Caderno CNTE - Fundamentos de Filosofia

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Fundamentos de Filosofia • 83

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A (In)explicável invisibilidade das mulheres na filosofia ocidental9

“Para que a humanidade seja sempre feliz e perfeita, é necessário que ambos os sexos sejam educados segundo os mesmos princípios. Mas como será isso possível se apenas um dos lados, é o lado do direito e da razão?” (Wollstonecraft - Filósofa americana do Século XVIII)

Poderíamos, apenas, fingir que as mulheres nada contribuíram na filosofia. Estaríamos, então, erguendo um muro em que o único critério de classificação para acesso ou exclusão fosse a distinção de gênero e sexualidade. Ficaria assim: campo dos homens: lugar da

filosofia - lugar do pensar crítico e rigoroso; campo das mulheres: campo da não filosofia - lugar do pensar não crítico e não rigoroso. Falso problema? Imaginação? Não tanto.

A questão: Hannah Arendt entrevistada numa emissora de televisão por um jornalista intelectual, ele lhe dirige a pergunta fatal: “Como a senhora se sente atuando no campo da filosofia onde somente homens atuam?” Hannah Arendt, de maneira muito gentil e bem humorada, elogiou a pergunta, consentiu que homens dominavam a filosofia e resumiu dizendo: “Estudei filosofia. Tenho, entretanto, que protestar, não pertenço ao círculo dos filósofos... sou uma socióloga política!” O entrevistador, nada convencido, arrematou: “Pois, para mim, a senhora é uma filósofa, veja seu livro: A Condição Humana”. (http://hannaharendt.wordpress.com/ video-%c2%bfque-queda-queda-la-lengua-materna)

Ela devia ter toda consciência de que, mulheres adentrarem-se no campo disputado pela hegemonia masculina, era um ato de insurgência. Tanto o jornalista como a filósofa da liberdade, não deixaram oculta a tese de que a filosofia tem sido, reiteradamente, um território interditado às mulheres. É lógico que há, neste caso, no sentido vulgar uma “ guerra de sexos” e de gênero, produzida na/pela filosofia. A existência de uma luta desta natureza mostra os pés de barro da filosofia, sua fragilidade como racionalidade, seus pretensos critérios científicos de verdade; e, sobretudo, sua condição frágil de formuladora de um pensar isento de ideologias, rigoroso e crítico. 9

Em um raro seminário, ocorrido no Rio Grande do Sul, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em sobre o tema: Onde estão os textos das mulheres filósofas? há textos extraordinários de contribuição sobre este tema de TIBUNI, CARVALHO, MENEZES, WEGLERT, AMOROS, 2001.


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