo vĂĄ aprender para a câmara. Precisa de alguĂŠm que conheça a câmara e a sua estrutura, e a ponha a trabalhar para os mais desfavorecidos. O que pensa ser necessĂĄrio mudar na cidade com maior rapidez? No primeiro ano queremos resgatar da misĂŠria as famĂ­lias do Porto. Para isso temos de reactivar a cidade. Temos de criar emprego e economia na cidade. Temos bolsas de misĂŠria incalculĂĄveis. Basta ir a alguns locais da cidade e ver como a população vive. Mesmo a nĂ­vel da saĂşde pĂşblica, uma coisa que se denota muito rapidamente ĂŠ ao nĂ­vel da saĂşde da boca. E isso ĂŠ um sintoma de pobreza na cidade. E a reactivação do Cinema Batalha, que a nossa candidatura fez, ĂŠ um exemplo disso. O Batalha estava hĂĄ trĂŞs anos fechado. No dia 22 de Agosto alugĂĄmos o espaço, abrimos a porta e fizemos pequenas obras para voltar a dar vida a este sĂ­tio histĂłrico no Porto. SĂł foram precisos dez dias

para fazer isto. E somos a candidatura com menos recursos; imagine-se o que ĂŠ que a câmara poderia fazer. TĂ­nhamos trĂŞs pessoas a viver nas escadas do cinema e reencaminhĂĄmo-las para a Segurança Social, onde lhes deram um tecto nas pensĂľes locais. O Batalha estava num estado deplorĂĄvel. Nesta praça hĂĄ trĂŞs hotĂŠis e por aqui passam milhares de turistas por dia, que conviviam com esta imagem desagradĂĄvel da cidade. Isto ĂŠ simbĂłlico, mas ĂŠ a atitude que queremos ter nos prĂłximos quatro anos. NĂŁo vamos pactuar com ruĂ­nas. Quais serĂŁo algumas das suas primeiras medidas? O nosso mandato vai ser de grande proximidade com os cidadĂŁos. Eu sou engenheiro e sou muito pouco de dialĂŠcticas e filosofias, mas sou muito da prĂĄtica. A prĂĄtica ĂŠ que ĂŠ transformadora. Tal como jĂĄ fiz no passado – fui o Ăşnico presidente da câmara do Porto que teve o gabinete fora dos Paços do Concelho; nomeadamente, instalei-me durante trĂŞs meses no Bairro da SĂŠ. Se ganhar, quero instalar o meu gabinete num infantĂĄrio desactivado, nas Fontainhas, logo em Outubro. É uma varanda lindĂ­ssima sobre o Douro, mas parece que houve ali uma guerra. Houve demoliçþes, derrocadas e edifĂ­cios que desabaram por falta de intervenção. Eu entendo que o presidente deve ir para essas zonas crĂ­ticas e definir um projecto com a população. Vai ser um poder exercido junto das pessoas. Por jĂĄ ter sido presidente da câmara do Porto, acha que tem alguma vantagem sobre os restantes candidatos? Eu sou o candidato com mais currĂ­culo de trabalho feito nesta cidade. Estive na gĂŠnese do Metro do Porto, fui eu que comecei por liderar o projecto. Fui eu que, enquanto presidente das Ă guas do Douro e Paiva, criei a melhor empresa do grupo Ă guas de Portugal. É a empresa que vende a ĂĄgua mais barata aos seus municĂ­pios. Ter sido presidente da câmara dĂĄ-me tambĂŠm a vantagem de os portuenses me dizerem: â€œĂ“ presidente, consigo nĂŁo ĂŠ como os melĂľes, nĂŁo ĂŠ preciso abrir para ver o que temos lĂĄ dentro.â€?

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