História de Portugal

Page 64

OS ARGONAUTAS PORTUGUESES E O SEU VELO DE OURO (SÉCULOS XV-XVI)

Na batalha de Diu, D. Francisco de Almeida esforçou os “valentes escravos que ajudam seus senhores pelejando”. E prometeu-lhes que se morressem no combate seriam pagos a seus donos a 50 cruzados; se ficassem vivos e obtivessem nesse ano a alforria, obteriam as liberdades de escudeiros; se ficassem aleijados e não pudessem servir, seriam pagos como os mortos; se ainda pudessem servir, valeriam 20 cruzados para os seus donos.8 Também na armada, atrás referida, para Baçaim e Diu, o governador Nuno da Cunha ordenou aos capitães que, quando desembarcassem para o combate, quem tivesse escravo homem que o levasse consigo, para desembarcá-lo e ajudá-lo a levar suas armas e seu almoço, e para que, se o ferissem, o ajudassem a levá-lo e a curá-lo.9 A morte era uma visita diária. Manuel de Lima escrevia em 1533 ao rei que já lhe tinham morrido quinze criados de seu pai. Gente com e sem nome ia ao encontro da fortuna e com a salvação e perdição das almas e em todo o lado encontrava a morte: o bispo Pero Sardinha morto e devorado pelos índios junto do rio Cururipe; D. Francisco de Almeida no Cabo da Boa Esperança; o marechal Fernando Coutinho no palácio do Samorim; Jerônimo de Lima na segunda conquista de Goa. Jerônimo morreu esvaído em sangue encostado a um muro da cidade. E incitava o irmão João de Lima que viera em seu socorro: “Adiante, senhor irmão, não é tempo de deter que eu em meu lugar fico”.10

BASES E FORTALEZAS Os navios dos argonautas portugueses necessitavam de bases, anseavam por terra. Para tratar das feridas, para satisfazer a fome física e sexual, para renovar os navios e os abastecimentos, para firmar os pés e reclinar a cabeça sem o balanço das ondas e a ameaça de corte pelas espadas inimigas, para ligar o ponto de chegada ao ponto de partida. A expansão portuguesa avançava marcando no espaço as bases e as fortalezas: Ceuta, Alcácer, Tânger, Arzila, Madeira, Açores, Canárias, Arguim, Cabo Verde no Mediterrâneo Atlântico; Axém, S. Jorge da Mina, S. Tomé, Luanda, Fernando de Noronha, Pernambuco, Salvador no Atlântico Central e Sul; Moçambique, Quíloa, Socotorá, Cochim, Goa, Cananor, Chaúl, Ormuz, Baçaim, Diu, Ceilão, Malaca, Ternate, Macau e tantas outras nos mares orientais. Se iluminarmos o espaço pela coordenada tempo, num primeiro momento, no designado período henriquino, assistimos à conquista do que Pierre Chaunu chamou Mediterrâneo Atlântico balizado pelos seus arquipélagos. Num segundo período, que se dilata até o final do século

65


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.