Estação Nêumanne, ANO VI

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criado o herói e anti-herói que fabricou o cadáver do também mocinho e também vilão que desencadeou a Revolução de 30. Concerto para paixão e desatino – que belo título para um texto assim tão musical, não é mesmo?! – é a epopéia em prosa do heroísmo dos que sobrevivem sem medalhas e sem vergonha das tocaias em que garantem a vida eliminando quem a ameace. Não é este o verdadeiro espírito da remissão sebastianista? E é também a manifestação da permanência da língua que o caolho fundou nos cafundós onde Judas esqueceu as botas, mas os injuriados como João Dantas não perdem a vergonha na cara. Nesta saga, em que a fantasia verossímil não contraria, mas confirma, a história que ocorreu e não foi registrada – embora se perpetue pela lembrança –, os mistérios do acaso jamais mitigarão a força do destino, como no verso célebre de Estêvão Mal-Armado (o francês Stéphane Mallarmé) – aquele do lance de dados que não abolirá o acaso. Posfácio do livro Concerto para paixão e desatino, de Moacir Japiassu


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