Caderno CNTE - Como fazer análise de conjuntura

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18 • Como Fazer Análise de Conjuntura

Ela influirá tremendamente na determinação das forças da conjuntura. Muda completamente o quadro anterior, onde o poder executivo repetia à exaustão que o serviço público de tal estado ou município estava inchado e por isso precisava fazer uns cortes. Uma coisa é entrar numa campanha salarial com o conjunto da população repetindo o que a televisão fala, achando que há educadores de sobra nas escolas. Outra, bem diferente, é entrar na mesma campanha após o sindicato ter espalhado aos quatro ventos a informação do presidente do instituto de pesquisa. A reação de pais de alunos e do conjunto da população a uma passeata que bloqueie o trânsito será bem diferente se ela tiver sido informada pelo sindicato. Esta variante pode determinar uma mudança substancial no desenrolar de uma luta e no seu desfecho final. Por isso, fazer análise de conjuntura não é fazer previsão do desenrolar dos acontecimentos e dos seus possíveis resultados, com exatidão matemática. É conhecer a realidade e as forças que agem sobre ela para melhor definir os passos que serão dados em uma direção, com um determinado objetivo.

Esta análise dá pistas, orienta escolhas, orienta a ação. Sem garantias, mas baseando-se em dados e fatos comprovados. “A análise de conjuntura é uma mistura de conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em função de alguma necessidade ou interesse. Nesse sentido, não há análise de conjuntura neutra, desinteressada: ela pode ser objetiva, mas estará sempre relacionada a uma determinada visão do sentido e do rumo dos acontecimentos”, afirma Hebert de Souza, Betinho, no livro Como fazer análise de conjuntura.

No caso de qualquer discussão entre um sindicato de trabalhadores e o poder público, as análises e os posicionamentos dependem da posição de cada uma das partes.

Hoje, no clima neoliberal dominante, a tendência de cada governo é falar da necessidade de reduzir a máquina para reduzir custos. A atitude ideológica dos trabalhadores, por outro lado, será de mostrar a insuficiência de funcionários, a necessidade de melhorar a qualificação através da formação permanente para poder melhorar os serviços ao público. Por isso, conhecer dados nacionais e internacionais é importante na hora da argumentação e da decisão da ação.

3 - O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E A CONJUNTURA Vamos introduzir aqui um exemplo que retomaremos ao longo deste caderno devido à sua atualidade e abrangência. No ano de 2007, o governo federal apresentou à sociedade o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Isto é um fato. Como qualquer fato, está inserido em uma determinada conjuntura. Ou seja: sobre ele atuam muitas forças distintas. Uma força é o próprio governo, que, com o Plano, pretende atingir determinados objetivos e atender a interesses específicos. Que interesses? Como qualquer projeto, o conteúdo do PDE, em si, já e fruto de pressões de diversos grupos sobre o governo. Grupos nacionais e grupos internacionais. O Plano foi construído dentro de uma determinada visão política. Ele é filho de uma dada época. Qual a relação entre as orientações dadas pelo antigo, e sempre atual, Consenso de Washington e o PDE?


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