Catálogo vinicius s/a

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Lágrimas de São Pedro I n s ta la ç ã o de Vi n i c iu s S . A



Ministério da Cultura e Correios apresentam:

Lágrimas de São Pedro Instala çã o de Viniciu s S.A

Centro Cultural Correios Recife Av. Marquês de Olinda, 262 Centro. Visitação: 02/11 a 29/12/2013


EXPOSIÇÃO LÁGRIMAS DE SÃO PEDRO Concepção Vinícius S.A. Fotografia Erivan Morais Design Gráfico Ricardo Franco Produção Gráfica João Paulo Leal Assessoria de Imprensa Mais e Melhores Produções e Marketing Produção de Montagem Patrícia Bssa Montagem Roberto Feitosa Tayrone Fontan Glauber Carvalho Montagem das peças Alana Belon

Assistentes de Montagem Ivan Amorim Joana Liberal Juana Acioli Lis Stegmann Mariana Melo Mariana Rodrigues Silvia Tereza Eletricista Adilson da Silva Marcenaria Francisco dos Santos Coordenação Educativa Local Luciana Padilha Produção Executiva Eneida Rebouças Produção Local Adah Lisboa Realização Simples Produções Artísticas


"Os Correios, reconhecidos em prestar serviços postais com qualidade e excelência aos brasileiros, também investem em ações que tenham a cultura como instrumento de inclusão social, por meio da concessão de patrocínios. A atuação da empresa, cada vez mais destacada, visa não só fortalecer sua imagem institucional, mas, sobretudo, contribuir para a valorização da memória cultural brasileira, democratização do acesso à cultura e o fortalecimento da cidadania.

É nesse sentido que os Correios, presentes em todo o território nacional, apóiam, com grande satisfação, projetos desta natureza e ratificam seu compromisso em aproximar os brasileiros às diversas linguagens artísticas e experiências culturais que nascem nas mais diferentes regiões do país.

A empresa também se orgulha de disponibilizar à sociedade seus Centros e Espaços Culturais, onde ocorrem manifestações artísticas variadas, ocasião em que se consolidam como ambientes propícios ao fomento e à preservação da identidade cultural do país.".

Correios do Brasil




Gota a gota Olívia Mindêlo - Jornalista e mestre em sociologia que tem a arte como amor maior Quando eu tinha cinco anos, o mundo me presenteou com aquela que foi, talvez, a primeira experiência mágica

chuva superlativa, de graus aumentados, congelados. Grandes “gotas” d’água por toda parte da sala expositiva despertam o brilho no olhar e são “tão lindas que até dá vontade de comê-las”, para tomarmos emprestada a figura de linguagem da música Maracatu atômico, de Jorge Mautner e Nelson Jacobina.

da minha vida. Havia chovido e, passado o “aguaceiro”, a grade da varanda da minha casa restou completamente vestida por gotículas penduradas. Canto a canto. Meus olhos vidraram naquilo e parti imediatamente ao encontro delas, como se nada mais existisse ao redor. Com

meu

dedinho

indicador,

tentei

pegá-las

cuidadosamente e conseguindo capturar uma delas, fui devagarzinho mostrar a descoberta à minha avó: “Olha, voinha!”. Ela sempre repete essa história com muito orgulho, como se este fosse o momento mais revelador

As gotas superlativas são, na verdade, 4 mil bulbos de lâmpadas comuns cheios de água. Como lágrimas sagradas imersas numa atmosfera azul, ou lentes multiplicadoras de imagem, elas descem do teto suspensas por clipes e fios de náilon enredados. Os materiais são simples, mas, como a água, o trabalho resulta de um processo complexo, de uma engenhosidade sensível, tal qual a alquimia que faz os fenômenos naturais existirem.

de um ser no mundo. Ao me deparar com a instalação Lágrimas de São Pedro, tive uma sensação semelhante à da minha avó. Fiquei surpresa, como se este fosse um reencontro com o sentido mais simples e fundamental da existência. De uma existência mediada pelo sensível. Se a água é

E são os fenômenos da natureza, aliados à capacidade de percepção e inventividade artística (e científica) de Vinicius, que tornam esta obra digna de contemplação. Como naqueles momentos nos quais um orvalho faz o tempo suspender e o que fica é a paz, o encantamento.

potente, a arte parece ter, aqui, ainda mais força. É instantânea, portanto, a reação do nosso olhar diante desse trabalho de Vinicius S.A. Difícil não se render aos seus 500 kg de delicadeza. A criação do jovem artista baiano

causa

um

impacto

visual

realmente

impressionante, como se estivéssemos em meio a uma

Visual e sensorialmente, Vinicius é nesta obra uma espécie de engenheiro das emoções e das redescobertas; um operário do sagrado e do tempo. Ele nos leva ao terreno do imprevisível, onde é possível olhar a realidade sob outra (ou outras) perspectiva, certamente mais miraculosa e mais lúdica.


Marepe Artista Visual

seu povo, dizendo em outras “imagens/palavras” de onde vem e para que veio.

Lágrimas de São Pedro, além de se consciência de reaproveitar o que é descartado pela maioria, dando outro sentido ao que foi produzido industrialmente,

Vinícius é independente, um artista que gosta da prática: do exercício intuitivo da artezania, da montagem minunciosa, do resultado final.

revela um artista preocupado com o que está à sua volta, afirmando sua cultura e poetizando as aflições do Lágrimas de São Pedro Roaleno Costa Diretor da Escola de Belas Artes – UFBA - Doutor em comunicação – ECA/USP Um canto ecoa chorado, um lamento se espalha no ar, reza de trabalho do dia -a- dia que circula igual, quente escaldante, costume da infância à velhice esperada. Uma oração que sopra da alma pela boca, perfura os ouvidos, espalha no sangue, impregna o espírito e escorre pela pele rachada. Pele de chão de terra seca. Canto rasgado. Canto tremido. E ela esta’ ali’. A voz e corpo ausente. A imagem. Como encanto aparece singela a sumir em sua própria luz. Baixa de lamparina de querosene. Amarela e precária. Canto de trabalho. Canto de esperança. Canto de rotina. Canto, canto, canto... O sol castiga. O solo racha. As frestas abrem em janelas sem paisagens. Feridas secas. É o mundo todo. Mundo pequeno. Mundo grande. A paisagem que o olho vê, é igual. Do lado de cá, do lado de lá, embaixo dos pés. Pés secos. Rachaduras sobre rachaduras. Que crescem.

Na cabeça de Vinícius deve chover inúmeras idéias, como lâmpadas que iluminam seu próprio caminho.

Duras. Que vibram no calor. Paisagem que treme como um canto. Que ecoa solitário. - São Pedro manda chuva, distraído não ouve meu canto. - A cada criança, um choro. A cada morte, dois. Lágrimas que doem pelo destino a vir. Ou pela falta dele. Interrompido. Guimarães, Guimarães, quantas rosas plantastes? Há E se São Pedro chorasse... E sobre nós desaguasse gotas de água... Que eu pudesse pegar com as mãos e brincar com elas... E me mergulhar e sonhar... E se eu chorasse junto? E o chão não mais rachasse... E meus olhos levantassem... Felicidade! Gota que reflete a paz de cada um em cada imagem. Multiplica sonhos, desejos - São Pedro, chora que já é passada a hora! Derrama logo outra história! Fala do mundo onde o trabalho brota, onde o canto celebra, onde o solo é troca. Histórias dali do lado, onde o choro é farto, onde o povo arrota. Traz pra mim pingos de esperança para que eu encha a tina e banhe as crianças. Para que continuem a cantar, como cantei na infância e continuem a sonhar como sonhei e persistam na esperança de que um dia, São Pedro, volte a chorar, tanto quanto já chorei.


Lágrimas de Eternidade Vinicius S/A por Alejandra Hernández Muñoz* A expressão "sofrimento da seca" parecia quase um pleonasmo. Inevitavelmente, à impotência diante dessa realidade perpétua (e perpetuada), se seguia a tristeza ante a imagem do sertanejo esquecido num cenário no qual, estrutural e sistematicamente, não havia outra opção além da sobrevivência. Nesse contexto, qualquer poesia parecia leviandade; entrever beleza seria uma heresia; falar de arte implicaria uma afronta. Então, as "Lágrimas de São Pedro" emergem como possibilidade miraculosa de reversão desse conceito quase tautológico que tínhamos do Sertão. Entrar na instalação é como entrar no espelho de Alice, que em sua surrealidade nos faz mergulhar na possibilidade de subverter o inimaginável. É a água da chuva que cai do céu para molhar o chão do qual, talvez, possa nascer o feijão. Cada gota é um tesouro preservado na fragilidade de finos bulbos descartados como lixo no destino derradeiro do consumo contemporâneo. Aquilo que é inútil para uns vira receptáculo do essencial para outros: de berços de luz elétrica a pequenos depósitos de água, energia fundamental para a terra germinar. O sonoro lamento que comove o início do percurso se transforma em êxtase inefável diante da nova luz vital; a imagem hostil da terra rachada, em sensação aconchegante da água retida no ar. Mas, se, numa primeira fruição da instalação de Vinicius S/A, somos levados, inexoravelmente, a enfrentar um tema que circunscreveria a obra em uma abrangência regional, numa apreciação mais demorada, percebemos que "Lágrimas de São Pedro" é, antes de tudo, um discurso sobre o tempo como valor universal. Porque a temporalidade humana é, talvez, a principal fonte de nossa infelicidade. Por um lado,

almejamos coisas que não temos, desejamos ser algo que não somos, ou sonhamos alcançar metas inatingíveis, imersos em neurótica futuridade. De outro lado, sentimos nostalgia daquilo que tivemos, idealizamos momentos passados, ou buscamos escape existencial refugiados em pseudoglórias pretéritas. O presente é um lapso imperfeito entre eternos ontens e esperados amanhãs. Para o urbanóide rodeado de wi-fires, deliveries e high-definitions, o hoje, o agora, o instante, quase não tem valor, exceto pelo que foi ou pelo que projeta ser. A essência de "Lágrimas de São Pedro" é, precisamente, expor a relevância do presente que ultrapassa a acepção meramente temporal e adquire um sentido de dádiva: o presente é um presente, uma graça divina, uma recompensa efêmera ao eterno sofrimento da existência. As lâmpadas de vidro constituem uma metáfora da abissal diferença entre quem tem tudo e quem tem apenas o agora. E o choro de São Pedro é a única saída para o fim do choro dos sertanejos, para quem o ontem não é lembrança e o amanhã não é promessa de algo mudar. Temos o privilégio de entrar na chuva, mas não podemos ainda sentir o molhar. Estamos situados em uma fresta de tempo suspenso onde o presente é um instante de eternidade. Alejandra Hernández Muñoz, uruguaia, residente em Salvador desde 1992, é arquiteta, mestre em Desenho Urbano e doutoranda em Urbanismo pelo PPGAU/UFBA. Desde 2002, é Professora de História da Arte da EBA/UFBA. Tem diversos trabalhos de história e crítica de arte e arquitetura. Foi curadora das mostras Pasqualino Romano Magnavita - 1946-2006: 60 anos de desenho de cidades (Galeria Cañizares EBA/UFBA, abr.2006), Visões do Labirinto (Casarão da EBA/UFBA, nov.2007) e da Exposição EBA 130 anos - Núcleo EBA Em Processos (Galeria ICBA, mar.2008), Todas realizadas em Salvador.




























Vinicius S.A é natural de Salvador-BA, 29 anos, graduado em artes visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Em sua curta carreira realizou seis exposições individuais. A instalação Lágrimas de São Pedro projetou o artista nacionalmente com itinerância pelascidade de São Paulo, Brasília, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. Participou de diversas exposições coletivas, salões eações urbanas. Foi premiado

no

15

salão

da

Bahia

com

uma

bolsa/residênciana Vrije Academie em Den Haag, na Holanda, também recebeu premiações na Bienal do recôncavo, edital de ocupação da Caixa Cultural e Salões regionais de artes visuais da Bahia.Paulo, Brasília, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. Participou de diversas exposições coletivas, salões eações urbanas. Foi premiado

no

15

salão

da

Bahia

com

uma

bolsa/residênciana Vrije Academie em Den Haag, na Holanda, também recebeu premiações na Bienal do recôncavo, edital de ocupação da Caixa Cultural e Salões regionais de artes visuais da Bahia.




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