Em Companhia - Informativo da Companhia de Jesus no Brasil

Page 23

23

I n f o r m at i v o d o s j e s u í ta s d o b r a s i l

a companhia de jesus na

AMÉRICA LATINA

CPAL

Colaboradores da missão de Cristo

Jorge Cela, SJ Presidente da CPAL

Ainda me lembro da cara de orgulho e satisfação com que aquele senhor me disse: ― Você é o pároco de Guachupita? Eu construí a igreja. Isso soava como se ele sozinho tivesse construído a igreja. Ou que, ao menos, tivesse sido o agente principal. Era um dos muitos pedreiros que trabalharam na obra. Mas a sentia como sua. E assim o era. Mais ainda, sentia que o que passava agora nesse templo tinha a ver com sua contribuição. E tinha razão. Também, graças a ele, o trabalho de evangelização que se realiza ali é possível. Estamos acostumados a pensar que a obra é de quem paga por ela, ou de quem a desenha. São João Paulo II nos recordava, na Laborem Exercens, que a obra é o resultado do esforço conjunto de capital e trabalho. E nos convidava a reconhecê-lo assim nas formas de participação, inclusive na administração e repartição de benefícios.

Mas, em nosso caso, a raiz vai mais longe. O dono da obra é Deus. E nós somos convidados a participar na Missio Dei, na missão de Deus. Somos seus colaboradores. O seguimento de Jesus em resposta a seu chamado nos leva a colaborar com Ele na construção do Reino. Mas a missão nos torna tão grandes que nos assusta. Preferimos recortá-la às tarefas concretas que nos assignam. Mas essas tarefas são para colaborar na missão de Jesus, que, para nós, se concretiza no serviço da fé e na promoção da justiça em diálogo intercultural e inter-religioso. Essa missão se vai encarnando nos contextos pelos quais nos movemos: as prioridades da CPAL, da Província, da plataforma apostólica ou obra onde estou. Porém, sempre nos parece grande demais. É uma missão que só podemos realizar em colaboração com outros, em colaboração com Jesus. É a missão do Corpo de Cristo, que realizamos segundo o contexto e a espiritualidade inaciana. É nesse aspecto que se estabelece a mudança de perspectiva: não temos colaboradores que nos ajudem a realizar nossa missão; somos todos colaboradores da missão de Cristo. Conscientes de que “nem aquele que planta, nem aquele que rega, senão que é Deus mesmo quem dá o crescimento”. Com muitos, partilhamos a fé. Com alguns, partilhamos a

espiritualidade inaciana. Mas, com todos, com cada um, desde sua tarefa específica, colaboramos na construção do Reino. Alguns trabalham com um salário que nos retribui nosso labor e nos permite a sobrevivência. Outros, desde uma colaboração voluntária. Também nós, jesuítas, temos algumas tarefas retribuídas e outras voluntárias. Uns o fazem com plena consciência do projeto, da missão fundamental, dos objetivos e modo de proceder. Outros, desde um trabalho bem feito, desde o horizonte menor de cumprir com as exigências de seu emprego. E, entre ambos os grupos, toda a gama de estágios intermediários. Mas todos somos colaboradores. Essa perspectiva exige de nós uma mudança de estilo. Não somos mais os donos da missão, embora o sejamos da obra ou das instalações. Mas essas estão a serviço daquela. Como corpo da Companhia, nos unimos a outros, com todo o nosso ser e o nosso ter, na missão. Sem confundir-nos, sem apagar identidades nem lugares, mas assumindo que juntos, nesta realidade na qual nos toca atuar, temos que buscar a vontade do dono da missão. Supõe uma nova forma de participação no planejamento, na gestão, no espírito da missão, no estilo ou modo de proceder. Uma novidade que nos exige, de todos e de todas, uma conversão e aprendiza-

gem. Uma novidade que nasce do conceito de Igreja do Vaticano II. Um povo de Deus em marcha que implica nova relação com o laicato, com o mundo, que brota do Evangelho. Na metodologia do PAC, que temos definido como proximidade, profundidade, para a ação e incidência, internacional e intercultural, esta é a sexta característica: a colaboração. Por isso, o PAC nos convida a aprofundar o significado e os modos de colaboração (Linha de ação 17); a animar a formação conjunta de leigos e jesuítas para a colaboração (Lda 18); e a recriar e fortalecer as redes ou famílias inacianas (Lda 19). Nesse sentido, o Setor Colaboração da CPAL produziu um documento que nos ajuda a compreender melhor a colaboração: tem trabalhado em criar uma rede inaciana latino-americana e em fortalecer as redes ou famílias inacianas de cada Província e prepara, para sua publicação proximamente, um plano de formação para leigos e jesuítas. Esperamos de todos nós um interesse por compreender melhor a novidade dessa maneira de entender a colaboração na missão, o apoio às redes, às famílias e aos movimentos inacianos que se vão estendendo e a participação (de jesuítas e outros colaboradores e colaboradoras) nos planos de formação conjunta para aprender e viver a espiritualidade da colaboração.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.